AALTO, Aino e Alvar: uma obra de arte total.

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AALTO. AINO E ALVAR: Uma obra de arte total

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Prefácio

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Introdução

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Finlândia e o Mundo Nórdico O Mundo Nórdico A Finlândia Arquitetura Vernacular Anônima | Domínio Sueco Classicismo Romântico | Império em Helsinki Romantismo nacional Sensibilidade Dórica Funcionalismo dos Anos 30 Pós-Segunda Guerra Mundial

11 13 14 16 19 21 26 27 28

Aino Marsio-Aalto Formação Parceria com Alvar Aalto Artek Trabalhos individuais Últimos trabalhos Reconhecimento tardio

35 37 37 39 48 50 51

Alvar Aalto História de Infância e Família de Alvar Aalto Início da Relação com Arquitetura Casamento e primeiras Viagens Aalto e o funcionalismo Artek e Variedade Arquitetônica Arquitetura Moderna e o Romantismo Nacional A Guerra e seus Efeitos na Vida Profissional de Aalto Arquiteto e Professor Ressonâncias no mundo

55 57 58 59 63 66 68 72 72 74

Projetos Selecionados | Urbanismo Centro urbano, Seinäjoki

81 83

Projetos Selecionados | Arquitetura e Design Sanatório Paimio Villa Mairea Lar dos Estudantes (Baker House) Prefeitura de Säynätsalo Casa de Verão Experimental Prédio de Apartamentos Hansaviertel Igreja das Três Cruzes Finlândia Hall

89 91 95 99 103 107 111 113 115

A Cidade: Vyborg Contexto histórico A cidade finlandesa A história do urbanismo evidenciada na cartografia A Obra: Biblioteca Municipal de Viipuri Histórico Análise do projeto Restauro

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Considerações finais Anexos | Modelo físico Bibliografia

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SUMÁRIO


PREFÁCIO

A presente monografia é resultado de um trabalho da disciplina IAU 0754 Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo Modernos II do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP) ministrada pelos docentes Paulo Y. Fujioka e Tomás A. Moreira. Como propósito do exercício, os discentes deveriam produzir uma monografia com a temática “Um arquiteto, uma cidade”, em que fosse abordada a atuação de um arquiteto urbanista do período moderno com um limitante temporal de 1889-1940. O trabalho, assim, é uma composição da bibliografia do arquiteto com uma série de análises de projetos selecionados pelo grupo, com ênfase em uma obra específica. Além disso, é feito um estudo urbanístico da cidade onde essa obra se situa e uma investigação de como a arquitetura se relaciona e se insere no meio urbano.

pelos próprios autores. Ao escolher realizar uma monografia sobre o casal Aalto, abordando tanto a atuação de Alvar quanto de Aino Aalto, o grupo pretendeu problematizar o apagamento de arquitetas e urbanistas por uma historiografia da arquitetura - e, mais especificamente da arquitetura moderna - escrita por homens e para homens. A presente monografia já tensiona essa questão ao ir contra a própria temática oferecida pela disciplina em que deveria-se eleger “um arquiteto”, são escolhidos os dois arquitetos; não apenas Alvar Aalto, pois a atuação de sua mulher na obra selecionada é de igual importância. Desta forma, ao longo do trabalho, é evidenciado não somente a atuação de Aino Aalto em associação com seu marido, mas também uma análise de obras próprias dela, objetivando demonstrar o valor de sua contribuição esquecida pela maioria dos autores.

Nos capítulos que seguem, o leitor encontrará uma revisão bibliográfica sobre a vida e a atuação de Aino e Alvar Aalto nos campos da arquitetura, do urbanismo e do design, permeada por reflexões colocadas

FIGURA a esquerda: Casal Aalto, Aino Marsio-Aalto e Alvar Aalto no showroom da Artek em Nova York, 1940

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INTRODUÇÃO

O racionalismo - e muitas vezes a frieza - trazidos para a arquitetura com o advento do movimento moderno no século XX permitiu o nascimento, nas próprias estruturas internas do modernismo, de uma arquitetura mais “humana”. Existe nisso um certo paradoxo, se assim pode-se dizer, em que surge uma arquitetura calorosa de uma arquitetura fria. Dos pioneiros dessa produção arquitetônica mais sensível é inquestionável o papel importante de Alvar Aalto. Não menos importante é o papel de Aino Aalto, que apenas atualmente está ganhando reconhecimento devido à uma historiografia que foi, por muito tempo, machista. O casal de arquitetos, que trabalharam conjuntamente desde 1924 até a morte de Aino em 1949, serão o tema central dessa monografia.

das pelo casal - relacionadas com o assunto de guerra e reconstrução, por exemplo - assim como compreender alguns princípios arquitetônicos da produção do par tal como a opção de produção em massa de mobiliário.

O século XX se caracteriza mundialmente pelas suas transformações consideráveis na sociedade, na ciência e na arquitetura. Com duas grandes guerras mundiais e com guerras pontuais significativas nos países nórdicos, foi um período que afetou tanto a carreira quanto a vida pessoal da família Aalto. É a partir desse contexto conturbado que é possível compreender diversas viagens realiza-

É impossível desconsiderar a influência significante da arquitetura tradicional finlandesa no trabalho produzido pelo casal. A forte relação com a natureza vem tanto dessa tradição quanto do movimento arts and crafts de integrar o edifício na paisagem. As florestas, montanhas e tonalidades de paisagem invernal do norte eram elementos que não só inspiraram a produção mas que transborda-

Ao analisar as obras realizadas pelo casal é perceptível uma maior inclinação de Aino para com o design e de Aalto para com a arquitetura. Apesar disso, Aino e Alvar acreditavam na obra de arte total, na qual arquitetura, arte e design formam um só corpo. O design produzido por eles variava de artigos de madeira até vidro, de maçanetas e corrimãos até vasos. Era uma mistura de arte e técnica,sensibilidade e ciência. Desse gosto pelo design foi fundada a empresa Artek que permanece até os dias atuais.

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vam um sentimento nacionalista. Foi escolhido para uma análise mais aprofundada o projeto da Biblioteca de Viipuri. Projetada conjuntamente pelo casal, a biblioteca é um dos projetos mais conhecidos do nome Aalto e possui uma qualidade arquitetônica incontestável, reconhecida por diversos críticos da arquitetura e arquitetos renomados, situa-se em na cidade de Vyborg, atualmente pertencente à Rússia, com um contexto histórico único, o qual refletiu diretamente na obra. Além disso é uma obra exemplar do trabalho arquitetônico em sua totalidade. Diante disso, é de se destacar que ao longo da monografia há sempre uma busca por não isolar o projeto arquitetônico do design, já que, os próprios arquitetos em questão não o fazem.


A FINLÂNDIA E O MUNDO NÓRDICO

“A primeira caracteristica essencial de interesse é a uniformidade da arquitetura carelina. Existem poucos exemplos comparáveis na Europa. É uma pura arquitetura de assentamentona floresta, em que a madeira domina, na maioria das vezes ao natural, sem o efeito desmaterializador de que uma camada de tinta lhe confere.” AALTO (1941) apud FRAMPTON (2015)

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A FINLÂNDIA E O MUNDO NÓRDICO

O Mundo Nórdico O “Norte”, muito além de um referência a um ponto cardeal é uma região que mesmo sendo constituída por países tão distintos como a Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Islândia e as zonas autônomas da Groenlândia, das Ilhas Faroé e das Ilhas Aland, é dotada de uma identidade e um caráter que permite unir todos esses países e regiões sob uma única expressão, ‘Mundo Nórdico’.

sos como planícies, colinas e montanhas. A grande variação de incidência de luz solar durante o ano é responsável por criar ambientes completamente díspares. Durante o Verão, quando nunca escurece, as cores da natureza se misturam com as do construído, criando um espaço infinito de sensações intemporais que contrasta com a sempre presente escuridão das noites de Inverno, quando a neve forma uma cobertor branco que recobre todo o território. Os países nórdicos são majoritariamente protestantes, o que se reflete na procura de pureza e simplicidade na forma como constroem e em seu design. Este puritanismo se traduz também nas relações sociais e no equilíbrio com o meio ambiente. O Norte da Europa é associado a uma relação de proximidade e empatia com o natural. A população local vive entre as coisas como participantes de uma rede, onde o estado de espíritos é a base para a participação.

Situados no extremo norte do continente Europeu, a cultura nórdica é caracterizada pela relação especial desenvolvida entre a população local e a natureza. As florestas estão integradas na vida das pessoas, tanto como parte da paisagem como enquanto fonte de matéria prima e alimento. Dispersos em uma paisagem marcada pela névoa e gelo, os silenciosos bosques se destacam como ilhas de vegetação espalhadas por um extenso território, pouco povoado e praticamente intocado pelo homem, gerando um contínuo de configurações dispersas e fragmentadas. Além das floresta, a paisagem destes países é caracterizada por elementos diver-

Apesar das similaridades, o Mundo FIGURA 01 à esquerda: Mapa antigo do Mundo Nórdico, 1757.

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Nórdico é composto por países diferentes, Essas diferenças são marcadas, em grande parte, na relação leste-oeste, derivado especialmente pelas formações montanhosas e ligação ao mar, e a relação variada com o continente em termos de paisagem e construção. Na Finlândia, diferentemente do que ocorre nos outros países nórdicos, o oriente é mais marcado pelo Báltico, que é formado por diferentes culturas e países, influenciando assim uma variante especial de nórdico na Finlândia.1 A Finlândia

COUTINHO, Ricardo S. de A. Identidade Nórdica, Construção de lugar na paisagem Norueguesa. Porto, 2014, p. 17.

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Christian Norberg-Schulz (1926-2000), foi um arquiteto e escritor noruêgues internacionalmente reconhecido pelos seus livros de história da arquitetura e pelos seus escritos teóricos, em especial sobre a arquitetura nórdica. 2

3 NORBERG-SCHULZ (1996) apud COUTINHO (2014).

A Finlândia central é rica em lagos e ilhas - 187 888 lagos e 179 584 ilhas -, sendo que o Saimaa é o quinto maior lago da Europa. Uma rede labiríntica de caminhos d’água pontuadas por inúmeras colinas que perpetuam as baixas ilhas rochosas liga os lagos uns aos outros e aos Golfos da Finlândia, no Sul, e a da Bothnia, no Oeste.

de folhas caducas se concentram próximo às linhas costeiras, enquanto as árvores de folhas permanentes dominam as terras interiores. O pinheiro alto e fino é a árvore dominante e, embora não alcance grandes alturas, forma uma paisagem extensa, uniforme e sem fim. A floresta é essencial à vida finlandesa. Elas representam uma fonte de proteção e conforto e fornecem. Devido a presença de grandes áreas florestadas, a madeira é a principal matéria prima do país. No verão, árvores são derrubadas no norte e então começam uma jornada de um ano através de lagos e rios até as fábricas de celulose na costa.

Além da madeira, nas grandes áreas florestadas da Finlândia são encontrados solos rochosos. Nelas, o granito age como uma base contínua do espaço, tornando o terreno pouco fértil. A Finlândia é, segundo Christian Norber-Schulz2, possivelmente o “‘mais Nórdi A paisagem finlandesa é predominante- co’ de todos, e o que mais sucesso teve na mente formada por planícies. A variação re- tradução de seu ambiente natural para uma gional surge pela sua vegetação. As florestas arquitetura internacional significativa”.3 Ex-

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emplo disso é a reutilização da tradição arquitetônica, que se expressa em edifícios onde a pedra e madeira trabalham juntas de uma maneira incomparável. Uma das particularidade da Finlândia é que ela é um dos poucos países cuja a superfície ainda se expande devido a recuperação pós-glacial que está sofrendo desde a última era glacial, a superfície se expande cerca de 7 quilômetros por ano. Quanto ao clima, a Finlândia se parece muito com os outros países Nórdicos. Com um quarto do seu território situando-se ao norte do Círculo Polar Ártico, é possível experimentar o Sol da Meia-Noite no norte Finlândia e na Lapônia - uma das 19 regiões da Finlândia, está situada ao norte durante o verão quando o sol não se põe por aproximadamente 73 dias. Outro fenômeno característico dessa região setentrional é a noite polar ou, como os finlandeses chamam na sua própria língua, “kaamos”, quando o sol não nasce durante 51 dias de inverno. A grande variação de incidência da luz solar ao longo do ano torna a iluminação um componente importante para a vida e a arquitetura finlandesa. No Norte, a força natural mais importante é a luz. No Inverno a

luz é escassa, e no Verão, excessiva. Mas, diferente da luz do Sul, que incide num ângulo mais reto, delimitando os edifícios e os respectivos pormenores com sombras breves e nitidamente definidas, a luz do Norte é mais tênue e diáfana e forma sombras mais alongadas, influenciando decisivamente a forma como se apreendem os espaços, as texturas das fachadas, os matizes das cores e a atmosfera dos interiores. A Finlândia tem 4 600 000 habitantes. Com uma área de 305 500 km2, excluindo os lagos, o que significa 13,7 pessoas por km2 de terra. Isso corresponde a uma densidade populacional de não mais de duas pessoas por km2. Mesmo na densamente populada região da costa Sul e Sudoeste, a proporção de habitantes por km2 é muito menor em comparação com outros países europeus. Atualmente, em termos de política, a Finlândia é uma democracia do tipo parlamentar baseada na concorrência entre partidos políticos, com o poder dividido entre os órgãos mais altos do governo, mas não se enquadra - em todos os aspectos - às categorias parlamentares idealizadas pelos ci

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FIGURA 02 à direita: Floresta finlandesa durante o verão, com destaque para a rede de rios e lagos. FIGURA 03 à direita: Floresta finlandesa durante o inverno.


entistas políticos. Desde 1995, ela integra a União Europeia, tendo entrado na zona do euro em 1999 e adotado o euro como moeda oficial em 2002.

FIGURA 04 à direita: Habitações em madeira construídas com as mesmas técnicas da arquitetura medieval finlandesa em madeira.

teiriça, a Finlândia permaneceu isolada da cultural Ocidental até o século XII, quando a influência da Suécia e da Igreja Romana penetraram no país a partir do Oeste e missionários das então A República de Novgorod4 e Considerada um país desenvolvido, a Byzantio5 vieram do Leste. Finlândia possui um altíssimo nível de desenvolvimento humano (IDH) reflexo de o país A distinção entre o Oeste e Leste apapossuir os melhores índices do mundo no que recem mais claramente nas construções se refere ao nível da qualidade de vida, ed- vernaculares. Enquanto as fazendas e asucação pública, expectativa de vida, liber- sentamentos do Oeste da Finlândia têm dade econômica, etc. As cidades finlandesas um carácter defensivo e fechado, no Leste também estão entre as “mais habitáveis” do são recorrentes tipos mais abertos, com demundo, figurando entre as mais limpas, segu- pendências agrupadas vagamente em torno ras e organizadas do mundo. na edificação principal. As habitações eram compostas de diferentes tipos de casas de O período de estabilidade e prosperi- dois ambientes. Tanto famílias quanto animais dade pelo qual a Finlândia tem passado nas viviam em construções de apenas um andar últimas décadas, encobrem um passado re- cercadas por um jardim retangular fechado pleto de guerras e conflitos, decorrentes da que normalmente levava ao curral e à sauna. sua posição periférica na Europa, situada No final do século XVIII, uma casa de dois geograficamente na fronteira entre a cultura andares e um cômodo com uma secção para ocidental e oriental. estocagem era comum, oriundo das casas de cômodo único com lareira no solo e abertura zenital para fumaça. A Arquitetura Vernacular Anônima A maior parte das casas da baixa idade Mesmo situada em uma região fron- média, como nas fazendas, eram construídas

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com os mesmo princípios das cabanas feitas em toras de madeira. A dispensa e o armazém ficavam no térreo, sala de estar no primeiro pavimento e a sala de jantar acima. Duas alas de andar único com os quartos dos serventes, a granja e estábulo flanqueavam o pátio. Esta organização substituiu o antigo tipo com pátio retangular e fechado em todos os lados. Com a consolidação do domínio sueco, marcada pela construção da fortaleza de Viborg no interior do golfo da Finlândia em 1293, a maior parte da Finlândia foi convertida ao Cristianismo com apenas a extrema região oriental remanescendo sob o domínio Russo-Bizantino, estabelecendo de modo definitivo a fronteira entre as duas culturas. O aumento da influência do Oeste apareceu primeiramente nas Ilhas de Aland, situadas entre a Suécia e a Finlândia, onde as primeiras igrejas de pedras do continente foram construídas nos séculos XIII e XIV seguindo os princípios do modelo gótico sueco. Estas igrejas se espalharam logo em seguida pelos novos assentamentos na região da Costa Oeste, onde, antes de Turku se tornar

um bispado, estavam localizados os principais centros finlandeses, os distritos nordeste da antiga capital em Nousiainen e depois Koroinen. Na região sul e sudeste da Finlândia continental, as primeiras grandes construções apareceram logo após 1300, sendo a mais importante a Catedral e Castelo de Turku, capital naquela época. Neste período a arquitetura finlandesa também recebeu

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A República de Novgorod foi um antigo Estado eslavo da Idade Média, que se estendia do Mar Báltico até os Montes Urais, entre o séculos XII e XV. Atualmente apresenta parte pertencente à Finlândia e parte à Russia.

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5 O Império Bizantino foi a continuação do Império Romando na Anitguidade Tardia e Idade Média. Após o colapso do Império Romano do Ocidente no século V, ele continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até sua queda diante da expansão dos turcos otomanos em 1453.


a influência de outras regiões da Europa. A influência Germano-Baltica pode ser percebida em igrejas do tipo salão com três naves construídas em torno do fim do século XIV. Já na ornamentação marcadamente horizontal da pedra das igrejas do final do século XV são notadas influências dinamarquesas. O estreito vínculo entre a Europa Nórdica e Central na Idade Média se tornou cada vez mais fraco na medida em que a Finlândia se aprofundava em um isolamento político e provincial durante a Reforma. De fato, foi apenas na metade do século XVII que grandes construções voltaram a aparecer como o forte de Suomenlinna - comparáveis em significado e qualidade arquitetural à Catedral e Castelo de Turku. Enquanto a Europa experienciou a majestosa progressão da Renascença e do Barroco, nada de similar importância ocorria na Finlândia. Pouco afetada pelo desenvolvimento estilístico da Europa, os esforços finlandeses foram direcionados para a urbanização da região central de seu país, Odmark. FIGURA 05: Foto da Catedral e Fortaleza de Turku., construída no século XIII, quando Turku ainda era a capital.

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O século XVII viu a fundação de diversas cidades, mas como a maioria das construções

eram emmadeira, elas foram frequentemente destruídas pelo fogo. Entre os exemplos mais distintos da arquitetura finlandesa deste período estão as igrejas de madeira. As que continuam preservadas nos dias atuais foram construídas, em sua maioria, entre o século XVII e o início do século XIX. Essas igrejas de madeira, trabalho de mestre construtores nativos, explorava - como toda construção finlandesa em madeira da época - os métodos estruturais das tradicionais cabanas de madeira finlandesas. As construções mais comuns eram igrejas de nave única e igrejas de planta cruciforme, sendo a forma preferida a planta em cruz grega composta por cinco quadrados iguais. As igrejas de madeira da Finlândia dos séculos XVII e XVIII, como as igrejas medievais de pedra, todas têm um campanário independente. As fortalezas finlandesas eram baluartes imperiais suecos e ao mesmo tempo sedes administrativas do governo. Elas eram geralmente construídas em ilhas ou em topo de penhascos, cercados por fossos. Um exemplo típico é Olavinlinnna na Kyrönsalmi-Sud construída em uma ilha rochosa no final do século XV e a fortaleza de Viipuri, localizada

perto de Turku, uma das maiores deste tipo de construção. A fortaleza da ilha de Suomelinna, construída pela Suécia, com sua muralha de 7 km de comprimento, é uma das maiores fortalezas barrocas na Europa. Depois da Grande Guerra Nórdica e a perda de Viipuri, a cidade fronteiriça de Hamina foi construída como uma defesa contra o Leste. Com suas estradas em formato de estrela, espalhando-se a partir da Praça do Mercado, é única no Norte Europeu. Classicismo Romântico Até o começo do século XIX, a arquitetura finlandesa conservou o seu caráter anônimo e não deu atenção para refinamentos ornamentais. Nenhuma mudança fundamental aconteceu até o Período Imperial quando, favorecida pela recém-adquirida autonomia política dentro do Estado Russo que adquiriu a província da Suécia, a Finlândia emergiu como um grão-ducado russo independente de sua isolação política e abraçou a arquitetura da Europa central. Helsinki substituiu Turku como nova capital e, após ser queimada em 1808, foi reconstruída seguindo um

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em um esplêndido monumento a esses eventos, enquanto o Imperial se tornou o estilo arquitetônico nacional que dava às cidades finlandesas suas características particulares, dando início a uma tradição acadêmica na arquitetura finlandesa.

plataforma e com seu grande pórtico de colunas domina o lado norte da praça. A criação mais importante de Engel é a biblioteca com uma elevada sala com cúpula, localizada próxima à Universidade e adjacente ao antigo Hospital Militar. As obras desse grande arquiteto não ficaram restritas a Helsinki, out O político e diplomata, Johann Albrecht ras construções projetadas por ele, incluindo Ehrenström, um dos mais importantes perso- igrejas, construções civis, casas senhoriais e nagens daquele momento e um homem de mansões, são encontradas em todo o país. ampla visão, supervisionava as operações como o presidente do comitê de planejamen- Após a morte de Carl Ludwig Engel em to, planejando uma cidade de ruas retas e 1840 as atividades de construção declinapraças abertas. Também graças a ele, Carl ram e o estilo imperial perdeu sua inspiração. Ludwig Engel, um companheiro estudante de Elementos adotados da arquitetura medieSchinkel, foi convidado à Helsinki. val e renascentista foram introduzidos. Os principais arquitetos vinham da Suécia ou Em 1824 Engel substituiu Charles Bas- ao menos haviam se formado na Academia si como intendente geral de obras públicas de Stockholm. Seus prédios neo-renascene assumiu a responsabilidade pelo desen- tistas, entretanto, sofreram menos com as volvimento futuro da capital. Com 25 anos tendências exageradas percebidas em outele havia completado o maior complexo ar- ros países europeus. Em adição, a industrialquitetônico do Norte desenhado como uma ização estava levando a novas formas, que única concepção a Praça do Senado com foram vistas pela primeira vez na exposição os seus esplêndidos prédios imperiais. Leve- industrial de 1876. Carl Theodor Höijer, que mente inclinada em direção ao sul, a praça desenhou as construções da exibição, estava é cercada a oeste pela universidade e a les- entre os mais característicos representantes te pelo senado. A catedral erguida em uma desse movimento. Exuberantes decorações

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em gesso eram um fator essencial na concepção geral de suas construções. Apesar da exibição industrial não mostrar nenhuma mudança fundamental na arquitetura, era um primeiro indicador de que novas ideias estavam surgindo. Romantismo Nacional Durante o período imperial, o contato com o forte componente nacionalista da cultura russa levou ao desenvolvimento de um sensibilidade nacional na Finlândia que voltou-se para arte como instrumento de valo-

rização da cultura nacional e criação de uma identidade nacional. O Ecletismo, o neo-Renascentismo e os outros estilos conflitantes com a tradição Finlandesa foram considerados inadequados a este despertar nacional, que já havia sido proclamado na literatura, na música e nas artes aplicadas. Procurando por um caminho próprio, a arquitetura finlandesa voltou-se para a tradição vernacular das cabanas de madeira medievais e suas formas simples e limpas, adotando o Romantismo Nacional como forma de expressão desse novo período da história finlandesa. Proveniente do Neogótico, através do esti

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FIGURA 06: Prédio do Senado, localizado na Praça do Senado em Helsinki.

FIGURA 07 na página seguinte: Lemminkäisen äiti (Lemminkäinen’s mother), Akseli WWGallen-Kallela. 1897. A pintura illustra uma passagem do Kalevala em que a mãe de Lemminkäinen, o heroi da história, chora sobre o corpo sem vida de seu filho enquanto aguarda o seu retorna à vida.

Trecho do Cântico I da Kalevala traduzido para o português.

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7 Trecho do Cântico I da Kalevala original em finlandês.


Kalevala - Cántico I6 A minha mente deseja, o meu pensamento anseia quer começar a cantar, palavras minhas ditar, cantos familiares derramar, cânticos do povo cantar. Palavras na boca derretem as frases nela escorregam quando a esta língua chegam, nos meus dentes se desfazem. Irmão, ó meu irmão querido, bom companheiro da vida! Vem agora, vem cantar; comigo palavras dizer, ora que nos encontramos, de lugares diferentes vindos! Poucas vezes nos juntamos, tão poucas nos encontramos nestas desoladas terras, tão pobres e tão ao Norte

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Kalevala - Ensimmäinen runo7 Mieleni minum tekevi, aivoni ajattelevi lähteäni laulamahan, saa’ani sanelemahan, sukuvirttä suoltamahan, lajivirttä laulamahan. Sanat suussani sulavat, puhe’et putoelevat, kielelleni kerkiävät, hampahilleni hajoovat. Veli kulta, veikkoseni, kaunis kasvinkumppalini! Lähe nyt kanssa laulamahan, saa kera sanelemahan yhtehen yhyttyämme kahta’alta käytyämme! Harvoin yhtehen yhymme, saame toinen toisihimme näillä raukoilla rajoilla, poloisilla Pohjan mailla.

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lo Shingle norte-americano de H. H. Richardson, o Romantismo Nacional predominou inicialmente tanto na Suécia quanto na Finlândia, sobretudo na obra do arquiteto Gustaf Ferdinand Boberg, o responsável pela introdução da obra de Richardson na Escandinávia e Finlândia.

FRAMPTON, K. História Crítica da Arquitetura Moderna. 2015, p. 235.

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trar um estilo nacional que não fosse o Classicismo Romântico, que era o estimo imperialista de Helsinque, construído sob os auspícios russos. Outro motivo da forma específica muito prontamente assumida, na Finlandesa, da sintaxe richardsoniana, provinha da necessidade de explorar a abundância de granito local, refletido no envio de uma missão a Ab Enquanto os arquitetos suecos e di- erdeen, no início da década de 1890 com a namarqueses foram incapazes de transformar finalidade de estudar a técnica escocesa de essa maneira neo-romântica em um estilo na- construir com esse material. cional convincente, na Finlândia, o Romantismo Nacional já se tornara uma força signifi- O primeiro arquiteto romântico naciocativa por volta de 1895, quando um grupo nal a usar o granito foi Sonck, cuja a Igrede artistas atingiu ao mesmo tempo sua ma- ja Neogótica de São Miguel, construída em turidade ideológica e artística: o compositor Turku em 1895, foi enriquecida por colunas e Jean Sibelius, o pintor Akseli Gallén-Kallela móveis de granito apuradamente trabalhado, e os arquitetos, Eliel Saarinen, Herman Ge- em contraste com seu interior austero e de essellius, Armas Lindgren e, a uma certa distân- cassa decoração. Além da igreja, a catedral cia, Lars Sonk. A inspiração básica por trás de Tampere (1902) e o edifício da Telefônica da obra de todos eles era a épica popular de Helsinque (1905) também “foram nitidafinlandesa, a Kalevala, que fora compilada mente influenciados pela obra de Richardson, e transcrita por Elias Lönnroth no início do sé- cuja a sintaxe em alvenaria, como observou culo XIX. Asko Salokorpi, lembrava a tradição medieval finlandesa”.8 A força propulsora por trás do Romantismo Nacional da Finlândia procedia, pelo Herman Gesellius, Armas Lindgren e menos em parte, da necessidade de encon- Eliel Saarinen formaram uma parceria, an-

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tes mesmo de completarem os seus estudos, começando uma nova era na Arquitetura Finlandesa. Em seu primeiro trabalho juntos, o Pavilhão Finlandês na Exposição Internacional de Paris de 1900, adornado com afrescos de Akseli Gallén-Kallela, eles aderem ao estilo richardsoniano, construindo uma obra de extração orientalizante e neo-romântica.

Em 1902, Armas Lindgren se tornou diretor da Escola de Artes e Design de Helsinki; Gesellius e Saarinen construíram a estação de Viipuri em 1909-1913, na qual se distingue claramente a tendência funcionalista que mais tarde será concretizada na Estação Central de Saarinen (1910-14) em Helsinki.

Em 1902, uma versão doméstica desse estilo foi adotada na extremamente romântica casa Hvitträsk, uma casa combinada de estúdio-escritório em Helsinki projetada em colaboração com Gesellius. Ambas construções mostram claramente a influência do Romantismo Nacional como uma variante finlandesa do Jugendstil.9

Dois anos depois , em 1904, o idílico “de guilda” de Saarinen, Gesellius e Lindgren - que, antecipando Wright, não apenas trabalhavam, mas também viviam juntos em Hvitträqk - chegou abruptamente ao fim quando Saarinen participou sozinho do concurso para a construção do Terminal Ferroviário de Helsinque e foi o vencedor.

A intervenção dos jovens arquitetos Gesellius, Lindgren, Jung, Neovius e Sonck no debate sobre a construção do Museu Nacional da Finlândia reflete o grande entusiasmo da virada do século. Eles forçaram uma competição, que foi vencida por Gesellius, Lindgren e Saarinen. O museu nacional foi construído entre 1906 e 1912. Este foi o principal trabalho destes arquitetos em seu primeiro período de romantismo nacional.

Após Ehrensvärd e Ehrenström, o criador da clássica Helsinki, Saarinen foi o terceiro maior urbanista/planejador urbano da Finlândia. O plano geral para a Grande Helsinki e Munkkiniemi-Haaga não perdeu sua validade nos dias atuais. Eliel Saarinen em

FIGURA 08: Ig reja Neogótico de São Miguel em Turku, projetada em 1895 por Sonck.

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igrou para os Estados Unidos em 1923 tornando-se um dos primeiros protagonistas da arquitetura finlandesa no exterior. Os esforços finlandeses pela consolidação de sua identidade nacional também teve consequências políticas. Dentre elas, destaca-se o fato de a Finlândia ter sido o primeiro país a adotar o Sufrágio Universal, ainda em 1907, garantindo às mulheres tanto o direito de votar quanto o de se candidatar a cargos políticos.

FIGURA 09: Pavilhão Finladês na Exposição Internacional de Paris de 1900, projetado por Herman Gesellius, Armas Lindgren e Eliel Saarinen.

1908.

Após a Dinamarca, levou um tempo para esse movimento entrar na Suécia, onde foi adaptado pWor uma tendência à inflexão do plano e por uma obsessão pela alusão local, tal como havia sido estabelecido no planejamento e na iconografia enviesada do estilo romântico nacional de Östberg. Esta foi uma forma de expressão contida e sintética que invariavelmente aludia à topografia e ao genius loci. Esse impulso à distorção estava fortemente presente na obra de Asplund que, Sensibilidade Dórica segundo Frampton, “procurou esporadicamente, ao longo de sua carreira, transcender Além da Nacionalismo Romântico, out- a ‘guerra dos estilos’, fundindo o vernáculo e ra importante modalidade arquitetônica em o clássico em uma forma de expressão primvoga na Finlândia no início do século XX era itiva e mais autêntica” 10. a Sensibilidade Dórica, procedente do Classicismo romântico de Schinkel. Essas preocupações de Asplund podem ser primeiramente percebidas em sua Cape Esse reaparecimento do Classicismo la Woodland (1981-20) no Cemitério Sul de Romântico nos Países Nórdicos começou na Estocolmo cuja a forma deriva de uma “caDinamarca, onde desponta graças à influên- bana primitiva” e, posteriormente, na Escola cia de escritores como Vilhelm Wansher, cu- Carl Johan de Göteborg (1915), no cinema jos primeiros artigos sobre o Neoclassicismo Skandia de Estocolmo (1921) e na Biblioteca apareceram em 1907, e o alemão Paul Me- Pública de Estocolmo (1928), sendo que nesbes, cujo livro “Um 1800” foi publicado em sas três obras estão presentes os motivos de

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extração egípcia e neoclássica que se repetiram em toda a sua obra ao longo da década de 1920. A produção de Asplund teve um grande impacto no ínicio da carreira de Alvar Aalto, sendo um dos catalisadores que o levaram a adotar a sensibilidade dórica em sua produção inicial. Apesar desse revival romântico clássico se inspirar claramente na arquitetura clássica greco-romana, ela se diferencia por ser adaptada à escala do corpo humano, ao lugar, aos materiais tradicionais, à cultura nórdica, características que estiveram presentes em toda a produção tanto de Alvar quanto de Aino Aalto. Funcionalismo dos anos 30 A industrialização na Finlândia, iniciada no século XIX , estimulou, como em qualquer outro lugar, a busca por novas formas arquitetônicas uma vez que o Romantismo Nacional foi incapaz de sintetizar e expressar ideias contemporâneas. Na Finlândia também o surgimento do moderno foi resultado Além disso, as mudanças globais na estrutura social e política devido à Primeira Guerra

Mundial - dentre elas, a própria independência da Finlândia, oficializada em 1918 - resultaram no surgimento do movimento moderno finlandês. O poderoso impulso nas atividades de construções nos anos 30, em conjunto com o trabalho de Aalto, resultou em um série de importantes edificações. Um dos grandes projetos dessa época é o Estádio Olímpico em Helsinki, de Yrjö Lindegren e Toivo Jäntti, começado em 1936, mas apenas completado em 1952. No que tange às construções urbanísticas, a Vila Olímpica de Hilding Ekelund e Martii Välikangas representa a primeira instalação moderna e homogênea planejada por eles. Em 1938 Märta Blomstedt e Matti Lampén construíram próximo de Hämeenlinna, no meio do típico lago interno, o maior hotel turístico da Finlândia. Também no gênero de construções monumentais se distinguem com clareza os elementos do estilo internacional, temos um exemplo disso nos projetos de Erkki Huttunen em Nakkila (1937) e de P. E. Blomstedt em Kannonkoski (1938). O crescente caráter industrial da economia resultou em uma grande quantidade de construções industriais como o Armazém de Hel

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FIGURA 10: Foto da Biblioteca Pública de Estolcomo, 1928. 9 Jugendstil é uma vertente germânica do Art Nouveau que floresceu durante o final do século XIX e o princípio do século XX. O termo Jugendstil significa “estilo da juventude” e teve sua origem em 1896 devido a revista Die Jugend, fundada por Otto Eckmann. 10 FRAMPTON, K. História Crítica da Arquitetura Moderna. 2015, p. 237.


sinki (1937) do arquiteto da cidade, Gunnar Taucher, e o edifício de depósito e oficinas do Monopólio Estatal de Álcool (1937-40), também em Helsinki, por Vainö Vähäkallio. Apesar da adoção do modernismo, esse movimento ganhou feições próprias na Finlândia, onde os seus princípios foram adaptados à realidade e às condições do país, criando uma arquitetura autóctone, mas ao mesmo tempo conectada com as discussões que ocorriam no resto do mundo. Nos anos seguintes, a guerra interrompeu todas as atividades de construção e a Finlândia, que se preparava para receber a rivalidade amigável dos Jogos Olímpicos de 1940, mais uma vez teve sua existência nacional ameaçada por ser um país fronteiriço entre Leste e Oeste.

Pós-Segunda Guerra Mundial

FIGURA 11: Foto do Estádio Olímpico de Helsinki, começado em 1936 e finalizado em 1952.

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Os anos do pós-guerra trouxeram um grande impulso para a construção civil, com ênfase na construção de habitações, uma vez que meio milhão de refugiados das regiões

orientais precisavam ser acomodados, tais como aqueles advindos de parte da região da Carélia, parte das cidades de Salla e Pechenga e do Porto de Vyborg, cedidas a ex-URSS como reparação dos danos de guerra. Em 1949 foi fundada a Comissão Estatal ARAVA, estimulando a construção de casas através do oferecimentos de empréstimos em condições favoráveis. Como resultado, a qualidade foi sacrificada em detrimento da quantidade, apesar de terem surgido alguns projetos individuais admiráveis, dentre os quais a cidade jardim de Tapiola é a mais importante.

mantismo, a partir dos anos 1950 surge um renovado interesse no funcionalismo dos anos trinta. Um exemplo das realizações pitorescas da primeira fase do pós guerra é a Casa das Serpentes (1951) de Yrjö Lindegren. A Casa da Indústria em Helsinki, de Viljo Revell e Keijo Petäjä, 1950-53, mostra uma nova tendência ao racionalismo. Junto a Aalto, Ervi e Revell (falecido em 1964), um dos mais notáveis representantes da arquitetura de vanguarda finlandesa é Jorma Järvi, que projetou o Estádio de Natação de Helsinki em 1952, Kaija e Heikki Siren e Aulis Blomstedt. O casal Siren se tornou conhecido com “a pequena casa” para o Teatro Nacional da Finlândia (1954). No mesmo ano, Aulius Blomstedt construiu sua linha de casas em Tapiola.

A pressão crescente da industrialização levou a produção de muitas fábricas novas, mas nenhuma atingiu o nível da fábrica de celulose de Aalto em Sunila no entreguerras, entre 1936-39. Bons exemplos desse campo de atuação são a Estação de Energia no rio Ouli, ao qual a Hidroelétrica de Pyhäkoski erguida em 1949 por Aarne Ervi pertence.

A atuação desses arquitetos, especialmente nos anos 50, significou a manifestação definitiva da arquitetura finlandesa com uma vanguarda internacional, consolidando um caminho de mais de meio século durante o qual a arquiteturaconseguiu interpretar os percalços e a procura de identidade na construção, representando a idiossincrasia da Enquanto nos primeiros anos após a cultura finlandesa. guerra se percebe um certo regresso ao ro-

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FIGURA 12: Fabrica de Celulose de Sunila, 1936-1939. FIGURA 13: Linha do tempo com os principais arquitetos nórdicos que influênciaram a arquitetura finlandesa a partir do século XIX.

FIGURA 14: Linha do tempo com os principais acontecimentos da história e da arquitetura finlandesa.

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AINO MARSIO-AALTO

“Aino’s concept for interiors, in line with the Nordic interpretation of modernism, was not determined only by functionalistic purposes but rather by her own belief of a human-centric design scale in harmony with nature and with a sober aesthetics able to balance form and function. She was particularly interested in offering to interiors comfort and coziness, togetherness and freedom, warmth and serenity combined with sobriety and quality.” (POMBO, 2016, p. 57)

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AINO MARSIO-AALTO | 1894 - 1949

Formação

carreira profissional no escritório do arquiteto Oiva Kallio, também localizado na capital. Em 1923, Aino recebeu uma proposta para trabalhar no escritório do arquiteto Gunnar Achilles Wahlroos em Jyväskylä, mesma cidade onde Alvar Aalto abriu o seu escritório no mesmo ano. Aino trabalhou pouco tempo com Wahlross e, poucos meses após ter se mudado, aceitou trabalhar com Alvar Aalto, que ela já conhecia do Instituto Tecnológico de Helsinki.

Aino Maria Marsio-Aalto (Aino Maria Mandelin) nasceu em janeiro de 1894 na capital finlandesa, Helsinki, onde completou a sua educação escolar em 1913 na Escola Finlandesa para Garotas. Ela iniciou seus estudos em Arquitetura no Instituto de Tecnologia de Helsinki, formando-se em 1920 como uma das primeiras arquitetas finlandesas. Em 1919, durante os seus anos de estudos, ela trabalhou no escritório do arquiteto paisagista Bengt Schalin, onde participou do projeto Parceria com Alvar Aalto do Jardim da Villa Kukkula.

Apesar de ser quatro anos mais velha que Alvar, ter se graduado antes e ter ganho uma experiência relevante com as suas viagens e trabalhos anteriores, Aino não tinha nem condições financeiras nem conexões sociais para abrir o seu próprio escritório. No novo escritório, Aino ganhou rapidamente a confiança de Alvar, casando-se com ele em 1925. Em sua lua de mel, eles viajaram para o norte da Itália. Era comum na época que os jovens arquitetos nórdicos visitassem a Itália para estudar a arquitetura vernacular, que Logo após se formar, ela começou a sua teve grande influência na arquitetura nórdi

Ainda durante a sua graduação, Aino viajou pela Europa com suas colegas de classe Aili-Salli Ahde (1892-1979) e Elli Ruuth (1893-1975). Elas foram para a Alemanha, Suíça e Itália, onde visitaram diferentes cidade como Veneza, Ravenna, Siena, Firenze e Roma. Essas viagens abriram os seus horizontes, desafiando os seus conhecimentos sobre arquitetura, e influenciaram o seus interesse por continuar viajando pelo exterior durante sua vida.

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FIGURA 01 acima: Trabalho escolar de Aino AAlto dos anos 1910. Desenho da planta da Igreja Borgundi e do corte da Igreja de Goli. FIGURA 02 à esquerda: Aino Aalto no Rio Oulojoki, 1931.


ca dos anos 1920 através do florescimento da Sensibilidade Dórica. Algumas outras viagens ocorreram nos anos 1920 e 1930, e influenciaram significativamente a obra arquitetônica de ambos. O primeiro filho do casal, Johanna, nasceu em 1925 e o segundo, Hamilkar, em 1927, levando-na a encontrar um equilíbrio entre carreira profissional e maternidade, um desafio que as arquitetas contemporâneas ainda tem que enfrentar. Sobre isso, Aino declarou no final dos anos 1920, em uma entrevista de rádio, “Quando nossas crianças eram pequenas, eu me retirei temporariamente do escritório. Mas enquanto as crianças cresciam, eu continuei a minha carreira normalmente.” “While our children were small, I temporarily withdrew from the office. But while the children grew older, I continued my career normally”1.

Tradução nossa. “While our children were small, I temporarily withdrew from the office. But while the children grew older, I continues ly career normally”, AINO apud POMBO (2016).

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Em 1927, o casal Aalto mudou-se para Turku e deu início a uma colaboração com Erik Bryggman. Os primeiros projetos construídos por eles eram em sua maioria edifícios de pequena escala, em especial casas de veraneio no estilo do movimento Sensibil-

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idade Dórica. Entre essas obras, se destaca a própria casa de veraneio da família Aalto em Alajärvi projetada por Aino Aalto em 1926 e ampliada em 1938, a Villa Flora. O papel que Aino Aalto teve no desenvolvimento dos projetos atribuídos a Alvar Aalto não foi completamente verificado porque, no geral, não foi documentado. Entretanto, o que pode-se perceber é que Aino teve papel primordial nas concepções de Aalto, principalmente no que diz respeito ao design de interiores e à influência na combinação entre arquitetura vernacular nórdica e arquitetura moderna funcionalista. Segundo relatos, Aino e Alvar tinham personalidades diferentes que se equilibravam, contribuindo para o sucesso dos projetos que construíram juntos. “Este foi um casamento único como tudo relacionado a ele. Seu segredo se baseava em uma profunda reciprocidade de contrastes. Aalto era infatigável, efervescente e incalculável. Aino era meticulosa, perseverante e contida. Às vezes, é bom quando um vulcão é cercado por

um meandro silencioso.” (GIEDION, sua casa-escritório entre 1935-1936. A sede 1969, p.667) do Alvar Aalto Arquitetos continuou no mesmo local até 1954, quando foi construído um A importância do trabalho de Aino, prédio próprio para o escritório na mesma principalmente na área do design de móveis, vizinhança. pode ser percebida no Sanatório de Paimio (1927-29), uma das obras primas do casal. Artek A criação de objetos que pudessem ser produzidos de forma industrializada fez com que o mobiliário projetado por Aino para o Sanatório fosse concebido de modo a formar uma obra única em conjunto com a arquitetura do edifício. Cada ambiente foi pensado para maximizar sua funcionalidade. Uma atenção especial foi dada aos pormenores como luminárias, maçanetas, cores, corrimãos assim como os lavatórios, que foram pensados para que o fluxo de água não tivesse nenhum ruído que pudesse incomodar os internos. O projeto refinado das poltronas para o Sanatório (nº41) feitas de madeira curvada iria servir de base para a produção em série de móveis pela Artek.

Em 1935, o casal Aalto, junto com a colecionadora e artista Maire Gullichsen e Nils Gustav Hahl fundaram a marca de móveis finlandesa Artek. Os principais objetivos da companhia eram promover o mobiliário e outros objetos desenhados por Aino e Alvar Aalto, produzindo em série móveis criados por eles para os projetos arquitetônicos de seu escritório e respondendo a demanda por móveis do casal Aalto no exterior. A Artek também foi pensada como um forma de difundir a cultura da vida moderna. Como o próprio nome sugere, Artek deveria ser o porta voz da combinação da arte com a tecnologia e além do design de interiores modernos, ela deveria abrigar exibições de arte moderna, tais como pinturas e fotografias. Deste modo, Em 1933, o casal Aalto mudou seu es- a Artek simbolizava a visão do casal a recritório para Helsinki. Lá, no subúrbio de speito do design, combinando a defesa da Munkkiniemi, eles construiram em conjunto padronização pelo modernismo e a precisão

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FIGURA 03: Foto da Villa Flora em Alajärvi. FIGURA 04: Aino Aalto e seus filhos, Johanna e Hamilkar.


da tecnologia com o apreço nórdico pela autenticidade dos materiais, o calor da madeira, a suavidade das cores e a qualidade herdada dos mestres artesãos. Aino esteve estritamente ligada ao desenvolvimento da empresa. No início ela era a diretora artística e, em 1941, se tornou Diretora Geral da Artek, criando a identidade estética da companhia através de uma combinação entre “a ideia modernista de forma clara com uma simples ornamentação de superfície baseada na estrutura dos materiais” (ARTEK, 2017). “Os fundadores da Artek defenderam um novo tipo de ambiente para a vida cotidiana. Eles acreditavam em uma grande síntese das artes e queriam fazer a diferença na arquitetura e design, bem como no planejamento urbano.” (ARTEK, 2017)

FIGURA 05: Planta térreo e dois croquis o interior da loja Artek, Fabianinkatu, Helsinki, 1936. Desenhos atribuidos a Aino e Alvar Aalto.

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Além disso, a Artek tinha uma dimensão social, na medida em que Aino era muito engajada nas questões sociais. O casal Aalto tinha o desejo de oferecer mobiliário barato para todos e a produção em massa era uma

forma de tornar isto possível, na visão deles. A Villa Mairea, com toda sua pompa aristocrática, seria para o casal um canteiro de experimentações para as casas operárias se tornando um exemplo de como a mesma forma arquitetônica e os mesmos materiais utilizados poderiam servir para diversos extratos sociais, contribuindo para uma arte mais democrática. Os bancos de madeira de Aalto eram uma síntese entre arte, natureza e produção em massa e substituiam o uso de aço. O grande sucesso que a Artek encontrou, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, reflete a influência que a companhia teve em promover os novos ideais de mobiliário, design de interiores e artigos modernos, desenvolvendo novos juízos de gosto e interferindo nos hábitos diários. Essa visão defendida pela Artek foi estabelecida em grande parte com base nos desenhos de Aino para o interior da Villa Munkkiniemi, sendo que esses princípios já haviam aparecidos na Biblioteca de Viipuri e no Sanatório de Paimio, alcançando seu ápice na Villa Mairea.

ração equilibrada entre Aino e Alvar e é interessante destacar que na Exposição de Londres de 1933 foram apresentados não apenas móveis de Alvar Aalto, mas também mobiliários, tecidos e objetos de vidro moldado desenhados por Aino. Na divulgação da exposição, tanto Aino quanto Alvar apareciam como os designers das obras. Enquanto o mobiliário do Sanatório de Paimio recebeu apenas o nome do Alvar Aalto, mesmo com alguns dos modelos tendo sido projetados por Aino, a partir da criação da Artek, Aino passou a receber mais crédito pelos mobiliários e objetos desenvolvidos pelo casal. Para a Artek, Aino desenvolveu uma coleção variada e flexível de mobília por sua conta própria e desenhou variações de alguns dos modelos de Aalto para ampliar a coleção de móveis para os projetos arquitetônicos de Alvar. Na Exposição Mundial de Paris, em 1937, a Artek teve o seu próprio stand desenhado por Aino e Alvar onde se lia ‘Meubles Maison Artek, composition Aino et Alvar Aalto’. Essa foi a forma como os FIGURA 06: Croqui de um projeto de design de interior realizado por Aino Aalto em seu carderno de viagem no final de 1935.

A produção da Artek foi uma colabo-

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FIGURA 07: Design de interior da Villa Mairea feito por Aino Aalto FIGURA 08: Cadeira de sol e mesa de jardim desenhadas por Aino conjuntamente com Alvar Aalto para a Villa Mairea

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FIGURA 09: Interior da loja da Artek em Fabianinkatu, Helsinki, 1939. FIGURA 10: Entrada da loja da Artek em Fabianinkatu, Helsinki, 1939.

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FIGURA 11: Luminária desenhada por Aino Aalto com uso de latão e madeira. FIGURA 12: Mesa desenhada por Aino em 1932 para o Sanatório do Paimio e produzida até os dias atuais pela ARTEK. FIGURA 13: Bandeja de madeira e vidro desenhada por Aino.

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FIGURA 14: Foto da Igreja da Paroquia de Pöytyä.

FIGURA 15: Desenho de uma das elevações e da planta da Igraja da Paroquia de Pöytyä.

mobiliários desenvolvidos pela Artek foram do Pavilhão Finlandês para a Feira Mundial apresentados e promovidos até a morte de de Nova York de 1939, cujo o primeiro lugar, Aino, em 1949. no entanto, foi ganho por Alvar Aalto. Outros projetos individuais de Aino foram as ca O estabelecimento da Artek e a viagem sas particulares de Helmi Halonen O’Neil’s que Aino fez em 1934 graças a uma bolsa Houses, nos Estados Unidos, e de Kesähuvilde estudos recebida da fundação A. Kordelin la, em Heinola. Aino também foi responsável para explorar o design e a arquitetura moder- pela construção da igreja da paróquia de na na Europa Central foram os responsáveis, Pöytyä. em grande parte, pelo fortalecimento da identidade profissional de Aino nos anos 30. Depois da construção do Sanatório de Paimio (1928-1933), da Biblioteca de ViiTrabalhos individuais puri (1932-1935) e, principalmente, da Villa Mairea (1939), o design de móveis ganhou A maior parte da produção de Aino se ainda mais importância para Aino, sendo o concentrou na área do design de interiores e campo em que o seu impacto é mais nítido. Em 1931, juntamente com Alvar, Aino de móveis. No campo do design de interiores se destacam seu trabalho na casa-escritório fez uma viagem para a Holanda onde viside Munkkiniemi, na Villa Mairea e na Biblio- tou em Amsterdam a Metz. & Co, uma loja de departamentos onde o casal tomou conteca de Viipuri. tato com o mobiliário de Gerrit Rietveld. Aino Mas a atuação de Aino não se re- observou cuidadosamente todos os detalhes, stringia ao design de interiores de projetos fazendo notas e croquis em seu caderno de arquitetônicos de Alvar. Nos anos inicais de viagem - um instrumento de projeto que semsua parceria, Aino Aalto e seu marido entra- pre a acompanhava -, mostrando que ela vam em concursos de arquitetura com proje- estava interessada em soluções técnicas reltos separados. Entre os trabalhos individuais acionadas com o design de móveis. dela está a sua participação para o concurso

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O trabalho de Aino com vidro merece destaque. Ela desenhou diversos objetos de vidro para a companhia finlandesa Iitala, especializada em objetos domésticos, campo pelo qual Aino também tinha um apreço especial. Em 1932, ela participou e ganhou o segundo lugar na competição de design Karthula-Iittala com a Bölgeblick, uma série de vidros moldados coloridos inspiradas nos

anéis formados n’água devido a queda de uma pedra . Os Copos Aino Aalto, como foram renomeados posteriormente, foram apresentadas para o público internacional em Londres em 1933 e participaram da Trienal de Milão de 1936 na qual Aino ganhou a medalha de ouro, derrotando Alvar. O design dos copos apresentou não apenas simplicidade, mas um novo funcionalismo,

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FIGURA 16 à esquerda: Foto do estande da Artek para a Trineal de Milão de 1936 desenhado por Aino Aalto.

FIGURA 17: Copos da coleção Bölgeblick ou, como foram renomeados posteriormente, Copos Aino Aalto proketados 1932 para a competição Karthula-Iitalla.

FIGURA 18: Coleção Alvar Aalto Flower desenhada em 1939 por Alto com a colaboração de Aino.


pois eles eram empilháveis e, deste modo, economizavam o espaço de armazenamento, representando a preocupação de Aino como o design do dia a dia . Nessa mesma Trienal, Aino foi responsável pelo projeto do estande da Artek, que ganhou o ‘Grand Prix’. Dentre as suas obras em vidro também se encontram o Vaso Savoya (1937) e a coleção Aalto Flower (1939), criações de Alvar que contaram com a colaboração de Aino.

FIGURA 19: Móveis da Artek projetado para uma maternidade. FIGURA 20: Foto do interior da Escola Infantil de Kauttua, 1947, com móveis projetados por Aino Aalto.

sociedade de bem estar moderno e de assistência às crianças finlandesas. Os projetos das creches de Noormakku, Tervestaloda e Kauttua estão entre as poucas obras cuja a autoria pode ser atribuída exclusivamente à ela. Aino também contribuiu para a discussão sobre a habitação mínima e cozinhas racionalizadas, buscando criar espaços mais funcionais adaptados a vida da mulher moderna.

As suas criações mais famosas continuam a venda e cópias levemente diferentes Últimos trabalhos feitas por companhias como IKEA generalizaram a comercialização deles. No final dos anos 1930 e começo dos anos 1940, o papel de Aino no escritório au Outros campo ao qual Aino se dedi- mentou. Durante este período, Aalto esteve cou foi o do design infantil, no qual exerceu grande parte do tempo comprometido com um papel pioneiro no projeto de jardins de palestras nos Estado Unidos ou com projetos infância e creches. Aino Aalto introduziu os arquitetônicos no exterior. Deste modo, Aino primeiros designs infantis ainda em 1929 e, era responsável por controlar o escritório a partir da década seguinte, a Artek projetou sozinha, o que significava tomar conta das um grande número de jardins de infância e relações com os clientes, dos assuntos relacreches. Estes trabalhos de Aino e de sua co- cionados aos funcionários e dos problemas laboradora Maija Heikinheimo estavam for- financeiros. temente ligados ao desenvolvimento de uma

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Em 1946, Aino foi diagnosticada com câncer. Apesar de sua doença, ela continuou a trabalhar implacavelmente na Artek e viajou em 1947 para a primeira reunião do CIAM após a Segunda Guerra Mundial, que ocorreu na Suíça. Aino só parou de trabalhar poucos meses antes de sua morte, no final de 1948.

a partir de 1900 esse número começou a crescer, sendo que Aino, formada em 1920 está estre as primeiras gerações de mulheres a se formarem como arquitetas em universidades finlandesas.

Apesar de a situação na Finlândia ser mais favorável às mulheres arquitetas do que em outro países, as arquitetas ainda encontravam muita dificuldades em encontrar traReconhecimento tardio balhos e serem reconhecidas, tendo muitas No ínicio do século XX, quando Aino de- vezes que se limitar a trabalhar em escritórios cidiu seguir a carreira de arquiteta, a arquite- onde suas atuações eram pouco reconhecitura era considerada um campo predominan- das. temente masculino e a presença de mulheres Além da posição da arquiteta na sociearquitetas era algo incomum na Finlândia. Mesmo assim, a quantidade de arquitetas na dade na época de Aino, existem outras posFinlândia era maior do que em outros países síveis explicações para o porque da Aino e europeus durante o mesmo período. Em do seu trabalho terem ficado nas sombras 1890, Signe Hornborg se tornou a primeira por tanto tempo. A primeira é que a morte arquiteta formada na Finlândia e, provavel- prematura de Aino Aalto em 1949, tornou mente, no mundo, ao se graduar no Instituto mais complicado ter acesso à parte dela na Politécnico de Helsinki por meio de uma ‘au- colaboração com Alvar uma vez que, até a torização especial’. Seguindo os passos de morte dele, o escritório foi conhecido apenas sob o nome dele, Alvar Aalto Arquitetos. Esse Hornborg. é um caso recorrente no campo da arquite Até o final do século XIX, 6 mulheres se tura. Embora seja considerada um trabalho formaram como arquitetas na Finlândia. Mas colaborativo, normalmente, uma única figura

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FIGURA 21: Foto de Aino Aalto nos anos 1940.


é privilegiada como autor do trabalho. A outra explicação seria que nos final dos anos 1920, Alvar Aalto já havia alcançado uma posição como arquiteto internacionalmente reconhecido, encobrindo o trabalho de Aino. E, embora ela tenha ganhado mais destaque com o estabelecimento da Artek em 1935, após sua morte, o seu nome foi novamente esquecido. Existem poucos estudos sobre a participação da Aino nos projeto de Alvar e praticamente nenhum sobre seus projetos individuais e originais. Somente na última década, principalmente devido ao trabalho de pesquisadores finlandeses, o trabalho da Aino como arquiteta e design voltou a ser reconhecido e apreciado. Um dos resultados desses esforços foi a primeira e única, até a data deste texto, monografia centrada no trabalho de Aino Aalto, publicado em 2014 como parte de uma exposição do Museu Alvar Aalto sob a vida e obra desta que foi uma das pioneiras da arquitetura moderna finlandesa, Aino Mario-Aalto. FIGURA 22 à direita: Montagem de Aino Aalto em mobiliário da Artek.

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ALVAR AALTO

“Alvar Aalto (1898-1976) é considerado um dos pais da arquitetura moderna ao lado de Le Corbusier, Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright e Walter Groupius. A qualidade específica desse profissional e artista, profundamente compromissado com os valores culturais e estéticos de sua terra de origem - a Finlândia - foi a de ter conseguido conferir à suas soluções, sempre originais e em perfeita sintonia com o meio físico e humano a que se destinavam, a coerência e a profundidade de uma verdadeira mensagem universal. Aliando sensibilidade e rigor, a obra de Aalto responde de modo encorajador a muitas das grandes questões arquitetônicas deste século. (....)” RUUSUVUORI, (1982)

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ALVAR AALTO | 1889 - 1976

História de infância e família de Alvar Aalto se submetia à geometria e que se caracterizava por uma constante mudança das for Alvar Aalto nasceu em fevereiro de 1889 mas. A inspiração que ele encontrava nas floem uma pequena cidade chamada Kuortane, restas foi algo que o arquiteto levou consigo na Finlândia. Filho primogênito do casal de durante toda a sua carreira, como pode-se classe média Johan Henrik Aalto e Selma notar nos diferentes materiais aplicados em Mathilda Hackstedt, Alvar mostrava desde seus projetos, que eram os mais naturais poscedo uma necessidade de se expressar com síveis: madeira, pedra, tijolos, por exemplo. A desenhos. As pinturas feitas por ele transpar- floresta também mostrou para ele que a naeciam seu amor pela natureza e sua sensib- tureza é um sistema sensível no qual o homem ilidade. Além de desenho, ele tinha também deveria encontrar seu lugar. aulas de piano e se interessava por literatura. Ainda na sua infância, Alvar Aalto Do pai, que ocupava posição pública, mudou-se, com a família, para Jyväskylä, ciele herdou características como atitude so- dade que se mostrou de extrema importância cial e da sua mãe, a criatividade e o temper- na futura carreira de arquiteto. Jyväskylä, ou amento anárquico, como afirma Louna Lahthi a “Atenas da Finlândia”, fica em um cenário (2015) em seu livro sobre Alvar Aalto. O avô de belos lagos finlandeses, é a maior cidade materno de Alvar era um guarda florestal e da região central da Finlândia e foi onde surcriava diversos dispositivos tecnológicos, giu o primeiro liceu da língua finlandesa, um talvez tenha sido dele que Aalto herdou suas dos motivos para a família ter escolhido essa qualidades de engenheiro e a noção de ne- cidade para morar. Apesar da família tamcessidade que o homem tinha da natureza. bém falar sueco, ao que tudo indica, era imOs seus parentes próximos foram uma grande portante para os pais de Aalto o contato dos influência para a forte relação que Alvar Aal- filhos com a língua finlandesa. Aos 8 anos de idade, Aalto perde a mãe para uma meningto tinha com a natureza e com as florestas. ite repentina, por ter sido próximo dela, Alvar Aalto via na floresta um local que não

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FIGURA 01 : Alvar Aalto no studio


sente muito a perda. Mais tarde o pai de Aalto casa com a irmã mais nova da mãe, Flora Hackstedt, que já tinha uma proximidade considerável com a família Aalto. Sua educação clássica e marcada pelo espírito humanista permitiu o despertar de uma admiração pelo antigo e pela Itália. As aulas sobre o renascimento fizeram com que Brunelleschi fosse seu arquiteto preferido. Como já abordado, o Romantismo nacional dominava a Finlândia na virada do século XIX para o século XX, mas tanto Aalto quanto a sua geração rejeitavam esse estilo. Apesar dessa rejeição, algumas características foram incorporadas na arquitetura de Aalto, como por exemplo o desejo de “encaixar” a construção no terreno Início da sua relação com a arquitetura

FIGURA 02 : Alvar Aalto

Segundo relatos, aos 9 anos de idade, Aalto já havia decidido que queria ser um arquiteto. Em 1916 se formou na escola e logo após os exames finais foi trabalhar como assistente do arquiteto Salervo. Em seguida, foi para Helsinki estudar arquitetura na Universidade Tecnológica de Helsinki, a única na Finlândia que oferecia o curso de arquitetura naquela época. Sabe-se que a Primei-

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ra Guerra Mundial resultou em uma perturbação de grande escala no Império Russo, o que levou à Revolução Russa. Em 1918, com a Guerra Civil Finlandesa, em que os social democratas, apoiados pela URSS, os “vermelhos”, disputavam com os conservadores não socialistas, os “brancos”, pelo modelo a ser adotado para o governo após a emancipação da Finlândia em relação à Rússia, Aalto lutou ao lado dos brancos, os quais venceram a guerra com o apoio da Alemanha. O primeiro projeto arquitetônico de Aalto foi a remodelação da casa que seu pai tinha comprado em Alajärvi. Foram dois os professores do Instituto Superior Técnico que tiveram um grande impacto na aprendizagem de Alvar Aalto: Usko Nyström e Armas Lindgren. O primeiro ensinava sobre Antiguidade Clássica e Idade Média e o segundo sobre arquitetura moderna e teoria da construção. Aalto finalizou o curso de arquitetura em 1921 e teve uma grande influência do arquiteto Asplund, do classicismo romântico. Entre sua formação e a abertura de seu escritório de arquitetura e arte em 1923, Alvar trabalhou como arquiteto freelance e crítico de arte e trabalhou um pouco na escola

de oficiais como parte de seu serviço militar, sendo dispensado pouco tempo depois. Como o trabalho em Helsinki estava difícil, foi em Jyväskylä que Aalto fundou seu Atelier de Arquitetura e Arte Monumental. Desde o início da carreira Alvar já dava uma grande importância para a tradição da construção finlandesa. Casamento e Viagens Casado com Aino Marsino em 1924, a viagem a teve grande influência na vida profissional do casal de arquitetos, em especial as idas de Alvar para a Itália. Foi também em 1924 que Aalto teve um marco inicial importante na sua carreira com o projeto da Casa dos Trabalhadores, em Jyväskyla. Nesse projeto a influência italiana era significativa e Aalto pôde projetar, pela primeira vez, um teatro, algo que era muito apreciado por ele desde a infância. Nessa fase inicial da carreira de Aalto já havia uma preocupação com os detalhes arquitetônicos, tais como luminárias, maçanetas e elementos decorativos. Para ele, não deveria ser con

FIGURA 03 : Aino e Alvar Aalto em viagem de Lua de Mel na Itália

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FIGURA 04: Mapa que mostra lugares visitados por Aalto

Cronologia das viagens mais importantes: 1920: Suécia 1924: Viagem de Lua de Mel para a Itália 1926: Dinamarca | Suécia 1928: Holanda | Paris | Dinamarca | Suécia 1929: Paris | CIAM Alemanha 1933: CIAM Grécia 1936: Paris | 1938: EUA 1940: EUA 1941: Suiça 1943: Alemanha 1944: Suécia

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1957: Inglaterra

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FIGURA 05: Defense Corps Building

siderado, no projeto, apenas o edifício isolado, mas o interior e os menores detalhes. O primeiro projeto em que Aalto experimentou esse compromisso arquitetônico total, desde luminárias até planejamento urbano foi o Defense Corps Building em Seinäjoki.

FIGURA 06: Casa dos Trabalhadores

Em 1925 Alvar e Aino tiveram a sua primeira filha coincidindo com o período de projeto do Teatro em Jyväskylä, edifício do jornal Turun Sanomat e da Igreja em Muurame. Essa última refletiu o encanto de Aalto

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pelas igrejas pequenas, rústicas, íntimas, assimétricas e com paredes limpas e claras. O arquiteto escreveu que os edifícios contavam a história de uma maneira mais sensível e que a arquitetura integrava arte, escultura e as vezes até mesmo música, ele exemplifica com os arcos abobadados da arquitetura gótica. Em 1926, Aalto fez uma viagem para a Dinamarca e Suécia. Na Dinamarca ele notou que poderia aprender muito com o conforto burguês das habitações dinamarquesas. Alvar e Aino mudaram-se para Turku, em 1927, onde tiveram o segundo filho. O período entre 1923 e 1927 foi caracterizado, segundo FRAMPTON (2015), como uma fase em que Aalto estava muito influenciado por Asplund em um “estilo vagamente dórico que, apesar de constituído em parte do vernáculo local da madeira, estava ao mesmo tempo em dívida com a austeridade de linhas de Hoffmann e com o estilo italianizado de Schinkel” (FRAMPTON, 2015). Em 1927, ainda, Aalto teve influência do arquiteto finlandês Erik Bryggman e foi o ano que ele passou definitivamente para o Classicismo romântico com a Igreja Viinika.

Aalto e o funcionalismo O ano seguinte, 1928, foi de extrema importância para a vida profissional de Aalto. Foi nesse ano que o Edifício para o jornal Turun Sanomat, de Alvar Aalto, inicia sua construção. Primeiro edifício totalmente funcionalista da Finlândia, o Turun Sanomat foi o projeto que fez Aalto conhecido tanto na Finlândia como no exterior, como aponta Benevolo no seu livro História da Arquitetura Moderna. O funcionalismo tinha como princípios básicos que com tecnologia e razão era possível construir um mundo novo partindo da busca pelas soluções universais e, por vezes, associando arquitetura e máquina: a habitação é uma máquina de habitar. Ainda em 1929, em um colóquio sobre concreto armado em Paris, Aalto teve contato com a obra de Duíker que tinha projetado o Sanatório Zonnestraal em concreto armado, o que deu, segundo Frampton(2015), um ponto de partida para o projeto de Aalto do Sanatório do Paimio. Frampton afirma também que Aalto começou a ser explicitamente influenciado pelo construtivismo holandês e russo a partir do projeto do sanatório.

Diferente do que pensava Benevolo (1976), foi o Sanatório do Paimio, para Frampton, o projeto que realmente estabeleceu o estilo funcionalista de Aalto. O sanatório era uma máquina de curar em que as funções do edifício eram visíveis já no exterior. Apesar de ser um dos melhores exemplos da arquitetura funcionalista no mundo, no Sanatório de Paimio, é perceptível, como aponta Benevolo, uma quebra com a ortogonalidade funcionalista, e isso permite “que subsistam desequilíbrios e tensão que são equilibradas pela consistência física dos elementos ou ambiente circundante” (BENEVOLO, 1976) e na mesma medida em que se perde um pouco o rigor, se ganha em “riqueza e calor”. É pela grande sensibilidade de Aalto que o resultado do Sanatório tenha tido tanto sucesso: ele começava a projetar pensando no paciente, pensando no ser humano que ocuparia aquele edifício. Por essa reflexão ele pensava no mobiliário, na iluminação, ventilação e tudo que poderia tornar o ambiente mais agradável. A iluminação, por exemplo, foi algo pensado cuidadosamente por Aalto, de modo que a iluminação natural entrasse nos principais ambientes e a artificial não fosse muito forte. Pensou também nos lavatórios, de

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FIGURA 07: Edifício do Jornal Turun Sanomat, em Turku

FIGURA 08: Cadeira de madeira curva do Sanatório do Paimio


modo que não respingassem água. E partindo dessa escala pequena - que é a escala do indivíduo que ocupa o edifício - a forma surgia como uma consequência natural e o mobiliário surgia em conjunto como parte essencial da arquitetura. Muitas vezes Aalto usava de formas não convencionais para resolver problemas técnicos, como no caso do auditório da Biblioteca Viipuri, em que o teto ondulado colabora para a propagação do som.

FIGURA 09 : Lavatório do Sanatório do Paimio, desenhado para não respingar água nos pacientes

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Foi também em 1928 que a família Aalto viajou pela Suécia, Dinamarca, Holanda e França. As viagens eram de extrema importância para Alvar Aalto já que aumentavam o seu círculo de amizades, entre as quais com Giedion, Le Corbusier, Fernand Léger e László Moholy-Nagy, da Bauhaus. Além disso, Aalto participou do CIAM sobre habitação mínima na Alemanha, em 1929, e sobre A Cidade Funcional na Grécia, em 1933 e participou também da CIAM na Suíça, onde teve contato com Walter Gropius e Karl Moser. Ao mesmo tempo que tudo isso ocorria, Aalto permaneceu insistente no design de mobiliário. Todas essas viagens associadas com a personalidade de Aalto, permitiram ao

arquiteto um posicionamento forte em relação Em 1933 o casal se muda para Helsinki, à arquitetura e na forma como ela deveria ser entre os motivos estava a construção da Bibproduzida. lioteca em Viipuri. A biblioteca tinha sistemas de circulação e de iluminação característicos Segundo Bruno Zevi (1970), a década do funcionalismo acompanhados pela orde 1930 deu início a uma crise do raciona- togonalidade e pelo purismo da forma; mas lismo e funcionalismo na Europa em decor- no seu interior Alvar foge do funcionalismo rência de um esgotamento das justificações puro, buscando formas orgânicas de linguaculturais do mesmo. Desse clima de crise do gem própria e rompendo com a rigidez do funcionalismo nasceu a terceira fase do mov- funcionalismo. Aalto abre seu escritório de imento moderno, a fase orgânica. Zevi afir- arquitetura, primeiramente em um prédio coma que a terceira fase ficou sombreada pela mum e depois na sua casa, projetada pelo fase inicial da arquitetura moderna, já que, próprio casal, entre 1935 e 1936, em Helsinindependentemente do valor artístico que ki e que tinha escritório incorporado. A casa tivesse a obra da fase orgânica, ela não teria do casal de arquitetos tinha características o caráter de novidade e de renovação que as do funcionalismo ao mesmo tempo em que obras do racionalismo tinham. Aalto definiti- fugia da frieza com o uso de materiais e forvamente estava transitando do funcionalismo mas variadas e cores naturais. Aalto passou puro para a terceira fase do movimento mod- a substituir a parede lisa branca típica de erno e Bruno Zevi(1970) aponta cinco obras Le Corbusier por tijolos pintados de branco, paradigmáticas da carreira de Alvar Aalto dando na textura e peso para as paredes. que tensionam justamente o funcionalismo Zevi aponta justamente esse desafio para os rígido: o Sanatório de Paimio (1931-1932), arquitetos da terceira fase do modernismo: a Biblioteca de Viipuri (1934), o Pavilhão Fin- superar os caminhos rígidos do racionalismo landês em Paris (1937), o Pavilhão para a Ex- e ao mesmo tempo defendê-lo da reação posição de Nova Iorque (1939) e os móveis acadêmica. em contraplacado.

FIGURA 10 : Sanatório do Paimio

FIGURA 11 : Iluminação do Sanatório do Paimio

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Artek e variedade arquitetônica Além da arquitetura, o casal Aalto trabalhava muito com design, principalmente Aino Aalto, que se dedicava mais para o design do que para a arquitetura. Mas devido ao pensamento de Alvar Aalto, de que o design e a arquitetura formavam um só corpo, ele produzia, também, interessantes objetos e mobiliários. Entre eles o vaso savoy, de vidro, um dos mais famosos produtos decorativos do arquiteto. O mobiliário de Aalto foi exibido em uma exposição em Londres e na Trienal de Milão, teve muito sucesso e demanda. E entre 1929 e 1930 Alvar e Aino Aalto conheceram Harry e Mairea Gullichsen. Mairea era herdeira da grande firma Ahlström, de celulose, papel e madeira e ao ver as obras mobiliário de Aalto convidou-o para realizar uma produção em série.

FIGURA 12 : Iluminação do Sanatório do Paimio

satisfação de uma gama total de necessidades físicas e psicológicas (FRAMPTON,2015).É importante relacionar o patrocínio de Aalto pela indústria de madeira finlandesa com a produção de Aalto em madeira, que voltou a ser considerável. Esse patrocínio levou Alvar a preferir, em determinados momentos, o uso da madeira em detrimento do concreto. Frampton acrescenta que isso permitiu um retorno, gradativo, de Aalto ao estilo arquitetônico textural do movimento romântico nacional finlandês.

Alvar Aalto iniciou uma fase importante de sua vida profissional quando iniciou, em 1936 o projeto para a indústria em Sunila e a habitação para os trabalhadores da indústria. Ao fazer esse projeto, diversas indústrias foram atraídas para projetar com Aalto. As habitações em Sunila foram projetadas com uma proximidade da indústria e faziam um Com a criação do Artek e depois da balanço entre o caráter de comunidade e priconstrução da Biblioteca de Viipuri e do San- vacidade. atório em Paimio o design de móveis ganhou ainda mais importância para o casal. No Aalto construiu as mais variadas tipomobiliário desses dois projetos, Aalto teve logias ao longo de sua vida, principalmente oportunidade de colocar em prática uma entre 1950 e sua morte, como aponta Curtis. abordagem orgânica que permitia incluir a As obras englobam tanto habitações, prédios

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FIGURA 13 : Cronologia de mobiliário de Alvar Aalto

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de escritórios, de apartamentos, igrejas, centros culturais, bibliotecas, teatros, prédios públicos, universidades, escolas, quanto planos urbanos e indústrias. Arquitetura Moderna e o Romantismo Nacional

FIGURA 14 : Habitação dos trabalhadores da Indústria Sunila

FIGURA 15: Desenho da Arquitetura Finlandesa Tradicional

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Num momento de esgotamento da arquitetura funcionalista do início do modernismo, havia uma necessidade de agregar ao projeto moderno pautado pelas tecnologias desenvolvidas no século XX, os princípios de uma construção local, vernacular, tradicional, como forma de proporcionar identidade e pertencimento. É perceptível uma tentativa constante de incorporar elementos da tradição arquitetônica nacional e regional nas obras de Aalto. As casas da arquitetura tradicional finlandesa eram uma inspiração: o uso intenso de madeira expressava, para ele, a harmonia com a natureza. Temendo o desaparecimento desse tipo de construção devido aos novos prédios que estavam sendo construídos na década de 1930 - no período chamado de Neo-Regionalismo, segundo Giedion - Alvar decide reintroduzir a madeira nos seus edifícios. A Villa Mairea (1938) é

um exemplo dessa busca de Aalto por adap- arquitetos como Alvar Aalto a revisar o penstar a construção à natureza. amento funcionalista. Tudo isso fez com que Curtis comparasse Alvar Aalto com Wright, Alvar Aalto considerava que os objetos Le Corbusier e Mies van der Rohe, na medida que rodeiam as pessoas são uma parte viva em que todos esses grandes arquitetos tinham que constitui o ser humano. E devem ser con- desenvolvido um estilo próprio e genuíno. siderados como vivos para não se tornarem objetos desumanos e frios. Assim como Bruno Zevi(1970) afirma, Aalto, diferentemente dos arquitetos do início do movimento moderno, buscava fugir de fórmulas de composição prontas. Ele não queria um vocabulário figurativo limitado, mas sim milhões de combinações diferentes, como era possível ver na natureza: Para ele, na natureza a uniformização se dá apenas nas unidades mais pequenas que são as células, e essas células criam milhões de diferentes combinações. Aalto acreditava que a arquitetura deveria seguir esse princípio da natureza, ou seja, ter uma essência uniforme mas na escala maior ser completamente flexível e variada. Essa flexibilidade é possível com a libertação dos arquitetos da fase orgânica do movimento moderno dos dogmas do funcionalismo puro. Mas, é claro, essa libertação não era absoluta, mas uma libertação que estimulava

FIGURA 16 : Madeira curva muito usada nos trabalhos de Aalto

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Em 1937 o Pavilhão Finlandês é finalizado para a Exposição Mundial de Paris, na qual Aalto saiu como vencedor do concurso de arquitetura. Em 1938, o casal viajou pela primeira vez para os EUA. Para Frampton, foi em 1938 que Alvar Aalto construiu a obra prima de sua carreira que é a Villa Mairea. A Villa representa um elo entre a tradição construtivista racional do século XX e o legado o movimento romântico nacional. Em 1939 novamente para a participação na Exposição Mundial em Nova Iorque, em que o Atelier Aalto ganhou os dois primeiros prêmios e Aino Aalto ganhou o terceiro por conta própria. Nesse concurso foi retomado o teto ondulado do auditório da Biblioteca em Viipuri, mas dessa vez em forma de parede que representava uma aurora boreal. Foi também em 1939, segundo Cohen, que Aalto teve contato com o discurso regionalista de Lewis Mumford. O casal viajou diversas vezes para os EUA nesse período. Alvar via os EUA como um novo mundo, o qual prometia progresso e tecnologia.

FIGURA 18 : Detalhe do corrimão da Villa Mairea FIGURA 19 : Escada da Villa Mairea

FIGURA 17 : Pavilhão Finlandês em Nova Iorque

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FIGURA 20: Alvar Aalto trabalhando

A Guerra e seus efeitos na vida profissional togonalismo do funcionalismo e a explorar a de Aalto arquitetura vernacular finlandesa. O arquiteto não gostava de uniformização, para ele Com a eclosão da guerra, Aalto foi cada situação era única e não podia ser eschamado na Suíça para falar sobre recon- tereotipada. Ao mesmo tempo, havendo uma strução e em 1939, por iniciativa dele, foi re- necessidade de produção em massa, Aalto alizada a Exposição de Construção de Habi- criou um sistema em que apenas elementos tações Sociais em Helsinki. Ainda em 1939, a básicos eram uniformizados, mas a comFinlândia foi atacada pela União Soviética. binação deles dependia de características Em 1940 a família Aalto foi para Washington próprias de cada local, como orientação em onde Alvar deu uma conferência sobre pro- relação ao sol, terreno e paisagem, ou seja, paganda de guerra e ao retornar para a Fin- a natureza iria definir essa combinação. lândia se viu no meio do contexto perturbado da guerra. Em 1943 Aalto foi eleito presiden- “Na arquitetura, o objetivo da pate da Associação de Arquitetos Finlandeses dronização não é produzir tipos, e sim criar (SAFA) e manteve esse cargo até 1958. variedade e riqueza que possam, em uma situação ideal, ser comparadas com a ilim A Finlândia finalmente encontrou paz, itada capacidade da natureza para gerar em 1945, mas os termos do armistício com variação.” (COHEN, 2013) a URSS foram difíceis e foi pedido para que Aalto projetasse a reconstrução de Ro- Arquiteto e Professor vaniemi. A reconstrução do pós guerra gerou enormes problemas para a arquitetura. Havia Com o fim da Segunda Guerra Mundiuma necessidade de produção em massa de al, Alvar Aalto foi convidado para ser profeshabitação e Aalto, responsável para ajudar sor no MIT (Massachusetts Institute of Technas reconstruções criou um sistema próprio nology) nos Estados Unidos e foi convidado de habitação. Segundo Cohen, foi depois de também para projetar o dormitório de estu1945 que Aalto começa a questionar o or- dantes, Bakers House. Já em 1948 Aalto quis

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retornar para sua terra natal e pouco depois do retorno da família para a Finlândia Aino Aalto morreu de uma grave doença. Nessa fase arquitetônica, Aalto usou intensamente tijolos avermelhados, como por exemplo na Câmara Municipal de Säynätsalo. Foi também no início da década de 1950 que Alvar Aalto conhece a arquiteta Elissa Mäkiniemi, casando-se com ela em outubro de 1952. Com a conclusão da construção da Câmara de Saynätsalo o casal sentiu-se motivado a fazer uma casa de verão para ambos em uma ilha próxima. A casa em Muuratsalo tinha um caráter experimental na medida que o casal de arquitetos testava diferentes técnicas e elementos na casa e depois aplicavam em projetos distintos.

Antes de sua morte, em 1976, o arquiteto recebeu diversas medalhas de ouro pelo seu trabalho e mesmo após sua morte diversos projetos continuaram a ser concretizados até 1994, quando Elissa Aalto morreu.

FIGURA 21: Elissa e Alvar Aalto em passeio de barco

Aalto se tornou membro da Academia Finlandesa em 1955 e em 1963 foi eleito presidente. Entre os anos 50 e 60 o Atelier Aalto viveu um tempo febril com muito movimento: foram projetados diversos edifícios culturais tanto na Finlândia quanto pela Europa como um todo, assim como projetos de igrejas, universidades, edifícios de apartamentos, centros de cidade e até mesmo planos urbanísticos.

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Ressonâncias no mundo

FIGURA 22: Biblioteca do Campus da Universidade de Aveiro de Álvaro Siza²

FIGURA 23: Biblioteca de Viipuri de Alvar Aalto²

Aalto ficou conhecido ao redor do mundo como o “arquiteto moderno humano”, em contraposição com outros grandes arquitetos renomados do movimento moderno, como por exemplo Le Corbusier. Seu legado atinge não somente o meio arquitetônico, mas também na produção de mobiliário. Mesmo 12 anos após a sua morte, em 1976, o teatro Aalto, concebido pelo arquiteto em 1959, foi construído em Essen, na Alemanha. A empresa de mobiliário Artek, com sedes em Nova Iorque, Tokyo e Stockholm mantém-se produtiva até os dias atuais e como pode-se perceber exerce sua influência da América até a Ásia. As revistas tinham um papel fundamental na disseminação da arquitetura pelo mundo antes da “revolução” da internet. Foi a literatura, principalmente, que tornou possível as ressonâncias do trabalho de Aalto não somente nos países nórdicos, mas em diversos países europeus, como por exemplo Portugal. É possível, a partir disso, fazer um paralelo entre Alvar Aalto e o arquiteto Siza Vieira. Siza teve contato com as obras de Aalto através

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da revista L’Architecture d’Aujourd’hui e entre as obras de Aalto que chamaram a atenção do arquiteto estavam : A biblioteca de Viipuri, Bakers House e Pavilhão da Finlândia em NY. Segundo Siza, naquele período Aalto era praticamente desconhecido em Portugal e a disseminação das obras dele foram estabelecidas efetivamente entre as décadas de 1940 e 1950. É interessante notar uma proximidade entre as obras de Siza e Aalto, tanto na forma genuína de conceber arquitetura quanto pela exploração de purismo nas cores, atenção minuciosa aos interiores e aos detalhes em contraposição com exteriores mais neutros. Entre outras ressonâncias em Portugal, existe na atualidade, na Escola de Arquitetura do Porto, um ensino de projeto que está muito relacionado com os princípios arquitetônicos de Alvar Aalto, tanto que são realizadas viagens didáticas pela Europa para visitação de obras do arquiteto. No Brasil, a exposição Alvar Aalto -1898/1976 em conjunto com a liberação da revista projeto 123, permitiu que houvesse um contato mais intenso entre os arquitetos brasileiros e a obra de Alvar Aalto. Sérgio

Teperman, que trabalhou alguns anos no escritório de Aalto foi responsável por produzir alguns textos para a revista. A Exposição no MASP, foi patrocinada pelo grupo Aedificandum, constituído por empresas paulistas da construção civil e organizada pelo Museu de Arquitetura da Finlândia. Essa exposição ficaria no MASP durante alguns meses, e depois seguiu para Buenos Aires. Entre as diversas influências de Aalto no mundo da arquitetura, a ressonância no Brasil fez nascer o arquiteto brasileiro Joaquim Guedes (1932-2008), que teve Alvar Aalto como grande inspirador. Guedes foi uma figura importante na conformação da arquitetura paulista da segunda metade do século XX, no início de sua carreira sua maior inspiração era Le Corbusier, até o momento em que entrou em contato, ainda na escola, com Alvar Aalto através do livro A História da Arquitetura Moderna, de Bruno Zevi. Guedes ficou admirado na maneira como Aalto pensava a arquitetura a partir das necessidades do cotidiano. Abandonando a “frieza” do discurso corbusiano, Guedes procurou produzir uma “arquitetura para habitar e não para revolucionar”. Assim como Aalto, Joaquim dava

aos detalhes construtivos a característica de elementos expressivos, unia forma e conteúdo. Além disso Guedes fez um intenso uso de tijolo nas suas obras,em homenagem à Alvar Aalto. Somado a isso Guedes também trabalhou em diferentes escalas, desde cidades à mobiliários.

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FIGURA 24: Casa Waldo Perseu Pereira de Joaquim Guedes ³

É possível dizer que há uma aproximação entre o trabalho dos dois arquitetos. É possível dizer, a partir da observação das duas obras que Siza tenha sido influenciado por Alvar Aalto. A iluminação zenital com formas circulares e mesmo a perspectiva formada pelas duas bibliotecas apresentam uma similaridade indubitável. 3 Ao observar a casa Perseu Pereira projetada por Joaquim Guedes pode-se notar uma aproximação do arquiteto do trabalho de Aalto - quando este fazia uso de paredes brancas lisas em conjuntocom a inserção de texturas pontuais como por exemplo a Villa Mairea. 2


Aalto iniciou sua carreira, nos anos 1920, com o classicismo nórdico, seguindo-se depois com o funcionalismo, perceptível nos edifícios do jornal Turun Sanomat e Sanatório do Paimio, por exemplo. Já no final da década de 1930 é possível observar que Aalto assumiu a arquitetura orgânica com a Villa Mairea e no final da década de 1940 ele passou a fazer um uso intenso de tijolos vermelhos. No final da década de 50 Aalto transforma a linguagem funcionalista em uma linguagem própria em que os edifícios são mais plásticos. Para ele o funcionalismo limitava muito a arquitetura, a qual deveria, na realidade, abranger todas as áreas da vida humana e deveria estar associada à criação de novas formas com novos conteúdos. Alvar Aalto rejeitou as soluções universalizantes e tratou cada projeto com suas especificidades. Buscou ao longo de sua vida sensibilizar a arquitetura, torná-la humana e assumir a responsabilidade dela para com a sociedade. Para Aalto o mobiliário fazia parte da arquitetura, era parte de um todo, pensamento o qual derivava da influência do Arts And Crafts na vida profissional do arquiteto.

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togonais, em incluir elementos oblíquos, de forma a criar contrastes. Em alguns casos, ao invés de homogeneizar a composição ele optava por justapor elementos heterogêneos, como afirma Benevolo(1976). Já Frampton aproxima Alvar Aalto de Hans Scharoun e Hugo Häring pela abordagem orgânica e pelo empenho em fazer da construção uma fonte de vida e não uma repressão. A sensibilidade de Aalto, a forma que ele buscava relacionar arquitetura, natureza e homem, seu cuidado minucioso com os detalhes são características que reverberam e influenciam arquitetos até os dias atuais. Em meio a um mundo tão frio e rígido, é importante que os arquitetos, a partir de grandes influências como Alvar Aalto aprendam a humanizar a arquitetura e a torná-la calorosa e habitável.

Aalto se preocupava, nos projetos or-

FIGURA 25 à esquerda: Alvar Aalto jovem.

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FIGURA 26: Figura que mostra a transformação do estilo de Alvar Aalto com o tempo 4 Esquema de imagens das fachadas de algumas das obras de Aalto mostrando a mudança de estilo do arquiteto ao longo de sua carreira. No início é possível observar uma maior ortogonalidade e paredes lisas sem peso. Em seguida percebe-se um a exploração de diversas texturas. É possível observar, no final da década de 1940 pode-se ver que o arquiteto assume o tijolo cerâmico, fazendo o uso dele em diversos projetos. Ainda, é perceptível nas obras finais um posicionamento muito mais forte do arquiteto em relação à ângulos oblíquos e formas não convencionais. 4

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PROJETO SELECIONADO | URBANISMO

“A fachada deve ser da Prefeitura de Seinäjoki, não de mais nada” Alvar Aalto sobre o uso inovador de revestimeto cerâmico na fachada do edífio.

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CENTRO DA CIDADE, SEINÄJOKI Seinäjoki, Finlândia 1951-1988 Urbanismo Construído

O projeto do centro urbano da cidade de Seinäjoki é um dos primeiros e mais bem sucedidos projetos de urbanismo de Alvar Aalto. O projeto é resultado de dois grandes concursos, o primeiro, em 1951, para o estudo do centro paroquial e o segundo, em 1959, para o estudo do centro administrativo e cívico. A banca do primeiro concurso elegeu o trabalho de Aalto, intitulado de “Cross of the Plains” (“Cruz das Planícies”) como o melhor design, mas a construção ocorre somente em 1957-1960, sendo a igreja (1) o primeiro dos seis edifício construído do complexo administrativo e cultural de Seinäjoki. Sendo os outros cinco, em ordem cronológica: Prefeitura (1961-1962) (3), Biblioteca Municipal (1964-1965) (4), Centro Paroquial (1965-1966) (2), Escritórios Governamentais (1966-1968) (5) e Teatro Municipal (1986-1987) (6). A praça cívica foi finalizada em 1988. O objetivo principal do projeto é separar a circulação de automóveis e pedestres, ele articula o espaço em três grandes áreas abertas, ao longo de um eixo longitudinal de pedestre. A praça que forma o centro paroquial e a igreja está localizada no início deste eixo, a segunda praça é configura-

da pela biblioteca, teatro e pela prefeitura, a qual, por sua vez, cria uma extensão da praça, na forma de um pátio de jardim. Por fim, a terceira grande área trata-se, na verdade, de um parque de estacionamento arborizado, sendo este “fechado” pela lâmina de Escritórios Governamentais disposta de maneira longitudinal. É importante lembrar que, para Aalto, o carro é colocado em segundo plano, deixando a circulação deste para fora do centro da cidade. Igreja e Centro Paroquial O corredor central da igreja tem o formato de uma catedral, o projeto ganha destaque por sua não-ortogonalidade, o teto estreita e diminui e o chão inclina-se em direção ao coro da igreja, criando uma perspectiva que resulta em uma visão impressionante para os fiéis, possui 1.200 assentos, mas pode abrigar até 15.000 pessoas. O chão do coro, a mesa e balaustrada do altar e o púlpito são construídos de mármore branco e cinza italiano. As lâmpadas no corredor principal são projetadas por Aalto, assim como os utensílios de prata e os tecidos para realizar a comunhão no altar. O lado nordeste da igreja tem uma

FIGURA 01 acima: Implantação Urbana FIGURA 02 à esquerda: Vista aérea do Plano urbano

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FIGURA 03 acima: Vista da igreja FIGURA 04 abaixo: Interior da igreja

AALTO. AINO E ALVAR: Uma obra de arte total

pequena capela para batismo, casamento e outras cerimônias, a pintura em vidro também é criada por Alvar Aalto. A torre dos sinos da igreja torna-se um marco visual da cidade, em sua base está uma fonte de bronze desenhada também pelo arquiteto. A igreja situa-se junto a um adro, visando celebrações ao ar livre. Este pátio é formado pelo Centro Paroquial, o revestimento acústico sala de reunião paroquial e os mobiliários são feitos em madeira.

residencial, altera-se para espaços de trabalho na década de 1970.

Prefeitura Projeto resultado do segundo concurso (1959) que Aalto ganha para o design da prefeitura, biblioteca, teatro e edifício administrativo estatal. O revestimento externo da fachada feito com cerâmica azul escuro, ocasionando um brilho em diferentes luzes a depender do horário e da época do ano. Aalto justifica a escolha do material dizendo que esta foi uma forma de criar a identidade do edifício. Na sala da Câmara Municipal, as filas de assentos foram dispostas de maneira radial, formando semicírculos, esta composição reflete na fachada do edifício. A ala oeste da prefeitura, originalmente destinada ao uso

Escritórios Governamentais A intenção original de Aalto era completar e finalizar o novo centro administrativo da cidade com um prédio de escritórios governamentais de três andares. Sua idéia era projetar um final para o complexo arquitetônico, um fim para o eixo que começasse na igreja e passasse pela Praça Cívica; “um edifício de fundo pacífico”, como Aalto é conhecido por expressá-lo.

Biblioteca A construção em forma de leque da sala de leitura é a característica visual mais distintiva do edifício. Outra característica única da biblioteca é a entrada de luz natural através de aberturas na fachada sul que reflete e direciona a luz moderadamente em direção às prateleiras.

FIGURA 05 acima: Vista da Prefeitura FIGURA 06 abaixo: Croqui da Prefeitura

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FIGURA 07 à esquerda: Interior da Biblioteca FIGURA 08 à direita acima: Vista aérea da Biblioteca FIGURA 09 à direita no meio: Vista da fachada sul da Biblioteca FIGURA 10 à direita abaixo: Vista do edifício de Escritórios Governamentais

Teatro Municipal Alvar Aalto realizou o projeto para o Teatro de Seinäjoki em 1968, mas o edifício foi construído apenas em 1987, sob a supervisão de Elissa Aalto, pois o arquiteto havia falecido em 1976. A decoração do espaçoso saguão é feita com produtos de design da Artek. A fachada do edifício é feita com barras cerâmicas brancas. Praça Cívica A praça cívica foi pavimentada com lajes de granito naturais, sua iluminação exterior, bem como a fonte, foram projetadas pela Aalto.

FIGURAS 11 acima: da esqueda para direita, vista para a escada do interior do Teatro Municipal, detalhe do design da escada, vistda do interior do Teatro Municipal FIGURA 12 no meio: Vista da praça cívica FIGURAS 13 abaixo: da esquerda para direita, detalhe da fonte da Praça Cívica, detalhe da maçaneta da Igreja e detalhe da fonte da Torre do Sino da Igreja

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PROJETOS SELECIONADOS | ARQUITETURA E DESIGN A arquitetura dos Aalto marca a revisão do funcionalismo das linhas modernas em busca de uma arquitetura mais humana e em equilíbrio com a natureza. O uso recorrente de formas onduladas; de texturas e cores que ao mesmo tempo que se aproximam da natureza, produzem um contraste proposital; as experiências com madeiras curvas nos mobiliários; a minuciosidade dos detalhes projetuais; a importância do reconhecimento da tradição e da cultura; a evidente preocupação pelo conforto humano; o vasto conhecimento da cultura e dos materiais de seu país e as várias experimentações e estudos são recorrentes nas obras do casal Aalto. A busca por uma arquitetura que mesclasse elementos da cultura vernacular finlandesa com as referências internacionais, devido à influência de Aino, fez com que Aalto questionasse a ideia de “vanguarda sem raízes”, passando por várias fases projetuais, utilizando obras como a Vila Mairea e a Casa de Muurtsalo como laboratórios de experimentações. Mesmo depois da morte de Aino, Aalto continua seu projeto de arquitetura iniciado com a primeira mulher, buscando a obra de arte completa, que será coroada no edifício Finlândia Hall, em que Aalto, no final de sua carreira, pode fazer um balanço de sua produção e elaborar uma de suas obras mais expressivas que coroa sua arquitetura detalhista e que leva ao extremo o cuidado com as minúcias e com a alta qualidade de seu trabalho.

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SANATÓRIO PAIMIO Paimio, Finlândia 1928-1933 Hospitalar Construído

O complexo, planejado por Alvar e Aino Aalto, após vencerem o concurso de planejamento para o Sanatório Paimio, em 1928, na cidade de Paimio (sudeste da Finlândia), representa o ápice da funcionalidade ortodoxa concebida pelo arquiteto, sendo expoente de sua obra, lançando-o internacionalmente e se tornando um dos melhores exemplos de arquitetura funcionalista do mundo. Localizado cerca de 30 quilômetros da cidade de Turku, em uma região de colinas e bosques de coníferas, o sanatório concebido para o tratamento de tuberculosos, foi idealizado como uma “máquina de curar”, a partir da unidade básica do quarto do hospital, em que o paciente teria papel de destaque, sendo a maior preocupação de Aalto seu conforto. Para isso, Alvar concebeu cada detalhe do complexo tendo em mente as carências básicas dos doentes, pensando nas dimensões, cores, volumes, iluminação, etc.O casal dedicou-se também a projetar todo o mobiliário do Sanatório. Entre os mais famosos está a poltrona de Paimio (modelo n°41) criadas para a sala de leituras do edifício. O edifício proposto na forma de três blocos abertos em forma de leque, tem sua implantação integrada à natureza ao seu redor, com varandas ao ar

livre que faziam parte da recuperação dos enfermos pois naquela época, a única “cura” que se conhecia para a doença era o repouso absoluto em ambientes limpos e arejados, além do contato com o ar puro da natureza . Essa forma dinâmica e assimétrica do edifício permite que a organização de seus blocos promova uma experiência nova para quem a percorre. Dimensionado para abrigar trezentos enfermos, a ala dos pacientes de seis andares que se abre para a fachada sul, ramifica as demais unidades. O contraste entre as formas e os volumes distingue a hierarquia dos blocos. Além do bloco principal do sanatório com espaços coletivos (refeitório, salas de recreação, etc); de recuperação (quartos, solário e varandas); e de serviços (cozinha, lavanderia, caldeiras), foram planejadas também habitações para os funcionários do complexo. O edifício funcionou como sanatório de tuberculose até os anos de 1960, quando foi convertido em hospital geral, o que levou a longas obras de remodelação, tendo em vista a diminuição drástica dos doentes de tuberculose depois da disseminação dos antibióticos na década de 1940.

FIGURA 01 à esquerda: Sanatório de Paimio.

FIGURA 02: planta do térreo.

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FIGURA 04: Aino Aalto tomando sol na varanda do Sanatório.

FIGURA 03: Varanda do Sanatório.

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VILLA MAIREA - Noormarkku, Finlândia (1938-1939) Noormarkku, Finlândia 1938-1939 Residencial Construído FIGURA 05 à esquerda: Vista externa da Villa Mairea.

Elogiada como “a obra-prima” de Alvar Aalto do pré-guerra por Frampton, a Villa Mairea, assim como a casa experimental de Muuratsalo - construída anos depois - colocou em prática a natureza dupla da arquitetura de Aalto: racionalidade e espiritualidade. O diálogo entre essas duas instâncias revela a paisagem da memória aludindo à paisagem escandinava. Recebendo carta branca para “dar asas à sua imaginação” do casal Gullichsen que encomendou a casa, Aalto não precisou preocupar-se com limitações financeiras e pode demonstrar a variedade de suas capacidades experimentando uma linguagem orgânica e por fim romântica, deixando de lado o funcionalismo formal, que iria marcar suas criações posteriores. Maire e Harry Gullichsen, pertenciam ao ambiente burguês e eram amigos do casal Aalto. Maire, admiradora de arte e design e dona de uma galeria de arte, e seu marido Harry, diretor geral da empresa Ahlström, estavam muito próximos do movimento moderno dos anos 1930, e viam em Aalto um arquiteto e designer que partilhava de suas convicções de homem moderno e que poderia dar-lhes uma expressão arquitetônica sig-

nificativa, incentivando-o a criar algo novo e incomum. Aalto e Aino já haviam executado outros projetos para a empresa Ahlström como a planta de Sunila em 1939. No início de 1938, Aalto faz seus primeiros esboços da Villa, que iria totalizar mais de 400 esboços em que os últimos datam de janeiro de 1939. Inicialmente, o projeto previa um edifício em forma de L, com três pisos na entrada e dois do lado do jardim, criando um recinto semi-privado de um lado, e uma fachada mais formal voltada para o público, do outro. O centro da casa seria composto por uma sala elevada. Em abril do mesmo ano, Aalto altera o projeto da sala elevada e cria o plano chamado “Proto-Maiera” que previa variações nos patamares e diversos quartos de hóspedes, além de inserir a galeria de arte em um edifício próprio, atrás da piscina. Na primavera de 1938, Aalto altera novamente o projeto, unindo as salas de estar com a galeria de arte formando um espaço amplo utilizado para várias finalidades. A planta, muito simples, resultado do cruzamento de dois corpos em L, cria uma espécie de pátio interno que, assim como na Vila Maiera, define a convivência entre a natureza envolvente e o jardim, para onde vol-

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FIGURA 06: planta do térreo.


FIGURA 08: Ambiente interno com mobiliário e design de interiores desenvolvido por Aino.

da casa. Outra aproximação com a casa de Muuratsalo são as salas de visita e de trabalho que ficam no térreo e os quartos e a parte privada da casa, ficam no nível superior, setorizando a casa em áreas sociais, de lazer, serviço e íntimas. O sistema de caminhos e paisagens representa a ossatura que sustenta a composição: da entrada, o olhar se dilata no amplo espaço da sala de estar e continua para o jardim, guiado pelo corpo baixo do pórtico lateral, que se conclui no pequeno volume da sauna. (GIANLUCA, 2011) A utilização de materiais como a madeira no revestimento de parede; a turfa que recobre a sauna; o muro de pedra; o portão de madeira, entre outros, marcam uma clara influência das tradições arquitetônicas finlandesas; concomitantemente também é possível observar na casa semelhanças com antiga arquitetura japonesa no que concerne à escala e aos materiais aplicados.

FIGURA 07: Vista da fachada da piscina.

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LAR DOS ESTUDANTES - BAKER HOUSE Cambridge, Massachusetts 1947-1949 Moradia estudantil Construído

Após ser nomeado Research Fellow (companheiro de pesquisa) em 1940 no Massachusetts Institute of Technology, Aalto volta para Cambridge em 1945 para lecionar como professor visitante a convite de seu amigo e reitor William W. Wursten. Nesse contexto, o arquiteto recebeu o encargo de projetar um novo lar para os estudantes do campus universitário, a Baker House, nome dado ao conjunto em 1950, em memória de Everett Moore Baker, o decano dos estudantes do MIT. Junto ao atelier local, Parrey, Shaw & Hepburn, Aaalto desenvolveu os planos de construção e projeto das moradias que tiveram suas obras iniciadas em 1947 e foram inauguradas em junho de 1949, meses depois da morte de sua esposa, Aino Aalto. Situado às margens do Rio Charles, em Cambridge, região de Boston/Massachusetts, na cidade universitária urbana do MIT, o bloco residencial divide o espaço público da cidade e as dependências da universidade. Entre o edifício e o rio localiza-se o Memorial Drive, principal artéria da região, caracterizando um contraste entre a agitação da via e a calmaria da paisagem bucólica das margens do rio, tema das discussões de Aalto que se esforçou para estabelecer uma

relação harmoniosa entre a edificação e seu entorno. A fachada sul do bloco, de formato mais orgânico, abre-se para o rio em direção à luz natural e à paisagem bucólica. As janelas dos apartamentos, oblíquas à via, resultado da forma curva, tornam a vista da rua menos direta o que contribui para a concentração dos estudantes. Devido a mentalidade de rentabilidade resultante do contexto econômico, o edifício ficou marcado por uma mudança do pensamento puramente funcional que se concretizou através de sua forma orgânica, sendo um artifício à conturbação da cidade e não apenas um mero dispositivo decorativo, além de aumentar a área de superfície da fachada sul do edifício, onde Aalto foi obrigado a potencializar o número de quartos. O programa foi dividido em áreas privativas onde foram projetados 38 quartos por andar, totalizando 232 unidades distribuídas em uma superfície total construída de 1600 m2; e comunitárias que incluem cafeteria, lavanderia, salas de estudo e de estar do lado norte do edifício e refeitório. A obra realizada responde plenamente à ideia orgânica inerente à arquitetura de Aalto. A linha sinuosa que define toda a frente

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FIGURA 09 à esquerda: Vista externa Baker House.

FIGURA 10: planta térreo.


FIGURA 12: Vista interna de um dos quartos.

FIGURA 11: Vista aérea.

do campus, dominada pelos volumes protuberantes das escadas, se contrapõe à linha ondulada que distingue a frente dos quartos voltados para o rio. Na composição das partes, a linha sinuosa do corpo principal, com sete andares de altura, se contrapõe à justeza do corpo mais baixo de entrada, que Aalto enxerta inteligentemente em correspondência com a enseada principal, criando ao mesmo tempo o percurso privilegiado que leva do rio ao interior do campus. (GIANLUCA, 2011) Decorrente da forma orgânica da fachada sul, os quartos possuem diferentes tipologias podendo alojar algumas vezes, até três estudantes. Essa diversidade Aalto nomeou de “padronização flexível”, onde os ambientes possuem formas distintas mas com o mesmo partido. Aalto, assim como em outros trabalhos, se preocupou com a conformação completa dos ambientes. O mobiliário foi projetado por Aino Aalto, e fornecidos por Svenska Artek. A fachada, de tijolos cozidos, foi pensada de forma a compor uma superfície irregular proposital, contrastando com as placas de mármore cinza do volume que aloja o refeitório que é marcado pelas clarabóias cilíndricas, recurso muito utilizado pelo arquiteto.

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Entre os vários desenhos para a Baker House, Aalto explora uma busca constante por formas antropomórficas e orientadas pela relação entre homem e natureza, tão importante para o arquiteto. A fachada projetada com treliças coberta por folhagens, ainda que não construída, e as superfícies de tijolos suscitam uma rejeição da industrialização em favor de aspectos mais humanos, sendo a edificação, uma intermediação entre a esfera humana e a paisagem natural. Tema que Aalto explorou com ênfase no pós guerra. É de se notar que as opiniões sobre a Baker House são variadas. Para o autor Frampton, por exemplo, foi um projeto mal resolvido. O edifício passou por quatro reformas importantes desde que foi inaugurado, em que foram substituídas todas as janelas dos dormitórios, a fiação, a pavimentação, e o telhado; acessibilidade à cadeirantes e restauro do mobiliário.

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PREFEITURA DE SÄYNÄTSALO Säynätsalo, Finlândia 1949 - 1952 Institucional Construído FIGURA 13 à esquerda: Prefeitura de Säynätsalo.

Aalto explora ao longo de sua carreira a mistura entre a tradição finlandesa e a cultura clássica européia de forma às vezes muito evidente, e em outras, nem tanto. Ele acreditava que as ruínas do mundo clássico - a ágora, a acrópole, os anfiteatros gregos e romanos - e também as cidades medievais, poderiam se fundir ao estilo vernacular, ultrapassando seus limites. Segundo o arquiteto, “se pensarmos quanto as épocas passadas souberam ser internacionais, destituídas de preconceitos e fiéis a si próprias, podemos aceitar sem complexos as influências provenientes da Itália antiga, da Espanha, do Novo Mundo. Nossos antepassados permanecerão sempre como nossos mestres.”¹ A prefeitura (câmara como aparece em algumas bibliografias) de Saynatsalo, fruto do projeto de Aalto para concurso (1949) do plano urbanístico para a cidade industrial localizada em uma pequena ilha no lago Paijanne, perto de Jyvaskyla no centro da Finlândia, foi o único edifício construído do plano original. Para Aalto, segundo Curtis, a cidade de Saynatsalo, “cívica sem ser monumental (...) unia a cidade democrática grega em ruínas e os contornos glaciais escarpados do norte”(CURTIS, 2008, p.458).

Marcada pela clara influência da cultura clássica, a praça central de reuniões e discussões, símbolo da democracia grega tem um grande significado em sua obra, ainda que tenha sido mal vista pelos funcionalistas ortodoxos. O pátio elevado, resultado de um aterro três metros elevado da rua e para onde se voltam os ambientes mais importantes da prefeitura, constitui esse espaço de “átrio do edifício público” (GIANLUCA, 2011) que é acessado tanto por leste (escada de granito) quanto por oeste (degraus revestidos de grama). A genialidade de Aalto se dá no fato do arquiteto utilizar referências ao classicismo, sempre dialogando com a tradição nórdica e com a realidade local, sem imitar as épocas passadas, o que faz com que sua obra se torne ainda mais moderna. As torres cívicas de muitas cidades italianas que são revividas em “uma massa ascendente como uma torre [que] domina a arquitetura do edifício” (LAHTI, 2010), e o pátio central elevado, aludem ao centro cívico grego. O complexo é constituído pela câmara do conselho, escritórios do governo local, biblioteca, moradia para funcionários e espaços para o comércio.

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FIGURA 14 abaixo: Planta térreo.

FIGURA 15 abaixo: Detalhe da estrutura em leque. Aalto, A. “Motivi del passato”, in Idee d’architettura. Sritti scelti 1921-1968, Bolonha, Zenichelli, 1987, p.10)

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FIGURA 16 abaixo: Fachada.

FIGURA 17 abaixo: Interior

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CASA DE VERÃO EXPERIMENTAL Muurtsalo, Finlândia 1952-1954 Residencial Construído

Foi uma das obras mais importantes de Aalto, fruto de sua parceria com sua segunda mulher, Elissa. No decorrer da construção da Câmara Municipal de Saynatsalo, Alvar e Elissa adquirem um terreno na ilha próximo à Muurtsalo, região dos lagos da Finlândia central, onde, após o casamento, em 1952, iria ser erguida a Casa de Verão do casal, ou como dizia Aalto, um laboratório experimental. Aalto já conhecia a região de Muurtsalo desde 1903, com paisagem típica das florestas finlandesas, dominada por lagos e colinas arborizadas e onde era comum as construções das casas de verão. A casa dialoga com essa natureza circundante, tanto estruturalmente quanto esteticamente. Ela apoia-se em uma rocha que a eleva da água e onde são fixadas suas fundações. Sua arquitetura é um reflexo da arquitetura e da cultura dos países nórdicos, especialmente na forma de se estabelecer e construir uma relação com o lugar. Sendo construída inicialmente de forma que só pudesse ser acessada por barco, seu bloco principal é composto por um corpo em L em que toda a casa abre-se para um pátio interior, orientado para oeste e sul, para poder aproveitar ao máximo a luz natural e ao mesmo tempo al-

cançar uma relação com o entorno propícia para se ter vistas estratégicas da paisagem finlandesa. Nesta casa, podem ser encontradas muitas características da arquitetura de Aalto e dos princípios modernos. A funcionalidade marcada pela decomposição da planta em diferentes áreas e setores com elementos mínimos, feitos a partir de formas geométricas simples e únicas que possibilitam uma maior harmonia, fluidez e funcionalidade do conjunto. O conceito corbusiano de “passeio arquitetônico” é vivido na casa onde o pátio interno, por muitas vezes anula o limite entre interior e exterior, e organiza os espaços internos através de três acessos que comunicam o interior imediatamente com o pátio que responde ao tipo de pátio da casa grega, elemento de união ao mesmo tempo, um elemento em si. Na parte de trás da casa, dois outros acessos comunicam o bloco original com o bloco dos hóspedes, além de permitir um acesso mais fácil dos mesmos aos seus aposentos. As aberturas permitem que seja visto, do interior, elementos externos como a floresta, o lago Päijänne e a torre da igreja de Muurame, desenhada por Aalto em 1920.

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FIGURA 18 à esquerda: Casa de Verão Experimental.

FIGURA 19: Implantação.


FIGURA 20 abaixo: vista externa.

Os traços românticos e arcaicos da casa são exemplos da arquitetura feita por Alvar em que os muros isolados e as aberturas remetem para algo do passado, onde reside a nostalgia das ruínas proposta por Aalto. Assim como a Villa Mairea, a casa de Muurtsalo foi um espaço de laboratório de experimentação onde o arquiteto pôde testar o comportamento dos materiais e aperfeiçoar técnicas construtivas que contribuíssem para um desenvolvimento e melhoramento da sua arquitetura, podendo ensaiar soluções variadas na seleção dos materiais e no desenho dos detalhes construtivos. No pátio interno, foram usados mais de 50 tipos de tijolos, que serviram de experimentações de durabilidade e efeito óptico.

FIGURA 21 à esquerda: Vista do Pátio Interno. FIGURA 22 à esquerda: Vista do Pátio Interno.

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Prédio de Apartamentos Hansaviertel Berlim (Ocidental), Alemanha 1955-1957 Residencial vertical Construído

A reconstrução do bairro habitacional de Hansaviertel (distrito de Tiergarten, distante 6 km do centro de Berlim), que fora totalmente destruído após os bombardeios de 1943, seguindo os princípios do urbanismo moderno, seria objeto da grande exposição internacional Interbau, de 1957, com o tema de “Cidade do Amanhã”, cuja iniciativa faria parte da reconstrução habitacional do pós guerra. Ela traz consigo a atuação de grandes nomes da arquitetura moderna como Walter Gropius, Oscar Niemeyer e Alvar Aalto. O edifício de oito andares e 78 apartamentos, projetado por Aalto, além de fazer parte da exposição, destaca-se por criar um novo modo de habitar moderno, com áreas privadas e coletivas como por exemplo as escadarias iluminadas e as varandas fechadas e recuadas. Os apartamentos, de diferentes tipologias, organizam-se em torno de escadas adjacentes fazendo a ligação entre os blocos, além de servir como entrada coberta para o edifício. FIGURA 24: Um dos apartamentos FIGURA 22 à esquerda: Vista externa Prédio de Apartamentos Hansaviertel. FIGURA 23 à direita: Saguão de entrada.

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FIGURA 25: Planta


Igreja das Três Cruzes (1955-1958) Vuoksenniska, Imatra, Finlândia 1955-1958 Templo Religioso Construído

Aalto entra em contato com o programa religioso quando compromete-se com a construção e reformas de várias igrejas em Jyväskylä, na qual destaca-se a Igreja de Muurame. Nos anos de 1930, Aalto constrói alguns outros templos, mas que ainda estavam presos na sua fase de ortodoxia internacional. Depois de 20 anos longe do tema sacro, Aalto envolve-se com outros dois projetos de capelas (uma em Malm, Helsinque e outro em Lingby, Dinamarca) que, embora não realizados, marcam uma nova forma do arquiteto de encarar o programa sagrado. Segundo Muller, o tempo de Vuoksenniska seria “... uma das mais felizes obras do arquiteto, [em que] estão retrabalhadas todas as estratégias eclesiásticas “aaltinas” mais caras, materializando edifício escultórico onde as questões litúrgicas, o necessário caráter religioso e a estrutura protagonizam originais episódios de geração formal e de experimentação do sagrado”(MULLER, 2006, s/p). A divisão do espaço interno da Igreja em três partes, retoma as três cruzes do altar. Esse espaço assimétrico tem como premissa a versatilidade, em que paredes móveis fazem com que a igreja seja utilizada para outros fina-

lidades além do culto. Aalto preocupou-se em projetar uma igreja que se aproximasse dos fiéis, servindo à comunidade industrial de Imatra como espaço de culto, reuniões e com função social. A [parte] mais próxima do altar contém púlpito e órgão e foi dimensionada para duzentos e noventa pessoas – é onde ocorrem os cultos ordinários, assim como casamentos, enterros e outras cerimônias; as outras são salas destinadas à comunidade, e podem ter deslocadas, mediante sistema elétrico, as paredes de concreto que as dividem, possibilitando a nave ser ampliada para abrigar até oitocentas pessoas quando suprimidas as barreiras físicas.(MULLER, 2006, s/p) Ao lado da Igreja, Aalto projetou a residência paroquial, que é ligada ao templo por um muro de concreto pintado de branco, que envolve um pátio interno. FIGURA 26 à esquerda: Vista externa Igreja das Três Cruzes. FIGURA 27 acima: Vista interna. FIGURA 28 acima: Vista externa.

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Finlândia Hall - Helsinki, Finlândia (1962-1975) Helsinki, Finlândia 1962-1975 Equipamento Cultural Construído

No início dos anos de 1960, foi encomendado a Aalto um ambicioso plano para o novo centro da cidade de Helsínquia, que seria construído entre as margens do lago Töölö e o parque Hesperia, e que envolveu o arquiteto por quase 20 anos de estudos e discussões. Uma gama de edifícios culturais como um teatro de ópera, um museu de arte, uma biblioteca e outros edifícios públicos foi proposta pelo arquiteto. Esses equipamentos se abririam para uma grande praça em forma de leque que se propunha a dialogar com a baía de Töölö e com a natureza circundante. Entretanto, somente o Finlandia Hall, edifício voltado para concertos e congressos, se concretizou e foi um dos últimos projetos a ser acompanhado por Aalto. O complexo é composto por uma ala de congressos, que foi concluída em 1975, um grande auditório assimétrico de 1.700 lugares e uma sala para concertos - com capacidade para 350 pessoas - interligados por um suntuoso foyer voltado para o lago. O edifício possui duas fachadas principais: uma voltada para a baía (leste) e outra para o parque e a rua Mannerheimintie (oeste) onde fica a entrada principal do edifício, marcando uma transição proposital entre o

fluxo intenso da avenida, a tranquilidade da natureza do parque, e o edifício. Aalto coroa sua arquitetura minuciosa neste edifício em que seu cuidado com os detalhes e com a alta qualidade de seu trabalho são levados ao seu limite. Luminárias projetadas na parte externa dos domos do telhado para derreter o gelo durante o inverno, mobiliários específicos, painéis, molduras e revestimentos, foram pensados meticulosamente e são resultado de toda a experiência adquirida ao longo da vida do arquiteto. FIGURA 29 à esquerda: Vista externa Finlândia Hall.

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FIGURA 30 acima: vista interna. FIGURA 31 abaixo: vista externa.


A CIDADE | VYBORG

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A CIDADE | VYBORG

Contexto Histórico Vyborg ou Viipuri1 apresenta um contexto histórico conturbado devido a sua posição geográfica e aos momentos de guerras. Atualmente, é uma cidade russa pertencente ao Oblast de Leningrado2, localizada a 130 km de São Petersburgo e a 250 km de Helsinki. O primeiro assentamento na cidade é datado no século XI, quando uma pequena população de camponeses, pescadores e caçadores se estabeleceram no local e criaram um centro comercial no ramo ocidental do rio Vuoksi (inexistente atualmente). Durante o período das Cruzadas, com ênfase na Terceira Cruzada Sueca, foi um território de disputa entre a Suécia e a República de Novgorod3, o Castelo de Vyborg foi fundado neste época. A partir do Tratado de Nöteborg, em 1323, a Vyborg foi finalmente reconhecida como parte da Suécia.

decisivo, dezoito mil homens liderados pelo Czar Pedro I cercaram a cidade forçando o último comandante sueco, Coronel Magnus Stiernstråle, a se render em 13 de junho de 1710. A cidade então passa a ser dominada pelo Czarado da Rússia até 1721 quando é feito o Tratado de Nystad5 e Vyborg tornou-se oficialmente incorporado no Império Russo6, resultando em um novo período na história multinacional da cidade, em que as influências russas se misturaram com a cultura sueca, finlandesa e alemã da cidade. Vyborg volta a ser novamente local de disputa entre o Império Russo e a Suécia na Guerra Finlandesa, ocorrida entre 1808 e 1809. Como resultado, a partir do Tratado de Hamina, a Finlândia, até então dominada pelos suecos, é cedida aos russos, tornando-se um grão-ducado autônomo, o Grão-Ducado da Finlândia, mesmo que teoricamente seja um território independente, pertencia de fato ao Império Russo. Assim, em 1811, Vyborg é anexado a este grão-ducado. Em 1870, foi instaurado uma linha ferroviária ligando São Petersburgo a Helsinki, passando pela cidade.

A Grande Guerra do Norte4 estourou em 1700 e com ela, o período de paz chega ao seu fim. As tropas russas se aproximaram da cidade em 1706, foi a primeira tentativa mal sucedida de tomada da fortaleza sueca de Vyborg. Em 1710, ocorreu o golpe

Com a Revolução Russa de 1917 e a

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FIGURA 01 acima: Castelo de Vyborg. Desenho datado em 1600. FIGURA CAPA à esquerda: Vista de Vyborg da torre de Olaf Nome oficial da cidade durante a dominação finlandesa. 2 O Oblast de Leningrado é uma divisão federal da Federação Russa. 3 Antigo Estado eslavo da Idade Média, atualmente apresenta parte pertencente à Finlândia e parte à Rússia. 4 A Grande Guerra do Norte (1700 - 1721) foi uma guerra entre o Czarado da Rússia, Reino da Dinamarca e Noruega e Saxônia-Polônia, Prússia e Hannover - os dois últimos entraram na guerra a partir de 1715 - e o Império Sueco. Esta guerra demarcou o fim do Império Sueco. 5 Assinado em 10 de setembro de 1721, marco do término da Grande Guerra do Norte entre a Suécia e a Rússia. 6 Pedro I funda o Império Russo em 1721, substituindo o Czarado da Rússia, foi o primeiro imperador e liderou o processo de modernização e ocidentalização do país.

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Foi um estado socialista, criado durante a guerra civil finlandesa, existiu de 18 de janeiro a abril de 1918. 8 A Guerra de Inverno, também conhecida como a Guerra Soviético-Finlandesa ou Guerra Russo-Finlandesa iniciou com o ataque da União Soviética na Finlândia no dia 30 de novembro de 1939, três meses após o início da Segunda Guerra Mundial. 9 O istmo da Carélia é um istmo que separa o lago Ladoga na Rússia do golfo da Finlândia. Este território foi incorporado na União Soviética depois da Guerra de Inverno, sendo a anexação confirmada depois da Guerra da Continuação. 10 O Tratado de Paz de Moscou foi uma acordo entre a Finlândia e a União Soviética que marca o fim da Guerra de Inverno, o qual resultou na perda de território da Finlândia para a União Soviética, porém, foi mantida a sua independência, acabando com a tentativa soviética de anexar o país.

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queda do Império Russo, a Finlândia declara- Após o período de 22 anos de domise independente, a cidade passa ao domínio nação finlandesa, devido a Guerra de Infinlandês, mudando seu nome para Viipuri. verno8, ocorrida entre 1939 e 1940, a cidade, assim como todo Istmo da Carélia9, Depois da independência finlandesa, foi transferida para o controle da União SoVyborg evoluiu para um centro comercial e viética, determinada pelo Tratado de Paz de cultural animado, onde a maioria dos habi- Moscou10. A região da Carélia tornou-se tantes falava quatro idiomas: finlandês, sue- uma força política voraz, sendo seu desejo co, russo e alemão. Devido ao tumulto, resul- de retorno ao domínio finlandês um importado da Primeira Guerra Mundial, foi travada tante incentivo para a Finlândia juntar-se aos a Guerra Civil Finlandesa em 27 de janeiro países do Eixo durante a Segunda Guerra a 15 de maio de 1918, entre os “vermelhos” Mundial, oferecendo, desta forma, suporte (forças dos social-democratas) e os “brancos” à Alemanha Nazista contra os soviéticos. Em (forças conservadoras não-socialistas). A ci- Agosto de 1941, as tropas finlandesas voldade foi dominada pelo República Socialista taram a ocupar Vyborg, gerando uma segundos Trabalhadores da Finlândia7, e durante a da guerra soviética-finlandesa, chamada de guerra civil, ocorreu a chamada Batalha de Guerra da Continuação11, foram destruídos Vyborg, 24 a 29 de abril de 1918, entre os mais da metade das construções da cidade finlandeses vermelhos e os finlandeses bran- neste período de guerras. Durante esse mocos. A batalha é lembrada devido a sua con- mento, Vyborg e todo Istmo da Carélia volsequência sangrenta, conhecida como Mas- tam a ser um território finlandês, porém com a sacre de Vyborg, em que entre 360 a 420 derrota em 1944, a Finlândia foi obrigada a homens, em sua maioria russos, foram assas- recuar e restabelecer as fronteiras determinasinados pela Guarda Branca. É nesse perío- das no Tratado de Paz de Moscou, a cidade do entreguerras e de dominação finlandesa foi oficialmente transferida para o Oblast de que Alvar Aalto é designado a conceber a Leningrado, e seu nome foi novamente alBiblioteca Municipal da cidade, obra prima terado para Vyborg. Como parte soviética, de sua arquitetura moderna. a cidade se transforma em uma área militar

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fechada, a qual estava fora dos limites para os estrangeiros, forçando todos os habitantes a evacuarem, algo bastante excepcional; na maioria desses casos de cidades que foram dominadas por outros povos no período de guerras, no mínimo uma pequena parte da população original permanece na cidade. Porém, quando os finlandeses se retiraram da cidade e fizeram evacuações finais em 1944, eles levaram importantes documentos e objetos da cidade para garantir a preservação destes. A cidade ficou vazia, os contatos históricos, culturais e comerciais foram cortados, essa mudança histórica essencialmente apagou a cidade do mapa, a cortou de todos os contatos para o mundo exterior. Como evidência disso, Sergei Kravchencho, o arquiteto responsável pela Biblioteca de Aalto durante os tempos soviéticos, queria pedir conselhos sobre a renovação da Biblioteca, mas foi negado a permissão para entrar em contato com a Finlândia. Os soviéticos então trouxeram novos habitantes para a cidade, os quais não apresentavam nenhuma relação com Vyborg, pois estes não conheciam nada sobre o local antes de 1944, havia se tornado uma cidade sem história. Este foi um dos

fatores que destacam a singularidade da cidade de Vyborg em relação a outras diversas cidades, onde a guerra transformou em um mundo cheio de casas perdidas, destruição e nostalgia. O território assim permaneceu até o fim da União Soviética em 1991, com a sua dissolução, a cidade passa a pertencer a Rússia, abrindo as barreiras da cidade militar, antes estabelecidas, permitindo a entrada de estrangeiros, especialmente os finlandeses que quiseram retornar e ver a cidade que estava fora dos limites há quase cinquenta anos.

FIGURA 02: Desfile de tropas finlandesas em Vyborg em 31 de agosto de 1941.

Conflito travado entre a Finlândia e a União Soviética, entre 25 de junho de 1941 e 19 de setembro de 1944. Na Finlândia, foi chamada Guerra da Continuação para tornar clara a relação com a Guerra de Inverno, é considerada como uma guerra a parte da Segunda Guerra Mundial.

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LINHA DO TEMPO QUE SINTETIZA OS DIFERENTES PERÍODOS DE DOMINAÇÃO DA CIDADE E SUAS PRINCIPAIS DATAS


residentes falassem as quatro línguas. É neste momento do contexto histórico ímpar da cidade que o arquiteto finlandês Alvar Aalto projeta a Biblioteca Municipal de Viipuri, o edifício foi construído no parque Torkkelinpuisto.

FIGURA 03: Mapa da localização da Biblioteca de Viipuri em relação a cidade

A Cidade Finlandesa

12 Göran Schildt (ed), Alvar Aalto in his Own Words. Otava, 1997, página 108.

A cidade, agora nomeada de Viipuri, foi parte do território finlandês de 1917 a 1944 - sendo apenas o período de 1940 a 1941 dominada por soviéticos - era considerada a segunda maior cidade da Finlândia, em 1940, tinha cerca de 80 mil habitantes (1 de julho de 1940 era 72.778). Conhecida como a cidade mais internacional da Finlândia, pois ali habitavam além dos finlandeses, russos, suecos e alemães, não era raro que os

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“Quando concebi a Biblioteca Municipal de Viipuri (e tive tempo de sobra, cinco anos completos), passei longos períodos fazendo experiências com desenhos ingênuos. Desenhei todos os tipos de paisagens fantásticas, com encostas iluminadas por vários sóis, em posições diferentes, que gradualmente foram dando forma à ideia principal do edifício.” AALTO, Alvar, 194712

medieval de Vyborg). Viipuri foi fortemente bombardeada durante a Guerra de Inverno, o altar da Nova Catedral foi atingido e destruído por uma bomba em 3 de fevereiro de 1940, a Catedral então foi parcialmente destruída pelos russos e os finlandeses não conseguiram repará-la durante o período de guerra. A Catedral foi completamente destruída após a guerra, quando a Finlândia perde o território oficialmente em 1944 para a União Soviética. Felizmente, a Biblioteca de Aalto não foi atingida durante os bombardeios e manteve-se intacta ao longo da guerra, porém foi deixada em completo abandono durante a dominação soviética.

FIGURA 04 à esquerda: Catedral antes do bombardeio. FIGURA 05 à direita: Catedral após o bombardeio.

Localizada em um parque próximo ao centro histórico da cidade, o edifício ganha destaque, podendo ser visto todas suas fachadas. Ao lado da Biblioteca havia uma igreja construída em estilo neogótico em 1893, em primeiro momento, era chamada de Nova Igreja e após 1908 transformou-se na Nova Catedral (para diferenciar da antiga catedral

FIGURA 06: Fotografia da Biblioteca de Viipuri com vista da Catedral ao fundo antes do bombardeio.

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A história do urbanismo evidenciada na cartografia Apresentados a seguir estão mapas históricos, em ordem cronológica, que permitem compreender a evolução do urbanismo na cidade de Vyborg. A cidade na época medieval apresentava malha urbana estreitas e orgânicas. No século XVII, se reestrutura, a partir de 1638, o sistema medieval de ruas irregulares substituíndo por uma ortogonalidade, iniciativa do governador Per Brahe, objetivando uma cidade com melhor defesa e proteção contra incêndios. Essa transformação no desenho urbano resultou em um ponto alto da história da cidade; como expressão desse desenvolvimento, comerciantes afortunados e funcionários da cidade, entre eles muitos alemães, construíram belas casas urbanas. Após os mapas históricos, estão colocadas as cartografias do Plano Diretor da Cidade de Vyborg, do Uso da Terra e de seu Plano de Construção de 2007.

FIGURA 07: Mapa Medieval

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pelo município feito pela empresa de arquitetura da região de Leningrado ArchiGrad atendendo aos requisitos técnicos. Sendo Sherbin (Щербин К.В.) diretor-geral e arquiteto-chef e Timakina (Тимакина Ю.А.) engenheiro e designer do projeto. De acordo com o código de planejamento urbano, as regras de uso e construção do solo são um dos tipos básicos de documentação de planejamento sobre o desenvolvimento de território. Essas regras requerem um maior nível de detalhamento para as próximas fases do projeto em outras formas de documentação e em projetos específicos. Este projeto é baseado em um Plano Mestre pré-existente da cidade de Vyborg, na região de Leningrado. As regras de uso e construção do solo baseiam-se no desenvolvimento do plano mestre “habitação urbana vyborg” do distrito de Vyborg I, região de Leningrado. O plano urbanístico é realizado em detalhes fornecidos pelo cliente e coletados pelo autor do projeto.

FIGURA 08 acima: Recorte da área direita do mapa acima de 1638 evidenciando a divisão dos lotes FIGURA 09 abaixo: Mapa de 1638 após a regulamentação das ruas, transformando em uma cidade ortogonal

Trata-se de um projeto encomendado

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FIGURA 10: Mapa de 1820

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FIGURA 11: Mapa de 1839

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FIGURA 12: Mapa de 1860

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FIGURA 13: Mapa de 1900

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FIGURA 14: Mapa de Vyborg e seus arredores do norte em 1905 do “Guia para a Finlândia Oriental” KB Granhagen.

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FIGURA 15: Mapa de 1912

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FIGURA 16: Mapa de 1939

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FIGURA 17: Vista aérea da cidade em 1939

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A OBRA A biblioteca em Viipuri é uma das obras mais famosas de Alvar e Aino Aalto, sendo, junto com o Sanatório Paimo, a pedra angular da fama internacional dos arquitetos. Apesar do projeto ter sido feito pelos dois enquanto casal e parceiros de trabalho, a historiografia priorizou a autoria de Alvar Aalto, apagando em partes o papel importante da arquiteta Aino Aalto, principalmente mas não apenas no design dos interiores da biblioteca.

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BIBLIOTECA MUNICIPAL DE VIIPURI

Histórico Em 1929, Aalto venceu o concurso para o projeto da biblioteca municipal de Viipuri. Com o desenho característico do classicismo nórdico - que englobava, inclusive, um friso -, o projeto era comparado com a Biblioteca Municipal de Estocolmo, edifício em estilo clássico sueco dos anos de 1920, projetado pelo arquiteto Gunnar Asplund. Devido à mudança de implantação de uma zona urbana em uma via principal para o parque Torkkeli e por uma recessão econômica, a construção da biblioteca foi adiada para 1933. Cinco anos foram o suficiente para que o arquiteto mudasse completamente o seu estilo: dos desenhos classicistas nórdicos propostos pela primeira vez para a biblioteca, o arquiteto passa agora a adotar uma linguagem própria, ao mesmo tempo funcionalista e orgânica, uma combinação que foi uma personalização de Aalto do vocabulário moderno. A proposta de Alvar na nova implantação permitiu a abertura da biblioteca para todos os lados. “A Biblioteca Viipuri parece um típico edifício funcionalista, mas suas superfícies brancas e massas cubistas escondem

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dentro as sementes de ‘novo Aalto’.” (KAIRAMO, 2006, P.49. tradução nossa) A construção foi iniciada em abril de 1934 pela construtora Pyramid Oy, e o edifício foi finalizado em outubro de 1935. Assim como todas as obras de Alvar Aalto, existia na biblioteca um caráter experimental em que determinados elementos inovadores foram empregados e posteriormente reutilizados em outras obras. Apesar do complicado contexto histórico, a biblioteca não foi destruída pelas guerra entre Finlândia e Rússia e nem pela Segunda Guerra Mundial. Entretanto, o abandono do prédio por décadas comprometeu sua conservação, e exigiu medidas de restauro urgentes.

FIGURA 01 à esquerda:Biblioteca Municipal de Viipuri. Vista aérea.

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FIGURA 02: Vista interna da sala de conferências

FIGURA 03: Vista de uma das fachadas


Análise do Projeto

FIGURA 04: Relação da Biblioteca com a antiga Catedral.

A área total construída de 7620m² inclui uma série de ambientes como salas de leitura, salas de estoque, sala de periódicos, auditório, biblioteca infantil, entrada e escritórios. Aalto se preocupava com os mínimos detalhes de seus projetos, e a biblioteca, assim como o sanatório de Paimio, foi um dos primeiros projetos a incluir desde detalhes de iluminação até mobiliários desenhados pelo próprio casal Aalto. Outra questão que Aalto considerava de extrema importância em seus projetos era a materialidade. Apesar de adotar paredes revestidas de pedra e estuque, brancas e lisas , Aalto investiu em detalhes de madeira, por exemplo, para enriquecer o local - como o caso do teto em madeira do auditório. Inicialmente, a decisão de implantação do edifício no final da rua Vaasankatu do Parque Torkkeli, como uma extensão para a Rua Koulukatu não foi aceita devido ao fato de existir nas imediações uma Igreja em estilo gótico, construída em 1893, que contrastaria com a biblioteca moderna funcionalista, causando estranheza para muitos. Entretanto, o grande terreno vazio e espaçoso poderia ser a opor-

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tunidade de se planejar o edifício de acordo com suas necessidades de uso. As diferentes áreas foram divididas por funções possuindo suas próprias entradas individuais o que fez com que os diferentes fluxos relacionados às diferentes atividades realizadas na biblioteca, ao mesmo que se conectavam, mantinham sua autonomia de funcionamento. Da mesma forma, o arquiteto planejou cada área de forma que pudesse haver uma conexão visual entre os ambientes, formando uma obra de arte total, e completando uma identidade espacial única.

FIGURA 05 à direita: Implantação. Relação da biblioteca com as áreas livres.

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FIGURA 06: Corte perspectivado. Elaboração nossa.

FIGURA 07: Corte perspectivado. Elaboração nossa.

FIGURA 08: Corte perspectivado. Elaboração nossa.

A simplicidade exterior da biblioteca, volumetricamente formada por dois blocos retangulares horizontalmente deslocados, engana. O interior organizado de forma espacialmente complexa desenha uma relação entre planos e secções que fazem com que a biblioteca se distribua em seis diferentes níveis. Uma série de escadas compõe com os vários níveis que se dispõem em busca de uma composição de diferentes sensações espaciais, mas que no fundo se integram em um espaço único aproximados por pés direitos duplos. Aalto usou esse artifício pela primeira vez na Villa para Terho Manner (1923). O arranjo, propositalmente desenhado por Aalto, faz parte do desejo do arquiteto de reproduzir na circulação interior a topografia de uma montanha irregular. Apesar de Aalto se inspirar em questões naturais, o edifício foi pensado de forma severamente lógica. A aparente complexidade de níveis e espaços não impede a fluidez dos espaços e continuidade da circulação. A mesa administrativa, além de ser o núcleo de funcionamento e circulação vertical do edifício, também está localizado em seu centro geométrico, marcando o contraste entre a ortogonalidade das

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prateleiras e o motivo circular do ambiente. “Quando desenhei a biblioteca da cidade de Viipuri por muito tempo eu busquei solução com ajuda de algum tipo de desenho primitivo de paisagens de montanhas com penhascos iluminados pelo sol em diferentes posições. A partir disso, eu cheguei, gradualmente, na concepção do edifício da biblioteca. A essência arquitetônica da biblioteca consiste em áreas de leitura e de empréstimo de livros em diferentes níveis enquanto as áreas central e de controle formam o ponto acima dos diferentes níveis” (AALTO. Tradução nossa).

FIGURA 09 à direita: Vista externa a partir da rua.

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FIGURA 10: Planta nível 1. Elaboração nossa.

FIGURA 11: Planta nível 2. Elaboração nossa.

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FIGURA 12: planta nível 3. Elaboração nossa.

FIGURA 13: Planta de cobertura. Elaboração nossa.

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FIGURA 16: Perspectivas. Elaboração nossa.

FIGURA 14: Corte AA. Elaboração nossa.

FIGURA 15: Corte BB. Elaboração nossa.

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FIGURA 17: Planta perspectivada. Elaboração nossa.

FIGURA 18: planta perspectivada. Elaboração nossa.

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FIGURA 19: Fachada de entrada principal.

FIGURA 20: Esquema dos materiais utilizados na fachada de entrada principal. Elaboração nossa.

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FIGURA 21: Modelo tridimensional. Elaboração nossa.

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FIGURA 22: Modelo tridimensional. Elaboração nossa.

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As coberturas planas da sala de leitura, associadas à um conjunto de numerosas clarabóias e o forro de madeira ondulada do auditório aparecem nesse projeto pela primeira vez nas obras de Aalto. Mas tanto esses elementos quanto outros mais sutis aparecem em projetos futuros do arquiteto, como por exemplo na biblioteca em Seinäjoki (Finlândia), Instituto das Pensões Nacionais (Finlândia) Rovaniemi (Finlândia) e Mount Angel (EUA) e o Centro Cultural em Wolfsburg (Alemanha). A biblioteca em Viipuri foi o projeto que permitiu Aalto criar um sistema de biblioteca completamente novo, em que os leitores podiam percorrer livremente e fluidamente pelo espaço. Segundo Benevolo (1976), a variação das alturas dos ambientes e o encaixe entre essas partes foram uma resolução técnica original adotada por Aalto. As lajes com claraboias e o forro de madeira ondulado são definitivamente as mais intrigantes entre todas as qualidades projetuais da biblioteca. São diversos os autores que fazem menção à biblioteca e especificamente a esses dois elementos. Apesar disso, as relações espaciais, são, principalmente nas análises mais novas, uma das questões mais admiradas. O de

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senho fluído da biblioteca permite uma integração espacial dos sistemas de iluminação, ventilação e aquecimento. As claraboias são cônicas e tem aproximadamente 1,83m de diâmetro. A forma circular do vidro da clarabóia foi concebida de modo a satisfazer uma condição menos “estressante” para as peças de vidro. Através desse delicado sistema, com formas funilares cônicas, era possível que a luz entrasse no edifício de uma forma mais indireta, de modo a afetar menos o conforto visual dos leitores. Esse princípio foi utilizado não somente para a luz natural, mas para a luz artificial. As luzes artificiais foram instaladas no mesmo local que as clarabóias de modo a chegar nos livros diagonalmente e em todas as direções. Segundo Giedion (1969), em “Espaço, tempo e arquitetura”, o tratamento de Aalto para o forro ondulado do auditório na biblioteca tem uma importância histórica significante. Ele compara Aalto com Le Corbusier na medida em que ambos são dos poucos arquitetos que arriscaram o problema da abóbada de uma maneira peculiar no seu período. Além disso, Giedion reafirma o po-

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FIGURA 22: à esquerda: Vista interna da bibliotaca. Destaque para as clarabóias.

FIGURA 23: Clarabóias.


FIGURA 24 abaixo: Mobiliário desenvolvido para a biblioteca. Figura 25 à direita: Vista do interior do salão de conferência.

tencial técnico do teto ondulado desse projeto e fala sobre como isso é uma união entre a razão científica e a imaginação artística, possibilitando a libertação da arquitetura da rigidez recorrente no funcionalismo daquele período. Já nas questões técnicas, as paredes são espessas para isolação acústica - de aproximadamente 70cm - e são providas de dutos de ventilação e tubos mecânicos. A ventilação é feita somente com ar fresco que recebeu um pouco de filtragem e pré-aquecimento, considerando que é um país muito frio. Para o sistema de aquecimento, foram escolhidos aquecedores nos tetos. A época de projeto da biblioteca de Viipuri coincidiu com a época em que Aalto produzia móveis em compensado curvo, então não é surpresa que o arquiteto tenha aplicado seu design de mobiliário inovador na biblioteca. A decoração dos ambientes, como o próprio forro de madeira ondulada, as aberturas zenitais circulares e o grosso corrimão de madeira são exemplos disso, como mostra Benevolo(1976).

Figura 26 ao meio: Vista da sala de conferências. Destaque para o mobiliário e o teto ondulado. Figura 27 ao meio: Corrimão desenvolvido para a biblioteca.

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FIGURA 28: Estado da biblioteca antes do restauro. FIGURA 30: Biblioteca durante as obras de restuaro.

FIGURA 29: Estado da biblioteca pós restauro.

Restauro

não puderam ser recuperados.

A história da Biblioteca de Viipuri acompanha o desenrolar dos acontecimentos da cidade em que está inserida. Durante anos sofreu com o contexto das guerras, instabilidades nas relações políticas e com as mudanças nas fronteiras entre a Finlândia e a atual Rússia. Ao longo da dominação soviética, a falta de recursos financeiros, a má administração e as décadas de isolamento, comprometeram sua preservação, colocando em risco sua sobrevivência o que fez com que sua restauração se tornasse tão importante quanto sua construção.

Nos anos de 1950 e 1960, tentativas iniciais de restauração por parte de arquitetos soviéticos, produziram reparos inadequados executados de forma grosseira, que apesar dos esforços desempenhados pelos arquitetos Petr Moiseejevich Rozenblum e Alexander Mikhailovich Shver, acabou por descaracterizar a biblioteca, fugindo de seu plano original, devido ao financiamento limitado e à política da Guerra Fria que impedia a aproximação com a Finlândia, onde estavam os documentos originais sobre a biblioteca. Em 1962, Aalto teria dito que “o prédio existe, mas a arquitetura desapareceu”.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Vyborg foi bombardeada mas a biblioteca não sofreu grandes destruições. Entretanto, o abandono de quase dez anos após a guerra, fez com que o edifício se desgastasse, sendo deixado exposto aos intemperismos, permanecendo esquecido e camuflado do mundo ocidental pela “cortina de ferro” durante as décadas da Guerra Fria. Nos anos de 1950, os revestimentos, o mobiliário e acessórios originais da biblioteca estavam danificados de forma tão intensa que, em sua maioria

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Com a dissolução da União Soviética em 1991, a cooperação entre Rússia e Finlândia possibilitou a restauração do edifício nos moldes de seu design original. Em 1922, foi criado o Comitê Finlandês para a Restauração da Biblioteca Viipuri, iniciativa da arquiteta Elissa Aalto então viúva de Aalto, integrando arquitetos que trabalharam para os Aalto e que tiveram experiências com restaurações de outras obras do arquiteto. O Comitê desenvolveria o papel de consultor e

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FIGURA 31: Estado da biblioteca antes do restauro.

FIGURA 32: Estado da biblioteca antes do restauro.

supervisor do projeto de restauração, orientando, fiscalizando e documentando a obra, além de mobilizar campanhas internacionais para arrecadar fundos para sua execução. Em 1995, a biblioteca foi incluída na lista de Objetos do Patrimônio Histórico e Cultural russa.

manas de luz, silêncio e ar fresco para facilitar a leitura e a concentração. A arquitetura da biblioteca simboliza transparência, abertura e igualdade. A Biblioteca Aalto é uma manifestação de todas as melhores idéias do Movimento Moderno.” (KAIRAMO, 2016, p.52. Tradução nossa).

2010, o Governo Russo forneceu a quantia necessária para que o projeto de restauro fosse concluído. As obras foram planejadas para que a biblioteca continuasse ativa durante a maior parte dos anos, sendo fechada somente no final, para sua conclusão e inauguração em novembro de 2013.

O partido de restauração adotado pelo Comitê Finlandês foi o de retomar as características originais do edifício combinadas com as novas necessidades tecnológicas de funcionamento da biblioteca e recuperar algumas das intervenções soviéticas (19551962) como forma de conservação de uma camada histórica. Esse processo crítico de restauro se faz importante na medida em que é um projeto piloto relevante para a conservação e restauro do patrimônio arquitetônico moderno e simboliza a solidariedade cultural através das fronteiras e dos conflitos históricos.

A Fundação Alvar Aalto em Helsínquia, apoiou o trabalho, provendo todas as informações necessárias ao avanço da restauração da biblioteca. Desenhos originais, especificações técnicas e fotografias foram fornecidas ao Comitê. Entretanto, algumas modificações foram feitas pelo próprio Aalto durante a construção da biblioteca, o que exigiu uma interpretação ainda mais profunda dos desenhos originais que por vezes se diferiam do que realmente havia sido construído. Apesar da restauração ganhar o cenário internacional durante seus primeiros anos, ela acabou perdurando por mais de vinte anos devido à inconstante e limitada fonte de recursos. Isso fez com que o projeto fosse executado em fases, sendo realizadas em ordem de urgência. Em 2000 a biblioteca entrou para a lista dos 100 locais mais ameaçados pelo World Monuments Watch. No final de

FIGURA 33: Biblioteca durante as obras de restauro.

“Aalto criou um sistema de biblioteca aberto completamente novo, onde as pessoas podiam vagar pelo mundo dos livros e encontrar conhecimento e compreensão para a vida. Ele pesquisou necessidades hu-

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FIGURA 34: Biblioteca durante as obras de restauro.

FIGURA 35: Biblioteca durante as obras de restauro.

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FIGURA 36: Biblioteca durante as obras de restauro.

FIGURA 37: Biblioteca durante as obras de restauro.

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FIGURA 39: Biblioteca durante o inverno finlandês.

FIGURA 40: Biblioteca durante o inverno finlandês.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo da produção dos Aalto nos aproximou de uma cultura incomum aos nossos olhares e que, a princípio, nos parecia distante de nossa realidade. Uma cultura arquitetônica que busca tirar máximo proveito da luz natural, escassa dos dias de inverno; com escolha de materiais que se adaptassem aos disponíveis no local; e com preocupações com necessidades sociais, econômicas, estruturais e climáticas tão distintas. Entretanto, a genialidade com que os arquitetos encararam em releram os princípios da arquitetura moderna em voga no cenário internacional, servindo de base para a criação de uma nova versão arquitetônica mais humana, elaborada a partir das necessidades cotidianas e combinada às condições tradicionais locais, é o grande legado da obra dos Aalto. Fez-se perceber que é possível construir uma arquitetura comprometida com a realidade e necessidades específicas a partir de exemplos internacionais. E as influências dessas ideias se torna clara na atuação de arquitetos como Joaquim Guedes e Siza Vieira que souberam absorver as ideias de Aalto e aplicálas em seus países de origem, adaptando-as às circunstâncias locais. O interesse de Aalto pela constante ex-

perimentação de novas formas de fazer arquitetura contribuíram para uma evolução crescente de seu trabalho. Passando pelo Classicismo Nórdico, pelo Funcionalismo, até atingir uma arquitetura chamada orgânica junto com Aino, e uma obra de arte completa ao final de sua carreira. A abrangência de seus projetos fez com que o arquiteto projetasse desde maçanetas até centros urbanos. A perseverança de Aino em uma realidade ainda machista, sendo uma das primeiras arquitetas finlandesas, é traduzida em sua obra. Seu papel fundamental nas concepções do marido, por mais que velados pela historiografia, contribuiu para o sucesso dos projetos que construíram juntos. Não é possível afirmar se sua predileção pelo design é legítima ou apenas mais um fruto de uma história da arquitetura escrita por homens e que negligencia a participação de arquitetas e urbanistas, mas sabe-se de sua destreza com o design de móveis que pode ser considerada, inclusive, como uma alavanca para o sucesso da arquitetura de Alvar Aalto, uma vez que para o casal, arquitetura e design deviam ser integrados em uma obra de arte única. A relação entre arquitetura, guerras e jogos de interesses ideológicos também foi pos-

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FIGURA 01 à esquerda: Casal Aalto em viagem.


ta em voga. A realidade da cidade de Viipuri, à época, e sua conexão com a biblioteca projetada por Aino e Aalto, é exemplo dessa relação. Inserida em um contexto histórico conturbado marcado por bombardeios e reconstruções, domínios e isolamentos ideológicos, a biblioteca sobreviveu ao abandono e às instabilidades políticas graças às obras de restauro que se tornaram tão importantes quanto sua construção.

FIGURA 02 à direita: interior da Biblioteca de Viipuri

Ao longo do semestre, pudermos ter contato com uma gama imensa de assuntos que se desdobraram do tema inicial do trabalho: “Um arquiteto, uma cidade.” Pudemos contestar o porquê de seu título através da análise não só de uma obra produzida por um arquiteto, mas sim da real condição de Alvar Aalto (e de outros arquitetos famosos) que sempre esteve vinculado à grandes arquitetas como Aino e Elisa Aalto, ainda que o papel delas não seja reconhecido como deveria. Também pudemos construir nossa própria posição em relação à fortuna crítica e ter um panorama de como importantes historiadores abordam o assunto, acreditando que por mais que se fosse desejada a imparcialidade, na maioria das vezes ela

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não ocorria. E a riqueza do estudo da historiografia reside nesta percepção. Tivemos contato com várias línguas e culturas, desde a leitura de textos em português, até escritos em russo, finlandês e japonês, o que, por vezes, dificultou nossa compreensão mas que ao mesmo tempo se tornou importante fonte de informações de onde pudemos retirar grande parte do conhecimento dessa monografia. A construção da maquete foi essencial para o entendimento das relações interiores da biblioteca que, por mais que tivesse uma forma externa simples, partia de uma complexidade de gestos projetuais indiscutível. A experiência de utilizar pela primeira vez softwares de design gráfico nos proporcionou uma sensação de “Déjà vu” na medida em que, relacionando com a obra dos Aalto, não estávamos preocupados somente em escrever uma monografia qualquer, mas sim em escrever uma monografia que dispusesse de uma forma gráfica condizente com seus princípios.

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ANEXO | MODELO FÍSICO

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REFERÊNCIAS | IMAGENS

PREFÁCIO

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