Diário do Comércio

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quinta-feira, 3 de março de 2011

AJUDA HUMANITÁRIA A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou uma operação emergencial de US$ 38,7 milhões para levar alimentos a 2,7 milhões de pessoas na Tunísia, Líbia e Egito nos próximos três meses.

nternacional Mahmud Turkia/AFP

Kadafi pede ajuda ao Brasil Ditador chama País a ser observador da crise na Líbia. Os ganhos vão além do cenário diplomático: empresas e bancos brasileiros também seriam convidados a se instalar em território líbio.

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ejeitando as acusações de assassinato de opositores, o ditador líbio, Muamar Kadafi, propôs ontem a formação de uma comissão de observadores internacionais formada por Brasil, União Africana (UA) e a Organização da Conferência Islâmica para examinar a crise no país. Em um discurso de duas horas e meia a uma plateia de cerca de mil pessoas em um hotel de Trípoli – incluindo os chefes dos corpos diplomáticos ainda presentes na capital e jornalistas estrangeiros – Kadafi disse ainda que pretende substituir empresas e bancos ocidentais que atuam no país por outros de Brasil, Rússia e China. "(Kadafi) propôs uma comissão para examinar a situação in loco e citou especificamente o Brasil, a União Africana e a Organização da Conferência Islâmica", contou, por telefone, o embaixador brasileiro em Trípoli, George Ney de Souza Fernandes, à agência O Globo. Outros países considerados amigos da Líbia foram citados por Kadafi, como Rússia e China, mas sem mencioná-los para a comissão. Para o embaixador, o convite ao Brasil se deve

pela posição que o país ocupa hoje no cenário internacional. "Nossa presença na Líbia é muito forte com as empresas brasileiras. O Brasil é muito respeitado em todo o continente africano", disse o diplomata. O Itamaraty informou não ter detalhes sobre a proposta de Kadafi e aguarda um comunicado oficial da embaixada em Tripoli para se pronunciar. Sintonia - As relações entre o regime de Kadafi e o Brasil ganharam impulso com o governo Luiz Inácio Lula da Silva, que visitou o país logo no começo de seu governo, em 2003. Pouco antes da ida de Lula, desembarcara no Brasil Saadi Kadafi, um dos oito filhos do ditador, que comandava a seleção de futebol da Líbia. "Lula esteve várias vezes com meu pai nos últimos anos e eles têm simpatia um pelo outro", disse à época o filho do ditador. Na ONU, o governo Lula esteve ao lado da Líbia em votações polêmicas. Em 2003, os dois países apoiaram uma resolução da extinta Comissão de Direitos Humanos que determinou a expulsão da ONG Repórteres Sem Fronteiras, que luta pela liberdade de imprensa. O

texto foi proposto pelo governo Kadafi depois que o grupo fez um protesto contra a presença da Líbia na presidência do órgão de direitos humanos. Guerra sangrenta - Em seu pronunciamento na TV, Kadafi ainda minimizou os relatos de protestos no país e disse que se os EUA ou outras nações entrarem na Líbia haverá derramamento de sangue. O líder líbio ainda culpou a Al-Qaeda pelos tumultos e afirmou que as informações sobre mortes são exageradas. Segundo ele, somente 150 pessoas morreram nas três semanas de manifestações. Estimativas do Ocidente apontam para cerca de 2 mil mortes. "Não houve nenhum protesto, de modo algum, no leste", disse Kadafi, referindo-se à região do país em que cidades já estão nas mãos dos rebeldes. Há 41 anos no poder, ele voltou a dizer que não tem do que renunciar. "Muamar Kadafi não é um presidente para renunciar", disse. "O sistema líbio é um sistema do povo e ninguém pode ir contra a autoridade do povo... O povo é livre para escolher a autoridade que lhe convém." (Agências)

Amr Abdallahy Dalsh/Reuters

Após ser alvo de sanções dos EUA e Europa, Kadafi quer adotar parceria com empresas brasileiras. Roberto Schmidt/AFP

Liga Árabe cogita zona de exclusão aérea

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Liga Árabe pediu ontem ao governo de Muamar Kadafi que detenha os ataques contra a população, e disse que cogitará a imposição de uma zona de exclusão aérea em toda a Líbia. Mas a organização descartou o apoio a qualquer intervenção militar direta estrangeira no país. Mas os Estados Unidos afirmaram ontem que estabelecer uma zona de exclusão aérea na Líbia iria requerer um ataque para enfraquecer a defesa aérea do país. "Vamos logo chamar uma espada de espada. Um zona de exclusão aérea começa com um ataque à Líbia para destruir suas defesas aéreas... e, então, pode-se sobrevoar o país e não se preocupar com a possibilidade de nossos rapazes serem derrubados", disse o secretário de Defesa norteamericano, Robert Gates, em uma audiência no Congresso. Os EUA estão enviando dois navios, o USS Kearsarge e o USS Ponce, para a costa da Líbia. A Casa Branca declarou

Ministros reunidos no Cairo rejeitam intervenção militar estrangeira

que os navios estão sendo reposicionados em uma preparação para possíveis esforços humanitários. Embora o governo do presidente Barack Obama tenha dito que "todas as opções estão na mesa", Washington pode estar relutante em iniciar uma ação militar, já que está tendo de arcar com os custos humanos e financeiros de duas longas e sangrentas guerras, no Iraque e Afeganistão. Gates disse que uma zona de exclusão aérea na Líbia "também requer mais aviões do que se pode encontrar em apenas um porta-aviões, portanto, é uma grande operação em um país grande".

COMUNICADO AOS ANUNCIANTES E AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE FERIADO DE CARNAVAL Edição de segunda-feira, com as datas de 5, 6 e 7 de março de 2011. Fechamento - sexta, 4 de março, até às 18h. Edição de quarta-feira,com datas de 8 e 9 de março de 2011. Fechamento - segunda, 7 de março (plantão) - até às 14h.

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Cautela - Diante das advertências militares, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, também mudou o tom. Alegando que o maior temor norte-americano é que o caos na Líbia a transforme em uma "gigantesca Somália", ela afirmou que os recursos militares poderiam dar apoio logístico "a áreas necessitadas e dispostas a recebê-lo". O processo de criar a polêmica zona de exclusão aérea, ad- Morte de opositores provoca revolta na Líbia e no mundo árabe vertiu, não se- AFP rá imediato. "Acho que temos um longo caminho para chegar a essa decisão", afirmou ela. I n ic i a t iv a O ex-embaixador-adjunto da Líbia na ONU, Ibrahim Dabbashi, disse que a entidade poderia apoiar a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia caso os rebeldes que lutam Navios de guerra norte-americanos cruzam o Canal de Suez a caminho da Líbia contra Kadafi solicitassem a medida formal- mente e que nós, em Nova pervisão da liga e da União mente, revelou a rede Al-Jazira. York, sejamos notificados para Africana (UA). Dabbashi, um dos primeiros que possamos apresentar a pe"A Liga Árabe não vai ficar de diplomatas a abandonar o go- tição", afirmou. mãos atadas enquanto o sangue verno em represália à violência Apoio - Os ministros do Ex- do povo irmão da Líbia é derracontra os protestos, disse que a terior da Liga Árabe, reunidos mado", bradou o secretário-geONU poderia "ser convencida" no Cairo, repudiaram uma in- ral Amr Moussa. "A situação na pela necessidade da medida. tervenção externa, mas cogita- Líbia é lamentável, e não é cor"O que é necessário é que es- ram a criação de uma zona de reto que a aceitemos ou que consa decisão seja feita oficial- exclusão aérea, mas com a su- vivamos com ela." (Agências)

Violência de líder líbio será investigada

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romotores do Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciaram ontem que investigarão o regime do ditador da Líbia, Muamar Kadafi, por supostos crimes de guerra. Nomes de pessoas consideradas suspeitas serão divulgados ainda hoje. A ação foi anunciada um dia depois de a Assembleia Geral da ONU ter suspendido o país do norte da África do Conselho de Direitos Humanos da entidade. Segundo a Promotoria do TPI, dirigida pelo argentino Luis Moreno Ocampo, serão apresentados hoje "os crimes de guerra supostamente cometidos na Líbia desde 15 de fevereiro de 2011, assim como entidades e pessoas que podem ser processadas com o objetivo de evitar futuros crimes". Moreno Ocampo havia dito que "informações sugerem que as forças leais ao presidente Muamar Kadafi estão atacando civis na Líbia", acrescentando que isso poderia constituir um crime contra a humanidade. Quando tiver reunido evidências suficientes, o passo seguinte do promotor será apresentar o caso aos juízes do TPI, que decidirão pela emissão ou não de mandados de prisão. O TPI, sediado em Haia, é a primeira corte permanente do mundo para crimes de guerra, com poder de investigar crimes contra a humanidade, crimes de guerra e genocídio. Ele já instaurou inquéritos em cinco países da África. (Agências)


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