Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

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DiáriodeCoimbra

HOMENAGEM

21 DE JANEIRO DE 2011

Um profundo conhecedor

Adriano Lucas: coerência e rigor I ALBERTO ARONS DE CARVALHO I Ex-jornalista, Professor Universitário e Membro da Comissão que elaborou a Lei da Imprensa

CREIO que vi pela primeira vez o engenheiro Adriano Lucas na data da posse da comissão nomeada pelo II Governo Constitucional, de que ambos fizemos parte, para elaborar um projecto de Lei de Imprensa, em Agosto de 1974. Durante dois meses de frequentes reuniões de trabalho, sempre animadas pelo humor irreverente de Marcelo Rebelo de Sousa, fui descobrindo um Adriano Lucas diferente da personalidade aparentemente austera e fria que aparentara à primeira vista. Muitas vezes discordando, outras concordando, depressa, no ambiente crescentemente informal e amigável daquela comissão, se foram forjando cumplicidades e amizades que valiam bem mais do que as diferenças de opinião. Percebi também,

naquela época já marcada por diferentes concepções sobre o futuro da democracia e do país, que Adriano Lucas era firmemente liberal, profundamente respeitador dos pontos de vista antagónicos e com um britânico fair play. Quando, em Maio de 1975, entrou em funções o Conselho de Imprensa, aliás gerado pela Lei de Imprensa que ajudara a elaborar, lá estava outra vez o eng. Adriano Lucas, como representante da Associação da Imprensa Diária (AID). Acompanhei o seu percurso e o seu relevante papel no Conselho de Imprensa não apenas como seu colega - fiz parte do Conselho no seu primeiro ano de actividade - mas, mais tarde como estudioso do percurso deste órgão que teria durante década e meia um relevante papel como tribunal moral da imprensa portuguesa. Para a elaboração deste breve testemunho, voltei agora a consultar o texto do livro que escrevi em 1985 sobre a primeira década de funcionamento do Conselho de Imprensa. Para se ter uma noção da relevância do papel de Adriano Lucas, bastará dizer que, no

índice onomástico que elaborei nas páginas finais desse volume de 468 páginas, é ele, entre as cerca de 400 pessoas associadas à actividade daquele conselho, que tem um maior número de referências - 24. Creio que Adriano Lucas permaneceu no Conselho de Imprensa até ao final da sua actividade, que coincidiu com a criação da Alta Autoridade para a Comunicação Social, em 1990. Não posso recordar o período entre 1985 e 1990, que não testemunhei nem estudei. Mas posso e devo aqui relembrar a sua intensa e profícua actividade no período anterior, como membro de várias comissões internas do conselho ou relator de algumas das suas mais importantes deliberações. Sempre empenhado na defesa dos valores em que acreditava e fiel ao mandato que tinha como representante das empresas que editavam publicações diárias. Deixando um retrato de alguém profundamente rigoroso, que, atrás da sua serena discrição, deixava antever um apreciável sentido de humor. Voltei a encontrá-lo por diversas vezes no período, entre 1995 e 2002, em que ocupei fun-

Tentativas de assalto ao jornal no período do pós-25 de Abril I Com a Revolução de 25 Abril de 1974, acabou a Censura e a perseguição política promovida pelo regime, mas os tempos que se seguiram

foram também muito conturbados com as tentativas de assalto ao poder por parte dos movimentos comunistas que tomaram de assalto a maior

parte dos jornais diários e também tentaram fazer o mesmo ao Diário de Coimbra. Em Maio desse ano, o então chefe de redacção Amâncio

ções governativas, quer em congressos, quer em reuniões, quer em outras ocasiões em que à volta duma mesa de almoço, voltávamos aos temas de sempre - a defesa da liberdade de imprensa, o papel da imprensa regional, o reconhecimento da função de interesse público que esta presta ao país. Numa das vezes em que almoçámos, veio acompanhado do seu filho Arq. Adriano Callé Lucas. Não consigo lembrar-me dos temas que debatemos ao almoço. Recordo-me apenas da veneração, do respeito e do carinho que transpareciam em todos os seus gestos e atitudes do arquitecto Callé Lucas para com o seu pai. Adriano Lucas merece ser homenageado pelo seu inestimável contributo para a liberdade de imprensa e para o fortalecimento da imprensa regional. Mas o facto de ser essa a recordação mais forte desse encontro, talvez mais de dez anos passados, revela bem o que guardo na memória - a de um cidadão que se impõe pela sua verticalidade, pela honradez do seu percurso, pelo respeito e carinho que nutrem por ele aqueles que melhor o conhecem. l

Frias encabeça um movimento apoiado por alguns gráficos para tentar sanear e substituir o director do Diário de Coimbra, Álvaro dos Santos Madeira, fazendo passar a mensagem que este era fascista. Recusam-se a imprimir o jornal enquanto Santos Madeira continuar naquele posto.

I MANUEL M. PISSARRA I Director do Diário do Sul

TENHO o privilégio de ter conhecido e contactado várias vezes com o Engenheiro Adriano Lucas. E, devo-lhe a visita que prometi ao seu Grupo Editorial e o agradecimento pelas visitas que nos fez aqui no Diário do Sul ,em Évora. Eu só conhecia de nome o Engenheiro Adriano Lucas, quer pela Associação de Imprensa Diária (AID), quer pelo Diário de Coimbra, onde foi sucessor de seu pai na direcção do privilegiado jornal da cidade do Mondego. Quando tive ensejo de o ouvir sobre a Comunicação Social Regional apercebi-me, desde logo, da sua experiência e dos seus profundos conhecimentos da área da imprensa quer nacional, quer estrangeira. Quando conheci a regionalização do seu grupo em várias cidades do centro do país apercebi-me que aquele caminho seria o mais útil para as populações

Simultaneamente, nesse mesmo dia 12 de Maio, é organizada uma manifestação de extrema esquerda, à porta do jornal, na rua da Sofia. Adriano Lucas reúne-se com todo o pessoal da empresa. Reafirma que o director não é nem nunca foi fascista e propõe a eleição de uma comissão composta por Álvaro Corte Real, revi-

pela proximidade dos seus diários distritais. Quis imitá-lo mas não fui capaz aqui no Alentejo. Ao longo dos anos fui tendo a oportunidade de observar a determinação do Eng.o Adriano Lucas no reforço da qualidade gráfica e de conteúdos dos seus jornais, com referência especial ao Diário de Coimbra onde os seus editoriais reflectem os problemas regionais e nacionais.

A SUA ACÇÃO CONTINUA A SER ÚTIL PARA A IMPRENSA REGIONAL A sua actividade na AID baseava-se na sensibilização dos poderes públicos para a valorização e prestígio da Imprensa Diária Regional. Por tudo isto que ao longo da vida tem feito pela imprensa portuguesa congratulamo-nos, aqui no Diário do Sul, pelas merecidas homenagens ao companheiro enérgico e prestigiado que o engenheiro Adriano Lucas simboliza e cuja acção continua a ser útil para o jornalismo da Imprensa Diária Regional. Bem haja e que tenha longa vida. l

sor; José Duarte, tipógrafo; Lino Augusto Vinhal, Vítor Manuel Alvoeiro Neves e António Alberto dos Santos e Sousa, repórteres, «para estudo, em conjunto com a gerência, de assuntos referentes ao trabalho e ao desenvolvimento da empresa e das novas possibilidades que vieram a ser abertas pela abolição da

1941

1948

DIÁRIO DE COIMBRA MUDA-SE PARA A RUA DA SOFIA A sede do Diário de Coimbra passou para instalações na Rua da Sofia, n.º 179. A impressão do jornal era feita folha a folha, numa máquina plana sem corte de páginas. Cada folha era impressa e, posteriormente, dobrada, correspondendo a oito páginas do jornal, que tinham de ser abertas pelo leitor, a exemplo do que se fazia com os livros em brochura.

DUAS LINOTYPE EM TEMPO DE GUERRA Encomendadas antes dos EUA entrarem na II Guerra Mundial, a duas Linotype 48 foram entregues em 1948 no Diário de Coimbra. Vieram facilitar a composição do jornal, em conjunto com uma tituleira que fundia os títulos depois de compostas as letras à mão, permitindo títulos novos todos os dias – o que não era possível anteriormente.

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