Design in my design

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Aliás, existe um tipo de fotografia, com toda uma tradição histórica, que corresponde exactamente a esta definição elementar: é o que se chama, em geral, o fotograma. (1) Do ponto de vista técnico, trata-se de fotografias obtrdas sem aparelho de fotografia, pela simples acção da luz: colocamos, na câmara escura, objectos opacos ou translúcidos directamente sobre papel sensível, expomos o conjunto assim composto a um raio de luz e revelamos o resultado. Não se passa, pois, por uma aparelhagem de captação (eliminação de toda a parte óptica do dispositivo fotográfico). Também não se passa por um intermediário (o negatívo) antes de tirar um positivo (o resultado final); mas chega-se directamente a uma prova negativa sobre papel (o que faz do fotograma uma peça única, não reproduzível). Enfim, e sobretudo, a imagem final aparece a maior parte das vezes como um simples jogo de sombras e de luz, de densidades variáveis e de contornos indefinidos. Longe de uma imagem mimética ou figurativa. Os fotogramas são aliás muitas vezes qualificados como “composições abstractas”, “puros jogos formais”, e é verdade que é muitas vezes difícíl, senão impossível, identificar com precisão os objectos que foram colocados sobre o papel e de que apenas se apercebe o vestígio, a sombra branca, mais ou menos deformada, definível só em termos gerais: “círculo”, “grelha”, “barra”, etc. É que o desenrolar da operação não está absolutamente nada do lado da semelhança, da fidelidade, da reprodução. Trata-se antes de um trabalho (de laboratório, justamente) sobre os efeitos da matéria luminosa como tal, para lá ou para cá de toda a ideia de mimesis realista. No fotograma só conta o princípio da sedimentação das camadas de luz. Sombra em negativo, a “imagem” fotogramática nunca representa vestígios fantasmáticos de objectos desaparecídos que já não subsistem senão sob a forma imaterial de efeitos de texturas, de modulações, de graduações, de transparências, de deformações, etc. Moholy-Nagy, que começou por ser pintor, abordou a fotografia através do fotograma (fez-se dele um dos inventores do género), resumindo o procedmento numa fórmula célebre: “Fotografar é estruturar através da luz”. (2) O fotograma aparece assim literalmente como uma verdadeira impressão luminosa por contacto (aliás as chamadas “pranchas de contacto” são obtidas exactamente da mesma maneira: são, se quisermos, fotogramas de negativos). Por aí se compreende que o fotograma seja

(1) Max KOZLOFF, Photography and Fascination. Essays, Danbury, N. H., Addison House, 1979. (2) Escritos teóricos de Lászlo MOHOLY-NAGY, em particular Malerei Fotografie (primeira edição, Munich, 1925) e Vision in Motion (primeira edição, Chicago, 1947). Ver também a monografia de Andreas HAUS, Moholy-Nagy: photographies, photogrammes, Paris, Ed. du Chêne, 1979.


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