Revista do Cremepe - 2ª Edição

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REVISTA DO

CREMEPE Ano1 | Nº 2 | Mai/Jun/Jul 2017

SUICÍDIO É preciso quebrar o tabu

SEM FRONTEIRAS Conheça a organização médica que atua nas guerras e catástrofes MOTOS Acidentes superlotam hospitais públicos



EDITORIAL

SUICÍDIO E SILÊNCIO A reportagem especial de capa desta edição da Revista do Cremepe aborda um tema sutil e delicado para todos nós: o suicídio entre médicos. Antes de se tornar o assunto principal desta edição, travamos uma discussão sobre se deveríamos ou não tratar dessa questão. Chegamos à conclusão que se houvesse um recuo da nossa parte seria interpretado como um comportamento omisso. O que não combina com a filosofia de trabalho dos que fazem parte do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, uma entidade criada para zelar pelo exercício ético da medicina e que acompanha

atentamente as condições de trabalho dos colegas médicos. Por isso, temos constatado que em 2016 cresceu o número de médicos que cometeram o suicídio. Nesta reportagem, fizemos um levantamento completo sobre a consumação do suicídio não só entre médicos, mas também entre a população em geral. Ao dirigir o olhar para o histórico do problema, constatamos um acentuado preconceito por parte dos veículos de comunicação de Pernambuco e do Brasil no sentido de não noticiar informações sobre pessoas que atentam contra a própria vida. O argumento é que, ao fazer essa divulgação, a mídia, seja jornal,

rádio, TV, blogs, portais etc, termina incentivando outras pessoas a seguir o mesmo caminho. Mas, em cima desse argumento da mídia, há uma questão que não se consegue uma resposta satisfatória: Se é verdade que a publicização do ato do suicídio consumado pode encorajar e incentivar outros cidadãos ou cidadãs, por que é então que até hoje é noticiado em tudo quanto é veículo de comunicação o suicídio do Presidente Getúlio Vargas (foto), cometido há 63 anos? Essa pergunta pode pôr abaixo o argumento tão difundido de que não se deve divulgar notícia dessa natureza. Assassinato pode, estupro pode, roubo pode, tentativa de homicídio pode.....mas suicídio não pode!!!! Essa é a razão que nos levou a abordar tão delicado e sutil assunto não só para a categoria médica, mas para todos os pernambucanos e brasileiros.

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OPINIÃO Os riscos de ter um filho com microcefalia

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ENTREVISTA O médico Pedro Diniz fala sobre captação de órgãos

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CAPA O suicídio entre médicos, um assunto pouco abordado

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ESPECIAL O perfil da organização Médicos sem Fronteiras

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NA PONTA DA LÍNGUA Por que escrever é cortar palavras

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JURÍDICO O prontuário médico, aspectos controvertidos

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AÇÕES A rotina macabra dos acidentes de motos em Pernambuco

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PATRIMÔNIO O Memorial de Medicina de Pernambuco

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CARDÁPIO As curiosidades e as placas do Restaurante Pra Vocês

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ARTE & CULTURA The Crown, Zózimo Barroso do Amaral, Paulo Bruscky, entre outros

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HISTÓRIA Como nossos antepassados encaravam os aparelhos de ginástica

COLABORADORES

MAYRA ROSSITER Jornalista, da Assessoria de Imprensa do Cremepe

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EXPEDIENTE

JOELLI AZEVEDO Jornalista, da Assessoria de Imprensa do Cremepe

PRESIDENTE DO CREMEPE André Dubeux

CORDENAÇÂO EDITORIAL Italo Rocha

PROJETO GRÁFICO E ARTE Luiz Arrais

VICE-PRESIDENTE João Guilherme

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÂO Mayra Rossiter Joelli Azevedo

IMPRESSÃO Gráfica

REPORTAGEM Mariana Oliveira Mariana Araújo

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores.

CONSELHO EDITORIAL André Dubeux João Guilherme Ricardo Paiva

TIRAGEM 15.500 Exemplares

FOTO CAPA: HANS MANTEUFFEL

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HANS MANTEUFFEL Fotógrafo, com diversos trabalhos publicados em jornais e revistas

FOTOS: HANS MANTEUFFEL

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ADRIANE OHANESIAN/MSF

SUMÁRIO


OPINIÃO ADRIANA SCAVUZZI Ginecologista, médica da Universidade Federal de Pernambuco, Prefeitura da Cidade do Recife, pesquisadora colaboradora do IMIP

Microcefalia

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último ano não foi fácil para as mulheres que desejavam engravidar. Foi mais difícil ainda para as que já estavam grávidas. O temor de contrair o vírus da Zika e o risco de gestar um filho com microcefalia fizeram deste momento especial um suplício. Um único medo e várias realidades. A desigualdade de acesso à saúde foi responsável por diferentes atitudes no enfrentamento desta catástrofe. As afortunadas que puderam se mudar para Miami conseguiram um pouco de tranquilidade enquanto as muitas gestantes que não puderam sair do Alto José Bonifácio, bairro com maior incidência de casos de zikavirose, padeceram no calor de casas teladas sob o manto de repelentes em roupas quentes na tentativa de escapar do minúsculo inimigo. Nada, no entanto, se compara às dificuldades vividas pelas muitas mulheres que foram surpreendidas com o diagnóstico da microcefalia intra-úetro ou das que sem nenhum diagnóstico antenatal foram informadas após o parto de que seus recém nascidos eram doentes. Na imensa maioria dos casos eram mulheres usuárias do SUS que já sofrem as dificuldades de assistência obstétrica e tiveram muitos de seus direitos de acesso à saúde de qualidade subtraídos. Muitas gravidezes não planejadas em realidades onde planejamento familiar é direito reprodutivo não acessível. Situação que tornou o apelo às mulheres em idade reprodutiva para que não engravidassem feito por representante do MS, risível. No IMIP, onde trabalho e onde foram registrados 308 casos de recém-nascidos com microcefalia, pude presenciar e conhecer muitas histórias. Obviamente que cada

SUMAIA VILELA/AGÊNCIA BRASIL

família é única na forma de entender e de enfrentar essa tragédia. No olhar de algumas mulheres pude perceber a incompreensão do problema, em outras mais esclarecidas, a face era de terror. Em alguns casos as crianças estavam cercadas de olhares amorosos de parentes, especialmente avós e tios ávidos para ajudar. Em outros casos a mãe segurava sozinha o filho já sem pai. Em comum todas sem a concreta noção das enormes dificuldades vindouras e nós médicos perplexos e inertes no meio de tantas perguntas sem respostas. Meu filho vai andar? Vai falar? Vai ouvir? Eram questionamentos seguidos de breves silêncios e nenhuma certeza. Suspeitávamos que não existia um único padrão de agravo e que o acometimento estava vinculado a vários fatores como idade gestacional em que aconteceu a infecção e a resposta imunológica de cada mulher. O tamanho do perímetro cefálico considerado normal sofreu variações conceituais ao longo da epidemia e as incertezas pareciam não ter fim. Questões importantes sobre acurácia de exames laboratoriais e critérios ultrassonográficos para o diagnóstico foram implementadas e discussões sobre o direito de escolha da mulher sobre a manutenção da gestação foram retomadas. No epicentro do surto epidêmico das arboviroses, Pernambuco era manchete nos quatro cantos do mundo. É importante que fique claro que a epidemia em nada teve a ver com o acaso, foi fruto sim de um atávico descaso dos nossos governantes com a saúde das pessoas. Sem sombra de dúvidas foi uma tragédia anunciada. O que esperar após tanto tempo sem investimento em saneamento básico, o que esperar quando não se assegura sequer que as pessoas tenham água encanada em suas casas diariamente? Infelizmente a maioria da nossa população não está atenta de que é esta realidade inóspita a grande responsável por esta tragédia. Escutei relatos muito corajosos de mães guerreiras dizendo que amavam seus filhos e que lutariam por eles e com eles sempre, que se Deus tinha mandado essa crianças doente era porque sabia que elas eram fortes pra cuidar. Deus não tem nada a ver com isso. No entanto, a certeza de que é do homem a culpa pela miséria do homem não deve nos impedir de cultivar a fé em dias melhores e pedir que a mão divina proteja nossas crianças de um novo surto de microcefalia. Rezemos, pois.

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E N T R E V I S TA

Pedro Diniz

“Estamos notando uma lenta, porém significativa, mudança na população a favor da doação de órgãos e tecidos”

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DIVULGAÇÃO

Doação de órgãos

Morte e perda para uns e esperança e vida para outros A ORGANIZAÇÃO DE PROCURA DE ÓRGÃOS E TECIDOS (OPO), ORGANISMO SUPRAHOSPITALAR VINCULADO À SECRETARIA DE SAÚDE DE PERNAMBUCO, ATUA EM HOSPITAIS PÚBLICOS E PRIVADOS NA BUSCA POR POSSÍVEIS DOADORES | ENTREVISTA A JOELLI AZEVEDO

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m um momento marcado por violência contra juventude e mulheres, aumento dos acidentes de motocicleta, além da falta de investimentos governamentais em saneamento básico que configura diretamente o aumento dos casos de zika vírus em Pernambuco, tranquiliza saber que o número de doação de órgãos aumenta no país, através das campanhas de sensibilização. É o que faz a Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO), um organismo supra-hospitalar vinculado à Secretaria de Saúde de Pernambuco com o objetivo de apoiar e executar as atividades relacionadas à doação de órgãos e tecidos. A equipe da OPO atua em hospitais públicos e privados - Real Hospital Português, IMIP, Hospital Santa Efigênia (Caruaru) e no Hospital Dom Malan/Imip (Petrolina) - desenvolvendo um trabalho de identificação de possíveis doadores de órgãos. De acordo com o Portal Saúde do Ministério da Saúde, no primeiro semestre de 2016, o país bateu o

recorde de doador por milhão de habitante, com 1.438 doadores, 7,4% a mais que o mesmo período de 2015. As doações garantiram a realização de 12.091 transplantes de janeiro a julho, onde 89% dos transplantes foram realizados através do Sistema único de Saúde. Entretanto, para aumentar ainda mais os números das doações é preciso conscientizar a população para que haja o desejo da doação. Em Pernambuco, ainda há uma fila de 1220 pessoas aguardando o transplante de um órgão, e Petrolina, a 714 km da capital do Estado, se tornou referência na captação de órgãos. Tais esforços vão desde a sensibilização das famílias que perderam algum parente até o acompanhamento do transporte com o auxílio da Força Aérea Brasileira (FAB) que autorizou o uso da aeronave para o transporte de órgãos e tecidos. “Em um momento de luto por uma perda muitas vezes abrupta, a equipe deve acolher a família e perguntar a ela sobre o desejo da doação, isso exige técnica, empatia, sensibilidade, firmeza e um enorme

preparo emocional”, explica o médico Pedro Diniz, médico da OPO, nesta entrevista concedida à Revista do Cremepe. REVISTA DO CREMEPE – Como é o trabalho dos profissionais envolvidos na OPO? PEDRO DINIZ: O trabalho dos profissionais que compõem a OPO é tão importante quanto exigente, tanto nos aspectos técnicos, físicos e emocionais. A função primordial da OPO é identificar um paciente que pode ser um doador de órgãos e tecidos e fazer com que essa doação seja efetivada caso se confirme a morte encefálica. Para tanto, a OPO deve, a partir da identificação desse paciente, iniciar e orientar as medidas de manutenção clínica, acolher familiares e acompanhantes bem como entrevistá-los sobre a doação. Além disso, a OPO deve promover momentos e espaços de capacitação e sensibilização sobre a doação de órgãos e tecidos para profissionais de saúde e população em geral de modo a educar as

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E N T R E V I S TA pessoas a respeito da importância do tema. REVISTA DO CREMEPE – Que momento levou à criação da OPO? Teve algum exemplo específico? PEDRO DINIZ: A OPO Petrolina foi criada em 2012 seguindo as normatizações ditadas pelas portarias ministeriais n° 2600 e 2601 de 2009. A necessidade de criação da OPO Petrolina deveu-se à iniciativa da Central de Transplantes do Estado de Pernambuco e do IMIP em descentralizar a causa da

PEDRO DINIZ: Posso dizer que há duas situações que exigem mais atenção pela equipe da OPO. A primeira é a manutenção clínica dos pacientes potenciais doadores. Muitas vezes são pacientes clinicamente muito graves e que são tratados, devido à superlotação dos serviços da região, nas salas de emergências. Isso exige plantões 24h da equipe de enfermagem da OPO. A segunda situação é a entrevista familiar. Em um momento de luto por uma perda muitas vezes abrupta, a equipe deve acolher a família e perguntar a ela sobre o desejo de doar os órgãos e

PEDRO DINIZ: Realmente o número de doações de órgãos em Petrolina aumentou substancialmente nos últimos anos. São várias as causas desse aumento. Em primeiro lugar, a OPO é uma equipe interdisciplinar composta, além dos médicos, por enfermeiras extremamente capacitadas ética e tecnicamente, que acreditam e lutam pela causa da doação e trabalham diuturnamente para que as mesmas aconteçam. Temos uma técnica para realização do eletroencefalograma (um dos exames necessários para a confirmação da morte encefálica)

“Temos um vínculo constante e profícuo com a Central de Transplantes do Estado e com as equipes captadoras” doação de órgãos e tecidos. Petrolina é um importante polo regional de saúde, sendo sede da VIII GERES e um dos municípios sede da Rede Interestadual PernambucoBahia. O Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco/EBSERH, por exemplo, é referência em urgências clínicas e traumatológicas para mais de 53 municípios da região. REVISTA DO CREMEPE – Qual situação exige maior atenção por parte da OPO?

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tecidos. Isso exige técnica, empatia, sensibilidade, firmeza e um enorme preparo emocional. REVISTA DO CREMEPE – Segundo dados da secretaria de Saúde de Pernambuco, Petrolina tem aumentado consideravelmente a captação de órgãos para doação. Em 2014 foram realizados 18 transplantes, em 2015, 45 transplantes e até a metade de 2016 foram realizados 32 procedimentos de doação de órgãos. A que você atribui este crescimento?

sempre disponível. Temos um vínculo constante e profícuo com a Central de Transplantes do Estado e com as equipes captadoras. Temos profissionais médicos, de enfermagem e psicólogos que, não são necessariamente ligados à OPO, mas que nos auxiliam na identificação dos pacientes, na manutenção clínica, nos exames diagnósticos e algumas vezes no acolhimento da família. Por fim estamos notando uma lenta, porém significativa, mudança na população a favor da doação de órgãos e tecidos.


REVISTA DO CREMEPE – O capítulo VI do Código de Ética médica regulamenta a doação e transplante de órgãos e tecidos. Ainda há algum receio da categoria médica sobre o procedimento? PEDRO DINIZ: Infelizmente, sim. A despeito do crescente apoio da categoria médica, infelizmente ainda é grande o receio em todos os aspectos que circundam a doação de órgãos. Ainda há, muitas vezes, resistência em iniciar e conduzir a manutenção clínica dos pacientes potenciais doadores, sob a alegação equivocada de que o paciente “já está falecido”. Há ainda receio em relação à condução dos exames diagnósticos, de ser a médica ou médico que vai atestar o óbito de uma pessoa que ainda está conectada à ventilação mecânica e com o coração batendo. Realmente a morte encefálica tem suas particularidades e, portanto, é importante a categoria médica se apropriar da legislação e das evidências sobre o tema, bem como da importância da doação de órgãos e tecidos. REVISTA DO CREMEPE – No Brasil, Lei Federal n.º 9.434, de 04 de fevereiro de 1997 conhecida como lei dos transplantes regulamenta a questão da doação. Esta norma também diz respeito à doação de órgãos proveniente de um doador vivo. Este procedimento também é sensibilizado e realizado em Petrolina? PEDRO DINIZ: Infelizmente ainda não. Não realizamos, ainda, nenhuma doação de órgãos e tecidos entre pessoas vivas. REVISTA DO CREMEPE – Como o campo da bioética se insere na questão da defesa da doação de órgãos?

PEDRO DINIZ: São inegáveis as questões bioéticas relacionadas à doação de órgãos e tecidos. E a sustentação dessas questões deve ser, sempre, o respeito ao paciente potencial doador e aos seus e a certeza que o objetivo do trabalho é o bem estar de outrem. A defesa da doação de órgãos carrega em si uma questão dialética: morte e perda para uns e esperança e vida para outros. É importante que todos (as) profissionais envolvidos estejam cientes disso e que a busca pela efetivação de uma doação não deve nunca ferir os preceitos éticos

Horizonte, Minas Gerais. Lá trabalhei como médico diarista de um dos maiores centros de urgência e emergência do estado, onde tive meu primeiro contato com o universo da doação de órgãos, uma causa que sempre defendi, mas que como médico pude realmente atuar. Quando comecei a trabalhar no HU/UNIVASF/EBSERH como diarista da UTI e plantonista da sala de emergência, o contato com o trabalho da OPO fez com que recebesse o convite em participar da equipe. Como médico a causa sempre me interessou. Pude cuidar

“As doações garantiram a realização de 12.091 transplantes de janeiro a julho, onde 89% das cirurgias foram realizadas pelo SUS” e morais que regem a medicina e as relações humanas. É preciso entender o potencial doador e sua família, e não apenas os receptores, como pacientes e, como tal, tratá-los dessa forma do início à conclusão do processo. Qualquer que seja ela. REVISTA DO CREMEPE – O que motivou, como médico, a se interessar por doação de órgãos? PEDRO DINIZ: Graduei-me e iniciei minha vida profissional em Belo

de muitas pessoas com doenças crônicas para as quais o transplante de órgãos era a única possibilidade de tratamento. Muitas receberam um órgão e pude ver a diferença na qualidade de vida e a renovação da esperança nos olhos delas e de seus familiares. Infelizmente também vi muitos falecerem esperando por um órgão em uma espera angustiante. E a minha motivação, bem como da OPO, é ver cada vez menos pessoas perdendo a batalha e mais pessoas vivendo mais, melhor e, fundamentalmente, com esperança.

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O médico pede NOS ÚLTIMOS MESES DE 2016, UM NÚMERO ALTO DE PROFISSIONAIS DA MEDICINA ATENTOU CONTRA A PRÓPRIA VIDA EM PERNAMBUCO, REFORÇANDO AS PESQUISAS QUE APONTAM A TAXA ELEVADA DE SUICÍDIOS NA CATEGORIA TEXTO MARIANA OLIVEIRA

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socorro GOOGLE IMAGES

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os últimos seis meses de 2016, foram contabilizados, em Pernambuco, o suicídio de oito médicos. Esse número alarmante chamou a atenção das entidades médicas para esse grave problema que é, ainda, um grande tabu para a sociedade. Vários estudos internacionais apontam que os índices de suicídio entre médicos são maiores do que na população em geral. Um estudo da American Foundation for Suicide Prevention indica que, por ano, entre 300 e 400 médicos cometam suicídio. Preocupados com essa situação, o Cremepe realizou um seminário para discutir a questão (ver box na página 12). Para a psiquiatra e conselheira da instituição Jane Lemos, é fundamental lançar um olhar sobre o tema, que segue, ainda, neste início do século XX, sendo obscuro, incerto e desafiador. A pergunta inevitável diante desses números é: Por que os médicos estão mais suscetíveis a cometer o suicídio? Para a psiquiatra, é preciso se levantar algumas questões, não há uma resposta simples ou única. Já na faculdade de medicina, os estudantes iniciam o curso sendo confrontados com a morte, nas aulas de anatomia. Depois, passam a lidar com a morte sempre, na luta para que ela não chegue aos seus pacientes. Ter a vida humana nas mãos seria por si só uma situação de alto nível de estresse, agravada pelo caos do nosso sistema de saúde. “Um médico que atua numa emergência do SUS vive diariamente momentos de muito estresse. Além disso, no próprio sistema suplementar, o profissional tem que trabalhar em demasia, atender um número enorme de pacientes. Muitos saem de um plantão e já emendam no outro e tudo isso gera estresse”, pontua Jane Lemos.

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C A PA FOTOS: DIVULGAÇÃO

Para a pediatra, professora adjunta da FCM/UPE, Mestre e Doutora (PhD) em Antropologia e Diretora da ADUPE, Tânia Falcão, esse contexto laboral pode facilmente levar o médico à síndrome de Burnout. O termo, do verbo inglês to burn out, significa destruir por excesso de fogo ou calor, causar colapso por exaustão, devido à excessiva demanda de força, energia e recursos. Numa perspectiva clínica, o termo passou a ser usado para denominar o comportamento dos profissionais de saúde que se sentiam “consumidos” pelo trabalho. “A síndrome de Burnout seria, então, um processo acumulativo que resulta em exaustão emocional, despersonalização e falta de realização pessoal. É crucial lembrar que esses fatores psicológicos são precedidos, no mais das vezes, por fatores sociais, como a mercantilização da medicina (sendo os médicos explorados por colegas e/ou planos de saúde ou no serviço público, tanto pelo volume de atendimentos exigidos quanto pela baixa remuneração), não alcance do prestígio social a que julga ter direito, más condições de trabalho, entre outros”, detalha a médica. Diante disso, a taxa elevada de suicídios entre os médicos é atribuída, principalmente, às características da profissão. Alguns estudos feitos em 1998 apontaram que esses profissionais geralmente colocam sua profissão acima de tudo, dão prioridade ao trabalho em detrimento à família, adiam planos pessoais, tendo como foco os objetivos das suas carreiras. “Os médicos terminam sendo considerados ativos, ambiciosos, competitivos, compulsivos, entusiastas e individualistas, podendo se frustrar facilmente em suas necessidades de realização e reconhecimento, como afirmou estudo de 1993. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria

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A psiquiatra Alexandrina Meleiro realiza pesqisas sobre suicídios entre médicos

Cerca de 96,8% das pessoas que morreram dessa forma tinham histórico de doença mental, diagnosticada ou não – a depressão e demais transtornos de humor figuram entre os mais frequentes (35,8%)

– APA, em estudo realizado em 2010, médicos têm maior risco de apresentarem depressão, alcoolismo e abuso de substâncias, que, quando não tratados adequadamente, podem levar ao suicídio”, complementa o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva. De modo geral, entre os transtornos mentais, a depressão é a patologia mais ligada ao suicídio. Cerca de 96,8% das pessoas que morreram por suicídio tinham histórico de doença mental, diagnosticada ou não – a depressão e demais transtornos de humor figuram entre os mais frequentes (35,8% dos casos). Em casos graves, não tratados, o paciente começa a desenvolver pensamentos suicidas. “O deprimido não desenvolve muito interesse por nada, tem dificuldade de realizar tarefas, vive com um sentimento de tristeza persistente, imagina que não vale a pena viver, a culpa também


O psiquiatra Antônio Geraldo da Silva diz que as doenças psiquiátricas ainda são estigmatizadas

pode aparecer, e surge um desejo de desaparecer”, descreve Jane Lemos. Claro que todo esse processo não se dá de repente, usualmente os atos suicidas são precedidos pelos gritos de ajuda (cry for help). Em seu artigo Suicídio entre médicos e estudantes de medicina, a psiquiatra e professora da USP, Alexandrina Meleiro afirma que os colegas próximos daqueles médicos que haviam cometido suicídio se referiam a mudanças de comportamento, tais como aumento da indecisão, desorganização, depressão por dois ou quatro meses antes do ocorrido. “Muitas vezes nessa sociedade contemporânea não nos damos conta do outro, não conversamos. Isso é muito complicado. Médicos de outras especialidades não estão usualmente preparados para perceber os sinais de suicídio nos pacientes em geral, imaginem entre os colegas”, diz Jane Lemos, salientando que a

Para Jane Lemos, a automedicação é um problema que merece atenção

categoria nem sempre tem facilidade em aceitar que o médico também adoece. Ainda durante sua formação, nos cursos de medicina, os estudantes terminam sendo estimulados a se verem como seres inabaláveis, quase deuses, o que dificulta uma melhor percepção da sua mortalidade e da possibilidade inerente de qualquer ser humano de padecer de uma doença. “Essa ideia de ser Deus é incutida nos médicos desde o processo de socialização primária e secundária (construída pelo grupo social, através da família e da escola), reforçada na academia, assumida na vida profissional. Assim, a representação pode ser incorporada no ser do indivíduo. Mas ser Deus em tempo integral pode ser muito trabalhoso no tempo e no espaço, o que favoreceria um certo descuido com as dimensões humanas, física e mental do médico”, reforça Tânia Falcão.

Alexandrina Meleiro também vê uma clara relutância da própria população em aceitar que as mesmas pessoas responsáveis pela sua saúde podem padecer de alguma doença, em especial de um transtorno mental. “Os médicos de diversas especialidades não só evitam procurar a ajuda psiquiátrica como não a indicam diante de sintomas que podem indicar transtornos mentais. Há uma tendência geral que os leva à automedicação ou à consulta informal com um colega, deixando para procurar um psiquiatra apenas com o agravamento da situação. Isso se deve ao estigma que paira sobre a psiquiatria, os psiquiatras e seus pacientes, o que faz o médico não procurar ajuda por medo de ser estigmatizado”, descreve Meleiro no artigo Suicídio na população médica: qual a realidade?. Tânia Falcão acredita que é pouco provável que algum médico negue a existência da depressão

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C A PA enquanto doença, mas vê uma dificuldade real de muitos deles em encará-la, por tratar-se de uma doença estigmatizante. “Dependendo da intensidade do componente depressivo, pode acarretar no portador sentimentos de inferioridade, baixa autoestima, frustração, desmotivação pelo trabalho, desinteresse por pessoas e até pela própria vida. Esses sintomas poderiam ser atribuídos pelo médico ao cansaço crônico e não associados à depressão, o que tornaria mais difícil a busca de ajuda. Isso pode mesmo

Médicos não psiquiatras quase nunca estão preparados para perceber os sinais de um possível suicídio, nem entre os pacientes, nem entre os colegas de profissão

representar um estado de negação, ou tentativa de não se confrontar com o problema da depressão”, diz. Antônio Geraldo da Silva aponta que, entre os motivos que levam os médicos a evitar ou adiar a visita ao psiquiatra, estão o conhecimento das implicações dos sintomas e o orgulho profissional, que o faz acreditar que o mesmo deveria estar apto a diagnosticar e tratar a sua própria doença.“No caso do tratamento de paciente médico, é importante lembrálo dos perigos do autodiagnóstico e da automedicação, enfatizando

Entidades Médicas promovem simpósio sobre suicídio JOELLI AZEVEDO Segundo registros das entidades médicas de Pernambuco, do final de 2015 até setembro de 2016, oito médicos se suicidaram no Estado, outros tantos tentaram acabar com suas vidas e não conseguiram – a OMS considera que de cada suicídio completado existem de 20 a 40 tentativas. Porém o suicídio ainda é um assunto negligenciado pela sociedade, não se fala claramente das causas e consequências deste mal. Com o objetivo de discutir o tema e entender as causas desse processo, as entidades médicas de Pernambuco – Cremepe, Simepe e Ampe em parceria com a Sociedade Pernambucana de Psiquiatria – SPP, realizaram um simpósio sobre suicídio, na sede do Conselho, no Espinheiro. O público do evento eram os médicos não psiquiatras, estudantes e residentes. O encontro foi gravado e está disponível no site do Cremepe: www.cremepe. org.br. A abertura do encontro contou com a participação do presidente do Cremepe, André Dubeux, e da coordenadora do evento, a conselheira Jane Lemos. As entidades médicas estavam representadas pelos presidente e vice-presidente do Simepe, Tadeu Calheiros e Cláudia Beatriz; presidente da AMPE, Helena Carneiro Leão; diretoria da

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Sociedade de Psiquiatria com Frederick Lapa Filho; Inspetoria de Saúde do Comando Militar do Nordeste com Ângela Tavares e com o representante do Centro de Valorização da Vida, Roger Barros. De acordo com o presidente do Cremepe, é preciso discutir mais o assunto com a sociedade. “Em 2016, tivemos oito colegas que se suicidaram, então, este assunto está na discussão interna dos Conselhos. Sabemos que não é uma particularidade só do médico,

a sociedade como um todo clama por essa discussão”, explicou Dubeux. O encontro também chamou a atenção do residente de medicina de família e comunidade, Carlos Henrique, que veio ao evento porque atende pacientes com pré-disposição ao suicídio. “O meu maior interesse é por conta dos meus pacientes, pois muitos deles têm depressão, transtorno afetivo bipolar ou outra patologia ligada à tentativa de suicídio. Toda semana atendo pelo menos dois que


FOTOS: DIVULGAÇÃO

O estresse vivido nas emergências pode afetar a saúde dos médicos

têm pensado em suicídio, por isso, achei extremamente importante participar do encontro para ficar atualizado, ouvir outras pessoas, experiências e de alguma forma ajudar meus pacientes” – disse.

CAMPANHA - Vale salientar que a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) trouxe para o Brasil a campanha internacional Setembro Amarelo, idealizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2015. O Setembro Amarelo visa à prevenção do suicídio e a defesa da vida. A meta principal é combater o estigma que envolve o tema e informar a população, incentivando a mídia a falar sobre o assunto. A primeira conferência do simpósio foi ministrada pela a professora e doutora Alexandrina Meleiro, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria que abordou o tema “Suicídio entre médicos: um assunto negligenciado”.

a necessidade de se procurar a especialidade adequada para o correto tratamento, no caso, a psiquiatria. Quando ele não procura especialista de modo formal, termina iniciando o tratamento sozinho, se automedicando, mudando doses e nem sempre com uma adesão correta ao tratamento”. O fato de ter o poder de se automedicar, de prescrever para si mesmo medicações controladas, cuja atuação precisa ser acompanhada de perto, não pode ser desprezado. Não é a toa, que há um grande número de médicos com problemas de

Segundo ela, o suicídio continua sendo um tabu e a complexidade do tema compreende múltiplas faces, uma vez que envolve aspectos filosóficos, biológicos, sociais, psíquicos, jurídicos, religiosos e culturais. Alexandrina Meleiro fez um alerta para o risco iminente de suicídio em função de desespero, depressão e dependência química. De acordo com dados atuais da OMS, cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Estima-se que para cada pessoa que consegue se suicidar 20 ou mais tentam sem sucesso e que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a cada ano poderia ser previsto e evitado. O suicídio é atualmente uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais

de 60 anos. Ainda conforme informações da OMS, a média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos, em particular nos países em desenvolvimento. Cada suicídio ou tentativa provoca uma devastação emocional entre parentes e amigos, causando um impacto que pode perdurar por muitos anos. A médica ainda acredita que o suicídio é uma epidemia “silenciosa” pois é “um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente, intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal”, definiu. Dando continuidade às atividades, o psiquiatra Antônio Peregrino, fez uma abordagem voltada para os médicos que não atuam na área da psiquiatria. Apresentou a conferência “A depressão desmistificada”, onde mostrou a depressão na prática clínica. “Depressão é uma palavra muito” interessante e pode significar sintoma, muitas vezes falamos de humor deprimido como sinônimo de tristeza ou impotência, ou seja, eu digo que alguém está deprimido pelo fato de estar vendo o humor desta pessoa em outros casos falamos depressão como uma síndrome - um conjunto de sinais, de sintomas, que constituem o que a gente chama de síndrome depressiva - tristeza, falta de prazer, de alegria, cansaço, desesperança, e vemos a depressão como um transtorno’, explicou. Por fim, a psicóloga Luciana Groppo, trouxe a abordagem psicoterapêutica relacionada ao tema.

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Falta de diálogo sobre o assunto aumenta cada vez mais o tabu MARIANA ARAÚJO Um dos grandes tabus no combate ao suicídio é a falta de diálogo sobre o assunto. O tema é visto muitas vezes com preconceito até por familiares de pessoas depressivas e de que chegaram a tal ato extremo. Mas esse comportamento vem mudando nos últimos anos. Tanto que a Organização Mundial de Saúde (OMS) incentiva a realização de campanhas, em que ações educativas são realizadas por diversas instituições Outras iniciativas também são vistas. Por exemplo, no metrô de Nova York há cartazes que dizem algo como “Se algo lhe parece estranho, pode ser realmente estranho. Peça ajuda”, seguido de dados sobre suicídios nas plataformas de embarque e desembarque dos trens. O assunto é tratado com reserva também nos meios de comunicação. Poucos são os casos divulgados, geralmente ocorrem apenas no mês temático, como forma de alerta, ou quando alguma celebridade comete suicídio. Alguns acadêmicos defendem uma maior divulgação do tema, pois poderia gerar mais alertas e debates sociais e médicos, como ocorrem em denúncias de pedofilia, por exemplo. “Eu lembro que há muitos anos existia uma espécie de recomendação para não divulgar o suicídio. Eu nunca vi oficialmente, nem tomei conhecimento de ter visto uma recomendação. Mas, por existir a questão da imitação, tendências de algumas pessoas, adolescentes, pessoas às vezes mais imaturas, poderia se estimular”, relata a psiquiatra Jane Lemos. Os casos que podem levar uma pessoa ao suicídio são as mais variadas. “Em medicina e em psiquiatria, especialmente, é um somatório de coisas. Não existe nada que seja uma causa pura, direta. Sempre ocorre um somatório”, acrescenta. Em geral, a maioria dos casos se inicia com uma depressão. Por isso, alerta a psiquiatra, observar o comportamento de um familiar ou amigo e aconselhar a buscar um tratamento para a depressão se faz muito importante. Para a especialista, o Brasil está atrasado na questão da divulgação e prevenção ao suicídio, mas houve um avanço nos últimos três anos, principalmente com a adoção da campanha “Setembro Amarelo”. A divulgação, explica Jane Lemos, ajuda a identificar potenciais casos. “É importante que parentes e amigos estejam alertas para essa questão. Eu acho que não é muito valorizado. Sei de pessoas que chegaram a se expressar. Muitas vezes não é levado em consideração quando uma pessoa diz ‘estou pensando em morrer, queria me acabar’. Geralmente, as pessoas não valorizam. Acham que é uma força de expressão e há quem diga até que é só para chamar atenção. Mas não. A gente tem que levar em consideração porque de fato essas pessoas estão numa fase difícil da vida ou passando por uma fase de depressão, ou ainda circunstâncias da vida em que está triste e não está encontrando um outro caminho. E chega a verbalizar isso”, explica. A psiquiatra alerta que, ao se notar um sinal depressivo em uma pessoa próxima, o recomendável é tentar ajudá-la. “A gente deve enfrentar isso, se aproximar da pessoa, procurar saber o que está acontecendo e a levar a pensar nisso para, de alguma forma, valorizar e ter um acolhimento, avaliar até que ponto existe um risco. Isso antigamente era ignorado. Hoje, já existem essas campanhas”. Jane Lemos lembra, ainda, que a realização de campanhas sobre depressão e combate ao suicídio têm contribuído para reduzir o preconceito. “Até hoje, existe um preconceito e uma rejeição muito grande às doenças psiquiátricas e aos pacientes psiquiátricos. Mas houve uma mudança significativa. Vou dar um exemplo simples. Lembro de uma cliente que chegou a me recomendar fazer uma divisão, uma parede, na casa onde tinha consultório, para impedir que quem estivesse esperando para ser atendido não conseguisse ver o outro paciente saindo. Ou seja, não se cruzarem e não saber quem estava fazendo um tratamento psiquiátrico. Para um paciente indicar o tratamento era difícil. Hoje eu já tenho clientes que citam quem indicou, que tratam do assunto depressão em locais como cabeleireiro e acabam falando do tratamento. Acho que tem diminuido muito essa rejeição em relação à psiquiatria de um modo geral, e aí inclui o suicídio”, completa.

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dependência de algumas drogas, justamente pela facilidade que têm de chegar a elas. Os anestesistas, por exemplo, são profissionais que vivem sob muito estresse e que têm acesso a medicamentos bastante restritos. Daí porque o estudo Suicide in young doctors (Richings,1986) aponte taxas mais elevadas de suicídio entre essa especialidade comparada a outras. Além deles, psiquiatras, oftalmologistas e patologistas são apontados por algumas pesquisas como os mais vulneráveis. “Em todo caso, é importante ressaltar que, a princípio, vão pensar em suicídio pessoas com doenças mentais não tratadas”, ressalta Antônio Geraldo da Silva. Segundo ele, entre os casos de morte por suicídio, 50% dos indivíduos foram a uma consulta médica em algum momento nos seis meses que antecederam a morte. Além disso, cerca de 80% visitaram médico não psiquiatra no mês anterior ao suicídio. Ou seja, o que se percebe é que a categoria médica não está preparada para perceber os indícios de um possível suicídio. Para tanto, seria necessária uma rede de saúde integrada para a prevenção desse problema em todos os âmbitos do sistema. E quando se trata do colega ou de si mesmo essa percepção parece ficar ainda mais prejudicada. “É muito difícil para o médico reconhecer sua fragilidade. Mas eles precisam entender que também podem adoecer. O papel central dos conselhos é fiscalizar. Mas temos que nos unir e juntos trazer a discussão sobre esse tema tão relevante através de alguns projetos. Tenho isso em mente sempre e pretendo colocar para frente essa ideia”, finaliza Jane Lemos.


CFM/DIVULGAÇÃO

EM FOCO

Ministra do TST adere à campanha contra o desaparecimento de crianças REPRESENTANTES DO CFM FORAM RECEBIDOS NO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

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O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, e um dos integrantes da Comissão de Assuntos Sociais da autarquia, Ricardo Paiva, reuniram-se com a ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Kátia Magalhães Arruda, que é coordenadora do Programa Nacional de Combate ao Trabalho Infantil do tribunal. No encontro, os representantes do CFM pediram o apoio da ministra para ações de combate ao desaparecimento de crianças, especialmente para a

efetivação do cadastro nacional. “O resultado foi muito positivo. A ministra ficou sensibilizada com nossos argumentos e se mostrou comprometida e disposta a ajudar”, avaliou o presidente do CFM, Carlos Vital. Kátia Arruda ouviu atentamente os argumentos apresentados e ficou surpresa com o fato de o cadastro nacional de pessoas desaparecidas não funcionar como deveria, já que outros países têm casos de sucesso. Ela ficou de entrar em contato com a Secretária Nacional de Direitos

Humanos, Flávia Piovesan, para marcar uma reunião entre o TST, o CFM e o Ministério da Justiça com o objetivo de que seja encontrada uma solução para o cadastro nacional. “A ministra nos pareceu uma pessoa muito resolutiva, preocupada em saber a razão dos problemas e encontrar alternativas”, elogiou Vital. Ricardo Paiva explicou para a ministra Kátia Arruda que há uma subnotificação no Brasil e que o cadastro nacional de pessoas desaparecidas é falho. “O lógico seria que a própria polícia alimentasse o cadastro a partir do momento em que a família vai em uma delegacia abrir um boletim de ocorrência informando do desaparecimento, mas não é o que ocorre”, explicou Paiva. Os dois representantes do CFM também defenderam a adoção de outras ações, como a adoção, no Brasil, do “Alerta Amber”, que funciona nos Estados Unidos desde 1996. O alerta é um sistema que permite a distribuição na internet, rádios e outdoors eletrônicos de avisos de crianças desaparecidas. “Mas antes dele, é preciso que o cadastro esteja funcionando”, ressaltou Paiva. Ao final do encontro, Kátia Arruda elogiou a ação do CFM de sensibilizar os médicos para ajudar na localização de crianças desaparecidas, incentivandoos a detectar sinais de que o acompanhante não seja o pai ou mãe. A ministra pediu a ajuda do CFM em uma campanha do TST de conscientização dos pais de que o trabalho infantil pode prejudicar a saúde atual e futura da criança. O presidente do CFM, Carlos Vital, se comprometeu em contribuir com o TST nesta campanha. Transcrito do portal do CFM.

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DOMINIC NAHR/MSF

INTERVIEW ESPECIAL

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Profissional da MSF cuida de uma criança desnutrida, no Sudão do Sul

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empre que uma tragédia humanitária acontece, seja ela decorrente de uma guerra civil, uma disputa territorial, uma epidemia, ou mesmo de um fenômeno natural devastador, tem-se notícia da atuação do Médico Sem Fronteiras, uma organização humanitária internacional que atende populações atingidas por graves crises. Entre agosto e setembro de 2016, o Recife recebeu o Conexões Médico Sem Fronteiras, que trouxe para a cidade, durante 16 dias, uma série de eventos (exposições, filmes, intervenção artística, oficinas e conversas) com o objetivo de conectar as pessoas à ajuda humanitária realizada pela organização. Os eventos gratuitos discutiram questões importantes ligadas ao campo da saúde, como o esforço da organização para levar companhas de vacinação a locais remotos do mundo, a crise gerada pela da epidemia de Ebola na África Central, e também a questão das enfermidades negligenciadas. Cerca de 7 mil pessoas participaram do Conexões, que reuniu na cidade 12 profissionais da MSF-Brasil. Segundo os organizadores, a ideia do evento, que teve uma versão similar realizada, em novembro, em Fortaleza, é aproximar a população da ajuda humanitária e também recrutar novos profissionais para atuação no grupo. A Médico Sem Fronteiras surgiu em 1971, criada por um grupo de médicos e jornalistas que haviam atuado na Guerra de Biafra, na África. Os médicos, antes ligados à Cruz Vermelha, acreditavam que, além de ajudar as vítimas do conflito, era preciso dar voz aos abusos de que eram vítimas. Ao longo desses 45 anos, os profissionais engajados na causa levam ajuda médica a locais de crise, guerras, catástrofes naturais, surtos e epidemias de variadas doenças, nos mais diversos lugares do planeta. Atualmente o grupo atua em aproximadamente 70 países, e conta com cerca de 36 mil pessoas, incluindo profissionais internacionais e locais desses países. “Queremos contribuir para diminuir a mortalidade e o sofrimento dessas populações em necessidade ou sem nenhum tipo de acesso a saúde. Esse é nosso objetivo primordial, aliviar esse sofrimento”, resume a diretora da Unidade Médica Brasileira (BRAMU) da MSF, a infectologista uruguaia Maria Rodrigues Rado. Ela explica que inicialmente a MSF atendia pontualmente a crises específicas, passando alguns meses no local e, depois, deixando-o para uma nova empreitada. Porém ao longo do tempo, surgiram também as emergências crônicas, nas quais é preciso permanecer por uma longa temporada. O Haiti seria um exemplo. A MSF já estava presente no país quando aconteceu o terremoto de 2010, seguido por um surto de cólera que tornou a situação do país, já complicada, ainda pior, fazendo a permanência do grupo por lá ainda mais necessária; “Nossa contribuição não é assumir a função que o sistema de saúde de um país deve ter. Mas, muitas vezes, estivemos em locais onde não havia nenhuma organização que pudesse dar seguimento ao nosso trabalho. Por isso, precisamos ficar mais tempo. A AIDS é um exemplo de emergência crônica em alguns países africanos. Não tínhamos como passar adiante a estratégia de combate a essa doença”, lembra a infectologista que atuou durante quase 10 anos na África, em países como Quênia, Guiné Bissau, Sudão, Sudão do Sul, entre outros.

Ajuda

humanitária em foco CONEXÃO MÉDICO SEM FRONTEIRAS TROUXE AO RECIFE DISCUSSÕES E REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO JUNTO À POPULAÇÕES EM CRISE TEXTO MARIANA OLIVEIRA FOTOS MSF

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ESPECIAL AMANDINE COULIN/MSF

MSF administra um hospital pediátrico em Quetta, no Paquistão, com 67 leitos

A médica diz que ao longo de sua formação foi percebendo que o acesso à saúde não poderia ser tratado como um privilégio, mas deveria ser tido, antes de tudo, como um direito de todas as populações. Com esse desejo ingressou na MSF, em 2004, e seguiu para África para atender os portadores de HIV. “Foi uma grande luta. Tivemos que mostrar que era possível tratar essa doença de modo descentralizado, em pequenos vilarejos, numa população muita vezes sem residência fixa, móvel, com níveis de educação baixos. Mas a MSF acreditou que eles poderiam e deveriam ser tratados com dignidade. Fizemos cursos para repassar as formas de tratamento, buscamos empoderamento da sociedade civil. Acho que a estratégia da MSF de atender as necessidades dos pacientes com HIV na África é muito representativa da nossa forma de trabalhar”, diz Maria Rado.

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Segundo ela, a imparcialidade, a neutralidade e a independência da organização são reforçadas pelo fato da MSF não possuir nenhuma vinculação com governos nem receber doações expressivas dos mesmos. “Em torno de 90% dos aportes são feitos por doadores particulares. Isso nos dá maior liberdade na hora de trabalhar em locais de conflito como o Afeganistão, pois não temos o país X ou Y como financiador”, detalha. Atualmente são 5,7 milhões de pessoas doando em todo mundo, sendo 350 mil no Brasil. Cerca de 80% de tudo que é arrecadado vai para os projetos, para sua estrutura, compra de medicamentos e de materiais diversos, pagamento de pessoal. Os outros 20% são utilizados em temas administrativos e reinvestidos para a captação de mais doações. Hoje, a MSF, que já teve projetos médicos na Amazônia e no Rio de

Janeiro, não realiza nenhum projeto de assistência em solo brasileiro, mas mantém um escritório no Rio, cujo objetivo é realizar captação de recursos financeiros e humanos, das mais diferentes áreas, além de informar a população brasileira sobre as crises humanitárias no mundo. Há ainda a Unidade Médica, que dá apoio técnico a toda MSF internacional em determinados dossiês, sobre temas como doenças negligenciadas, incluindo Chagas, e violência urbana. A MSF também está atenta para, se houver necessidade, prestar assistência durante emergências no Brasil, como aconteceu, por exemplo, nas enchentes em Alagoas em junho de 2010. Equipes da MSF ofereceram suporte psicossocial, distribuição de kits, atuaram na melhoria das condições de água e saneamento, monitoramento e treinamento de profissionais em Murici e Branquinha


DIVULGAÇÃO

A infectologista Maria Rodrigues Rado atua na MSF desde 2004

ALBERT GONZALEZ FARRAN/MSF

Nimi, consendaepta verum fugiam etur, con cuptas et dignimu saeces quiaessit

O conflito armado no Sudão do Sul tem levado famílias a abandonarem suas casas

MUDANÇAS Para a infectologista Maria Rodrigues Rado, assim como o mundo mudou, a ajuda humanitária também passou por grandes câmbios nos últimos 10 anos. Houve avanços muito importantes no campo da tecnologia, por exemplo, os quais facilitaram exponencialmente as atividades dos profissionais lotados em áreas de difícil acesso que há 15 anos só conseguiam se comunicar através do rádio e hoje possuem telefones satélites, o que agiliza a ajuda. Também

é mais simples a identificação precoce de algumas epidemias, ainda que o recente surto de Ebola no continente africano, por exemplo, mostre que muitos países seguem sem condições de prever tais problemas. Por outro lado, nem tudo melhorou. “Hoje muitas ações estão sendo chamadas de ajuda humanitária, até mesmo uma ajuda militar. Todo mundo utiliza esse jargão. Nós éramos respeitados pelas partes em conflito nos terrenos, nos

A imparcialidade e a independência da organização são reforçadas pelo fato da MSF não possuir nenhuma vinculação com governos nem receber doações expressivas dos mesmos projetos e no mundo todo, o que nos dava maior segurança. Hoje em dia já nos tornamos alvo de atos violentos”, destaca a médica, lembrando que, só em 2015, 75 hospitais ou serviços de saúde da MSF ou apoiados pela organização sofreram ataques em países como Afeganistão, Síria e Iêmen. “Em agosto, tivemos que retirar a nossa equipe de hospitais do Iêmen porque ela estava em risco. Essa é uma grande mudança. Antes o direito humanitário internacional era bastante respeitado, hoje não mais”. Há também aquilo que não mudou ao longo dos anos. A capacidade de decisão política para combater as doenças negligenciadas, como Chagas, tem deixado muito a desejar. O tempo passou e as instituições públicas não agiram devidamente para combater doenças antigas, que já poderiam ter sido controladas. Em Chagas, por exemplo, segue-se utilizando os mesmos medicamentos da década de 1950, que causam muitos efeitos adversos na população, a qual, usualmente, já vive numa situação de extrema pobreza. “Em 15 anos trabalhando com a doença de Chagas, tratamos quase 10 mil

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JUAN RENAU/MSF

ESPECIAL

Equipe da MSF conduz uma reunião informativa sobre tratamento de Chagas na comunidade boliviana

pacientes. Se estima que a doença atinja quase 6 milhões de pessoas no mundo. A grande maioria delas não sabe que está infectada. É um grande dilema. Estamos ali lutando contra uma doença, mas a medicação pode levar a outros problemas. Damos o medicamento, mas sabemos que esse paciente deveria ser monitorado e a capacidade do terreno é limitada. Não pode ser um privilégio ter o diagnóstico de uma doença e poder tratá-la de modo adequado”, explica Maria. Lúcia Brum, médica da MSF, cuja atuação está focada nas doenças negligenciadas, em especial Chagas, dengue e chicugunha, conta que entrou no grupo em 2010, depois de passar uma temporada na Amazônia quando fazia mestrado em medicina tropical na Fundação Oswaldo Cruz. Nesse tempo, ela já participou de diversas ações, como as de combate à malária, e presenciou situações de muita dificuldade, nas quais ficava clara a ausência de ferramentas adequadas para atender às necessidades da população. “Eu fiquei chocada em alguns lugares por onde passei. A saúde é um dever do

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Estado. Mas vi gente vendendo cinco vacas para poder pagar e ter direito a colocar um marcapasso. Percebemos que só a ação dos médicos não seria suficiente”, conta. Por isso, quando a MSF ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em 1999, usou o valor do prêmio para criar a Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais, com o objetivo de melhorar o acesso das pessoas às tecnologias médicas existentes e estimular a pesquisa de insumos médicos necessários ao enfrentamento das doenças negligenciadas. Essa ideia também deu origem à Iniciativa para o Desenvolvimento de Drogas para Doenças Negligenciadas, a DNDI (Drugs for Neclected Diseases Initiative, em inglês), em 2003. A ideia é que de fato, além de atuar diretamente na prestação de cuidados médicos, a MSF esteja atenta a essas questões, apontando a necessidade de avanços em medicamentos ou de elaboração e popularização de testes de diagnóstico e de vacinas que sejam acessíveis e que não tenham preços absurdos e proibitivos para as populações.

TRABALHO Hoje, atuam no grupo cerca de 170 brasileiros, em diferentes projetos. Entre eles, há médicos, enfermeiros, psicólogos, administradores, profissionais de recursos humanos e logísticos. Para entrar nos quadros da Médico Sem Fronteiras, é preciso enviar o currículo em inglês ou francês e uma carta de motivação em português através do site da organização. Após a aprovação nessa primeira etapa, se segue uma préentrevista e, posteriormente, uma atividade presencial no escritório do Rio de Janeiro. Com o processo de seleção encerrado, o profissional vai aguardar sua colocação em algum dos projetos em andamento. Usualmente suas atividades em campo duram entre 1 e 12 meses, a depender da situação, recebendo um salário, e com toda a estrutura para sua estadia no terreno montada e paga pela organização. Entre as especialidades médicas, atualmente, há uma grande necessidade de anestesistas, cirurgiões e ginecologistas.Mais informações no site www.msf.org.br.


N A P O N TA D A L Í N G U A ÍTALO ROCHA Jornalista

Escrever é cortar palavras Na minha adolescência, ouvi uma história de um professor sobre a forma de escrever que me serviu de balizamento pro resto da vida. O relato é fictício, mas tem um componente emblemático forte. Um turista desceu de um navio e no Porto da cidade deparou-se com uma placa numa barraca de vender peixe, onde estava escrito: VENDE-SE PEIXE FRESCO NA BEIRA DO CAIS. O turista foi lá, puxou conversa com o vendedor e pediu educadamente permissão para fazer uma sugestão sobre o cartaz. “Por que o senhor não corta a parte onde está escrito NA BEIRA DO CAIS? Todo mundo sabe que lugar é esse aqui”. O vendedor agradeceu e topou na hora. E a frase ficou VENDE-SE PEIXE FRESCO. Já um pouco amigo do vendedor e ainda insatisfeito, o turista deu outra sugestão: “O senhor venderia peixe que não fosse fresco na beira de um Cais?”. E a frase ficou assim: VENDE-SE PEIXE. Se despediram, o feirante agradeceu, mas o turista, que já tava claro que se tratava de um tremendo “cricri”, soltou mais uma: “O senhor dá peixe aqui pras pessoas? Então, tire o verbo”. O dono da barraca mais uma vez obedeceu e o cartaz ficou assim: PEIXE.

Ao se despedir pela segunda vez, o turista pediu desculpas pelo incômodo todo, mas disse bem baixinho no ouvido do feirante : “Todo mundo está vendo que aqui só tem peixe. Então, por que colocar esse cartaz?”. Moral da história, escrever é mesmo cortar palavras!!!!!! ***** Um cidadão foi conhecer os parentes numa pequena cidade do Interior do Nordeste. Pela manhã, logo após o café, foi dar um passeio pelo centro da cidade. E logo percebeu que as lojas estavam com os nomes escritos incorretamente. O dono da “Gato Branco” escreveu o nome do animal com “J”. O pequeno restaurante chamado “Buraco da Jia” tinha o réptil escrito com “G”. “Recanto do Passarinho” estava com o nome da

ave escrito com “Ç”. “Casa da Luz” tinha um acento indevido em luz e, pra piorar ainda mais, o invento de Thomas Edison estava escrito com “S”. O visitante ficou impressionado com o tamanho da agressão que os lojistas faziam à língua portuguesa. Mas, já no fim da rua, chamou a atenção dele a grafia de uma loja que lhe pareceu ser a única correta: “Aguia de Ouro”. Ele entrou na loja e pediu pra falar com o dono. E travou-se o seguinte diálogo: - Parabéns ao senhor por ter a única loja aqui do comércio que está com o nome escrito de forma correta, faltando apenas colocar o acento agudo no primeiro “A” de “Águia”. - Fico muito agradecido pelo seu elogio, senhor, e disponha aqui da nossa tradicional “AGÚIA DE OURO”.

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J U R Í D I C O

Prontuário médico, aspectos UMAS DAS GRANDES DIFICULDADES ENFRENTADAS ATUALMENTE POR INSTITUIÇÕES DE SAÚDE É A QUESTÃO DA GUARDA E MANUSEIO TEXTO JOAQUIM GUERRA

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REPRODUÇÃO

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ema bastante discutido na atualidade é o prontuário médico. Porém, antes de trazer os pontos controvertidos a respeito do tema é necessário conceituá-lo. Segundo a Resolução CFM 1.638/02 o prontuário médico é o documento formado pelo conjunto de informações, sinais, imagens registradas, sobre a saúde do paciente, de caráter legal e sigiloso, que possibilita a comunicação entre os membros da equipe multiprofissional, bem como continuidade na assistência à saúde. Percebe-se com certa clareza que o prontuário médico nada mais é do que o conjunto de informações a respeito da saúde do paciente provenientes do atendimento que lhe é prestado. Mas então a quem pertence esse documento? Pertence ao paciente. Trata-se de direito relacionado à sua esfera mais íntima, a vida privada, direito à intimidade prevista na Constituição Federal, art. 5º, X, como inviolável. Além da Constituição, o Código Civil Brasileiro dispõe em seu art. 21 que a vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. Vê-se então que o prontuário pertence ao paciente, contudo sua guarda caberá ao médico. Em se tratando de instituição de saúde a responsabilidade pela sua guarda é da própria instituição e o sigilo das

informações ali contidas caberá a todos os profissionais que pelo seu ofício tenham acesso. Umas das grandes dificuldades enfrentadas atualmente pelas instituições de saúde é essa questão da guarda e manuseio desses prontuários médicos, necessitando adotarem técnicas arquivísticas para sua realização de maneira adequada, principalmente considerando que o tempo mínimo de guarda é de 20 anos. Surgiu então um grande problema para as instituições de saúde, pois não podem se desfazer desses documentos, passando a acumulá-los, muitas vezes de forma desordenada. Quando estamos diante de instituições públicas a situação torna-se ainda mais delicada, pois os

problemas ultrapassam os mandatos de seus gestores que não dispensam a atenção que o caso requer. Umas das possibilidades para o problema da gestão dos prontuários é a conversão do meio físico em digital, já havendo um grande número de instituições utilizando o prontuário eletrônico. Recentemente, o Ministério da Saúde instituiu o prontuário eletrônico nas unidades básicas de saúde de todo o país, concedendo aos Municípios o prazo de 60 dias para instituição do prontuário eletrônico chamado de e-SUS AB, plataforma única do Ministério da Saúde, sob pena de não o fazendo terem suspensos os repasses das verbas federais. Apesar da mudança do prontuário físico para o


controvertidos meio eletrônico, já adotado por muitas instituições, não há como fechar os olhos para o passado, permanecerá um passivo de 20 anos que as instituições deverão conservar sob sua guarda, de acesso aos pacientes. O CFM desde 2007 regulamentou por meio da Resolução 1.821/2007 as normas técnicas para digitalização e uso dos sistemas informatizados, guarda e manuseio dos documentos e prontuários com a eliminação de papel. Segundo a norma, o CFM é a unidade certificadora dos médicos e os sistemas de certificação deverão seguir os requisitos de segurança – NGS2 – Nível de Garantia de Segurança. Outra questão bem polêmica diz respeito ao acesso de terceiros, em regra familiares, às informações constantes do prontuário médico. Recentemente o CFM, por força de liminar proferida em ACP nº 26798-86.2012.4.01.3500 movida pelo Ministério Público Federal, baixou a Recomendação nº 3/2014 que recomenda aos médicos o fornecimento ao cônjuge/ companheiro e sucessivamente aos sucessores legítimos, em linha reta ou colateral, até 4º grau, desde que documentalmente comprovado o parentesco, o acesso ao referido prontuário do paciente falecido. Segundo exposição dos motivos constantes da decisão proferida pelo Juízo da 3ª Vara Federal de Goiás, o conhecimento visa possibilitar aos familiares a defesa dos direitos de personalidade do parente que eventualmente tenham sido atingidos, o que estaria em consonância com o art. 12 do CC que os legitima para a defesa dos direitos de personalidade

O CFM desde 2007 regulamentou por meio da Resolução 1.821/2007 as normas técnicas para digitalização e uso dos sistemas informatizados, guarda e manuseio dos documentos e prontuários com a eliminação de papel do falecido. A sentença da Justiça Federal de Goiás inverte a regra atualmente adotada dispondo que os médicos devem esclarecer aos seus pacientes para que estes manifestem expressamente sua objeção à divulgação de seu prontuário após sua morte. Em que pese a referida recomendação, esta expõe de forma clara que apenas obedece à decisão judicial, mas que o CFM está manejando os recursos cabíveis para reversão da medida, que recentemente foi confirmada por sentença. Nesse viés é importante atentar que a posição do CFM permanece inalterada e as vedações contidas no art. 73 e seguintes do Código de Ética Médica permanecem em vigor, não tendo

refluído em sua posição, que visa unicamente à garantia de um direito Constitucional consagrado. Por fim, vale ainda registrar que o ato de revelar informação obtida em função de ofício ou profissão, da qual deve guardar segredo, além de violação ética constitui crime tipificado no art. 154 do Código Penal, com pena de detenção. Muitos profissionais se veem algumas vezes entre a “cruz e a caldeirinha” ou entre a “cruz e a espada” quando são intimados por autoridade judicial, membros do Ministério Público ou delegados de Polícia a entregar prontuários médicos ou mesmo prestar depoimento na condição de testemunha. A esse respeito lembramos aos profissionais que, tanto no processo civil quanto no processo penal, não são obrigados a depor acerca de fatos que tenham tomado conhecimento em virtude da profissão, possibilidade esta regulamentada tanto na Resolução CFM 1.605/2000, como nos próprios Códigos de Processo Civil, arts. 388, II, e 404, IV, e de Processo Penal no art. 207. Dessa forma o médico que intimado a depor como testemunha, não estando desobrigado pelo seu paciente, deverá comparecer perante o juiz e informá-lo do seu impedimento com base nos dispositivos legais citados. Tratando-se de requisição de prontuário, o médico deverá disponibilizá-lo ao médico perito nomeado pelo juiz, caracterizandose verdadeiro constrangimento ilegal previsto no art. 146 CP, passível de habeas corpus, a imposição para entrega do documento sigiloso. JOAQUIM GUERRA Advogado com especialização em Direito Público pela UPE e em Direito Civil e Empresarial pela UFPE e assessor jurídico do Cremepe

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ARTE AÇÕES

Mais de 50% dos acidentes têm a ver com ingestão de álcool

A triste rotina das motos

APENAS NO ANO PASSADO FORAM GASTOS R$ 917,3 MILHÕES EM TRATAMENTO COM VÍTIMAS DESSE TIPO DE ACIDENTE TEXTO MARIANA ARAÚJO

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mototaxista Severino Morais da Silva, de 63 anos, passou pelo seu terceiro acidente de moto. O último, que lhe levou a uma cirurgia no Hospital da Restauração (HR), foi o mais grave. Morador de Afogados da Ingazeira, no Sertão, ele conta que estava trafegando por uma rodovia quando um carro tentou ultrapassar outro e acabou o atingindo na faixa contrária. O resultado foi uma fratura exposta na perna. No primeiro acidente, levou sete pontos na cabeça. No segundo, quebrou uma costela. Depois de 40 anos dirigindo moto, agora pensa em parar. “Susto a gente tem, mas a gente necessita e precisa da moto para trabalhar”, diz. A imprudência levou o pedreiro Sérgio Luiz Alves Jeronimo, de 36 anos, também a passar por uma cirurgia no HR. Ele diz que estava voltando do trabalho para casa quando tentou ultrapassar um ônibus e bateu

em outro. Também sofreu uma fratura exposta na perna. “Se isso foi uma lição, agora vou ficar mais atento”, promete. Mas não pretende parar de usar motos. Morador de Vitória de Santo Antão e trabalhador do Recife, diz que é inviável manter um carro devido aos gastos e o tempo gasto em um ônibus é bem maior. Os dois são exemplos de cenas, infelizmente, tão cotidianas que se tornaram comuns. Em 2015, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) registrou 32.881 acidentes envolvendo motocicletas. Apenas no ano passado, foram gastos R$ 917,3 milhões em tratamentos com vítimas desse tipo de acidente. Para se ter uma ideia do impacto na saúde, o montante daria para manter o Hospital da Restauração por quatro anos e o Hospital do Câncer por 11 anos. Outra comparação viável é o valor destinado pela Secretaria às arboviroses em 2016: R$ 135 milhões. Os números são inferiores aos

registrados em 2014 - 34.794 acidentes e R$ 1,97 bilhão em gastos com saúde -, mas ainda são suficientes para deixar o Estado em alerta. Os acidentes com moto são hoje um dos principais gargalos da saúde pública em Pernambuco. Severino e Sérgio podem ser até considerados homens de sorte. Segundo dados da SES, 76,8% de todas as vítimas de acidentes automotivos são condutores ou passageiros de motos. Destes, 42,2% vão a óbito. Em 2015, foram cerca de 700 pessoas que faleceram por este motivo. E olhe que aqui também tivemos reduções. De 2014 para 2015, as mortes de acidentados de motos caíram 12%. “O número de acidentes ainda é muito alto no Brasil inteiro. Acredito que uma política específica que envolva todos os entes federados, precisa se desenvolver”, avalia o secretário estadual de Saúde, Iran

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AÇÕES MARIANA ARAÚJO

Costa. O combate aos acidentes é uma das prioridades da pasta. Como parte da estratégia, a Lei Seca mudou o perfil de abordagem, que era de cerca de 90% de carros e apenas 10% de motos. Atualmente, cerca de 35% das abordagens são a condutores de motos. Os locais de instalação das blitze também foram estrategicamente reestudados, passando de locais mais óbvios para uso de álcool, como saída de polos de bares e shows, para onde há mais registros de acidentes. Além disso, também foi ampliada a Lei Seca para o interior. “O número de acidentes com motos caiu muito mais na Região Metropolitana do que no interior”, disse o secretário de Saúde do Estado, Iran Costa. No Estado, são 32 locais de atendimento de acidente de moto. Em todos, há uma equipe sentinela para coletar os dados e fazer a notificação. “O acidente de moto em Pernambuco tem uma peculiaridade. Ele é mais associado ao lazer do que ao trabalho. Cerca de 60% das vezes, é no lazer que a pessoa se acidenta e não no trabalho. Mais ou menos 50% dos acidentados ingeriram algum tipo de bebida alcoólica. E metade deles estão acima da velocidade média permitida para o local”, adverte o secretário de Saúde. Iran Costa defende uma mudança na legislação, alterando a capacidade da moto para apenas uma pessoa, e não duas, como é atualmente. Outra questão é uma ação mais efetiva das prefeituras, que pode levar à redução também de atropelamentos. “Há um número significativo em locais onde as calçadas são tomadas por camelôs. Isso é uma ação dos municípios, que tem que tirar o comércio ambulante para que as pessoas possam transitar e não precisar ir para o meio da rua e não ser atropelada pela moto que está passando. Outro ponto é o Estado estar mais junto com a

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Lei Seca, fazendo a fiscalização”, disse. No entanto, essas questões não terão efeito se não houver um engajamento dos motociclistas. “É fundamental a educação de cada pessoa. Beber para subir numa moto e andar acima da velocidade é um nível de irresponsabilidade altíssimo. A população tem que participar também”, pontua. O número maior absoluto de acidentes ocorre na Região Metropolitana do Recife, devido à concentração populacional. Mas é no interior que está a maior preocupação do Estado. Segundo o secretário, lá o consumo de álcool é mais associado ao uso da moto, itens de segurança como capacete são mais ignorados. “A moto no interior tem praticamente todas as funções. Ela substituiu cavalo, carroça,

bicicleta, vários meios de transporte, aumentando muito a velocidade, comparando com os anteriores. As ações precisam ser feitas nos dois locais e de maneiras diferentes. O alcoolismo é mais forte no Interior do que no Recife, então a gente precisa de uma campanha educativa mais forte nesse sentido”, explicou. Os acidentes com moto também são uma preocupação do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe). Para o presidente da entidade, André Dubeux, os impactos vão além do atendimento de saúde e chegam nas áreas sociais e econômicas. “O grande problema dos acidentes com moto é que envolvem pacientes jovens e com múltiplas fraturas. Na saúde, tem um impacto porque o leito fica preso, são pacientes


HANS MANTEUFFEL

As emergências dos hospitais ficam lotadas, onerando os cofres públicos

que demoram muito no hospital. E se pode falar, sem dúvida nenhuma, que o gasto com a saúde pública aumenta exponencialmente. As grandes emergências que tratam de pacientes politraumatizados hoje, que são o Hospital Getúlio Vargas, a Restauração e o Otávio de Feitas, vêm sofrendo enormemente com essa situação. Também há o impacto social, porque são geralmente pessoas que estão na força de trabalho do País que ficam um longo tempo afastadas e deixam de produzir. Tem um impacto na Previdência Social também”, avaliou. Para André Dubeux, ações conjuntas, como a questão educacional, a conscientização da população e aplicação da legislação são fundamentais para combater e reduzir os acidentes. “É um conjunto

Para o presidente do Cremepe, André Dubeux (foto), a legislação do Código Brasileiro de Trânsito é boa. Agora, tem que se cumprir, acrescenta

de fatores, desde a conscientização, de uma maior política pública, principalmente nos municípios. Na Região Metropolitana, a gente pode dizer que tem a Lei Seca, mas nas cidades do interior, há uma abrandação da lei. A questão educacional também. Ainda hoje, não se concebe um motociclista andando sem o capacete, que minimiza bastante o dano cerebral”, disse. O presidente do Cremepe ressalta a importância da educação do motociclista. “O que não pode é por si só culpar o Estado. Toda a população tem que estar inserida nesse contexto, para que juntos possamos combater um dos maiores problemas da saúde pública no País. É comum ver no Interior três pessoas numa cinquentinha, sem capacete. As pessoas que acham que estão acima do bem e do mal, acima do poder. Não é só eles serem vítimas, eles também causam vítimas, é um conjunto de fatores”, pontuou. “O Cremepe vê essa situação com muita preocupação. A Secretaria

Estadual de Saúde sempre vem nos dando as informações. O nosso trabalho é com os diretores dos hospitais na tentativa de tentar solucionar esses problemas e cobrar das autoridades, principalmente dos gestores municipais, uma maior fiscalização para os motociclistas, para usarem o capacete, não fazerem uso da bebida alcoólica, ou seja, é multifatorial”, completou André Dubeux. Hoje, um dos principais problemas do Hospital Regional do Agreste, em Caruaru, é o grande número de acidentes com motos. A unidade também atende cidades vizinhas, como Santa Cruz do Capibaribe, Altinho, Panelas, que é justamente onde não tem fiscalização. O presidente do Cremepe citou também o número de casos em cidades como Garanhuns e Petrolina. Nesta última, os acidentes estão mais ligados à zona rural e às motos de baixa cilindrada, as chamadas cinquentinhas. “A legislação do Código Brasileiro de Trânsito, ela é boa. Agora, tem que se fazer cumprir”, acrescentou André Dubeux.

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PAT R I M Ô N I O

O MEMORIAL DE MEDICINA DE PERNAMBUCO, QUE ABRIGA DIVERSAS INSTITUIÇÕES INCLUINDO A ACADEMIA PERNAMBUCANA DE MEDICINA, SEGUE COMO UM IMPORTANTE REDUTO DE PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS MÉDICAS NO ESTADO TEXTO MARIANA OLIVEIRA FOTOS HANS MANTEUFFEL

Com a sacralidade de um templo 28 | REVISTA DO CREMEPE


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PAT R I M Ô N I O

H

oje quem circula pela região do Derby, nas proximidades do quartel, não avista com facilidade o Memorial de Medicina de Pernambuco. A praça Otávio de Freitas, situada bem na frente do edifício, está cercada por tapumes das obras das estações fluviais do Programa Rios da Gente. Porém, o espaço segue em funcionamento, abrigando instituições diversas, entre elas a Academia Pernambucana de Medicina, o Instituto Pernambucano de História da Medicina e o Museu da Medicina de Pernambuco, todas nutrindo o desejo de preservar a história das ciências médicas no Estado, sem se esquecer de lançar um olhar para o futuro. O Memorial de Medicina de Pernambuco foi inaugurado em 1995. Foi Efrem Maranhão, então reitor da UFPE, instituição proprietária e gestora do lugar, quem levou adiante a ideia de reformar o prédio que havia abrigado a Faculdade de Medicina no início do século XX, tornando-o um espaço de preservação da história das ciências médicas em Pernambuco. Desde então, o edifício, tombado em 1986, abriga instituições ligadas de algum modo aos médicos, como as já citadas e a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e a Associação dos Ex-Alunos da Faculdade de Medicina, e também outras sem conexão com a área, como a Covest, o Instituto de Pesquisas da Terceira Idade, e a Academia de Letras e Artes de Pernambuco. A Faculdade de Medicina de Pernambuco foi criada em 1915, mas só começou a funcionar em 1920. Sem sede própria, passou por vários locais, tendo sua primeira turma de concluintes, com cinco médicos, em 1925. Neste mesmo ano, foi assentada a primeira pedra do edifício que abrigaria a sede da faculdade. O Governo do Estado doou o terreno

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O prédio da Faculdade de Medicina, que é um projeto do arquiteto italiano Giacomo Palumbo, foi inaugurado em 1927 onde antes funcionava o Grande Hotel Internacional, o qual havia pertencido a Delmiro Gouveia. O empresário, que era também um visionário, havia transformado a região do Derby numa área bastante procurada para lazer (com um velódromo e um hipódromo) e compras, com a construção do Mercado Modelo, espécie de shopping center da época. Um incêndio criminoso destruiu o centro de compras e o espaço foi adaptado para receber o ComandoGeral da Polícia Militar, inaugurado em 1924. Pouco depois foi a vez do hotel dar lugar à Faculdade de Medicina. Essa empreitada teve como seu principal articulador o médico Otávio

de Freitas que, apesar de ser piauiense, é considerado um exponente da medicina em Pernambuco. Para erguer o novo prédio, inaugurado em 1927, foi convocado o arquiteto italiano Giacomo Palumbo que projetou também, no Recife, o Palácio da Justiça e a casa da esquina da Rua Amélia e Av. Rosa e Silva, além de ser o responsável por diversas obras no Rio Grande do Norte e no Rio de Janeiro. O edifício dispunha de salas de aula, um pátio interno e um anfiteatro especial para as aulas de anatomia. Os belos vitrais que seguem conservados foram encomendados ao Ateliê do italiano César Alexandre Formenti, situado no Rio de Janeiro. A sede da Faculdade de Medicina foi construída em uma região bastante central, às margens do Rio Capibaribe, num local bastante privilegiado. “Quando eu era menino sonhava em estudar aqui. Eu cheguei a fazer o vestibular nessa sede, porém quando ingressei na universidade, em 1958, o curso já havia sido transferido para a Cidade Universitária. Havia um recanto, no edifício, que era chamado de curral dos feras. Era


2 1 O Museu da Medicina reúne interessantes objetos da prática médica do passado 2 O médico Gentil Porto é o atual presidente da Academia 3 Os belos vitrais que ornam o prédio do Memorial de Medicina seguem conservados

nele que se dava início aos trotes. Os calouros saíam de lá todos melados de tinta e seguiam até a Rua Nova”, lembra Gentil Porto, médico e atual presidente da Academia Pernambucana de Medicina. Segundo ele, essa localização especial e a beleza do lugar chamavam a atenção e também inspiravam alguns dos alunos, como Orlando Parahym, que dizia que o prédio tinha a sacralidade de um templo e fazia referência a uma Castanheira que sempre floria no início das aulas e as baronesas que desciam o Rio Capibaribe, anunciando as provas de final de ano. Após a transferência do curso para o campus da UFPE, em 1960, o casarão abrigou, por 19 anos, o Colégio Militar. Depois, foi estabelecido um convênio entre a Universidade e a Academia Pernambucana de Medicina, que havia sido fundada por Fernando Figueira em 1970, e que não tinha sede própria, para que a segunda passasse a administrar o prédio. Devido às condições precárias, só em 1980, a instituição de fato se instala ali e passa também abrir as portas para outras entidades. Anos depois, em

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1995, viria o processo de restauração do prédio e sua denominação como Memorial de Medicina de Pernambuco.

ACADEMIA Segundo Gentil Porto, no início, Fernando Figueira acreditava ser possível que a instituição gerisse todo o prédio, mas depois percebeu-se que isso não era viável e se manteve o comando-geral junto à reitoria. “As pessoas acham que nós gerimos isso tudo, vem até pedir emprego, mas não é assim”, pontua. O médico, que tem mais de 10 anos de Academia, e que já exerceu diversos cargos administrativos, assumiu a presidência em 2015 depois que o então presidente, Edmundo Ferraz, teve que se afastar por problemas de saúde. São 50 acadêmicos reconhecidos por sua atuação na medicina, mas também por outros atributos.

“Seguimos o ideal de Dr. Fernando Figueira. Acreditamos que o médico que sabe só de medicina, sabe muito pouco”, diz Gentil Porto. Segundo ele, a instituição defende algumas bandeiras importantes, como a da relação médico-paciente. “Combatemos o que eu chamo de obesidade tecnológica e desnutrição humanística. Esse time de velhinhos aqui está nessa luta. Ninguém pode ser contra a tecnologia, mas não podemos perder o foco que o ser humano é único, e que ele se alegra e sofre, precisa de conforto e carinho e isso que o médico deve fazer. Curar se possível, mas confortar e consolar sempre”, ressalta. A Academia tem o desejo de ser atuante na cena médica local, gerando ideias e discussões relevantes. Por isso tem buscado uma maior aproximação com as entidades de classe. “Aqui nós preservamos o passado, vivemos o presente e somos também contemporâneos do futuro”, explica Gentil Porto, reforçando que a Academia, o Museu e o Instituto de História da Medicina não devem viver apenas do saudosismo e ficar se lamentando em função de uma realidade que já não existe, deve preservar os registros do passado para a partir dele tentar entender o futuro. Atualmente, o lamento de todas as instituições que ocupam o Memorial é a situação de total abandono na qual se encontra a Praça Otávio de Freitas, encoberta por tapumes e com obra parada há mais de dois anos. “Esse ambiente tão especial, está se tornando ponto de drogas e prostituição. Já apelamos a vários órgãos, mas a situação não muda”, diz o presidente da Academia Pernambucana de Medicina. De fato, para que esse importante patrimônio do Estado volte a fazer parte da paisagem do Derby, as obras desse projeto precisam ser concluídas.

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CARDÁPIO

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Um espaço pra todos RESTAURANTE É BASTANTE CONHECIDO PELAS PLACAS QUE HOMENAGEIAM CLIENTES ILUSTRES TEXTO E FOTOS MARIANA ARAÚJO

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uando veio para o Recife com apenas 16 anos, na década de 1950, Severino José Reis jamais imaginou que chegaria onde está hoje. Ele comanda o restaurante Pra Vocês, que serve uma das mais tradicionais peixadas do Recife, no bairro do Pina. Não há um boêmio no Recife que não tenha “estacionado” no Pra Vocês uma vez sequer. “Nem sonhava em ser dono do local onde eu trabalhava”, conta. Mas a trajetória até aqui não foi fácil. Severino saiu da cidade de Limoeiro, onde nasceu e trabalhava como agricultor, junto com a família. Incentivado por amigos, decidiu tentar a vida na capital pernambucana. Mas sem saber ler ou escrever, só conseguiu um emprego de zelador de uma escola particular, no bairro da Madalena, que hoje nem existe mais. Logo depois, foi trabalhar no Pra Vocês, na limpeza, depois foi para o balcão do restaurante e, em seguida, promovido a garçom. Na década de 1980, veio sua grande oportunidade. A então proprietária faleceu e os herdeiros perguntaram se ele não gostaria de arrendar o estabelecimento. A esta altura, Severino já era gerente. “Eu conhecia demais o funcionamento”, disse. Anos depois, comprou o negócio todo, inclusive o imóvel

onde está instalado. Hoje, aos 79 anos, lembra da sua trajetória. Só voltou a estudar aos 25 anos, aprendendo a ler e escrever. Fez o ginásio e o Ensino Médio. Até tentou o vestibular, mas não foi aprovado. Aprendeu na “Universidade” da vida. Casado, pais de seis filhos (um já falecido), nem consegue contar os netos. “Tem muitos por aí”. Quem chega no restaurante logo percebe as paredes cheias de placas que homenageiam os clientes ilustres, dando-lhes nomes

de ruas, avenidas, praças e outros logradouros públicos, como se fosse uma grande cidade imaginária. A ideia começou ainda na década de 1980 com um cliente assíduo, o jornalista Augusto Boudoux, conta Severino. Foi Augusto que trouxe a primeira placa, homenageando outro cliente, George Perman. A segunda, foi em homenagem a Chico Anysio. O humorista passava pela cidade e foi até o restaurante para o “descerramento”. A foto da visita (abaixo) está na parede.

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CARDÁPIO

PEIXADA À BRASILEIRA (Receita do Restaurante Pra Vocês)

Receita da peixada (para quatro pessoas) 1,5 kg de peixe (garoupa, cioba, pescada amarela ou outro de sua preferência) •Cebola •Tomate •Pimentão •Cenoura •Vagem •Batata •Azeite Pique os legumes em pedaços grandes. Coloque todos os ingredientes em uma panela com bastante azeite. Esse é o segredo do prato. Cozinhar por cerca de 25 minutos. Use o caldo para fazer um pirão e sirva com arroz.

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ARTE&

CULTURA

LIVROS P.36 VISUAIS P.38 MÚSICA P.39

ENTRE A FAMÍLIA E A COROA | PÁG. 37

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LIVROS | LU IZ AR RAIS FOTOS: DIVULGAÇÃO

UM CRONISTA COM BOROGODÓ

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o contrário de colunistas sociais como Jacinto de Thormes, Ibrahim Sued, acostumados em suas páginas a promover os regabofes e casórios cafonas das pouquíssimas famílias donas da maior parte do PIB do país, o jornalista Zózimo Barroso do Amaral renovou a crônica social ao oferecer a seus leitores, nas páginas do JB e, depois, n’O Globo com suas notas diárias, um noticiário diferenciado sobre economia, política, esportes e outros temas variados, sempre com bom humor. No livro Enquanto houver champanhe, há esperança, o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos mostra a trajetória do carioca de Humaitá, cuja carreira, entre as décadas de 1960 e 1990, teve o seu apogeu e, também o lado inverso do hedonismo, quando enveredou pelo alcoolismo e outros males relacionados ao seu consumo diário de 80 cigarros. A partir do cotidiano desse grande personagem, o autor retrata a rotina nas redações, os acontecimentos politicos do país e a mudança de costumes, sempre com histórias saborosas e um texto com sabor de crônica. Zózimo, mesmo com os seus amigos e contatos chegou a amargar dois convites sem direito a RSVP aos xilindrós nada atrativos da ditadura. Enquanto houver champanhe, há esperança – Editora Intrínseca, 638 páginas, R$ 69,90

UM VOO INESQUECÍVEL PARA TODA A VIDA

OS BUDDENBROOKS A Companhia das Letras decidiu relançar a obra de Thomas Mann em edições com capa dura e design arrojado. Um deles é seu primeiro romance, escrito aos 25 anos e que garantiu-lhe o Nobel de Literatura em 1929. Os Bruddenbrooks é um romance que trata da decadência de uma família burguesa alemã do século XIX, através de quatro gerações. No início, a família constrói uma sólida reputação comercial com o patriarca Jean. Com o decorrer da narrativa, o foco passa a ser as vidas dos filhos do patriarca, que são Thomas, Christian e Antonie. Thomas segue a carreira política e econômica do pai, no entanto o irmão Christian se mete com bebedeiras e prostitutas, enquanto a irmã envolve-se em dois casamentos malfadados. Com personagens vívidos, diálogos brilhantes e riqueza de detalhes, o autor lança um olhar preciso sobre a vida da elite alemã. O leitor de hoje, encontra intactos o frescor e o fascínio deste que é considerado um dos principais romances do século XX. Cia das Letras, 710 páginas, R$ 69,90

Foram poucos minutos, mas o sangue frio do comandante do voo 1549, Chesley Sullenberger transformou o que poderia ser uma tragédia imensa em um quase milagre. A aeronave, um Airbus A320, com 155 pessoas a bordo, colidiu com um bando de pássaros e teve os motores destruídos. No livro, Sullenberger explica em detalhes emocionantes o que aconteceu naquela manhã de 15 de janeiro de 2009. Fala também de sua vida pessoal, sobre a carreira e a sua paixão pela aviação, externada desde criança. A obra, em cartaz, foi adaptada para as telas pelo cineasta Clint Eastwood e estrelada por Tom Hanks. Sully – O herói do Rio Hudson, Editora Intrínseca, 256 páginas, R$ 39,00

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CINEMA | MAR IANA OLIVE I RA FOTOS: DIVULGAÇÃO

A SEGUIR

A MULHER E A RAINHA

EMERGÊNCIA NA TELONA Os médicos que atuam em emergências públicas vivenciam todos os dias as dificuldades de prestar um atendimento adequado aos pacientes. Num momento crítico, quem atender primeiro: um bandido, um policial, uma criança (todos feridos gravemente)? É sobre essa e outras situações que trata o filme Sob Pressão, de Andrucha Waddington. O longa foi baseado no livro homônimo do cirurgião torácico Márcio Maranhão e é uma oportunidade para a população ver e entender os dilemas vividos pelos médicos num sistema de saúde cheio de problemas.

nova série do Netflix The Crown tem início em 1947, quando do casamento da então princesa Elizabeth Windsor com Philip Mountbatten – visto por muitos como um pretendente não muito adequado para uma futura rainha. Pouco depois, em 1952, aos 25 anos, a jovem assumiria o trono britânico com a morte do seu pai, o rei George XVI, tornando-se a rainha Elisabeth II, coroada em 1953, que, fora da ficção segue até hoje liderando a monarquia inglesa. A série, escrita pelo roteirista do filme A Rainha, Peter Morgan, mescla acontecimentos reais com ficção. Na primeira temporada, fica clara a ideia de que o monarca, ao assumir a liderança do império, deve deixar para trás sua antiga identidade para incorporar a coroa. Nela, os desejos pessoais não têm vez. A cada episódio a antiga Lilibeth, apelido da jovem Elizabeth Windsor, dá lugar à rainha. A história de seu tio, o rei Eduardo VIII, que abdicou do trono inglês em 1936, para casar-se com uma mulher divorciada, instalando uma grande crise na monarquia britânica, e obrigando seu pai a virar rei, permeia toda a história, servindo como exemplo para a jovem. Seus conselheiros demonstram sempre que necessário como o individualismo do seu tio ameaçou a coroa. A cada episódio, quanto mais cresce a rainha, mais obscurecido fica seu marido, que, entre outras coisas, não pode mais andar ao seu lado e sim atrás dela, pois a coroa tem prioridade. Elizabeth vive o dilema de ir contra a Lei dos Casamentos Reais e permitir o casamento de sua irmã (Margaret) com um homem divorciado. Novamente, entre a família e a coroa, sobressai a segunda. A relação da rainha com o então primeiro-ministro Winston Churchill também marca essa primeira temporada da série, cuja próxima já está garantida.

1000 DIAS FUNDAMENTAIS O belo documentário O começo da vida lança um olhar sensível sobre a importância dos primeiros anos de vida na constituição do ser humano. A diretora Estela Renner percorreu o mundo mostrando como as experiências dos primeiros anos da vida de uma criança são determinantes e como isso é algo universal, não se restringindo a culturas específicas. A mensagem desse ótimo documentário é que todas as crianças, de todas as partes, precisam de muito amor e atenção durante essa primeira infância. Não precisam de brinquedos caros, precisam ser ouvidas, amadas, respeitadas, amparadas para enfrentar a vida que terão pela frente. Emocionante, sem ser piegas ou mesmo apelativo.

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VISUAIS | MAR IANA OLIVE I RA

FORMANDO PACTOS

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historiadora Joana D’Arc Lima conheceu Marcelo Silveira durante as pesquisas do seu doutorado, quando lançava suas atenções sobre as poéticas de alguns artistas da década de 1980. Apesar dessa relação antiga, ela nunca havia feito uma curadoria dos trabalhos de Silveira. A oportunidade surgiu agora, na mostra Compacto, em cartaz na Galeria Amparo 60. As salas do espaço estão ocupadas por cerca de 30 obras de Silveira, de vários períodos, mas que têm como característica a delicadeza, o detalhe, o pequeno. A mostra reúne, peças bi e tridimensionais (objetos, livros de artista, múltiplos, vídeos, lambe), feitos nos mais diversos materiais, tendo a madeira, matéria-prima tão estimada pelo artista, um papel bastante especial. Segundo a curadora, durante a seleção das obras, ficou clara a necessidade de criar uma espécie de pacto entre elas, colocando-as num contexto para que dialogassem. A montagem conta com mesas da casa de Marcelo Silveira que receberam alguns dos objetos, passando a ser ressignificadas naquele novo ambiente. Para ele, a mesa é bastante simbólica, pois o momento das refeições foi, durante anos, um espaço de diálogo, de conversa, de troca. “Não se trata de um mero mobiliário expositivo, a mesa está ali dentro de um contexto”, afirma. Nessa proposta de estabelecer pactos, o artista e a curadora trouxeram para exposição obras de outros artistas, como Zé Paulo e Isabella Stampanoni, as poesias de Manoel de Barros, que estão em diálogo com a produção de Silveira. Mais informações: 3033.6060. Galeria Amparo 60, Av. Domingos Ferreira, 92 A –Boa Viagem, Recife – PE

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BRENNAND SOB NÉVOAS O Espaço Brennand, localizado no Shopping da Decoração, em Boa Viagem, apresenta ao público a exposição As Névoas de Caspar, inspirada na obra do pintor romântico do fim do século XVIII, Caspar David Friedrich, cujos quadros são cobertos por um enevoado. Segundo o artista, ele sempre admirou o alemão ainda que suas temáticas não dialogassem com o culto à sensualidade tão característica de suas obras. Brennand chegou a produzir 40 telas, destruiu a metade, ficando as outras para compor a mostra. Informações: 3325.1200

UNIVERSO BRUSCKYANO Poemas visuais, poemas sonoros, filmes, registros videográficos de performances, documentos, objetos poéticos, livros de artista, arte classificada, documentos e fotos históricas são algumas das técnicas ou suportes que compõem a exposição PaLarva – Poesia Visual e Sonora de Paulo Bruscky, em cartaz na Caixa Cultural. São 200 obras que levam o visitante a imergir no universo poético de Bruscky, recifense pioneiro na arte contemporânea no Brasil. Informações: 3425.1915


MÚSICA | MAR IANA ARAÚJO

O GRANDE ENCONTRO, 20 ANOS DEPOIS

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uas décadas depois de uma parceria de sucesso, os cantores e compositores Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Alceu Valença reuniram-se para relembrar o Grande Encontro. O espetáculo foi gravado em São Paulo para tornar-se um DVD. A turnê nacional, que começou no Rio de Janeiro, passou pelo Recife no início de dezembro. Ao contrário do primeiro show, onde as versões acústicas das músicas lembravam o cancioneiro delicado, para este revival foi escolhida a forma elétrica das canções, com mais sonoridade e percussão. O resultado são músicas como “Anunciação”, “Banho de Cheiro”, “Dia Branco”,

“Tropicana”, “Moça Bonita”, “Belle de Jour”, “Canção da Despedida”, “Coração Bobo”, “Táxi Lunar”, “Bicho de Sete Cabeças” e outras no repertório. Zé Ramalho, que participou do espetáculo há 20 anos, é lembrado pelos colegas com duas músicas de sua autoria: “Chão de Giz” e “Frevo Mulher”. As homenagens não param por aí. Do mestre Luiz Gonzaga, o trio canta o “Xote das Meninas”. O novo show também traz espaço para novas músicas dos participantes. Geraldo Azevedo mostra “Só Depois de Muito Amor”, que tem letra do poeta Abel Silva. Alceu Valença apresenta “Ciranda da Traição”.

and Lonesome, de blues, o 25º da carreira da banda. As 12 músicas do disco foram gravadas em apenas dois dias e contaram com a participação de Eric Clapton. Blue and Lonesome “traz a banda de volta às suas raízes e à sua paixão pelo blues, que sempre estiveram presentes no coração e na alma da banda”, destaca o comunicado emitido pelos Stones sobre o álbum. STONES DE VOLTA Para quem achava que a carreira dos Rolling Stones ia ter fim após a turnê que comemorou os 50 anos da banda – e que passou pelo Brasil em fevereiro de 2016 – eis que os ingleses surpreendem mais uma vez. Os Stones anunciaram o lançamento do álbum Blue

ao suingue brasileiro de Lenine. No trabalho, que terá formato de CD e DVD, novas roupagens para hits já conhecidos, como Paciência, Leão do norte, Jack soul brasileiro e Hoje eu quero sair só, além de arranjos para as faixas do seu último disco autoral, Carbono.

LENINE EM AMSTERDÃ Lenine escolheu a cidade de Amsterdã para gravar seu novo disco ao vivo. The Bridge tem 17 músicas e foi gravado em parceria com o maestro holandês Martin Fondse, resultado de uma parceria que já durava três anos. As músicas ganharam novos arranjos que uniram o jazz sinfônico de Fondse

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HISTÓ RIA

Corpore sano À

primeira vista estas máquinas parecem construídas para torturarem pessoas, mas na realidade são os primeiros aparelhos de ginástica da história. Desenvolvidas em meados do século XIX, elas até lembravam os atuais aparelhos, mas com um estilo bem menos ‘amistoso’. Criados em 1860 pelo médico ortopedista Gustav Zander (foto abaixo à esq.), os primeiros aparelhos de ginástica já visavam a melhora do condicionamento físico e de postura dos pacientes. Os dispositivos terapêuticos, como eram chamados na época, se mostraram um enorme sucesso e rapidamente foram patenteados pelo médico sueco. Outra curiosa diferença eram os trajes que as pessoas usavam para praticar os exercícios, que não lembravam em nada as atuais roupas confortáveis e produzidas especialmente para academia. Não devia ser fácil malhar de vestido longo ou terno. Se atualmente, os aparelhos de ginástica possuem diversas funções num só equipamento, há 150 anos era diferente. Inicialmente, Zander desenvolveu uma máquina para cada tipo de exercício que pretendia recomendar aos seus pacientes. Apenas no início do século XX, os fabricantes decidiram unir diversos aparelhos num só, para diminuir custos e aumentar as vendas.

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