Leitura Espírita #15

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/// Editorial

Por que “especial” A Edição 15 da revista Leitura Espírita (Especial Hermínio Miranda) é especial por ser sobre Hermínio, porque tem mais páginas, mas também porque a pesquisa, os contatos e o recebimento dos textos foram cheios de bonitas e fundas emoções. Aprendemos sobre seus 93 anos de vida, vimos fotos de sua juventude e conhecemos melhor a pessoa especial que ele sempre foi. Conversamos com Ana Miranda, sua filha, que nos trouxe o relato emocionante dos seus últimos meses neste planeta. Tivemos contatos com seus amigos Richard Simonetti e Suely Caldas Schubert, autores e expositores espíritas que aqui o homenageiam e lembram a sua amizade.

Recebemos uma análise das suas reencarnações reconhecidas por ele mesmo, através de conversas e em textos de seus livros, num artigo escrito por Alexandre Rocha, editor da maior parte de seus livros. Lemos mensagens de pessoas que tiveram a alegria de conhecê-lo e manter contato pessoal, por carta ou email. Vimos muitas fotos inéditas que registram uma vida em família, uma vida de trabalho, uma vida de estudo e pesquisas teóricas e práticas, relacionadas ao espiritismo. Tudo isso faz, desta, uma edição realmente especial, para ser lida e guardada como testemunho da presença, entre nós, de um espírita, autor e ser humano que nos deixou incontáveis contribuições.

/// Sumário

06 Como conquistar respeito 08 Homenagem - Ao querido amigo Hermínio Miranda, com gratidão 12 Lendo e comentando - Em meio às mais importantes revoluções religiosas do Ocidente 18 Despedida… 24 Livro - Os procuradores de Deus 26 Biografia - Nesta vida, foi Hermínio... 28 Em memória - Ele fez serão 32 Mensagens

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Edição Especial: H e r m í n i o M i ra n d a

Expediênte: Coordenação editorial e Jornalista responsável Rita Foelker MtB 66522SP redacao@leituraespirita.org Coordenação administrativa Magno Azevedo contato@leituraespirita.org Comercial Silvia Beraldo comercial@leituraespirita.org

Os colaboradores devem enviar seus artigos para redacao@leituraespirita.org . Os artigos devem ser inéditos, ter no máximo 4300 caracteres, contando os espaços, incluir as referências à bibliografia consultada e um minicurrículo do autor. Os anúncios e informes publicitários são de total responsabilidade de seus idealizadores. Os artigos assinados não necessariamente representam a opinião do jornal.

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É permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

Colaboradores desta edição: Alexandre Rocha, Ana Maria Miranda, Luismar Ornelas de Lima, Richard Simonetti e Suely Caldas Schubert

A Revista Leitura Espírita é uma publicação independente e tem como finalidade divulgar conceitos e ideias espíritas.

Tiragem: 5.000 Periodicidade: Bimestral

contato@leituraespirita.org www.leituraespirita.org

PARA ANUNCIAR:

(11) 4063 9719 comercial@leituraespirita.org 5


Como conquistar respeito Hermínio Miranda nos deixa uma obra e um exemplo de vida notáveis

Respeito é uma questão das mais prementes em nossa sociedade. Afinal, grande parte dos conflitos entre as pessoas surge por dois motivos. Pode ser por uma falta de respeito originária, uma ação desrespeitosa. Ou, então, pela reação a uma palavra ou ato considerado desrespeitoso.

que expressam respeito – gestos, em si, também respeitáveis. Trata-se de procurar entender, nesse caso, primeiramente, como uma pessoa se torna respeitável, de um modo especial, na sua profissão ou na vida social, nas artes, na literatura. E mesmo que possamos falar de vários escritores e estudiosos do espiritismo que realizaram isso, pensamos neste momento em Hermínio C. Miranda, cuja partida para o Mundo de Lá desencadeou uma série de manifestações de admiração e carinho. De grande e merecido respeito.

A ausência do respeito (esse ente invisível, enquanto sentimento), no entanto, traz um pesado ônus ao próprio planeta, pois da mesma forma que não se respeita o próximo, muito menos se respeita a Natureza. E o problema pode nem se extinguir na vida presente, pois eventualmente persiste entre almas desencarnadas, entre encar- Respeito que foi construído por ele, numa trajenados e desencarnados, e vice-versa. tória honesta e humilde, de pesquisas sérias e conO amor está contido na máxima segundo a qual clusões respaldadas em amplo trabalho de leitura devemos fazer aos outros como gostaríamos que e experimentação, com suas próprias atitudes que nos fizessem. Já o respeito está contido na instru- expressavam respeito às pessoas, ao espiritismo e ção segundo a qual não devemos fazer aos outros, seus postulados, ao conhecimento em sua capaaquilo que não gostaríamos que fizessem a nós. cidade de abrir as mentes e gerar transformações. Se ela for interiorizada por um número crescente E houve também, indubitavelmente, o amor que de pessoas, teremos um acréscimo de paz e pro- trazia em si, testemunhado por aqueles que o cogresso moral no mundo. Mas esse é o lado passivo nheceram mais de perto. do respeito, aquele que refreia impulsos. Hermínio deixa um espaço vazio. Que seu Podemos citar também as atitudes e condutas geradoras de respeito, que constituem o seu lado ativo: os atos respeitáveis, as carreiras e biografias respeitáveis. E não nos esqueçamos dos gestos 66

exemplo nos inspire a continuar semeando respeito, conhecimento e belas atitudes, no Mundo de Cá, onde ele nos deixou um bonito legado e muitas saudades.


Suas atitudes expressavam respeito Ă s pessoas, ao espiritismo e seus postulados 7


/// Homenagem

Ao querido amigo Hermínio Miranda, com gratidão Sua vida, sua prática e seus livros se uniram numa única obra de humildade e de comprometimento com a filosofia espírita

Por Suely Caldas Schubert

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“Sou aquele que procura viver consciente de estar sempre, onde quer que esteja, na presença de Deus” Há livros que você lê a vida toda. O tempo passa, a vida se renova, e essas obras preciosas o acompanham. Não me refiro ao Evangelho e nem à Codificação, nem aos clássicos do espiritismo, pois estes são bastante óbvios, refiro-me a outras obras e autores. Como estudiosa dos temas relacionados com a mente, com assuntos ligados à psiquiatria e à psicologia e, mais expressivamente, com aqueles da área espiritual e mediúnica, tenho especial carinho pelos que são denominados de livros de cabeceira, que estão sempre à mão, para releitura e consultas. Hoje em dia são muitos, é preciso que estejam na estante em prateleiras distintas destinadas aos prediletos, ou empilhados na escrivaninha. Posso esclarecer que entre tais estão alguns de nosso querido amigo Hermínio Miranda, já bem amarelados e compulsados. Conheci essa pessoa notável e doce, Hermínio Corrêa de Miranda, há mais de 25 anos, primeiramente através da leitura do Diálogo com as sombras e das obras que se seguiram e que fui descobrindo a cada lançamento. Mais adiante vim a conhecê-lo pessoalmente, e posso afirmar que foi um encontro – ou reencontro – marcante em minha vida. Ele veio a Juiz de Fora, onde resido, por duas vezes a meu convite, no ano de 1989 e depois em 1991, quando estava como diretora da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora. Simples como o são os verdadeiros sábios, e, por isso mesmo, carismático, pois esses seres especiais atraem-nos de imediato, ouvi-lo era um prazer intelectual

e emocional, visto que a sua proximidade pede do meu lar por mais de 50 anos. Divaldo algumas vezes viu o egípcio, porém, sem trazia-me imensa alegria. relatar-me a vidência. Somente quando Tenho comigo algumas cartas valiosas eu mesma comecei a pressentir a sua preque ele enviava, habitualmente em resposta sença é que o médium baiano contou-me às minhas, porque àquela época não contáaspectos profundos que me ligavam ao tal vamos com as facilidades da internet. Em espírito. Claro que fui logo perguntando: anos mais recentes começamos a corres“– Mas por que você nunca me contou?” pondência através de e-mails. “– Não era o momento, havia necessidade Visitei-o em seu lar, no Rio de Janeiro, no que você amadurecesse, que você mesma o bairro Botafogo, recebendo-me com frater- identificasse, pois tudo vem a seu tempo”, nal afeto, onde ficamos, eu e o amigo que le- respondeu. vou-me de carro, a ouvi-lo falar do trabalho Tivemos, o espírito e eu, vários encontros a que estava empenhado àquela época. Posem muitas reencarnações, que não vem ao teriormente preferi visitá-lo em sua casa caso relatar. Assim, havendo o seu consende verão em Caxambu/MG, por ser mais timento para a realização da sessão mediúpróximo de Juiz de Fora, evitando assim o nica, fui com um pequeno grupo de amigos trânsito pesado da cidade maravilhosa. a Caxambu, tendo sido alugada uma casa Lembro-me de quando fui a Caxambu de veraneio, para o fim de semana e ali, foi pela primeira vez ele convidou-nos, a mim realizada a memorável reunião, tendo nose aos que me acompanhavam, a almoçar so querido Hermínio como doutrinador, num excelente hotel, convivendo ali com ou dialogador, como se diz hoje em dia. O ele por algumas horas, passeando, inclusive, egípcio manifestou-se por meu intermédio, mostrava-se, como de hábito, inicialmente por lindos recantos dessa cidade. irredutível, porém, aos poucos foi abrandando seu propósito, porque Hermínio tiO encontro com “o egípcio” nha autoridade espiritual sobre o comunicante, também relacionado com o pretérito Em outro momento, ano de 1989, combilongínquo. Dizer da emoção de todos nesse namos com Hermínio, de realizar uma reuconvívio com ele seria difícil. Ao término nião mediúnica especial, a fim de que ele da sessão mediúnica todos nos sentíamos dialogasse com uma entidade que chamáenvolvidos em suaves vibrações de amor e vamos de “o egípcio”, que me acompanhava de paz. por mais de 30 anos, influenciando a minha atual reencarnação. Essa minha história Menos de um mês após essa ocorrência, particular, eu a fui desvendando gradual- Hermínio escreve em carta datada de 13 mente, sendo mais tarde confirmada pelo de março de 1989, a seguinte observação: querido amigo Divaldo Franco, que é hós- “Sinto-me feliz por termos conseguido 9


ajudar de alguma forma ao nosso querido companheiro egípcio, A última conversa bem como ao pequeno grupo de trabalho que vocês compuseram A última vez que estive com ele foi na cidade de Caxambu, no para atender aos suicidas. É bem possível que aquele companheiinício de 2011. Nossa conversa girou em torno dos livros que ele ro e eu tenhamos nos conhecido no Antigo Egito, por onde andei lançara e outros que estava escrevendo aos poucos, sempre procupor mais de uma vez. Veja a introdução de meu livro A memória e rando com coragem e fé, produzir e ser útil. Ao seu lado, ouvino tempo. Aquela foi uma das vezes.” do-o falar suavemente, eu pensava em todos os instantes felizes Logo em seguida, atendendo a meu pedido, ele comenta a res- em que tive o ensejo de conviver com esse espírito iluminado, cuja peito de Elisabeth Barret Browning, citando que ela “teve pro- sabedoria e amor foram conquistados desde eras remotas. Todos fundo envolvimento com o espiritismo, ou melhor, com a me- os que tiveram esse abençoado ensejo sabem o que estou tentandiunidade, pois a doutrina espírita ainda não fora codificada por do transmitir. Ao final presenteou-me e aos amigos com um livro Kardec. Várias sessões foram realizadas com Daniel Dunglas notável, Memória cósmica. Já no carro comentamos, comovidos, se Home. Robert, o marido, não gostava nada disso e escreveu um seria, aquela, a última vez que o veríamos no plano terreno. longo poema para arrasar com Home, disfarçado com o nome Ao ter a notícia de sua desencarnação, logo pensei: hoje o céu está fictício de Mr. Sludge, que em inglês, significa ‘pegajoso, lamacenem festa! E meu coração alegrou-se por ele, que com todos os méto’.” Refere-se também a outros aspectos da vida dos Browning, ritos estava sendo recebido pelos protagonistas de seus livros, de pois Hermínio sempre apreciou esses comentários a respeito desuas memórias, aqueles que foram resgatados de tempos esqueles, que não transcrevo para não alongar-me demais. cidos, para registrar com notável competência, com elegância e amorosidade os feitos de cada um. Você fez, meu amigo Hermínio, um longo serão, como escreveu certa vez, que ele, o tão querido amigo Jorge Andréa e outros comAo saber da desencarnação de Hermínio, esse espírito tão espepanheiros, que já estavam com idade avançada e que permaneciam cial e amado, eu iria participar no domingo seguinte de uma reuem seus postos, estavam fazendo serão, após o trabalho. nião de amigos, que frequentemente realizamos, há alguns anos, Ave, Hermínio Miranda! Nós, seus amigos o homenageamos! para debatermos temas doutrinários ou não, os mais diversos; levei, então, algumas cartas da correspondência que mantivemos A você, o preito do meu reconhecimento e do meu amor. e, em conjunto, lemos os comentários de assuntos interessantes que abordava, sempre com expressões carinhosas, próprias do seu modo de ser. A correspondência guardada com carinho

Ressalto a seguir trecho da carta de 3 de dezembro de 1991, na qual Hermínio se reporta à questão de o espiritismo ser uma religião: “Igualmente grato pela sua acolhida ao meu despretensioso trabalho na Folha espírita (grifo dele) sobre o velho problema do espiritismo religioso. Acho que sem as conotações religiosas o espiritismo não passaria de mais uma filosofia, ainda que melhor do que todas as demais até hoje conhecidas. Não falta quem me considere um ‘místico’. E daí? Sou, e assumido. Não o místico desvairado a recitar fórmulas mágicas e envolvido em rituais inexpressivos, mas aquele que procura viver consciente de estar sempre, onde quer que esteja, na presença de Deus. Acho que temos muito mais coisas a fazer do que a ficar discutindo se o espiritismo é ou não é religião. Para mim, pelo menos, é, dado que nos oferece um roteiro racional e competente para Deus.” Nessa mesma carta ele cita o livro mais recente, o Diversidade dos carismas e, logo depois lançaria O evangelho de Tomé (atualmente sob o título O evangelho gnóstico de Tomé), tecendo comentários e detalhes dessa obra. Menciona que a FEB iria lançar a coletânea de artigos que assinava com o pseudônimo de João Marcus; que havia se encontrado com Divaldo, de quem era grande amigo, em São Paulo, no Congresso (não cita qual, deve ser o Congresso Espírita Estadual de São Paulo) “onde fui apenas para autografar livros, não para participar do evento, embora haja sido convidado. Os congressos me cansam muito, dado que já me pesam os 72 anos que farei logo ali, em janeiro próximo”. 10 10

SUELY CALDAS SCHUBERT é médium, escritora, pesquisadora e expositora espírita. Fundadora e dirigente da Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, em Juiz de Fora/MG, é autora de Cd’s, DVD’s e 15 livros, entre os quais Entrevistando Allan Kardec(FEB), Dimensões espirituais do centro espírita (FEB), Mediunidade: caminho para ser feliz (Didier) e Os poderes da mente

Para saber mais: A memória e o tempo, 328 p., Ed. Lachâtre Diálogo com as sombras, 366 p. Ed. FEB Diversidade dos carismas, 496 p. Ed. Lachâtre O evangelho gnóstico de Tomé, 272 p., Ed. Lachâtre Memória cósmica, 128 p., Ed. Lachâtre Um destacado médium de efeitos físicos e cura Daniel Dunglas Home (1833-1886) foi um médium escocês, que ficou conhecido por sua habilidade de levitar, esticar-se e manipular fogo e brasas sem se queimar. Sua mediunidade foi estudada por William Crookes e, tendo realizado sessões durante 35 anos, contra ele jamais se provou nenhuma fraude. Segundo Allan Kardec o descreveu na Revista espírita de fevereiro de 1858: “É um rapaz de estatura mediana, louro, cuja fisionomia melancólica nada tem de excêntrica; é de compleição muito delicada, de maneiras simples e suaves, de caráter afável e benevolente, sobre o qual o contato com os poderosos não lançou arrogância nem ostentação. Dotado de excessiva modéstia, jamais faz alarde de sua maravilhosa faculdade, nunca fala de si mesmo e se, numa expansão de intimidade, conta coisas pessoais, é com simplicidade que o faz e jamais com a ênfase própria das pessoas com as quais a malevolência procura compará-lo. Diversos fatos íntimos, de nosso conhecimento pessoal, provam seus sentimentos nobres e uma grande elevação de alma; nós o constatamos com tanto maior prazer quanto se conhece a influência das disposições morais sobre a natureza das manifestações”. (Redação)


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/// Lendo e comentando

Em meio às mais importantes revoluções religiosas do Ocidente As reencarnações de Hermínio Miranda, reveladas em seus livros, reuniões mediúnicas e conversas informais Por Alexandre Rocha

Um dos conceitos mais interessantes que Hermínio Miranda cunhou e desenvolveu em seus textos foi o das simetrias históricas: o mesmo espírito, em diversas das suas encarnações, estará envolvido em situações muito semelhantes, às vezes como ‘agente’ dessa situação, noutras como ‘vítima’. Para facilitar a análise dessas simetrias, Hermínio diferencia a ‘individualidade’ – o espírito, com a bagagem que vai acumulando em seu processo evolutivo nas diversas encarnações – da ‘personalidade’ – o mesmo espírito compreendido no contexto de apenas uma encarnação, limitado por questões genéticas, culturais, sociais e históricas. Hermínio desenvolve sua conceituação a partir de Allan Kardec, que, de maneira análoga, faz distinção entre ‘espírito’ (a individualidade, livre do corpo, vivendo na erraticidade), e ‘alma’ (a personalidade, espírito encarnado e, por isso, limitado pela união com o corpo físico). E este conceito de ‘simetria histórica’ passa a ser uma ferramenta utilizada por Hermínio para a análise da atuação do espírito em suas diversas encarnações. A partir das pistas deixadas nos textos escritos por Hermínio, baseados em regressões de memória que ele promoveu e informações de origem espiritual nas reuniões mediúnicas de que participou, é possível tecer uma descrição das diversas encarnações de Hermínio Miranda, segundo suas próprias convicções.

Templo de Osiris Abidos ( by Sebah, J. Pascal, 1823-1886) 12


O conceito de ‘simetria histórica’ é uma ferramenta utilizada por Hermínio para a análise da atuação do espírito em suas diversas encarnações

Sacerdote no Antigo Egito A encarnação mais antiga que Hermínio nos relata foi como sacerdote num templo egípcio (provavelmente o templo de Osíris, em Abydos), durante o reinado do faraó Ramsés II (1279-1213 a.C.). A história é narrada na introdução da obra A memória e o tempo. Não há maiores detalhes sobre essa vida. Chamo a atenção para o interessante período em que a história se passa. Ramsés II é filho de Seti I, primeiro faraó a reinar após a dinastia de Akenaton, que havia instituído o culto ao Deus único. Após sua morte, Akenaton foi sucedido no trono pela esposa (sob o nome de Semencaré) e, sucessivamente, dois auxiliares (Ay e Horemheb). A seguir, Seti I, acompanhado logo após por Ramsés II, irá restaurar a crença politeísta tradicional do Egito Antigo. Nesse período, certamente a revolução monoteísta de Akenaton ainda possuía seus adeptos, principalmente entre os iniciados, como era o caso dessa encarnação de Hermínio Miranda. Foi durante o reinado de Ramsés II que nasceu Moisés, um dos mais importantes nomes da história judaica. E, segundo a narrativa do espírito J. W. Rochester, na obra O faraó Mernephtah, durante o reinado do faraó subsequente a Ramsés II, que durou apenas 10 anos (de 1213 a 1203 a.C.), Moisés libertou o povo hebreu do cativeiro egípcio, partindo para Canaã. Na personalidade de um sacerdote, Hermínio foi testemunha de um dos mais importantes períodos da história religiosa do Ocidente. Tendo sido educado no templo, Moisés pode muito bem ter cruzado com o nosso sacerdote em suas atividades. (Fonte: Miranda, Hermínio. A memória e o tempo, “Introdução”, Lachâtre.)

Ilustração de um Sacerdote do egito antigo (by SDofB) 13



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