Jornal Casa do Patrimônio 04

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JORNAL

Edição 4 - Ano 2014 - Casa do Patrimônio da Paraíba

CASA DO PATRIMÔNIO Forró: patrimônio meu, seu e nosso

Saberes, fazeres, expressões e celebrações Culto da Jurema Sagrada - p. 2 Cidade e Patrimônio Feira de Campina Grande: Patrimônio Cultural do Brasil - p. 4 Relicário da memória Fortaleza de Santa Catarina - p. 8 Cultura em ação Pesquisa Arqueológica nas Itacoatiaras do Ingá - p. 10 O PAC Cidades Históricas em João Pessoa - p. 12

Tema da edição - p. 6 Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste. Fonte: Acervo Balaio Nordeste.


Saberes, fazeres, expressões e celebrações

Culto da Jurema Sagrada Luciana Nobre

Nascida aqui no Nordeste, a Jurema Sagrada surgiu como uma religião indígena, mas que também foi bastante influenciada por elementos dos cultos cristãos e afro-brasileiros. Árvore nativa da caatinga e do agreste nordestino, a Jurema é conhecida por oferecer folhas, cascas e sementes para a confecção da bebida dos mestres das aldeias, além de remédios naturais, como os linimentos para o tratamento e a cura de males físicos. A casca da planta é usada para a fabricação de uma bebida considerada “mágica” e que concede força, sabedoria

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e contato com seres do mundo espiritual. É através disso que a árvore desencadeia a formulação de uma experiência religiosa com mesmo nome. Nos cultos da Jurema, existe a figura dos mestres, líderes responsáveis pela incorporação de espíritos que aconselham e curam os “juremeiros” - é dessa maneira que seus praticantes são denominados. Além de fornecer um elo com o chamado “reino dos encantados”, diz a lenda que a planta é sagrada porque a Virgem Maria teria escondido nela o menino Jesus durante a fuga da sagrada família

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para o Egito e, ao entrar em contato com a árvore, teria lhe preenchido com poderes diversos. Os principais símbolos do culto da Jurema Sagrada são o cruzeiro das almas benditas e a estrela de Salomão, que representa sabedoria dos mestres. As entidades presentes na religião são os baianos e baianas, os pretos e pretas velhas, os caboclos e caboclas, representantes de grupos indígenas e ciganos, além dos mestres e mestras. Estes cultuados são chamadas de “encantados”, que, como diz o nome, fazem parte de


um reino tido como encantado, de onde descem para curar e realizar trabalhos para os vivos. “Todos eles e elas são, teoricamente, pessoas que viveram neste plano e, ao desencarnarem, retornaram em forma de incorporação para alcançar sua evolução espiritual”, explicou o guardião da Jurema Sagrada, Eriberto Carvalho da Rocha, mais conhecido como Pai Beto. Alguns instrumentos são usados durante a sessão da Jurema, entre eles o maracá (um chocalho indígena feito de cabaça) e o ilu (uma espécie de tambor). Ações recentes de preservação da Jurema Hoje, o culto adquiriu respeito em função da luta daqueles que participam na defesa dos terreiros através de uma campanha nacional “Quem é de axé, diga que é!”. “Há cinco anos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) sensibilizou-se com o nosso apelo em ver o patrimônio dos praticantes da Jurema se desintegrar e tombou como patrimônio material e

imaterial da cultura paraibana o sítio dos Acais, em Alhandra”, relatou Pai Beto.

Alhandra. Em virtude dessa violência, a religião, inclusive, passou a ser praticada no meio da mata.

Intolerância religiosa

O que a grande maioria não sabe, no entanto, é que no culto da Jurema se prega a caridade, boa espiritualidade, o desenvolvimento mediúnico e a relação do homem com a natureza como valores a ser seguidos e disseminados.

Incitadas por uma intolerância religiosa, algumas pessoas chegaram a destruir os locais e as árvores sagradas do culto da Jurema. Esse tipo de destruição causa danos ao patrimônio cultural representado pela Jurema Sagrada na cidade de

Igreja de São João Batista no Sítio do Acais, tombado pelo Iphaep e sincretismo religioso em centros da Jurema Sagrada no município de Alhandra/PB. Na página anterior, um pé de jurema, árvore sagrada para os juremeiros. Fotos: Daniella Lira.

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Cidade e Patrimônio

Feira de Campina Grande: Patrimônio Cultural do Brasil Emanuel Braga e Moysés Siqueira Neto A Feira Central de Campina Grande é uma das mais interessantes feiras livres brasileiras. A partir de seu Mercado Central, ela se expande por várias ruas do centro de Campina Grande. O resultado é um lugar vivenciado por milhares de pessoas, entre fregueses, feirantes, balaieiros, carregadores, animadores e muitos outros, e um intenso comércio de produtos diversos, como frutas, verduras, ervas, hortaliças, cereais, lacticínios, carnes, aves (vivas e abatidas), calçados, roupas, acessórios para pecuária, alimentação, ferragens. Em cada setor,

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o visitante identifica os sons, cheiros e cores de uma interessante feira que traduz o resultado do encontro de múltiplas referências culturais passadas de geração para geração. Em março de 2013, a Prefeitura de Campina Grande solicitou ao IPHAN o prosseguimento de seu pedido de registro da Feira como Patrimônio Cultural do Brasil, iniciado ainda no ano de 2007. Para a Diretora de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Campina Grande, a

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historiadora Giovanna Aquino, “o pedido de registro reconhece nacionalmente os valores culturais que já foram reconhecidos pelos campinenses”. Para a Diretora, o registro da feira atesta a importância “não só pela fundamental participação na formação da cidade, como também pela continuidade de seus elementos e valores culturais, resistindo aos impactos da modernidade”. A feira passa a ser entendida, assim, como um lugar especial não só para o campinense, mas onde é possível encontrar elementos culturais fundamentais para


Cenas da Feira Central de Campina Grande. Fotos: Moysés Siqueira Neto.

entender a diversidade cultural de todo povo brasileiro.

várias áreas, como história, arquitetura, geografia, entre outras.

O processo de registro da Feira de Campina Grande se encontra na fase de instrução, em que além da reunião da documentação necessária no pedido, é realizada a produção e sistematização dos conhecimentos sobre a Feira de Campina Grande, através de uma pesquisa para conhecer melhor o bem. Para isso, o grupo de pesquisa coordenado pela Secretaria de Cultura utiliza a metodologia indicada pelo IPHAN do Inventário Nacional de Referências Culturais – o INRC – que está sendo aplicado por pesquisadores de

Segundo Giovanna Aquino, a partir da pesquisa já foi possível perceber “alguns ofícios e modos de fazer peculiares desse lugar e que estão quase em processo de extinção. Edificações com valor não apenas histórico e arquitetônico, mas também com valor social e cultural. Os pesquisadores estão identificando uma vasta documentação sobre a feira, incluindo fotos, vídeos e plantas antigas, além de realizar diversas entrevistas com os feirantes mais antigos”.

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Os resultados da pesquisa farão parte de um dossiê e de uma produção audiovisual. Eles resumem o trabalho desenvolvido para convencimento do valor nacional da feira que será votado na Câmara do Patrimônio do IPHAN. Sendo positiva a resposta da Câmara, a tão notória importância da feira será reconhecida como patrimônio cultural do Brasil. Seu registro, então, ressalta o lugar como referência para valorização da diversidade no entendimento de nossa identidade nacional daquela que é considerada por muitos como a “feira das feiras”.

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Tema da edição

Forró: patrimônio meu, seu e nosso Giovanna Ismael Que tilintem os triângulos e rufem as zabumbas: o forró está em processo de ser reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). E o que isso significaria para o nosso país e para os nossos forrozeiros? Para Chico Ribeiro, músico e um dos fundadores do Fórum Forró de Raiz e da Associação Balaio Nordeste, alçar esse status seria, em primeiro lugar, ter um alicerce maior na procura por investimentos. “O reconhecimento do forró como um bem cultural imaterial dá a nós, forrozeiros, um argumento que nos suporte em busca de políticas públicas que incentivem esta arte”, disse. “O que nos motivou à busca é uma coisa maior do que apenas tocar em algum lugar ou querer um palco. A luta é para

difundir o que nós temos de mais nobre na nossa região: o forró”, continuou.

transmitidos por várias gerações desde o início do século XX”, disse.

Ao longo das décadas, o forró ecoou por todo o Brasil e foi ressonando com novos estilos, novos instrumentos, novos objetivos. E para ter certeza o que aqui é honrado, pede-se o reconhecimento das “matrizes tradicionais do forró”, ou seja, o baião, xote, xaxado, rojão, xamego, balanço, miudinho, forró-samba e quadrilha/arrasta-pé. O antropólogo do Iphan na Paraíba, Emanuel Braga, comentou que existe uma amplitude espacial e temporal significativa quando se trata destas matrizes.

Joana Alves, uma das principais ativistas nesta luta, sendo atual presidente da Associação Balaio Nordeste, é das inúmeras que critica a atenção voltada para apenas um seguimento do forró. “Quando alguém fala de pé-de-serra, sempre citam ‘o triozinho’. Não é ‘triozinho’. São grupos pequenos em número, mas gigantes em qualidade e cultura. Eles não têm 20, 30 pessoas na equipe e produções enormes,

“São importantes referências culturais relacionadas à musicalidade brasileira. São fundamentais para a construção da identidade paraibana, nordestina e nacional, especialmente no tocante aos seus gêneros, ritmos e modos de dança,

Tanto Chico Ribeiro quanto Joana Alves, em 2011, realizavam e participavam de fóruns e mesas redondas sobre a importância do forró para a Paraíba e todo o Brasil. Foi nesta época que se percebeu a necessidade do registro do forró como patrimônio cultural brasileiro pelo Iphan.

Reinauguração da Escola de Música Mestre Dominguinhos, em fevereiro de 2014. Ao lado, aluno participa de curso de violão, em 2013. Fotos: Divulgação.

nem deveriam precisar disso para ter incentivos”, desabafou.

“Vimos a necessidade de agregar mais forças ao movimento e realizamos eventos em estados como Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe para discutir sobre o assunto. Fizemos uma petição online e conseguimos arrecadar assinaturas para entrar com o recurso solicitando o forró como patrimônio cultural”, ressaltou Joana. Além dos fóruns, os grupos foram em busca de estudos de caso e documentos históricos para que ocorresse uma defesa embasada. É evidente que o forró não é a única manifestação cultural nordestina, mas sem dúvidas é uma das mais importantes historicamente. A tradição do pé-deserra carrega a inegável história de moradores de uma região que sofre diretamente por falta de políticas públicas

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e investimentos. Foi com o forró que a identidade cultural do Nordeste foi se formando, se intensificando e espalhandose Brasil afora. Um dos protagonistas deste processo foi Luiz Gonzaga (1912-1989). O velho Lua criou um cancioneiro particular e encarnou personagens sertanejos que habitam nosso imaginário até hoje, democratizou ritmos como forró, xote, baião e xaxado, atribuiu um novo papel para a sanfona na música brasileira. A lista de feitos e pequenas revoluções poderia continuar por mais longas linhas, mas nem só de Gonzagão foi feito o forró: Marinês, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo são só alguns nomes dos que fizeram história. “Independentemente destas classificações, o que caracteriza o patrimônio cultural de valor nacional é que essas referências tenham amplitude maior, espacialmente e temporalmente falando, que envolvam grupos sociais e conhecimentos significativos para a composição da diversidade cultural nacional. E as matrizes do forró ilustram essas características patrimoniais”, comentou Emanuel, o responsável por fazer a ponte entre os artistas daqui e a sede nacional do Iphan. Patrimônios Culturais Imateriais Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), patrimônios culturais imateriais são “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas

– com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.”

já existe há décadas. Em 1936, o poeta Mário de Andrade elaborava esta proposta de implantação de política de cuidado aos bens culturais brasileiros, a pedido de

Para entendermos melhor os bens sobre os quais falamos, Emanuel Braga explica: “patrimônio cultural é o processo de seleção afetiva e política que um determinado grupo social faz de determinadas referências culturais no intuito de preservá-las. Já o patrimônio imaterial é quando esse processo de seleção envolve referências culturais consideradas de natureza imaterial, a exemplo de conhecimentos e práticas sociais”.

O Iphan ficou responsável por um longo processo para se criar uma legislação para o reconhecimento e preservação de bens culturais imateriais. E foi em 2002 que ocorreram os primeiros registros de PCI. Até 2010, mais de 20 manifestações culturais foram registrados, entre elas o Frevo (PE), o Ofício das Baianas de Acarajé (BA) e a Roda de Capoeira (nacional), entre a criação de diversos programas de apoio e editais de incentivo às manifestações culturais.

Gustavo Capanema, então Ministro da Educação e Saúde Pública.

No Brasil, a preocupação com a preservação do nosso patrimônio cultural

O Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, de acordo com o Decreto 3.551/2000, tem as seguintes metas: - Implementar política de inventário, registro e salvaguarda de bens culturais imateriais; - contribuir para a preservação da diversidade cultural do país e para a disseminação de informações sobre o patrimônio cultural brasileiro a todos os segmentos da sociedade; - captar recursos e promover a constituição de uma rede de parceiros com vistas à preservação, valorização e ampliação do conjunto de bens que constituem patrimônio cultural brasileiro; - incentivar e apoiar iniciativas e práticas de preservação desenvolvidas pela sociedade.

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Relicário da memória

Fortaleza de Santa Catarina Phillipe Xavier Símbolo de um passado de lutas, a Fortaleza de Santa Catarina, localizada em Cabedelo, município da Região Metropolitana de João Pessoa, tornou-se um dos pontos turísticos mais importantes da Paraíba. Sua famosa estrutura de alvenaria em pedra guarda lembranças do período colonial e apresenta uma visão interessante de como a área era protegida militarmente de invasões estrangeiras há mais de 400 anos. A construção, composta por muralhas feitas de pedras, óleo de baleia e cal, destaca-se entre as paisagens à margem do rio Paraíba do Norte e é um convite para viajar no tempo. Canhões, corredores majestosos, além da capela e da pequena prisão, usada atualmente como ambiente para expor o acervo de gravuras que retratam o período, também dão um toque todo especial ao lugar, compondo uma atmosfera de mistério e beleza.

Tombada como patrimônio cultural brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1938 e inscrita nos livros histórico e de belas artes, a fortaleza conta com o apoio da Fundação Fortaleza de Santa Catarina. Segundo o presidente da instituição, professor Osvaldo da Costa Carvalho, a administração diária do espaço não é simples e enfrenta muitos obstáculos que costumam impedir o desenvolvimento de ações mais incisivas de preservação. Entre os principais problemas, conforme Carvalho, estão a falta de recursos financeiros e humanos, a ausência de um Plano Integrado de Turismo, além da deficiência na segurança e acessibilidade do local. Fora isso, o professor ainda relata o descaso de empresas e instituições que realizam obras próximas à fortaleza sem respeitar sua extensão.

“A nossa primeira luta teve relação com a retirada de parte do muro da antiga Esso (companhia de distribuição de combustíveis) do limite da fortaleza. Em seguida, solicitamos o afastamento do muro e o fechamento do portão do Porto de Cabedelo nos fundos da fortaleza, que dava acesso a veículos pesados, margeando as muralhas no quebra-mar”, afirma. “Retiramos também as grandes pedras estocadas pelo porto nos pátios externos, resultante das obras de reforma e ampliação do cais, lutamos pela retirada do armazenamento de ‘petcoque’ (produto obtido do processo de condensação de resíduos petrolíferos) dos entornos da fortaleza e trabalhamos com a população por meio de campanhas de limpeza e preservação”, acrescenta. No que tange às atividades culturais, a Fortaleza é palco para as apresentações

Vista aérea da Fortaleza de Santa Catarina. Foto: Acervo da Fundação Fortaleza de Santa Catarina.

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Crianças brincando no interior da Fortaleza de Santa Catarina. Fotos: Moysés Siqueira Neto.

do Grupo Tambores do Forte, da Nau Catarineta e de capoeiristas da região. Ao mesmo tempo, grandes estímulos à exposição de artesãos locais e concertos de conjuntos de música também são oferecidos.

“Para a população de Cabedelo, além de sua imponência como monumento histórico, a fortaleza atualmente tem relevância como um centro de atividades artísticas, já que seu interior se reveste como sendo um anfiteatro natural”,

explica Carvalho, complementando que, “para haver a continuação desse trabalho, é primordial um zelo ainda maior pelo patrimônio por parte de visitantes e moradores da cidade”.

Fórum Fortaleza de Cabedelo: Patrimônio Brasileiro Átila Tolentino Com o objetivo de indicar diretrizes para nortear um Plano de Gestão Estratégica para a Fortaleza de Santa Catarina, o Iphan, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) - Campus Cabedelo, através do Núcleo de Pesquisa e Defesa do Patrimônio Cultural de Cabedelo (NUPPACC), e com a Secretaria do Patrimônio da União na Paraíba (SPU), promoveu entre os dias 21 e 23 de maio de 2014, o Fórum Fortaleza de Cabedelo (PB): Patrimônio Brasileiro. No Fórum, aberto ao público, aconteceram mesas redondas, palestras, grupos de trabalho e plenária, buscando promover o debate acerca do monumento, reconhecendo, de um lado, sua vocação contemporânea como importante centro de atividades culturais e, de outro, os desafios à sua preservação frente ao projeto portuário. As palestras tiveram como objetivo apresentar a problemática atual que envolve a Fortaleza de Santa Catarina e discutir os projetos de desenvolvimento e turismo, propostos para o monumento e sua área de entorno, trazendo demandas a serem discutidas nos grupos de trabalho. As discussões buscaram promover o debate acerca da situação atual da Fortaleza, contemplando gestão do espaço, potencialidades como recurso turístico e mecanismos de preservação e proteção do monumento. Buscaram a articulação dos diferentes atores do poder público e da sociedade civil, propondo estratégias e definindo competências para a salvaguarda e gestão do monumento. O evento contou com a participação de técnicos do IPHAN, técnicos da SPU, professores do IFPB, professores da UFPB, representantes da Prefeitura Municipal de Cabedelo, da Fundação Fortaleza de Santa Catarina, da Associação Artístico Cultural de Cabedelo, da Associação Cabedelense para a Cidadania, da Sociedade Cabedelense de Escritores e Poetas, da Associação dos Artesãos do Município de Cabedelo, do Instituto Arte em Movimento, do Grupo Cultural Tambores do Forte, do Grupo de Teatro Amador Alfredo Barbosa, do Coletivo Epopeia Verde, do Grupo Folclórico da Nau Catarineta e da Banda 12 de Dezembro. Como resultado do Fórum, foi redigido o documento “Compromisso de Cabedelo”. Entre as diretrizes definidas, foi estabelecido que irá se buscar assegurar um processo de gestão que dê estabilidade e continuidade dos trabalhos de salvaguarda do patrimônio material e imaterial desenvolvidos na Fortaleza, realizados pelos agentes artístico-culturais ali atuantes.

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Cultura em ação

Pesquisa Arqueológica nas Itacoatiaras do Ingá Paôla Manfredini Romão Bonfim Com o intuito de investigar cientificamente e preservar o Sítio Arqueológico Itacoatiaras do rio Ingá, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio de sua Superintendência na Paraíba, contratou, no ano de 2012, um projeto para elaboração de estudos arqueológicos, conservação e socialização do Sítio Itacoatiaras do Ingá. Trata-se da primeira pesquisa arqueológica de fôlego realizada no local em mais de 70 (setenta) anos, ou seja, desde o seu tombamento pelo Iphan no ano de 1944. A execução do projeto ficou por conta da empresa WLage Arqueologia, sob a coordenação da Arqueóloga Dra. Conceição Lage, professora da Universidade Federal do Piauí e especialista em conservação de sítios arqueológicos de natureza rupestre. Uma equipe multidisciplinar foi acionada, com professores de diversas universidades nas áreas de arqueologia, geologia, botânica, química, física, biologia e microbiologia - compondo um total de 17 (dezessete) profissionais altamente qualificados e diversos alunos dos cursos de graduação e pós-graduação em Arqueologia.

características Jê, possivelmente da etnia Aratu (diferentemente de alguns estudos anteriores que apontavam a presença de material Tupi). Todo o material coletado está sob a guarda da UFPI, até que a Superintendência do Iphan na Paraíba autorize sua remoção para as futuras dependências do Museu de Arqueologia do Sítio Itacoatiaras do Ingá. As principais conclusões desse primeiro trabalho de pesquisa arqueológica nas Itacoatiaras do Ingá apontam, entre outras coisas, a presença de um painel pintado em meio às gravuras do painel principal, em tons esmaecidos de rosa e branco, e evidências microscópicas de vestígios de tinta da cor vermelha no interior dos

Também foram realizadas ações de conservação do painel principal do Sítio, em função dos inúmeros problemas que lhe têm causado danos, como o desplacamento, exposição ao sol e chuva, intensa variação de temperatura, submersão das gravuras em período de cheia, vegetação rupestre na base da rocha, turismo desordenado e trânsito

Detalhe da pedra principal do Sítio Arqueológico das Itacoatiaras do Ingá. Ao lado, ações de preservação e atividades de Educação Patrimonial. Fotos: Paôla Bonfim - Acervo Iphan/PB.

Os trabalhos de campo executaram sondagens, prospecções e escavações arqueológicas em área de 41,25 hectares, cuja extensão diz respeito à propositura do Governo do Estado da Paraíba de desapropriação para a criação do Parque Estadual Itacoatiaras do Ingá. Entre o material coletado em superfície e o resgatado em subsolo, somam-se em torno de 570 (quinhentos e setenta) amostras de interesse arqueológico. As cerâmicas encontradas, apesar de muito fragmentadas, remetem às

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sulcos. Além disso, foram identificados diversos locais de acampamento, desde a pré-história até os tempos históricos, atestando uma visitação contínua do monumento arqueológico. Trata-se de habitações temporárias, provisórias, de curta duração. As datações obtidas vão dos tempos pré-coloniais (século XV) às primeiras décadas de 1900 (século XX), indicando um longo período de ocupação.

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de animais domésticos na área. Na tentativa de minimizar os efeitos danosos, foram executadas ações de limpeza, preenchimento das fissuras e consolidação das placas do painel principal.

Atividades de educação patrimonial foram realizadas junto a visitantes e público escolar local, além de levantamento do patrimônio cultural das comunidades vizinhas ao sítio

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arqueológico. O projeto também conta com a produção de um livro e de um vídeo, onde serão apresentados os resultados das pesquisas.

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O PAC Cidades Históricas em João Pessoa Claudio Nogueira O Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas – PAC Cidades Históricas (PAC.CH) – está sendo implantado pelo IPHAN com o objetivo de valorizar a cultura e preservaro patrimônio arquitetônico e urbanístico brasileiro, transformando-o num dos componentes indutores do desenvolvimento econômico, da agregação social e afirmação da identidade das cidades históricas, além de contribuir para o enfrentamento do desafio de melhoria da sustentabilidade e qualidade de vida dos seus cidadãos.

da Cultura, do Planejamento e da Casa Civil, aprovou um total de 11 ações para o nosso centro histórico, sendo 08 executadas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa e 03 pela superintendência no IPHAN, que no total preveem um investimento de cerca de R$ 50 milhões de reais no Centro Histórico da cidade. De forma complementar a estas obras, encontra-se em implantação o financiamento de imóveis privados que prevê um investimento de mais R$ 3 milhões de reais.

Nesta etapa, o PAC.CH atua em 44 cidades históricas de 20 estados do país e disponibiliza um total de R$ 1,9 bilhões divididos em duas linhas de atuação. A primeira destina-se à realização de obras de restauração e requalificação de monumentos e espaços públicos históricos e deverá aplicar um total de R$ 1,6 bilhão em 424 ações apresentadas pelas prefeituras municipais, governos de estado e pelas superintendências estaduais do IPHAN. A segunda tem por objetivo apoiar os proprietários privados através da concessão de financiamento subsidiado para a recuperação de imóveis em áreas tombadas e aplicará R$ 300 milhões de reais nas 44 cidades do programa e em mais 50 outras, num total de 94 cidades detentoras de centros históricos e conjuntos arquitetônicos protegidos.

As ações do município concentramse na requalificação da margem do Rio Sanhauá com a implantação do Parque Ecológico do Rio Sanhauá, requalificação do antigo Porto do Capim e a restauração da antiga Alfândega para instalação do Museu da Cidade, da antiga Intendência da Alfândega para abrigar o Centro de Referência da Cultura Popular e da antiga Fábrica de Gelo para abrigar o apoio turístico. As ações ainda preveem a conservação do antigo Hotel Globo, que passará a abrigar a sede da Coordenadoria do Patrimônio Cultural de João Pessoa (COPAC), e do Conventinho de São Frei Pedro Gonçalves, que abrigará a escola de artes da Prefeitura Municipal.

A Cidade de João Pessoa integra o PAC.CH desde 2013 quando o Comitê Gestor do PAC, formado pelos Ministérios

Por sua vez, a Superintendência do IPHAN na Paraíba executará a contratação de projeto de restauro para o conjunto religioso franciscano e executará a continuidade da restauração dos painéis de azulejos do Adro de São Francisco,

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contratação de projeto de restauro do conjunto carmelita e continuidade da restauração do forro da Igreja de N. Sra. do Carmo e restauração da antiga residência dos capitães-mores e delegacia fiscal – antiga sede da Polícia Federal – edificação localizada na Praça Rio Branco, que servirá de Centro de Documentação e Sede do IPHAN na Paraíba.

O Jornal Casa do Patrimônio é produzido pela Superintendência do Iphan na Paraíba, por meio da Casa do Patrimônio da Paraíba, em parceria com o Departamento de Comunicação Social da UFPB. Equipe da Casa do Patrimônio da Paraíba Átila Tolentino - Iphan/PB Carla Gisele Moraes - Iphan/PB Emanuel Braga - Iphan/PB Igor Souza - Iphan/PB Maria Olga Enrique Silva - Iphan/PB Moysés Siqueira Neto - Iphan/PB Suelen Andrade - Iphan/PB Superintende do Iphan/PB Claudio Nogueira Chefe da Divisão Técnica do Iphan/PB Christiane Finizola Chefe da Divisão Administrativa do Iphan/PB Lindaci Bandeira de Souza Coordenadora do Projeto de Extensão Probex/UFPB Jamile Paiva Editor Casa do Patrimônio da Paraíba Projeto Gráfico e diagramação Daniella Lira


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