" " - 2012.1

Page 1


Nesta Edição:

Colaboradores:

Adriana Avelar, Katia Fenyves, Leticia Monteiro, Andre Bafti, Heloísa Fimiani, Pedro “Plínio” Henrique Freitas, Rafaela Henriques, José Roberto Baldívia Jr., Nícolas Neves, Emannuel K., Nina Faria, Fábio Andó Filho, Lia Logarezzi, Rebeca Sousa, Pedro “Bidru” Charbel, Walter Porto, Daniel Avelar “Pirófago”, Lucas Rossi, Maria Siqueira, Roger Lai, Leonardo Borges Calderoni, Clarice Tambelli, “Guimi”, Augusto “Mala”, “Fer” Perrin, Carla Schmitd, Livia Prado, “B.O.”, Barbara Fernandes, Afonso Cavalcante, Allan Greicon, Leticia Miléo, Raquel Soto, Luiz Alberto Perin, Bárbara Paes, Tércio Rodrigues, Rita de Cássia, Júlia Rocha, Isadora Tavares, Beatriz Sanchez, Douglas Maurício, “Gaga” Siracusa, Kevin Lopes

Comunicação: Augusto Malaman

“____________” - Experiência metajornalística independente

2

Autoria:

Afonso Cavalcanti Carla Schmitd Daniel Avelar Douglas Mauricio (Severino) Emannuel K. Fábio Andó Filho Fernanda Fagundes Perrin Gabriel Siracusa JR. Baldivia Leonardo Calderoni Walter Porto

Revisão:

Marilia Ramos Fernanda Fagundes Perrin

Projeto Gráfico: Daniel Avelar


Cardápio conteudístico Notas sobre a Imprensa Livre............................................... Sobre o projeto do “ ”................................................... Balanço de um mau escritor sobre os 10 anos do IRI e do Bacharelado de Relações Internacionais............. Perverta suas leituras............................................................. O livro que Inventou uma Geração..................................... A frustração em Moretti e Tchekhov: breve análise do filme “Habemus Papam”(2011)..... Non Siamo Angeli........................................................... Os Painéis........................................................................ We Don’t Care About the Young Folks......................... Yellow Brick Road.......................................................... Rodas e a Pizza............................................................... Vida e Breja Severina..................................................... Ferramentas Humanas................................................... Pulp................................................................................. “Porque era ela, porque era eu”..................................... Agenda Cultural.............................................................

4 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 14 15 16 18

3


META Notas sobre a Imprensa Livre

A

por Fábio Andó Filho

imprensa livre, como temos definido corriqueiramente em nosso país, faz referência a uma imprensa livre da censura, do controle de agências oficiais. Talvez pelo contexto latino-americano do período pós-ditatorial seja tão interessante reafirmar essa suposta autonomia dos órgãos de comunicação social. Entretanto, a questão nunca é problematizada frente à liberdade encontrada na própria produção do conteúdo jornalístico no país. Em que medida podemos afirmar a existência de uma imprensa realmente livre em nosso país? Como estudantes, lidamos o tempo todo com problemas de comunicação e informação. Onde podemos achar informação que nos faça debater, refletir, criticar e não somente consumir? Temos uma imprensa hoje mercadológica, doutrinária e alienadora. Sob essas condições, associamos à antiga ideia de se realizar um jornal por parte estudantes de RI da USP, uma experiência de imprensa livre, na qual tivéssemos um espaço aberto para debater, refletir e criticar com liberdade de verdade. A questão então de ser um jornal “livre” tornou-se um imenso e infinito debate. Desde a elaboração de um nome, até sobre as questões de conteúdo, autoria, projeto gráfico, periodicidade, público alvo, etc. Retomando a pergunta inicial, em que medida poderíamos participar de uma imprensa essencialmente livre? A discussão ainda não está esgotada, e acredito que nunca estará, mas chegamos a alguns consensos interessantes, os quais reproduzirei sob meu ponto de vista e resumidamente doravante. O nosso jornal seria livre não somente frente à censura, mas também livre em sua própria produção. Por isso, decidimos deixar em aberto a política editorial, cada um pode escrever sobre a temática que lhe convir, da forma que preferir. Além disso, o jornal não estará vinculado a nenhuma instituição e também não será encarado como uma, será um espaço aberto em que cada autor assumiria a

Sobre o projeto do “

E

por Daniel Avelar

nfim, é publicada a primeira edição de um jornal organizado pelos estudantes de Relações Internacionais da USP. Espero que o conteúdo lhe interesse! Tão interessante quanto as palavras aqui redigidas foi todo o processo de criação dessa publicação. Idealizado pelo Fábio, o jornal tinha apenas uma prerrogativa: ser um jornal livre. Desde então, iniciou-se uma intensa discussão sobre o que isso significava, o que culminou no desenvolvimento de um projeto editorial com as seguintes características: Nome: inicialmente, surgiram sugestões de nome: livRI, O Jegue, Mosaico, El Mosquito... Não obstante, chegou-se ao consenso de que nomear é delimitar. “A pessoa que lê tem que pensar o que ela quiser do jornal, e por isso, quando ela for pensar nele, na cabeça dela será remetida uma imagem abstrata que mostra o que ele representa de fato pra ela, e não um nome delimitador, sólido e imutável![sic]”.

4

responsabilidade pelas suas opiniões. Em nosso jornal, não haverá pressão de periodicidade, pois encaramos isso como um impedimento à livre produção de ideias, muitas vezes, para entregar no prazo, jornalistas acabam produzindo conteúdo esvaziado. A ideia da veiculação online nos dá a liberdade de produzir com independência frente a impedimentos financeiros, dessa forma podemos publicar o conteúdo sem nos preocuparmos em arrecadar fundos (e dessa forma, nos associarmos financeiramente a algum tipo de instituição – tendo em vista os problemas que a incursão do capital pode causar na liberdade de imprensa de fato), e também não precisamos nos preocupar com gastos gráficos que gerariam limitações referentes a números de página, etc. Acreditamos ser uma prática controversa a de ter de editar um texto em função do projeto gráfico. Por fim, a preocupação maior na elaboração do jornal é a formação das pessoas envolvidas com ele, seja escrevendo, opinando ou mesmo lendo e refletindo. E não somente em relação às temáticas levantadas, mas também frente à própria produção jornalística. O nosso jornal não é pensado essencialmente na sua distribuição, pois pensar em medir a qualidade da imprensa pela visibilidade e pelo número de exemplares distribuídos pode ser desinteressante para uma produção de conteúdo livre, o que o tornaria somente mais um jornal-mercadoria. Que fique claro, essa é a minha opinião; e embora eu possa ter escrito pretensamente em nome de um coletivo, só o fiz porque acredito ter sido uma discussão coletiva. De resto, convido a todas as pessoas a participarem da nossa experiência, que possivelmente nos trará frutos muito positivos em termos do desenvolvimento da escrita e de posturas críticas frente à comunicação social e às mais diversas temáticas potencialmente abordadas aqui. O conteúdo é livre e aberto a todos.

Conteúdo: essencial e inexoravelmente livre. A responsabilidade do conteúdo publicado é única e excusivamente do(s) autor(s) de cada texto. Objetivo: permitir experiências novas aos envolvidos com a publicação, assumindo uma forma alternativa à mídia convencional. Pressões editoriais: Não há pressões de nenhuma natureza: periodicidade, volume ou conteúdo. Para fins organizacionais, define-se uma data para recolhimento dos textos dos interessados em ter conteúdo publicado na edição seguinte. O autor escreve quando tiver vontade. Formato: O jornal assume a forma de uma revista online, facilitando a diversificação de projetos gráficos e excluindo a necessidade de manchetes. Boa leitura, e sinta-se convidado a publicar neste novo espaço!


O M S I L A N R O J Balanço de um mau escritor sobre os 10 anos do IRI e do Bacharelado de Relações Internacionais por Leonardo Calderoni

O

Bacharelado em Relações Internacionais da USP completa em 2012 seu décimo ano de existência. As transformações que o curso sofreu desde 2002 - quando surgiu de uma parceria entre FEA, FFLCH e FD (San Fran) - são notórias. Inicialmente, a graduação era coordenada por uma comissão com membros das três unidades de ensino. Em 2005, no entanto, foi criado o Instituto de Relações Internacionais (IRI) para fazer este papel junto às três faculdades. O IRI surgiu sem o mesmo “status” que as outras unidades de ensino da USP, sendo um instituto especializado com curso de graduação. Não obstante, ano passado o IRI se transformou em uma unidade de ensino, o que lhe conferiu uma maior importância institucional dentro da universidade. Gradualmente, o IRI passa a ter mais autonomia – física e institucionalmente. Poderá contratar mais professores e em breve deve ter a primeira parte de suas instalações finalizadas. Ainda que a inauguração do prédio do IRI, como tantas outras obras, já esteja na “iminência” de sua finalização há algum tempo, parece que, em 2012, ela realmente ocorrerá. No que tange o Bacharelado de Relações Internacionais, podemos dizer que esse processo de crescente conquista de autonomia, certamente muito positivo em diversos aspectos, deve ser visto com algumas ressalvas. A proposta inicial do curso, ao ser criado, era a de criar uma graduação interdisciplinar na qual as três unidades deveriam ter um papel proeminente. Contudo, a tendência atual parece ser a de um afastamento cada vez maior entre o IRI e as suas unidades parceiras, o que pode desvirtuar a proposta inicial do curso. Não convém ao IRI, mesmo enquanto unidade de ensino com mais recursos e autonomia, aprofundar esse afastamento. Nesse sentido, é extremamente positivo que tenham sido aprovadas cerca de 50 novas optativas eletivas das outras três unidades para o curso. Da maneira que está estruturado atualmente, o Bacharelado depende disso não só para dar aos alunos mais possibilidades de escolha, mas também por uma questão de viabilidade. O aumento de recursos e autonomia do IRI deve servir para aprofundar seus laços com as unidades que compõem o Bacharelado, e não o contrário. É preciso que haja mais reciprocidade por parte do IRI quanto

às outras unidades: A elas também devem ser oferecidas optativas, de maneira que o Instituto colabore com os cursos de História, Ciências Sociais, Direito e Economia da maneira que lhes convier. Outro importante e difícil desafio para os próximos anos para o Bacharelado de Relações Internacionais é ter mais coragem para repensar a sua própria estrutura em relação às disciplinas obrigatórias e às áreas que o compõem. As disciplinas obrigatórias de Ciência Política, por exemplo, têm um sério e evidente problema de sobreposição de conteúdo. É evidente a falta uma “direção comum”, ou seja, um planejamento unificado para as matérias obrigatórias. O mesmo ocorre nas outras áreas, talvez com exceção de Direito que, em minha opinião, é a que melhor está estruturada nesse sentido. Ao mesmo tempo, o Departamento de Geografia não colabora nem com disciplinas optativas com o Bacharelado de Relações Internacionais – transformando-o em uma espécie de anomalia em relação aos diversos cursos de Relações Internacionais de outras instituições conceituadas. Mas o mais preocupante é o fato de que esse tema se transformou numa espécie de tabu por parte da direção do Instuto – como se querer debater o papel de disciplinas de geografia em um curso de Relações Internacionais fosse uma grande heresia. Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora de Ciência Política da FFLCH, participou ativamente da criação do curso e, desde 2009, exerce o cargo de diretora do Instituto. Recentemente, em reunião da Congregação do IRI, ao apresentar o plano de trabalho para os próximos anos, afirmou que considera a graduação um sucesso e que o único problema era que “os alunos escrevem mal” e “mesmo as notas e e-mails do Centro Acadêmico eram difíceis de entender”. É curioso que, ao mesmo tempo, ela não hesita em nos parabenizar por sermos responsáveis por uma das notas de corte mais altas da FUVEST. Se dentro de uma lógica pretensamente meritocrática a FUVEST não é capaz de medir qualidade de escrita de alunos que obtêm altas notas em seu exame, então para que ela serve? Para além da discussão sobre a qualidade de escrita dos alunos, parece claro que o balanço da diretoria nesses 10 anos de curso está distante da realidade. Ao afirmar que o único e grande problema do Bacharelado é a má escrita dos estudantes, a diretoria exerce um ne-

5


fasto exercício de reducionismo que infantiliza e culpa injustamente os alunos. Concomitantemente, ignora todas as questões apontadas anteriormente e se exime de qualquer responsabilidade pelos problemas que “não existem”. A Profª. Maria Hermínia dá aula no primeiro semestre do curso e é absolutamente normal que estudantes recém-formados no Ensino Médio tenham várias dificuldades no início da graduação. Escrever de uma maneira distinta a que foram educados toda a vida é algo perfeitamente compreensível e é só uma delas. Não há problema nenhum que o IRI busque oferecer ajuda aos alunos, mas não de maneira imposta e a partir de necessidades introjetadas verticalmente por “quem sabe o

que é melhor para nós mesmos”. É preciso fazer uma discussão mais qualificada e com o conjunto dos professores e alunos antes de se adotar medidas do gênero. Nesse contexto, uma postura que infantiliza aos alunos - maiores interessados e afetados por quaisquer medidas e que são os que efetivamente vivem o cotidiano do curso - é extremamente problemática. Tendo em vista que tenho participação em muitas das notas mal escritas às quais se referiu a diretora, chego à triste constatação: sou um mau escritor. Dessa forma, parece sensata a decisão de reunirmos vários de nossos maus escritores para essa experiência livre e peculiar de jornalismo. Afinal, não há melhor maneira de aprender a escrever do que praticando, não é mesmo?

Perverta suas leituras por Emannuel K. ornalismo é uma grande mentira. Não passa de uma forma de controle da informação, muito antes de uma forma de divulgação dela. Quem retém o meio, quem escreve, quem publica, tudo é uma forma de fazer com que você, leitor, seja manipulado. A tentativa de manipulação pode acontecer de diversas formas, pode existir censura, pode-se contar apenas determinado lado da história, pode-se simplesmente tentar convencer de determinada coisa. A falsidade chega ao ponto de se alegar “matérias exclusivas”, “manchetes”, “grandes furos”, “novas luzes sobre o caso tal”. Tudo uma mentira. Você não precisa de jornais. Nem mesmo desse. Nada do que você vai ler em qualquer jornal é especial. Não existe imprensa livre. Por mais distintos que sejam os pontos de vista das pessoas que colaboram para um jornal como esse, não se engane, tudo que foi escrito aqui foi escrito por seres humanos, e, portanto, não é imparcial, não é dissociado de crenças, argumentos de autoridade, visões de mundo. Se você vai ler as coisas que estão aqui escritas, ou qualquer outra coisa, em qualquer momento da sua vida, precisa ter consciência disso. E pessoas não são confiáveis. Eu não sou confiável, eu não sei sequer sobre o que estou falando, não sou jornalista e não tenho a menor pretensão de sê-lo. Sou um artista, e como tal, não suporto a ideia de que meu espírito não seja livre. De tudo. Espero que o seu também seja. Pelo menos enquanto lê as coisas que estão escritas nesse jornal. A imprensa dita livre, como a concebemos, não cai nos mesmo erros que atribuí à imprensa tradicional. Ela cria seus próprios erros, e isso pode fazer com que ela não seja tão detestável, mas também não pode ser vista como a solução. A solução não está na imprensa, ou no que as pessoas escrevem, esta na pessoa que lê, e em como ela faz isso. Ler um texto jornalístico – e não só jornalísticos, na verdade – não é uma atividade passiva, é uma discussão, é um combate. Se você lê textos como esse sem estar preparado para travar uma guerra com os significados escondidos nas entrelinhas, então você não está preparado. Ou não merece o meu respeito. O que te magoar mais. Mesmo que em determinadas linhas você

J

6

encontre pensamentos com os quais concorde, não os aceite, reflita antes sobre ele, reflita sobre o que pode estar escondido, sobre quais são as intenções malignas da pessoa que escreveu. E eu garanto que se você olhar com cuidado, vai encontrar muitas intenções malignas, não importa quem de quem seja a autoria, onde esteja publicado. As linhas não são livres. Nem as pessoas que as escreveu. Nem você, nem eu. Somos todos escravos, no menor dos casos, de nós mesmos. É claro que você pode desconsiderar tudo isso. Mas eu peço encarecidamente, que você analise as minhas razões malignas nessas entrelinhas. Marquês de Sade já dizia que a verdadeira liberdade só existe quando aprendemos a desrespeitar os outros. Eu não concordo com ele de até onde tal desrespeito iria, de forma alguma; acredito que respeito é fundamental, que não devemos julgar os outros por suas características, condições, costumes, preferências, etc. Mas é fundamental termos uma certa medida de desrespeito pela opinião dos outros, seja falada, seja escrita, para que possamos realmente adotar uma atitude crítica, para que possamos ser livres ao menos nesse aspecto, ao menos em nossas mentes e almas. Isso se quisermos ao menos essas migalhas de liberdade real, é claro. Não respeite as opiniões de seus veteranos, das pessoas que concordam com você, das que discordam, não respeite a minha opinião, nem mesmo a sua própria. Ao menos, não até ter parado por um tempo e refletido sobre as entrelinhas que insisto em metaforizar. O mundo ao seu redor é perverso, e se ele é hipócrita o suficiente para dizer que a perversão é errada, torna-se necessário que nós pervertamos nosso pensamento, que destruamos os ícones e matemos os ídolos, para só assim sermos perversos. Aqui, esta perversão só está um pouco mais aceita do que você pode estar acostumado. Se existe algo que representa toda essas ideias malignas das quais falei, algo que corporifica aquilo que deve ser desrespeitado, a hipocrisia contra a perversão, essa coisa é a imprensa. Boas leituras.


LITERATURA O Livro que Inventou uma Geração

P

olêmico. Talvez esse seja o melhor adjetivo para caracterizar o “Apanhador no Campo de Centeio”, de Jerome David Salinger. Escorraçado pela Igreja e condenado por pais e professores, o livro foi, contraditoriamente, o mais censurado e o mais ensinado em escolas públicas nos Estados Unidos, no ano de 1981. Além de proibido, por um tempo, de ser veiculado no Reino Unido, foi motivo para demissões nos States, uma vez que muitos pais não aceitavam, sem pressionar diretores de escolas, que seus filhos tivessem de ler o tal livro para suas aulas de Inglês. Ao mesmo tempo, foi considerado por diversos críticos como um dos melhores livros da literatura estadunidense (junto com Adventures of Huckleberry Finn e The Great Gatsby, segundo indicação de Adam Gopnik) e é frequentemente colocado como um dos melhores do século XX em diversas publicações (pela revista Time, por exemplo). Como qualquer grande livro, é normal que seja pauta de intermináveis discussões apaixonadas, acerca de suas mais diversas passagens. A obra, no entanto, destaca-se pela profundidade da marca que deixou na juventude e, de certo modo, em toda sociedade dos anos 50 e 60, principalmente - apesar de escutarmos seus ecos até hoje. Amando ou odiando a obra – pois é praticamente impossível terminá-la sem formar uma opinião forte e decidida sobre a mesma -, é preciso reconhecer sua profundidade e alcance. Escrito numa época de afirmação de valores na terra do Tio Sam (a guerra fria começava a esquentar – o livro foi lançado pela primeira vez em 1951), o texto vai em direção oposta e não poupa ninguém (nem mesmo seu personagem principal sai isento de críticas). Grande parte do impacto e da identificação que o livro obteve entre jovens veio (além do próprio tema – que aborda principalmente conflitos da juventude) de sua linguagem fluida, simples, coloquial, que representava o jeito típico de falar dos anos 50 nos EUA. Aliás, a linguagem foi também motivo para disputas. Um pai diligente chegou a contar 237 vezes a palavra “goddam”, 58 “bastard”, 31 “Chrissake” e 6 “fuck”. Além disso, expressões como “phony”, “crumby”, “flit”, entre outras, são marcas temporais fortes. Apesar de boas traduções no Brasil, não deixe de ler um original, se tiver oportunidade, a linguagem é parte integrante do livro. O Apanhador, que se firmou como um dos marcos da literatura ocidental do século passado, possui um enredo simples: 3 dias na vida do adolescente Holden Caulfield perambulando por uma Nova Yorque em efeverscência. Sua profundidade,

por Gabriel Siracusa no entanto, reside justamente nesse enredo simplificado, que abre espaço para o personagem principal ganhar destaque. Sob sua voz, ouvimos um relato sincero e desesperado(r) de um adolescente em conflito consigo mesmo e com todos ao redor; relato este duvidoso, pois estamos o tempo todo ouvindo a opinião da personagem e sua visão do mundo, uma espécie de Dom Casmurro dos anos 50 dos EUA. Os dilemas de um anti-herói que não quer crescer, por não enxergar nos adultos (na obra representados por pais, professores e pessoas comuns encontradas nas ruas de Nova Yorque) qualidades essenciais a qualquer ser humano (qualidades essas encontradas facilmente em crianças, como inocência, boa vontade, honestidade, lealdade, etc) são retratados de modo a evidenciar as falhas morais e comportamentais das pessoas da época – novamente: são poucos os que se salvam. Formou-se, assim, um ícone da revolta da juventude dos anos 50/60; juventude que não conseguia enxergar-se como parte de um sistema que via por falido. Caulfield é, enfim, a mistura de um niilismo cínico arrebatador (arrasador) com uma sensibilidade desesperada (que goteja nos poros de sua palavra seca, sardônica, despojada). A personagem vaga em Nova Yorque a procura de refúgio de uma sociedade na qual não se encaixa. Nega a tudo e a todos – menos a infância, que é seu refúgio, na figura de sua irmã. A própria metáfora do Apanhador – linda – expõe isso. Apesar ou em conseqüência de suas incessantes lamúrias e reclamações, muitos leitores se irritam com Holden e dificilmente o compreendem. Estes poderiam facilmente encaixar-se como personagens do livro. Ao fim e ao cabo, um Peter Pan moderno e complexo, atualizado. O Apanhador no Campo de Centeio é um grito em câmera lenta em busca de algum –qualquer- sentido. Impossível não ser cúmplice. Que você, leitor, construa sua própria câmara de eco de algum grito possível. Curiosidades: ºA banda Green Day faz referência direta ao livro em sua música “Who wrote Holden Caulfield”, além de citá-lo em 5 álbuns. ºMark Chapman usou o livro como “justificativa” para assassinar John Lennon, em 1980. O atirador que tentou matar Ronald Reagan, em 1981, também. ºO filme Teoria da Conspiração traz Mel Gibson no papel de um lunático que compra todos os exemplares do livro que consegue encontrar.

7


CINEMA

A frustração em Moretti e Tchekhov: breve análise do filme “Habemus Papam”(2011)

A

sequência inicial de “Habemus Papam” (2011), em que cardeais marcham solenemente ao conclave, enquanto o porta-voz do Vaticano solicita à imprensa que se retire, deixa um claro convite ao espectador: quem assiste ao filme será suavemente conduzido a um mundo de acesso restrito a grande parte dos mortais, a um mundo que não pode ser documentado, cujos segredos abrem margem para as mais diversas confabulações e atribuições de significado. Nanni Moretti (ator, diretor, roteirista e realizador do filme) não perde tempo para se aproveitar dessa possibilidade polissêmica da impermeabilidade sacra do Vaticano e praticamente grita sobre o que será o seu filme: uma comédia protagonizada por cardeais, podendo ser atribuída a ela também os títulos de comédia dramática, tragicomédia ou comédia de costumes. Na cena seguinte à sequência de apresentação, todos os cardeais, proibidos do contato com o mundo exterior, encontram-se enclausurados para a escolha de um novo papa frente ao decesso do antecedente, mas sob a adversidade de uma queda da rede elétrica. Nessas circunstâncias, o tombo de um velhinho atrapalhado arranca um riso tímido do espectador que não sabe ainda se está permitido a rir de entidades religiosas - ou uma gargalhada exagerada do ateu convicto da fileira de trás. Moretti deixa claro que não poupará recursos de uma comédia “pastelão”, valendo-se de impedimentos físicos que levam seus personagens a cômicas situações embaraçosas, muito embora carregue outras grandes pretensões a serem exploradas em seu filme. Da recorrente tentativa de nos lembrar que os cardeais são velhinhos – e que podem muito bem ser atrapalhados -, o filme se esforça o tempo todo em humanizar cada aspecto do reduto sagrado do Vaticano, incluindo a própria santidade do novo papa eleito. Tendo sido determinado novo papa em conclave, o cardeal Melville (Michel Piccoli em comovente atuação) entra em crise de identidade. O novo papa não se sente apto a carregar o fardo a ele incumbido, assim como seus outros colegas também demonstram que não se sentiriam aptos a tal destino, e não consegue comparecer para pronunciar o discurso e a benção que consagram seu papado. Na iminência de uma crise do mundo católico, decide-se contratar um terapeuta de renome para tentar lidar com as inquietações humanas da nova santidade. O escolhido é um psicanalista ateu, interpretado pelo próprio Moretti, que chega ao Vaticano estourando a boca do balão. Por entre inúmeras piadas prontas oriundas dessa oposição de mundos, a sátira continua a humanizar os cardeais, que são retratados pelos antidepressivos que tomam, pela afinidade ao carteado e rabugices mais. Enquanto isso, o papa ainda não consegue cumprir sua função e é levado ao mundo exterior para uma consulta com outra psicanalista, mas que não sabe da identidade do consultando para maior liberdade analítica. Moretti não poupa o sarcasmo em relação à psicanalise, indicando a obsessão de dita profissional pelo

8

por Fábio Andó Filho “déficit de aceitação”, diagnóstico então atribuído ao cardeal Melville. Dessa consulta, o papa foge da vista dos oficiais do Vaticano e inicia sua peregrinação pelo mundo ordinário. A partir dessa ruptura, iniciam-se duas narrativas. Na primeira, a administração do Vaticano, na tentativa de mascarar a confusão em que se envolveu, arma um grande circo, inclusive com um personagem que muito se assemelha a um arlequim, um bufão, que passa agora os dias acenando através das cortinas do quarto do papa para que ninguém desconfie de sua santa integridade. Nesse meio tempo em que o papa está lá, mas supostamente indisposto para deixar seus aposentos, Moretti esquece o bom-senso em casa e – não há modo mais impactante de falar sobre isso senão indo direto ao ponto – na figura do psicanalista, organiza um torneio de vôlei entre cardeais. Essa é deixa pra tecer todo tipo de comentário aleatório que o autor tenha a fazer em relação à igreja, chegando até a sarcasmos contundentes envolvendo a geopolítica católica. A segunda narrativa se dá na redescoberta da humanidade perdida de Melville, que demonstra uma vontade imensa de se reinventar, uma nostalgia daquilo que perdeu em sua vida de resignação. Nessa história, ele não é mais um papa, mas um simples senhor simpático que fala sozinho no ônibus e se reencontra com uma grande paixão de infância: o teatro. Sob essa premissa, o autor coloca para dialogar o seu filme com uma grande referência em questão de comédia de costumes, a peça “A Gaivota”, de Tchekhov. Nesse momento, passamos então a entender a construção do Moretti. O caráter provinciano e tedioso do Vaticano que se aproxima da decadente aristocracia russa que desperta aflições em personagens frustradas que parecem nunca conseguir a plenitude da experiência de suas vidas. Essa referência surge, no que, em minha opinião, é o ponto alto do filme, quando casualmente o Sr. Melville passa a contracenar com um integrante louco de uma companhia de artistas no corredor de um hotel e a fala em questão é a de Dorn: “Mostrar insatisfação pela vida aos 62 anos, convenhamos, não é nada generoso”, à qual Melville responde na fala de Sorin: “Que obstinado! Não entende que tenho vonta-


de de viver?”. As frustrações das personagens de Tchekhov costuram a trama de “Habemus Papam”, caminhando para um desfecho tão fatalista e premeditado quanto o da própria peça do autor russo. Na sequência anterior à cena final, está Melville assistindo à encenação da peça pela tal companhia de atores. Desenrola-se o primeiro ato, no qual há um palco montado sobre o palco, além das possíveis interpretações da peça em si, nota-se um recurso de expressão nítido utilizado por Moretti em um esforço em publicizar a sua associação entre o palco de teatro e o Vaticano. Para o autor, está claro que a religião é uma encenação, escondida atrás de cortinas, na qual cada um busca a catarse que bem lhe convém. A peça é interrompida com a chegada do contingente católico que vem buscar ao papa e todos param para ovacioná-lo. O papa sendo aplaudido em pleno teatro em vez da capela sistina. Apesar do entusiasmo que possa surgir de uma possível expectativa de que o papa tenha conseguido se libertar de qualquer fantasma do passado, o final fatalista é aquele em que Melville resigna a sua posição de sumo pontífice. Apresenta-se aqui um discurso de como ele não se sente capaz de tamanha responsabilidade ante as frustrações e confusões de sua própria pessoa humana. A reflexão do filme parece ser bastante interessante, o equilíbrio entre drama pessoal e comédia de costumes parece funcionar e Moretti ganha uma indicação à Palma de Ouro e uma série de prêmios por uma narrativa muito bem estruturada e tocante. Entretanto, do meu ponto de vista, o autor atinge uma outra dimensão que não se basta em satirizar a igreja (e em menor escala soluções de vida como a psicanálise), mas que se completa no sarcasmo despejado sobre aqueles que recorrem a tal instância. A religião (e a terapia), no filme de Moretti, apresenta-se como resposta prontas às perturbações individuais, ela diagnostica e apresenta soluções convincentes. Porém para o autor, a crença e a fé não podem ser encarados como fins, mas sim como meios que não levam a lugar algum, justamente como os personagens de Tchekhov. O único que parece viver a experiência completa da vida e que dá indícios de estar satisfeito com a sua condição é o louco, o parvo – figura recorrente na literatura universal para ilustrar seres humanos além de conflitos morais (como em “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente, “O Idiota” de Dostoiévski, “O Auto da Compadecida” de Suassuna). O que temos, então, é que as pessoas que buscam realização na igreja são pessoas risíveis. Moretti assume que só há uma forma de se encarar esse tipo de instituição: para buscar respostas que nunca serão concretas, e simplesmente descarta a opção da realização na atividade, ou seja, ele ridiculariza a crença e a fé.

Non Siamo Angeli

A

por Walter Porto

premissa de “Habemus Papam” já vale a nossa atenção: após a escolha do novo Papa no concílio do Vaticano, o Cardeal apontado, Melville, é tomado pelo desespero, sentindo-se indigno do cargo, e a Igreja recorre ao psicanalista mais renomado da Itália, um ateu, para desvendar o que está acontecendo com seu recém-empossado líder. Não bastasse a criatividade do argumento, é gratificante ver como o roteiro distancia-se de recursos óbvios, como seriam o psicólogo esculachando os padres ou um conflito ferrenho entre a crença e a não-crença, preferindo mergulhar as críticas na sutileza e mantendo sempre um tom de respeito. A abordagem do diretor é bem simbolizada por um momento em que, tendo acabado de chegar ao Vaticano, o psicanalista tenta aprender um novo jogo de baralho com os religiosos e termina por dizer: “Não consigo entender essa lógica. Vamos jogar do meu jeito agora.”. Moretti prefere, assim, exibir uma leitura própria – enquanto esquerdista e ateu, portanto estrangeiro - da Igreja no momento do conclave, tornando o maior objetivo do filme a busca pela humanidade nos homens enclausurados (quase literalmente) naquela instituição. No momento em que o Papa decide sair às ruas para fugir do sufocamento da sacristia, fica explícita a visão de que o grande defeito da Igreja atual é a ausência de conexão com o resto da população. Mesmo assim, o diretor insiste em não recorrer a cenas fáceis, como seria a de uma conversa franca com um homem simples, em que o Papa tomaria lições de moral diretamente do povo. Em vez disso, a percepção de Melville como homem comum (por ele mesmo e pelo público), que rende divertidas cenas como a que o mostra falando sozinho no ônibus, como um mero velhinho louco, cumpre o papel de forma inteligente. A excelente atuação de Michel Piccoli nos leva à jornada de absorção e profunda autocrítica do protagonista, e o que vemos é um homem altruísta confrontado com a trajetória de sua vida, suas irrealizações e incapacidades. Nesse aspecto, a revelação do anseio secreto do novo Pontífice para a psicóloga quanto a sua carreira na atuação funciona em duas vias: para estabelecer a frustração do protagonista, aflorando nossa compaixão por ele (e a sensibilidade que Piccoli apresenta nessa cena é particularmente tocante); e trazendo à tona a ligação íntima do papado com um grande teatro. Isso se explicita, por exemplo, no espetáculo que se faz para a revelação do novo líder da Igreja e no artifício de colocar um guarda – com roupas que lembram uma fantasia de palhaço – fazendo sombras atrás da cortina, tentando se passar pela figura papal. E se Melville não teve sucesso em ser ator, é óbvio que nunca conseguiria fazer o papel central que é o de Papa (e nessa ótica, o final do filme é inevitável). O humor presente (e muito) em “Habemus Papam” não desmerece seus aspectos dramáticos e a reflexão que ele propõe, vindo principalmente na exposição dos cardeais como figuras comuns e carismáticas. O roteiro os coloca em situações inusitadas, em que exibem comportamentos que destoam da aparência sacra que a instituição lhes impõe – por exemplo, nas divertidas cenas da votação no início do filme, com os párocos espiando o voto dos companheiros e rezando para não serem escolhidos. O humor, assim, serve como recurso eficiente para explorar ainda mais a trivialidade dos religiosos, e, ainda que exagere bastante em cenas como as do vôlei, é hábil em estabelecer nossa afeição a eles. Isso, aliado à sensível jornada do protagonista, mostra que Nanni Moretti não quis demonizar a religião católica per se, nem seus praticantes – a condenação principal foca-se na alienação dogmática da Igreja, que afoga nas suas regras e deveres os seres humanos que a compõem.

9


ARTES PLÁSTICAS Os Painéis por Carla Schmitd e JR. Baldivia “Os painéis ‘Guerra e Paz’ representam, sem dúvida, o melhor trabalho que já fiz... Dedico-os à humanidade.” Cândido Portinari

A

crítica da arte moderna não nos cabe. Talvez nunca caberá a dois estudantes de Relações Internacionais definir quais ideias e pretensões o artista quis perpetuar com seus traços geométricos e movimentos de cor. Coube a nós, no entanto, desde o primeiro momento, um sentimento fulminante que percorreu os extremos da agonia e da felicidade. Extremos que escapam pelos poros da madeira tingida e viajam pelo organismo em ondas mornas de profunda reverência. Portinari causa essa comoção. Todo o processo do seu trabalho emociona. Ensaios de mãos e pés, ao lado de sketchs de rostos sofridos, feras audazes e rodas de dança parecem ter explodido dos dedos do artista tamanho o desejo de se tornarem concretos - para repousar no papel, extremamente complexos e humanos. A produção de “Guerra” foi para nós o exemplo mais intenso dessa humanidade que teoricamente se pretende transmitir. A guerra de Portinari, tal como a Guernica de Picasso, é o sofrimento das pessoas: o desespero do órfão e das mães que perdem os filhos e os embalam mortos, como inúmeras pietàs anônimas espalhadas pela tela. Não há materiais bélicos ou aviões em vista na paisagem, há, sim, personagens conduzidos pelo horror generalizado, que perpassa uma multidão sem rosto e não tem nada de silencioso, simplesmente, porque não há quietude no tormento e na dor. Braços se elevam retos em uma prece agonizante e as súplicas das pessoas se misturam com o riso zombeteiro da morte a cavalo. E, quase que em um gesto espelhado, braços imaginários são erguidos em gratidão por estarmos longe de um cenário parecido. Mas as soluções estão lá. Em sentido maniqueistamente contrário. Eis que surge a “Paz”. Em frente à guerra. Pujante na tranquilidade do branco, do amarelo,

10

do palha. Das palhas, porque na expressão máxima da serenidade do mundo, as terras são fartas de alimento, os rostos são personalidades vivas, sorridentes, cantantes e dançantes. O que era reto e suplício, agora, é movimento. Os braços não miram mais a atenção dos céus e, sim, procuram as cordas de um balanço. Os pés não se comprimem no sofrimento da perda, se estendem na flexível bananeira. As mãos – que mereceram uma atenção especial dos aqui escritores – não continuam a prece do fim e passam a compartilhar o aperto de mão do próximo. E nos traços mais angulares da expressão modernista brasileira, a Organização das Nações Unidas toma a forma de uma ciranda anil de mulheres despreocupadas e de um coro de crianças cuidadosamente representando cada etnia. E, com nossa consciência furtada, faz todo o sentido. Não sabemos o que é uma guerra. Nunca sentimos uma guerra. É muita pretensão nossa alcançar qualquer conclusão que a ela cabe. Porém sabemos o que é a paz. Naquele momento, mirando o azul e o amarelo em conflito, afagaram a nossa mente as asas cintilantes daquela ideia, que, por horas, pousa em seu ninho e nos parece inexistente; e, por outras, se agita nas têmporas e brilha nossas íris: o mundo tem solução. Pode parecer ingenuidade, a crença no mais kantiano dos objetivos. No entanto, vale mais pensar que a cor dos pensamentos que passaram por entre as tintas foi tão rápida e de maneira tão assustadoramente viva, que não foi possível conter. Como a invasão da vontade de sentar-nos no chão da exposição e rabiscar soluções para o mundo no caderno pautado. E não há nada mais Relações Internacionais que isso. Involuntariamente nos conecta. Estamos aqui, porque, pelo menos em um momento, pensamos em salvar o mundo.


MÚSICA We Don’t Care About The Young Folks

A

Ideia dessa coluna é fazer pequenas resenhas de discos que não são recentes, não são lançamentos, mas que ainda assim, você talvez não tenha ouvido ainda. É claro que tudo escrito aqui depende unicamente da minha opinião e do meus gostos musicas, e podem ser e provavelmente são muito diferentes dos seus, mas se ainda assim você quiser ler isso aqui, sinta-se à vontade para mandar suas opiniões por carta e afins, assim como coisas que você gostaria de ver resenhadas por mim. Via de regra, não pretendo resenhar nada que tenha sido lançado a menos de três anos aqui nessa coluna, se quiser falar sobre algum lançamento específico, vou me utilizar de outra coluna ou algo assim. Então, muitas das coisas que vou resenhar aqui são os discos que formaram meu gosto musical, alguns mais outros menos, tanto para o mal quanto para o bem. Não costumo fazer resenhas enormes, então não precisam se preocupar, vou manter tudo muito básico, até porque não sou lá um grande expert em música. Também cogito a possibilidade de usar esse espaço, já que ele tem um nome tão legal e multitarefa, para falar sobre filmes antigos, outra das minhas paixões. Mas para não ficar assim tão restrito, provavelmente vou falar de algumas outras coisas não tão velhas assim, acho que um limite de três anos é bem aceitável. Bem, mas vamos começar logo com esse troço, e começar por um dos meus discos preferidos. Vamos voltar para o ano de 2005 quando cerca de metade das pessoas que fazer RI hoje não passavam de criancinhas impúberes (a T11 tinha o que? 10 anos?). O disco começa com um clima que não faria feio numa cantiga gospel cantada nas igrejas enquanto um Bob Dylan infantil corria lá fora e aprendia os primeiros acordes do blues e do folk, para cantar as histórias de antigamente, da guerra civil e dos ex-escravos. Dentro da igreja o clima já era bem diferente, palminhas e coro quase alegre, não fosse a letra pessimista. O surgimento da guitarra nos faz saltar no tempo. Seria Muddy Waters? Não, não, impossível que nossos ouvidos modernos não reconheçam que ali também tem arrojo e novidade, apesar de sim, de fato, o disco inteiro estar forte-

por Emannuel K. mente enraizado no folk, no blues e mesmo no gospel (não um gospel infantil de bíblico, um gospel de coros tristes e pessimistas, que precisa encontrar a salvação nesse mundo de pecado). Howl é um disco completamente diferente do que poderia se esperar de uma banda como Black Rebel Motorcycle Club. A banda já apresentara antes desse registro dois outros completamente diversos, que bebiam muito na fonte do rock mas pesado, seja clássico ou moderno, assim como das bandas independentes dos anos 80. No terceiro disco decidiram mudar tudo. Talvez isso tenha acontecido pelo afastamento do baterista Nick Jago, que estava na reabilitação, o que fez com que o disco passasse quase todo sem uma presença marcante da bateria, grande parte dele simplesmente no violão, na voz, gaita, coro de backvocals e guitarras e baixo esparsos. Eu sou um grande fã de discos que dão destaque ao baixo, para mim isso é algo que deixa os discos mais vivos e profundos, mas também tenho que admitir que gosto de um folk rock bem feito, e é isso que Howl é: um disco de blues e folk rock muitíssimo bem feito para a nova geração. Enquanto o folk permeia todo o disco, estando sempre lá em todas as músicas, mesmo as mais agitadas, o blues vem com força e simplicidade em faixas como “Ain’t no easy way”, perdida entre o lirismo acústico de “Devil’s Waiting” e “Still suspicion hold you tight”, duas das minhas preferidas. Mesmo as músicas que dão a impressão de ter maior força bruta do disco são na verdade até bastante calmas, como “Weight of the world” e “Restless Sinner”, que deixam a cargo das letras o seu poder. “Fault Line” costuma ser a preferida dos poetas e músicos, por juntar uma boa técnica, que sobressai mesmo nesse álbum, à lírica forte e pessimista que permeia a segunda metade do disco. Quando ouvi Howl pela primeira vez, soube, já na abertura, com os primeiros versos de “Shuffle Your feet” que tinha encontrado uma coisa difícil de se ver no meio de produções das bandas de rock das duas últimas décadas, bandas que sempre ficam em sua zona de conforto e esquecem que é quando saem dela que realmente conseguem mostrar se são boas ou não, que conseguem mostra arte de verdade.

11


Divagar Devagar Rascunhos -

Yellow Brick Road

por Emannuel K.

S

e a coluna anterior era para eu falar sobre musica velha (e filmes também, importante frisar), essa aqui é para falar qualquer merda que passar pela minha querida e preciosa cabeça. Começo avisando de nem tudo que vai vir pela frente aqui vai ser agradável, e provavelmente eu mesmo não vou concordar com nem metade daquilo que eu disser. Vou começar falando do título então. O da anterior, vocês certamente já devem ter percebido que é referência à música Young Folks. O dessa é referência ao Mágico de OZ e todas as suas bizarras adaptações. Não tem nenhum motivo especial para ter escolhido esses nomes, foi tudo basicamente no acaso. Na verdade, sequer li o livro que deu origem à “franquia” do Mágico de OZ, não vi todas as adaptações (a minha preferida provavelmente é a dos trapalhões, hahaha) e não tenho nenhum apreço especial pela coisa. Mas, essa é uma daquelas alegorias clássicas, que mesmo quando você não sabe exatamente o que significa, atribui um valor muito pessoal. A estrada de tijolos amarelos para mim é o caminho do autoconhecimento – mais para frente eu provavelmente vou falar sobre como o autoconhecimento é importante na minha filosofia de vida – é uma forma de você aprender a lidar com todo aquele caos de coisas nas quais você acredita, de coisas que você gosta, de pensamentos soltos e divagações. É uma forma de, através do pensamento, e, ainda mais importante, de expressar esses pensamentos e emoções através da escrita ou de alguma forma de arte, fazer com que você se sinta realmente “em casa” sendo você mesmo. Ou ao menos no caminho para ir para casa. A estrada de tijolos amarelos é se consiste em trilhar um caminho que você não sabe para onde te leva, mas acreditar no seu instinto que diz que é para um lugar interessante, para aventuras que valem a pena serem vividas. Isso tudo sem deixar de se sentir bem, claro. *** “You didn’t notice any of this because you were sitting in your room, not doing anything not even reading, not really, just looking at your telephone, wondering if I was going to call.” - The Day The Saucers Came, Neil Gaiman *** Não consigo entender o porquê de ser tão difícil imaginar minha vida sem essas pequenas coisas. Não consigo imaginar como conseguia sobreviver antes, quando não tinha alguém como você. Provavelmente é só uma das minhas loucuras, é só uma daquelas coisas sobre às quais não me sinto estranho falando para você. Na verdade, deveria haver alguém antes, alguém com quem me sentia como me sinto com você. Não é possível que não tenha existido, não é possível viver sem algo assim, acho. Mas ainda assim é diferente. É a primeira vez que a tinta foi posta sobre o papel; e viram que era bom, e que era melhor quando a tinta parecia preta (mas na verdade era cinza-escuro, para não manchar) e o papel parecia

12

branco (mas na verdade era um pouco amarelado, para não prejudicar a vista). Mas antes a tinta já tinha estado em paredes, em quadros, em peles, e o papel já tinha estado só a Deusa sabe onde. E quem sou eu para dizer que isso não é passageiro, que a tinta não vai encontrar algo melhor. E quem sou eu para contradizer as toneladas de músicas, filmes e ditados populares que dizem que nada é para sempre, que tudo acaba, que tudo passa? Ah, mas as verdade é que sempre tive a sensação de que tudo é eterno, que só existe o que fazemos agora, e não existe cultura pop que consiga convencer uma intuição, não é mesmo? Não consigo pensar o passado direito, não consigo lembrar como era o tempo da tinta nas paredes, será que aquilo era real? Não, não deveria ser, se fosse, teria como comparar com o agora, mas o passado muda, muda como tudo no mundo, dependendo de como nos sentimos agora, não conseguimos olhar o passado sem usar os olhos de hoje, e assim é como se não existisse passado, pois na verdade só existe o seu reflexo no agora. E agora só existe tinta e papel, e todo o resto não faz sentido, e nada é tão bom, e um não sabe como significar sem o outro. E, pelo menos para mim, isso faz sentido. Então, por mais que pense nisso, não posso dizer que a vida sem você não teria sentido. Mas posso dizer que, agora, não posso imaginar como seria sem você, que não existe combinação melhor, e que não é difícil perceber como isso é certo. Você é o caos que controla e põe em ordem minhas linhas de pensamento mais esquizofrênicas. É a verdadeira força criadora por trás das coisas que digo, o que seria de minhas infinitudes porosas sem suas marcas nanquim? E tudo parece ter sido uma preparação para o momento no qual você colocaria as palavras certas em meu interior. E se tudo acaba, que fiquem pelo menos algumas páginas. E se exagero, é minha natureza, tudo parece mais sério quando está escrito em mim, mas só você sabe que não é assim. Minha tendência ao drama e à poesia são só formas de entreter, talvez fazer rir, pois mesmo em situações como essa não posso ser completamente sincero, não posso deixar tudo às claras e explicar todos os detalhes sem sua ajuda. E sei que para você tudo isso é bobagem, que não precisa de tudo isso, mas eu sou vazio, e preciso de palavras, e metáforas, e mentiras, e confissões; sem elas não sou completo, não posso ser lido, sem elas é tudo muito vago, muito aberto, tudo pode acontecer. Páginas em branco não são realmente oportunidades, são o medo, a necessidade de fazer alguma escolha, a necessidade de preencher aquele vazio de alguma forma. E, no fundo, apenas esperamos que aquela tinta e aquele papel juntos tornem as ideias e emoções que ali estão, dispostas, expostas, maiores do que são, melhores do que são, que tornem essa infinidade de palavras e vazios em algo real. Porque a realidade só existe no papel, e na tinta, e no teu nome, escrito em entrelinhas.


Rodas e a pizza

I

por Leonardo Calderoni

magine que numa bela noite você quer pedir uma pizza não tão comum, digamos que de abobrinha. Você vai à pizzaria e diz: “quero uma pizza de abobrinha”. Agora, imagine que o atendente, ao invés de confirmar se esse sabor é feito na pizzaria e pode ser entregue, te informa o preço, mas faz a ressalva: “olha, são 30 reais, mas você deve pagar antecipado e eu só posso te prometer que vou apresentar essa proposta de pizza para o pizzaiolo, que pode aceitar ou não”. Embora eu, diferentemente de meus amigos economistas, não acredite que todas as decisões econômicas sejam baseadas em racionalidade, acho que dificilmente alguém aceitaria essa proposta “peculiar”. Imaginemos agora que a situação pode não ter ocorrido exatamente como narrado acima e que mais adiante o caso da pizza de abobrinha suscite uma grande polêmica factual. O cliente afirma que o atendente havia lhe prometido a pizza de abobrinha pelos 30 reais, que foram devidamente pagos. O atendente, por sua vez, afirma que a coisa realmente ocorreu como dito anteriormente: ele deixou claro que os 30 reais só garantiam que ele apresentasse a proposta de pizza ao pizzaiolo e que, portanto, não tinha culpa alguma. Bom, não sei vocês: mas eu não daria meu voto de confiança para esse atendente. Achou a história muito bizarra e absurda e não tem ideia de onde eu quero chegar com isso? Calma, eu explico. O mais engraçado dessa história é que, embora ela pareça ser uma invenção surrealista de uma mente perturbada (e talvez seja), algo até bastante parecido aconteceu de verdade. Mas não como uma pizza de abobrinha de 30 reais: aconteceu com uma doação de 1 milhão de reais à Faculdade de Direito da USP. Há alguns anos atrás, quando o atual reitor da USP, João Grandino Rodas, era diretor da Faculdade de Direito, ele conseguiu obter a doação nesse grande valor da família do banqueiro Pedro Conde. O dinheiro serviu para fazer reformas em algumas instalações daquela unidade de ensino. Em troca, o banqueiro seria homenageado tendo um auditório da faculdade batizado com seu nome (ou pelo menos assim pensavam os Conde). Ocorre que no vai e vem político da Congregação da Faculdade de Direito (instância deliberativa máxima da entidade), a quem realmente competia aprovar a nomeação, ela acabou sendo vetada pouco tempo depois de ter sido aprovada. A família do banqueiro curiosamente não gostou muito da notícia e resolveu pedir a doação de volta na Justiça que, recentemente, acatou o pedido. O mais divertido, no entanto, foram as declarações de João Grandino Rodas na época em que a polêmica desatou. Tal como o atendente da pizzaria da nossa história fictícia, ele afirmou, com todas as letras, que jamais tinha prometido a homenagem e sim apresentar a proposta de homenagem aos órgãos competentes. Mas não parou por aí. Criticou duramente a decisão da Congregação por vetar a homenagem, mas também criticou a família, dizendo que lamentava a atitude e que eles haviam perdido a oportunidade de “demonstrar fidalguia”. Em outras palavras: no mundo de Rodas, a culpa é da Congregação que voltou atrás na autorização da nomeação e da família Conde que é egoísta; ele mesmo, enquanto diretor

que assinou a portaria e “não prometeu nada” é absolutamente inocente. Tem culpa nenhuma no cartório. Não é uma gracinha? Parece que a Justiça, ao determinar a devolução do dinheiro, pelo menos em princípio, não engoliu muito essa história do “atendente de pizzaria” Rodas. A menos que a família Conde sofra de um sério caso de bipolaridade, a versão de Rodas sobre os fatos parece não passar de uma bela história da carochinha. Provavelmente, do alto de sua crença em seu poder inabalável enquanto diretor, pressupôs que a Congregação jamais lhe causaria problemas quanto a isso. Como as coisas tomaram outros rumos, resolveu ter uma atitude bastante coerente com os seus atuais atos como reitor: jogar a culpa nos outros e se fazer de vítima. Para além da discussão da prática de doações em uma universidade pública, esse é mais um acontecimento que mostra como a USP é administrada de maneira verticalizada e como sua estrutura antidemocrática tem consequências nefastas. Em geral, inclusive, muito mais nefastas que as desse caso. Rodas não pensou à toa que a Congregação jamais lhe causaria problemas com seus atos enquanto diretor. Em geral todos os colegiados da USP, cuja representação de professores sem cargos de destaque, alunos e funcionários é ridícula, realmente têm uma função protocolar. As pessoas irão discutir centralmente o caso da recusa da doação como algo que se esgota em si e não verão que o grande problema, afinal, é como se tomam as decisões dentro da USP. Esse caso é só mais um efeito colateral da estrutura da universidade. Muito antes de pensar em “não prometer” homenagens a banqueiros, Rodas deveria ter discutido de maneira aberta e exaustiva com os setores de sua faculdade essa questão. Claro que, conhecendo o João, essa hipótese é ainda mais surreal que o conto da pizzaria. É, no entanto, o que deveria ter sido feito. E depois, que se fizesse um regramento claro e inequívoco sobre a prática de doações para a Faculdade. Porque aí, caso fosse aprovada a medida, ela não penaria pela “insegurança jurídica”. Não é novidade que nosso renomado reitor precisa das tais “aulas de democracia”. Surpreende, contudo, que ele também precise de aulas de direito. Mas ele pode ficar tranquilo: com o apoio indubitável do governo estadual, que o recompensa nomeando-o para conselheiro da FAPESP, tenho certeza quase absoluta de que, no fim, tudo para ele vai terminar em uma grande pizza.

13


processo de levar a roupa até a loja, mas houve todo um batalhão de pessoas envolvidas em idealizar, financiar, costurar, transportar e vender a roupa. É uma perspecti por Severino, O Jegue va divertida: tudo o que está á sua volta exatamente agora tem um pouco de uma pessoa que ajudou a construir Parte 1 -Vida e Breja Severina ou projetar ou idealizar. A gente não se dá conta disso, sempre tem o produto do trabalho de alguém com a gente( a menos que você esteja pelado no mato, mas aí — O meu nome é Severino, o problema é seu). como não tenho outro de pia. Do mesmo jeito, a gente não pensa sobre a origem dos produtos que consumimos. Será que a carne que você Como há muitos Severinos, está comendo não veio de um pasto que desmata a que é santo de putaria, Amazônia? Será que essa roupa do fabricante famoso não foi feita com trabalho escravo? Qualquer produto deram então de me chamar é passível desse questionamento,mesmo a maconha(eu Severino de Maria vou me fuder de falar isso,mas foda-se) : será que a maconha que se consome não acaba financiando a violêncomo há muitos Severinos cia em algum outro lugar? Como se pode saber? com monarcas chamadas Maria, Talvez a gente não pense em todas essas coisas porque fiquei sendo o da Maria chegamos em um ponto de impessoalidade tão grande que deixamos de associar a figura humana á humanido prédio que nunca acabaria dade. Não olhamos nos olhos das pessoas, não dizemos “obrigado” e nem “por favor” porque assumimos que as pessoas estão em momentos de trabalho, como se Mais isso ainda diz pouco: trabalhar fizesse da pessoa um objeto qualquer! O que há muitos na freguesia, temos não é fruto do trabalho e da vontade de outras pessoas, mas sim de um processo produtivo. E enquanpor causa de um construtor to o trabalho não é mais da pessoa que o pratica, o fruto que nunca entregaria dele não é mais dotado de qualquer valor humano. nem o prédio mais antigo Por favor, eu não estou dizendo que a manufatura é melhor do que o processo avançado de produção! Os da faculdade de filosofia processos atuais conseguem democratizar o acesso aos produtos que eram exclusivos na época das manufaturas. A produção em fábricas e por maquinas possibilita o acesso de milhões de pessoas a coisas que de outro modo elas não poderiam sequer pensar em ter pelo por Afonso Cavalcante mesmo preço. O que eu estou dizendo é que quando você vê um sapato não pensa em um sapateiro e nem no cara que consertou a maquina que faz o sapato, talvez ueria um momento dos caros RIanos, RIanas e algo além disso: quando você vai comer no bandejão outros(existem outros) para perguntar: quannem diz “obrigado” pra pessoa que coloca a comida no tas pessoas estão envolvidas em você ler esse seu prato. artigo exatamente agora? Não sou só eu, nem só o pesSei lá...Acho que isso é só uma forma de fazer dos prosoal do jornal, vamos eu te dou um tempo.....Consedutos cada vez mais descartáveis. Não enxergamos guiu mais alguém? Não, eu não estou falando dos seus mais do que o valor meramente material e econômico pais.Você sequer pensou na pessoa que estava envoldas coisas e por isso não nos importamos de nos livrar vida na construção do computador, ou do lugar onde delas. É também um modo de esconder as tristezas da está sentado lendo confortavelmente? É sobre o fato de produção, não ligamos para o que há por traz do provocê não lembrar dessas pessoas que eu vou falar. duto. É triste, é como se as pessoas tivessem se tornado Um cidadão vai e compra roupa de um fabricante que ferramentas e nós não ligássemos, como se nem perceele gosta, não pensa sobre o modo como aquele pro- bessemos. duto veio a ser e nem nas pessoas que participaram do

Vida e Breja Severina

Ferramentas Humanas

Q 14


Pulp por Emannuel K.

“T

here must be some kind of way outta here”. Said the joker to the thief. “There’s too much confusion, I can’t get no relief ”. Ele estava com a cabeça baixa, apoiada no ombro dela. As pessoas ao redor provavelmente achariam que estavam dançando ou algo assim. Nada mais improvável. Não que ele não houvesse tentado, mas sabia que quando ela fazia determinada expressão, mais valia a pena simplesmente deixar para lá, pelo menos por hora. Na verdade, deveria abandonar em definitivo, mas a teimosia era grade demais para que em algum momento não fosse voltar a tentar. Mas ainda assim, a maioria das pessoas que os visse, acharia que estavam dançando, até mesmo porque todos os outros ao redor estavam fazendo isso. A culpa era dele, tinha arrastado ela até ali e agora simplesmente lembrou como se sentia acuado com todo aquele barulho e toda aquela gente. Se ela sentia o mesmo – o que era uma certeza – então se esforçava em não demonstrar, uma forma de se vingar dele, mostrar que aquele era a punição que merecia. “No reason to get excited” the thief *she* kindly spoke. Ela o pegou pela mão e levou para fora, empurrando pessoas que sequer percebiam, provavelmente pensando que aquilo era só parte da diversão toda; os dois se conheciam a anos, eram amigos a tanto tempo que, quando ele pensava nisso, quando se conheceram ainda não eram as pessoas que se tornaram – as pessoas que eram hoje –. Era difícil para ele ver com clareza as mudanças que aconteceram com ela, até porque sempre lhe parecera uma espécie de porto seguro, uma âncora durante os anos mais complicados que tivera. Mas reconhecia que se ele tinha mudado tanto, era inconcebível que ela também não tivesse mudado, até mesmo porque uma das características mais afloradas da personalidade dela era o inconformismo para com o imutável, ou talvez simplesmente uma descrença, qualquer pessoa que a conhecesse saberia como ela mudava, mas era bem verdade que nenhuma das pessoas que a conhecia o faziam ideia de como era ela de verdade, e poderia ser um pouco prepotente da parte dele pensar isso, mas achava que conhecia um aspecto dela que nenhuma outra pessoa conhecia. É claro que podia estar exagerando, podia estar errado, ao contrário dele, ela ainda tinha amigos mais antigos, alguns até mais próximos talvez, que sob todas as óticas, poderiam conhecê-la tanto quanto ele, quiçá mais, mas custava a acreditar, seu instinto dizia que era com ele que ela conseguia ser honesta, sincera, ela mesma; e se ele tinha alguma coisa na qual valesse a pena confiar, essa coisa era o instinto. É claro que ela o surpreendia, isso fazia parte da coisa. Por exemplo, olhando para ela agora, enquanto ela o arrastava para fora da pista, não conseguia acreditar que ela tinha feito um desses cortes de cabelo modernos, com um lado raspado e outro longo, o tipo de coisa que não seria incomum num seriado adolescente ou numa cantora extravagante, mas que era curioso de se ver numa pessoa consideravelmente tímida quando ela. Ainda lembrava de como ela ficara vermelha da primeira vez que se falaram, mas isso foi a muito tempo, hoje ela era mais confiante, talvez nem tanto assim, mas um pouco, pelo menos com ele, pelo menos quanto ao cabelo. Nos últimos tempos se viam muito pouco. A vida costuma afastar as pessoas assim. Ele tinha que se esforçar um pouco para continuar a vê-la, o que o fazia ter a impressão que ela não valorizava tanto a amizade dos dois. Mas em momentos como aquele ficava claro que isso não era verdade. Ainda sendo levado pela mão, os dois atravessaram a toca do coelho em direção ao país das maravilhas – ou seria no sentido contrário? –. Lá dentro era noite, era barulhento, e cheio de

pessoas, aqui, o lugar onde apenas ela poderia levá-lo, era completamente diferente: duas árvores de uma espécie irreconhecível eram a única coisa visível na paisagem próxima, juntas, com suas folhagens se fundindo, formavam um portal, formavam uma ótima sombra. Sob as árvores, uma grande toalha de piquenique, xadrez, vermelho e branco, chá e cookies. Os dois sentaram, ainda sem falar nada e aproveitaram a vista. Os cookies eram dos que só ele conseguia fazer. Ao longe, no horizonte, se viam montanhas para todos os lados ao redor, e um mar de grama verde. O céu azul, com nuvens leves, e os dois eram as únicas pessoas do mundo. “É a sua cara me trazer para o começo dos tempos simplesmente para fugir de uma festa.” “Oras, você não faria tão diferente, não é mesmo? Quer dizer, me levaria para o extremo oposto, mas no fim das contas é tudo a mesma coisa.” “A vegetação crescendo sobre prédios caídos no fim dos tempos me dá uma sensação de que até nos piores momentos não podemos esquecer de crescer.” “Não é como se fosse por vontade própria, ninguém pode evitar a mudança, e toda mudança é uma forma de crescer, mesmo quando não é uma mudança boa.” Os dois passaram bons minutos em silêncio, simplesmente olhando um para o outro e aproveitando vagarosamente as xícaras de chá. Ela se sentia extremamente incomodada por ficar em silêncio com ele por perto, sempre tinha que falar alguma coisa, com medo de que o silêncio significasse algo ruim. Para ele era o contrário, achava que ficar em silêncio com alguém e ainda assim se sentir confortável era o maior indício que aquelas pessoas se davam bem. Mas ela falava, e ele não a impedia, gostava de ouvir a voz dela, independentemente das besteiras que falasse. É como se tivesse uma oportunidade de reencontrar aquela entidade da qual sentia tanta falta, a voz dela. E é verdade que existem poucas coisas melhores do que ouvir uma voz amiga depois de tanto tempo. Falaram trivialidades, coisas pessoais e que não cabem a mim reproduzir aqui. Mas em determinado momento o silêncio caiu de novo, o sol já prestes a se por pela primeira vez. Mas dessa vez ele tinha algo a dizer. “Senti sua falta.” Ela se levantou. O vestido branco, visivelmente leve ondulando com o vento, mas sobre ele um casaco, também leve, mas que servia para protegê-la do vento frio que logo começaria a soprar na noite do vale. Ela foi caminhando, se distanciando das árvores, em direção ao nada. Ele bufou – e ela ignorou – e se levantou, acompanhando-a. “Let us not talk falsely now, the hour is gettin’ late.” Disse ela se virando e sorrindo. Sorrindo daquele jeito que só ela conseguia sorrir, mas ainda assim de um jeito diferente. Os dois foram caminhando pelo vale, nunca se aproximando de lugar nenhum, andando em círculos e conversando sobre coisas que nunca tinham falado antes. Mas ainda assim falando com leveza, estavam muito acostumados um ao outro para o fazer de outra forma. E seguiram conversando e caminhando, em círculos, infinitos, all along the watchtower. Quando eles finalmente quebraram os círculos e deixaram a noite chegar, tinham chegado ao topo de uma das montanhas. Não eram mais amigos. Só deus sabe o que eram então, se é que não eram eles os deuses e todas as histórias de amor e amizade resumidas numa caminhada. Abraçados no cume olhavam as estrelas nascerem, inocentes, sem querer voltar para o mundo de pessoas e barulhos. Ele fazia piadas sobre aquele mundo, sobre as pessoas que conheciam, sobre as constelações. Ela roubava o que lhe restava de alma com os olhos.

15


“Porque era ela, porque era eu” por Fernanda Fagundes Perrin

C

“Se trago as mãos distantes do meu peito É que há distância entre intenção e gesto” - Chico

hegou sem avisar. Não pediu licença, nem me cumprimentou. Simplesmente brotou num canto do meu quarto com um ar arrogante e rancoroso, como se dissesse “e a gente, como ficou?”. A princípio a ignorei. Olhava-a de rabo de olho, desconfiada. Temia tocá-la, temia que tudo começasse novamente. Não sabia se tinha direito de fazer isso com ela, de fazer isso comigo. Tínhamos uma história, ainda que ilusória, muito mais imaginada que vivida - mas talvez isso não seja desculpa, afinal é como todas as histórias são. Se o fim - ou seria a pausa? - que sofremos não foi o que esperávamos, a culpa não era apenas minha, era também dela, como o era sem dúvida alguma também do mundo, que sempre tem sua parcela fixa de culpa e prejuízo em toda decepção. Na semana seguinte, encontrei-a sobre a minha cabeceira, maciça. Ameaçava meu sono com todo peso do passado que me obrigava a recordar e do futuro que me prometera um dia. Mas eu sabia que ela não se lançaria sobre mim: não, permaneceria lá no alto, para eu ter que olhar pra cima no momento em que cedesse. Ela teria o gosto de me humilhar mais esse pouquinho, dar esse tempero amargo ao orgulho que eu engoliria mais cedo ou mais tarde. Temos muito em comum. Sucumbi na terceira semana. Teria que lidar com ela, não poderia continuar escondendo-me sob as cobertas a vida toda - ou ao menos assim justifiquei-me. Peguei-a no colo, coloquei-a sobre a mesa e a encarei com os olhos mais abertos quanto pude na esperança de convencê-la da minha sinceridade, ou de impedir a mim mesma de nos enganar. Ela estava tão suja, profundamente marcada pelo tempo, com aquele cheiro terrível e fascinante que só o passado exala. Busquei um pano de cozinha pra limpar o pó e o mofo que nela abundavam. Na verdade não me importava com eles, eram parte de seu encanto, mas já que precisava protelar a conversa

16

inevitável, “que ao menos seja com algo que quem sabe possa começar a me redimir”, pensei. A aproximação não foi fácil, ela não é dócil. Imagino que nos seus tempos áureos dava-se com muito mais facilidade, mas tantos anos largada em um depósito onde a esconderam dos olhos julgadores e pretensiosos do presente devem tê-la ressecado. Por cruel ironia, graças à nostalgia do mesmo criminoso passado que a condenara, eu sabia como abordá-la: preparei um café amargo, nos servi um uísque barato, busquei um cinzeiro e um maço de cigarros. Ela pareceu mais à vontade. Finalmente era a hora do papel. Comecei a falar. Falei, falei e gritei, sentindo a dor na ponta dos meus dedos, pela força com que precisava apertá-la, e nas paredes da minha garganta, que desabavam com as rachaduras daquele dilúvio de não-ditos. Sentia uma mescla de alívio, exaustão, angústia e felicidade. Era como se finalmente matasse a sede depois de dias inteiros vagando no deserto. Ela, por sua vez, ecoava cada letra que eu cravava no papel, para deixar claro que nenhuma prova do crime poderia ser apagada sem deixar vestígios. Sim, todos os seus defeitos estavam lá, era impossível não os ver ou ouvir. Como era barulhenta, como era difícil tocá-la, como resistia a me escutar! Mas ela sabia que essas coisas eram seu charme, que eu a aceitaria como fosse. E, por fim, assim foi: pela segunda vez, sucumbi. “Todos podem ter te superado; por 2 anos, 3 meses e 29 dias eu também posso ter acreditado que tinha te superado, mas a verdade é que eu acho que sua lembrança sempre vai me pesar sobre as pálpebras se eu continuar fugindo de sonhar você”. “Não ri”, ela me pede, e eu não posso negar, não posso mais negá-lo: meu peito está sob as teclas dessa máquina de escrever, máquina de escrever de redação de jornal.


17


Agenda C

É

humanamente impossível fazer uma cobertura sobre tudo o que acontece na cidade de São Paulo, esse pequeno rascunho de agenda cultural volta-se a algumas sugestões e comentários de cunho essencialmente pessoal.

VIRADA CULTURAL A Virada Cultural é o maior e mais interessante evento cultural do mundo de que tenho notícia – sob o estrito onto de vista desse autor. Não vou incorrer ao risco de fazer uma apresentação menos louvável que a própria apresentação oficial, por isso sugiro fortemente que se dê uma olhada no lindo trabalho que a assessoria do evento realizou em http:// viradacultural.org. O evento dispensa maiores apresentações, mas há algumas questões que podem ser evidenciadas e levantadas para maiores reflexões. O que me chama muita atenção é a ênfase que é dada ao caráter exclusivamente público do evento. Na própria descrição supracitada, encontra-se em negrito: “com assinatura pública e sem patrocínio privado”. O próprio diretor artístico da virada José Mauro Gnaspini em diversas ocasiões (basta procurar em pronunciamentos e entrevistas do dito-cujo) deixa explícita a preocupação em se negar essa ideia de que “a cultura se desenvolve apenas se estiver ligada a marcas privadas”. José Mauro deixa também claro que, apesar de benvindos, atrair turistas e o dinheiro deles não é o foco do evento, uma vez que nem ao menos se gasta com esse tipo de publicidade. É interessante como num contexto de profunda neoliberazição das políticas públicas da cidade de São Paulo -haja visto o trato dado à universidade pública e ao transporte público por exemplo- exista uma prática de desprendimento nessas condições: um evento imenso, que exige alta mobilização de todo tipo de agência pública, sem preocupação imediata com lucro e nem orientada por demandas de mercado. Essa contradição desperta em mim como uma grande pergunta. Alguns amigos conspiracionistas argumentaram no sentido da ocupação pela especulação imobiliária do centro, mas eu pouco concordo levando em consideração várias atividades de natureza puramente social. Outros sugeriram “pão e circo”, o que também não me parece uma resposta adequada, pois as pretensões da Virada Cultural vão além, buscando novas experiências geográficas, culturais, artísticas, sociais e até mesmo humanas. Além disso, ainda que se tratasse de “pão e circo”, acredito que a opinião pública paulistana não veria problema nenhum em consumir pão da marca de supermercados X ou circo da petrolífera Y. Ademais, trata-se de uma curadoria altamente democrática, que busca elaborar uma programação harmônica entre o velho e o novo, entre grandes sucessos e artistas de nicho. Em entrevista à TV Cultura, José Mauro comenta o interesse em desconstruir essa ideia de palcos principais, querendo mostrar que em São Paulo, todo tipo de artista encontra um grande público de interesse. Sem contar a facilidade em que um artista ou instituição pode “aderir” à programação oficial do evento – exemplo da artista de rua que ouve “histórias de amor” enquanto tricota num banquinho na Avenida Paulista.

18

Levantadas essas pequenas reflexões, deixo abaixo algumas sugestões ligadas ao meu repertório pessoal. (Comentário pós-tentativa de elaboração da lista: é impossível selecionar, além de que acredito estar deixando de lado atrações imperdíveis por mero desconhecimento de causa, então reitero o caráter pessoal da lista)

PALCO JÚLIO PRESTES

Devido ao grande sucesso do palco de ska e reggae do ano passado, não tenho nem como duvidar de quão emocionante vai ser esse palco destinado ao afrobeat, aos ritmos caribenhos, à Jamaica e tudo o que há de bom numa programação classicamente roots. Sem contar que é encerrada por Gilberto Gil, então sem mais. Destaque para Tony Allen à meia noite de sábado e Seun Kuti às 02h30 e Bixiga 70 às 05h00 de Domingo. Para quem puder, sugiro ficar a Virada inteira nesse palco.

PALCO REPÚBLICA

Outro palco sensacional. Nesse momento vejo que não há como fazer uma lista selecionando highlights dessa Virada, pois senão deveria reproduzir na íntegra toda a programação, mas fica aí a dica: Violentango 05h00 de Sábado, Flora Matos e Ludez da Luz às 12h30 e Charles Bradley às 15h00.

AROUCHE

Virgulóides com seu som irreverente às 04h00 provavelmente será uma boa diversão.

THEATRO MUNICIPAL

Arnaldo Baptista não vai tocar com os mutantes, mas fará uma apresentação no teatro às 19h00.

PATEO DO COLÉGIO

Acredito que todas as atrações aqui são totalmente imperdíveis, mas destaco as duas direções de Nelson Baskerville: “Os Sete Gatinhos”, de Nelson Rodrigues (com Renato Borghi) 00h30 e “Luis Antonio – Gabriela”, da Cia. Mungunzá às 18h00 no domingo. “Luis Antonio – Gabriela” muito provavelmente foi a melhor montagem de 2011-2012, tendo casa lotada em todas as apresentações, adquirindo uma


Cultural por Fábio Andó Filho

BONUS TRACK Quero deixar registrado, pois acredito que foram eventos que merecem um destaque na imprensa: esse mês ocorreu uma programação especial sobre a cultura contemporânea de Istambul – “Istambul Agora” – no SESC Pompéia e também a “Mostra de Cinema Pós-Iugoslavo” na Caixa Cultural que foram especialmente maravilhosas, quem perdeu não pode perder nunca mais!

coleção de elogios e prêmios e arrancando lágrimas de milhares de espectadores. Como disse uma professora de teatro minha: Teatro de verdade.

BULEVAR SÃO JOÃO

Palco dedicado à Elis, sem mais.

DOM JOSÉ GASPAR

Muitas pessoas negligenciam o piano na praça, mas tendo a dizê-las que é uma experiência agradabilíssima! Ótima oportunidade para relaxar do vuco-vuco das atrações mais badaladas ao som de outras grandessíssimas atrações RUA DOS PROTESTANTES Voodoohop do Admirável Mundo da Nova Luz (por toda a Virada) = sucesso garantido.

Entretanto, ainda dá tempo de aproveitar um pouquinho: no SESC Pompéia ainda está em exposição “Ara Güler – Olho de Istambul”. Pra quem não conhece, Ara Güler é um importante fotojornalista, inclusive tendo contribuído à Magnum (a mesma cooperativa fotográfica de Henri Cartier-Bresson, Sebastião Salgado e Robert Capa). O fotógrafo foca seu trabalho em retratar as diversas faces de Istambul em uma época de consolidação de sua república. Os diversos assuntos em suas imagens tratam de problemas referentes às circunstâncias sociais da Turquia, mas que transbordam as fronteiras nacionais e tornam-se temas universais. Em sua obra são tratadas questões de gênero, trabalho, modernidade e tradicionalismo, globalização e marginalidade. Vale toda a pena do mundo conferir e bater um bom papo com os simpáticos mediadores da exposição:

CINE WINDSOR (Av. Ipiranga, 974)

Linda programação em homenagem ao cinema boca de lixo de São Paulo. O movimento cinematográfico ganhou homenagem cênica estrelada lindamente por Mel Lisboa nesse primeiro semestre de 2012 pela Cia. Pessoal do Faroeste – “Cine Camaleão”- e transcende o caráter de entretenimento adulto sendo um retrato social e político da história da nossa cidade.

SESC BELENZINHO

Programação completa dedicada à Nelson Rodrigues: Música, Teatro, Literatura, Cinema, Artes Plásticas e Visuais e Dança. Imperdível e impagável! Além disso, Ilu Obá de Min no Sesc Pompéia, programação genial nos diversos CEUs com Tulipa Ruiz, Luiz Melodia, entre outros! Locação gratuita de videos na 2001 da Avenida Paulista, virada gastronômica no Minhocão, etc. etc. etc.Havia sido divulgada uma apresentação da sensacional Z’África Brasil no Largo do São Bento às 18h00 de sábado, mas muito infelizmente parece ter sido alterada. Enfim, não tem melhor maneira de conhecer a programação da Virada Cultural sem dar uma boa estudada na sua programação completa e, claro, dando um bom rolê pela cidade nos próximos 5 e 6 de maio!

Ara Güler SESC Pompeia 12/04 a 01/07. Terça a sábado, das 10h às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 20h.Grátis.

19


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.