Leitura Espírita #12 Edição - MAIO/03

Page 1




Edição # 12 - Abril/2013 EXPEDIENTE Coordenação editorial e Jornalista responsável: Rita Foelker MtB 66522SP rita@lachatre.org.br Projeto gráfico, arte e diagramação: Criativa Comunicação www.criativacomunicacao.com.br

Editorial “Somente o coração enobrecido no grande entendimento pode vazar o heroísmo santificante. Apenas o cérebro cultivado pode produzir iluminadas formas de pensamento. Só a grandeza espiritual consegue gerar a palavra equilibrada, o verbo sublime e a voz consoladora.” As palavras de Emmanuel nos convidam a perceber a função essencial da educação em todas as épocas da humanidade, bem como os efeitos de uma educação mal compreendida ou mal aplicada. Entendimento e grandeza espiritual são qualidades acessíveis a todos os espíritos, mas não sem bons exemplos, sem estímulos apropriados, sem oportunidades, e podemos observar tristes efeitos em nossa sociedade, algumas situações realmente lamentáveis e trágicas, onde vemos que o que faltou foi a educação que, mais além do intelecto, precisaria focar o desabrochar dos sentimentos. Ainda segundo Emmanuel, “educa e transformarás a irracional idade em inteligência, a inteligência em humanidade e a humanidade em angelitude”.

Colaboradores desta edição: Claudio Bueno da Silva, Cristina Sarraf, Jayro Antunes e Mauro Camargo Impressão: Atlantica Gráfica e Editora Ltda. Tiragem: 10.000 exemplares Periodicidade: Bimestral contato@leituraespirita.org www.leituraespirita.org Envio de artigos:

Os colaboradores devem enviar seus artigos para redacao@leituraespirta.org. Os artigos devem ser inéditos, ter no máximo 4300 caracteres, contando os espaços, incluir as referências à bibliografia consultada e um minicurrículo do autor.

Os anúncios e informes publicitários são de total resposabilidade de seus idealizadores. Os artigos assinados não necessariamente representam a opinião do jornal. É Permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

A Revista Leitura Espírita é uma publicação do Instituto Lachâtre e tem como finalizade divulgar conceitos e ideias espíritas. www.lachatre.org.br (11) 4063-9719

4


Sumário

4

12 Quem define as regras, você ou a TV?

A escola da vida e suas lições preciosas

Cuidar do corpo e do espírito é um importante aprendizado que começa na infância”

6

18 trabalhe sustentável

Saúde mais saudável

Podemos compreender e praticar o sentido espiritual de nossa profissão

Viva mais e melhor

8 10

Como a educação que praticamos pode colaborar com as metas da reencarnação

20 Santiago Amadeu

Curta Leitura Espírita

Um homem carrega em sua conciência o bem e o mal que praticou, bem como seus motivos.

Quebre padrões

Espiritualidade, doenças mentais e a evolução do cérebro humano Distantes de uma vivência espiritual, cada vez mais pessoas adoecem no mundo

22 Folha da Criança Viva mais e melhor

5


Quem define as regras, você ou a TV? Cuidar do corpo e do espírito é um importante aprendizado que começa na infância”

Texto Desconhecido

6


S

eu filho vai viver dez anos menos que você: esta afirmação é feita por Jamie Oliver, chef e apresentador de programas de TV, no documentário “Muito além do peso”, produzido por Marcos Nisti e dirigido por Estella Renner. Líder do movimento Food Revolution, que pretende cuidar da saúde das pessoas mudando seus hábitos alimentares, Oliver adverte: o “ambiente alimentar” que construímos nos adoece e mata. Uma consequência disso é que, com produtos industrializados de alto teor de açúcar, sódio e gorduras, associados a uma vida cada vez mais sedentária, crianças vêm sofrendo e doenças que já foram consideradas de adultos: colesterol elevado, pressão alta, diabetes, doenças cardiovasculares, estresse e depressão. Outras consequências prejudiciais à saúde infantil são: desvios de coluna, lesões em articulações, pé chato, estrias e risco de gordura no fígado.

As crianças têm cada vez menos oportunidades de realizar atividades ao ar livre, gastar energia. Cada vez mais, seus brinquedos estimulam a inatividade.”

tante sobre a alma, que cumpre se considere cativa da carne.Para que essa prisioneira viva, se expanda e chegue mesmo a conceber as ilusões da liberdade, tem o corpo de estar são, disposto, forte”.

Sá & Guarabyra descreveram esta nossa condição, num verso de canção: “Preso nessa cela de ossos, carne e sangue, dando ordens a quem não sabe, obedecendo a quem tem...” Envoltos nas malhas da cultura, nem sempre sabemos a quem de fato estamos obedecendo, e a propaganda é detentora de um grande poder de persuasão. Quando vemos produEsta é uma realidade de nossos dias que nos tos anunciados, imaginamos que eles foram onvida a utilizarmos não só as informações aprovados por órgãos governamentais e são confiáveis disponíveis em livros e na mídia, seguros, que servem como nutrição para as pessoas que amamos e pelas quais somos mas também as orientações espíritas. Jorge, responsáveis. Mas, mesmo com a fiscalizaum espírito protetor, menciona em O evan- ção e as regulamentações, sobra ainda muito gelho segundo o espiritismo, a necessidade de a se entender e aprender, nesse universo da cuidar do corpo e do espírito. Afirma ele: “o nutrição e da saúde. Permanecemos consucorpo, segundo as alternativas de saúde e de mindo excesso de açúcar e gorduras, corantes, enfermidade, influi de maneira muito impor- conservantes, aromatizantes etc., enquanto

ingenuamente cremos tratar-se de comidas saudáveis e aptas a fornecer aos nossos filhos as substâncias de que necessitam. Mesmo a merenda escolar pede mais atenção. A chef estadunidense Ann Cooper, também entrevistada no mesmo documentário, vem trabalhando na adequação da alimentação em ambiente escolar, nos Estados Unidos, propondo receitas mais saudáveis sem ter de alterar o orçamento destinado a este fim. O problema nas escolas do Brasil é abordado em “Muito além do peso”. Ann Cooper também defende a ideia de que educação nutricional pudesse tornar-se uma disciplina escolar. Sedentarismo na infância Cuidar do corpo. Como podemos fazer isso? Prestando atenção aos seus sinais, realizando exames de rotina, fazendo exercícios, cuidando dos aspectos emocionais e, sem dúvida, daquilo que ingerimos habitualmente como alimento e bebidas. Algumas vezes, apenas ler o que dizem as letrinhas minúsculasdas embalagens pode esclarecer muita coisa. Por exemplo: você sabe do que é feita uma salsicha? Mas não é apenas nossa alimentação que tem problemas... As crianças têm cada vez menos oportunidades de realizar atividades ao ar livre, gastar energia. Cada vez mais, seus brinquedos estimulam a inatividade, porque são feitos para se apertar botões enquanto eles piscam, emitem sons e se movem sozinhos.

7


Trabalhe sustentável

Podemos compreender e praticar o sentido espiritual de nossa profissão

Texto Jayro Antunes

O trabalho é uma condição de sobrevivência na Terra. Quem não tem um emprego formal ou uma carreira (e mesmo quem se propõe a viver “à margem do sistema”) ocupa-se com tarefas relativas à sua própria subsistência, com as necessidades humanas básicas que H. D. Thoreau (1817-1862) apontou em seu Walden, ou a vida nos bosques: alimentar-se, vestir-se, abrigarse, aquecer-se. Para muitos seres humanos, trabalhar constitui-se num sacrifício e num fardo, aceito pela responsabilidade perante aqueles que de si dependem ou por temor de não contar com o numerário suficiente para suas despesas. Para outros, numa oportunidade de aplicar-se a uma atividade que gera sensação de autorrealização. Mas trabalho é mais que isso.

8


“ Perspectiva espiritual O livro dos espíritos nos oferece informações sobre a importância do trabalho, onde lemos que há nele dois propósitos: um, espiritual, o desenvolvimento da inteligência, razão pela qual a obtenção de alimento, de segurança e do bem-estar geral exige que o ser humano trabalhe; o outro, material, que é a conservação do corpo físico. “Sem o trabalho o homem permaneceria sempre na infância da inteligência” – afirmam os espíritos. Também se encontra contemplado na obra, o trabalho intelectual e, numa consideração bastante ampla, está dito que toda ocupação útil é considerada um trabalho, sendo que os próprios animais trabalham.

O Sucesso profissional não reverte necessariamente em aplausos e elogios, nem em altos lucros.”

de sua possibilidade. Pois que o Criador “quer que cada um seja útil, de acordo com as suas faculdades”, lemos na questão 680 da mesma obra.

e respeitar seus direitos, conservar a natureza e não desperdiçar seus bens, enquanto se realizam trocas comerciais ou de serviços que são justas.

Tudo nos leva a concluir que por trás da sobrevivência, do ganho material e da realização pessoal, há um sentido espiritual que ilumina o trabalho, o qual podemos perceber ou não. Há um cumprimento de desígnios divinos ao desempenharmos uma tarefa de relevância social neste planeta.

“Não há quem não possa fazer o bem.” – lemos na questão 643 de O livro dos espíritos, que prossegue: “Somente o egoísta nunca encontra ensejo de praticá-lo. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem. [...] Porque, fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário”.

Agregando valores ao trabalho

Aceitar que há espiritualidade envolvida em nosso exercício profissional não significa termos de adotar uma crença religiosa e, nem Sobre os animais acrescenta-se uma infor- mesmo, realizar alguma prática ou ritual. Sigmação importante: “provendo às suas ne- nifica tomarmos consciência de nossa missão cessidades materiais, eles se constituem, in- perante o contexto planetário, de servir ao conscientemente, executores dos desígnios próximo, compreendendo que nossas ações do Criador e, assim, o trabalho que executam trazem consequências para nós mesmos e também concorre para a realização do objeti- para o mundo, de modo que nos alinhemos vo final da natureza, se bem quase nunca lhe com propósitos mais amplos, mais fundadescubrais o resultado imediato” (O livro dos mentados em valores espirituais e mais susespíritos, questão 677). E até mesmo quem, tentáveis. por desfrutar de situação material confortáO sucesso profissional não reverte necessavel, não necessite trabalhar, ainda assim não se encontra dispensado de ocupar-se util- riamente em aplausos e elogios, nem em almente e de desenvolver a própria inteligência. tos lucros. Pelo contrário, o maior sucesso, do Quando tem recursos monetários, o objetivo ponto de vista da espiritualidade, está na sadessa circunstância é que a pessoa seja útil aos tisfação que se sente ao fazer o bem, promoseus semelhantes e pratique o bem na medida ver o bem-estar de outras pessoas, reconhecer

Quando agimos onde quer que estejamos, e no ambiente profissional não é diferente, podemos agregar valores àquilo que fazemos, por meio de nosso trabalho. Se for o conserto de um encanamento ou uma operação de importação, há ética e consequências ambientais implícitas. Se for uma encomenda recebida, pensa-se no uso que o cliente fará dele e no seu conforto, não apenas em contenção de gastos e elogios de superiores. Ao encaminhar o lixo e os resíduos à sua destinação, considera-se o menor impacto possível ao meio ambiente. Se você escolheu ser profissional liberal, se está na economia informal ou na vida alternativa, nada disso o impede de agir com algumas diretrizes espirituais básicas, como estas.

9


Santiago Amadeu Um homem carrega em sua conciĂŞncia o bem e o mal que praticou, bem como seus motivos. Texto Frederico Eckchidt

10


O dever é a obrigação moral, primeio para consigo mesmo e, em seguida, para com os outros.”

O

documento sobre a mesa de Santiago parecia um holofote em meio à escuridão. Algumas pessoas já haviam entrado e falado com ele. A secretária já havia passado alguns recados e, na sua memória, havia uma vaga lembrança de um telefonema. O documento era o foco e quase nada mais havia. Era outro futuro. Outro carro. Outra casa. Outros sorrisos, lugares, países... bastava estender a mão sobre ele e traçar uma linha tortuosa, com três pontinhos no final. Sua assinatura. Já havia lido e relido dezenas de vezes o conteúdo. Ninguém descobriria. Ninguém teria vontade de descobrir. Três empresas concorreram, ganhou a que fez a proposta intermediária. Passou o final de semana olhando aqueles números gigantescos, com tantos e tantos zeros enfileirados. Ele ganharia um milhão por ano por cinco anos. Cinco milhões, já O documento sobre a mesa de Santiago parecia um holofote em meio à escuridão. Algumas pessoas já haviam entrado e falado com ele. A secretária já havia passado alguns recados e, na sua memória, havia uma vaga lembrança de um telefonema. O documento era o foco e quase nada mais havia. Era outro futuro. Outro carro. Outra casa. Outros sorrisos, lugares, países... bastava estender a mão sobre ele e traçar uma linha tortuosa, com três pontinhos no final. Sua assinatura. Já havia lido e relido dezenas de vezes o conteúdo. Ninguém descobriria. Ninguém teria vontade de descobrir. Três empresas concorreram, ganhou a que fez a proposta intermediária. Passou o final de semana olhando aqueles números gigantescos, com tantos e tantos zeros enfileirados. Ele ganharia um milhão por ano por cinco anos. Cinco milhões, já depositados fora, onde ninguém descobre. A empresa era sólida e ninguém questionaria o fato de as três que concorreram serem do mesmo proprietário, afinal, para que servem os laranjas? Santiago pegou a caneta e apertou levemen-

te a esfera gráfica sobre o papel, mas fechou os olhos, depois apoiou a cabeça na mão esquerda e suspirou. Todos faziam, por que somente ele seria descoberto? Tudo estava bem amarrado. Tirou a mão da cabeça e puxou a primeira gaveta. A secretária entrou e falou alguma coisa, qualquer coisa. Na gaveta aberta havia um livro, e nada mais. Uma brochura aberta na página 196 – capítulo 17 – item 7: “O dever”. Santiago bateu a gaveta com força, e sua mão direita agora tremia, fazendo a ponta da caneta quase perfurar o papel. O ar condicionado deixava a sala fria, mas, de sua testa, grossas gotas de suor escorriam, deslizavam pelo rosto. Cinco milhões! A liberdade financeira. “E este é só o primeiro”, falou seu nobre colega. Quase sem que ele comandasse sua mão esquerda, ela voltou a abrir a gaveta. Um calafrio correu pelo seu corpo, pois teve a nítida impressão que não fora ele que fez aquele movimento. A palavra “dever”, bem no meio da página, parecia querer saltar do papel. Sempre fora honesto. Chegara naquele posto guindado por aspirações sinceras.

Lutando contra a vontade do seu braço esquerdo, que parecia ter adquirido vida própria, Santiago bateu novamente a gaveta. Abrir O evangelho segundo o espiritismo era hábito antigo, desde os tempos de faculdade, sempre que alguma dúvida pesava em sua alma. A página 196, no capítulo 17, foi a que se abriu para ele, ao “acaso’’, naquela manhã, e passara o dia todo causando a guerra em sua mente. O certo era o certo, sempre fora assim em sua vida, mas... cinco milhões. Colocou o papel, sem assinar, numa pasta e saiu quase correndo do escritório. Precisava pensar durante a noite, sozinho, por isso deixou até o evangelho trancado na gaveta. Na pasta iam também documentos secretos que, se ele não resolvesse queimá-los e não assinar nada, precisavam ser muito bem escondidos, pois revelavam toda a trama. Nem quis descer pelo elevador. Buscou sozinho seu carro no estacionamento e partiu em alta velocidade. Precisava chegar logo em casa e refletir. Assim como não viu as pessoas durante o dia, não ouviu os recados da secretária, também não viu o sinal ficar vermelho. Em alta velocidade. Um ônibus.

O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo e, em seguida, para com os ... no final da tarde de ontem o chefe da Seoutros. O dever é a lei da vida: encontra-se cretaria de Finanças e Desenvolvimento Ecodesde os menores detalhes, assim como nos nômico da cidade, Santiago Amadeu, bateu violentamente seu veículo num ônibus escomais elevados atos(...) lar. Felizmente o ônibus estava sem passagei(...)Na ordem dos sentimentos o dever é ros e o motorista nada sofreu. No entanto, o muito difícil de ser cumprido, pois se en- secretário não resistiu aos ferimentos e veio contra em antagonismo com as seduções do a falecer durante a madrugada. O repórter interesse e do coração. Suas vitórias não têm policial do nosso jornal, José Pedro da Silva, testemunhos e suas derrotas não estão sujeitas por fatídica coincidência, passava pelo local à repressão. O dever íntimo do homem é go- no momento do acidente e foi o primeiro a vernado pelo seu livre-arbítrio, este aguilhão prestar socorro à vítima, bem como a recolher da consciência, guardião da integridade inte- uma série de documentos que se espalharam rior, o adverte e o sustenta, mas permanece, pela rua, tão forte foi o impacto da batida. muitas vezes, impotente perante os enganos Toda a documentação já foi entregue à poda paixão (...) lícia...

11


Espiritualidade, doenças mentais e a evolução do cérebro humano Texto desconhecido

12


“ Seu filho vai viver dez anos menos que você: esta afirmação é feita por Jamie Oliver, chef e apresentador de programas de TV, no documentário “Muito além do peso”, produzido por Marcos Nisti e dirigido por Estella Renner. Líder do movimento Food Revolution, que pretende cuidar da saúde das pessoas mudando seus hábitos alimentares, Oliver adverte: o “ambiente alimentar” que construímos nos adoece e mata. Uma consequência disso é que, com produtos industrializados de alto teor de açúcar, sódio e gorduras, associados a uma vida cada vez mais sedentária, crianças vêm sofrendo e doenças que já foram consideradas de adultos: colesterol elevado, pressão alta, diabetes, doenças cardiovasculares, estresse e depressão. Outras consequências prejudiciais à saúde infantil são: desvios de coluna, lesões em articulações, pé chato, estrias e risco de gordura no fígado. Esta é uma realidade de nossos dias que nos onvida a utilizarmos não só as informações confiáveis disponíveis em livros e na mídia, mas também as orientações espíritas. Jorge, um espírito protetor, menciona em O evangelho segundo o espiritismo, a necessidade de cuidar do corpo e do espírito. Afirma ele: “o corpo, segundo as alternativas

Distantes de uma vivência espiritual, cada vez mais pessoas adoecem no mundo”

de saúde e de enfermidade, influi de maneira muito importante sobre a alma, que cumpre se considere cativa da carne.Para que essa prisioneira viva, se expanda e chegue mesmo a conceber as ilusões da liberdade, tem o corpo de estar são, disposto, forte”.

também entrevistada no mesmo documentário, vem trabalhando na adequação da alimentação em ambiente escolar, nos Estados Unidos, propondo receitas mais saudáveis

Sá & Guarabyra descreveram esta nossa condição, num verso de canção: “Preso nessa cela de ossos, carne e sangue, dando ordens a quem não sabe, obedecendo a quem tem...” Envoltos nas malhas da cultura, nem sempre sabemos a quem de fato estamos obedecendo, e a propaganda é detentora de um grande poder de persuasão. Quando vemos produtos anunciados, imaginamos que eles foram aprovados por órgãos governamentais e são seguros, que servem como nutrição para as pessoas que amamos e pelas quais somos responsáveis. Mas, mesmo com a fiscalização e as regulamentações, sobra ainda muito a se entender e aprender, nesse universo da nutrição e da saúde. Permanecemos consumindo excesso de açúcar e gorduras, corantes, conservantes, aromatizantes etc., enquanto ingenuamente cremos tratar-se de comidas saudáveis e aptas a fornecer aos nossos filhos as substâncias de que necessitam.

sem ter de alterar o orçamento destinado a este fim. O problema nas escolas do Brasil é abordado em “Muito além do peso”. Ann Cooper também defende a ideia de que educação nutricional pudesse tornar-se uma disciplina escolar.

Sedentarismo na infância Cuidar do corpo. Como podemos fazer isso? Prestando atenção aos seus sinais, realizando exames de rotina, fazendo exercícios, cuidando dos aspectos emocionais e, sem dúvida, daquilo que ingerimos habitualmente como alimento e bebidas. Algumas vezes, apenas ler o que dizem as letrinhas minúsculasdas embalagens pode esclarecer muita coisa. Por exemplo: você sabe do que é feita uma salsicha? Mas não é apenas nossa alimentação que tem problemas... As crianças têm cada vez menos oportunidades de realizar atividades ao ar livre, gastar energia. Cada vez mais, seus brinquedos estimulam a inatividade, porque são feitos para se Mesmo a merenda escolar pede mais aten- apertar botões enquanto eles piscam, emitem ção. A chef estadunidense Ann Cooper, sons e se movem sozinhos.

13


A escola da vida e suas lições preciosas Como a educação que praticamos pode colaborar com as metas da reencarnação TextoRita Foelker

mas considerações podem ser extraídas. Thoreau tinha um propósito: não apenas viver, mas “sugar toda a seiva da vida”. Esta proposta poderia fazer parte de uma educação, na família ou na escola? Tal educação seria proveitosa e efetiva para os propósitos evolutivos do Allan Kardec entendeu a educação como espiritismo? um dos aspectos fundamentais da existência humana, com vistas aos valores baseados nas leis divinas e à melhoria intelecto-moral dos seres. Destacou o papel dos pais na orientação Thoreau e a educação além da escola das crianças e o papel da educação no pro“Viver” e “vida” são palavras que, jungresso das almas. tas, foram usadas nada mais e nada Emmanuel escreveu em Fonte viva que “Deus está em nós, quanto estamos em Deus. Mas, para que a luz divina se destaque da treva humana, é necessário que os processos educativos da vida nos trabalhem no empedrado caminho dos milênios”.

Temos visto atualmente o crescimento de uma visão educacional pragmática e utilitária, onde o objetivo é dominar conteúdos que possibilitem ingressar numa boa faculdade e construir uma carreira profissional, onde os valores espirituais, ou não são incentivados, ou aparecem apenas como metas complementares da educação. Distante daquela concepção espírita, tal educação destaca certos aspectos intelectuais, mas visa mais dominar conceitos que ampliar a curiosidade e instrumentalizar a vontade de conhecer e de ser uma pessoa melhor.

14

Educar segundo o espiritismo, contudo, não significa cumprir as etapas do ensino formal. Buscando o significado mais amplo do mergulho na vida, para o espírito imortal, deparei-me com um conhecido trecho de Walden, ou a vida nos bosques, de Henry D. Thoreau (1817-1862, que já foi citado nesta mesma edição do Leitura Espírita), de onde algu-

menos que 10 vezes nesse trecho de Walden, ou a vida nos bosques:

“Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontarme apenas com os fatos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido. Não desejava viver o que não era vida, a vida sendo tão maravilhosa, nem desejava praticar a resignação, a menos que fosse de todo necessária. Queria viver em profundidade e sugar toda a seiva da vida, viver tão vigorosa e espartanamente a ponto de pôr em debandada tudo que não fosse vida, deixando o espaço limpo e raso; encurralá-la num beco sem saída, reduzindo -a a seus ele-


A vida como dádiva pode começar a ser descoberta em nós, pela percepção e conhecimento de nós mesmos, pela gratidão pelo corpo que recebemos. No caso da criança, esse conhecimento parte da autopercepção corporal, dos cuidados consigo mesma, da compreensão da delicadeza de nossa constituição físiA educação escolar tem sua importante fun- ca, pensada para permitir pensar, sentir e agir ção, em nossa sociedade. Mas vem atenden- segundo a nossa vontade e nos melhorarmos do cada vez mais a um modelo capitalista e como espíritos. consumista, visando, antes, formar mão de obra que preencha postos de trabalho e de- Como trabalhar a consciência corporal? Vasempenhe funções, que oferecer amplo desen- lorizando a dança, o movimento, atividades ao volvimento das muitas habilidades humanas ar livre, expressão corporal, exercícios de teanecessárias à felicidade, como a criatividade, tro, produção de sons e ritmos usando partes a ética, a disciplina, a iniciativa, entre outras. do corpo, lembrando que o sedentarismo e a própria obesidade infantil são graves probleA pedagogia que vislumbramos a fim de que mas cujas estatísticas crescem na atualidade. a criança se perceba viva e apta a sugar seiva da vida em favor de seu desenvolvimento in- A vida como dádiva também se encontra na tegral, incluindo sua espiritualidade, seguin- alegria dos bons momentos, relembrados com do as visões de do Walden, sintetizadas neste prazer, quando vencemos o desafio, quando pequeno trecho, é uma pedagogia que nos chegamos ao alto de uma montanha ou ao fim apresenta a vida como dádiva, como escolha de uma jornada, quando estivemos em companhia das pessoas que nos compreendiam e e como harmonia. compartilhavam de nossas mais íntimas reflexões. mentos mais primários, e, se esta se revelasse mesquinha, adentrar-me então em sua total e genuína mesquinhez e proclamá-la ao mundo; e se fosse sublime, sabê-lo por experiência, e ser capaz de explicar tudo isso na próxima digressão.”

Como trabalhar isso, na prática educacional? Com música e com livros. Com fotos de moA primeira das três visões sobre a vida suge- mentos alegres, casos vividos e compartilhare que se apresente a vida como a grande e dos, brincadeiras que incentivem a alegria da infinita dádiva que recebemos. amizade e o companheirismo. A vida como dádiva

A vida imortal nos foi dada desde nossa origem como espíritos, dela não podemos fugir, nem abdicar, nem desistir. O perene aprendizado e caminhada rumo à felicidade são contemplados na trilha das reencarnações, embora cada passo, na fase humana da evolução, derive do exercício do livre-arbítrio. Viver, estar ligado a um corpo, segundo a compreensão espírita do processo reencarnatório, implica estar ligado a todas as moléculas dele. A ele transmitir impulsos e dele receber sensações. A vida presente é uma oportunidade de experiências internas e externas de aprendizado espiritual, possíveis não apenas por sermos seres inteligentes da Criação, mas pela ligação com um corpo físico.rs

A vida como dádiva se encontra ainda nas possibilidades diárias de decidir e renovar-se, excluir o que não serve e investir no bem. Isto pode surgir em fatos da vida de personalidades relevantes na história e na cultura. A vida como escolha A segunda visão extraída de Walden propõe mostrar que existem em nós e na sociedade padrões internos (pensamentos e emoções) que afirmam a vida e outros que a negam, e que escolhemos sempre qual dos dois apoiamos, recebendo as consequências. Consideraremos, para fins deste texto, “afir-

15


mar a vida” como compreender o propósito mais profundo do viver e disponibilizar-se para realizá-lo da melhor maneira possível. Afinal, a vida é a escola onde a sabedoria divina nos inscreveu e onde a evolução moral e intelectual ocorre. Viver é escolher. As escolhas conscientes diminuem o grau de sofrimento enfrentado e de arrependimentos. Quantos de nós já sofremos por escolhas que acabaram se mostrando equivocadas? Observar que somos seres que decidem e se constroem a partir de suas decisões será o objetivo permanente da tarefa do pai/educador, propondo, a esse respeito, questionamentos e refletindo junto aos educandos. Da necessidade de afirmar a vida decorre que as práticas educativas não podem negar nossas necessidades vitais. E não só isso, o educador precisa fazer-se atento ao movimento da vida, aos seus ciclos, às suas leis – algo se fez bastante presente, por exemplo, na pedagogia Waldorf. Para a atividade pedagógica, isso implica em recordar permanentemente que todo viver consciente é uma sucessão de escolhas que respeita a vida em sua mais sublime expressão. Um modo de tornar isso claro para a criança é apresentar-lhe como nossas decisões operam em nossas vidas. Mas não somente isso, pois elas também repercutem em ondas sucessivas de consequências que muitas vezes vão além da nossa possibilidade de conhecimento. Tal reflexão criaria o sentido da responsabilidade por si mesmo, pelo próximo e pelo planeta. O trabalho em torno desse item conscientizaria também para a escolha e a vivência das próprias escolhas como meios de transformação de si mesmo, do meio mais próximo e, ampliando o raciocínio, mostrando como aquilo que afirmamos ou negamos também afirma ou nega o destino do nosso planeta.

16

Aa harmonia exterior, que penetra pelos cinco sentidos materiais e pelos sentidos espirituais, provoca admiração e encantamento, compreensão da infinita inteligência de Deus, respeito pelos outros seres humanos, animais, vegetais... Para desenvolver esse sentido da harmonia exterior, passeios ao ar livre, brincadeiras no parque, no sítio, em momentos de atividade e momentos de quietude. Contemplação das grandes obras de arte produzidas em todos os séculos. Estas e outras possibilidades relacionadas ao próprio dia a dia, à sensibilidade para o que normalmente não nos chama a atenção no cotidiano, estão nas

“Temos visto atualmente o crescimento de uma visão pragática e utilitária, onde o objetivo é dominar conteúdos que possibilitem ingressar numa boa faculadade” mãos do educador para realizar este item da oportunidade da vida em si é algo educação viva. muito maior a ser experimentado em sua plenitude, de forma sauJá a harmonia interna pode ser incentivada dável, responsável e consciente. ao ouvir e interiorizar significados de histó- Estar vivo e sentir prazer em viver. rias e mitos. Os contos ajudam imensamente Reconhecer a vida em todas as a desenvolver o sentido de beleza e harmonia, instâncias, enquanto descobrimos refinando-o. nossas próprias faculdades e as A continuidade de momentos de percepção exercitamos para nos tornarmos da harmonia interna e externa acabará pro- seres melhores.

piciando o que vou chamar provisoriamente de “experiências de fusão” com o todo, cada vez mais refinadas, cada vez mais facilmente alcançáveis, que irão sedimentar as conquistas éticas, ajudar a ser e agir na justiça e na verdade, bem como reconhecer e reverenciar a beA vida como harmonia leza, não por raciocínio ou escolha passageira, A terceira visão da vida consiste em ajudar a mas como atitude permanente. perceber que a harmonia e a beleza fazem parte de uma vida satisfatória, por isso é importante cultivá-las dentro de si e em torno Evolução espiritual de si. Recebemos a vida como dádiva para exerciA harmonia, de todos os conceitos, talvez tar nossas faculdades e desenvolver nossas poseja aquele menos se presta a um registro inte- tencialidades; como exercício de liberdade de lectual. A sensação de harmonia surge de uma traçar nossos caminhos e como expressão da contemplação estética. Por isso, arte, música, harmonia das leis divinas. Propiciar à criança o contato com a natureza são importantes aqui. conhecimento intelectual é importante, mas a


17


Saúde mais saudável Viva mais e melhor

Texto CRISTINA SARRAF

18


Espiritualizar-se não é ter uma religião ou desprezar a vida material, e sim, é promover o autoconhecimento e buscar ser si mesmo.”

O médico e palestrante Rubens Cascapera Jr. sempre surpreende pelo didatismo de suas explanações sobre temas espíritas, relacionando-os com nossa saúde espiritual, emocional e física. As mais difíceis questões ele transforma em fáceis, através de comparações ou pequenas parábolas elucidativas. Recentemente, transportou para o papel, através dessa forma facilitadora e clara, suas ideias e algumas das muitas experiências na área médica, lançando um livro fácil de ler pela estética escolhida e fácil de entender pela clareza das noções expostas. O título, Saúde mais saudável, explica-se por si e nos encaminha para muitas reflexões sobre como pensamos e como vivemos as circunstâncias da nossa vida, estabelecendo como consequência, saúde ou doença. Por isso, o subtítulo: Viva mais e melhor. Dividido em cinco partes: Nível Físico, Nível Emocional, Nível Mental, Nível Espiritual e Doenças, o livro se torna muito útil para espíritas e não espíritas, na medida em que nos mostra como funcionamos em cada um desses níveis e como podemos nos ajudar a viver de forma mais saudável. Afinal, tudo começa dentro de nós mesmos, pela forma como entendemos as coisas e nos posicionamos diante delas.

Na apresentação, o dr. Rubens informa que mostrará uma visão renovada em relação a muitos dos conceitos sobre saúde e argumenta que “ter outra visão de uma mesma situação, pode trazer a solução”. Ele nos conta que, das inumeráveis experiências como médico, a que mais o marcou foi ter sido, numa ocasião, ele mesmo, o doente. E aplicando em si os modelos de recuperação que ensinava aos pacientes, descobriu a importância de mantermos nossa energia, facilmente esvaída pelas ideias negativas, pelas emoções descontroladas e pela alimentação equivocada. O que o levou a renovar seu entendimento espírita e médico, em relação à ação do espírito sobre o próprio corpo e o papel da doença em favor de nosso progresso espiritual. O entendimento espírita, deu ao autor a noção clara e precisa de que espiritualizar-se não é ter uma religião ou desprezar a vida material, e sim, é promover o autoconhecimento e buscar ser si mesmo, entendendo-se através dos sinais que o corpo apresenta, demonstrativos de como está nossa saúde emocional e espiritual. O dr. Rubens Cascapera é médico clínico geral, ortomolecular, homeopata, e , juntamente com a farmacêutica bioquímica Joelly Pucci, apresenta o programa de rádio “Allegrum vivi”, pela Rede Boa Nova de Rádio.

19


Quebre padrões Curta leitura espírita Texto RITA FOELKER

20


Somos viciados em hábitos mentais. Nem sempre eles nos ajudam a viver bem, nem sempre facilitam nosso dia, algumas vezes aparecem para simplesmente impedir de enxergar as coisas por outra perspectiva ou para instalar aquela covardia que não deixa vislumbrar possibilidades reais de mudança.”

– e até espíritas –, ao mesmo tempo em que nossos padrões de pensamento e de comportamento negam isso explicitamente. Não reconhecemos nossos hábitos, nossos desejos e nosso estilo de vida como contraditórios de nossas crenças. Vivemos com impulsos que A sociedade em que vivemos, a educação, a revelam consumismo, ambição e competitiviconvivência social nos impuseram padrões. dade, sem notar. Padrões de comportamento. Padrões de deseCrescemos, porém, acreditando na moldura jos. Padrões de vida. dos padrões, então não os questionamos e os Gostamos deles? São compatíveis com nos- seguimos. Para nossa tranquilidade ou dessas crenças espirituais? Nem sempre... O pro- conforto. fessor Hermógenes escreveu que “materialista Ocorre que padrões são invenções humanas não é aquele que verbalmente nega o espírito. que só servem pra aprisionar, primeiro, e, em É quem, não obstante, se diga espiritualista, seguida, criar frustrações... São como drogas. vive neste mundo como se só acreditasse na Contudo, uma vez percebidos e confrontados, matéria, sua vida é uma busca incessante de eles começam a perder o seu poder sobre nós. satisfações materiais e haveres e prazeres.” Então, temos aqui um exemplo dos padrões: A boa notícia: no começo você pode sentir podemos afirmar que somos espiritualistas falta, mas depois a abstinência passa... Mas eles ali estão e, se não os reconhecermos, se não os revisarmos, se não descartarmos aqueles que não nos servem mais, ficam atravancando nossa oportunidade de ter uma vida satisfatória.

CURTA LEITURA ESPÍRITA é um canal de relacionamento dos colaboradores do Jornal Leitura Espírita com seus leitores e objetiva enviar pequenos textos de conteúdo espírita, inéditos e edificantes, nos mais diversos estilos (crônica, conto, ensaio, crítica, resenha, reflexão...). Esperamos que você o curta.

21





Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.