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Treinamento em Cadáveres Frescos
400 Cirurgiões-Dentistas mineiros tiveram a rara oportunidade de manusear algumas peças e aprimorar a técnica, com uma simulação próxima à realidade clínica
Ouso dos cadáveres frescos congelados desperta grande interesse de pesquisadores e estudantes, interessados em aperfeiçoar a técnica ou aprofundar os estudos. A metodologia começou a ser disseminada em 2010. O Brasil tem legislação e regras rígidas para a utilização do método; porém, existem entraves como os custos operacionais de transporte, conservação e descarte, e as poucas doações, que afetam o acesso dos profissionais à metodologia de ensino. Na II Semana Tiradentes da Odontologia Nacional, 400 Cirurgiões-Dentistas mineiros tiveram a rara oportunidade de manusear algumas peças e aprimorar a técnica, com uma simulação próxima à realidade clínica. Os workshops foram conduzidos pelo PhD (Griffith University - AUS) e professor de Anatomia Odontológica da UFMG, Dr. Antônio Custódio. Nesta entrevista, ele nos conta um pouco sobre como foi o evento e os benefícios do método.
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Qual a importância dessa iniciativa do cro-mg de trazer um curso com cadáver fresco para os dentistas mineiros?
Doutor Antônio luis - É uma iniciativa inédita e um momento histórico no país. Isso permitiu o desenvolvimento de dez workshops demonstrativos de diversas áreas cirúrgicas (hOF, ATM, Ortodontia e Implantodontia), ao vivo e presencial. Os mais de 400 participantes tiveram a oportunidade de manusear algumas peças e aprimorar a técnica, com uma simulação muito próxima à realidade clínica. A
JUN2023 esta metodologia oferece quais ganhos para o aprendizado dos alunos?
Odontologia vive um momento de grande avanço tecnológico e científico. As atividades desenvolvidas foram um marco histórico. Os participantes tiveram acesso a uma metodologia eficaz, segura e replicável, simulando uma experiência real, a partir de um modelo de excelência. Para cada atividade, foi realizada uma palestra inicial, discorrendo sobre a técnica. A seguir, cada detalhe foi reproduzido em uma peça fresca congelada, que tem textura e mobilidade muito próxima aos tecidos vivos. Ao final, o participante teve a chance de manusear as peças.
Os participantes podem ver na prática os benefícios do uso de peças anatômicas frescas. Todos puderam esclarecer as dúvidas, diluindo as possíveis inseguranças, o que pode norteá-los sobre novas técnicas e futuras áreas de atuação. Este é o modelo de treinamento que mais se aproxima do ser vivo, principalmente, em áreas de risco, tanto na Medicina como na Odontologia. O cadáver fresco é um modelo de estudo e de treinamento em inúmeras áreas médicas. Ele complementa o aprendizado, promovendo mais segurança e minimizando a possibilidade de ocorrência de complicações, se utilizado respeitando-se a ética profissional. o uso de cadáver fresco afeta o ensino dessas técnicas de que forma? o Brasil consegue suprir a demanda por cadáveres para pesquisa e ensino nas universidades e cursos de especialização? os laboratórios das universidades estão preparados para sediar estudos e pesquisas com cadáveres frescos? o que o cD tem de observar ao se inscrever em um curso com cadáveres frescos?
Qual área da Odontologia é mais beneficiada por essa técnica de ensino?
O leque de possibilidades de treinamento é extenso. Como vimos na II Semana Tiradentes, compreende desde ATM, passando por técnicas de hOF e aplicação de novas tecnologias, como o Laser, CTBMF, cirurgia avançada; cirurgia guiadas e cirurgia ortognática.
Na verdade, a utilização de cadáver fresco congelado é um plus no ensino. É o modelo mais adequado para o treinamento e aperfeiçoamento de diversas técnicas cirúrgicas. O estudo em peças anatômicas existe há séculos e foi responsável por inúmeros avanços nas áreas médicas, principalmente nas áreas cirúrgicas. Entretanto, no início do século XXI, a anatomia estava em declínio em todo o mundo, devido a uma série de fatores, como por exemplo: demandar extensa área física na Instituição de ensino; a pequena taxa de doação de cadáveres; pouca publicação científica pelos docentes; e o emprego de produtos insalubres para a saúde de toda a comunidade acadêmica (formol e fenol). Entretanto, a criação de bancos de cadáveres frescos congelados na Europa e EUA para uso como material não transplantável, mudou essa tendência, fornecendo espécimes com qualidade incrível. Ao longo dos últimos anos, um leque de opções de cursos para treinamento profissional surgiu e inúmeras pesquisas científicas foram publicadas.
Infelizmente ainda não. Apesar de termos uma legislação específica, a doação de corpos ainda é pequena no Brasil. A UFMG tem um programa bem estruturado, denominado “Vida após a Vida”, com mais de 20 anos de criação, e 20 mil doadores cadastrados. Entretanto, uma série de problemas podem inviabilizar a doação, por exemplo: não apresentar estado de conservação ideal, ter doenças transmissíveis, não haver a comunicação à Instituição em tempo hábil após a ocorrência do óbito.
Sim. Um exemplo é a UFMG, com inúmeras pesquisas consolidadas e cursos de extensão de qualidade, seja na Faculdade de Medicina ou no ICB-UFMG. Nos últimos anos, pude colaborar na publicação de quatro artigos científicos.
Os coordenadores e professores do curso, se eles têm a especialidade registrada no seu Conselho de Classe e se possuem experiência profissional para ensinar. A legislação pertinente ao Centro de Cadáver é bem rígida e os centros de treinamentos possuem Responsáveis Técnicos que são fiscalizados pelos órgãos competentes.

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