ECONOMIA INTERNACIONAL
M A R I A N A R E I S P A I VA M O N T E I R O , E C O N O M I S TA N O C R E D I T S U I S S E E U R O P A
O que podemos esperar da economia portuguesa este ano? Esperamos que a economia portuguesa continue a sua recuperação e cresça 5,3% em 2022, relativamente a 2021. Este crescimento deverá ser sustentado por um aumento do consumo e do investimento e por uma recuperação gradual das exportações de serviços. À medida que as restrições à mobilidade global forem sendo levantadas e as pessoas se sentirem mais confiantes em viajar, a partir da Primavera, contamos com um aumento substancial da procura externa de turismo e serviços, registando níveis mais próximos dos registados antes da pandemia. Este facto sustentará melhores resultados nos indicadores do mercado de trabalho e na confiança das empresas. O valor dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) proveniente da União Europeia irá apoiar o investimento público, permitindo ao mesmo tempo que o défice orçamental diminua. Adicionalmente a isto, as reformas económicas poderão potenciar ainda mais o crescimento do país a longo prazo. Os resultados das eleições legislativas de 31 de Outubro foram positivas para o país. Um governo maioritário reduz a probabilidade de instabilidade política no país durante os próximos anos, ao mesmo tempo que resolve os impasses no Orçamento de 2022, que constituía um grande risco para a recuperação económica do país. Quais são os principais riscos para a economia portuguesa? Em que medida pode a aceleração da inflação na Zona Euro para valores recorde afectar Portugal? Tal como em outros países da Zona Euro, a variante Omicron, a inflação e os preços elevados da energia são factores de risco que podem afectar a confiança dos consumidores e das empresas a curto prazo, mas o impacto deve, em certa medida, ser atenuado pela poupança acumulada. No entanto, esperamos que estas questões se tenham dissipado
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até à Primavera. Além disso, a não resolução dos estrangulamentos na cadeia de abastecimento global na indústria automóvel local e na construção pode também pesar. Um risco constante é o aparecimento de uma nova variante da Covid-19, que pode levar os países a voltar a impor restrições de viagem. Este facto poderia prejudicar a recuperação da indústria do turismo e da procura interna de serviços em geral, mas acreditamos que o efeito seria bastante moderado, dada a elevada taxa de vacinação no país. Mas, as medidas de emergência e a redução das receitas poderiam levar a que o défice orçamental fosse um pouco mais elevado do que o actualmente esperado. O factor mais importante para a economia portuguesa é a sua taxa de inflação, e não a média da Zona Euro. O facto de a inflação portuguesa ter provavelmente um desempenho inferior à média da Zona Euro é um factor positivo em termos das perspectivas de consumo das famílias. No entanto, se a inflação em toda a Zona Euro se mantiver suficientemente elevada para pressionar o BCE a apertar a política monetária, a actividade em Portugal será afectada negativamente por taxas de juro mais elevadas. No entanto, a nossa opinião é que é pouco provável que o BCE aumente as taxas em 2022. Será 2022 um ano de transição económica e financeira, com maior enfoque na sustentabilidade, por exemplo? Sim, e isto será parcialmente impulsionado pela iniciativa da Comissão Europeia através da sua nova taxonomia verde e do Plano de Recuperação e Resiliência. O PRR irá deslocar parte da despesa pública para infra-estruturas e empresas sustentáveis. Será uma tendência não só para 2022, mas para os próximos anos e irá, provavelmente, atrair investimentos em empresas mais sustentáveis, bem como em tecnologia verde e produção e redes de energia, na Europa e em todo o mundo. l