EVE

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animal nas costas. O cervo, assustado, se meteu na água e tratou de voltar a margem, deixando um rastro sangrento. —Basta! —gritei, descendo do cavalo, com os olhos cravados nas feridas do animal— Está sofrendo. Caleb se aproximou do cervo sem se apressar. —Nada está acontecendo — disse ao animal. Manteve o pescoço com uma mão e pegou a faca— Tudo vai ficar bem. —Sussurrou algo que diminuiu o medo do veado, ele segurou a faca ao pescoço e, com um movimento veloz, ele cortou a garganta; o sangue derramou pela pedregosa margem e tingiu a água de vermelho. Lágrimas, quentes e incontroláveis, inundaram meus olhos, e estremeci vendo como se escapava a vida do animal. Eu cresci com a morte: a tinha visto no rosto dos vizinhos que arrastavam sacos de dormir pelos jardins para enterrar os seus; a havia visto pela janela do carro, nas filas de gente, de pele vermelha, que se revoltavam na frente das farmácias; a tinha visto em minha própria mãe, sangrando pelo nariz na varanda... Mas depois permaneci salva doze anos no colégio: os muros me protegiam, as doutoras nos cuidavam, levava um apito de segurança suspenso no pescoço. Quando Caleb cortou a cabeça da cerva, chorei como nunca. Ali estava esperandome como sempre: a morte, a morte inevitável, em todas as partes. Em todo momento.

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