Revista Hebraica - Janeiro

Page 1

janeiro de 2014

| premiado nos palcos

| T alenTo Revista Hebraica

ano lv

| n ยบ 623 | janeiro 2014 | S hvat 5774

Talento premiado nos palcos



HEBRAICA

3

| JAN | 2014

palavra do presidente

Tarefas e missões renovadas O começo deste ano é, também, o início do meu último ano de gestão à frente da Diretoria Executiva da nossa Hebraica. Um ano de muitos desafios, iguais ou maiores do que os anos anteriores, pois é minha tarefa deixar o clube nas melhores condições possíveis para o companheiro que me suceder na presidência, e a quem vamos confiar os destinos do nosso clube. Temos muitos projetos para este período e que eu tenho certeza poderemos cumprir porque conto com a colaboração dos vice-presidentes em várias áreas, dos diretores voluntários, e de um Conselho Deliberativo renovado em sua metade e que elegeu Mauro Zaitz para presidente em renhida e democrática disputa com o companheiro Isy Rahmani. Isso é indicativo de um Conselho que, enfim, e de fato, representa os associados, e como diz o nome, com poderes deliberativos. Se, já por dever de ofício, a Diretoria Executiva se obriga, por todas as razões, a responder às preocupações dos associados na gestão das coisas do clube, isto se torna ainda mais evidente quando se deve prestar contas a um Conselho Deliberativo imbuído de um fervor juvenil ansioso por dizer a que veio e a corresponder aos anseios dos que os sufragaram nas eleições livres e soberanas da primeira semana de novembro. Para tanto, neste ano que me resta, continuarei me esforçando para poder cumprir as missões e tarefas inerentes ao cargo que orgulhosamente ocupo. E tenho certeza de que, para isso, além desses abnegados voluntários que são os diretores e vice-presidentes, poderei contar com a ajuda dos conselheiros e, principalmente, com os dedicados funcionários e colaboradores profissionais, muitos dos quais há anos no clube, e que sem eles nada do que alcançamos até hoje seria possível, tanto pela dedicação como pelo comprometimento em oferecer aos sócios o melhor possível. Shalom

Abramo Douek

CONTINUAREI ME

ESFORÇANDO PARA PODER CUMPRIR AS MISSÕES E TAREFAS INERENTES AO CARGO QUE ORGULHOSAMENTE OCUPO. E TENHO CERTEZA DE QUE, PARA ISSO, ALÉM DESSES ABNEGADOS VOLUNTÁRIOS QUE SÃO OS DIRETORES E VICE-PRESIDENTES, PODEREI CONTAR COM A AJUDA DOS CONSELHEIROS E, PRINCIPALMENTE, COM OS DEDICADOS FUNCIONÁRIOS E COLABORADORES PROFISSIONAIS


4

| JAN | 2014

sumário

HEBRAICA

40

6

Carta da Redação

8

Destaques do Guia A programação de janeiro e fevereiro

12

Capa / Teatro Um balanço sobre nossos pequenos e grandes talentos artísticos

21

cultural + social

22

Dança Curso destacou os melhores pés-de-valsa do clube

23

Gourmet Como preparar legumes com leveza e sabor?

24

Meio-dia Trio Bruch e Camerata Cantareira no encerramento de 2013

26

Coluna um / comunidade Os eventos mais significativos da cidade

32

Fotos e fatos Os destaques do mês na Hebraica e na comunidade

39

juventude

40

Carmel Os três dias em que respiramos e dançamos Israel

46

Fotos e Fatos Os destaques entre os jovens da comunidade


HEBRAICA

5

| JAN | 2014

12

47

esportes

48

Futebol society O encerramento da Liga Interna que uniu crianças e adultos

50

Polo Encontro no Teatro Anne Frank encerrou 2013

52

Curtas Vôlei, judô e handebol são os destaques

54

Fotos e fatos Os melhores nos campos, quadras e piscinas

59

magazine

60

Espionagem Memorial reverencia os agentes secretos israelenses

62

12 notícias Nosso correspondente tem as notícias mais quentes de Israel

68

Urbanismo Ascensão e queda da rodoviária de Tel Aviv

70

Religião Porque os animais devem ser tratados com respeito e compaixão?

74

Memória Desapareceu uma das vozes mais emblemáticas de Israel

78

Showbiz Por que o musical Um Violinista no Telhado é sempre sucesso garantido?

82

A palavra Faça as contas e aprenda tudo sobre gematria...

84

Leituras Como anda o mercado das ideias?

86

Música Onze boas razões para relaxar em casa neste verão

88

Nelson Mandela A contribuição dos judeus na luta contra o apartheid

96

Ensaio A luta dos judeus que ficaram ao lado de Mandela

99

diretoria

100

Homenagem Os amigos despediram-se do saudoso Guiora Esrubilsky (z’l)

102

Lista da Diretoria Saiba quem são os seus representantes no Executivo

114

Conselho Os planos da nova gestão


6

HEBRAICA

| JAN | 2014

carta da redação

Leituras de conhecimento

ANO LV | Nº 623 | JANEIRO 2014 | SHVAT 5774

A matéria de capa desta edição é um documento a respeito do teatro na Hebraica, e mais do que a cronologia de uma história é a narrativa dos seus êxitos, a habilidade em descobrir talentos e, a partir daí, a capacidade de formar profissionais das artes cênicas. Isso explica o sucesso das peças encenadas em um clube como a Hebraica que, não satisfeito com um, tem dois teatros. Magali Boguchwal relata o que descobriu e descreve os dois dias de Festival Carmel, uma comemoração ao movimento, cores e luzes. No “Magazine”, Ariel Finguerman escreve acerca de um novo, e insólito, memorial, desta vez consagrado aos espiões das famosas agências Mossad, que atua no exterior, e Shin Bet, de segurança interna, principalmente àqueles que morreram em ação. E duas longas reportagens, uma dedicada a Nelson Mandela e aos judeus da vida dele, e outra tratando do cantor Arik Einstein, morto no final de novembro, e menos conhecido na Diáspora do que merecia. Na seção “Ensaio”, um texto do ex-deputado federal David Lerer que passou parte do exílio trabalhando como médico em Angola e Moçambique, vizinhos da África do Sul. E na seção “Palavra”, uma explicação do significado de gematria.

DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’l) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE

SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE FOTOGRAFIA BENJAMIN STEINER (EDITOR)

CLAUDIA MIFANO (COLABORAÇÃO) FLÁVIO M. SANTOS

DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES

ALEX SANDRO M. LOPES

FOTO CAPA FLÁVIO M. SANTOS EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9º - CONJ. 95

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR CEP: 05435-040

- SÃO PAULO - SP

DIRETOR PAULO SOARES DO VALLE ADMINISTRAÇÃO CARMELA SORRENTINO

Boa leitura Bernardo Lerer Diretor de Redação

ARTE PUBLICITÁRIA RODRIGO SOARES DO VALLE

DEPTO. COMERCIAL SÔNIA LÉA SHNAIDER PRODUÇÃO PREVAL PRODUÇÕES

IMPRESSÃO E ACABAMENTO ESKENAZI INDÚSTRIA GRÁFICA PUBLICIDADE TEL./FAX: 3814.4629

3815.9159

E-MAIL DUVALE@TERRA.COM.BR JORNALISTA RESPONSÁVEL BERNARDO LERER MTB 7700

calendário judaico ::

OS CONCEITOS EMITIDOS NOS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE

INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, NÃO RE-

PRESENTADO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DE DIRETORIA DA HEBRAICA OU DE SEUS ASSOCIADOS.

JANEIRO 2014 Shvat 5774

FEVEREIRO 2014 Adar I 5774

dom seg ter qua qui sex sáb

dom seg ter qua qui sex sáb

5 12 19 26

6 7 13 14 20 21 27 28

1 2 8 9 15 16 22 23 29 30

3 4 10 11 17 18 24 25 31

2 9 16 23

3 4 10 11 17 18 24 25

A HEBRAICA É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA ASSOCIAÇÃO

Véspera de Purim

Tu B’Shvat

“A HEBRAICA” DE 1.000, PABX: 3818.8800

BRASILEIRA

1 5 6 7 8 12 13 14 15 19 20 21 22 26 27 28

SÃO PAULO RUA HUNGRIA,

EX-PRESIDENTES LEON FEFFER (Z’l)

- 1953 - 1959 | ISAAC FISCHER (Z’l) - 1960 - 1963 | MAURÍCIO GRINBERG (Z’l) - 1964 - 1967 | JACOB KAUFFMAN (Z’l) - 1968 - 1969 | NAUM ROTENBERG 1970 - 1972 | 1976 - 1978 | BEIREL ZUKERMAN - 1973 - 1975 | HENRIQUE BOBROW (Z’l) - 1979 - 1981 | MARCOS ARBAITMAN - 1982 - 1984 | 1988 - 1990 | 1994 - 1996 | IRION JAKOBOWICZ (Z’l) - 1985 - 1987 | JACK LEON TERPINS - 1991 1993 | SAMSÃO WOILER - 1997 - 1999 | HÉLIO BOBROW - 2000 - 2002 | ARTHUR ROTENBERG - 2003 - 2005 | 2009 - 2011 | PETER T. G. WEISS - 2006 - 2008 | PRESIDENTE ABRAMO DOUEK

VEJA NA PÁGINA 114 O CALENDÁRIO ANUAL 5773-5774

Fale com a Hebraica PARA COMENTÁRIOS, SUGESTÕES, CRÍTICAS DA REVISTA LIGUE: 3818-8855 CANALABERTO@HEBRAICA.ORG.BR

REVISTA@HEBRAICA.ORG.BR

MUDANÇA DE ENDEREÇO OU DÚVIDAS DE ENTREGA DA REVISTA LIGUE:3818-8898/99 SECRETARIA@HEBRAICA.ORG.BR

PARA FALAR COM A PRESIDÊNCIA PRESIDENCIA@HEBRAICA.ORG.BR

OUVIDORIA OUVIDORIA@HEBRAICA.ORG.BR

INTERNET WWW.HEBRAICA.ORG.BR

SUGESTÕES SUGESTOES@HEBRAICA.ORG.BR

PARA ANUNCIAR

3814.4629 / 3815.9159 DUVALE@TERRA.COM.BR



g 8

HEBRAICA

| JAN | 2014

por Giovahnna Ziegler

destaques do guia FÉRIAS NA HEBRAICA EM CLIMA DE FÉRIAS, DIVERSAS ATIVIDADES PARA CRIANÇAS E

ADOLESCENTES ACONTECEM PELO CLUBE. A COLÔNIA DE FÉRIAS

HEBRAIKEINU, PARA CRIANÇAS DE 2 A 6 ANOS, TEM COMO TEMA OS FILMES DA PIXAR. A MACHANÉ KAITZ (ACAMPAMENTO DE VERÃO) ACONTECE NO SÍTIO RANIERI NA

7 Dias Férias Colônia de Férias Hebraikeinu 6 a 10/1 e 13/ a 17/1 Das 9h às 17h De 2 a 6 anos

COMPANHIA DOS AMIGOS E CERCADO

Machané Kaitz (Acampamento de Verão 2014)

NAS FÉRIAS ABRE AS PORTAS PARA O

18 a 25/1 De 7 a 17 anos

DE NATUREZA. O ATELIÊ DE ARTE

PÚBLICO INFANTIL E INFANTOJUVENIL.

CELEBRAREMOS TU BISHVAT,

O “ANO NOVO DAS ÁRVORES”, PLANTANDO UMA ÁRVORE NO GRAMADO DA HEBRAICA.

EM DIFERENTES TIPOS DE MATERIAIS, NAIR KREMER EXPÕE “CLARICE LISPECTOR – TERRITÓRIOS AFETIVOS” NA GALERIA DE ARTE HEBRAICA COMEÇAM OS PREPARATIVOS PARA OS PRÓXIMOS CURSOS DE TEATRO. OFICINA PARA MUSICAIS, TEATRO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ESTÃO

PREVISTOS PARA FEVEREIRO E MARÇO.

Horários do ônibus

• Terça a sexta-feira Saídas Hebraica 11h15 , 14h15, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30

Colônia Arte nas Férias Infantil: 13/1 a 24/1

Saída Avenida Angélica 9h, 12h, 15h, 17h30 e 17h45

Das 9h às 12h De 1 a 3 anos

• Sábados, domingos e feriados

Infantojuvenil: 13/1 a 17/1 Das 14h às 17h De 4 a 13 anos

Cultura Judaica

Saídas Hebraica –10h30, 11h30, 14h30, 16h45, 17h, 18h20 e 18h30 Saídas Avenida Angélica 9h, 11h, 12h, 15h , 16h15, 17h30 e 17h45

Tu Bishvat 19/1, 10h30 Sinagoga e Gramado

Arte Clarice Lispector – Territórios Afetivos, por Nair Kremer De 21/12/2013 a 18/2/2014 Galeria de Arte Hebraica

• Linha Bom Retiro/Hebraica Saída Bom Retiro – 9h, 10h Saída Hebraica – 13h45, 18h30





12 HEBRAICA

| JAN | 2014

capa | teatro | por Magali Boguchwal

Entre os melhores da Acesc DIRETORES, ATORES E TÉCNICOS DAS PEÇAS OS MONSTRUOSOS MONSTRENGOS DE MONSTRÓPOLIS E A EXCEÇÃO E A REGRA FORAM PREMIADOS NO FESTIVAL INTERCLUBES DE TEATRO ACESC

H

eitor Goldflus e Luciane Strul foram considerados os melhores diretores de teatro na Maratona Cultural Acesc. Ele recebeu o troféu por A Exceção e a Regra, encenada pelo grupo Questão, e ela por Os Monstruosos Monstros de Monstrópolis, infantil carinhosamente apelidado pelo elenco de “Monstrupe”, tema da foto da capa desta edição. Esta premiação não é novidade para os dois profissionais nem a única recebida pela Hebraica na Acesc. (ver boxes nas páginas seguintes). As peças da qual participaram como diretores, atores ou auxiliando cargos técnicos, como figurino, trilha sonora e dramaturgia, sempre estiveram em evidência na lista de destaques da Acesc, mesmo quando levava o nome original, Festival Interclubes, antes de ser incorporado à Maratona Cultural Acesc. “Este ano, a previsão era que somente Monstrupe disputasse o festival. Mas os jurados viram a peça infantil num domingo e souberam horas depois que o grupo Questão se apresentaria no mesmo Teatro Anne Frank e decidiram ficar para ver. Então, insistiram na inscrição de última hora e foi muito legal”, revelou Dália Halegua, integrante do elenco de A Exceção e a Regra. Quando a peça estava em cartaz e o público mencionava o festival ou elogiava a montagem, Goldflus agradecia e re-

velava sua verdadeira aspiração. “Quero que os sócios assistam ao espetáculo. Este sim seria um prêmio muito valioso”, declarava. Ele se referia à histórica dificuldade de o clube sensibilizar os associados para a própria produção cultural. A montagem infantil anual mobiliza as famílias com filhos pequenos. No entanto, as outras contam apenas com plateias formadas por pais, irmãos e os muitos amigos dos atores. “Já atuei com público pequeno, mas nada tira o prazer de estar no palco”, declara Caio Zalc, do elenco de Monstrupe. Para o coordenador do Departamento de Teatro, Henrique Schafer, um diferencial em relação às premiações da Acesc de edições anteriores é uma espécie de inversão feita na edição de 2013 pelos jurados. “Achei legal o fato de o Monstrupe, cujo elenco é basicamente formado por jovens e adultos, ficasse em segundo lugar entre os espetáculos infantojuvenis, e a peça do grupo Questão, formado por adolescentes entre 15 e 18 anos, tenha vencido na categoria adulto”, destaca ele. O elenco de Monstrupe reuniu jovens originários dos grupos Prumo e Gesto, formados respectivamente por universitários e adultos. Yudah Benadiba, 64 anos, e Rosane Nadanovsky, 58, tiveram as primeiras indicações para o prêmio em um festival de teatro. “Foi muito

emocionante ouvir meu nome chamado para receber a medalha de segundo lugar”, conta Rosane. Claro que um festival competitivo necessita de pelo menos mais de três concorrentes. Este ano o Esporte Clube Pinheiros disputou com o espetáculo infantil Encantada, o Esporte Clube Sírio inscreveu Nasrudin, o Ipê Clube Vamos Jogar o Jogo e o Paineiras do Morumby encenou entre outras, Lisístrata, com direção de Moisés Miastkowsky, que já trabalhou na equipe profissional da Hebraica no final da década de 1980. Henrique Schafer vê com naturalidade a relação entre o teatro e os clubes. “Existe uma demanda para a atividade teatral. A maioria dos clubes investe em grupos que se reúnem para contar uma história no palco. Em geral, dispõem de um bom local para ensaios e as apresentações, e contratam um profissional para dirigir. É mais do que muitos profissionais conseguem. E nos clubes há pessoas que têm paixão por teatro, querem atuar, mas não são profissionais. A diferença da Hebraica é o trabalho pedagógico de base. Hoje temos cursos de teatro a partir dos 7 anos e as montagens são realizadas como uma consequência deles”, explica. Esse diferencial da Hebraica é citado por muitos profissionais hoje inseridos no mercado artístico como atores, músicos, técnicos e dramaturgos. Luciane Strul, Heitor Goldflus, Marcelo Klabin, >>


HEBRAICA

GRUPO QUESTÃO, NO CAMARIM, SE PREPARA PARA ENTRAR EM CENA SOB A DIREÇÃO DE HEITOR GOLDFLUS

13

| JAN | 2014


14 HEBRAICA

| JAN | 2014

capa | teatro >> Alan Fiterman, Lia Levin são nomes que participaram das montagens teatrais da Hebraica e hoje estão nos programas de produções do circuito comercial. “Juliana Bronstein é hoje uma dramaturga cujos textos já foram montados, as trilhas de Daniel Tauszig estão em filmes e peças e Alan Fiterman dirige novelas e séries da TV Globo. Além, claro, de Caco Ciocler, que sempre lembra o início de carreira nas peças do clube”, diz Henrique Schafer. “É comum sermos consultados por produtores à procura de reforço para seus elencos”, completa Henrique. Artes não marciais A relação de prêmios e eventos da Maratona Cultural Acesc revela que o cotidiano dos clubes vai muito além das atividades esportivas. A Hebraica participou do concurso de literatura e teve dois vencedores na categoria infantil: Allan Davi Catach e Tali Finger, de 12 e 10 anos, respectivamente. Também participou do festival de MPB vocal e das mostras de arte e do encontro de corais. “O contato com a literatura e a arte começa muito cedo no clube. Em novembro último, por exemplo, a Escola Maternal e Infantil promoveu a Expoliterarte, evento que mesclava histórias com oficinas de artes. Tinha até uma pequena feira de livros”, comenta o vice-presidente de Juventude, Moisés Gordon. “Além disso, temos Centro de Música, ateliê de artes e cursos de dança e o teatro que trabalham com todas as idades”, completa. Nas últimas semanas de 2013 a programação da Hebraica foi movimentada pela apresentação no Teatro Anne Frank de quatro montagens teatrais de final de ano dirigidas pelas professoras dos cursos de teatro Ozani Violin e Luciane Strul, e uma encenada pelas crianças do Hebraikeinu I e II. “Tivemos criações coletivas como O Tabuleiro Mágico e textos conhecidos como Perseu e a Medusa, A Casa da Rua Franco, O Mágico de Oz, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá adaptados para cada faixa etária”, explica o coordenador do Departamento de Teatro, que partilhou alguns dos peque-

Um palquinho e um diretor O estomatologista Sílvio Boraks é remanescente do primeiro grupo de teatro da Hebraica. Suas lembranças remontam ao início da década de 1960, antes ainda da construção do teatro que hoje se chama Arthur Rubinstein. “Eu fazia parte de um grupo chamado Clubinho, liderado pelo ator Felipe Wagner, que veio trabalhar para a Hebraica. Ensaiávamos numa salinha, próximo do Recreativo. Nossa primeira peça foi A Rainha Ester, apresentada num palco improvisado. Em seguida montamos o espetáculo infantil Simbita e o Dragão, e depois Peggy do Meu Coração. Aí sim, ganhamos um palquinho improvisado, atrás da quadra do Ginásio dos Macabeus”, lembra. A mulher de Boraks teve um papel importante na participação do ator Sérgio Cardoso no espetáculo de inauguração do que viria a se chamar Teatro Arthur Rubinstein. “Quando o teatro ficou pronto, em 1963, o ator e diretor Sérgio Cardoso foi convidado a trabalhar na montagem do espetáculo de inauguração, que teria coral e números de balé com a famosa Aída Slon e naquela noite Sérgio recitaria um trecho em hebraico. Minha mulher havia chegado recentemente de Israel e veio ao clube informar-se sobre a possibilidade de fazer teatro. Por coincidência, Sérgio estava na portaria e ouviu o sotaque sabra e teve uma ideia. Com a colaboração dela, que o ajudou no ponto eletrônico, ele recitou sua parte perfeitamente e depois disso ele a convidou para integrar o elenco de Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare, do qual também tomei parte”, recorda.


HEBRAICA

15

| JAN | 2014

Os melhores do teatro Espetáculo infantojuvenil – Os Monstruosos Monstrengos de Monstrópolis Trilha sonora – Che Leal e Ugletson Castro (primeiro lugar) Iluminação – Paula Hemsi e Gilson Moura (segundo lugar) Cenografia – Michele Rolandi e Aristide A. do Nascimento Jr (primeiro lugar) Figurino – Daniel Infantini (segundo lugar) Ator destaque – Yudah Benadiba (primeiro lugar) Atriz destaque – Rosane Nadanovsky (segundo lugar) Ator coadjuvante – Renato Ghelfond (segundo lugar) Atriz coadjuvante – Lídia Bydlowski (terceiro lugar) Direção infantojuvenil – Luciane Strul (primeiro lugar) Espetáculo (adulto) – A Exceção e a Regra (primeiro lugar) Sonoplastia (adulto) – Rodolfo Vaz Valente (primeiro lugar) Atriz destaque – Flávia Jablonka (terceiro lugar) Ator coadjuvante – Rafael Hercowitz (segundo lugar) Direção (adulto) – Heitor Goldflus (primeiro lugar)

nos atores com os espetáculos de encerramento do curso de balé no Teatro Arthur Rubinstein e dos dois shows de música com os aprendizes do Centro de Música Naomi Shemer. Há anos, o Centro Juvenil Hebraikeinu oferece às crianças a partir dos 7 anos (Hebraikeinu I) oficinas de teatro e artes. No início de cada ano, as crianças escolhem o curso e no final do segundo semestre apresentam o resultado. “No início, as montagens incluíam o pessoal de 13 a 17 anos, mas como não se conseguia conciliar os horários no sábado, as oficinas hoje se restringem aos menores, e muitos deles pedem aos pais para frequentar os cursos durante a semana. Parte do elenco do grupo ArteculAção, que encenou A Casa da Rua Franco, Tatiana Klar Salm, Tamara Crespino, Rafael Blecher Klerer e Verônica Birenbaum começaram no Hebraikeinu e, em breve, provavelmente estarão no grupo Questão”, informa Ozani, que acompanha os garotos desde os primeiros jogos teatrais. >>

ACIMA, MARCELO KLABIN (E) COORDENOU A OFICINA DE MUSICAIS; À DIREITA, GRUPO DE TEATRO DO

CENTRO JUVENIL HEBRAIKEINU O GATO MALHADO E A ANDORINHA SINHÁ ENCENOU


16 HEBRAICA

| JAN | 2014

capa | teatro

PERSEU E A MEDUSA FOI A PRIMEIRA PEÇA A SER ENCENADA NA TEMPORADA PELOS ALUNOS DO GRUPO BLABLAÇÃO, NO ENCERRAMENTO DOS CURSOS DE TEATRO

>> De pai para filho Na Hebraica, teatro é uma atividade familiar. A prima de Verônica, Taty Birenbaum atuou em algumas peças do clube e recentemente embarcou para Nova York, onde completa formação em teatro musical. Gabriel, o irmão mais velho de Tatiana Salm, integrava o elenco de

A Exceção e a Regra, e Felipe, 7 anos, o mais novo, estreou em um papel criado especialmente para ele em O Mágico de Oz. No mesmo elenco, Tiago Strul Mallak entrou em cena como o homem de lata, mesmo personagem interpretado pelo pai na montagem realizada em 2008. Ambos foram dirigidos pela

mesma pessoa: a mãe e esposa Luciane Strul. “Gostei tanto do cenário deste ano, que já penso em repetir O Mágico de Oz numa futura produção infantil”, planeja Lu. Muitos dos pequenos atores estiveram em outros palcos em uma das dez coreografias do espetáculo “Brinquedos

Os premiados da Acesc Crônica infantojuvenil – Tali Finger (primeiro lugar) Poesia infantojuvenil – Allan Davi Catach (primeiro lugar) Festival MPB vocal – Cláudia Hemsi Leventhal (segundo lugar) Pintura acadêmica – Marcos Motel Faingezicht Escultura não figurativa – Sylvia Sinder (terceiro lugar) ALUNO DO CENTRO DE MÚSICA, NO SHOW DE ENCERRAMENTO


HEBRAICA

e Brincadeiras”, ou num dos dois shows de música – cada um com vinte números, da MPB ao rock, passando pelo clássico e o jazz. “Mesmo agrupando os alunos em dois programas diferentes, cada show terá vinte números e durará uma hora e meia.” explicou o coordenador do Centro, Gustavo Kurlat, recentemente premiado na Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca) pela peça Uma Trilha para Minha História. As professoras de balé clássico Martina Sarantopoulos e Lia Mandelsberg se declaram satisfeitas com a expansão do curso mantido pelo Centro de Danças. “Muitas mães inscrevem as meninas desde pequenas e à medida que elas evoluem abrimos turmas mais avançadas. Seria bom que os pais soubessem que nosso treinamento e preparo vai muito além dos primeiros graus do bailado”, disseram as duas, minutos antes do início do espetáculo. Foi o que repetiu Kurlat à plateia dos dois shows entre um número e outro. Ao divulgar os cursos e instrumentos oferecidos pelo Centro de Música, ele se via obrigado a citar poucos por vez. “São tantos”, dizia. Quanto à qualidade do ensino, bastava ouvir as bandas formadas por alunos e professores e os aplausos que se seguiam às canções. “Alguns alunos participam de mais de uma banda. Isso se deve, em geral, porque estudam mais de um instrumento ou foram convidados para colaborar com o número do colega”, afirmou. E por falar em arte, é importante mencionar o Ateliê Hebraica que no final do ano ofereceu duas oficinas dominicais, uma focada na chegada da primavera e outra com algumas técnicas de composição de álbuns decorados (scrapbooks). Este ano, em vez da exposição de artes, a coordenadora do Ateliê, Bety Lindenbojm, e equipe montaram totens com fotos dos pequenos artistas em plena atividade. Numa delas, estava Stefani Romano, artista multimídia de 11 anos que fez parte do elenco da peça Perseu e a Medusa e de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá. Sabe-se lá, em que palco ela estará daqui a dez anos...

17

| JAN | 2014

Hebraica na Acesc Abramo Douek foi eleito presidente do Conselho Superior da Associação dos Clubes Esportivos e Socioculturais (Acesc) para 2014. Em 2013, foi o vice-presidente. A nova diretoria do órgão máximo da entidade foi anunciada durante a cerimônia de encerramento da Maratona ACESC 2013, minutos antes da entrega do troféu para o vice-presidente de Esportes do clube, Avi Gelberg, de destaque especial nos esportes pelo desempenho das equipes e atletas individuais do clube nos torneios 7ª Copa de Futsal, 5ª Copa de Vôlei Master Feminino e 13º Torneio Infanto-juvenil de Tênis.

ALAN LEVOU O 1O LUGAR NA CATEGORIA POESIA E O 2O LUGAR EM CRÔNICA NA MARATONA CULTURAL ACESC

EXPOLITERARTE OCUPOU TODOS OS ESPAÇOS DA ESCOLA MATERNAL





HEBRAICA

21

| JAN | 2014

cul tu ral + social


22 HEBRAICA

| JAN | 2014

cultural + social > dança de salão

No ritmo das estrelas

CINCO CASAIS FORMARAM O GRUPO DA HEBRAICA NA COREOGRAFIA “CANTANDO NA CHUVA”

PARA ENCERRAR O ANO LETIVO, OS PROFESSORES DE DANÇA DE SALÃO EDUARDO LA LUNA E DRIKA COELHO REUNIRAM TODOS OS ALUNOS EM UM ESPETÁCULO INSPIRADO EM CENAS E PERSONAGENS DE FILMES MUSICAIS

U

m evento duplo marcou a confraternização de final de ano dos participantes do curso de dança de salão promovido pela vice-presidência Social e Cultural. Os casais participaram do espetáculo promovido pelos professores Eduardo La Luna e Drika Coelho. Sob o título “Nos Passos de Hollywood”, cada coreografia era precedida por cenas de grandes sucessos de trilhas musicais de diversas épocas. Os pares com figurinos especiais deslizavam pelo palco ao som do tema principal de filmes como Harry Potter, Zorro, Dança Comigo, Piratas do Caribe e até das animações Rio, Madagascar, e os brasileiros Ópera do Malandro e Gonzaga de Pai para Filho. O grupo da Hebraica ficou com o romântico Cantando na Chuva, apresentado por Albert e Simone Holz Sacher, Alter Raschkovsky, Sônia Rochwerger, André e Paulete Douek, Vadim Z. Neto,

Sandra Kauffman, Marat Fage e Viviane Rawet. O público formado de alunos da escola e familiares aplaudiu as 22 coreografias e homenageou os professores da Cia La Luna. Depois do espetáculo, público e dançarinos foram ao Salão Marc Chagall, onde se realizou a domingueira, reunião dançante durante a qual as atenções se voltaram para as dezenas de casais em movimento na pista animados pelas seleções musicais propostas pelo deejay. Nos intervalos, professores da Cia La Luna e outros dançarinos profissionais convidados fizeram apresentações especiais, com maestria e talento em todos os gêneros musicais. As inscrições para a próxima turma de dança de salão já estão abertas no Centro de Danças. Segundo a diretora social Sônia Rochwerger, “a apresentação no palco foi uma experiência riquíssima”. (M. B.)


HEBRAICA

23

| JAN | 2014

cultural + social > espaço gourmet

A

indicação da Veja SP para o restaurante Epice juntou-se a outros prêmios que Alberto Landgraf ganhou em pouco tempo. No Espaço Gourmet, ele simplificou: a proposta dele foi um “Novo Olhar para os Legumes” para mostrar como é possível preparar um prato de qualidade e excelente apresentação com legumes e vegetais. Ele fez couscous com cenouras carameladas, vinagrete de alho-porró, pupunha grelhada, picles de cebola e mandioquinha assada. É simples, mas requer alguma experiência. Assim é a carreira de Landgraf, desde que foi para a Inglaterra aprimorar o inglês e acabou entrando numa cozinha. “Optei por esse trabalho porque juntei dois lados da minha personalidade. Gosto do esporte e da área cultural; o desgaste do trabalho e o aspecto intelectual estão na cozinha, onde há trinta tarefas a serem cumpridas, é preciso fazer uma organização mental do tempo, definir as etapas de cada prato, o que cozinhar antes, depois ou ao mesmo tempo”, expli-

Legumes com pitadas de simplicidade O ESPAÇO GOURMET CONCLUIU 2013 COM UMA AULA DE ALBERTO LANDGRAF, CHEF INOVADOR PARA QUEM A COZINHA PODE SER SIMPLES, E CUJO RESTAURANTE FOI ELEITO O MELHOR CONTEMPORÂNEO DA CIDADE PELA VEJA SP ca o jovem chef. Landgraf chama algumas das suas criações de simetria assimétrica. “Gosto de Miró, de Van Gogh, admiro arquitetos, amo o rock progressivo, tudo isso me aproxima da simetria assimétrica.” Está sempre testando novas receitas. “Jamais entro no restaurante satisfeito com o que fiz no dia anterior, porque sempre posso melhorar. Por isso, ainda não me considero um chef, e daqui cinco anos vou avaliar se virei um”, completa. Esta foi a última aula de 2013 no Es-

O CHEF ALBERTO LANDGRAF MINISTROU O CURSO “NOVO OLHAR PARA OS LEGUMES” NO ESPAÇO GOURMET

paço Gourmet. Na semana seguinte, o diretor Diego Man, a chef Ana Recchia e a assistente Val convidaram os alunos habituais do Espaço Gourmet para brindar o sucesso de mais um ano em que novas informações e o ambiente fizeram amigos e fãs da cozinha. Serviuse vinho Echeverría, queijos Tirolez e a bruschetta da casa, já famosa. Man e a chef Anna garantem que os contatos com os chefs mais conhecidos e os nomes em cartaz na gastronomia prometem continuar com os encontros das terças-feiras. (T. P. T.)


24 HEBRAICA

| JAN | 2014

cultural + social > hebraica meio-dia

BRUCH TRIO E CAMERATA CANTAREIRA NO ENCERRAMENTO DA TEMPORADA 2013 DO HEBRAICA MEIO-DIA

Os novos planos para 2014 BRUCH TRIO E CAMERATA CANTAREIRA ENCERRARAM A PROGRAMAÇÃO 2013 DO HEBRAICA MEIO-DIA, MAS NICOLE E EDGAR BORGER SE PREPARAM PARA VIAJAR EM BUSCA DE NOVIDADES PARA ESTE ANO

M

arta Vidigal (clarinete), Marcelo Jaffé (viola), e Aída Machado (piano) formam o Bruch Trio, que homenageia Max Christian Friedrich Bruch (1838-1920), ou Max Karl August Bruch, compositor e regente alemão romântico que compôs mais de duzentas obras musicais, entre elas três concertos para violino fundamentais no repertório para o instrumento. O trio abriu a última apresentação do Hebraica Meio-Dia em 2013 com uma peça de Bruch e depois tocou Schumann. Na segunda parte apresentouse a Camerata Cantareira, formada por instrumentistas de corda do curso superior de música da Faculdade Cantareira que executaram peças de Alberto Nepomuceno e Guerra Peixe e a Abertura so-

bre Temas Hebraicos, opus 34, de Sergei Prokofiev, ao lado do Bruch Trio. A qualidade e a variedade da programação são a maior preocupação de Nicole e Edgar Borger, desde o momento em que assumiram a direção do Hebraica Meio-Dia, há três anos. De início, desconhecidos dos frequentadores assíduos, eles sentiram a desconfiança no ar. Pouco a pouco, depois da troca de ideias, chegaram ao resultado atual. O público, por sua vez, percebeu o padrão oferecido, fruto do trabalho voluntário de diretores e de profissionais da área. Às voltas com a programação deste ano, os diretores planejam apresentações dos grupos de dança Troika, da Rússia, e Tirol, da Áustria. Danilo Brito voltará com seu bandolim e Haroldo Gold-

farb, aplaudido pianista carioca, virá à Hebraica. Contatos estão em andamento com as faculdades Cantareira, Emesp e Unesp e com o Conservatório Souza Lima. Os planos incluem uma parceria com o Consulado de Israel e o Fundo Comunitário, de modo a que artistas israelenses passando por São Paulo se apresentem no clube. Os Borger aproveitam as férias para realizar contatos no exterior. Viajam a Israel e a Nova York, para participar de dois eventos internacionais dedicados a produtores musicais, o da Association of Performing Arts Presenters (Apap), um dos maiores no gênero no mundo. Durante quatro dias, eles percorrerão as salas do Hilton Hotel onde, a cada meia hora serão apresentados pocket shows de artistas do cenário norte-americano, além de seminários sobre legislação e negociação com os agentes. Nicole e Edgar participarão também do Schmooze, versão judaica do Apap, reunindo música, dança e teatro judaicos, mostrando o que de melhor existe mundialmente para ser visto. Esses contatos resultarão em nomes que virão para o Kleztival, realizado pelos Borger anualmente e, se possível, estenderão a apresentação para os associados. (T. P. T.)



C 26 HEBRAICA

| JAN | 2014

por Tania Plapler Tarandach | imprensa@taran.com.br

coluna comunidade

Encontro interreligioso em Viena

Convocados pelo rei saudita Abdullah Bin Abdulaziz, o rabino Michel Schlesinger, da CIP, o cardeal arcebispo de Aparecida e presidente da Cnbb dom Raymundo Damasceno Assis e o xeque Jihad Hassan participaram, em Viena, do International Centre for Interreligious and Intercultural Dialogue (Kaiciid), representando o Brasil. O tema foi “O Encontro com o Outro” e dele participou também o rabino David Rosen, de Israel. “O encontro provou mais uma vez que o vácuo beneficia os fanáticos e a missão sagrada dos religiosos moderados é se encontrar e pavimentar um caminho de diálogo e paz”, disse Schlesinger.

Israelense na Bienal de Teatro O dramaturgo, autor e diretor israelense Joshua Sobol participou da 1ª. Bienal Internacional de Teatro da Universidade de São Paulo. Ele escreveu mais de sessenta peças, encenadas em diferentes países, e é autor da peça Guetto, traduzida para mais de vinte idiomas e premiada na Grã-Bretanha, Japão e Chicago. Durante a Bienal, Miriam Rinaldi encenou a leitura dramatizada da peça no Centro da Cultura Judaica.

Inauguração do Edifício Esther Safra

O

prédio do antigo Groisser Shil, da rua Newton Prado, agora é o Edifício Esther Safra, que foi reformado para abrigar a sede do Ten Yad e seus 27 projetos assistenciais, um centro comunitário com refeitório, consultório oftalmológico, biblioteca, auditório, salão de festas e sinagoga com dois Sifrei Torá doados pelas famílias Kattan e Kalife. Mais de quinhentas pessoas participaram da inauguração iniciada com a leitura do Salmo 112, pelo rabino Shabsi Alpern e prece pelo bem-estar dos governantes pelo grão-rabino sefaradita de São Paulo, Efraim Laniado. Recebido pelo rabino David Weitman, que criou o Ten Yad, em 1992, e pelos dirigentes da instituição, Mário Arthur Adler e Moisés Nigri, o governador Geraldo Alckmin disse: “Desde 2002, o Ten Yad participa das ações sociais de combate à fome do governo como parceiro em restaurantes populares no Bom Retiro e na

região da 25 de Março. Já se contam mais de cinco milhões de refeições”. “Cada judeu tem a obrigação de ajudar o outro, de contribuir para um mundo melhor. É o que tentamos fazer no Ten Yad com centenas de voluntários, anônimos, que sacrificam seu lazer para ajudar. Com a nova sede e novos projetos, precisaremos de mais mãos para ajudar a continuar este trabalho maravilhoso”, disse o rabino Berel Weitman. Alberto Safra, Esther Safra Dayan e David Safra receberam uma placa de prata em homenagem à família. O rabino David Weitman ressaltou o importante papel dos voluntários, funcionários e mantenedores nestes mais de vinte anos, desde o pequeno refeitório comunitário na rua Ribeiro de Lima até os dias atuais. Todo ano são distribuídas mais de setecentas toneladas de alimentos nos programas e parcerias com o Estado e a Prefeitura de São Paulo.

Alunos lançam aplicativo

Tecnologia israelense de ponta

Alunos da nona série do Colégio I .L. Peretz lançaram, no Memorial da Resistência, antigo Deops, no bairro da Luz, o aplicativo “Ditadura na Memória”, analisando o período da ditadura no Brasil, nas disciplinas de geografia, história, português e artes. Os alunos apresentaram a funcionalidade do trabalho, disponível em http://app.vc/ditadura_na_memorial.

Uma delegação de fornecedores israelenses da área de tecnologia da informação e soluções inovadoras reuniu-se com empresários brasileiros no evento “Tecnologia Brasil Israel 2013” em uma iniciativa da israelense MIW-Marketing Innovation Worlwide e apoio da Missão Econômica de Israel no Brasil.


HEBRAICA

27

| JAN | 2014

COLUNA 1 Berta Waldman, Jamil Ibrahim Iskandar e Saul Kirschbaum, entre outros, participaram do “Diálogo das Civilizações”, seminário organizado por Denise Milan e Olgária Matos, da Unifesp e realizado pela Secretaria Municipal de Cultura, USP e Tenda Cultural Ortega y Gasset, e entidades francesa, libanesa e norteamericana. Na tarde de reinauguração e benemerência do Grupo Tzehirot, da Wizo-SP, Christiane Abrahão abriu sua loja da etiqueta Tufi Duek, no Pátio Higienópolis, com a coleção Verão 2014 e destinou parte das vendas de dezembro para a entidade.. O seminário “São Paulo, entre o passado e o futuro: iniciativas presentes para a reinvenção da metrópole” reuniu Lídia Goldenstein, que atua em Economia Criativa, o diretor-presidente da SP Negócios Wilson Poit e o sócio da MMBB Arquitetos Milton

Braga. O seminário foi realizado pela Fundação iFHC e a Endeavor, organização mundial de promoção da cultura empreendedora. Quem visitar o Jardim Botânico de Brasília será recebido com boas-vindas também em hebraico, um dos doze idiomas grafados na entrada. O embaixador de Israel Rafael Eldad doou seis mudas de oliveiras que plantou junto com o diretor-executivo do parque Jeanitto Gentilini. O segundo herdeiro de Luhanna e Luciano Szafir nasceu na Casa de Saúde São José Humaitá e se chama David. Os clientes de Marina Felmanas e Fernanda Ferraz puderam colaborar com a Unibes porque, em dezembro, cada venda on line no ShopGabriel correspondia à aquisição de um brinquedo que foi entregue à instituição antes do Natal.

Em trânsito entre a embaixada em Washington e o novo posto na África do Sul, David Meron esteve em São Paulo para encontrar os amigos ciclistas que pedalam no circuito israelense Wheels of Love em prol do Hospital Alyn, de Jerusalém. David foi recebido no Café da Sede da Hebraica. O terceiro livro de Hernani Dimantas trata de uma pesquisa a respeito das conversas da MetaReciclagem e qual o impacto delas na formação de redes. Em breve nas livrarias, com o título zonas de colaboração. Uma delícia em vários sabores, assim é o novo Bolo em Companhia. Sílvia (Lang) e Sílvio Roth fazem bolos caseiros para “serem apreciados em companhia de quem se gosta”, na loja da rua França Pinto, Vila Mariana. Com ilustrações de Carlos Fonseca, a jornalista Mirna Pinsky lançou o livro Um Menino, sua Amiga, um Fichário e Dois Preás, inspirado na experiência da autora com o projeto “Ler com Prazer”, nas escolas públicas e ONG’s.

Mauro Schwartzman, da Costa Brava Turismo, e Ilya Hirsch, da Qualitours Viagens e Turismo, integram a nova Diretoria do Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur-SP). Coube ao saxofonista, arranjador e produtor Leo Gandelman abrir o primeiro “Itália Jazz Brasil” em São Paulo, que teve apresentações do quarteto italiano Gianluca Pellerito. No Jardim Paulista, Andrea Wrona e Beto Tempel, exchef do Le French Bazar, comandam as panelas da recém-inaugurada LoxDeli, restaurante e rotisserie. Por meio da internet, é mais fácil conhecer a obra de Sima Woiler. É possível localizar o catálogo com os trabalhos recentes em simawoiler.blogspot.com.br O diretor da TI Educacional Ernesto Haberkorn falou de empreendedorismo e qualidade de vida no Tucarena, na PUC/SP.

LAZAR UNIU A ARTE E A CIÊNCIA

A arte e a ciência em acordo O escultor, fotógrafo, PhD em geofísica com especialização em Geociências Marinhas e professor da Universidade de Haifa Michael Lazar fez uma conferência no Museu da Escultura a respeito de “O Tridimensional: Arte e Vida, Reflexões no Campo da Interface entre a Arte e a Ciência”.

Mateus Solano vai a Israel O vilão na novela global “Amor à Vida”, Mateus Solano ficou surpreso com a proposta de conhecer Israel, feita pela Confederação Israelita do Brasil-Conib. Isso ocorreu durante encontro do grupo Leão de Judá do Fundo Comunitário do Rio de Janeiro e Solano contou a respeito de suas raízes e formação judaicas, a festa de bar-mitzvá e como esse conjunto contribuiu para a carreira de ator. “O judeu não se conforma com as adversidades e está sempre em busca do seu lugar no mundo, o mesmo acontece com o trabalho do ator, um desafio diário que enfrentamos para conquistar nosso espaço. Como ator, tenho essa sensibilidade judaica que me ajuda nos papeis que desempenho”, contou. Solano viajará com a mulher, a atriz Paula Braun.


28 HEBRAICA

| JAN | 2014

cultural + social > comunidade+coluna 1 Hospital Alyn é homenageado A família de Mendel Migdal (z’l) fez uma homenagem à sua memória, doando uma sala de fisioterapia ao Centro Esportivo Terapêutico do Hospital Alyn, para 340 crianças, a partir de 5 anos de idade, com dificuldades de participar de atividades esportivas em outros locais por deficiências físicas e também as hospitalizadas com problemas físicos, neurológicos ou vítimas de traumas do terrorismo. Para conhecer acesse https: //www. google.com.br/#q=mendel+migdal&u ndefined=undefined.

AGENDA • 25/4 – Saída do Splendour of the Seas rumo a Espanha Sefarad na Primavera. Realização Bobertur. Informações, fone 991-332-505

COLUNA 1 “Personalidade do Turismo” é o prêmio que há doze anos destaca profissionais e empresas do trade. O presidente da operadora Flytour Viagens, Michael Barkoczy, foi premiado pelo segundo ano. O compositor, maestro e educador Lívio Tragtenberg ministrou oficina no Sesc Santo André. Ele mistura música experimental com poesia para resultar em um novo conceito musical. Na Livraria da Travessa - Ipanema, o estilista paulistano Alexandre Herchcovitch lançou um guia de viagem, com dicas pessoais selecionadas de Nova York, Londres, Paris e Tóquio.

• 26/4 a 8/5 – Marcha da Vida na Polônia. Iom Haatzmaut em Israel. Apenas vinte participantes, com acompanhamento de guias. Informações com Renato/Rachel/ Marcos/Rosi, fone 3223-8388, www.sharontur.com.br • 13 a 28/5 – Turquia e Israel com a Wizo e AD Turismo. Pensão completa, guia em português. Informações, fone 3257-0100 com Mirta • 12 a 17/6 – Reserve a data para estar em Massada, junto ao Mar Morto (Israel). La Traviata, de Giuseppe Verdi, no Festival de Ópera de Israel. Informações, fones 2181-2900 e 2181-2929, olga@designertours.com.br

∂ Ao lado dos catamarãs, no Recife, sob a hupá, Caroll Falcão casou com Roberto Farkas Bitelman. Jaime Serebrenic foi o celebrante da troca de alianças.

“Chique é fazer o bem”, slogan da ReciclaLuxo.com. br, brechó on line criado para ajudar os menos favorecidos vendendo peças de grife. A primeira venda física, no Espaço Adolpho Bloch, beneficiou o Ten Yad, Acredite, Projeto Felicidade e Grupo Chaverim.

∂ Eliza e Benjamin (Beni) Mejlachowicz reuniram amigos e familiares paulistanos e mineiros em torno de Gustavo, na cerimônia de barmitzvá na sinagoga do clube. A alegria prosseguiu com festa no Salão Marc Chagall. Os 80 anos de Ruth Tarasantchi foram comemorados pelos familiares e, dias depois, pelos artistas e amigos com a exposição “Memórias Gravadas: a História de Ruth”, inaugurada com coquetel na Biblioteca Victor Civita da Fundação Memorial da América Latina. Aberta até o dia 17.

∂ Márcio Pitliuk autografou o livro As Digitais de Gustavo Rosa na Livraria Cultura/Iguatemi. para Eduardo Len. A edição em português e inglês contém imagens, depoimentos e histórias contadas por amigos do artista plástico morto em novembro de 2013 e a reprodução de mais de sessenta telas de várias fases da vida, incluindo a reprodução da primeira crítica profissional escrita por Mário Schenberg, em 1970. Rafael Taleisnik pedalou vinte dias pelo Japão, e a visita a 88 templos budistas resultou na exposição de fotos “Dekimasu”, no Las Magrelas, misto de bar e bicicletaria. Jayme Nigri entrevistou a psicanalista Solange Melo para a tvgeraçãoz.com.br e o tema foi a análise do comportamento das pessoas em relação às mídias sociais.

O presidente do Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras-Conscre Sérgio Serber organizou palestra da médica psiquiatra Carla Kamitsuji, que relatou a experiência de ajuda humanitária com a ONG Médicos Sem Fronteiras em Uganda, Iraque e Cisjordânia. Clara Black foi a anfitriã e Lúcia Igel preparou o tcholent na comemoração dos 45 anos de atuação do Grupo Tiferet, da Wizo. Jacob Klintowitz fez palestra no Clube Paulistano, e foi o curador da exposição em homenagem a Caciporé Torres. O presidente da Fecomercio, Abram Szajman, abriu o Seminário Internacional Sampa CriAtiva!, no Teatro Raul Cortez, do qual participaram palestrantes nacionais mais Clara Brenner, dos Estados Unidos, Aletta Koster, da Holanda, e Silvia Flores, da Argentina.


HEBRAICA

O mineiro Jacques Fux venceu o Prêmio São Paulo, categoria iniciantes, com a obra Antiterapias, editada pela Scriptum. O livro trata de história e misticismo judaico. Os Gottlieb e Zaidler brindaram Michel, o novo universitário da família, aprovado na primeira lista do Insper. Mazaltov aos papais Liane e Helio

29

| JAN | 2014

∂ Editora Planeta e Livraria Cultura convidaram para debate e autógrafos em torno do novo livro de Luiz Cuschnir Por Dentro da Cabeça dos Homens. A mediação foi de Adriane Galisteu.

Visita ao Museu Judaico As obras do Museu Judaico de São Paulo, no antigo prédio do Templo Beth-El, foram visitadas pelo presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) Angelo Oswaldo de Araújo Santos e pela superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em São Paulo Anna Beatriz Ayroza Galvão.

Homenagem a uma morá Oito velas da chanukiá acesas na CIP homenagearam Miriam Gerber (z’l) em tocante cerimônia com familiares, alunos e ex-alunos, mais aqueles que conviveram profissionalmente com a morá que, por muitos anos, se dedicou à Escola Lafer.

REPRESENTANTES DO GOVERNO DE ISRAEL E DA ESPANHA, RAUL MEYER, DO CCJ, E A CANTORA FORTUNA

Governo espanhol preserva as juderías

J

uderías eram os bairros onde os judeus moravam na Idade Média na Península Ibérica. A preservação deles é um patrimônio urbanístico, arquitetônico, histórico e cultural do legado sefaradita. A Rede de Juderías da Espanha e o Escritório de Turismo da Embaixada da Espanha, mais o Centro da Cultura Judaica divulgam o projeto “Caminhos de Sefarad”, um roteiro pelas 24 cidades habitadas por judeus durante o período conhecido como a Idade de Ouro da Espanha. Autoridades do governo espanhol e representantes da Rede estiveram em São Paulo para aumentar o turismo cultural em torno do legado sefaradita. Palestras, cursos, música, exposições integram os eventos e ser-

viços programados para cidades como Plasencia, Palma de Maiorca, Toledo, Cáceres, Oviedo, Hervás, Girona e Segóvia. São famosos o Festival Internacional de Música Sefardi de Córdoba e o Festival de Cinema Judaico de Barcelona, e o recente projeto de visitas a sítios enológicos, onde se produzem vinhos kasher. O príncipe de Astúrias não veio ao Brasil, porém enviou um vídeo no qual afirma que “a Espanha atual tem uma vontade firme de reatar sua relação com o mundo judaico e com o Estado de Israel. Apesar dos séculos passados, mantêm-se laços afetivos e sentimentos de identidade, é como uma volta às origens. Sinto-me também herdeiro desses queridos antepassados judeus de Espanha, aos quais reitero respeito e afeto”.

Cardápio israelense em São Paulo

O

Festival Gastronômico de Israel ocupou, durante três dias, o restaurante Tarsila do Hotel InterContinental, na alameda Santos. É um evento anual promovido pelo Ministério de Turismo israelense, que “importou” o chef executivo Doron Amar, o chef patissier Nitzan Yehiel e o jovem chef operacional Liron Gimpel, todos da rede Crowne Plaza em Israel. E o gerente da unidade na orla marítima de Tel Aviv o brasileiro (quase israelense) Ivo Jacome acompanhou os chefs. Serviram especialidades sefaraditas e asquenazitas como couscous marroquino, chraime (cozido de peixes e vegetais ao molho picante) e o gefilte fish. De sobremesa, o mamoules – doce típico de massa folhada – e o malabi – creme com leite e calda de laranja aromatizada com água de rosas.

MESA FARTA, COLORIDA E APETITOSA


30 HEBRAICA

| JAN | 2014

cultural + social > comunidade

Parceria Na’amat, CBM e KKL

O

Mário Fleck tem novo mandato A Assembleia Geral da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) reelegeu Mário Fleck para mais um mandato. A nova diretoria tem Bruno Laskowsky na vice-presidência, André Grunebaum na tesouraria e Rafael Schur na secretaria-geral. Fleck fez um balanço da sua gestão e para o novo mandato pretende “elevar esta comunidade para outro patamar de vibração judaica, reforçar a continuidade da identidade, trazendo mais judeus para dentro da comunidade e não deixar que outros se desinteressem”. Foram também eleitos os membros do Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e o Ouvidor Geral. O presidente da Hebraica, Abramo Douek, faz parte do Conselho Deliberativo.

A vida judaica em Cuba Para marcar um ano da regularização do processo de conversão de uma centena de judeus descendentes de La Habana, a comunidade realizou uma havdalá especial com a entrega de teudot zehut (certificados) a cada um. Também dezessete jovens de 15 a 21 anos realizaram bar-mitzvá, pois não puderam fazêlo na idade certa (13 anos) por não terem se convertido. “São jovens com alto nível de participação comunitária e essa cerimônia os entusiasma muito”, explicou o vice-presidente da Casa da Comunidade Judaica de Cuba, David Prinstein para a Agência Judaica de Notícias. Segundo Prinstein, foram celebrados 28 casamentos sob a hupá pelo rabino Samuel Steinhendler, que há 22 anos, a cada dois meses, sai do Chile para isso.

MOMENTOS DE EMOÇAO EM CADA INTERPRETAÇÃO

Maltz Bin, veio de Porto Alegre e ressaltou a importância de “parcerias como esta em prol do sionismo e da comunidade judaica do Brasil”. O presidente da CBM Avi Gelberg disse que “esta parceria com a Na’amat vai continuar em 2014, pois ela vai além do esporte”. “Cada um a seu modo trabalha para a preservação da cultura de nosso povo”, disse Marcelo Schapo, do KKL.

Prêmio Scopus para Dayan

O

presidente da Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ) Menahem Ben-Sasson entregou em São Paulo o Prêmio Scopus a Morris Dayan. Márcia e Daniel Borger foram os anfitriões da noite para poucos convidados. Dayan estudou filosofia e economia na UHJ e presidiu a Sociedade Brasileira dos Amigos da Universidade, cargo hoje ocupado por Jayme Blay. “Morris ampliou significativamente a visibilidade da Universidade no mundo acadêmico, trazendo seus valores para a comunidade brasileira”, disse Blay. “A Universidade tem cerca de 23.000 estudantes, é uma das cem melhores do mundo e recebeu oito Prêmios Nobel na última dé-

Foto Eliana Assumpção

Teatro Arthur Rubinstein lotou no espetáculo “O Melhor de Mim”, parceria de Na’amat Pioneiras São Paulo, Confederação Brasileira Macabi (CBM) e Keren Kayemet LeIsrael (KKL) e apoio da Hebraica. Talentos da comunidade apresentaram canções que marcaram suas vidas: Bruno Luís Zular Wertheim, Daniel Szafran, Dina Marx, Regis Karlik, Gilbert, Ilana Schonenberg Bolognese, Nicole Borger, Felipe Grytz (Pipo), Rafael Zolko e Sabrina Shalom foram acompanhados por Sima Halpern e o Conjunto de Câmara, além do Coro da Hebraica. A direção musical foi do maestro Leon Halegua. O sexteto das irmãs Ariela, Dália, Julia e Diana Grabarz, mais Dália Halegua e Isadora Goldman se apresentou com Cláudio Goldman. A presidente da Na’amat Brasil, Ceres

DAYAN, BEN-SASSON, BLAY E CELSO LAFER

cada. Morris Dayan merece o Prêmio Scopus pelo excelente trabalho que realizou”, disse Ben-Sasson. A escultura, de autoria do artista brasileiro Macaparana, foi concebida como uma ponte entre Brasil e Israel representada pela UHJ. Para Morris “não deixa de ser estranho receber o Prêmio em vez de entregá-lo. Sei o que ele representa e estou muito honrado”.


HEBRAICA

A arte e a benemerência

31

| JAN | 2014

Celebrando a coexistência

C

láudia Raia e Jarbas Homem de Mello dedicaram a pré-estreia de Crazy for You para o Lar das Crianças da CIP, realizada no Complexo Cultural Ohtake. O musical é dirigido por Miguel Falabella e inspirado em Girl Crazy, de 1930. A diretora do Lar Luciana Z. Mautner e o vice-presidente de CLAUDIA RAIA E JARBAS HOMEM DE MELLO RECEBERAM Ação Social da CIP Marcos AlTATIANA E SERGIO KUILIKOVSKY E LUCIANA MAUTNER berto Lederman agradeceram o trabalho e o interesse dos artistas em favor desta causa beneficente. ça, e se consegue unir isso a uma cau“A cultura tem um espaço muito gran- sa nobre, como o trabalho do Lar das de no trabalho social. Trazemos um en- Crianças, tudo fica completo”, disse tretenimento de alegria, música e dan- Cláudia Raia.

Para celebrar a paz e a coexistência, o Centro da Cultura Judaica reuniu representantes das religiões cristã e judaica para comemorar Natal e Chanuká, com a Festa das Luzes. O Coral Voluntário da CIP e o Coro Luther King entoaram músicas tradicionais. Vídeos e espaços mostraram os significados e simbologias das duas datas. O evento foi realizado pelo Centro da Cultura Judaica, Comissão Nacional de Diálogo Religioso da Cnbb, Conselho de Fraternidade CristãoJudaica e Casa da Reconciliação, administrada pela Arquidiocese de São Paulo.

Esporte une Brasil e Israel

D

esde o primeiro Concurso de Pintura e Desenho da Wizo, há 25 anos, foram mais de 22 mil trabalhos feitos por alunos da rede pública do Estado de São Paulo. O tema de 2013 foi “Brasil-Israel – O Esporte Aproximando Povos” e da premiação, na Assembleia Legislativa, participaram o cônsul de Israel Yoel Barnea, o secretário de Educação Herman Voorwald, o presidente do Conscre Sérgio Serber e Valmir Macedo, do Bradesco, que patrocina o concurso, e as presidentes de Honra Sulamita Tabacof e Executiva Iza Mansur. Na plateia, professores, alunos e chaverot participaram da tarde cultural.

Novo Centro de Oncologia e Hematologia

E

m parceria com o MD Anderson Cancer Center, pioneiro no tratamento multidisciplinar de neoplasias, o Hospital Israelita Albert Einstein inaugurou o “Centro de Oncologia e Hematologia Família Dayan-Daycoval”, para a prevenção, tratamento, reabilitação, estudo e pesquisa contra o câncer e as doenças hematológicas. No prédio de quatro andares, na rua Ruggero Fasano, em frente ao atual bloco de ambulatórios, investiram-se R$ 6 milhões na estrutura física e R$ 34 milhões em equipamentos. Nos consultórios o paciente será atendido simultaneamente pelo cirurgião, oncologista e radioterapeuta, prática que reduz tempo e custo, maximizando os efeitos. A tecnologia de integrar o acelerador linear TruBeam, único na América do Sul, aos aparelhos de radioterapia do novo Centro possibilita mais precisão e rapidez nos tratamentos, maior conforto e melhores resultados clínicos.

CLAUDIO LOTTENBERG, VICE-PRESIDENTE MICHEL TEMER E MINISTRO ALEXANDRE PADILHA


32 HEBRAICA

| JAN | 2014

cultural + social > fotos e fatos 1.

2.

5.

8.

4.

3.

7.

6.

9.

10.

11.

12.

1. e 2. Fafá de Belém cantou para os convidados de Caroll Falcão e Roberto Farkas Bitelman na animada festa de casamento; 3. Elisa e Beni, no Salão Marc Chagall, com o bar-mitzvá Gustavo Mejlachowicz; 4. Gilberto Elkis estava no lançamento da revista Brasil Solar; 5. Cônsul Yoel Barnea falou para Na’amat da importância da mulher na vida de um diplomata; 6, 8, 9 e 10. No Restaurante Tarsila, Cleo Ickowicz e Annik Chut aprovaram o cardápio mediterrâneo; o quase israelense Ivo Jacome, do Crowne Plaza de Tel Aviv Beach levou os chefs à Hebraica: com Gaby Milevsky, no Restaurante Kasher e no Espaço Gourmet; 7. “Sinfonia Rosemary” é a homenagem do chef Francisco Frasson à cantora Rosemeire, com o aplauso de Golda Boruchovsky, gerente do Tryp Higienópolis; 11 e 12. Jacob Klintowitz e Daisy Nasser jurados no Concurso Wizo de Pintura e Desenho


HEBRAICA

1.

3.

33

| JAN | 2014

2.

4.

5.

6.

7.

1. Carlito Dayan descerrou a placa que dá nome da família ao Centro de Oncologia e Hematologia do Einstein, sob o olhar de Cláudio Lottenberg e do vice-presidente Temer; 2, 5, 6 e 8. Papelaria diferenciada é com Helena Singer; o staff de Na’amat Pioneiras abriu a Feira da Comunidade; Relax Medic “vendeu” saúde; e as quituteiras capricharam no bufê por quilo; 3 e 4. “Nos Passos de Hollywood” levou os dançarinos de salão ao Teatro Arthur Rubinstein; 7. Juca Chaves mostrou que o seu público continua cativo, contou piadas e cantou; 9. Continuando a tradição, Simão Priszkulnik reuniu os formandos universitários para comemorarem no Espaço Adolpho Bloch

8.

9.


34 HEBRAICA

| JAN | 2014

cultural + social > fotos e fatos 1.

2.

3.

4.

6. 7.

7.

1 e 2. O Departamento Cultural continuou no espíri-

8.

5.

8.

9.

10.

11.

12.

to hollywoodiano com o “Dancing with the Stars” no Salão Marc Chagall; 3. O bate-papo com David Meron e os ciclistas foi o próximo giro em Israel em benefício do Hospital Alyn; 4. No Sesc Santo André, Lívio Tragtenberg administrou oficina aos fãs do saxofone; 5. Rabino Gurari prendeu a atenção dos ouvintes na Sala da Plenária; 6, 7 e 8. Em noite de autógrafos, Luiz Cuschnir recebeu os filhos Adriana e André, Leonora (Zveibil) e José David Kandelman e Carlos Czereznia; 9. Márcio Pitliuk teve muitos momentos com Gustavo Rosa (z’l) enquanto escrevia o livro sobre o artista; 10. Diego Man brinda o fim do ano no Espaço Gourmet; 11 e 12. Evento CIP: Rebeca Hirschfeld, Ita L. Goldenzwaig, Helena Schur, Irina Premisleaner e Silvia Bugajer; Lilian Kuzniec, Luciana Mautner, Erika Kusniec e Eve Pekelman aplaudiram Claudia Raia


HEBRAICA

1.

4.

2.

35

| JAN | 2014

3.

5.

1, 2 e 3. Judith e Marcelo Tarasantchi, Clara Kochen e Nancy Rozenchan em torno da aniversariante Ruth Tarasantchi, que ganhou exposição na Biblioteca Victor Civita; 4, 5 e 6. Autoridades espanholas, israelenses e brasileiras prestigiaram o evento “Caminhos de Sefarad”, a rede de juderías de Espanha; 7 e 12. No Pátio Higienópolis, a anfitriã Christiane Abrahão com Iza Mansur e as jovens do Tzehi-

7.

6.

rot, em meio as criações de Tufi Duek; 8, 9 e 11. Na inauguração do Ten Yad: Alberto e David Safra, Ester Safra Dayan representaram a família; rabino David Waitman com governador Alckmin, Ricardo Berkiensztat, Mário Fleck, Mário Adler e Floriano Pesaro; a visita à cozinha industrial; 10. Olívio Guedes de Almeida Filho, diretor cultural do MuBe, recebeu o israelense Michael Lazar; 13. Karla Felmanas, Jorge Elias e Marcelo Felmanas, o anfitrião da noite da Casa Vogue

10.

9.

8. 13.

11.

12.


36 HEBRAICA

| JAN | 2014

cultural + social > fotos e fatos 1.

3.

2.

4.

6.

5.

7.

8.

9.

1. a 9. “Chanuká Night” comemorada com quase 1.500 pessoas, que foram ao Centro Cívico. Hebraica São Paulo, comemorando seus sessenta anos, e Ten Yad, inaugurando sua nova casa no Bom Retiro, prepararam um grande show. Iniciando com o coral das crianças da Escola Beit Yaacov, o acendimento da grande chanukiá e o cantor carioca Micha Gamerman, considerado talento promissor da música judaica e internacional. Grande atração da noite, Yaacov Shwekey mostrou porque atrai plateias em Jerusalém, Nova York, Londres, Paris e, agora, também em São Paulo


HEBRAICA

37

| JAN | 2014

1.

2. 3.

4.

1. a 6. Na’amat Pioneiras, Confederação Brasileira Macabi e Keren Kayemet LeIsrael (KKL) criaram o espetáculo “O Melhor de Mim”. Um sonho que reuniu o maestro Leon Halegua, o acompanhamento de Sima Halpern e seus músicos, mais o melhor entre as vozes da comunidade; presidente da Na’amat Brasil, Ceres Maltz Bin foi a emissária do Congresso Judaico Mundial na entrega do título de Membro Honorário do Congresso Sionista Mundial a Miriam Mau Roth, assessora da diretoria de Na’amat Brasil e do Centro Sao Paulo

5.

6.

9.



HEBRAICA

39

| JAN | 2014

ju ven tu de


40 HEBRAICA

| JAN | 2014

juventude > carmel

DANÇARINOS DE FORMAÇÕES

ANTERIORES DO GRUPO CARMEL EMOCIONARAM O PÚBLICO NO SHOW DE SÁBADO

Aos 33 anos, um festival de família COM A PARTICIPAÇÃO DE GRUPOS DE ISRAEL, ARGENTINA, CHILE, URUGUAI, ESTADOS UNIDOS (MIAMI) E DE VÁRIAS COMUNIDADES JUDAICAS NO BRASIL, O 33ª FESTIVAL CARMEL UNIU GERAÇÕES EM TORNO DA CULTURA E DOS VALORES JUDAICOS

C

ertamente existe uma expressão em hebraico que corresponda à francesa déjà vu. E um coreógrafo vai usá-la para nomear uma das danças. Enquanto isso não acontece, o sentimento de parte do público presente ao show 60-65 no Centro Cívico foi de volta ao

passado enquanto assistiam aos movimentos dos bailarinos de formações anteriores do Grupo Carmel apresentarem a dança “Simchat Carmel” (“alegria do Carmel”, em hebraico), montada a primeira vez há 27 anos. Antes deles, os grupos Misgav, de Is-

rael, Sinapsia, da Argentina, Nirkoda, de Miami, e as lehakot da Hebraica São Paulo e das comunidades do Paraná, Rio de Janeiro, e especialmente o Kadima de Porto Alegre, alternaram números inspirados nas raízes orientais ou ocidentais do povo judeu. No programa, a dança apresentada em conjunto pelos grupos Medurá, do Instituto Kineret do Rio de Janeiro; Hakotzrim, da Hebraica São Paulo; e Nirkoda, mantido pelo Michael-Ann Russel


HEBRAICA

41

| JAN | 2014

Homenagem em dose dupla

Jewish Community Center, de Miami, resumiu uma tendência muito forte na 33ª Edição do Festival Carmel. O Kabalat Shabat de abertura, também realizado no Centro Cívico, teve como atrações as coreografias apresentadas pelos grupos Carmel/Misgav, Jovens Sem Fronteiras/ Kalanit, Nefesh/Eretz da Congregação Israelita Paulista, Adamá/ Chanabi/Dorot Guimel dos colégios Peretz, Alef e Renascença, respectivamente. “Temos noventa lehakot inscritas este ano, o que significa 2.300 participantes”, informou o diretor-superintendente do clube, Gaby Milevsky, homenageado na primeira noite pelos 25 anos de trabalho à frente do Festival Carmel. A plateia de todos os shows, realizados no Centro Cívico ou no Teatro Arthur Rubinstein, era formada por casais e famí-

>>

A organização do 33º Festival Carmel Mazal Tov, representada pelo diretor geral Gaby Milevsky, pela coordenadora Nathalia L. Benadiba e pelas diretoras artísticas Gabriela Chalem e Paloma Gedankien, se esmeraram em brindar o público com um show emocionante na noite do domingo. Em quase duas horas cerca de três mil pessoas, entre público e dançarinos encerraram as comemorações pelos sessenta anos da Hebraica São Paulo homenagearam Israel pelos 65 anos de fundação e reservaram HOMENAGEM AO COMPOSITOR ISRAELENSE um momento para as despedidas do ARIK EINSTEIN (Z’L) cantor Arik Einstein (z’l) com um potpourri das suas mais belas canções. O vereador Floriano Pesaro, do PSDB, preparou uma surpresa que levou os organizadores do Festival Carmel a alterar ligeiramente o roteiro do show final do 33º Festival Carmel Mazal Tov. Antes da primeira dança, ele entregou, em nome da Câmara Municipal de São Paulo, uma salva de prata pelo 60º aniversário da Hebraica. “Hoje, no encerramento do Festival Carmel, é a melhor ocasião para este que é o maior clube judeu e esportivo do mundo receber esta homenagem da Câmara Municipal. Aproveito o ensejo para anunciar que propus a inclusão do evento no calendário oficial da cidade, de forma a garantir sua realização no futuro”, declarou o vereador. Emocionado, o presidente da Hebraica Abramo Douek elogiou a atuação de Pesaro tanto na Câmara Municipal quanto no Conselho Deliberativo, para o qual foi reeleito com o maior número de votos em recente eleição.

BERTA E ABRAMO DOUEK, NA HOMENAGEM PRESTADA PELO VEREADOR FLORIANO PESARO


42 HEBRAICA

| JAN | 2014

juventude > carmel

EGOZ, DO CHILE, TROUXE TRÊS COREOGRAFIAS EM SUA ESTREIA NO FESTIVAL CARMEL

SAMBA NO FINAL DA TARDE, NO BAR DA PISCINA

lias inteiras. A todo o momento, e era comum, uma criança ou um carrinho de bebê junto a alguém com crachá de dançarino ou coreógrafo. “É bem grande o número de grupos formados por adultos que dançaram na juventude e pretendem retornar à atividade ou acompanhar os filhos pequenos no palco. Nosso grupo de pais e filhos estreou no show de sábado”, conta uma ex-integrante do grupo Carmel, Sheila Skitnevsky Finger. No show infantil, os grupos formados por adultos e crianças ligados às escolas ganharam o nome de “Mishpachá” (“família”, em henraico). O entusiasmo dos adultos nas coreografias familiares das escolas Alef, Renascença, Peretz e Beit Yaacov se igualava ao das crianças. Das 23 coreografias que compuseram o show infantil “Chaguigá”, na manhã de domingo, destaque para a única lehaká do Rio de Janeiro, Chalom (“sonho”, em hebraico), composta por crianças cujos pais não conseguiram ingressos para o show da tarde, onde o grupo se apresentaria. Três shows ocuparam o palco do Teatro Arthur Rubinstein, sendo dois no sábado e um no domingo. Foi a oportunidade de os movimentos juvenis de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre mostrarem seu respeito pela tradição judaica. As pausas do folclore Nos dois dias de duração do Festival Carmel, os dançarinos tiveram muitas ocasiões para se dedicar a outras atividades que não a folclórica. Um workshop de funk e pagode, por exemplo, reuniu jovens de sotaques variados em frente ao Centro Cívico. No Bar da Piscina, rodas de pagode no sábado e música brasileira e israelense divertiram quem preferiu ignorar as harkadot no Salão Marc Chagal. Para os coreógrafos, nunca sobrava tempo entre as marcações de palco e ensaios, e quase não conseguiram participar do café da manhã destinado a estimular a integração e a reflexão entre os profissionais. (M. B.)


HEBRAICA

43

| JAN | 2014

Integração pela dança O show “Lo Naatzor”, domingo à tarde, levou muitos espectadores e dançarinos às lágrimas. Os adolescentes da Unibes que participam de uma oficina de dança oferecida pelos Jovens Sem Fronteiras se apresentaram pelo segundo ano consecutivo no Festival Carmel. Já o grupo Chaverim homenageou a colega Ilana Zucker, falecida quinze dias antes. Na sequência, o grupo Chai, da Unibes recebeu várias salvas de palmas quando as dançarinas – todas octogenárias – apresentaram uma coreografia mesclando o folclore brasileiro ao judaico. Uma das integrantes mais animadas, Sara Frid teve o prazer de ver, dois números depois, uma das bisnetas, Maya, dançar com o grupo do movimento juvenil Netzach. Foi provavelmente a primeira vez que algo assim aconteceu. E como o assunto é família, outra história digna de nota é a do ator carioca Salomão Waisman, 30 anos, do grupo Kesser, do Rio de Janeiro. Depois de dois anos de ausência, ele

WORKSHOP DE FUNK MOBILIZOU OS DANÇARINOS DO EXTERIOR

INTEGRAÇÃO ENTRE O GRUPO DA UNIBES E O GRUPO KALANIT voltou ao Festival Carmel. “Meu primeiro Festival foi aos 12 anos. Depois disso cheguei a coreografar o Kesser e depois me afastei. Este ano, voltei ao grupo e hoje terei minha sobrinha, de 14 anos dançando ao meu lado. Será um prazer dançar em família”, comemorou.


44 HEBRAICA

| JAN | 2014

juventude > carmel 1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.


HEBRAICA

8.

10.

45

| JAN | 2014

9.

11.

12.

1. Grupos Carmel e Misgav na abertura do festival; 2. Centro Juvenil Hebraikeinu abriu o show de sábado no teatro; 3. Dançarinos do Misgav na bênção do vinho; 4. Feira de produtos na Praça Carmel recém-reformada; 5. Tzion em “A Dança Olam”; 6. Sinapsia, da Argentina; 7. Eretz, da Cip; 8. Haemek, do Paraná; 9. Solo do grupo Carmel; 10. Grupo Misgav, de Israel ; 11. Único grupo carioca no show infantil; 12. e 13. Danças de pais e filhos da Hebraica e do Renascença; 14. Parparim Ktanim no show infantil

13.

14.


46 HEBRAICA

| JAN | 2014

juventude > fotos e fatos 1.

2.

3.

4.

1. Luciane Strul comemora o prêmio de melhor direção de espetáculo infantil; 2. Encerramento do curso de balé clássico; 3. Curso de bateria no Centro de Música é um dos mais procurados; 4. Alunos da oficina de musicais em clima de encerramento; 5. O Centro de Música também oferece curso de teclado; 6. O Tabuleiro Mágico, com o grupo Tic Tac

5.

6.


HEBRAICA

47

| JAN | 2014

es por tes


48 HEBRAICA

| JAN | 2014

esportes > futebol society

Adultos torcem como garotos e guris jogam como craques NA AGENDA DO DEPARTAMENTO GERAL DE ESPORTES, DOIS

TORNEIOS DE FUTEBOL SOCIETY DESPERTARAM O INTERESSE DE JOGADORES, AMIGOS, FAMILIARES E GENTE QUE ADORA APRECIAR UM JOGO QUE TEM BOLA, GOL E JUIZ

A

V Liga Interna de Futebol Society / Hebraica 60 anos começou em agosto. Seguindo a tradição das quatro edições anteriores, foi possível atrair muitos interessados e organizar uma tabela que correspondesse às expectativas de veteranos e novatos. Pela primeira vez, a Liga foi disputada em duas divisões, e isso aumentou o número de espectadores na arquibancada nas tardes dominicais, quando mais de trezentos jogadores ocuparam a quadra defendendo times com os nomes Sem Trairagem, Pé de Coelho, The Blues, Turma do Funil, Shawarma e outros de mesma criatividade. As partidas finais, as de números 111 e 112, colocaram em lados opostos Tocmevoy e Macabi Lau, que empataram em 2 a 2, decidindo a segunda divisão. Por uma ínfima vantagem, Tocmevoy ficou com o troféu e “subiu” para a primeira divisão. O time recebeu troféu, kit de camisetas Lotto, medalhas e vales da Fnac. O jogo Mutantes versus Bando de Lobos, rivais em edições anteriores, terminou em 3 a 0 para os Mutantes, primeiro bicampeão do torneio (2011 e 2013). Os atletas do Mutantes receberam troféu, medalhas, vales da Fnac, kits Gillete Fusion Proglide e camisetas Lotto. As súmulas preenchidas pelos árbitros profissionais assinalaram alguns atletas de destaque, como Roberto Klepacz, do Sem Trairagem, artilheiro com doze gols. Ricardo Lerman, do Amigos do Keje ficou em segundo, com onze gols marcados.

VENCEDORES DA LIGA DE FUTEBOL SOCIETY, AGORA EM QUINTA EDIÇÃO

O MVP (abreviação para “jogador mais valioso”, em inglês) da primeira divisão foi Ricardo Romani e na segunda divisão, Gustavo Mentlik. David Bluvol, da equipe Bando de Lobos foi o melhor jogador da competição e Samu Mitelman, da equipe FFF, o goleiro menos vazado, com cinco gols sofridos na primeira fase. O patrocínio da Gillete rendeu um tí-

tulo inédito na Liga, o de Atleta Gilette Fusion Proglide para o jogador com cinco gols em uma única partida, vencido por Fábio Levi Ramuth, da equipe Pé de Coelho, pela atuação no jogo 3, contra a equipe Hlera. Entre os apoiadores do evento estão as empresas H. Motors, Ornare, ABA, Locaweb, Japs e Shorts. “Depois de cinco meses, só posso agra-


HEBRAICA

decer aos atletas pelo fair play e o comprometimento demonstrado durante toda a competição. Os elogios vão também para o presidente Abramo Douek, para o vice Avi Gelberg, o gerente Eduardo Zanolli e os profissionais do Departamento Geral de Esportes pelo apoio incondicional a esse evento”, declarou o diretor da modalidade, Fábio Steinecke, durante a cerimônia de premiação seguida de animado churrasco partilhado com a torcida. Dente de leite A I Liga Interna de Futebol Society foi realizada em apenas algumas semanas com equipes sub-11, sub-13 e sub-15 representando times do Campeonato Europeu. As partidas eram realizadas nas tardes de terças-feiras, sem atrapalhar a agenda de treinos dos atletas, e os resultados foram comemorados com muita alegria pelos garotos que adoraram jogar uniformizados e ter como árbitros os professores

49

| JAN | 2014

e técnicos da Escola de Esportes. Na categoria sub11, o Borussia ficou em primeiro lugar, seguido pelo Real Madrid. Felipe Blasbalg foi o artilheiro e Rafael Ezra foi o craque do campeonato. Samy Idesis e Gustavo Alcalay foram os destaques das partidas finais. No sub-13, o Manchester City levou o caneco e mais uma vez o Real Madrid fiA LIGA, EM SUA VERSÃO INFANTIL, REUNIU CERCA DE SESSENTA COMPETIDORES cou em segundo. Michel Haggiag foi o artilheiro e Rafael ReiO time do Barcelona foi o campeão no bscheid o craque do campeonato. Bruno sub-15, seguido pelo Bayern e o Real MaBerkiensztat foi o goleiro menos vazado e drid. e Borussia. Gabriel Ezra foi o meMichel Haggiag e Guilherme Skujis foram lhor goleiro e o professor Tysson levou o os destaques da partida final. título de artilheiro da categoria.

Futsal no Sindi-Clube A equipe sub-15 de futebol de salão venceu a Série Prata do torneio do Sindi-Clube, título obtido após empatar a partida contra os garotos da equipe Nippon. Os garotos do sub-11 ficaram em terceiro lugar na Série Ouro do mesmo torneio ao vencerem por 3 a 2 a equipe do Ipê Clube. Felipe Blasbalg destacou-se como o artilheiro, com 21 gols. Já na categoria sub-9, a Hebraica é bicampeã invicta na Série Ouro. Nos últimos quatro anos, a Hebraica foi vicecampeã em 2010 e 2011, e campeã em 2012, invertendo posições com o maior rival, o Ypiranga. Cada um destes resultados foi devidamente comemorado pelos pais e pela equipe técnica da modalidade. “Nossos atletas chegaram às etapas finais do Sindi-Clube e devem integrar a delegação brasileira aos Jogos Macabeus Pan-Americanos no Chile. Há muito tempo, a comunidade judaica do Rio de Janeiro tem fornecido a base das seleções e queremos mudar esse quadro”, planeja Maurício Reichmann, voluntário que, como pai de atleta, acompanha de perto os acontecimentos no futsal. Ele se declara muito satisfeito com os meninos do sub-9 e do sub-15 no pódio. “Começam a aparecer os frutos de um trabalho iniciado em 2008, quando a diretoria mudou radi-

FUTSAL SUB-15 FOI CAMPEÃO NA SÉRIE PRATA calmente a abordagem em relação ao futsal, concentrando os esforços nos sócios e diminuindo ao mínimo a participação de militantes. Em 2008, a Hebraica deixou de disputar os torneios da Federação de Futebol de Salão e optou pelo Sindi-Clube, passando a enfrentar times do mesmo perfil, ou seja, garotos que adoram o esporte, empenham-se como uma atividade de lazer e não um compromisso quase profissional, como ocorre com os militantes. Hoje temos 76 jogadores e sete militantes, o que permite aos sócios demonstrar e desenvolver o seu potencial em quadra o que, no final das contas, é o objetivo da atividade esportiva em um clube como o nosso”, avaliou Reichmann. (M. B.)


50 HEBRAICA

| JAN | 2014

esportes > polo aquático

PRATICANTES DE POLO AQUÁTICO FORAM REUNIDOS NO PALCO DO TEATRO ANNE FRANK

Novos desafios para 2014 O

convite ao humorista Daniel Zukerman para conduzir o evento de final de ano do polo aquático acrescentou um toque judaico a uma noite que seria um misto de alegria e tristeza, pois o técnico Léo Vergara encerrara um ciclo de treze anos como funcionário do clube, quatro dos quais coordenando e ampliando a prática do polo. Ex-jogador de polo, Daniel saudou colegas de piscina, revelando apelidos e fatos antes ignorados pela plateia. “Talvez não saibam, mas o apelido do diretor do Polo, Fábio Keboudi, é Cabresto. E é ele quem vai relatar a respeito da modalidade, em 2013”, anunciou. Keboudi listou clínicas, a participação no brasileiro adulto em São Paulo e da Macabíada Mundial em Israel. “Viajamos com duas equipes, a masculina e a feminina”, destacou. Com a ajuda da plateia, enumerou os atletas convocados para as seleções brasileiras que deram ao Brasil os títulos mundial e sul-americano. “Hoje a modalidade inclui atletas dos 7 aos 50 anos, algo inédito na história da Hebraica”, acrescentou. Em seguida apresentou o novo coordenador do

JOGADORES, FAMILIARES E FÃS DO POLO AQUÁTICO SE REUNIRAM NO TEATRO ANNE FRANK PARA O LANÇAMENTO DE UM DOCUMENTÁRIO A RESPEITO DA DA EQUIPE JUVENIL CAMPEÃ DA COPA BRASIL SUB-17 EM 2013 E PARA SE DESPEDIR DO TÉCNICO LÉO VERGARA REAL polo, Adriano, e informou que o planejamento de 2014 está em curso com participação de uma comissão de pais e atletas master. Com a menção do nome de Léo Vergara, o homenageado da noite, Daniel voltou ao comando da noite, chamando “Leozão”. O “clone” do coordenador era um homem de 1,5 metro, que deu à despedida um tom leve e bem-humorado. Antes da exibição do documentário, o público ouviu o relato de Fernando Setton, que narrou a sua saga como atleta. Egípcio nascido em 1932, Setton iniciou carreira no Tufiki Tenis Clube, deixou a escola pelo esporte, trabalhou e se tornou um goleiro bom o suficiente para ser integrado à seleção egípcia, de olho nas Olimpíadas de 1952. “Semanas antes do evento, fui cortado porque sou judeu. Depois, passei a jogar basquete numa equipe do Macabi que não era tão boa individualmente,

mas venceu torneios até o nacional, em 1954. Antes da partida final, os atletas tentavam se convencer da vitória e rezaram Shemá Israel com fervor. Estava 44 a 40 a nosso favor, mas não levamos as medalhas pois alguém apagou as luzes na hora da premiação e ficou por isso mesmo. Em 1957, imigrei para o Brasil e aqui só pratiquei esportes como lazer”, narrou o convidado. E no momento da estreia do documentário realizado por Pedro Kanji reinou um raro silêncio, a plateia acompanhou o dia-a-dia, os principais lances, momentos de tensão e alegria até a final contra o Flamengo. Terminada a sessão, Daniel avançou no roteiro da noite e chamou os atletas para uma foto histórica no palco. Diante da movimentação, desabafou: “Não sabia que o convite envolveria a plateia inteira”. A frase seguinte é licença poética desta repórter: “olha a bola!”. (M. B.)



52 HEBRAICA

| JAN | 2014

esportes > curtas

Boa campanha do vôlei

A

s equipes femininas de vôlei terminaram a temporada 2013 com alguns títulos e boas campanhas. Na competição LMN Sports, as atletas do infantil foram campeãs, vencendo as do Tênis Clube por três sets a dois na final e destacandose entre os cinco clubes inscritos. O pré-mirim e o mirim foram bem no torneio promovido pelo Sindi-Clube, com o vice-campeonato na série bronze, superando outras treze equipes até a final contra Ribeirão Pires, e três sets a zero para as jogadoras do interior. A medalha de bronze na série ouro foi conquistada contra o São Paulo Futebol Clube com placar favorável à Hebraica por três sets a dois. Já as integrantes do Open disputaram a Copa Acesc (Associação dos Clubes Esportivos e Socioculturais) e trouxeram a prata. No vôlei masculino júnior, o bronze foi conquistado com garra no torneio promovido pela LMN Sports contra o Pinheiros por três sets a zero.

Handebol na final

A

Judô Cidadão

A

manda Nayara, 14 anos e três como judoca, ficou em terceiro lugar na categoria ligeiro na Competição Sub-18 Feminina Nacional de Base disputada em Vitória (ES), no final de novembro. Nayara é a primeira atleta do Projeto Campeão – Judô Cidadão, parceria do Departamento de Judô da Hebraica com a Unibes, a abrir caminho na seleção brasileira da modalidade. O evento reuniu 148 atletas de cinco estados brasileiros e quatro em cada categoria se classificaram para disputar as etapas do Circuito Mundial 2014.

Tênis encerrou 2013

O

Departamento de Tênis registrou dois eventos especiais no encerramento das atividades de 2013. O Fun Day, evento recreativo reunindo tenistas de todas as idades que utilizaram a quadra coberta para uma gincana, e depois prestigiaram a premiação dos vencedores da Copa Shalom Hebraica 60 anos. Este ano, o torneio mobilizou 386 jogadores, divididos em dezessete categorias com 371 partidas em maio e novembro. Na quinzena seguinte, foi a vez de a Acesc realizar um torneio de duplas masculinas para atletas com mais de 80 anos. Na primeira edição do torneio, dezesseis atletas da Hebraica e do Esporte Clube Pinheiros se enfrentaram na quadra com direito a torcida e confraternização no final do dia. (M. B.)

equipe juvenil feminina de handebol conquistou a medalha de bronze da Liga Paulistana ao vencer o time do Guarujá por 21 a 20. Segundo o técnico Diogo Castro, “encerrar o ano com vitória era tudo que queríamos. Estou muito satisfeito com a evolução da equipe cujas atletas, em sua totalidade, são novatas nesta categoria, ou seja, temos boas perspectivas de melhores resultados em 2014”. A equipe infantil masculina chegou pela primeira vez a uma final do Campeonato Paulista após vencer duas vezes o E. C. Pinheiros nas semifinais. O primeiro jogo, disputado na Hebraica, terminou em 25 a 20. A Hebraica venceu o segundo jogo por 28 a 24, com grande atuação nos momentos decisivos do jogo. No fechamento desta edição, a equipe dirigida pelo técnico Guilherme Borin aguardava a definição do adversário da final.



54 HEBRAICA

| JAN | 2014

esportes > fotos e fatos 1.

2.

3.

4.

5.

6.

1. Fernando Setton, jogador de polo aquático no Egito, falou aos atletas da modalidade; 2. Ex-presidente da Acesc Alexandre Bossolani, Moysés Gross, Avi Gelberg, Gaby Milevsky e Eduardo Zanolli recebem pela Hebraica o prêmio Destaque em Esporte; 3. Confraternização de Chanuká com o grupo master de natação; 4. Semifinal da Liga de Futebol Society; 5. Futsal sub-9 é bicampeão do Sindi-Clube; 6. Futsal sub-13 foi quarto lugar na Série Ouro






HEBRAICA

59

| JAN | 2014

ma ga zine


60

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > espionagem | por Ariel Finguerman, em Tzomet Glilot

BRASOES DO MOSSAD, INTELIGÊNCIA DO EXÉRCITO E SHIN BET (A PARTIR DA ESQUERDA)

Histórias dos serviços secretos de Israel NO MEMORIAL AOS CAÍDOS DO MOSSAD E SHIN BET, TEMOS A RARA OPORTUNIDADE DE ENCONTRAR AGENTES SECRETOS EM CARNE E OSSO. NOSSO CORRESPONDENTE VISITOU O LOCAL E COLHEU ALGUMAS HISTÓRIAS

P

ouca gente tem a oportunidade de encontrar pessoalmente um agente secreto, daqueles que participaram de ações memoráveis e de outras, ainda em sigilo. Agora, um memorial dedicado a eternizar a memória dos agentes do serviço de informações de Israel abre as portas para o público em geral. No Merkaz Mo-

reshet Modi’in (Centro para o Legado da Inteligência), as visitas são guiadas por gente que escreveu algumas das páginas mais ousadas da história do Estado judeu. O correspondente da revista Hebraica foi recebido neste Centro pelo diretor, o general aposentado David Tzur, que foi o número dois na hierarquia do serviço de informações do Exército e atualmen-


HEBRAICA

te comanda o memorial, onde também são organizadas atividades sociais para cerca de três mil ex-agentes. Destes, 150 são guias voluntários de visitantes e contam, na primeira pessoa, a respeito de ações arriscadas nas quais estiveram envolvidos e que passaram para a história. “Somos a parte visível dos serviços de informação. O que se pode dizer é dito aqui. Falamos de tudo o que a censura permite. Fizemos um memorial ativo, algo muito maior do que somente uma parede com nomes a lamentar. É um lugar que transmite valores, patriotismo e, claro, também sionismo sem sentir vergonha disso”, explica o general. Durante muitos anos, o memorial era proibido ao público e por ele circulavam somente os jovens recrutados pelos serviços de informação, que assistiam a palestras de ex-agentes, e estudantes de escolas da periferia do país, escolhidos para ampliar a ligação deles com o sionismo. Além, claro, de famílias que perderam parentes em ações secretas. “O memorial é uma bait cham (casa com calor humano) para os enlutados, para sentirem que ainda estamos com eles”, diz o general. Muitas dessas famílias enlutadas somente foram conseguir informações a respeito da atividade secreta dos parentes (pais, filhos, irmãos) durante a visita ao memorial. Um exemplo disso ocorreu há algumas semanas, quando os parentes de um agente infiltrado em comunidades árabes em 1948 souberam pela primeira vez os detalhes da missão, e na ocasião acabaram encontrando colegas de ação. O ex-agente foi fiel ao juramento e até morrer nunca revelou nada para a família. Honra igual Este e outros 701 nomes estão gravados em pedra num memorial que tem a forma labiríntica de um cérebro, símbo-

AMNON BIRAN, CORONEL DA INTELIGÊNCIA NOS ANOS 60 A 80, NA BIBLIOTECA

lo dos serviços de informação. Um dos nomes mais antigos aqui é o de Yakov Bukai, judeu sírio que, aos 16 anos, na época da Guerra da Independência, fez aliá sozinho. Foi alistado no serviço de informação e “plantado” num campo de refugiados palestinos para aprender os costumes da população alvo. Em seguida, foi enviado para a Jordânia, disfarçado de prisioneiro de guerra, mas alguém o reconheceu. Foi preso e enforcado em 3 de agosto de 1949. Torturado, não revelou seu nome de família, temendo represálias contra parentes na Síria. Quando o tratado de paz foi assinado com a Jordânia, o então rei Hussein concordou em exumar e transferir os restos mortais para Israel, mas como foi construída uma estrada no local, o túmulo nunca foi localizado. Neste labiríntico memorial, os nomes não ganham destaque pela alta hierarquia nem por atuação em combate. A honra (kavod, em hebraico) é a mesma para todos. Misturados entre as centenas de nomes estão Eli Cohen, o legendário agente infiltrado na Síria, e Yonathan Netaniahu, irmão do atual primeiro-ministro, morto durante a Operação Entebe, como integrante do Sayeret Matkal, unidade de elite do serviço de informação. Também há nomes que, por razões de segurança, ainda não podem fazer parte do memorial. Será uma paranoia típica de serviço secreto? Nem tanto. Há alguns anos, o famoso jornalista do The New York Times, Thomas Friedman, visitava este memorial quando topou com o nome de Yakov Barsimantov na parede. O jornalista lembrou que Yakov sempre foi identificado por Israel como diplomata e quando foi assassinado, em Paris, em 1982, acusou os palestinos de jogo sujo. Friedman em seguida escreveu no jornal que Yakov era realmente um agente secreto, o que provocou uma complicação diplomática para Israel. Torá resgatada na Síria Num passeio pelo memorial, pode-se deparar com alguns agentes de verdade, em carne e osso, e que se torna>>

61

| JAN | 2014

O diretor do memorial me explicou que durante as vistas escolares o Mossad não alista jovens. Aliás, o Mossad nem aceita voluntários. O método usado é acompanhar, à distância, o desempenho dos jovens desde o primeiro ano do ensino médio, e então fazer uma proposta


62

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > espionagem

GENERAL DAVID TZUR

>>

NINA FATTAL

ram célebres de Israel. Como o coronel aposentado Amnon Biran, com quem topei na biblioteca, responsável pelas ações de Inteligência na operação de resgate de reféns israelenses em Entebe, em 1976. “Hoje estou envolvido num trabalho voluntário de digitalizar informações acerca das operações para uso e consulta de futuros pesquisadores, estudantes e oficiais. Queremos preservar aqui o legado dos serviços de informação de Israel”, diz o coronel. Mas Nina Fattal, que também trabalha como voluntária no memorial, enfatiza que em pelo menos um ponto, o serviço de informação de Israel é diferente de todos os outros ao redor do mundo. “Todo país tem um serviço de informação, mas o especial e diferente aqui é nosso objetivo de salvar judeus em perigo e trazer para cá todo aquele que deseja viver aqui, mas por alguma razão é impedido. Não importa qual o custo, nem o risco.” Nina levou a reportagem para a sinagoga do memorial, onde revelou uma sur-

presa. No aron hakodesh (altar mor) uma relíquia: uma Torá de 350 anos resgatada da Síria nos anos 1990, uma operação tão delicada que até hoje os nomes dos envolvidos permanecem em segredo. “Resgatar objetos sagrados do judaísmo também faz parte dos serviços de informação de Israel. Mesmo parte dos Manuscritos do Mar Morto chegou ao Estado judeu graças às ações do Mossad”, diz. Antes de deixar o memorial, assisti a uma palestra acerca de Eli Cohen. Quando o palestrante me viu entrar, parou um instante e se apresentou: “Bom dia, sou um agente do Mossad e estes são estudantes de colégio”. Depois, o diretor do memorial, o general aposentado David Tzur, me explicou que durante essas vistas escolares o Mossad não alista jovens. Aliás, o Mossad nem aceita voluntários. O método usado é acompanhar, à distância, o desempenho dos jovens desde o primeiro ano do ensino médio, e então fazer uma proposta. “Estudantes entram no memorial de manhã com um espirito de brincadeira e saem diferentes. Perguntam como se alistar, e respondo que se quiserem servir, apenas se esforcem para se sobressair nos estudos”, conta o general. Merkaz Moreshet Modi’in (Centro para o Legado da Inteligência) Tzomet Glilot (perto de Herzlia) Fone 03-549-7019 (marcar visita) Ingresso U$ 15 adulto e U$ 10 jovem


HEBRAICA

63

| JAN | 2014

Contos de espionagem EIS AS HISTÓRIAS DE ALGUNS AGENTES SECRETOS ETERNIZADOS NO MURAL DO MERKAZ MORESHET MODI’IN (CENTRO PARA O LEGADO DA INTELIGÊNCIA): Irit Portuguez, morta em 13 de abril de 1984

Cumpria serviço na Inteligência do Exército, quando entrou no ônibus da linha 300 que fazia o trajeto Ashkelon-Tel Aviv, em seguida sequestrado por terroristas palestinos. Para evitar ser reconhecida, jogou fora a sua identificação e imediatamente passou a socorrer feridos, mas morreu na operação executada por um comando israelense, que libertou o ônibus. Recentemente, o Merkaz Moreshet Modi’in recebeu a visita de outra Irit, cuja mãe estava grávida dela e era passageira do ônibus e foi socorrida pela jovem agente. Quando a criança nasceu, recebeu o nome da sua salvadora.

Shalom Dani Weiss, morto em 21 de Maio de 1963

Sobrevivente de campos de concentração, durante a Segunda Guera Mundial especializou-se em produzir passaportes falsos. Trabalhou para o Mossad forjando documentos que permitiram a aliá de judeus europeus após o Holocausto. Durante o sequestro de Adolf Eichmann em 1960, foi enviado ao aeroporto de Buenos Aires. Enquanto agentes do Mossad passavam o criminoso nazista sedado pelas autoridades argentinas, alegando que era membro da El Al e estava embriagado, mas na verdade sedado, Weiss preparava o passaporte falso no banheiro do aeroporto. Morreu três anos depois.

Uzi Yairi, morto em 6 de março de 1975

Chefe da mais importante unidade de combate de Israel, a Sayeret Matkal, também ligada ao serviço de informações, Yairi já estava aposentado quando, do seu apartamento em Tel Aviv, ouviu o som de tiros. Era um grupo de palestinos que havia dominado o Hotel Savoy, na orla da cidade, e feito reféns. Foi ao local, liderou a entrada dos comandos que eliminaram os terroristas, mas foi baleado e morreu.

Uri Ilan, morto em 13 de janeiro de 1955

Especialista em aparelhos de escuta, Uri foi enviado à Síria para trocar a bateria de um equipamento instalado em um determinado local de interesse do serviço de informação. O aparelho estava programa dopara explodir se alguém o tocasse, e foi o que aconteceu com Uri e mais três companheiros, em seguida descobertos e presos. A mãe de Uri, na época deputada da Knesset pelo partido de esquerda Mapam, apelou aos soviéticos que ajudassem na libertação do filho. Os soviéticos concordaram, mas responderam que somente Uri seria libertado, o que a deputada recusou. Para não ser mais torturado, Uri suicidou-se na prisão e os outros três foram libertados. Antes de morrer, colocou entre os dedos do pé um minúsculo bilhete, depois descoberto pelos israelenses que receberam seu corpo, no qual escreveu: “Não traí”.


12 64 HEBRAICA

| JAN | 2014

por Ariel Finguerman | ariel_finguerman@yahoo.com

1

12 notícias de Israel

2

Revolução digital O que acontece quando cinco jovens recém-formados da Universidade Hebraica de Jerusalém resolvem desenvolver um aplicativo para iphones, a partir de US$ 500,00 recolhidos entre eles? Resposta: uma revolução na rede. Eles criaram o aplicativo Facetune, que retoca fotos tiradas de celular para depois colocá-las nas páginas pessoais de sites como Facebook. Em questão de alguns meses, o Facetune tornou-se o aplicativo pago número 1 da Apple e a turminha ficou milionária. Já são mais de um milhão de internautas que pagaram cerca de US$ 4,00 para baixar o aplicativo. Zeev, Yaron, Nir, Amit e Itai continuam com a sede da empresa no campus e somente mais outros sete funcionários. Verdadeiro milagre da era digital.

3

4

Mar vivo

Farol amarelo

Caiu a máscara

Finalmente Israel conseguiu assinar com os árabes (no caso, jordanianos e palestinos) algum acordo. Não de paz, mas de salvação do Mar Morto, que receberá água do Mar Vermelho e assim estancará o processo de evaporação do lago, que a cada ano fica um metro mais raso. Para evitar possíveis processos judiciais de organizações ecológicas de Israel que criticavam o impacto do projeto nos corais perto de Eilat, toda a tubulação passará em território da Jordânia. Levará cinco anos para ficar pronto, ao custo de US$ 400 milhões. Quem viver, verá.

Alguns sinais preocupantes nos índices socioeconômicos de Israel acabam de ser divulgados: 35% das crianças do país são consideradas pobres, o índice mais alto entre as nações desenvolvidas. O Estado judeu também registra o pior desempenho em distribuição de renda, com 1% da população recebendo 6,3% do bolo total. Agora, no inverno, 34% dos entrevistados disseram que não aquecerão as casas, para economizar dinheiro. O problema é mais agudo entre os judeus ortodoxos: em 80% dos lares, marido e mulher não têm diploma universitário.

Uma das mais terríveis cenas da vida cotidiana israelense – a distribuição em massa de máscaras antigás – parece terminou. Com a destruição do armamento químico da Síria, o governo avalia parar de vez a fabricação e distribuição do equipamento para a população. Cerca de 60% dos israelenses já têm essas máscaras em casa, e para suprir o restante da população, seriam necessários mais US$ 370 milhões, que agora não sairão dos cofres públicos. Duas empresas fabricam máscaras em Israel, mas no pico do pânico, o governo chegou a estudar importar o equipamento.

5

6

Crônica policial

Inimigo amigo

Eyal Golan é o grande astro da música mizrachi israelense, o equivalente ao sertanejo romântico brasileiro. Nascido em uma família pobre, hoje é milionário, apresentador de programas de TV e seus shows lotam em Israel e nos EUA. Mas agora a casa caiu pois garotas de 15 anos denunciaram ter sido obrigadas a manter relações sexuais com a equipe do músico. A investigação se concentra no pai do cantor, Dany Biton, sessentão que abandonou a família quando Eyal era menino (o sobrenome Golan foi criado para cortar a relação paterna) e que retomou o contato após o sucesso do filho. Dany exigia relações com as meninas em troca de ingressos e contato com Eyal.

Se pudesse, Ismail Haniyeh, o chefão do governo Hamas em Gaza, acabava com o Estado de Israel. Mas isto não o impediu de contatar as autoridades israelenses com um pedido: dar assistência médica à neta, Amal Haniyeh, que entrou em morte clínica num hospital de Gaza em razão de problemas no aparelho digestivo. A criança foi transferida para o Hospital Shneider, em Petah Tikva, e examinada por uma equipe médica, que não conseguiu salvá-la. Ela foi transferida de volta para o território palestino na mesma condição que chegou. O pai de Amal postou em sua página no Facebook que ela havia sido transferida para “dentro da Linha Verde”, voltando ao ódio normal pelo país de nome impronunciável.


HEBRAICA

7

65

| JAN | 2014

Tel Aviv cor-de-rosa O parque Yarkon, o equivalente em Tel Aviv ao Ibirapuera, foi sede da Gay Olimpic, evento esportivo destinado à comunidade homossexual e lésbica do país. Com apoio do Ministério da Cultura e Esporte, houve competições de atletismo, futebol, basquete e tênis de mesa. A modalidade que chamou a atenção foi a corrida de salto alto, para drag queens. Claro, tudo acabou também em festa, com presença de deejay, aulas de ioga e dança, e palestras várias. Os organizadores disseram que o evento quis encorajar uma vida mais saudável na comunidade GLT. Até alguns dias antes da competição, ainda não havia sido decidido se os atletas seriam separados de acordo com o sexo. Sem dúvida uma questão confusa, no caso.

8

Filme da vida David Perlov, o falecido cineasta brasileiro que depois de fazer aliá fundou o cinema-documental em Israel, recebeu no mês passado uma homenagem à altura. Seu filme Em Jerusalém, de 33 minutos, lançado há cinqueta anos, foi refeito para incluir outras nove curtas produções rodadas por admiradores, que mostram a evolução da capital israelense desde então. O novo filme, chamado Passos em Jerusalém, foi exibido num só dia em mais de quarenta cidades do mundo, incluindo São Paulo. Perlov ganhou fama ao filmar durante dez anos seu cotidiano em Tel Aviv, tendo como fundo dramáticos acontecimentos do país. O projeto, chamado Yoman (Diário), foi rejeitado seguidas vezes pelo establishment israelense, até ser aceito pelo Channel 4 inglês, que o consagrou.

9

Adeus ao músico Morreu Arik Einstein, aos 74 anos, um dos maiores ídolos culturais de Israel. Ouvi falar dele pela primeira vez nos anos 1980, quando ainda morava em São Paulo, na época menos interessado no dia-a-dia israelense. Meu irmão mais velho trouxe um disco de uma viagem a Israel, e achei esquisito e até engraçado um cantor ter um nome como este. Hoje, vivendo em Israel, onde o maior cantor vivo chama-se Salomão MeuPaís (Shlomo Artzi) acho, claro, normal e até saudável. Arik Einstein foi chamado em alguns obituários de “o Frank Sinatra de Israel”. Bobagem, este país nunca produziu um Sinatra. Einstein pode ser comparado a um Chico Buarque, pela beleza das suas composições, pelo encanto da sua presença no palco e sua personalidade querida por muita gente. Sua bela música Ani ve-Atá (“Eu e Você”) seria conhecida mundialmente se o hebraico fosse inteligível fora de Israel. É tocada até hoje em cerimônias de casamento (“Eu e você vamos mudar o mundo”, diz a letra). Einstein também criou versões próprias para alguns clássicos do cancioneiro sabra, turbinando músicas que já estavam caindo no esquecimento ou virando chacota entre os mais jovens. Desde os anos 1990 vivia enclausurado num pequeno apartamento de Tel Aviv, com a segunda mulher e dois filhos, afastado dos palcos. Os jornais deram um imenso espaço para noticiar a sua morte, todo o caderno de cultura do Yedioth Achronot foi dedicado a ele. Foi a contrapartida laica para a morte do rabino Ovadia Yossef, que emocionara o público religioso semanas antes.


66

HEBRAICA

| JAN | 2014

10

Programão em Israel Esta é para quem está planejando visitar a terrinha em junho. Aos pés da fortaleza de Massada, no deserto da Judeia, rolará uma boa série de shows para todos os gostos. De 12 a 16 de junho, a Ópera de Israel irá encenar La Traviata, de Giuseppe Verdi, com artistas da casa e da Polônia. Dia 13, é a vez do músico pop israelense Idan Raichel. Dois dias depois, apresenta-se a Orquestra Sinfônica de Israel com a Primeira e a Nona sinfonias de Beethoven. Em paralelo, a cidade histórica de Akko, nos salões da época dos cruzados, irá sediar espetáculos dedicados a Mozart, de 9 a 21 de junho. No cardápio, a ópera Don Giovanni, o Requiem e a ópera A Flauta Mágica, num espetáculo dirigido para toda a família.

11

Bolsa-Mishpachá Pois é, também em Israel tem algo parecido com a bolsa-família. Só que não está lá essas coisas. Segundo o mais novo relatório do Banco Central, um lar israelense com três crianças recebe 120 dólares mensais (ou R$ 270,00). Entre os países desenvolvidos, Israel está bem atrás da Inglaterra, onde uma família igual recebe U$ 320,00, da França (U$ 380,00) ou da Alemanha (U$ 670,00). Israel só ganha da Grécia, e pela diferença de um dólar. A situação já foi melhor, mas uma das primeiras medidas do atual ministro das Finanças, Yair Lapid, quando chegou ao poder foi cortar o benefício. Desconfio que o baixo valor da bolsamishpachá é uma questão ideológica. Em Israel, judeus ortodoxos e árabes muçulmanos até há pouco tempo faziam a festa com o benefício, com a média, respectivamente, de 7 e 3,5 filhos por família, sabendo que sempre podiam contar com a ajuda da Mamãe-Estado. Lapid representa a maioria secular do país, que planeja a vida familiar baseada no salário e na poupança, e não em ajuda estatal. Nada contra grandes famílias, mas é feio colocar filho no mundo pensando que um outro vai pagar as contas. Isto sem falar que Israel é um país pequeno, e de recursos naturais muito limitados. No começo do sionismo, técnicos fizeram as contas de quantos habitantes esta terra poderia sustentar. Os mais pessimistas calcularam dois milhões (hoje somente a população de Gaza se aproxima deste número) e os mais otimistas, em dez milhões (só de israelenses, além dos oito milhões de palestinos). A população de Israel cresce muito mais que a europeia, mas os índices sociais do Estado judeu estão entre os piores das nações desenvolvidas. Sem dúvida, um grande desafio para as próximas gerações que viverão na Terra Prometida.

12

Guerra do cafezinho Tudo começou em outubro, quando uma nova rede de cafeterias em Israel resolveu oferecer um cafezinho por cinco shekalim (equivalente a R$ 3,00). O preço é metade do cobrado nas principais redes espalhadas pelo país. Como o pessoal daqui é chegado num pretinho, a novidade ganhou as manchetes e boa parte do público cobrou explicações dos coffee shops tradicionais. Então começou uma onda de reduções. Em dezembro, foi a vez de mais uma rede, a Café Café, com 134 filiais pelo país, reduzir para oito shekalim. Os donos juravam que não cederiam, mas agora dão uma explicação esfarrapada e um sorriso amarelo: “Sabemos que será um ano difícil para todos, com muitas demissões na economia”, disse o diretor.



68

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > urbanismo | por Daniela Cheslow

Um mostrengo arquitetônico em Tel Aviv HOJE SEMIABANDONADA, DEGRADADA E MUITO CRITICADA, A ESTAÇÃO RODOVIÁRIA DE TEL AVIV FOI PROJETADA PARA SER UM DOS MONUMENTOS DA ARQUITETURA ISRAELENSE E IMPORTANTE OBRA URBANÍSTICA

Q

HOJE DEGRADADA, A RODOVIÁRIA DE

TEL AVIV BUSCA A RENOVAÇÃO AO ABRIGAR PROJETOS ARTÍSTICOS.

A REGIÃO TAMBÉM ABRIGA POPULAÇÕES DE IMIGRANTES AFRICANOS

uando a Estação Rodoviária Central foi inaugurada no segundo semestre de 1993, o arquiteto que a projetou, Ram Karmi, garantiu que ela daria impulso econômico à vizinhança. Passadas duas décadas, poucos israelenses comemoraram o aniversário daquela estação encardida e labiríntica, no bairro mais degradado no sul de Tel Aviv. Apesar disso, há os que veem na estação a alegoria viva de sonhos grandiosos contrastando com a deprimente realidade daquele que já foi considerado o maior terminal de ônibus do mundo. Os arquitetos Elad Horn e Talia Davidi são os responsáveis pelas visitas guiadas ao terminal, e durante a caminhada o vazio possibilita ouvir o eco das vozes deles apontando para “a galeria da qual as pessoas que vinham do lado de fora podiam ver o primeiro andar, e estes são os túneis usados para chegar aos ônibus municipais. À direita, o guichê onde se compravam ingressos de cinema”. O cinema está fechado. Até alcançar a escada rolante parada e empoeirada, uma estátua lúgubre de Charlie Chaplin em pé na escuridão contempla as pessoas. No andar de cima, o segundo, caminha-se às apalpadelas pelo escuro com a ajuda da luz das telas dos celulares refletidas nas vitrines de lojas abandonadas.

Recém-formados em arquitetura na Academia Bezalel, Horn e Davidi descobriram a história de como a Estação Rodoviária Central foi planejada enquanto organizavam o arquivo de Karmi, o autor do projeto. À medida em que folheavam as páginas amareladas das plantas originais, surpreenderam-se com os desenhos de um edifício bonito e fácil de se percorrer, com torres modernas e reluzentes. Todavia, ainda antes de a construção começar, o conflito de interesses entre as empresas de ônibus Egged e Dan, a prefeitura e os investidores mudou esses grandes planos. E o local virou um complexo de sete andares e 1.500 lojas. Karmi, arquiteto laureado com o Prêmio Israel, imaginou uma cidade no espaço da estação. Os passageiros entrariam pelo quarto andar e poderiam passar o dia inteiro no prédio equipado com cinemas, teatro e mercado ao ar livre. Havia “ruas” e “praças” em cada andar, corredores ladeados por lojas, e praças com espaços poligonais onde os


69

HEBRAICA

viajantes poderiam se sentar. A pedra fundamental foi lançada em 1967, mas a crise econômica e a falência dos proprietários interrompeu a obra seis anos depois, que foi reiniciada somente em 1989. Na inauguração, em 1993, a única vez em que visitou o edifício, Karmi fez um discurso premonitório: “Partes desta estação vão fazer brotar ramos verdes nos bairros vizinhos e gerar uma vida urbana cheia de vida de conteúdo – ou destruí-los completamente”. No começo, a estação era excitante e convidativa. Os passageiros iam para o primeiro nível tomar os ônibus que percorriam toda Tel Aviv, compravam roupas ou sapatos em lojas bem iluminadas, as empresas disputavam espaço no edifício e até programou-se a abertura de onze teatros. Mas logo a “cidade” começou a se assemelhar a Detroit. Lá fora, as calçadas estavam sombreadas pelos viadutos de concreto que transportavam os ônibus para a estação. A construção durou quase vinte anos, corroeu a vizinhança e o israelense que pudesse pagar deixava a área, ocupada por trabalhadores estrangeiros das Filipinas e migrantes desvalidos do Sudão e da Eritreia. Na rodoviária, em 2002, a empresa de ônibus Dan mudou os terminais do subsolo para o andar superior. Sem o salão de embarque no primeiro andar, o cinema e as lojas no segundo e terceiro pisos estavam condenados ao abandono. Hoje, a metade superior continua a ser uma estação em funcionamento, enquanto os andares inferiores ficaram ultrapassados, exceto pelo que Horn descreve como um “abrigo antiaéreo para o Holocausto nuclear” – uma sala em condições de acomodar quinze mil pessoas utilizada durante a Guerra do Golfo, em 1991, anos antes da inauguração da estação. Depósito de pessoas O edifício tem a unanimidade do desprezo em Israel. Segundo um artigo de 2012, no Haaretz, a estação é uma das poucas coisas em que todos os israelenses concordam: o único arqui-

teto contrário estava preocupado com a poeira que a demolição causaria. No entanto, apesar das merecidas críticas, a estação de ônibus ainda tem serventia. Durante anos. artistas usaram o prédio e entre as paredes enegrecidas pela fuligem funcionam três teatros e uma biblioteca ídiche. Em julho, Horn e Davidi ajudaram a montar o show de fim de ano da escola de arquitetura da Universidade de Tel Aviv. No último Festival Noite Branca de Tel Aviv, no verão passado, Horn e Davidi organizaram uma caça ao tesouro no edifício, e os prêmios incluíam passagens de ônibus para Eilat e ingressos para produções encenadas na estação. E o artista Mati Ale transformou o sétimo andar em uma exposição de arte de rua, com grafite de artistas de Israel e do mundo. O diretor-geral da rodoviária, Miki Ziv, diz que a arte pode ser a única maneira de melhorar a imagem da estação. Ele incentivou entusiasticamente projetos excêntricos: uma ópera, um flash mob (aglomeração instantânea pré-combinada) e espetáculos de teatro. No próximo ano, Ziv planeja realizar várias exposições e montar uma biblioteca no sétimo andar. “Talvez existam grupos artísticos interessados no espaço”, explicou Ziv. “Acho que a arte vai trazer mais gente aqui e eles vão ter ideias a respeito de como usar a área” Independentemente do amor que a estação excêntrica venha despertando, as empresas de ônibus Egged e Dan estão rezando para terminar os contratos. A cidade está planejando dispersar as principais rotas de trânsito para outras estações ao longo dos próximos doze anos. Para Horn – e apesar das falhas – a estação é interessante. “Era para ser uma cidade sob o mesmo teto, e é mais ou menos isso o que acontece”, disse Horn. “Aqui é lar de centenas de pessoas que trabalham e constroem uma vida para si e os filhos. Não é um lugar conhecido pela maioria de nós, mas é o lar de muitos grupos que não conseguem encontrar uma casa em qualquer outro lugar.”

| JAN | 2014

A empresa de ônibus Dan mudou os terminais do subsolo para o andar superior. Sem o salão de embarque no primeiro andar, o cinema e as lojas no segundo e terceiro pisos estavam condenados ao abandono


70

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > religião | por David Sears

BEM ANTES DOS SALMOS, NOÉ, NO CONVÉS DA ARCA, DIZIA QUE DEUS É BOM PARA TODOS

Compaixão por todas as criaturas A HALACHÁ DETERMINA QUE SEJAMOS BONDOSOS PARA COM OS ANIMAIS, PROÍBE QUE SEJAM ABUSADOS, ELOGIA

AS BOAS CARACTERÍSTICAS DELES E RESPONSABILIZA OS PROPRIETÁRIOS PELO SEU BEM-ESTAR. MAS HÁ SITUAÇÕES EM QUE ESTAMOS AUTORIZADOS A USAR ANIMAIS PARA ATENDER A NECESSIDADES HUMANAS LEGÍTIMAS

Q

uando algumas pessoas justificam a sua condição de vândalos, destroem laboratórios e cobrem a falta de vergonha com o manto de justiceiros, convém ler o texto desse rabino que participa do projeto Jewcology, cujo site jewcology.com se dedica à comunidade judaica ambiental global. Ele escreveu The Vision of Eden: Animal Welfare and Vegetarianism in Jewish Law and Mysticism, Orot, 2003 (“A Visão do Éden: Bem-Estar Animal e Vegetarianismo na Lei e Misticismo Judaicos”). “Deus é bom para todos, e sua misericórdia se estende sobre todas as suas obras” (Salmos, 145:9). Este versículo é a pedra de toque da atitude rabínica em relação ao bem-estar animal e surge em vários contextos na literatura da Torá, que trata de uma ética de compai-


HEBRAICA

xão pelas criaturas e afirma a sacralidade da vida. Esses valores estão claros nas leis proibindo tza’ar baalei chaim (“crueldade com os animais”) e nas obrigações de os seres humanos tratarem os animais com cuidado. A relevância do versículo acima pode parecer um tanto obscura, pois fala de Deus, não do homem. No entanto, uma regra básica da ética judaica é emular os costumes de Deus. Portanto, “Assim como Ele veste o nu, então vós deveis vestir os nus. Assim como Ele é misericordioso, assim sereis misericordioso ...” Desta forma, a compaixão por todas as criaturas, incluindo os animais, é assunto de Deus e virtude que também devemos imitar. E como a misericórdia de Deus se sobrepõe a todos os outros atributos divinos, assim a compaixão não deve ser considerada como boa característica, entre outras, mas o cerne de toda a abordagem da vida. Além do fator subjetivo do sentimento moral, a Halachá (a lei religiosa do judaísmo) determina que sejamos bondosos para com os animais, proíbe que sejam abusados, elogia as boas características deles e responsabiliza os proprietários pelo seu bem-estar. Enfim, os animais são criaturas de Deus, merecedores de respeito e compaixão. “Deve-se respeitar todas as criaturas, reconhecendo nelas a grandeza do Criador, que fez o homem com sabedoria. Todas as criaturas são imbuídas da sabedoria do Criador, o que por si mesmo as torna muito merecedoras de honra. O Criador de tudo, o Sábio que transcende a tudo, está associado com as Suas criaturas por tê-las feito. Se alguém depreciá-las, Deus me livre, isso se refletiria na honra de seu Criador”, diz o rabino Moshé Cordovero. A compaixão pelos animais é a medida do refinamento espiritual. Em sua obra clássica da ética judaica, Mesilas Yesharim (“Caminho do Íntegro”), o rabino Moshé Chaim Luzzatto (17071746) afirma que a compaixão pelos animais é uma das características básicas de um chassid, o que significa uma pessoa que luta pela perfeição espiritual. O Midrash declara que Moisés e o rei Davi foram escolhidos por Deus para liderarem Israel devido à compaixão que tinham demonstrado por seus rebanhos. Há muitas histórias de tzadikim (indivíduos justos) e sua preocupação com o bem-estar dos animais. Segundo o rabino Yehuda Loew ben Bezalel, (1512-1609), o Maharal de Praga, “amar a todas as criaturas é também amar a Deus, pois quem ama o Um, ama a todas as obras que Ele fez”. A conscientização desta verdade é o ponto central do misticismo judaico. E é a raiz da ética judaica de compaixão por todas as criaturas. Legislação contra a crueldade Por que a crueldade para com os animais (tza’ar baalei chaim) é proibida, embora em nenhum lugar da Torá lê-se algo como “Não afligirás aos animais”? No entanto, aceita-se que tais atos são proibidos por força de uma tradição que vem desde Moisés no Monte Sinai. Os rabinos só questionam alguns aspectos desta proibição, como o caso citado em Êxodo, 23:5, em que

71

| JAN | 2014

um viajante encontra o animal do inimigo “deitado debaixo da carga”. O mandamento da Torá determinava retirar o animal de sob a carga. A discussão talmúdica a respeito – se uma proibição rabínica ou bíblica – é inconclusiva, mas Maimônides (R’ Moshé ben Maimon, 11351204) e muitas autoridades consideram a proibição bíblica. Existe uma diferença prática nisso: se tza’ar baalei chaim for biblicamente proibido, não se pode causar dor aos animais e devemos aliviá-la. E há o Shabat, e como a proibição é bíblica, certas restrições do Shabat podem ser dispensadas em nome do alívio do animal. Outra questão é a intensidade da punição se houver transgressões bíblicas. A visão haláchica predominante é de que a Bíblia proíbe o tza’ar baalei chaim. Portanto, somos obrigados a ajudar um animal; e, no sábado, esta obrigação é mais importante do que todas as restrições rabínicas. Animais para a alimentação Uma questão a respeito da qual o judaísmo discorda do movimento pelos direitos dos animais (ou, pelo menos, de uma tendência desse movimento) é a visão filosófica que coloca animais e seres humanos no mesmo plano. A proibição da tza’ar baalei chaim não se aplica a situações em que os seres humanos estão autorizados a usar animais, ou seja, para atender a necessidades humanas legítimas. Exemplo disso é que numa concessão ao desejo de comer carne, a Torá permitiu a Noé e descendentes o abate de animais. No entanto, a permissão de abater os animais para alimentação foi concedida no bojo de um conjunto de limitações, como a preocupação pelo sofrimento daquelas criaturas que morrem para nos servir. De acordo com a Halachá, imediatamente antes do abate o animal deve ter um tratamento humano, um animal não deve ser abatido diante de outro animal vivo e o animal deve estar preso com cuidado. Durante séculos o responsável pelo abate do animal (shochet) tinha de ser um erudito da Torá. Se com essas limitações é permitido o abate de animais, qualquer dor que o >>

A compaixão pelos animais é a medida do refinamento espiritual. O rabino Moshé Chaim Luzzatto (1707-1746) afirma que a compaixão pelos animais é uma das características básicas de um chassid, o que significa uma pessoa que luta pela perfeição espiritual


72

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > religião

>> animal possa sofrer não se enquadra na proibição haláchica do tza’ar baalei chaim. E isso vale para o caso de fornecer aos seres humanos roupas ou produtos com objetivos médicos, ou para nos beneficiar de forma significativa. Além de qualquer ritual, a shechitá (abate kasher) procura minimizar a dor do animal. De fato, a experiência de mais de três mil anos desde os tempos de Moisés, nenhuma outra forma de abate tem se mostrado superior. O rabino David J. Bleich, autoridade em legislação judaica, afirma que “a shechitá é o método mais humano de abate conhecido pelo homem. É um corte transversal na garganta do animal com uma faca afiada e lisa. A incisão em si não causa dor e a intensa perda de sangue o deixa inconsciente em segundos”. Esta afirmação se sustenta em evidências científicas. E antes do abate? É preciso reconhecer que a criação de animais para a alimentação é problemática. Até recentemente, os animais pertencentes a judeus eram criados em fazendas privadas, em condições relativamente humanas. O shochet era uma figura familiar na comunidade, trabalhava para cada cliente de forma individual, e raramente abatia animais de grande porte. Mas tudo isso mudou. A produção de carne em massa domina a indústria de alimentação, desde o final da Guerra Civil, continuou nos primeiros supermercados nos anos 1930, e desde os anos 1940 fazendas industriais produzem milhões

A IMAGEM DE UM GANSO SENDO ENTUPIDO DE ALIMENTOS ESCANDALIZOU A

CALIFÓRNIA, QUE PROIBIU A PRÁTICA

de quilos de carne e bilhões de pedaços de aves para o consumo humano. A realidade econômica da indústria alimentícia atual incluiu a comunidade judaica de todo o mundo nesse sistema. É economicamente inviável aos fornecedores de carne kasher criar o próprio gado, e por isso os produtores de muitos países facilitam o controle das condições higiênicas desses animais. Os métodos de criação intensiva, em ambientes artificiais, ignoram as necessidades emocionais dos animais mas aumentam exponencialmente a produção e os lucros facilitado pela Lei Federal do Bem-Estar Animal (dos Estados Unidos) que exclui especificamente dessa proteção os animais destinados à alimentação. Algumas fazendas industriais são exceção à regra, mas para os ativistas dos direitos dos animais a grande maioria não está preocupada com o bem-estar dos seus animais. Do ponto de vista do manejo e abate de animais, a dra. Temple Grandin, da Colorado State University, foi uma pioneira na luta pela melhoria das condições do bem-estar animal e criou regras que estabelecem padrões humanos adotados pelos matadouros no Instituto Americano de Carnes. Mas não são uma exigência legal. A indústria norte-americana de alimentos tem um longo e sombrio histórico de práticas desumanas. No entanto, como a lei e a tradição judaicas determinam um tratamento adequado dos animais, os judeus não devem tolerar essas práticas nem tirar vantagens delas sob a justificativa de que não violamos diretamente as leis de tza’ar baalei chaim. Embora a questão política do “bem-estar animal” seja uma novidade para muitos judeus, a preocupação em relação ao tratamento adequado dos animais é uma exigência dos valores tradicionais judaicos. Nos últimos anos, surgiram empresas produtoras de oferecem carne kasher de animais alimentados com capim e criados em pastos de pequenas propriedades familiares e abatidos sob a supervisão da União Ortodoxa. A missão dessas em-


HEBRAICA

TEMPLE GRANDIN CONSEGUIU HUMANIZAR O ABATE DE ANIMAIS NOS EUA

presas é defender os valores do tza’ar baalei chaim. No entanto, deve-se admitir que nos Estados Unidos como no Brasil o custo desse tipo de carne limita o mercado a uma pequena parcela da população em condições de pagar e isso exclui muitas famílias e reduz significativamente o consumo de carne. E a medicina? De acordo com a Torá, o homem deve perceber os sentimentos dos animais e a legitimidade dos atos que possam lhes causar dor. Consta que o sábio do século 2 da Era Comum e redator da Mishná, o rabino Yehudá Hanassi, foi punido pelo Céu por falar com desdém de um assustado bezerro que encolheu-se aos seus pés para escapar ao abate. Vários comentários rabínicos trataram do assunto, pois, afinal, o rabino Yehudá, não maltratara o animal, nem dissera palavras falsas. Mas uma pessoa de estatura espiritual do rabi Yehudá deveria ter sido mais compassiva. Seguindo este princípio, muitos sábios salvaram animais em situações de emergência, embora desobrigados disso pela Halachá. Em uma noite de Iom Kipur, o fundador do movimento Mussar moderno, rabino Yisrael Salanter (1810-1883), resgatou um bezerro que fugira de um vizinho cristão, enquanto a congregação esperava por ele. O rabino Eliyahu Lopian (1876-1970) cuidou pessoalmente de um gato de rua que buscava refúgio na yeshivá. Em sua juventude, o rabino Avraham Yeshaya Karelitz (1878-1953) içou um animal de espécie não-

kasher que caíra em um poço. O apelo por mais e maior sensibilidade moral deve ser aplicada a áreas de necessidade humana questionável, incluídas as experiências em animais para a produção de cosméticos ou experimentos de novos medicamentos; a alimentação forçada de gansos para a produção de foie gras; a criação de bezerros para produzir vitela branca e as indústrias de peles. A existência de produtores de bovinos e de peles que mantêm altos padrões humanos sugere que todos poderiam agir assim. Louve-se o povo judeu pelo desejo de servir a Deus para além do que diz a lei. Se esta expressão de devoção religiosa tem sido aplicada a muitos preceitos rituais por que não aplicá-la também a preceitos que afetam outros seres vivos? Isso beneficia diretamente o trabalho de Deus e torna o mundo melhor. O envolvimento com atos de compaixão nos faz dignos da bênção dos sábios e da misericórdia divina para os misericordiosos.

73

| JAN | 2014

Certas restrições do Shabat podem ser dispensadas em nome do alívio do animal. A visão haláchica predominante é de que a Bíblia proíbe o tza’ar baalei chaim. Portanto, somos obrigados a ajudar um animal; e, no sábado, esta obrigação é mais importante do que todas as restrições rabínicas


74

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > memória | por Chemi Shalev

Arik Einstein,

a voz do bom e velho Israel ARIK EINSTEIN, 74 ANOS, MORREU NA NOITE DE 26 DE NOVEMBRO

E A ONDA DE TRISTEZA QUE PROVOCOU É RESERVADA SOMENTE ÀQUELES DE FATO DIGNOS DE ADORAÇÃO. ISRAEL, TODOS SABEM, NÃO SERÁ O MESMO SEM ELE

U

ma parte de Israel morreu e um pedaço de sua alma se foi. Centenas de milhares de israelenses, possivelmente milhões, perderam um amigo pessoal e companheiro íntimo de uma vida inteira. Uma voz de Israel – para muitos, “a” voz de Israel – não cantará mais. Arik Einstein pode não ter sido muito conhecido fora de Israel, mas sob muitos aspectos era o mais amado, admirado e emblemático cantor israelense. Ele juntava no mesmo pacote Frank Sinatra, Elvis Presley, Bruce Springsteen. Tudo. Einstein encarnava o novo Israel, liberal e secular, que pensávamos que um dia viria a ser. Em essência um rei, apolítico, amante da alegre Tel Aviv desde muito tempo antes de a cidade se tornar tão na moda. Embora sob qualquer padrão um astro de primeira grandeza, sempre foi tímido, modesto e despretensioso. Era o antídoto a generais arrogantes, a antítese de políticos pomposos, o polo oposto de capitalistas crassos e figurões manipuladores. Ele não era um heróico kibutznik, nem um ousado militar de missões especiais, pregador pretensioso ou fanático dogmático. Estava livre da história, sem carregar o peso do sofrimento dos judeus e nem se intimidar com a ideologia bombástica dos mais velhos e dos seus pares. Um verdadeiro sabra, nascido em Tel Aviv, criado ali – menos um judeu da Diáspora e mais um israelense renascido. Um sabra normal que cantava o mundano e o dia-a-dia que um israelense normal – se pelo menos pudesse ser normal – desejaria. Arik Einstein escreveu as letras de algumas das suas canções e compôs as melodias de alguns sucessos, ainda “insuficiente para desafiar Mozart”, como brincou. Mas sabia escolher jovens músicos iniciantes a quem punha sob suas asas, e tinha um ouvido incomparável para o espírito de seu tempo, uma voz de barítono suave como seda e a aparência arrojada de uma estrela de Hollywood. A popularidade dele resistiu à passagem do tempo, suas músicas para crianças ganham novos fãs ainda no berço, o desafio às convenções continua a seduzir adolescentes rebeldes, suas canções de

amor – requintadamente ternas e românticas – o tornaram querido de jovens e velhos amantes. Arik Einstein ressuscitou, praticamente sozinho, as canções dos primeiros sionistas, os hinos do “Bom e Velho Israel”, os dias da inocência inicial e do otimismo sem limites, quando as esperanças eram elevadas e as possibilidades pareciam infinitas. Mas ele pertencia às gerações de pessoas nascidas entre as décadas de 1930 e 1950. Arik Einstein foi companheiro de armas, o parceiro na vida e o guia para um admirável mundo novo. Ele nos deu o primeiro grupo pop, o primeiro supergrupo, o primeiro rock em hebraico, as primeiras canções de protesto, a primeira rebelião, o primeiro desafio, o primeiro gosto do fruto proibido, a nossa primeira desintoxicação do dogma sufocante e conservador que governava cada parte de nossas vidas. Ele era um vagabundo de praia em Tel Aviv, apreciador de vinho, de mulheres e de música, um consumidor voraz de haxixe libanês antes de se saber bem o que era isso. Ele se tornou uma sensação musical quando tinha 18 anos e juntou-se ao popular conjunto Nahal do Exército, e antes dos 25 anos se transformou em ator, comediante e imitador popular. Mas foi com o Yarkon Bridge Trio, criado em 1964 por ele e outros dois cantores, que Einstein começou a trilhar o caminho do êxito na música israelense, produzindo lendas e hinos, e canções imortais que os israelenses sabem de cor até hoje. Com as versões para o hebraico de músicas dos Beatles e dos Animals, desmamou os israelenses das canções ita-


HEBRAICA

75

| JAN | 2014

ARIK, NESTA FOTO HÁ CERCA DE UM ANO, ERA A MANEIRA CARINHOSA DE CHAMÁ-LO POR SEU VERDADEIRO NOME ARIEH

lianas e francesas com que foram alimentados goela a baixo nos cinquenta e sessenta anos anteriores. Junto com compositor Shmulik Kraus e o cantor nascido nos EUA, Josie Katz, Einstein formou, em 1966, o primeiro grupo pop de Israel, The High Windows, emocionando jovens israelenses com harmonia ao estilo Mamas and Papas e músicas chocantemente irreverentes a respeito da Bíblia e dos militares e, por isso, proibidas tanto pela rádio Israel como pela emissora do Exército. Mas depois que o grupo se separou, Einstein passou a escrever e a interpretar as canções que marcaram uma geração. Com Poozy, deu a Israel o primeiro álbum de rock, juntou futuros cantores, compositores e comediantes famosos no conjunto Shablul, que produziu álbuns fantásticos e, com seu amigo Uri Zohar, realizou comédias muito engraçadas na televisão. Junto com o jovem Shalom Hanoch – mais tarde um deus do rock –, Einstein realizou grandes sucessos e, a partir daí, nunca mais parou tirando da obscuridade um gênio musical

após outro e catapultando-os para o estrelato. Colaborou com os melhores e mais brilhantes, e deu voz a compositores iniciantes e a poetas geniais – desde o clássico Chaim Nachman Bialik ao moderno Yankale Rotblit, entre muitos outros. Einstein cantou a velha Tel Aviv da infância, a paixão pelos esportes, a promessa da juventude e, mais tarde, a decepção, jornalistas preconceituosos e políticos corruptos. E cantou o amor, sempre o amor, produzindo a música de fundo e as letras iniciais que seduziram gerações inteiras. Evitou a política, a divisão entre os israelenses, os territórios e os palestinos, o que lhe possibilitou ficar acima da disputa e ser amado por todos. >>

Einstein cantou a velha Tel Aviv da infância, a paixão pelos esportes, a promessa da juventude e, mais tarde, a decepção, jornalistas preconceituosos e políticos corruptos. E cantou o amor, sempre o amor


76

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > memória | por J. J. Goldberg

>>

Israel era real ou tive um sonho? TALVEZ O TESTAMENTO FINAL DE ARIK EINSTEIN É DE QUE NÃO HAVERÁ TESTAMENTO FINAL, E PARA QUALQUER TRIBUTO LHE FAZER JUSTIÇA ESTAVA PROFUNDAMENTE ENREDADO NA MALHA DE VIDAS COMUNS DE MUITOS

A

rik Einstein foi o artista mais querido de Israel e um dos mais influentes em uma carreira de mais de meio século e 44 álbuns solo em vários gêneros – do folk a baladas pop, do rock clássico à nostalgia dos velhos tempos. Ao gravar o que é considerado o primeiro álbum do verdadeiro rock israelense, em 1969, praticamente sozinho, ele também arrancava Israel daquela cultura musical simplória baseada no acordeon – para, logo em seguida, a partir de 1973, fazer renascer antigas canções dos pioneiros em torno da fogueira, com os álbuns Good Old Eretz Yisrael. Ele lançou a carreira de alguns dos compositores pop mais influentes do país, alguns dos quais amigos íntimos até o fim. Nascido numa família de teatro em Tel Aviv em 1939, na adolescência atuou no movimento de jovens socialistas-sionistas do Hashomer Hatzair. Einstein prestou serviço militar em Lahakat Ha-Nahal, a trupe de entretenimento dos Corpos Combatentes da Juventude, com base no kibutz. A trupe Nahal parecia a incubadora de uma geração de astros pop israelenses. E o jovem Einstein foi o maior deles. No início dos anos 1960 entrou na cena artística de Tel Aviv, como ator cômico. Como cantor, formava e dissolvia bandas aclamadas, mas de curta duração, e aparecia com amigos em filmes memoráveis à moda dos Beatles, e programas de televisão. O primeiro álbum solo é de 1966. Quatro anos depois virou astro e continuou brilhando. Alto e magricela, voz de ouro, homem comum e bonito, a persona de Arik Einstein nos primeiros anos foi o rosto de uma geração nova e despreocupada que emergia do Israel austero e disciplinado dos fundadores, na forma de hedonistas apai-

xonados por diversão em Tel Aviv, boêmios e rebeldes contra o puritanismo. Einstein e seus companheiros, pelo contrário, tornaram-se a nova tendência vigente. Suas canções, algumas escritas por ele, muitas escritas para ele, eram principalmente baladas a respeito do amor, a família e o dia-a-dia. Explicava que era música “principalmente tranquila e introspectiva, porque eu não queria perturbar os vizinhos”. Cada canção foi escrita e arranjada por um único compositor, e geralmente consequência de decisões coletivas. Do ponto de vista musical, as formas evoluíram ao longo do tempo, o que se evidenciava nos álbuns lançados a cada ano, e sempre os mais executados. Em 2010, por exemplo, era o artista mais tocado na rádio israelense. Sendo essencialmente israelense, Einstein também foi um dos poucos favoritos israelenses pop. Outros são Chava Alberstein e o grupo Poogy cujos trabalhos são conhecidos dos judeus da Diáspora. Ani ve-Atá (“Você e eu vamos mudar o mundo”) é cantada em todo o mundo desde o lançamento, em 1970. Uf, Gozal (“Voe, filhote de passarinho”), de 1987, tornou-se música padrão dos acampamentos judaicos de verão e das cerimônias de formatura. Em 1982, Einstein deu uma guinada dramática quando, de repente, decidiu não se apresentar mais em público, embora tenha se mantido ativo até a morte, escrevendo, gravando e conversando com amigos no bar favorito de shawarma, na rua Ibn Gvirol, Tel Aviv. Mas nunca mais se apresentou e raramente dava entrevistas. Abriu uma exceção - a única – no concerto em memória de Itzhak Rabin, em 1995. No verão de 1982 sofreu um grave acidente de carro do qual se recuperou meses depois, mas a sua visão, que nunca foi boa, piorou. Os álbuns seguintes foram Shavir (“Frágil”), Pesek Zman (“Intervalo”) e Ohev Lihiyot Babayit (“Gosto de Ficar em Casa”). Em rápida entrevista, disse que “não foi feito” para a vida pública; as multidões o perturbavam e a adulação o deixava envergonhado.


HEBRAICA

77

| JAN | 2014

ARIK EINSTEIN DURANTE UMA APRESENTAÇÃO EM 1979, COM O CANTOR SHALOM CHANOCH

Em 2008, quando se aproximava a comemoração do seu aniversário de 70 anos, desculpou-se por não poder assistir a uma festa beneficente em sua honra, algo que imaginavam ser agorafobia e, por esta razão, até se ofereceu para “trazer um atestado médico”. Havia também aqueles decepcionados, para quem Israel já não era o país que Arik tinha celebrado e cantado, o país de passado pioneiro e de otimismo rude. O país estava mudando rapidamente, ficando menos idealista, menos liberal e menos secular. Algumas mudanças foram pessoais. No final dos anos 1970, Uri Zohar, o melhor amigo e antigo parceiro de apresentações, desistiu de show business e se tornou rabino ortodoxo. Pouco depois, a ex-mulher de Arik e as duas filhas também viraram religiosas. Estas duas filhas se casaram com dois dos filhos de Zohar. Meses antes de morrer, Einstein comentaria a ironia e os senti-

mentos conflitantes, e a perplexidade de ser avô de quarenta netos, um papel que nunca lhe passara pela cabeça. Em 1973, pode ter insinuado um retorno à melancolia com uma canção do álbum Good Old Eretz Yisrael, a única que não trata dos tempos antigos de Israel. Escrita pelo amigo Yehonatan Gefen é intitulada Yachol Lihiyot Shezé Nigmar (“Talvez Tudo Tenha se Acabado”): “Dizem que se era feliz aqui antes de eu nascer, e tudo foi maravilhoso até que eu cheguei. Um vigia hebraico em um cavalo branco na noite escura. Pelas margens do Lago Kineret, Trumpeldor foi um herói. A pequena Tel Aviv, areias vermelhas, um Bialik... Uma vez, segundo eles, havia um lindo sonho aqui. Mas quando cheguei para ver, não encontrei nada. Talvez tudo tenha se acabado”. Morto, Arik Einstein deixa uma obra que, de acordo com o primeiro-ministro Netaniahu, vai continuar sendo a trilha sonora da vida de Israel. Mas ainda resta uma pergunta não respondida sobre o passado e o futuro de Israel, quando cantava uma de suas gravações mais comoventes, Ve’ulai (“E Talvez”), de autoria da poetisa Rachel: “Você era real, ou eu tive um sonho?”. A quem interessar, uma seleção de vídeos de música de Arik Einstein pode ser ouvida em http://blogs.forward. com/jj-goldberg/

Alto e magricela, voz de ouro, homem comum e bonito, a persona de Arik Einstein nos primeiros anos foi o rosto de uma geração nova e despreocupada que emergia do Israel austero e disciplinado dos fundadores


78

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > showbiz | por Eileen Reynolds *

Curiosidades de “Um Violinista no Telhado” O LIVRO WONDER OF WONDERS, DE ALISA SOLOMON, EXAMINA COMO O MUSICAL UM VIOLINISTA NO TELHADO CONSEGUIU ATINGIR STATUS DE FOLCLORE NO IMAGINÁRIO NORTE-AMERICANO. O MUSICAL ESTREOU NA BROADWAY, EM 22 DE SETEMBRO DE 1964

N

os últimos tempos tornou-se comum, nos Estados Unidos – e logo pode aparecer por aqui – em bar-mitzvot e casamentos, jovens atléticos de kipá, peiot e barbas postiças surgirem do nada para animar as festas, colocar o dono da festa numa cadeira, jogá-lo para o alto e depois executar uma eletrizante “dança da garrafa” tal como se vê na cena do casamento de Um Violinista no Telhado, e o grand fi nale, levam todos para uma divertida hora de 45 minutos. Da mesma forma, esses dançarinos se transformaram em alvos fáceis para detratores de Um Violinista no Telhado, desde os que lamentam que gerações inteiras parecem ter aprendido da prática religiosa judaica a partir das músicas do espetáculo, como Sabbath Prayer e Tradition, até especialistas em ídiche para os quais a trama do musical é um abastardamento das histórias de Tevye, de Sholem Aleichem. A crítica de teatro Alisa Solomon escreveu Wonders of Wonders (“Maravilha das Maravilhas”, Metropolitan Books, 448 páginas, US$ 32) no qual classifica os intérpretes dessas apresentações de “falsos chassidim de aluguel” ao fazer uma análise da história cultural do espetáculo. O interesse de Salomon não é desmerecer o tema de Um Violinista... como kitsch e evita atribuir o crédito ou a culpa dos derivados do musical aos seus criadores que não poderiam ter imaginado caixas de música de cerâmica com a imagem de Tevye, nem mezuzá na forma de Anatevka e nem previsto que os manifestantes de Ocupem Wall Street usariam trechos do show para divulgar suas ideias. Wonder of Wonders examina como Um Violinista..., criado pelo show business da metade do século 20 conseguiu atingir status de folclore no imaginário norte-americano, e se liga como qualquer história deste musical, com questões fundamentais a respeito da identidade judaica. O livro trata da “história da teatralização da narrativa de Tevye, a realização da peça e o significado das colaborações ba-

gunçadas e maravilhosas que são a sua essência”. Para ela a banalização da garrafa não é uma traição a Sholem Aleichem, mas ao diretor e coreógrafo Jerome Robbins, que se esfalfou para recriar a “dança da garrafa” original. As sementes de Um Violinista... foram plantadas em 1918, muitos anos antes de Robbins nascer. As primeiras tentativas de adaptar a obra de Sholem Aleichem para o palco começaram em 1906, quando o próprio autor chegou a Nova York sonhando enriquecer nos prósperos palcos ídiches do Lower East Side. Mas ele morreria antes de alcançar qualquer sucesso teatral real, e, até 1953, quando uma adaptação em inglês das histórias de Sholem Aleichem estreou em uma produção fora da Broadway, no auge da caça aos comunistas, com um elenco composto todo de atores incluídos na lista negra. E Eleanor Roosevelt, em sua coluna no jornal, advertiu os leitores com a sutileza de um paquiderme: “Não acho que porque é sobre os judeus que você não vai gostar”. O livro de Solomon contém as partituras e as letras das músicas, histórias dos bastidores e as origens do musical. É quando entram em cena o libretista Joseph Stein, o compositor Jerry Bock e o letrista Sheldon Harnick, veteranos da Broadway que, em 1960, procuravam dar continuidade a Fiorello!, o sucesso de autoria deles e ganhador dos prêmios Tony e Pulitzer de 1959. Com a única cópia de uma tradução esgotada em inglês das histórias de Tevye, de Sholem Aleichem, os três começaram a esboçar um musical a respeito


HEBRAICA

79

| JAN | 2014

NA ESTREIA EM SETEMBRO DE 1964, NA BROADWAY, A CERTEZA DO ÊXITO

de personagens que, segundo Stein, “por acaso eram judeus”. Ou seja, como os três homens – e quase todos na Broadway viam a si mesmos. Tendo deixado a observância religiosa e o ídiche para trás, eles “responderam à identidade com o gesto judaico de ‘não estou nem aí’”. E, apesar disso, a distância não os impediu de se envolver profundamente com os temas das histórias e suas implicações históricas. Antes de Um Violinista..., um dos nomes propostos para o trabalho foi Where Poppa Came From (“De Onde Poppa veio”). Com o script pronto, precisavam de um ou dois produtores. Hal Prince admitiu financiar o show somente se Jerome Robbins, que mudara para sempre o musical americano com o movimento vernacular e a tragédia lírica de 1957 de West Side Story, dirigisse. Isso poderia ser um tiro no próprio pé porque mais de uma vez Robbins afirmara que “não queria ser judeu”, e até revelou que aprendeu balé para escapar aos passos “maravilhosos e monstruosos” da dança que temia encontrar ao “mergulhar no seu ‘eu’ judeu”. No entanto, em 1959, Robbins viajou à procura de Rozhanka, a pequena cidade polonesa onde o pai nascera e onde Robbins lembrava ter passado um único verão, sentado no joelho do avô, pela primeira vez despreocupado e sem se envergonhar da condição de judeu. Ao empreender a viagem, Robbins pensava em reencontrar a Rozhanka judia que há muito fora destruída, e aquele vagar em busca do shtetl

desaparecido fez Robbins se derramar de ternura sobre a Anatevka ficcional. Enfim, Robbins lançou-se ao projeto com a paixão que o caracterizava. Vasculhou histórias de shtetl e convidou o figurinista e o cenógrafo do espetáculo à sua casa para assistir a filmes como Laughter through Tears (“O Riso através das Lágrimas”), na esperança de que eles absorvessem imagens e sons da vida dos judeus na Rússia, em 1905. Robbins entrevistou o pai para saber como fugira de Rozhanka e se enterneceu com a lembrança do ídiche da avó materna, cujas “formas judias” desprezara anteriormente. Para se inspirar com os eventos locais, Robbins invadiu casamentos em Borough Park, no Brooklyn, às vezes arrastando pessoal do elenco disfarçados em vestimentas hassídicas para observar a dança movida a schnapps que o encantou por aquilo que chamou de “ferocidade viril”. Homossexual que sempre se envergonhara do que entendia como a fraqueza da masculinidade judia, Robbins ficou >>

As primeiras tentativas de adaptar a obra de Sholem Aleichem para o palco começaram em 1906, quando o próprio autor chegou a Nova York sonhando enriquecer nos prósperos palcos ídiches do Lower East Side


80

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > showbiz >>

maravilhado com as “explosivas batidas de pé no chão” que pareciam afirmar uma “força desconhecida”. Na tentativa de trazer os costumes sociais ortodoxos de volta para a sala de ensaios, durante os intervalos Robbins tentou impor a segregação de gênero, política que funcionou apenas algumas horas, e suspendeu antes de os atores protestarem. Alguns dos confrontos mais memoráveis do diretor foram com o ator Zero Mostel, a estrela espalhafatosa e generosamente compensada que Robbins considerava indispensável, e descrevia como “grosseiro, vulgar, mas saudável e satisfeito”. Mostel representava tudo o que Robbins tinha perdido, e o ator parecia saber disso, dominando Robbins pelo maior e melhor conhecimento da literatura ídiche e dos costumes judaicos. Foi Mostel quem insistiu para que Tevye sempre beijasse a mezuzá da porta de casa, e quem convenceu Harnick a não cortar o verso que trata dos sonhos de Tevye de ter um assento na sinagoga voltado para o Muro das Lamentações na canção If I Were a Rich Man. Durante todo o processo criativo, a equipe continuou fazendo importantes mudanças no script até as pré-estreias fora da cidade, em Detroit. Harnick escreveu Wonders of Wonders em seu quarto de hotel, garimpando menções de milagres no exemplar da Bíblia que tinha sempre à mão. Duas semanas antes de Um Violinista... estrear na Broadway, em 22 de setembro de 1964, Robbins ainda mexia na peça. Enfim, obcecado por algo que viu um hassídico do Brooklyn, apelidado de “Sr. Barba Ruiva”, fazer, convocou uma dúzia de dançarinos ao estúdio para aprender a saltar, girar e balançar cada vez mais vigorosamente equilibrando garrafas em cima das cabeças. Como Robbins não permitia truques de palco, a cada apresentação da “dança das garrafas” havia o risco real de ferimentos por estilhaços de vidro. Ao injetar um elemento de perigo na dança, Robbins rebateu o deprimente estereótipo pós-Holocausto do “homem judeu fraco e efeminado” e fez do casamento de Tzeitel e Motel um verdadeiro arraso.

JEROME ROBBINS ENCANTOU-SE COM AS BATIDAS NO CHÃO

No Japão, “tão japonesa” Na noite da estreia, os criadores do espetáculo trocaram presentes: Stein comprou uma mezuzá para Harnick, e Robbins recebeu um shofar e uma kipá branca de seda. O fato é que trabalhar em Um Violinista... havia mudado os quatro homens, aprofundando a identificação judaica deles, e Robbins mais que os outros. Ao fazer Um Violinista..., Robbins recuperou uma parte que descartara de si mesmo e devolveu-a embrulhada em um pacote brilhante a parte do público que também haviam deixado esta herança para trás. O gesto foi recebido com entusiasmo por muitos espectadores judeus, alguns

E depois de Anatevka? Em comemoração ao quinquagésimo aniversário da primeira apresentação de O Violinista no Telhado, este ano, na Broadway, o diretor da Jewish Virtual Library, Mitchell Bard, vai lançar o livro After Anatevka – Tevye in Palestine, no qual Tevye vai com a mulher e as três filhas mais novas – as três mais velhas e respectivas famílias ficam na já União Soviética – morar em um kibutz. São os tempos de conflitos com os árabes, e os britânicos, antes da criação do Estado de Israel, mas também o conflito da religiosidade dele com a religião de trabalho

dos pioneiros. No entanto, se ele se sente pouco confortável com o espírito laico dos novos companheiros e tem a oportunidade de lhes ensinar o espírito das leis e o sentido das tradições. O livro também conta o embate entre ele e as três filhas que, aos poucos, assimilam a cultura e os hábitos do kibutz. No final, segundo o raciocínio de Tevye, o que vale mesmo é o fato de a família se manter unida. After Anatevka – Tevye in Palestine, 366 pp. US$ 13.00 ou US$ 8.99 (e-book), e-mail mitchellbard@gmail.com


HEBRAICA

dos quais revelaram o quanto Anatevka lhes lembrava de outras pequenas cidades polonesas e russas que tinham conhecido, ou então para sugerir suaves “correções” históricas de detalhes que não combinavam muito bem com as suas memórias. À luz dessas respostas iniciais dos fãs, é irônico que os críticos de Um Violinista... também ficassem obcecados com a precisão histórica, criticando a representação da peça como o “shtetl mais bonito que já tivemos”, segundo o crítico Irving Howe. A resposta a isso é óbvia e elegante: “Ninguém espera realismo documental nas apresentações em Nova York de musicais como Guys and Dolls ou West Side Story”. As semelhanças do shtetl fictício com lugares reais começaram a parecer irrelevantes, uma vez que a peça rodou o mundo em produções internacionais no teatro e no cinema em 1971, dirigido por Norman Jewison. E não somente os judeus ansiavam por Anatevka: quando Um Violinista... chegou a Tóquio, o produtor perguntou como os americanos podiam fazer tão bem uma história que era “tão japonesa”. Uma das apresentações mais comoventes de Um Violinista... foi a produção de uma escola em Brownsville, no Brooklyn, durante a greve de um sindicato de professores em razão da integração nas escolas públicas e seu controle pela comunidade.

81

| JAN | 2014

Esse Um Violinista... tinha pré-adolescentes negros e latinos nos papéis principais em um momento em que as tensões entre negros e judeus no bairro haviam atingido o ápice. E, no entanto, os membros do elenco reproduziram a vigorosa declaração de uma corista que participou do original da Broadway que, enquanto trabalhavam no show, vieram a “amar nossa aldeia”. “Ajudou-me a abraçar todas essas pessoas diferentes”, recordase um ator de Brownsville. “Incluindo a mim mesmo.” Um dos primeiros espectadores a chegar aos camarins após a estreia de Um Violinista..., na Broadway , em 1964, foi o pai de Robbins, que abraçou o filho, chorou e perguntou: “Como você sabe tudo isso?”. * Eileen Reynolds escreve frequentemente sobre artes para a Forward

Ao empreender a viagem a Polônia, Robbins pensava em reencontrar a Rozhanka judia que há muito fora destruída, e aquele vagar em busca do shtetl desaparecido fez Robbins se derramar de ternura sobre a Anatevka ficcional TEVYE VAI À PALESTINA, VIVER NO KIBUTZ, COM TRÊS FILHAS. OUTRAS TRÊS FICAM NA JÁ UNIÃO SOVIÉTICA. O QUE ACONTECEU COM ELAS?


82

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > a palavra | por Philologos

Seus dias, e todo o resto, estão contados EUCLIDES E OUTROS GEÔMETRAS GREGOS SABIAM QUE AS LETRAS PODERIAM SER USADAS PARA RESOLVER PROBLEMAS NUMÉRICOS. GEMATRIA É O TERMO RABÍNICO QUE SE APLICA A ENCONTRAR

SIGNIFICADO NO VALOR NUMÉRICO DAS LETRAS DAS PALAVRAS HEBRAICAS

N

a tradição judaica, cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico representa um número – de alef a iud para os números de 1 a 10, a partir de kaf a kuf para 20, 30, etc., até 100, e resh, shin e taf para 200, 300 e 400. Assim, a cada palavra hebraica acrescenta-se a uma soma. O primeiro exemplo é uma nota explicativa rabínica na previsão encontrada em Jeremias, 9:10 a respeito da iminente conquista do Reino de Judá pelos babilônios. Lê-se ali: “Pois as montanhas chorarão e lamentarão... Tanto as aves dos céus e os bovinos fugirão”. Somando-se as letras da palavra behemá, termo em hebraico para “gado”, chega-se a 52 – que, de acordo com o Talmud, é uma profecia dos 52 anos que se passaram entre a destruição do Templo, em 586 antes da Era Comum, pelos babilônios, e o retorno dos exilados da Babilônia em 534 antes da Era Comum. Esta afirmação pode ser encontrada no tratado Shabat, 145b. O segundo exemplo é mais divertido. Defendendo uma indiscrição etílica de parte de dois dos seus filhos em um jantar, o sábio rabino Hiyya é citado pelo tratado de Sanhedrin, 38a, ao observar que “quando o vinho entra [em quem bebe], os segredos saem [ao serem divulgados]”. Podemos ter certeza de que é assim, explica o rabino Hiyya, porque as letras de yayin, ”vinho”, somam 70 , assim como o fazem as letras da palavra sod, “segredo”. Por fim, no terceiro exemplo pergunta-se onde, no Talmud, é possível encontrar a equação da palavra hebraica ayin, “olho” (cujo valor numérico é 130), com mamon, “dinheiro” (130, tam-

bém, se contarmos apenas as consoantes). Isso permitiria interpretar o versículo bíblico sobre “olho por olho” como pedido de indenização monetária por lesão física – e não como olho por olho literalmente. Aqui, infelizmente, isso não é gematria nem é talmúdico, nem mesmo é velho. Um erudito conhecido de rabinos a quem procurei me disse que, não importa quão bem conhecida seja agora a fórmula ayin = mamon, ela foi citada – e encontrada – pela primeira vez em um comentário bíblico do século 20 feito pelo rabino Chaim Ya’akov Layzer. Talvez eu possa oferecer uma compensação na forma de duas outras gematrias talmúdicas que me ocorrem, e estou certo de que há muito mais do que eu possa me lembrar. Um ocorre no tratado Makot, 23b, em que o rabino Hamnuna aponta que o valor numérico da Torá é 611, dois a menos que os 613 mandamentos que se diz que a Torá contém, passando, em seguida, a dar uma explicação acerca dos dois mandamentos desaparecidos. O outro está no tratado Berakhot, 8a. Ali, o rabino Nachman bar Itzhak afirma que existem nada menos que 903 diferentes tipos de morte, baseando-se na gematria da palavra totsa’ot, “resultado”, no verso dos Salmos: “Nosso Deus é o Deus da salvação, e a Deus o Senhor pertence o resultado da morte”. Nem é preciso ser um treinado etimo-


HEBRAICA

TABELA DE CONVERSÃO DE LETRAS HEBRAICAS PARA NÚMEROS E RESPECTIVAS COMBINAÇÕES

logista para adivinhar corretamente que gematria está relacionada à palavra “geometria”. Mesmo assim, à primeira vista isso parece intrigante. “Geometria”, do grego geometria, “medir a terra”, é, como o próprio nome indica, o ramo da matemática que trata de pontos, linhas e formas, e não de números. Como é possível obter, a partir daí, a gematria rabínica? A resposta é que embora os antigos geômetras gregos, como Euclides, tenham de fato trabalhado mais com superfícies bidimensionais do que com números, eles perceberam claramente que as primeiras poderiam ser usadas para representar números e resolver problemas numéricos. Isso, é claro, não diz respeito à simples aritmética. Se um grego antigo tivesse de somar, subtrair, multiplicar ou dividir, ele o fazia com os dedos ou com o ábaco. No entanto, teria recorrido a figuras geométricas ao dar de cara com um problema algébrico. Questionado, por exemplo, “se 5 alqueires de figos são vendidos por 38 dracmas, quanto custaria comprar 17 alqueires?”, ele poderia ter encontrado a resposta ao desenhar o retângulo ABCD em que AB e CD mediam 5 unidades de comprimento e AC e BD 17 unidades; estendendo AB por mais 33 unidades até o ponto E; desenhando EF paralela a AC e BD de modo que fosse interceptada em F por uma linha que atravessava BC, e medindo EF.

Esta foi uma forma geométrica de resolver a equação 5/17 = 38/x. (cinco está para 17, assim como 38 está para xis). Os antigos rabinos estavam bem cientes desse uso da geometria. Tanto é verdade que, em A Ética dos Pais (Pirkei Avot, em hebraico), o rabino Eliezer Hisma se referia a isso quando disse: “Tekufot [acerto de contas de calendário] e gimatriya’ot [álgebra geométrica] são acompanhamentos da sabedoria.” Desta forma, a gematria passou a significar a solução algébrica de problemas matemáticos e, eventualmente, a aritmética simples e o cálculo dos valores numéricos das palavras hebraicas. Este é o sentido em que ela entrou na tradição judaica, em que tanto ela como a técnica por ela designada ainda são encontradas hoje. Perguntas para Philologos podem ser enviadas para philologos@forward. com.

83

| JAN | 2014

Embora os antigos geômetras gregos, como Euclides, tenham de fato trabalhado mais com superfícies bidimensionais do que com números, eles perceberam claramente que as primeiras poderiam ser usadas para representar números e resolver problemas numéricos


L 84 HEBRAICA

| JAN | 2014

leituras magazine

por Bernardo Lerer

Os Israelenses Donna Rosenthal | Évora | 485 pp. | R$ 66,90

Em Israel vivem 0,11% da população mundial, e apesar disso chama a atenção de boa parte da imprensa mundial. Mas o que pensam do próprio país os israelenses, esta gente comum tentando viver uma vida comum em um tempo incomum? É um complexo sistema social e um mosaico da existência humana. Lendo este livro é possível compreender as diversas etnias e culturas que o compõem, judeus que parecem árabes, árabes que parecem judeus, judeus negros, os barbados que parecem ter saído da Idade Média, e os barbados que seguem a moda. Vale a pena.

Heinrich Himmler – Uma Biografia Peter Longerich | Objetiva | 909 pp. | R$ 70,00

É interessante sugerir a leitura desta elogiada biografia do homem que comandou a SS nazista e foi um dos arquitetos do Holocausto que matou cerca de seis milhões de judeus na Europa. Muitos dos que sobreviveram ajudaram a construir o Estado onde vivem “Os Israelenses” da nota acima. De todo modo, principalmente os críticos literários alemães são unânimes em afirmar que nunca um pesquisador foi capaz de penetrar tão profundamente na psicologia de um SS, muito menos do seu líder.

Guerras Estúpidas Ed Strosser e Michael Prince | Record | 320 pp. | R$ 44,00

Uma pesquisa histórica revela que os tempos de paz foram poucos e geralmente dedicados a planejar a próxima guerra ou conflito, muitas delas estúpidas e sem sentido pelos mais diversos motivos como ganância, ignorância, vaidade, tédio e outras. Os autores relacionam dezenove destas guerras duas delas bem próximas de nós, como a Guerra do Chaco e a das Malvinas, mas cita a Quarta Cruzada, a invasão americana da Rússia em 1918, a soviética do Afeganistão, a dos Estados Unidos a Granada e o golpe contra Gorbatchev.

O Castelo de Papel Mary Del Priore | Editora Rocco | 316 pp. | R$ 29,30

A partir da narrativa entrecruzada do casal formado pela princesa Izabel, herdeira do trono do império do Brasil, filha de D. Pedro II, e o Conde D’Eu, um Orléans, neto do último rei da França, a autora conta a intimidade da vida do casal e contextualiza aquele período de um mundo em transição. Na Europa, as monarquias estavam em crise e a nobreza se defendia em arranjos familiares e alianças dinásticas ao mesmo tempo em que a industrialização criava um proletariado cada vez mais ativo.

Forja de Impérios Michael Knox Beran | Editora Record | 615 pp. | R$ 70,00

Em dez anos, de 1861 a 1871, três homens – Abraham Lincoln, Otto von Bismarck e Alexandre II – promoveram mudanças tão profundas nos seus respectivos países a tal ponto que o mundo deixou de ser o mesmo. Muito mais do que uma biografia deles, o livro conta o que fizeram de modo a que seus países se transformassem em superpotências que, menos de um século depois, disputavam palmo a palmo quem teria mais domínio sobre a face terrestre. Leitura obrigatória.


HEBRAICA

85

| JAN | 2014

O Manipulador John Grisham | Rocco | 352 pp. | R$ 34,50

Um dos mais conhecidos escritores de romances policiais que têm por cenário as lutas nos tribunais, o personagem deste é Malcolm Bannister, advogado, ex-fuzileiro naval, negro, condenado à prisão por falcatruas e o nome na lista do FBI, Malcolm passa o tempo na cadeia escrevendo um diário e pensando em como se vingar daqueles que o prejudicaram para isso se valendo de um artigo da justiça americana que corresponde à delação premiada, no Brasil.

Contos da Nova Cartilha / Segundo Livro de Leitura Liev Tolstói | Ateliê Editorial | 136 pp. | R$ 50,00

O livro é ilustrado pelas crianças da Escola Infantil de Artes número 9, de Ijevsk, na Rússia, e traz 38 narrativas escritas a partir de fábulas, histórias reais, contos folclóricos e outros textos que eram usados em sala de aula na escola rural criada pelo escritor russo, preocupado com a educação das crianças e dos pequenos camponeses. Nestes livros, Tolstói considerava essencial uma pedagogia nascida da experiência da liberdade, mais a prática cotidiana e a infindável imaginação e fantasia.

Imobilismo em Movimento Marcos Nobre | Companhia das Letras | 204 pp. | R$ 36,00

Com o subtítulo “Da Abertura Democrática ao Governo Dilma”, o autor, professor de filosofia na Unicamp, tenta dar sentido aos eventos nacionais depois da Constituição de 1988 aí incluídos os escândalos em todos os governos e chega até as manifestações de rua de junho último. Ele explicita o fenômeno do pemedebismo (PMDB), espécie de blindagem que represa as forças de transformação reduzindo a política de alianças em balcão de negócios e a prática política em moralismo de resultados.

Pois Não, Chef Marcus Samuelsson | Editora Rocco | 416 pp. | R$ 49,50

Marcus nasceu Kassahun na Etiópia. Em 1972 a tuberculose internou Kassahun, a mãe Ahnu e a irmã Fantaye num hospital em Adis Abeba, depois de caminharem 120 quilômetros. A mãe morreu e a família Samuelsson, da Suécia, adotou os dois órfãos de 3 e 5 anos. Discriminado fora de casa, Marcus entrou no curso de gastronomia da escola técnica de Gotemburgo, formou-se, trabalhou em dois restaurantes suecos, um hotel na Suíça, outro na Áustria, em navios e, finalmente, Nova York, onde ganhou prêmios.

A Causa Secreta e Outros Contos de Horror Machado de Assis, Conan Doyle e mais | Companhia das Letras | 145 pp. | R$ 24,50

O livro reúne o que considera o que há de mais importante na literatura dedicada ao gênero horror desde o precursor Edgard Allan Poe e a atmosfera aristocrática das abadias do príncipe Próspero, a crueldade psicológica do personagem Fortunato de A Causa Secreta, de Machado de Assis, a morte surpreendente de Elias, um cientista que sofre a vingança de um bicho em A Selvagem, do irlandês Bram Stocker, autor da mais famosa história de vampiro, Drácula (1897). Tem ainda Guy de Maupassant, Robert Louis Stevenson e Arthur Conan Doyle.

Machado de Assis Silvia Maria Azevedo e outras | Editora Unesp | 721 pp. | R$ 68,00

Com o subtítulo “Crítica Literária e Textos Diversos”, este livro apresenta Machado de Assis como crítico literário, e escrevendo da mesma forma maravilhosa como em seus contos, e ao mesmo tempo revolve os primórdios da atividade da crítica no Brasil que floresceu juntamente com a própria literatura brasileira em meados do século 18, num momento em que a literatura despontava no meio intelectual como um dos poderosos elementos para ajudar a legitimar a nação recém-emancipada.


86

| JAN | 2014

M HEBRAICA

músicas magazine

por Bernardo Lerer

Vivaldi Concertos The English Concert – Trevor Pinock | Archiv Produktion | R$ 49,90

Em cinco cd’s e 260 minutos de música fantásticas gravações feitas em meados da década de 1980 e remasterizadas, o que de melhor o prolífico compositor italiano (16781741) produziu em três décadas de trabalho, para cordas, flauta, oboé e fagote, entre elas obras conhecidas, como La Tempesta del Mare, Il Gardelino, e composições para bandolim e alaúde, todas executadas com instrumentos de época.

Schubert Sony | R$ 64,90

Neste cd, três das mais importantes obras de Schubert: o Quinteto com Piano A Truta, a Sonata para Piano e Arpeggione e o Adágio Notturno, para trio com piano. A sonata chamada exatamente de Arpeggione é fantástica pela possibilidade de adaptação para os mais diversos instrumentos e formações. Estas composições marcam a maturidade de Schubert e o amplo domínio de todas as técnicas.

The Debussy Experience Warner | R$ 29,90

Este cd faz parte de uma coletânea produzida pela gravadora reunindo as principais obras dos grandes compositores. Isso explica porque, destes dois cd’s do álbum, com 27 faixas, constam peças como Pélleas et Mélisande, Poissons d’Or , Fêtes, Nocturnes, Clair de Lune, La Mer, Prélude à l’Après-midi d’um Faune, La Fille aux Cheveux de Lin, e outras.

Also Sprach Zarathustra – Don Juan Deutsche Grammophon | R$ 42,90

Duas obras fundamentais de Richard Strauss executadas pela Filarmônica de Berlim e conduzidas pelo antigo nazista Herbert von Karajan, redimido pelos aliados. A peça a respeito de Zaratustra é baseada num livro de Friedrich Nietzsche e que Strauss transformou em um poema sinfônico mais conhecido somente dos melômanos e que se disseminou com o filme 2001, uma Odisseia no Espaço.

Rossini Claudio Abbado | Deutsche Grammophon | R$ 319,90

Numa única caixa, para colecionadores, coletânea de quatro óperas de Gioacchino Rossini (1792-1868) – L’Italiana in Algeri, Il Barbiere di Siviglia, La Cenerentola, Il Viaggio a Reims ossia L’Albergo de Giglio d’Oro – reunião das óperas bufas, melodramas bem-humorados e de dramas mesmo, do fantástico compositor, executadas por várias orquestras europeias, todas regidas por Claudio Abbado.


HEBRAICA

87

| JAN | 2014

Requiem Giuseppe Verdi | EMI Classics | R$ 24,90

É Claudio Abbado, novamente, quem rege a Filarmônica de Berlim e o coro da Rádio da Suécia, agora na interpretação desta obra sacra de Giuseppe Verdi (1803-1901) escrita pelo notável compositor italiano em homenagem ao poeta e romancista Alessandro Manzoni a quem Verdi muito admirava, e como que para mostrar que ele também sabia escrever música sacra tão bem como suas consagradas óperas. Houve uma época em que era chamada de Requiem de Manzoni.

Mayr – Te Deum e Mozart – Missa Solemnis Naxos | R$ 29,90

Um cd junta duas peças sacras: a Missa Solene de Mozart, que alguns atribuem ao pai dele, Leopold, mas muito popular no final do século 18, interpretada por várias orquestras uma delas conduzida por Simon Mayr (1763-1845), que copiou a partitura original em 1802 e a divulgou ao mundo daquela época. Mayr escreveu uma missa executada para a cerimônia de coroação de Napoleão como rei da Itália.

Sacrificium Decca | R$ 44,90

O título se justifica porque diz respeito ao sacrifício imposto em nome da música a milhares de jovens cantores que eram castrados antes de atingir a puberdade para que o timbre das vozes ficasse mais agudo. Estas obras, onze das quais gravadas pela primeira vez, se ajustam perfeitamente ao timbre da soprano Cecilia Bartoli. Os castrati mais famosos foram Farinelli e Caffarelli, ambos de Nápoles.

Erik Satie Philips | R$ 54,90

Depois que o mundo conheceu as Gnossienes, as Gymnopédies, Ogives e Trois Sarabandes, mas principalmente as duas primeiras, a música virou de pernas para o ar. Erik Satie estava sempre um passo adiante dos contemporâneos e foi o precursor do minimalismo, da música repetitiva e do Teatro do Absurdo. Preferia ser chamado de fonometrista, isto é, alguém que mede os sons, em vez de músico.

Art of Love Deutsche Grammophon | R$ 79,90

Guillaume de Machaut (1300-1377) foi um poeta e compositor francês da Idade Média – um dos poucos, se não o único, daquela época de quem se tem informações. Foi considerado o último poeta que também compunha músicas, algumas delas neste álbum com o subtítulo de “velhas canções de amor com vozes de hoje” interpretadas por gente como Milton Nascimento, Madeleine Peyroux e Cyro Baptista.

Satchmo at Pasadena Decca | R$ 49,90

Quando Louis Armstrong (1901-1971) e seu grupo The All Stars se apresentavam em qualquer lugar do mundo, e principalmente nos Estados Unidos, era um verdadeiro acontecimento, e assim foi também em janeiro de 1951, na cidade de Pasadena (Califórnia), em um concerto de jazz durante o qual tocou trumpete e cantou com a voz rouca com a qual imitava certos instrumentos.

Os cd’s acima estão à venda na Livraria Cultura ou pela internet www.livrariacultura.com.br. Pesquisem as promoções. Sempre as há e valem a pena


88

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > Nelson Mandela (1918-2013) | por Richard Kreitner

O revolucionário e os camaradas judeus FOI NOS TEMPOS NA UNIVERSIDADE WITWATERSRAND, CONHECIDA POR “WITS”, QUE TAMBÉM ACEITAVA ESTUDANTES NEGROS, EM JOHANESBURGO, QUE NELSON MANDELA FORMOU UM NÚCLEO DE ATIVISTAS QUE O ACOMPANHARIA A VIDA TODA. A MAIORIA DELES ERA FORMADA POR JUDEUS E TRAZEMOS A HISTÓRIA DE ALGUNS

E

m 1963, a polícia sul-africana prendeu seis judeus e sete negros durante batida em um esconderijo do Congresso Nacional Africano (CNA), em Rivonia, nos arredores de Johanesburgo. Era uma operação pente fi no que prendeu Nelson Mandela por mais de 25 anos. Ao noticiar o fato, um jornal nacionalista branco perguntou se os judeus estavam descontentes na África do Sul. A resposta do Conselho de Representantes da comunidade foi firme, e o oposto era verdade, garantindo que os judeus da África do Sul eram leais e patrióticos. E insistiu em que “nenhuma parte da comunidade pode ou deve se responsabilizar pelos atos de uns poucos”. Com o tempo, Mandela virou um herói e as ações daqueles poucos se tornaram questão de orgulho para os judeus sul-africanos. Desde os tempos na Universidade Witwatersrand, também conhecida por “Wits”, que também aceitava estudantes negros, em Johanesburgo, e mais tarde como estagiário em um escritório de advocacia judeu, a vida política de Nelson Mandela esteve profundamente entrelaçada com a de ativistas judeus que, em graus diferentes, encontraram na própria identidade judaica a razão para se opor a um sistema que, embora bastante acolhedor para eles, tratava os negros de uma forma que muitos desses filhos de refugiados europeus consideravam tragicamente familiar. Enquanto a maioria dos judeus da África do Sul adotou o silêncio como expressão do caráter conservador do Conselho de Representantes, a grande maioria dos sul-africanos brancos envolvida na luta contra o apartheid era constituída de judeus. Muitos, comunistas. A maioria, advogados. Poucos eram ricos. Mas todos enfrentaram o que se descreveu como “dupla marginalidade”: não totalmente aceitos como brancos e, ao mesmo tempo, marginalizados no interior de uma comunidade judaica organizada e em dívida com o poder. O fato de que tantos judeus tenham se privado do conforto de uma vida relativamente privilegiada – e em pelo menos um caso abriu mão da própria vida – para se juntar a Mande-

la e ao CNA, apesar da pouca participação material em relação a seus companheiros negros, é prova do legado que esses judeus trouxeram da Europa para o outro lado do globo. Eis alguns destes judeus que marcharam com Mandela todos os passos do caminho. Lazar Sidelsky Nasceu na África do Sul, filho de refugiados da Lituânia, foi criado nas terras altas do Transvaal e custeava a faculdade Wits tocando violino na banda de jazz Skoenie and his Connecticut Yankees. Até o início dos anos 1940 foi sócio de uma das maiores firmas de advocacia de Johanesburgo, e era responsável por um programa que ajudava negros sul-africanos a obter hipotecas que, de outra forma, lhes seriam negadas. Um dia, em 1942, Walter Sisulu, um membro do CNA, apresentou-lhe Nelson Mandela, na época com 24 anos, a quem Sidelsky contratou como estagiário, lá como no Brasil, um passo importante para Mandela se qualificar como advogado, algo ousado para uma empresa, naquela época. “Era uma firma judaica”, Mandela escreveu mais tarde na autobiografia Longo Caminho para a Liberdade, “e, na minha experiência, descobri que os judeus têm a mente mais aberta do que a maioria dos brancos em questões de raça e política, talvez porque eles próprios foram, historicamente, vítimas de preconceito”.


HEBRAICA

89 | JAN | 2014

NESTA FOTO COM MANDELA, SHIMON PERES PARECE EXTASIADO DIANTE DO LÍDER AFRICANO

Mandela trabalhou na firma de Sidelsky até o bacharelado, por correspondência, e, mais tarde, durante o curso de direito na Wits. Em 1952, Sidelsky emprestou dinheiro para Mandela instalar o primeiro escritório de advocacia negro da África do Sul. Quando Mandela casou-se com a segunda mulher, Winnie, em 1957, a procissão do casamento passou diante da casa de Sidelsky em sinal de respeito. Em um almoço kasher na casa de Mandela, alguns anos antes de Sidelsky morrer, em 2002, aos 90 anos, o primeiro presidente negro da África do Sul ainda se referia ao seu antigo mentor como “chefe”. Nat Bregman Primo de Lazar Sidelsky, e antigo membro do Partido Comunista, Nat Bregman tornou-se funcionário na firma de advocacia de Sidelsky um ano antes de Mandela. O escritório funcionava em um edifício com elevadores segregados, para negros e brancos, mas Bregman sempre acompanhava Mandela naquele reservado aos negros. No livro de memórias, Mandela descreve Bregman – “Natie” – como o primeiro amigo branco. No começo da amizade, Bregman levou o cético amigo a encontros de comunistas, quase todos negros e judeus. Mas enquanto Mandela se impressionava

com o “grupo alegre e sociável de pessoas que parecia não prestar atenção à cor”, mais tarde escreveu que o Partido o desapontou pela “antipatia à religião” e ênfase em classe social em vez de raça. Com o tempo, Bregman tornou-se religioso, e dividia a atividade de jurista com a de comediante animando festas de casamentos e bar-mitzvot, durante as quais era muito aplaudido pelas perfeitas imitações de Winston Churchill e Franklin Roosevelt. Bregman morreu de insuficiência renal em 2011. Arthur Goldreich Nasceu em 1929 em uma família orgulhosa de pertencer à elite anglo-judaica. Na escola onde estudou, no Transvaal do norte, como um professor de alemão emprestara revistas da Juventude Hitlerista aos alunos, Goldreich escreveu ao então primeiro-ministro Jan Smuts pe>>

Mandela trabalhou na firma de Sidelsky até o bacharelado, por correspondência, e, mais tarde, durante o curso de direito na Wits. Em 1952, Sidelsky emprestou dinheiro para Mandela instalar o primeiro escritório de advocacia negro da África do Sul


90

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > Nelson Mandela (1918-2013) >> dindo permissão para aprender hebraico em vez de alemão. Smuts concordou. Goldreich começou a estudar arquitetura, mas em maio de 1948 – mesma época em que o Partido Nacional venceu as eleições parlamentares, deflagrando a política oficial do apartheid na África do Sul –, foi para Israel em um pequeno barco, repleto de sobreviventes do Holocausto, para se juntar ao Palmach. Em 1954, retornou à África do Sul e ingressou no Partido Comunista, na clandestinidade. Um notório dândi, Goldreich usava roupas de tweed e botas de montaria e frequentava o clube de polo. Mas era tudo disfarce: essa persona ao estilo Gatsby adotada por Goldreich lhe permitia viajar pelo mundo levantando dinheiro para o CNA e foi a cobertura perfeita para comprar uma fazenda, a que deu no nome de Liliesleaf, nos arredores de Johanesburgo, de onde a milícia do CNA, a Umkhonto we Sizwe –“A lança da Nação” – poderia planejar e executar a campanha de violência contra o Estado. Em 1961, Mandela mudou-se para a fazenda, onde viveu disfarçado de jardineiro. Em 1963, a polícia deu uma batida na fazenda, e ao prender Goldreich o governo disse que se tratava do “maior peixe a cair na rede”, em parte por seu papel na elaboração de planos de batalha a partir da experiência adquirida no Palmach, e também em razão da opinião corrente no governo de que judeus como Goldreich incentivavam a rebelião dos negros. Goldreich subornou um guarda para não ser julgado ao lado de Mandela. Deu-lhe 4.000 rands – equivalente ao preço de um novo carro Studebaker, sonho de consumo do guarda – e fugiu para a Tanzânia. De lá, Goldreich voltou para Israel, foi viver em Herzliya, e fundou o Departamento de Arquitetura na Academia Bezalel

de Artes e Design, em Jerusalém. Mais tarde, tornou-se um dos maiores críticos do governo israelense pelo tratamento dispensado aos palestinos e descreveu a ocupação da Cisjordânia e de Gaza como “bantustanismo” (referência a bantustão, nome que se dá à ocupação estrangeira de um território) em entrevista ao jornal britânico The Guardian. Goldreich morreu em Tel Aviv em 2011.

ABAIXO, ARTHUR GOLDREICH PRESTA DEPOIMENTO NA DELEGACIA, MAS FOGE DA PRISÃO SUBORNANDO GUARDA; AO CENTRO, JOE SLOVO DÁ UMA PALESTRA POUCO TEMPO DEPOIS DO FIM DO APARTHEID; À DIREITA, ETHEL

WALT, ATIVISTA DO BLACK SASH QUE DAVA ASSISTÊNCIA JURÍDICA A NEGROS QUE VIOLAVAM AS LEIS RACIAIS

Harold Wolpe Wolpe se politizou depois de participar de um projeto da juventude socialista-sionista de ensino em uma escola noturna local para negros, onde testemunhou a desumanização que uma sociedade racista provoca. Ficou amigo de Mandela e outros ativistas no curso de direito na Wits, e tornou-se um dos principais advogados de Mandela que, em 1955, integrava a cúpula política do Congresso do Povo. Wolpe entrou com uma ação judicial para impedir a presença da polícia no local do encontro dos ativistas do Congresso. Advogou a favor de Mandela até um ano antes da prisão definitiva do líder africano na batida policial na fazenda Liliesleaf, em que Wolpe também foi


HEBRAICA

detido. Fugiu com Goldreich, mas em vez de Israel foi para a Inglaterra. Tornou-se um influente sociólogo cujo trabalho acadêmico apresentado em 1972, Capitalism and Cheap Labour Power in South Africa (“Capitalismo e Mão-de-Obra Barata na África do Sul”), conseguiu juntar as críticas políticas e econômicas ao regime do apartheid. Wolpe provava que o regime suprimiu o surgimento e evolução de um proletariado urbano e, portanto, diferia em grau e tipo em relação à segregação racial comum. Segundo o ativista e historiador sul-africano Dan O’Meara professor na Universidade de Quebec, em Montreal, o trabalho de Wolpe “reformulou a maneira pela qual um grande número de pessoas viam o apartheid na África do Sul, e desta forma deu enorme contribuição para acabar com isso”. Wolpe retornou à África do Sul em 1991 e dirigiu os assuntos referentes à política de educação da Universidade de Western Cape, até morrer, aos 70 anos, em 1996. Yossel Mashel Slovo Mais conhecido como Joe, ingressou no Partido Comunista em 1942 e mentiu sobre a idade para integrar o exército sul-africano na campanha da Itália, durante a Segunda Guerra. Depois da guerra, Slovo tornou-se membro ativo na Legião Springbok, uma associação radical de veteranos, e estudou direito na Wits, onde conheceu Mandela. Pouco antes de se formar, casou-se com Ruth First, filha de um líder do Partido Comunista. “Tiramos meia hora de nossos respectivos trabalhos para casar”, escreveu em uma autobiografia inacabada, segundo o livro Ruth First and Joe Slovo in the War Against Apartheid (“Ruth First e Joe Slovo na Guerra contra o Apartheid”).

91

| JAN | 2014

A casa era o local onde grupos radicais se organizavam em partidos e discutiam política. Certa vez, em uma das habituais visitas à casa, na década de 1950, a polícia confiscou um exemplar de O Vermelho e o Negro, de Stendhal, por causa do título. No final dos anos 1950, Joe era a principal ligação do Partido Comunista com o CNA, e parceiro de Mandela na organização da milícia Umkhonto we Sizwe. Slovo e First foram presos e julgados no famoso Julgamento por Traição de 1956, em parte realizado em uma antiga sinagoga de Pretória, aliás o único registro da presença de ambos em uma sinagoga. Slovo estava em Londres quando Liliesleaf foi invadido, em 1963, e se juntou a First e aos filhos. Nos primeiros anos de militância no Partido Comunista, Slovo foi um fervoroso stalinista, mas no final da década de 1980 tornou-se crítico do “socialismo sem democracia”. Depois da libertação de Mandela, em 1990, e da legalização do Partido Comunista, Slovo voltou à África do Sul e foi um dos artífices do acordo de partilha de poder e para que a transição em favor de um governo da maioria, após o fim do apartheid, em 1994, fosse relativamente suave. >>

No livro de memórias, Mandela descreve Bregman – “Natie” – como o primeiro amigo branco. No começo da amizade, Bregman levou o cético amigo a encontros de comunistas, quase todos negros e judeus


92

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > Nelson Mandela (1918-2013)

>> Mandela foi o último visitante que Slovo recebeu antes de morrer, em 1995, e Mandela lhe fez um elogio fúnebre que emocionou a todos. Na ocasião, o ativista negro Khoisan X, uma geração mais jovem que Mandela, lembrou-se da pergunta de um amigo do filho, ao ver a foto dele e Slovo juntos: “Por que seu pai está apertando a mão de um branco?” Resposta do filho de Khoisan: “Este não é um branco. Este é Joe Slovo”.

ACIMA, OS DIRIGENTES DO SOUTH AFRICAN

JEWISH BOARD OF DEPUTIES CRITICAVAM OS JUDEUS QUE LUTAVAM CONTRA O APARTHEID.

MAS MANDELA OS VISITOU; À DIREITA,

Ruth First Nasceu em 1925, filha de imigrantes letões que participaram da fundação do Partido Comunista da África do Sul. Primeira da família a cursar uma faculdade, First fundou a Liga de Estudantes Progressistas em Wits e ficou amiga de Mandela, a quem descreveu como “de boa aparência, muito orgulhoso, muito digno, muito irritadiço, bastante sensível, e talvez até mesmo arrogante”. Muitas vezes comparada a Rosa Luxemburgo pela devoção à luta, First editou vários jornais da esquerda radical nos anos 1940 e 1950 e foi muito atuante na política revolucionária. Em 1963, First foi detida na biblioteca Wits e ficou quatro meses na prisão. A respeito desse período escreveu o livro de memórias, 117 Days (“117 Dias”). Os camaradas de First da etnia xhosa a chamavam de yimazi efa neenkati – a égua que se mantém passo a passo com os garanhões. No exílio, em Londres, First foi designada observadora das Nações Unidas para a África e publicou textos e discursos de Mandela no livro No Easy Walk to Freedom (“Não Há

EM MAIO DE 1994, JÁ ELEITO, VAI AGRADECER A COMUNIDADE NA SINAGOGA DE

CAPE TOWN

Caminho Fácil para a Liberdade”). Em 1977, mudou-se com Slovo para Maputo, capital de Moçambique, antiga Lourenço Marques, onde lecionou e continuou muito ativa no movimento contra o apartheid. First trabalhava normalmente em seu escritório na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Era 17 de agosto de 1982, abriu o pacote endereçado a ela e a bomba explodiu em seu rosto. Tinha 57 anos. Descobriu-se mais tarde que o pacote foi enviado por agentes do serviço secreto da África do Sul. James Kantor Em 1950, James Kantor era um dos mais famosos advogados de Johanesburgo. Vestia ternos do melhor corte inglês, dirigia carros americanos e vivia em uma grande casa com piscina e mordomo. Kantor namorava modelos e até casou-se com uma, Barbara. Mas a irmã de James era mulher de Harold Wolpe, e Kantor dizia desconhecer o envolvimento de Wolpe em atividades ilegais, entre elas a lavagem de dinhei-


HEBRAICA

ro para ajudar Goldreich a comprar a fazenda Lilesleaf. Contratar Wolpe para trabalhar na firma de advocacia James Kantor & Partners foi o suficiente para torná-lo cúmplice de conspiração contra o Estado. Na já famosa batida policial em Rivonia, Kantor foi o advogado de Mandela até ser preso também, logo depois da fuga de Goldreich e Wolpe. Até então Kantor não integrava qualquer movimento de resistência e dizia-se que era refém do governo até que os fugitivos retornassem. Ele dividia a cela com Mandela, que foi padrinho do filho de Kantor. Na manhã do dia em que o juiz Quartus De Wet decidiria o pedido de libertação de Kantor, ele andava de um lado para o outro na cela. Para dar boa sorte, Mandela sugeriu que trocassem as gravatas. Ao ouvir a sentença que o libertava, Kantor balançou a gravata emprestada por Mandela “como uma espécie de saudação e despedida”, escreveu Mandela em Longo Caminho para a Liberdade. Pouco depois de sair da cadeia, Kantor largou a advocacia e foi viver em Londres, onde morreu de ataque cardíaco, em 1974. Tinha 47 anos. Helen Suzman Helen Suzman, nascida Gavronsky, foi durante muitos anos o único membro do Parlamento sul-africano que se opunha ao apartheid e era frequentemente alvo de ataques sexistas e antissemitas. “Volte para Israel!”, diziam, embora tivesse nascido em Germiston, cidade mineira da África do Sul. Era vigiada pelas forças de segurança e quando percebia o

telefone grampeado soprava um apito estridente. No exercício das suas prerrogativas parlamentares, visitou Mandela oito vezes na prisão – o que deu mais visibilidade internacional ao caso e legitimidade à causa. Segundo o historiador Gideon Shimoni, Suzman se mantinha distante da comunidade judaica local, a quem criticava por não se manifestar contra o apartheid. Quando, em 2007, o Conselho de Representantes concedeu a Suzman o prêmio humanitário anual, ela disse: “Já estava na hora”. Embora duas vezes indicada para o Prêmio Nobel da Paz, ela foi duramente contestada porque se opunha às sanções internacionais e ao desinvestimento proposto pelas grandes nações, pois “para mim a destruição da economia de um país não é garantia de uma sociedade mais estável e justa”, – e foi acusada por inimigos dentro e fora da África do Sul de prolongar o apartheid ao participar de um sistema político flagrantemente injusto. Suzman morreu no Ano Novo de 2009. >>

93

| JAN | 2014

O ativista negro Khoisan X lembrou-se da pergunta de um amigo do filho, ao ver a foto dele e Slovo juntos: “Por que o seu pai está apertando a mão de um branco?” Resposta do filho de Khoisan: “Este não é um branco. Este é Joe Slovo”


94

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > Nelson Mandela (1918-2013) | por Geoff Sifrin

ESTA É A TEMIDA THULI MADONSELA, PROTETORA PÚBLICA, ESPÉCIE DE OMBUDSMAN

Menos judeus e mais antissionismo A ATUAL COMUNIDADE JUDAICA DA ÁFRICA DO SUL PAÍS É A METADE DE HÁ QUARENTA ANOS E OS SEUS INTEGRANTES TEMEM SER ACUSADOS DE RACISMO SE CRITICAREM O GOVERNO NEGRO. OS ÚLTIMOS QUARENTA ANOS TAMBÉM TESTEMUNHARAM UMA MUDANÇA NA NATUREZA DA ATUAÇÃO DOS JUDEUS NA SOCIEDADE SUL-AFRICANA

U

m recente encontro de jovens judeus na África do Sul convidou a campeã anticorrupção do país, Thuli Madonsela, para uma reunião na sinagoga Sydenham, em Johanesburgo. A maioria dos judeus da África do Sul tem boas relações com Madonsela que, na condição de protetora pública (equivalente a om-

budsman em outros países), vem investigando a má aplicação de dinheiro público em Nkandla, a residência pessoal do presidente Jacob Zuma. Zapiro, o mais famoso caricaturista político da África do Sul, e cujo nome verdadeiro é Jonathan Shapiro, retratou Madonsela como um cavaleiro galopando em direção a Nkandla, e passando por cima dos funcionários que tentavam impedi-la. Embora Madonsela não seja uma política profissional, suas ações para apertar o governo fazem os sul-africanos mais velhos se lembrar de um “cavaleiro” de épocas passadas, a judia ferina do Partido Progressista (antiapartheid) e membro do Parlamento Helen Suzman. Durante treze anos Suzman foi a única


HEBRAICA

parlamentar judia de um Legislativo dividido por raças, e muitas vezes constrangeu o governo perguntando aos ministros a respeito das leis raciais que humilhavam os negros sul-africanos. Um ministro a acusou de fazer perguntas embaraçosas e ela respondeu: “O que envergonha a África do Sul não são minhas perguntas mas as suas respostas”. Os judeus votavam esmagadoramente nela e em seu partido. Os judeus foram importantes na política sul-africana em todos os níveis. O Partido Progressista foi representado por Suzman e pelo ex-líder Tony Leon, por Selma Browde e Harry Schwarz. O Congresso Nacional Africano (CNA), o movimento de libertação que se tornou o partido do governo, em 1994, contou com judeus como Joe Slovo, Ronnie Kasrils e Denis Goldberg. Os judeus também tiveram papel significativo na política municipal. Vinte e dois dos 94 prefeitos da história de 120 anos de Johanesburgo eram judeus. Desde 1907, a Cidade do Cabo teve 13 prefeitos judeus. Atualmente, no entanto, os judeus estão afastados da política formal. Dos poucos remanescentes, a maioria está no final da carreira política como o deputado do CNA Ben Turok, 86 anos, que junto com o falecido Lionel Bernstein e outros judeus participaram da elaboração da Carta da Liberdade de 1955 – o documento-chave da luta de libertação. Aqui e ali, podem ser encontrados alguns políticos judeus mais jovens como Jack Bloom, já um veterano da Aliança Democrática (liberal) e líder da oposição na Assembleia Legislativa Provincial de Gauteng. Segundo Bloom, os judeus tiveram papel fundamental para garantir que durante os anos do apartheid, o CNA se mantivesse multirracial. Isso explica porque metade dos réus brancos no Julgamento de Traição de 1956 era constituída de judeus, e assim também todos os cinco réus brancos no infame Julgamento de Rivonia. Bloom: “Se eles não estivessem entre os muitos negros acusados, a existência de pouquíssimos brancos teria deixado a atmosfera racial mais dura e a ideologia do CNA poderia ter se desviado do firme rumo não-racial. Outro exemplo: o primeiro emprego de Nelson Mandela depois de se formar advogado foi na firma de advocacia do judeu Lazar Sidelsky. E ninguém faria isso. O ativista Walter Sisulu, companheiro de Mandela durante muitos anos na prisão de Robben Island conta que se Sidelsky não o tivesse empregado, Mandela poderia ter voltado para a sua terra natal no Transkei e virado um chefe tribal”. Influência política menor Os judeus da África do Sul votarão nas eleições do próximo ano, mas a participação deles na direção dos partidos será muito pequena. Alguns judeus consideraram certos incidentes recentes no CNA como antissemitas e anti-israelenses. Em um deles, o líder do partido na região do Cabo Ocidental cortejou eleitores muçulmanos ao afirmar que a Aliança Democrática apoia Israel e favorece os judeus em detrimento dos muçulmanos. Os judeus se inclinam principalmente para a Aliança Democrática.

Nos tempos em que somente os cinco milhões de eleitores da população branca do país podiam votar e ser eleitos, os judeus sempre se destacaram. Mas atualmente são muito menos visíveis, e se perdem em meio aos cinquenta milhões de eleitores, predominantemente negros. Além disso, a população judaica sul-africana é aproximadamente a metade do que era nas décadas de 1960 e 1970. Além disso, os brancos temem ser acusados de racismo se criticarem o governo negro. Os judeus do país se tornaram mais religiosos, voltados para si mesmos e, hoje, a influência judaica é mais evidente principalmente nos negócios, nas artes e nas profissões. Considerando sua história de políticos ilustres, os judeus sul-africanos continuarão afastados das funções políticas diretas? Eles ainda têm opiniões firmes. Mas, embora convidem pessoas como Madonsela, por exemplo, para encontrá-los, passaram a carregar o sentimento de estrangeiro e do forasteiro, ao contrário dos dias em que Helen Suzman se sobressaía no parlamento. Para muitas das novas elites políticas negras do país, liberais como Suzman parecem notas de rodapé da história. Em entrevista anos antes de morrer, em 2009, Suzman disse ter sido “apagada” da história sul-africana. Segundo Bloom, a ausência de judeus faz parte da retirada geral dos brancos da política formal “e a energia judaica foi redirecionada para o ativismo social e cívico, como a criação de serviços de ambulância, projetos de desenvolvimento em comunidades carentes, etc.” ONG’s judaicas como Ma’Afrika Tikkun – da qual Nelson Mandela era patrono – realiza projetos de melhorias em comunidades negras em todo o país. Empresas judaicas e benfeitores privados sustentam essas causas. “Outro exemplo da atuação judaica no país é de pessoas como o governador do Banco Central da África do Sul, Gill Marcus, cuja assinatura aparece nas cédulas”, diz Bloom. Por enquanto, todavia, há poucos sinais de que os judeus da África do Sul estariam de volta à política formal.

95

| JAN | 2014

Alguns judeus consideraram certos incidentes recentes no CNA como antissemitas e antiisraelenses. Em um deles, um líder do partido cortejou eleitores muçulmanos ao afirmar que a Aliança Democrática apoia Israel e favorece os judeus em detrimento dos muçulmanos


96

HEBRAICA

| JAN | 2014

magazine > ensaio | por David Lerer *

A luta e o luto dos judeus de

Nelson Mandela

ERAM JUDEUS CINCO DOS ADVOGADOS DE DEFESA DOS MEMBROS DO BRAÇO ARMADO DO CLANDESTINO CONSELHO NACIONAL AFRICANO, O UMKONTO WE SIZWE, PRESOS NA BATIDA POLICIAL À FAZENDA LILISLEAF. E TAMBÉM ERAM JUDEUS METADE DOS ADVOGADOS DE DEFESA DO ASSIM CHAMADO JULGAMENTO DA TRAIÇÃO, EM 1956

Q

uando a América do Sul ficou impraticável e insuportável porque a Operação Condor, o consórcio de repressão brutal de Brasil, Chile e Argentina e a colaboração do Uruguai e Paraguai, atacou para valer, uma minoria de exilados foi atraída pelas ultimas lutas contra o colonialismo na África. Saí do Brasil em meados de 1969, passei pela Argentina e me fixei no Peru por um ano. Depois fui para Paris. Mas, em 1973, deixei o doce exílio na França para servir como médico na Frelimo, a Frente de Libertação de Moçambique, ao norte da África do Sul. Até o regime colonial português cair, a Frelimo atacava as forças lusitanas a partir do sul da Tanzânia, ao norte de Moçambique, um santuário guerrilheiro, e minha base era uma aldeia de frente para Madagascar, no Índico. Depois de a Frelimo conquistar Moçambique fui para Angola trabalhar no Hospital Militar de Luanda, de onde os portugueses foram escorraçados. Acabei preso numa luta de facções, e expulso. Aqueles foram quatro anos de aprendizado. Naquela época, os acontecimentos internos na África do Sul eram mascarados pela atuação beligerante do regime contra os vizinhos, apoiando as nações coloniais que a duras penas conseguiam manter seus bastiões ultramarinos. No entanto, havia ironias: meu irmão despachou por collis-posteaux duas malas cheias de livros para uma biblioteca que eu organizava naquela aldeia de Mtwara, onde se falava uma mistura de português, inglês e um dialeto indígena local. Pois o carregamento de livros chegou, três meses depois de entregue na agência central dos correios, em São Paulo: foi de navio até a Cidade do Cabo, na África do Sul do regime racista; de trem pelo território moçambicano ainda ocupado pelos portugueses e, depois, novamente de barco, até Mtwara. As mortes, e os necrológios que as acompanham, contam histórias. E por elas, fico sabendo que minhas aventuras africanas foram irrelevantes comparadas às daqueles judeus sul-africanos que apoiaram Nelson Mandela. São narrativas a respeito

de pessoas que fizeram parte da biografia do líder africano antes, durante e depois da prisão. E os personagens judeus estão em todas elas. De fato, predominavam judeus entre os velhos combatentes brancos contra o apartheid a ponto de se dizer que havia minian nas discussões políticas da Prisão Central de Pretória, depois da imposição da lei marcial, em 1960. Esses colaboradores brancos deixavam claro a condição de judeus, mas nesses encontros se discutiam mais os ensinamentos de Marx do que as virtudes do Todo-Poderoso. Convém notar que eram judeus cinco dos advogados de defesa dos membros do braço armado do clandestino Conselho Nacional Africano, o Umkonto we Sizwe, presos na batida policial à fazenda Lilisleaf, nos arredores de Johanesburgo. E também eram judeus metade dos advogados de defesa do assim chamado Julgamento da Traição, em 1956. Joe Slovo, Harold Wolpe, Ruth First, Albie Sachs, Ronald Segal, Denis Goldberg, Rusty Bernstein, Solly Sachs, Helen Suzman, Ray Alexander, Ronnie Kasrils, Raymond Suttner, Ray Simons, Wolfie Kodish e muitos outros, eram originários ou filhos de pais que emigraram da Lituânia, onde, no século 19, as comunidades judaicas viviam o esplendor da Haskalá (iluminismo judaico) e depois foram impregnados das


HEBRAICA

MONUMENTO A MANDELA EM UMA RUA DE PRETÓRIA

REPRESENTANDO UM BOXEADOR.

NA PRISÃO ELE PASSAVA O

TEMPO FINGINDO LUTAR COM OS COMPANHEIROS PRESOS

97

| JAN | 2014

ideias de comunismo, socialismo e do Bund (sindicato de trabalhadores judeus) que povoavam a Europa desde os primeiros anos do século 20 e as carregavam para onde fossem. Desta forma, tanto ou mais que um embate contra o sofrimento discriminatório imposto pelos colonizadores bôeres, e depois oficializada na forma do odioso apartheid, nas décadas de 1930 e 1940, era uma luta de classes e que se exacerbou com a ascensão do nazismo e do fascismo, cujas ideias os dirigentes brancos da África do Sul aplaudiram até a eclosão da guerra, em setembro de 1939. Os judeus estavam envolvidos nas políticas e questões internas da África do Sul desde o período entre guerras. Eles eram operários e artesãos que ocupavam posições de destaque nos sindicatos e a maioria daqueles que desde então combatiam o racismo se juntaram ao exército sul-africano como voluntários para lutar contra o fascismo. Quando a Segunda Guerra terminou, foi criada a Springbok Legion, formada por ex-combatentes – muitos deles, judeus – e que tinha como um dos objetivos destruir o racismo. E, dentre esses, vários formaram na linha de frente do sionismo e do nascente Estado de Israel. Os judeus anti-apartheid nadavam contra a corrente majoritária da comunidade judaica do país que se acomodou no progresso e desenvolvimento alcançados pela África do Sul, com e apesar da política racista do governo. Isto é, a comunidade era próspera, mas moralmente falida. Com o tempo, Mandela virou um herói e as ações daqueles poucos se tornaram uma questão de orgulho para os judeus sul-africanos, mesmo aqueles que, durante décadas, reunidos no South African Jewish Board of Deputies por comodidade e para manter os privilégios, ou Israel, por razões de Estado e conveniências geopolíticas, fecharam os olhos para o odioso regime do apartheid. * David Lerer é médico e ex-deputado federal



99

di re to ria HEBRAICA

| JAN | 2014


100 HEBRAICA

| JAN | 2014

diretoria > homenagem

O SAUDOSO GUIORA ESRUBILSKY (E) NA COMPANHIA DE PELÉ E JACK TERPINS

O típico bom judeu GUIORA ESRUBILSLKY (Z’L) PARTIU DESTE MUNDO REPENTINAMENTE, DEIXANDO AMIGOS NOS VÁRIOS PAÍSES ONDE VIVEU. IGUALMENTE NUMEROSOS SÃO OS RELATOS A RESPEITO DAS SUAS VIRTUDES COMO PROFISSIONAL E ATIVISTA COMUNITÁRIO

“G

uiora não comprometia seus princípios por nada nesse mundo. Se alguém quisesse persuadi-lo a mudar de opinião, antes tinha de convencê-lo de que o princípio era errado. Do contrário, nada feito. Para ele, os princípios estavam acima de tudo e os defendia a qualquer custo. Era incrível o seu amor pelo judaísmo e por tudo o que ele representa. Sua dedicação às causas judaicas e comunitárias era total. Toda conversa com ele a respeito de negócios ou assuntos pessoais sempre caminhava para o Macabi Mundial, o Congresso Judaico Latino-Americano ou Mundial ou algo desse gênero.”. Essa descrição é de Ronald Bakalarz, em discurso durante a cerimônia fúnebre do presidente da União Mundial Macabi, Guiora Esrubilsky. Desta forma, ele traduziu o sentimen-

to de milhares de amigos que Guiora fez ao longo da curta vida de 64 anos em todos os países onde viveu e deitou raízes. Na juventude, emigrou da Argentina para Israel, onde passou a trabalhar no Bank Leumi, que fez dele um homem do mundo. De volta para a Argentina, depois para o Brasil e de lá para Miami, sempre fiel ao movimento Macabeu do qual foi tesoureiro, presidente da Confederação Latino-Americana Macabi e da União Mundial Macabi. Para o presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, Jack Terpins, um dos melhores amigos de Guiora, ele “era judeu, e um bom judeu. E uma pessoa que todos gostariam de ter como amigo. Ele exerceu a presidência do Macabi Mundial com a devoção de um missionário e de um tarefeiro dos ideais sionistas e isso deixou claro na ce-

rimônia de abertura dos Jogos Mundiais Macabeus, em Jerusalém, em meados do ano passado. As mais de trinta mil pessoas presentes levantaram-se para aplaudir seu discurso em que conclamava a se consolidar as conquistas do Estado de Israel e a fortalecê-lo para as vicissitudes do futuro. De lá até aqui, e de uma forma que nem a morte deixará morrer, fez do Movimento Macabi e de sua história meio e instrumento para construir uma trajetória de dedicação às coisas do judaísmo e às causas do Estado de Israel. E teve êxito total porque às razões políticas somou princípios éticos, honestidade pessoal e a solidariedade fraterna que, neste momento, os muitos amigos devolvem à família”, disse Terpins. Seu primeiro compromisso na liderança do órgão máximo do Macabi foi acompanhar os 17º Jogos Macabeus PanAmericanos realizados em São Paulo, em que a Hebraica foi sede principal. Na opinião do presidente da Confederação Brasileira Macabi, Avi Gelberg, o Macabi Brasil perdeu um apoio inestimável. “Ele nos encorajou a dar os passos que nos levaram ao crescimento destes últimos anos. Além disso, abriu caminho para o Brasil dentro do Movimento Macabi Mundial nos incentivando a lançar projetos ainda maiores”, declarou. No Brasil, Guiora marcava encontros de trabalho no clube, onde se sentia como em casa. Nem poderia ser de outra forma: durante o período em que viveu no Brasil foi assessor nas duas gestões de Marcos Arbaitman e uma de Jack Leon Terpins na presidência da Hebraica. Ao discursar na abertura da 19ª Macabíada Mundial chorou de emoção. E por mais ocupado que estivesse, arranjou tempo para partilhar com os brasileiros o já tradicional Kabalat Shabat no Muro das Lamentações. O carisma e a simpatia tornavam quase impossível vê-lo só e é o anseio por sua companhia que faz da sua partida um peso para os muitos amigos e companheiros. Por ele, será preciso continuar chazak ve ematz (“fortes e valentes”).



102 HEBRAICA

| JAN | 2014

diretoria

Diretoria Executiva – Gestão 2012-2014 PRESIDENTE

ABRAMO DOUEK

DIRETOR SUPERINTENDENTE

GABY MILEVSKY

ASSISTENTE FINANCEIRO ASSESSOR Ͳ ESCOLA ASSESSORA Ͳ FEMININO ASSESSOR Ͳ REVISTA ASSESSOR Ͳ REDES SOCIAIS E COMUNICAÇÃO DIGITAL ASSESSOR Ͳ SEGURANÇA ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS ACESC ASSESSOR Ͳ ASSUNTOS RELIGIOSOS CERIMONIAL E RELAÇÕES PÚBLICAS RELAÇÕES PÚBLICAS

MOISES SCHNAIDER BRUNO LICHT HELENA ZUKERMAN FLÁVIO BITELMAN JOSÉ LUIZ GOLDFARB CLAUDIO FRISHER (Shachor) MOYSES GROSS RABINO SAMI PINTO EUGÊNIA ZARENCZANSKI (Guita) ALAN BALABAN SASSON DEBORAH MENIUK GLORINHA COHEN LUCIA F. AKERMAN SERGIO ROSENBERG

HANDEBOL ADJUNTO

JOSÉ EDUARDO GOBBI DANIEL NEWMAN

PARQUE AQUÁTICO POLO AQUÁTICO NATAÇÃO ÁGUAS ABERTAS

MARCELO ISAAC GUETTA FABIO KEBOUDI BETY CUBRIC LINDENBOJM ENRIQUE MAURICIO BERENSTEIN RUBENS KRAUSZ

TRIATHLON CORRIDA

JULLIAN TOLEDO SALGUEIRO ARI HIMMELSTEIN

CICLISMO

BENO MAURO SHETHMAN

GINÁSTICA ARTÍSTICA

HELENA ZUKERMAN

RAQUETES (SQUASH/RAQUETEBOL) BADMINTON

JEFFREY A.VINEYARD SHIRLY GABAY

VICEͲPRESIDENTE ADMINISTRATIVO

MENDEL L. SZLEJF

TIRO AO ALVO

MAURO RABINOVICH

COMPRAS RECURSOS HUMANOS CONCESSÕES ADJUNTO

HENRI ZYLBERSTAJN CARLOS EDUARDO ALTONA LIONEL SLOSBERGAS AIRTON SISTER

GAMÃO

VITOR LEVY CASIUCH

SINUCA

ISAAC KOHAN FABIO KARAVER

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DEPARTAMENTO MÉDICO CULTURA JUDAICA ASSESSORES DA SINAGOGA

SERGIO LOZINSKY RICARDO GOLDSTEIN GERSON HERSZKOWICZ JAQUES MENDEL RECHTER MAURÍCIO MARCOS MINDRISZ

XADREZ

HENRIQUE ERIC SALAMA

VICEͲPRESIDENTE DE ESPORTES

AVI GELBERG

ASSESSORES

CHARLES VASSERMANN DAVID PROCACCIA MARCELO SANOVICZ SANDRO ASSAYAG YVES MIFANO

GESTÃO ESPORTIVA ESCOLA DE ESPORTES MARKETING/ESPORTIVO

ROBERTO SOMEKH VICTOR LINDENBOJM MARCELO DOUEK FLÁVIA CIOBOTARIU

MARKETING/INFORMÁTICA ESPORTIVO

AMIT EISLER

RELAÇÃO ESPORTIVAS COM ESCOLAS

ABRAMINO SCHINAZI

GERAL DE TÊNIS SOCIAL TÊNIS

ARIEL LEONARDO SADKA ROSALYN MOSCOVICI (Rose)

SAUNA

HUGO CUPERSCHMIDT

VICEͲPRESIDENTE DE PATRIMÔNIO E OBRAS

NELSON GLEZER

MANUTENÇÃO MANUTENÇÃO E OBRAS PAISAGISMO E PATRIMÔNIO PROJETOS

ABRAHAM GOLDBERG GILBERTO LERNER MAIER GILBERT RENATA LIKIER S. LOBEL

VICEͲPRESIDENTE SOCIAL E CULTURAL

SIDNEY SCHAPIRO

CULTURAL SOCIAL FELIZ IDADE RECREATIVO GALERIA DE ARTES SHOW MEIO DIA

SERGIO AJZENBERG SONIA MITELMAN ROCHWERGER ANITA G. NISENBAUM ELIANE SIMHON (Lily) MEIRI LEVIN AVA NICOLE D. BORGER EDGAR DAVID BORGER

VICEͲPRESIDENTE DE JUVENTUDE

MOISES SINGAL GORDON

ESCOLAS

SARITA KREIMER GRAZIELA ZLOTNIK CHEHAIBAR ILANA W. GILBERT

TÊNIS DE MESA

GERSON CANER

SECRETÁRIO GERAL

ABRAHAM AVI MEIZLER

FITͲCENTER

MANOEL K.PSANQUEVICH MARCELO KLEPACZ

SECRETÁRIO DIRETORES SECRETÁRIOS

CENTRO DE PREPARAÇÃO FÍSICA

ANDRÉ GREGÓRIO ZUKERMAN

JAIRO HABER ANITA RAPOPORT GEORGES GANCZ HARRY LEON SZTAJER

JUDÔ JIU JITSU

ARTHUR ZEGER FÁBIO FAERMAN

FUTEBOL (CAMPO/SALÃO/SOCIETY) FUTSAL

FABIO STEINECKE MAURÍCIO REICHMANN

GERAL DE BASQUETE BASQUETE OPEN

AVNER I. MAZUZ DAVID FELDON WALTER ANTONIO N. DE SOUZA

BASQUETE CATEGORIA MASTER ATÉ 60 ANOS BASQUETE HHH MASTER

GABRIEL ASSLAN KALILI LUIZ ROZENBLUM

VOLEIBOL

SILVIO LEVI

JURÍDICO

ANDRÉ MUSZKAT

SINDICÂNCIA E DISCIPLINA

ALEXANDRE FUCS BRUNO HELISZKOWSKI CARLOS SHEHTMAN LIGIA SHEHTMAN TOBIAS ERLICH

TESOUREIRO GERAL

LUIZ DAVID GABOR

TESOUREIRO DIRETORES

ALBERTO SAPOCZNIK SABETAI DEMAJOROVIC MARCOS RABINOVICH



104 HEBRAICA

| JAN | 2014

indicador profissional ADVOCACIA

ADVOCACIA

CONSULTORIA FISCAL E CONTÁBIL

CUIDADORES

ANGIOLOGIA

CARDIOLOGIA

DERMATOLOGIA

CIRURGIA PLÁSTICA

FISIOTERAPIA

CLÍNICA HIPERBÁRICA


105

HEBRAICA

| JAN | 2014

indicador profissional FISIOTERAPIA

NEUROCIRURGIA

GINECOLOGIA

NEUROLOGIA

MANIPULAÇÃO

NUTRICIONISTA

ODONTOLOGIA


106 HEBRAICA

| JAN | 2014

indicador proямБssional ODONTOLOGIA

PSICOLOGIA

ONCOLOGIA

PSIQUIATRIA

ORTOPEDIA

PODOLOGIA

PSICOLOGIA

PSIQUIATRIA


107

HEBRAICA

| JAN | 2014

indicador profissional REPRODUÇÃO

TRATAMENTO

UROLOGIA

compras e serviços

T

PARA ANUNCIAR NA REVISTA

HEBRAICA

LIGUE:

3815-9159 | 3814-4629

OU PELO E-MAIL: DUVALE@TERRA.COM.BR


108 HEBRAICA

| JAN | 2014

compras e serviรงos


109

HEBRAICA

| JAN | 2014

compras e serviรงos


110 HEBRAICA

| JAN | 2014

compras e serviรงos


HEBRAICA

111

| JAN | 2014

compras e serviรงos


112 HEBRAICA

| JAN | 2014

roteiro gastron么mico


HEBRAICA

113

| JAN | 2014

roteiro gastron么mico


114 HEBRAICA

| JAN | 2014

conselho deliberativo

CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL 2014

Rota de mudança

JANEIRO

Estamos todos no mesmo barco e para chegarmos a algum lugar, precisamos remar na mesma direção. É dessa forma que antevejo o futuro próximo, ao assumir a presidência do Conselho Deliberativo. Como todos no Conselho, ainda reflito sobre a movimentação ocasionada pela eleição da nova Mesa Diretora composta por mim, Fábio Ajbeszyc e Célia Burd como vice-presidentes, Fernando Rosenthal como primeiro secretário e Vanessa Kogan Rosenbaum como segunda secretária. A existência de três candidatos ao cargo de presidente e o comparecimento de 198 conselheiros nesse evento decisivo engrandecem a imagem do clube e me enchem de orgulho por pertencer a essa comunidade. Agradeço os votos de sucesso recebidos por muitos e estou certo de contar com a amizade dos conselheiros Isy Rahmani e Luiz Flávio Lobel com os quais tive oportunidade de trabalhar quando ocupava o cargo de tesoureiro da Diretoria, há alguns anos. Creio que a nova composição da Mesa Diretora representa o espírito do Conselho Deliberativo em sua missão de nortear a Diretoria na realização dos anseios da juventude, da terceira idade, da escola e todas as faixas de interesse que hoje compõem o quadro associativo. Confio imensamente nos vice-presidentes e secretários que trabalharão comigo nos próximos dois anos e partilho com eles a urgência de iniciar o trabalho. Portanto, na mesma semana em que o Conselho nos escolheu, nos reunimos por várias horas e estabelecemos alguns marcos iniciais de atuação. Nossa primeira tarefa é preparar a reforma dos Estatutos Sociais, a partir da nomeação de uma comissão formada por integrantes da Diretoria e do Conselho. Dela sairá uma proposta consistente para a reforma estatutária. Também criaremos outras comissões seguindo a demanda demonstrada pelo Conselho. É com este espírito empreendedor que iniciamos 2014, já convidando a todos para a reunião ordinária marcada para o dia 17 de fevereiro. Agora é seguir remando.

Mauro Zaitz

Reuniões Ordinárias do Conselho em 2014 Local Teatro Anne Frank Horário 19h30 17/2/2014 28/4/2014 11/8/2014 17/11/2014 8/12/2014

Mesa do Conselho Presidente Vice-presidente Vice-presidente 1o Secretário 2a Secretária Assessores

Mauro Zaitz Célia Burd Fábio Ajbeszyc Fernando Rosenthal Vanessa Kogan Rosenbaum Eugen Atias Julio K. Mandel Silvia L. S. Tabacow Hidal

16 27

MARÇO 13 16 17

ABRIL

14 **15 ** 16 ** 21 ** 22 28

MAIO

5a 3a

FEIRA FEIRA

5a FEIRA JEJUM DE ESTER DOMINGO PURIM 2a FEIRA SHUSHAN PURIM 2ª FEIRA 3a FEIRA 4a FEIRA 2a FEIRA 3a FEIRA 2a FEIRA

5

2a

FEIRA

6

3a

FEIRA

18 28

JUNHO 3 *4 *5

VÉSPERA DE SHAVUOT 1O DIA SHAVUOT 2O DIA SHAVUOT - IZKOR

3ªFEIRA

JEJUM DE 17 DE TAMUZ

2ª FEIRA 3ª FEIRA 2ª FEIRA

INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER TU BE AV

SETEMBRO **24 **25 **26

IOM HAZIKARON – DIA DA LEMBRANÇA

DOS CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL

3a FEIRA 4a FEIRA 5a FEIRA

15

4 5 11

EREV PESSACH- 1º SEDER PESSACH - 2º SEDER PESSACH - 2º DIA PESSACH - 7º DIA PESSACH - 8º DIA IOM HASHOÁ - DIA DO HOLOCAUSTO

IOM HAATZMAUT - DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 66 ANOS DOMINGO LAG BAÔMER 2a FEIRA IOM IERUSHALAIM

JULHO AGOSTO

TU B’ SHVAT DIA INTERNACIONAL EM

MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO (ONU)

4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA

VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ

**3 **4 8 *9 *10 15

6ª FEIRA SÁBADO 4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 4ª FEIRA

*16 *17

5ª FEIRA 6ª FEIRA

VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT VÉSPERA DE HOSHANÁ RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET - IZKOR SIMCHAT TORÁ

OUTUBRO

NOVEMBRO 5

4ª FEIRA

DEZEMBRO 16 23

3ª FEIRA 3ª FEIRA

DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN AO ANOITECER, 1ª VELA DE CHANUKÁ AO ANOITECER, 8ª VELA DE CHANUKÁ

* NÃO HÁ AULA NAS ESCOLAS JUDAICAS ** O CLUBE INTERROMPE SUAS ATIVIDADES,

FUNCIONAM APENAS OS SERVIÇOS RELIGIOSOS




Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.