OPINIÃO
O «Quiosque do Mercado» é a minha Esplanada Adília César (Escritora) Algarve também é isto: uma enorme montra de espaços de lazer onde as esplanadas ocupam um lugar de destaque e exibem a multiculturalidade adjacente. As pessoas ficam por ali, a qualquer hora do dia, a usufruir o que a região tem de melhor: um clima ameno durante a maior parte do ano. Sozinhos ou acompanhados, é frequente sairmos para a rua na expectativa de tomarmos um café numa esplanada agradável. E é nesta «twilight zone» que tudo se complica. Experimentar esplanadas da minha cidade tornou-se um hábito desde há alguns anos. Sou apreciadora de um café simples sem açúcar, aromatizado apenas pelo bom ambiente: vista agradável, serviço adequado, higiene irrepreensível. Tenho prazer na degustação de uma bica, ao ar livre, em silêncio ou na companhia de um interlocutor interessante. Parece simples, mas na verdade tem sido desastroso. Há esplanadas onde o café vem frio ou meio vazio (eu peço sempre «cheio»), demora demasiado tempo a ser servido, as mesas estão sujas e cheias de louça utilizada por outros, não há cinzeiros disponíveis, as cadeiras estão desarrumadas, os preços cobrados são exorbitantes tendo em conta as características dos locais ou do serviço prestado, em suma, não há brio nem profissionalismo, o que me vem irritando profundamente. A «cereja no topo do bolo», no que respeita às péssimas condições de atendimento ao público aconteceu numa esplanada muito frequentada ao domingo (na cidade onde moro, os cafés estão quase todos encerrados neste dia). As bicas pedidas chegaram
ALGARVE INFORMATIVO #179
rapidamente. O meu acompanhante estava a fumar e solicitou, educadamente, um cinzeiro. A empregada de mesa, sem responder, deu meia volta e agarrou um recipiente que estava noutra mesa vazia e colocou-o na nossa, junto aos cafés: estava carregado de cinza e beatas! “Um cinzeiro limpo, não tem?”, perguntei eu, já aborrecida. A rapariga, enfadada, despejou o lixo noutro recipiente e voltou a oferecer-nos o cinzeiro inicial. Eu insisti: “Não, um cinzeiro lavado, não tem?”. A rapariga olhou-me incrédula e com notório esforço foi ao interior do estabelecimento buscar um cinzeiro limpo, atirando-o para cima da nossa mesa, visivelmente incomodada com a situação. Esta situação caricata é absolutamente verdadeira e foi inesquecível, como as nódoas de gordura que teimam em permanecer. Assim, vou rodando pelos estabelecimentos, na expectativa de encontrar «a minha esplanada». E encontrei. No Largo Dr. Francisco Sá Carneiro, local de intersecção de várias ruas da cidade, o «Quiosque do Mercado», gerido por Hugo Nabais, é um excelente exemplo de tudo o que deve ser referenciado num estabelecimento com esplanada. Situado fora da zona comercial da Baixa de Faro, dá apoio a um peculiar núcleo social e económico: o Mercado, a Loja do Cidadão, outros serviços como lojas e clínicas. O trânsito contorna este largo, mas está suficientemente distante para não incomodar, sendo assim possível as crianças brincarem em segurança, enquanto os pais tomam um café, uma cerveja especial, um drink, ou ainda se
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