Revista do Cremepe - 2ª Edição

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2 1 O Museu da Medicina reúne interessantes objetos da prática médica do passado 2 O médico Gentil Porto é o atual presidente da Academia 3 Os belos vitrais que ornam o prédio do Memorial de Medicina seguem conservados

nele que se dava início aos trotes. Os calouros saíam de lá todos melados de tinta e seguiam até a Rua Nova”, lembra Gentil Porto, médico e atual presidente da Academia Pernambucana de Medicina. Segundo ele, essa localização especial e a beleza do lugar chamavam a atenção e também inspiravam alguns dos alunos, como Orlando Parahym, que dizia que o prédio tinha a sacralidade de um templo e fazia referência a uma Castanheira que sempre floria no início das aulas e as baronesas que desciam o Rio Capibaribe, anunciando as provas de final de ano. Após a transferência do curso para o campus da UFPE, em 1960, o casarão abrigou, por 19 anos, o Colégio Militar. Depois, foi estabelecido um convênio entre a Universidade e a Academia Pernambucana de Medicina, que havia sido fundada por Fernando Figueira em 1970, e que não tinha sede própria, para que a segunda passasse a administrar o prédio. Devido às condições precárias, só em 1980, a instituição de fato se instala ali e passa também abrir as portas para outras entidades. Anos depois, em

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1995, viria o processo de restauração do prédio e sua denominação como Memorial de Medicina de Pernambuco.

ACADEMIA Segundo Gentil Porto, no início, Fernando Figueira acreditava ser possível que a instituição gerisse todo o prédio, mas depois percebeu-se que isso não era viável e se manteve o comando-geral junto à reitoria. “As pessoas acham que nós gerimos isso tudo, vem até pedir emprego, mas não é assim”, pontua. O médico, que tem mais de 10 anos de Academia, e que já exerceu diversos cargos administrativos, assumiu a presidência em 2015 depois que o então presidente, Edmundo Ferraz, teve que se afastar por problemas de saúde. São 50 acadêmicos reconhecidos por sua atuação na medicina, mas também por outros atributos.

“Seguimos o ideal de Dr. Fernando Figueira. Acreditamos que o médico que sabe só de medicina, sabe muito pouco”, diz Gentil Porto. Segundo ele, a instituição defende algumas bandeiras importantes, como a da relação médico-paciente. “Combatemos o que eu chamo de obesidade tecnológica e desnutrição humanística. Esse time de velhinhos aqui está nessa luta. Ninguém pode ser contra a tecnologia, mas não podemos perder o foco que o ser humano é único, e que ele se alegra e sofre, precisa de conforto e carinho e isso que o médico deve fazer. Curar se possível, mas confortar e consolar sempre”, ressalta. A Academia tem o desejo de ser atuante na cena médica local, gerando ideias e discussões relevantes. Por isso tem buscado uma maior aproximação com as entidades de classe. “Aqui nós preservamos o passado, vivemos o presente e somos também contemporâneos do futuro”, explica Gentil Porto, reforçando que a Academia, o Museu e o Instituto de História da Medicina não devem viver apenas do saudosismo e ficar se lamentando em função de uma realidade que já não existe, deve preservar os registros do passado para a partir dele tentar entender o futuro. Atualmente, o lamento de todas as instituições que ocupam o Memorial é a situação de total abandono na qual se encontra a Praça Otávio de Freitas, encoberta por tapumes e com obra parada há mais de dois anos. “Esse ambiente tão especial, está se tornando ponto de drogas e prostituição. Já apelamos a vários órgãos, mas a situação não muda”, diz o presidente da Academia Pernambucana de Medicina. De fato, para que esse importante patrimônio do Estado volte a fazer parte da paisagem do Derby, as obras desse projeto precisam ser concluídas.

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