Correio dos Açores

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reportagem

Correio dos Açores, 17 de Outubro de 2013

IAC e Centro Paroquial de São Roque promovem encontro geracional

Motivar as crianças para a escola e para projectos de vida só se faz com os afectos O sucesso das nossas crianças passa pelo carinho e pelos afectos. “Tem de haver carinho e um pouco de sensibilidade, pois verificamos que há crianças muito revoltadas e quando as conhecemos e quebramos o muro que têm à volta verificamos que são crianças muito sensíveis e carinhosas. Precisam só de empurrãozinho e este só pode ser feito através dos afectos que podemos dar”, diz Graça Rego. O Instituto de Apoio à Criança (IAC) e o Centro Paroquial de São Roque promoveram ontem um almoço na freguesia para assinalar um ano de vida da Valência Animação de Rua ao serviço de crianças e adolescentes bem como promover um encontro interageracional, com o objectivo primordial de fomentar as relações pessoais e de afectos entre crianças e idosos. No Centro Paroquial de São Roque a azáfama era grande. Adolescentes e a equipa de técnicos do projecto estavam juntos nas confecção do almoço para os mais velhos da freguesia que frequentam o Centro de Dia, sendo que a refeição foi servida pelos adolescentes, numa manifestação de carinho. Um convívio salutar entre gerações que permitiu que entre conversas e uma garfada todos se ficassem a conhecer melhor e que os mais velhos exprimissem as suas vivências aos mais novos, e vice-versa. Graça Rego, Coordenadora da Valência Animação de Rua do Instituto de Apoio à Criança Açores (IAC), explicou ao Correio dos Açores que a equipa tem imprimido a harmonia entre os mais velhos e as crianças, a promoção da relação entre gerações, com base no respeito, assim como fazer com que as crianças percebam que o envelhecimento faz parte da vida, assim como os velhos devem ajudar os mais novos a crescer saudavelmente e a desenharem um projecto de vida. Estes encontros, em datas importantes e sempre que possível vão ser feitos numa promoção de afectos. A Coordenadora recorda que enquanto valência fazem muitos giros, dos quais

se destaca o giro de diagnóstico, o giro de manutenção e o giro de denúncia. No que diz respeito ao giro de diagnóstico realça que vão a várias freguesias detectar se há muitas crianças na rua, se há meninos ou meninas a precisar de apoio por estarem negligenciadas e/ou desacompanhados. Recuando no tempo. “Em 2009 verificamos que em São Roque havia um grande número de crianças que brincavam na rua e quisemos colmatar uma lacuna, isto é, o facto de nesta freguesia não haver nenhuma resposta em termos institucionais para crianças a partir dos 12-13 anos, porque os mais Graça Rego, Coordenadora da Valência Animação de Rua do Instituto pequeninos têm o ATL, mas os de Apoio à Criança Açores adolescentes não têm nenhuma resposta social. Por isso, um ano depois, em 2010, convidamos a Associação Solidaried’Art para uma parceria com o IAC. Assim, no Poço velho, o centro da freguesia, desenvolvemos um projecto de rua para atrairmos as crianças para as artes circenses e para que se aproximarem de nós. E graças a esta parceria com as artes conseguimos atrair muitas crianças. Posteriormente, a nossa valência avançou para a urbanização Diogo Nunes Botelho a fazer jogos tradicionais com várias dinâmicas, isto é, estávamos a ensinar as crianças sem que estas se estivessem a aperceber que estavam a aprender. Só que tínhamos a nosso Crianças felizes por fazerem parte do projecto

cargo crianças de idades variadas, desde um ano de idade a adolescentes de 17 anos. Assim, com esta diferença de idade não podíamos continuar, e optamos por criar um grupo mais homogéneo, que fez ontem um ano”.

Preparação do churraco pelas crianças e técnicos do IAC

Promoção da cidadania Para ter um espaço, diz que pediram à Junta de Freguesia uma sala no centro Paroquial de São Roque para desenvolverem várias dinâmicas e promover junto dos jovens a importância da escola, a importância de estar na sala de aula, a importância da higiene, entre outros aspectos. Isto é, explica a cordenadora, “é uma espécie de um encontro cívico, com muitas regras – são eles próprios que as

criam – para saberem estar e fazer”. É portanto um grupo de cidadania, que tem como motivação principal, entre outras, “despertar-lhes para a importância da escola, porque há muitas crianças que não estão despertas por entenderem que não é preciso”. Em colaboração com o centro Paroquial de São Roque promoveram um encontro com as crianças e os idosos do Centro de Dia para que possa haver um encontro intergeracional e para que fosse assinalado também o ano de combate de luta contra a pobreza e exclusão social a nível nacional e regional, que se está a assinalar desde o dia 14 até dia 18 do corrente mês. Graça Rego diz que as crianças fizeram um convite aos idosos para almoçarem com elas e foram as crianças do grupo que serviram o almoço, um excelente churrasco. “Só conseguimos fazer isso porque houve empresas do mercado micaelense que nos disponibilizarem alguns produtos alimentares. Assim fizemos um churrasco para que as próprias crianças oferecem os seus préstimos. Esse trabalho é do foro comunitário. É uma inclusão entre a comunidade, os idosos e as crianças”. Mas acima de tudo – regista – “serve para que as crianças saibam que tem de haver respeito pelos mais velhos assim como os mais velhos têm de ter respeito para com as crianças. Desde que criamos este grupo que as crianças estão muito motivadas, até pedem para fazermos iniciativas destas mais vezes, o que se torna difícil porque também desenvolvemos outros projectos paralelos, mas vamos tentar intensificar a frequência. Interessante é verificar que passado um ano já são as crianças que, em conjunto connosco, dão as suas ideias e a prova disso é que elaboraram uma dança para apresentar aos idosos, bem como fizeram quadras para lhes dedicar. Achamos que esta é a melhor forma de incluir e de manifestar os afectos entre gerações”.


Correio dos Açores, 17 de Outubro !"#$%&

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Crianças e idosos partilham emoções e experiências de vida em grupo debatem com dificuldades mas desde que haja compreensão e amor tudo se pode ultrapassar. Para além disso também tentamos desconstruir todas as ideias pré-concebidas que as crianças têm, como por exemplo de que o psicólogo é só para malucos. Não, o psicólogo serve para apoiar as pessoas em momentos de maior fragilidade e é essa a mensagem que é passada, numa descoberta intergeracional”, remata. Nélia Câmara

Almoço de convívio entre crianças e idosos em São Roque, onde houve dança e récita de quadras

Graça Rego garante que há provas de que este projecto está a funcionar. “Ao ter cuidado com as crianças, ao saber falar com elas verificamos que elas adaptam-se aos projectos. Entendo que às vezes no mundo dos adultos, nas escolas, a linguagem para chegar às crianças não é a melhor, embora seja de destacar que há professores muito preocupados com as crianças e com o desenvolvimento harmonioso e sucesso escolar delas. Mas, entendemos que a escola está formatada para que quem não sabe e nem quer possa ser colocado de lado, e por isso há muitas potencialidades inatas a estas crianças que não estão desenvolvidas. Todos nós, incluindo as escolas, temos de ter mais cuidado com as crianças, aproveitando o melhor que têm sempre através dos afectos. Entendo que esta é a porta para o sucesso destas crianças. Tem de haver carinho e um pouco sensibilidade, pois verificamos que há crianças muito revoltadas e quando as conhecemos e quebramos o muro que têm à volta verificamos que são crianças muito sensíveis e carinhosas. Precisam só de empurrãozinho e este só pode ser feito através do afecto que podemos dar”. Para a Coordenadora este é um projecto de sucesso. É um grupo que tem evoluído e é um grande reconhecimento do trabalho feito. “Notamos que as crianças têm vontade de pertencer a este grupo, de materializarem as suas ideias e de exporem as suas potencialidades criativas. Neste grupo elas podem exprimir-se, dar conta dos seus medos e das suas vergonhas. Nós tentamos quebrar as dificuldades que têm em expressar-se. São crianças que têm muito medo de dizerem o que pensam para não ser discriminadas/gozadas. Uma das regras do grupo é que ninguém pode gozar com ninguém porque todos nós erramos, daí a importância de se falar sobre tudo. Costumamos fazer formação sobre temas pertinentes da actualidade como é o caso bullying. Fazemos imitações do que se passa, umas fazem de agressoras e outras fazem de

vítimas, e depois trocamos os papéis para que possam verificar da gravidade da situação. É nestas idades, - 11, 12 e 13 anos -, que se criam as raízes para que possam ter uma estrutura mais sólida na escola e na família”. Os afectos podem quebrar muitos dos problemas das crianças, podendo mesmo eliminar a baixa auto-estima, valorizar as suas capacidades intelectuais e o empenho que colocam na escola. “É através dos projectos que se pode fazer com que estas crianças se sintam seguras e possam desenvolver o seu projecto de vida. A nossa equipa trata tudo com muita simplicidade e não temos medo de expor os nossos medos para que as crianças saibam que os adultos também se

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