Revista Mineira de Engenharia - Edição 40

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ISSN 2447-813X

REVISTA MINEIRA DE

ENGENHARIA REVISTA DA SME - SOCIEDADE MINEIRA DE ENGENHEIROS

ANO 9 | EDIÇÃO 40 | FEVEREIRO - MAIO-2019

“E agora, José?” (Carlos Drummond de Andrade)

Novos caminhos da mineração no Brasil pág. 10

Entrevista

Secretário Marco Aurélio de Barcelos Silva - pág. 8

Agrotecnologia

Produção de lúpulo em Minas Gerais - pág. 25

Protagonismo

A força e a determinação das mulheres na Engenharia - pág. 42


PROTEGER O PRESENTE PARA CONSTRUIR O FUTURO. Realizar ações conjuntas e conscientizar as comunidades sobre a importância da preservação e gestão dos recursos. Essas são algumas das formas de estimular o desenvolvimento sustentável. Nos últimos quatro anos, recuperamos mais de 1.400 nascentes e reflorestamos uma área equivalente a 240 campos de futebol. Porque, para nós, o crescimento só faz sentido se estiver em sintonia com as pessoas e com o meio ambiente.

usiminas.com

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Palavra do Presidente

A Engenharia e a Governança não são ciências exatas

Por isso, a sociedade deve estar vigilante.

o equivalente aos dados históricos de um mês ou mais. Como consequência, pode haver uma alteração significativa em uma variável importante de segurança de uma estrutura que não foi projetada levando em consideração essas alterações. Governança corporativa é uma forma sistêmica de administração das empresas e da maneira como devem ser dirigidas e monitoradas pelas diversas instâncias constituídas, tais como: diretoria executiva, conselho de acionistas, conselho de administração, auditoria, responsabilidades e atribuições de cada empregado. Mas, onde não há governança na tomada de decisões de engenharia? Se a engenharia e nem a governança são ciências exatas, imagina o que acontece quando há ingerência da gestão nos procedimentos de engenharia, onde há total subordinação da técnica à administração? Essa é a razão da transparência total sobre os riscos de qualquer empreendimento para a sociedade. A população com possibilidade de ser afetada é que deve decidir se quer ou não correr os riscos.

Ronaldo Gusmão – Presidente da SME

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ão vamos analisar a causa dos últimos acidentes com as barragens de mineração, mas propor uma linha de estudos visando uma política de segurança das estruturas complexas de engenharia existentes no Brasil. Qualquer estrutura de engenharia é o resultado da aplicação das ciências exatas: física, biologia, química e matemática, através de modelos desenvolvidos ao longo da história, levando em conta dados históricos, probabilidade e um determinado grau de empirismo. Os conhecimentos científicos em que está embasada a engenharia formam um conhecimento “provisório” pode ser atualizado a cada nova descoberta. Cada estrutura a ser construída é altamente dependente da engenhosidade dos profissionais que as estão projetando. Por isso, esses profissionais são pessoas extremamente demandadas e que foram, ao longo da carreira, desenvolvendo sua competência técnica. Precisamos lembrar que a ciência evolui constantemente, e um aprendizado contínuo com os fenômenos naturais é necessário para reduzir as incertezas dos dados históricos e empíricos utilizados nas estruturas de engenharia. O exemplo mais recente são os gases de efeito estufa que estão interferindo na temperatura da terra e causando as mudanças climáticas. As decorrências causadas pelas mudanças climáticas ainda não são de completo domínio da ciência, mas é sabido que elas causam efeitos extremos no clima com maior rigor e maior frequência, isto é, pode chover num espaço curto de tempo

Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

As empresas precisam ser transparentes em relação às suas atividades que podem envolver algum risco para a sociedade. Desta forma, os especialistas analisam esses dados e ajudam a informar a população sobre esses riscos. Assim como as empresas, o Estado também tem que ter transparência quando há risco de vida. O mesmo vale para os conselhos profissionais, que também deveriam ser abertos e democráticos com a gestão da informação. Hoje, são verdadeiras fortalezas invisíveis para a sociedade. No caso específico das estruturas de engenharia as responsabilidades são: primeiro, do empreendedor; segundo, do Estado brasileiro. No caso do empreendedor, não é só da diretoria, mas de todos os envolvidos: diretoria, conselho de administração, acionistas e profissionais contratados pela empresa para projetar, operar e manter toda a estrutura de engenharia em perfeito estado. O segundo responsável é o Estado brasileiro, de acordo com suas atribuições constitucionais: executivo (federal, estadual e municipal), legislativo (federal, estadual e municipal), o judiciário e o ministério público (federal e estadual). Nos casos dos últimos acidentes com as barragens de mineração, do CT do Flamengo e do viaduto em São Paulo vimos falta de boas práticas de governança empresarial e governamental. Essa é a razão da necessidade de uma política nacional de segurança de estruturas complexas de engenharia. Com maior transparência ampliamos e nomeamos os responsáveis na tomada de decisão. Mais transparência é mais democracia. É a sociedade que deve decidir se quer correr algum tipo de risco ou não. Por isso, a sociedade deve estar vigilante. Afinal, a Engenharia e a Governança não são ciências exatas.

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Sumário

6 Nova Revista

Novidades da Revista Mineira de Engenharia

7 Atividades SME

Localiza e SME fecham parceria promissora

8 Entrevista

Secretário de Obras de MG

10 Capa: E agora, José?

Novos caminhos da mineração no Brasil

17 CEOs da Engenharia Os desafios da reconstrução

22 Homenagem

40 Mestres da Engenharia

Engenheiro do ano 2018

Doutora Adriana Tonini

23 Tecnologias Sociais

42 Destaque

Projeto Arquitetura na Periferia

Protagonismo feminino na engenharia

25 Agrotecnologia

46 Eventos SME

29 Para Relaxar

50 SME 88 anos

33 Tecnologia

52 Comissões Técnicas

35 Turismo em Minas

55 Atividades SME

39 Jovem Engenheira

56 Artigos Técnicos

Produção de lúpulo em Minas Gerais Cervejarias em Minas Gerais Estudantes da UFMG criam carro de corrida 10 cachoeiras que irão tirar seu fôlego Carla Sayuri Matsushita

Jornalista Responsável Lígia de Matos MG 12.054 JP Projeto Gráfico / Design Lucas Oriel lucas@lucasoriel.com

Redação Lígia de Matos Viviane Wehdorn

www.sme.org.br . (31) 3292-3962

Departamento Comercial Fabiola Veríssimo Mirani Silva marketing@sme.org.br Tel. (31) 3292 3810 Tiragem impressa 10 mil exemplares Edição Eletrônica 45 mil contatos

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Publicação:


Editorial O

Rio Doce já nos mostrou, em dimensão nacional, as consequências humanas, ambientais, econômicas e sociais da ruptura da barragem em Mariana. Este ano, as vidas ceifadas em Brumadinho sensibilizam e questionam quanto aos papéis e responsabilidades de cada um como agente privado, público e responsável técnico. Será que o estado e nossas políticas públicas estão assegurando o equilíbrio entre os diferentes e divergentes interesses? - Será que o atingimento de metas e indicadores de produção são valores superiores aos limites técnicos e de segurança? - Quais as alternativas técnicas às tradicionais soluções? - Como torná-las viáveis economicamente? Precisamos mudar. Precisamos olhar e compreender as partes com uma nova amplitude e sensibilidade, com um olhar estratégico e de soberania. Afinal, somos uma só sociedade. Neste olhar, a Sociedade Mineira de Engenheiros – SME reafirma continuamente seu compromisso com toda a sociedade, de atuar na promoção de diálogos, formulação, proposição e acompanhamento da implementação de políticas públicas junto aos governos e no debate técnico e sobre governança junto ao setor privado. Parte desse debate é a nossa matéria de capa desta edição. Neste novo cenário, a Revista Mineira de Engenharia também se renova. Estabelecemos uma nova linha editorial, com produção

Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

de conteúdo em diferentes seções: Técnica: aberta a artigos e matérias sobre engenharia, agronomia e arquitetura; Institucional: dedicada às atividades e eventos da SME e de nossas comissões técnicas; Perfil: para entrevistas e um justo destaque aos profissionais e suas ações em prol da sociedade, da engenharia e do resgate de nossas memórias e, agora, uma nova seção – Lazer: dedicada a valorização da nossa cultura, do território mineiro e das nossas riquezas. Nesta 40ª edição, no mês da mulher, os destaques são dados a elas! Em especial ao perfil de engenheiras de diferentes gerações e áreas profissionais e ao projeto Arquitetura na Periferia que, desde 2013, ajuda mulheres em comunidades de Belo Horizonte a terem suas casas construídas ou reformadas e sua autoconfiança aumentadas. Em nossa nova seção, dedicada ao lazer, turismo e descontração - sem perder o elo com a engenharia – abordamos a produção das cervejas artesanais (que estão mudando o mercado cervejeiro nacional) e apresentamos dois roteiros, um com seis cervejarias abertas à visitação e outro com dez cachoeiras que encantam a quem aprecia nossas paisagens. Esperamos que esta nova seção traga a todos o valor da nossa cultura e a vontade de conhecer e desfrutar nossa Minas Gerais. Uma ótima leitura!

Krisdany Cavalcante

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Nova Revista

Mais elegância, informação e dinamismo

Revista Mineira de Engenharia ganha nova linha editorial e visual Novidades à vista! Em 2019, a Revista Mineira de Engenharia chega em um novo formato, mas ainda com o foco primordial em trazer distintos pontos de vista e perspectivas sobre os temas que sempre interessaram aos associados.

E

la agora possui novas seções e apresenta dicas de turismo, relaxamento e conhecimento, além dos artigos, matérias institucionais e técnicas.

viagens, passeios e algumas das maravilhas que Minas Gerais tem a oferecer para quem gosta de desbravar seus belos recantos ou participar de manifestações culturais. Todas as dicas são apresentadas com os dados e contatos dos locais citados nas matérias, para facilitar aos interessados a busca de mais informações. E, por fim, a categoria Perfil é voltada para entrevistas com profissionais, novos ou experientes, além de destacar importantes projetos sociais e/ou políticos. Uma das novidades desta categoria é a seção Memórias. Nela, um engenheiro ou engenheira é entrevistado para falar sobre uma parte da história da Engenharia que muitas pessoas não conhecem ou de que não se lembram. Seu objetivo é trabalhar cases de sucesso (ou não) ou mesmo relembrar fatos que se perderam ao longo dos anos.

Valorização das imagens

O sumário é o ponto de partida para mostrar o novo trabalho editorial e visual da revista. Desta edição em diante, ele passa a ser dividido em quatro categorias: Institucional, Técnica, Lazer e Perfil, com cores definidas para cada uma delas. A parte Institucional é para as matérias ligadas ao dia a dia da Sociedade Mineira de Engenheiros, como palestras, seminários, agenda de eventos, relatórios, resultados e informações sobre o trabalho das comissões técnicas.

Mas não é somente a parte de conteúdo que ganhou uma nova roupagem. A revista, a partir de agora, irá apresentar um visual mais leve, mais elegante e definitivamente com um número maior de cores, fotos, mapas, infográficos e ilustrações, tudo para tornar a leitura ainda mais agradável. O design da revista passou por uma reformulação para se tornar todo unificado e proporcionar uma leitura mais fluida.

A categoria Técnica é para as matérias de Engenharia e seus mais variados usos, inovações e desenvolvimentos. Serão destacados temas sobre ciência, tecnologia, agronomia, equipamentos, entre outros, e também artigos de especialistas com enfoques diversos. Uma de suas novas seções intitula-se Inventividade, em que um grande invento que mudou a história da humanidade é destacado.

As novas tipografias são mais limpas e as fontes de um tamanho maior, o que aumenta o conforto visual. Foi feita uma seleção e combinação de fontes para tornar a imagem da revista mais elegante, clara e espaçada, assim como a ampliação de opções de imagens além da dualidade foto/ texto. Os boxes também recebem mais cor e destaque para valorizar os temas tratados e o uso de ilustrações e mapas aumentará a compreensão e complexidade de informações das matérias.

Outra novidade que deve entrar em vigor nas próximas edições, dentro da categoria Técnica, é um espaço dedicado a alguns dos parceiros da SME, como ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), Sebrae Minas (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) e CAU-MG (Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais). Notícias relevantes, normas e/ou comunicados importantes referentes a essas instituições terão uma página dedicada a eles. Lazer é outra nova parte da revista que chega com o intuito de trazer assuntos mais leves e lúdicos e tornar a leitura ainda mais prazerosa. Vai enfocar dicas de gastronomia,

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O resultado deste trabalho pode agora ser apreciado por todos. Boa leitura! Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019


Atividades SME

Localiza e SME fecham parceria promissora Lígia de Matos

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"Precisamos de instituições comprometidas com o futuro da engenharia como a SME”, destaca o CEO da Localiza, Eugênio Mattar Foto: Lozaliza/Divulgaçãot

Sociedade Mineira de Engenheiros acaba de fechar uma parceria com a Localiza, em prol do desenvolvimento mútuo e busca de novos projetos que proporcionem um elevado nível de referência à sociedade mineira e brasileira, bem como a ocupação de um espaço significativo com a engenharia, arquitetura e agronomia. A partir de agora, a Localiza é uma parceira oficial da SME em todas as suas atividades, como encontros, palestras e seminários com foco no fortalecimento de seu cenário de atuação e também em influenciar o mercado mineiro e brasileiro da Engenharia. “Hoje em dia, as empresas cidadãs apoiam a sociedade civil organizada de maneira muito mais efetiva e, principalmente, de forma transparente. Por isso, apoiar entidades como a SME é apoiar o desenvolvimento da tecnologia nacional em prol da sociedade. Para nós, a parceria com uma empresa global como a Localiza, que mantém sua sede em Minas Gerais, é mais que gratificante”, afirma Ronaldo Gusmão, presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

A Localiza é hoje a maior locadora de veículos da América do Sul com uma frota de 248 mil carros e oferece a melhor experiência de mobilidade aos clientes. Em 2018, a empresa foi eleita a 22ª marca mais valiosa do país pela Interbrand, consultoria global de marca. A locadora conta atualmente 591 agências e mais de 8.000 funcionários. A Localiza é mineira e foi fundada em Belo Horizonte em 1973 pelos irmãos Salim Mattar e Eugênio Mattar e Antônio Cláudio Resende e Flávio Resende. Em 2017, a empresa inaugurou sua nova sede em Belo Horizonte, um marco na arquitetura corporativa da capital mineira. Localizado no bairro Cachoeirinha, região Noroeste, o prédio possui 63 mil m², 26 andares sendo o edifício corporativo com maior área verde de BH. “Como engenheiro, sinto-me honrado em contribuir para a perenidade da Sociedade Mineira de Engenheiros. Com um projeto ético, a SME vem desenvolvendo um trabalho de valorização da engenharia mineira contribuindo para o desenvolvimento do nosso estado. Precisamos de instituições comprometidas com o futuro da Engenharia como a SME, para a melhoria na qualidade de serviços prestados à sociedade”, declara Eugênio Mattar, CEO da Localiza.

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Entrevista

Marco Aurélio de Barcelos Silva Secretário de Transportes e Obras Públicas do Governo Zema Viviane Wehdorn

O novo secretário de Transporte e Obras Públicas de Minas, Marco Aurélio Barcelos Silva, já tem em mãos um levantamento detalhado da situação de todas as obras sob responsabilidade do Estado. O próximo passo será colocar todas essas informações na internet para que os gestores possam ser cobrados e a população possa acompanhar a situação de cada obra. Em entrevista à Revista Mineira de Engenharia, o novo secretário detalhou como será esse processo. Como aconteceu sua contratação como Secretário de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais? Eu trabalhava no Governo Federal como Secretário de Articulação para Investimentos e Parcerias no governo em dezembro, quando recebi um telefonema de uma empresa de recrutamento perguntando se eu teria interesse em ingressar no Governo Zema. Achei interessante conhecer um pouco sobre o cargo e entender qual era a proposta. Até porque sou belo-horizontino e essa seria a chance de eu voltar para cá. Nas vésperas da entrevista com o governador eu pensei em não ir. Eu tinha uma proposta da iniciativa privada para trabalhar em São Paulo, com uma remuneração muito maior, mas por influencia do meu amigo Tarcísio Gomes, com quem trabalhei e atualmente é ministro, resolvi continuar o processo. Ele disse “vá, pois precisamos de pessoas para ser agentes de transformação”. Na entrevista que tive com o governador, fiquei bastante entusiasmado com a sua proposta e de sua equipe técnica.

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Marco Aurélio Barcelos Silva. Foto: Gil Leonardi/Imprensa MG

Qual foi essa proposta? Eles disseram que eu teria franca autonomia técnica para tocar os projetos, seria responsável por montar a agenda e seria cobrado por resultados. Eu teria autonomia para montar minha equipe com cargos técnicos, sem interferências políticas. E eu pensei “é tudo que todos nós sonhamos a vida inteira”.

E como foi a sua experiência anterior, no Governo Temer? Era um programa de parcerias de investimentos, de concessões e privatizações. Foi um dos programas mais bem-sucedidos das últimas décadas. Foram colocados de pé 119 projetos em dois anos e meio. Nós estamos falando em 300 bilhões de reais em investimentos viabilizados por meio de contratos e dos processos licitatórios que nós realizamos no governo federal durante esse curtíssimo intervalo de tempo.

O senhor já teve uma primeira passagem pelo Governo de Minas? Sim, comecei minha carreira aqui. Fui diretor da Unidade de Parceria Público-Privada de 2004 a 2009. Nós tivemos a oportunidade de trabalhar em projetos que foram, à época, bastante arrojados e inovadores. Dentre os

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Entrevista projetos em que tive a oportunidade de trabalhar nessa minha primeira passagem pelo governo de Minas Gerais, menciono a parceria público-privada da MG 050 e a parceria público-privada das Penitenciárias, destacando que essa é uma das parcerias mais premiadas ao redor do mundo. Por ironia da vida, eu apenas tive condição de visitá-la mais de 10 anos depois de sua implementação, no ano passado, em virtude de um programa do Ministério da Defesa Social que estava estudando replicar esse modelo para outros estados.

Atualmente, Minas Gerais tem mais de duas mil obras em atraso. Como o senhor pretende lidar com isso? Nós fizemos o mapeamento de todas as obras e recursos do estado. Estamos identificando quais são aquelas obras que estão hoje paralisadas e aquelas cujos panoramas estão atrasados, fazendo um mapeamento da razão de ser dessas distorções. Em virtude disso, faremos a montagem de um escritório para o acompanhamento periódico de projetos, identificando quais são as obras que andam mais rápido e quais andam mais devagar, quais são as empresas que têm promovido obras mais rápidas, as que têm promovido mais devagar e qual o tempo médio do pagamento do estado. A nossa ideia é que esses dados, uma vez reunidos, sejam disponibilizados e atualizados mensalmente, para que tenhamos uma noção mais transparente do próprio desempenho da SETOP. O foco é colocar na internet todos esses índices, todas essas informações, para que os meus controladores possam acessar esses dados e me cobrar. Para que as empresas possam acessar esses dados e cobrar uma melhor performance da secretaria.

Todas essas obras serão retomadas? Como estamos num período de vacas magras, algumas vão seguir, outras vão ter que esperar um momento oportuno. A gente precisa criar uma metodologia para decidir quais obras vão seguir e quais não vão, viabilizando esquemas e soluções que permitam o maior aproveitamento desses recursos. Precisamos estabelecer uma regra de priorização com uma metodologia objetiva, que nos permita criar um mapa de abordagem e execução dessas obras. O que importa para a gente diante desse contexto restritivo é acertar o alvo. Fazer com que as obras que mais promovam ganhos, utilidades e facilidades para o usuário, tenham nossa atenção num primeiro momento.

Qual o planejamento da SETOP para o setor de transportes? No que diz respeito aos transportes, nós estamos pensando em alguns programas de concessões e de parcerias público-privadas. O estado de Minas Gerais tem essa experiência bastante consolidada. Nós temos hoje um programa bem sucedido de manutenção de rodovias.

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Todavia, eu preciso, em alguns casos, ampliar a disponibilidade da malha viária existente. O que significa recrutar recursos, pois eles não virão do dinheiro já destinado para manutenção, que já é bastante justo. E é nesse contexto que nós precisamos fazer um convite ao setor privado. Outra frente que vamos trabalhar nas concessões para permitir o ingresso de novos investimentos envolve o setor aeroportuário. Lógico, estamos analisando a conveniência ou não de seguir adiante, já que a união está no limiar de extinguir a Infraero. Nós temos em torno de 80 aeródromos em Minas Gerais, quase todos administrados por municípios, que também têm essa dificuldade de preservação de seus respectivos aeroportos. Um outro projeto que está em pauta envolve o metrô em Belo Horizonte e na região metropolitana. O metrô hoje é operado pela CBTU, que é uma empresa pública federal, e há um imbróglio jurídico colossal que precisa ser resolvido para que o belo-horizontino e o morador da região metropolitana possam sonhar em falar em expansão. Essa operação precisa ser financeiramente sustentável para valer a pena.

Existe um prognóstico para o setor de Engenharia no estado? Nós não vamos, evidentemente, parar o setor de Engenharia do estado. Não vamos estagnar o investimento, mas vamos demandar um período grande de planejamento, que é algo que sempre faltou nas administrações públicas. Nós vamos dedicar mais tempo ao planejamento para colocar na rua aquilo que a gente realmente vai fazer. Nós não teremos um programa enorme de intervenções, mas um programa justo, preciso, devido a essa escassez de recursos. Meu compromisso, junto com o sub-secretário, junto com o empresariado mineiro é que os projetos que anunciarmos, vão sair. Portanto, nós não teremos anúncios megalomaníacos.

Como esta gestão da Secretaria de Transportes e obras Públicas pretende se diferenciar das gestões anteriores? Em todas as frentes de atuação da SETOP, em relação às obras, política de transferência de fomentos aos municípios e parcerias público-privadas, o que vai prevalecer é o aspecto técnico.

"Três importantes ingredientes vão pautar a Secretaria de Transportes e Obras Públicas: primazia da tecnicidade, diálogo com a sociedade civil e foco nas prioridades". 9


Mineração

E agora? Quais caminhos o setor da mineração deve seguir para continuar progredindo no Brasil?

Lígia de Matos

T

ragédia. Caos. Perdas humanas e ambientais. Incalculáveis brigas judiciárias e despesas econômicas vultosas e ainda longe de serem devidamente estimadas. Isso, sem citar todo stress e tristeza que circundam um acidente como o ocorrido no município de Brumadinho em janeiro deste ano. A economia local perdeu sua principal fonte de renda e a população não sabe nem a quem pedir ajuda.

Quem são os verdadeiros culpados? O que deveria ter sido feito para evitar uma situação que, infelizmente, é mais comum em todo o mundo do que deveria? Quais são os órgãos responsáveis pelas fiscalizações e onde eles erraram? E, é claro, o que fazer daqui em diante para que o mercado da mineração em Minas Gerais não se esvaia definitivamente? Essas são algumas das perguntas que ainda estão em busca de respostas, mas o foco aqui é apresentar possíveis perspectivas que podem ser avaliadas – ou até mesmo colocadas em prática - em um futuro próximo.

viável. Dessa forma, foi proposto um investimento e a instalação de filtragem de rejeitos de minério de ferro. A operação teve início no final de 2015. A Vallourec foi uma das pioneiras a utilizar filtros prensa para a finalidade de empilhamento drenado de rejeitos de minério de ferro e provou sua viabilidade técnica e financeira em comparação ao uso de barragens convencionais. A solução deixou também claro o viés da sustentabilidade pois evitou a instalação de novas barragens e alteamento de barragens existentes. Consequentemente, essa tecnologia beneficia (e pode vir a beneficiar outras empresas do ramo) diretamente a sociedade, o meio ambiente e a própria Vallourec, pois garante a continuidade operacional do negócio, alicerçada em um processo sustentável. Na visão de Reinaldo Brandão, o empilhamento a seco se mostrou bastante adequado para a operação da Mina Pau Branco. “No nosso caso, o investimento (compra do equipamento) mostrou-se economicamente viável em comparação

A Revista Mineira de Engenharia conversou com alguns especialistas para compreender melhor os caminhos a serem seguidos pois, além das recentes tragédias ocorridas em Minas Gerais, países como Canadá e Itália também tiveram sua cota de problemas em barragens e estão buscando soluções viáveis para que casos como esses jamais voltem a se repetir. Uma das possibilidades é a utilização de processos a seco; tecnologia recente e já utilizada por diversas empresas no Brasil e em Minas Gerais, como a Vallourec. Segundo Reinaldo Brandão, Superintendente Geral da Vallourec Mineração, no ano de 2010, quando a barragem Cachoeirinha da Mina Pau Branco (Nova Lima) iria atingir o ponto em que seria necessário o primeiro alteamento a montante, a equipe técnica da mina avaliou os riscos associados a essa solução e pesquisou outras alternativas tecnológicas que eliminassem os riscos de falta de estabilidade ligados ao método tradicional. Eles encontraram então a solução de filtro prensa, que era aplicada na mineração de ouro, cobre, níquel e zinco ao redor do mundo (Inglaterra, Irlanda e Chile) e que poderia ser adotada pela empresa. O sistema de filtro prensa retira a água do material e permite um empilhamento do rejeito drenado, ou seja, seco. O processo foi avaliado para os rejeitos de minério de ferro e se mostrou técnica e financeiramente

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Filtro Prensa da Mina de Pau Branco, em Nova Lima. Foto: Thiago Fennandes

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Mineração com a construção de barragens tradicionais que demandam alteamentos. O custo de operação e manutenção é da mesma ordem, quando comparado com a solução de barragem convencional. Para outras minerações, a viabilidade precisa ser analisada caso a caso. Mas é importante ressaltar que a solução de empilhamento a seco não apresenta riscos e os impactos são menores se comparados com a disposição em barragens. Como o material disposto está seco e estável, não existe o potencial de ruptura, movimentação, alagamento e soterramento das áreas locais e regionais e seus danos socioambientais associados”, complementa o superintendente.

Governança e Transparência

Segundo Willer, a Governança aplica-se tanto na esfera pública quanto na privada e o diferencial entre ambas é o receptor dos resultados: no setor privado são os investidores e, no público, os pagadores de impostos, ou seja, os cidadãos. Mas no geral, em ambos são mecanismos e dispositivos legais e/ ou corporativos que norteiam e pavimentam as estradas a serem seguidas, visando alcançar objetivos e metas dentro de certo critério, como o ético, e outros predefinidos. “No setor privado, o objetivo de uma boa governança é adicionar valor para a organização com a redução dos riscos financeiros, comerciais e operacionais. Em resumo, uma boa governança fortalece a confiança dos acionistas ao criar mecanismos de prevenção de atos fraudulentos e desonestidades, por exemplo. O impacto da alta gerência na aceitação e internalização de procedimentos de boa governança é essencial para sua disseminação em todos os níveis hierárquicos. Se olharmos os recentes eventos envolvendo a Vale, claramente observamos uma governança no mínimo capenga ou apenas de papel. No popular, faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”, orienta. E se a questão da Governança está “capenga”, quando se trata de transparência, o problema pode ser ainda mais complexo. “Em minhas atividades em áreas executivas/corporativas, sempre observei critérios de transparência e bem cercados de ótimos profissionais de comunicação. Pois, para qualquer fato comunicado, por melhor que sejam as intenções, se este não for levado de maneira didática e simples ao público-alvo, corre-se o risco de haver uma interpretação do fato divulgado diferente do que foi objetivado. Entretanto, ao ser transparente, empresas precisam ter cuidado para não sofrerem de transparentite (transparência infecciosa), que não esclarece e não adiciona em nada para aqueles diretamente afetados pela notícia e acaba criando mais dificuldades de entendimento do problema”, alerta Willer Pos.

Willer Pos: "O impacto da alta gerência na aceitação e internalização de procedimentos de boa governança. É essencial para sua disseminação em todos os níveis hierárquicos". Foto: Arquivo pesssoal

Os últimos acontecimentos trouxeram à tona um dos problemas mais sérios e negligenciados no país nos últimos anos, a chamada Governança. Tanto na esfera pública, quanto na privada fica claro que é um termo apenas ideológico e que, se não for colocada em prática urgentemente, pode prejudicar ainda mais a sociedade e seu desenvolvimento. Willer Pos é um especialista no tema e seu vasto currículo inclui a formação de PhD em Química Ambiental pelo Georgia Institute of Technology USA, ex-Presidência da Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) e também do Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas) e ele também é ex-Diretor de Sustentabilidade das empresas AngloFerrous e AngloGold.

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Ele explica que, para uma empresa privada, a transparência primordial deve ser com os investidores, pois estes são a mola propulsora da empresa, as pessoas que investem e correm os riscos de mercado. Depois vem a transparência com os colaboradores e stakeholders; “não que sejam diferentes critérios de transparência, mas critérios de acesso. É sempre importante lembrar que ser transparente não significa expor tudo que ocorre com a empresa, mas expor tópicos que de uma forma ou de outra impactam as pessoas, os stakeholders. E, diferentemente do setor privado, o setor público precisa ter 100% de transparência em seus atos, pois não deveriam existir assuntos que não pudessem ser divulgados para todos os cidadãos”, complementa. Já quando se fala em desenvolvimento sustentável, segundo Willer, os critérios de saúde financeira empresarial aplicados à maioria das empresas ainda estão muito aquém de um desejo mais coletivo, principalmente dos stakeholders e, em grande parte, completamente desvinculados das práticas sustentáveis. E ele cita o exemplo da Copasa, uma instituição que vive da venda de água tratada. Em seu caso, seria um suicídio financeiro apoiar campanhas para economia e diminuição de consumo, mas uma análise mais detalhada poderia perfeitamente introduzir critérios de sustentabilidade

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Mineração às suas atividades apoiando não só a preservação, como também o tratamento do esgoto coletado, o que levaria a uma diminuição dos custos de tratamento. “Para empresas de mineração, quase que na sua totalidade, projetos de sustentabilidade estão completamente desvinculados da operação. Ainda somos o mesmo Brasil de 1500, extrativista, que simplesmente retira o minério e o vende com pouca agregação de valor. Já existem hoje rotas bem desenvolvidas, com menor uso de água, mas ainda é minúscula sua incorporação ao processo produtivo minerário. O uso intensivo de água nesse caso ainda precisa ser melhor analisado, considerando que, para produzir uma commodity importante (minério de ferro), destruímos uma outra commodity, a água. Processos voltados para o ‘waterless mining’ precisam avançar e ser melhor avaliados pelas empresas mineradoras. Nem sempre o mais rentável será o mais sustentável e a história da mineração nos mostra que processos de extração mineral com uso intensivo de água não se paga a longo prazo”, finaliza.

O que é preciso ser feito?

Fundão em Mariana, há mais ou menos três anos, agravado pela reedição do desastre com o episódio de Brumadinho, e depois os alertas que felizmente não se concretizaram em rupturas em Caeté, Barão de Cocais, Rio Acima e Macacos. Essas barragens saíram do manto sob o qual se escondiam e vieram para o triste centro da ribalta que é serem ameaças para o meio ambiente e populações humanas. Elas deixaram o patamar do ‘tolerável’ – onde também estão os lixões e aterros sanitários mal feitos – que alguns chamam de ‘áreas de sacrifício’ – ou seja, sabidamente degradadas para que a sociedade possa ali depositar seus restos de produção e consumo, seu lixo”. Ele ainda faz uma analogia para deixar o problema ainda mais claro. “Mal comparando, ter barragens com estruturas com segurança precária, de terra, e os ‘alteamentos a montante’ de estabilidade duvidosa é como ter um presídio de segurança máxima com um portão aberto, frágil, ou com uma cerca de dois fios de arame, sem vigias permanentes, por economia de gastos. Um dia então acontece a ‘fuga em massa’. No caso das barragens, ‘fuga’ irreversível, destruindo o que encontra pela frente, causando prejuízos incalculáveis, inclusive para os descuidados ‘donos’ que, digamos, não fecharam os portões direito porque custava caro; ninguém fez nem cobrou com a necessária severidade até que o vilão (a lama) fez o estrago. Aí vem a correria atrás da solução que antes teria sido simples: fechar bem o portão. Não deixar que naquele caminho de possíveis danos se estabelecessem núcleos urbanos, pessoas e estruturas produtivas, dando-lhes as devidas compensações e indenizações e propiciando relocações onde fosse necessário, tudo dentro do respeito humano e da justiça”, enfatiza.

Roberto Messias Franco, geógrafo, foi presidente da Feam e do Ibama. Foto: Arquivo pesssoal

rofundo conhecedor da área ambiental, o geógrafo Roberto Messias Franco foi presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Atualmente, é diretor da empresa de consultoria Alpha Ambiental. A opinião de Roberto Messias é muito clara quanto às tragédias ocorridas em Minas Gerais e suas causas. “As barragens de rejeitos tornaram-se o centro das atenções nos últimos anos, em especial depois do rompimento da barragem de

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A questão da governança e transparência das informações é o cerne dos inúmeros questionamentos que a sociedade e o próprio mercado fazem hoje e agrava ainda mais a situação. “Será que nas análises cheias de informações e exigências formais, minuciosas em muitos aspectos, apresentadas em EIAs e RIMAs, PCAs e RCAs, mais licenças, outorgas, autorizações destrinchadas à exaustão e apreciadas por níveis burocráticos, comitês, câmaras técnicas etc, o lado dos rejeitos e do risco que representam foi devidamente apreciado? Não haveria uma prevalência do formal, da produção em si, dos resultados gerados em condições ideais, de uma renda monetária aparentemente positiva, que escondem a importância de um aspecto que, se não é o principal, não pode deixar de estar no centro da equação: a disposição segura dos resíduos?”, questiona Messias.

De acordo com o especialista, a importância da transparência e a disponibilização das informações são aspectos fundamentais. Na verdade, ainda mais relevante que a quantidade é a disponibilidade dessas informações em linguagem adequada, compreensível e com Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019


Mineração credibilidade, sem deixar de lado o rigor científico. Ele destaca que é também necessário mostrar com clareza que haverá custos para o meio ambiente que podem ser aceitos e efetivamente compensados.

Informação, treinamento e responsabilidade

“E este é outro problema com o qual nos deparamos: nossa história ambiental tem registrado condicionantes não cumpridas, exigências escamoteadas, planos de educação ambiental inexequíveis, feitos apenas para cumprir uma exigência legal; e outros tantos descumprimentos de compromissos que levam a uma descrença generalizada. Isso, no caso atual das barragens, levou-nos a um lamentável paroxismo: ninguém acredita que se possam ter barragens seguras, sustentáveis, não ameaçadoras. E o voltar a acreditar – sem deixar o portão aberto - tem que ser construído desde sua base. É possível mudar esta realidade?”. Ele mesmo responde à própria pergunta, pois acredita que será muito difícil, principalmente porque a governança ambiental não é algo que virá sozinha: terá que estar junto com outras mudanças, sobretudo uma nova visão de mundo, de solidariedade entre os povos e com as gerações futuras, a serem implementadas. Para finalizar, Roberto Messias apresenta alguns conselhos para que o Brasil de hoje possa seguir em frente com foco em melhorar este cenário: - Junto aos poderes públicos é preciso mostrar e fazer com que mudem seu foco de atuação para a análise das realidades locais, mais do que de papéis, que, como se diz, “aceitam tudo”; mesmo laudos que podem levar a catástrofes. Criar uma política ambiental competente, bem equipada material e conceitualmente, que ouve e vê a realidade mais do que lê páginas e mais páginas de relatórios é um investimento e não um custo marginal. - Junto às empresas, precisamos fazer com que revejam suas próprias equações econômicas e se ajustem para arcar com custos fundamentais que não podem continuar sendo vistos como dispensáveis, secundários, mas integrem o principal das decisões dos empreendimentos: as novas tecnologias certamente têm muitos caminhos a mostrar. E há também um enorme desafio de conquista de credibilidade a ser vencido, porque não basta dizer-se favorável ao desenvolvimento sustentável; é preciso ter práticas que o demonstrem. Como não são, certamente, muitas das atuais. - E junto à própria sociedade, é necessário que se passe a cobrar mais, e também que ela contribua através da participação propositiva, para a formulação de políticas sustentáveis por seus líderes e representantes. É impressionante a ausência de plataformas e propostas ambientais ou de sustentabilidade em todas as campanhas políticas, um claro sinal de sua marginalidade entre os temas centrais de discussão, a não ser quando, tragicamente, ocorrem episódios como os das barragens. Até quando vamos tentar conter as fugas depois de elas ocorrerem?

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Joaquim Pimenta de Ávila:"Se os recursos såo cortados, há um cuidado menor com a segurança, a manutenção é prejudicada e tudo tem prejuízo". Foto: Arquivo pesssoal

Joaquim Pimenta de Ávila é Engenheiro Civil e já ocupou importantes cargos em empresas de renome. Há 30 anos é Diretor e Engenheiro Consultor da Pimenta de Ávila Consultoria Ltda., empresa especializada em Geotecnia e Recursos Hídricos aplicados à mineração, indústria e geração de energia, que desenvolve estudos e projetos de barragens para diversas finalidades. “A governança hoje é o assunto mais discutido no mundo, principalmente depois da ruptura de Fundão e, antes disso, de uma barragem no Canadá, que trouxeram este tema à tona. Imaginava-se que a governança naquele país estava bem estruturada e resolvida, mas não era o caso e isso pegou todo mundo de surpresa. Um ano depois veio o acidente de Fundão e fomos todos pegos de surpresa novamente. E, quando achávamos que essas surpresas haviam acabado, eis a tragédia em Brumadinho. Eu prevejo que isso pode continuar acontecendo porque não é apenas o que está sendo modificado que realmente precisa ser modificado”, declara Joaquim Pimenta. Na opinião do engenheiro, não precisamos de novas leis e regulamentos, apesar de todos apontarem como a fiscalização é deficiente e incipiente. Em sua visão, o ponto fundamental inicial é o compromisso da alta administração de uma empresa proprietária de uma mineradora com a segurança da barragem. Não adianta cobrar do engenheiro - que está “lá embaixo” – que tome cuidado, se a empresa “lá no topo” não assume o compromisso com aquilo. Sem

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Mineração comprometimento, não há dinheiro para fazer uma sondagem, instalar um piezômetro, contratar um monitoramento e outras ações que precisam de um bom orçamento. E para ter esse orçamento é preciso o compromisso de ‘cima’ para liberar as verbas. Joaquim Pimenta ensina que os pontos primordiais para melhorar esta situação são educação e treinamento. É preciso educar e treinar em três níveis diferentes na organização de cada empresa. “O primeiro nível é na direção, exatamente para motivar e reconhecer a importância da segurança da barragem em seu próprio negócio. Porque se a barragem se rompe, são os donos que recebem as multas, perdem as licenças e podem até ir à falência dependendo das proporções do ocorrido. É neste patamar que você vê a necessidade da direção em prover recursos para segurança, entre outros pontos”, destaca. O segundo nível de treinamento é voltado para os engenheiros que operam as barragens. Eles precisam conhecer bem as tecnologias, os riscos que correm naquela operação e a necessidade de adotar um manual de operações, além de uma equipe muito bem treinada e disciplinada em seguir todos os procedimentos. E o último nível, é do técnico. A pessoa que está ali abrindo e fechando válvulas na operação diária. A seu ver, esses três níveis de treinamento são essenciais para a saúde da empresa. Em termos organizacionais, é preciso também contratar uma consultoria externa que dê orientação a respeito da operação da barragem. “Pensando em termos de uma governança corporativa ideal, existe hoje a necessidade de se ter um grupo de consultores que se reúne periodicamente, olha o que acontece, revisa tudo e dá a orientação para a continuidade. Além disso, é preciso definir uma pessoa para ser a responsável pela barragem – uma espécie de âncora das informações. Essa pessoa é chamada de engenheiro de registro em alguns países desenvolvidos. É quem detém mais conhecimento sobre a barragem e para quem devem ser encaminhadas todas as informações. Isso é o ideal. O mundo inteiro está tentando implementar esse formato para que exista um resultado satisfatório no futuro”, pontua Pimenta. Os requisitos que devem seguir a gestão e a governança de uma barragem de rejeitos são objetos de trabalhos e publicações desde os anos 90. E hoje, países de todo o mundo estão ‘correndo atrás’ de guias, livros, publicações e informações para se reorganizarem e tentarem aplicar soluções para lidar com a nova realidade, após os sérios eventos. Mas existem fatores às vezes contrários à implementação de boas práticas. “Um exemplo muito forte de uma influência negativa é o preço das commodities minerais no mercado. Houve um decréscimo do preço da commodity de minério de ferro nos últimos 10 anos e isso afeta diretamente a segurança das barragens. Há indicadores que mostram que, quando o preço das commodities minerais cai, aumenta o número de acidentes e, quando sobe, reduz. Por que? As empresas vivem dentro de um certo orçamento. Se a receita cai porque o produto perde preço, ela corta recursos. E a barragem em si não quer saber se o preço está alto ou baixo, a água vem e

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derruba. Se os recursos são cortados, há um cuidado menor com a segurança, a manutenção é prejudicada e tudo tem prejuízo”. O especialista destaca que o compromisso de prover os recursos em uma boa gestão precisa de um esforço muito maior para existir pois os diretores e presidentes administram um orçamento mais restrito e os cortes precisam ser mais bem pensados. Esses são fatores que influenciam a segurança da barragem. “Há cinco anos, a tecnologia nova de filtro prensa – que é uma das melhores em minha opinião – começou a ser usada por aqui. Ela torna possível transformar lama em um solo que pode ser espalhado e compactado da mesma forma que se faz em uma estrada. Não existe uma solução melhor que essa em questão de segurança, porém o custo é maior do que o convencional. Apesar de compensar em diversos outros aspectos pois não causa danos ambientais, por exemplo, a maioria dos empresários do setor prefere manter o orçamento menor e, por isso, ela demorou a ser assimilada no mercado”. Pimenta deixa claro que, com o tempo, o mercado começou a perceber as vantagens dessas novas tecnologias a seco, além das econômicas, como as ambientais, os riscos menores e as sociais, com melhor relacionamento com as comunidades próximas. “Tudo isso ajudou a convencer as pessoas. Fiz um projeto há cinco anos e tive que provar as vantagens econômicas dessas alternativas – as únicas que contavam na época – e agora todas as outras estão sendo valorizadas também. E, a partir de agora, nenhuma mineradora conseguirá uma licença para um projeto de barragem de rejeitos. A sociedade não permitirá”.

O segredo de um negócio realmente sustentável

“Desenvolvimento sustentável significa ter um desenvolvimento contínuo e permanente e que garanta sobrevivência. O desenvolvimento tem que ser sustentável, esse deve ser o objetivo, mas só será se todos fizerem sua parte e afirmo que hoje é impossível o setor de mineração no Brasil ser sustentável. Cada um quer ser sustentável em seu próprio momento e isso é apenas interesse e não sustentabilidade realmente. O desenvolvimento é muito mais amplo. Hoje, diferentes áreas dentro de uma empresa não se comunicam e não se entendem, porque a mentalidade de seus superiores não permite. As empresas precisam criar grupos para debater os temas inerentes a isso e capacitar as pessoas para colocar essas decisões em prática”, declara o engenheiro Fídias de Miranda. Além de engenheiro civil, Fídias de Miranda também é administrador de empresas e possui mais de 30 anos de experiência em gerência corporativa (diretoria) de empresas de grande porte dos setores siderúrgico e de mineração (como Belgo Mineira e ArcelorMittal) e gerenciamento em sistemas de gestão integrada nas áreas de meio ambiente, sustentabilidade, mudanças climáticas, crédito carbono e projetos de energia solar fotovoltaica. Trabalha desde 2008

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Mineração

Temas Relevantes Benchmarking Modelos Globais

Políticas

Práticas de Gestão e Procedimentos

Gestão Interna para Sustentabilidade Sistema de Indicadores

Transparência e Relato

Implantado

Critérios de Sustentabilidade

Em implantação

GAPs Definições Estratégicas para Sustentabilidade

Plano/Projeto

Projetos Potenciais Plano Executivo de Sustentabilidade Fídias de Miranda - KeyAssociados

na KeyAssociados em projetos de assessoria, consultoria e serviços ambientais. Segundo o engenheiro, houve uma evolução em prol da sustentabilidade e todo negócio deve seguir um caminho para alcançá-la. “O mercado não pode martirizar a mineração, defenestrar ou eliminar, pois tudo também depende da mineração e seus produtos. Tudo é minério. As casas, construções, estradas. Quando mais capacitados, melhor para todos. Os melhores produtos ajudam a todos. Se você trabalhar dentro das regras, o mercado te respeitará”, ressalta o especialista. As empresas antes trabalhavam apenas visando suas performances financeiras com indicadores como lucro líquido e patrimônio. Por volta de 2010, surgiu um novo patamar de desenvolvimento com a prática da governança corporativa, conselhos fiscais, comitês de negociações, comitês de divulgação e comitês de auditorias. O momento atual caminha para um novo degrau que inclui a performance, a governança e a sustentabilidade. Foco nas dimensões econômicas, ambientais e sociais e todos esses itens precisam ter seus próprios indicadores de desempenho. “Antes, lá pela década de 70, levava-se em conta apenas os recursos tangíveis para avaliação dos valores gerados por uma empresa. Era uma média de 95% para os tangíveis como capital e 5% para os intangíveis. Hoje, os intangíveis já contam com 72% de importância, contra 28% dos tangíveis. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

Todos têm indicadores e entre os intangíveis podemos citar responsabilidade sócio-ambiental, gestão de risco, capital intelectual, fidelidade do consumidor, integridade, credibilidade, confiança, marca e reputação, entre outros”, explica Fídias. Em seus estudos e consultorias, Fídias de Miranda levantou uma série de informações e entre elas, definiu alguns passos que as empresas devem seguir para obter um verdadeiro desenvolvimento sustentável de seus negócios, seja em qual setor for. E, para começar, é preciso estudar temas que sejam relevantes para o seu setor de atuação, procurar modelos globais, fazer benchmarking, criar planos e projetos e, principalmente, colocá-los em prática. Por isso a necessidade de criar grupos, capacitar pessoas e fazer valer a governança. Ele dividiu essa lição em busca da sustentabilidade em quatro etapas. A primeira etapa consiste na definição de estratégia para sustentabilidade do negócio. É preciso levantar temas relevantes para os empreendimentos, realizar benchmarking, identificar e aplicar modelos globais e definir critérios de sustentabilidade. Para Fídias, é essencial aprender com os diferentes setores e adaptar as informações relevantes para o da sua empresa, além de ter pessoas que queiram estudar, pesquisar e realmente colocar o conhecimento em prática em prol do negócio.

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Mineração A etapa dois identifica os gaps (lacunas) que a empresa precisa preencher para alcançar seus objetivos. Inclui levantamento das ações e projetos, ações implantadas, projetos, ações já planejadas e as oportunidades para novos projetos (e este é o verdadeiro gap). A terceira etapa consiste realmente no plano executivo de sustentabilidade da empresa em questão. O setor público pode seguir a mesma linha de pensamento, mas é bem mais amplo, complexo e precisa de investidores. Cada negócio possui seu foco e esse plano pode incluir, por exemplo, gestão de resíduos sólidos, compras sustentáveis, projetos de educação sócio-ambiental e um selo de certificação que oferece garantias ao mercado e proporciona rastreabilidade. Esses são alguns dos indicadores de sustentabilidade. Por fim, a última etapa é sobre a gestão interna de sustentabilidade e como gerir este pacote de governança corporativa. Inclui política interna de gestão, práticas de gestão e procedimentos, definição de sistema de indicadores e meta de desempenho, definição de indicadores sócio-ambientais, relato de ações de impedimentos e relatórios de sustentabilidade – essenciais. “Esses últimos são os mais importantes em minha opinião e absolutamente tudo precisa ser feito, sem falta, mas para isso, é necessário muito trabalho. O verdadeiro ‘pulo do gato’ aqui é a continuidade de todos esses processos. Assim que finalizar a etapa 4, volte à etapa 1 e recomece o processo. Essas ideias precisam ser adaptadas ao tipo de negócio que se tem, mas servem para todos os setores que desejam realmente ter sustentabilidade empresarial”, ensina. Para finalizar, ele ressalta algumas das características preponderantes para que um gestor seja um líder bem-sucedido. Ele ou ela precisa ser flexível sem nunca perder de vista o objetivo central, mergulhar na cultura das pessoas das quais pretende ser líder, tirar proveito de diferentes oportunidades e diferentes mercados e questionar sempre os pressupostos. “Uma estratégia mal definida pode levar a grandes perdas. O risco de não ação é sempre o maior de todos”, finaliza.

Governança Pública Falou-se muito de Governança Corporativa, mas é importante também saber o que significa a Governança Pública. No Brasil, ela é definida pelo Decreto 9.203/2017 como o conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com vistas à condução das políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade. São princípios da governança pública: capacidade de resposta; integridade; confiabilidade; melhoria regulatória; transparência; prestação de contas e responsabilidade. A discussão sobre a origem da governança pública está associada à governança corporativa. A partir do momento em que as organizações passaram a ser administradas por pessoas distintas dos seus proprietários, surgiu a necessidade de se criarem regras para mitigar eventuais conflitos de interesses. São preocupações da governança, entre outras, a prestação de contas e a transparência. Contudo, no caso da governança pública, há preocupações também com uma faceta de legitimidade ainda maior, dado que o poder exercido pela administração ocorre em virtude do cumprimento de uma função que visa a satisfação dos interesses da coletividade, conforme a própria definição do decreto que regulamenta a governança pública.

Como funciona um filtro prensa Um filtro prensa é um equipamento de separação de materiais líquidos e sólidos. Ele é usado para reduzir o volume e o peso de um produto a ser filtrado, separando a parte líquida da parte sólida. No processo de empilhamento a seco, o rejeito que seria lançado em barragem convencional passa pela filtragem e grande parte da água é retirada. O produto final - que tem menos de 18% de umidade - pode ser disposto em pilha, sem o risco de instabilidade e ruptura. Parte do rejeito final desse reprocessamento pode ser utilizada como material na construção civil: bloquetes, blocos, tijolos, telhas, que podem ser utilizados em casas, pavimentação etc. A outra parte é empilhada e revegetada. As etapas envolvidas na operação são: O rejeito é bombeado na entrada no equipamento, utilizando uma bomba de alimentação A filtração de prensa ocorre dentro do filtro em uma série de câmaras projetadas para aumentar a área de filtração e a taxa de filtração A água passa através de tecidos de filtro e sai da máquina deixando para trás as partículas sólidas O rejeito drenado permanece dentro de câmaras do equipamento O equipamento é então aberto e o rejeito drenado é descarregado por gravidade conforme cada placa vai sendo aberta O material drenado é transportado e disposto em pilhas juntamente com material estéril

Fidias de Miranda afirma que desenvolvimento sustentável depende da participação de todos

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A água que é proveniente dessa filtragem é reaproveitada no tratamento do minério

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CEOs da Engenharia

O que pensam os CEOs sobre o Brasil: os desafios da reconstrução

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Rubens Menin, presidente do Conselho da MRV; Flávio Campos, ex-presidente da SME e Teodomiro Diniz, vice-presidente da Fiemg

SME reuniu os CEOs de algumas das principais empresas brasileiras e o vice-reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com um único objetivo: saber que expectativas eles têm para o Brasil nos próximos anos e qual seria a contribuição que cada brasileiro poderia dar para que o país retome o rumo do desenvolvimento. Foram convidados o presidente da MRV Engenharia, Rubens Menin; o vice-presidente da Federação das Indústrias no Estado de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz; Constantino Seixas Filho, diretor da Accenture Brasil; Eugênio Mattar,

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presidente da Localiza; Antônio Claret, presidente da Infraero; Ricardo Sena, presidente da Andrade Gutierrez; e Jayme Nicolato Correa, presidente da Ferrous Resources Brasil. Eles opinaram sobre quatro temas de importância na atualidade: “Empreendedorismo e inovação no estado moderno”, Formação para o mundo do trabalho”, “Da engenharia à gestão empreendedora” e “Compliance, da teoria à prática”. Os debates foram conduzidos pelos ex-presidentes da SME Flávio Campos, Heleni Fonseca, Aloísio Vasconcelos e Mário Trindade. Confira o que pensam os convidados sobre o Brasil:

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CEOs da Engenharia

Empreendedorismo e Inovação no Estado Moderno Rubens Menin, presidente do Conselho da MRV Engenharia Acho que as elites brasileiras têm o mau hábito de reclamar. Mas não podem reclamar se não participarem. Vivemos um momento extremamente importante e a melhor forma de participar é através das associações e entidades de classe. A construção civil deveria ser um setor de crescimento. Infelizmente, nós desempregamos 1,2 milhão de pessoas em um país que tem um déficit habitacional, tem uma infraestrutura a ser feita, tem a geração de mais um milhão de famílias por ano que precisam de casa própria. Então, a gente está na contramão do razoável. A gente precisa mudar tudo isso para poder de fato ajudar no crescimento econômico e social do Brasil, um país antagônico. Pois de um lado, a gente tem uma dificuldade de ambiente de negócios, que não é o melhor do mundo; por outro lado, temos muitas oportunidades, em um país enorme, um país continental. Temos que saber balancear esses dois fatores. Por isso, faço um apelo para que tenhamos uma ação participativa, porque a gente não pode, mais uma vez, perder o bonde da história.

Teodomiro Diniz, vice-presidente da Fiemg Nós estamos num período e num tempo de mudanças absolutas e precisamos aproveitar esse tempo. O momento de crise que estamos vivendo é uma grande oportunidade de mudança de comportamento por parte de todos os setores da sociedade, inclusive dos empresários, entendendo que a função social deles se caracteriza pela transparência no exercício de sua colocação na sociedade. Se não compreendemos isso, corremos o risco de chegar mais à frente e não entendermos que a crise pode significar uma oportunidade.

Formação para o Mundo do Trabalho Constantino Seixas Filho, diretor da Accenture Brasil Esse evento tem um caráter muito importante, pois discute vários assuntos muito críticos, como a implantação da revolução digital, a chamada indústria 4.0, seus impactos na economia, em qual estado de maturidade o Brasil se encontra nesse momento e as ações de transformação das pessoas, e como nós vamos preparar essa geração que vai tirar proveito dessa renovação. Além de sermos os protagonistas desse momento, os profissionais vão ter que completar sua formação e nós temos que contribuir com isso. Então, acho que, tanto empresas quanto governo e entidades de classe, todos temos muito que contribuir.

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Constantino Seixas Filho, diretor da Accenture Brasil, Heleni Fonseca, ex-presidente da SME e Alessandro Moreira, vice-reitor da UFMG

Alessandro Moreira, vice-reitor da UFMG e membro do Conselho Deliberativo da SME O que a gente tenta falar é que o jovem tem que ter essa capacidade de empreender, saber se virar. As ferramentas que a gente tem nesse sentido são a realização de eventos, participação em workshops, em projetos de competição, onde ele vai aprendendo esse know how de como buscar conhecimento e como desenvolver uma tecnologia que ele ainda vai conhecer. A gente não pode se pautar por uma tecnologia que daqui a quatro anos pode não existir mais.

Da Engenharia à Gestão Empreendedora Eugênio Mattar, presidente da Localiza Estamos em um momento de aprimorar o caminho que vínhamos trilhando e cuidar da responsabilidade fiscal. Mas não adianta cuidar da responsabilidade fiscal só não, sendo preciso trazer investimentos que cubram o que o governo não tem de recursos. Parece que o governo novo está muito disposto a privatizar, a se desfazer de ativos e também de incentivar parcerias para atrair recursos de investidores externos e, com isso, não ficar só com o desafio da redução de despesas. E o Brasil precisa de desenvolvimento, de crescimento, para combater o próprio déficit fiscal. Sei que é um desafio muito grande. O governo está muito formatado a promover mudanças e a inspirar as pessoas e as empresas a mudarem a direção. No caso das empresas, quanto mais o Estado incentivar

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CEOs da Engenharia as frentes de produção no Brasil. A partir daí, levar o país como a gente leva a nossa casa. Vamos multiplicar isso que a gente sente pelo nosso país. Isso é engenharia.

Compliance, da Teoria à Prática Ricardo Sena, presidente da Construtora Andrade Gutierrez Eugênio Mattar, presidente da Localiza; Aloísio Vasconcelos, ex-presidente da SME e Antônio Claret, presidente da Infraero

as empresas a produzir com facilidade, mais as empresas vão investir na mudança, na melhoria. Porque é a competição que faz as empresas mudarem. Porque já está definido que se você não mudar, não simplificar, não conquistar seu cliente, você não vai morrer.

Antônio Claret, presidente da Infraero

Eu tenho esperança no novo governo, porque vem da iniciativa privada e não tem a presunção da má fé. Eu acho que esse clima de vontade de fazer, vontade de reduzir o tamanho do Estado para sobrar mais recursos, parece que contamina. Eu acho legal isso. Acho que a gente precisa ter o pé no chão para não achar que vamos dar um salto quântico. Porque isso não é possível. Abaixo: Ricardo Sena, presidente da Andrade Gutierrez, Márcio Trindade, expresidente da SME, e Jayme Nicolato Correa, presidente da Ferrous Brasil

Engenharia é, pelo próprio significado da palavra, a gestão, a criação, a antecipação. Significa que temos que exercer nossa função de engenheiros, sendo engenheiros dia e noite, neste país maravilhoso, que, infelizmente, tem 13 milhões de desempregados ainda. Temos uma grande meta de fazer esse país crescer, mas temos, antes, que tirar esse povo da miséria. Eu entendo que através da aviação, da integração nacional, nós podemos atrair os turistas de fora. Em vez de termos seis milhões de turistas, podemos ter, no mínimo, 20 milhões, como Portugal, que não tem nada mais que nós. E recuperarmos rapidamente esses 13 milhões para

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CEOs da Engenharia

Luiz Otávio Portela, vice-presidente da SME, Ronaldo Gusmão, presidente da SME e Otto Levy Reis, secretário de Planejamento e Gestão de Minas.

Propostas para o novo governador

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urante o evento com os CEOs, o presidente da SME, Ronaldo Gusmão, entregou ao então futuro Secretário de Planejamento e Gestão de Minas, Otto Levy, um documento com as propostas da entidade. São elas as seguintes: 1 Comprometimento rigoroso na gestão dos gastos públicos; 2 Participar ativamente junto à bancada mineira no Congresso Nacional, na busca de recursos para investimentos (em educação, saúde, segurança, infraestrutura de transportes, saneamento, cultura) no Estado; 3 Promover a criação de uma entidade estadual de planejamento, a exemplo do extinto Plano Metropolitano de Belo Horizonte (Plambel); 4 Ampliar os investimentos e ações em saneamento (água, esgoto e resíduos sólidos, incluindo os respectivos tratamentos) no Estado; 5 Rever a política tributária vigente, buscando atrair e não repelir os investimentos industriais no Estado; 6 Exigir que os agentes reguladores existentes sejam apoiadores da atividade econômica, de

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forma a viabilizar bons projetos e boas práticas, dentro da lei; 7 Promover a entrada de novos empreendedores e agentes na busca agressiva de novas fontes de energia, para substituição de combustíveis fósseis; 8 Desenvolver, sempre de forma institucional, um ambiente favorável para que empresas possam investir e desenvolver suas atividades no Estado; 9 Buscar formas de agregar valor aos produtos produzidos no Estado; 10 Desenvolver e implantar plano de carreira para engenheiros contratados nos órgãos do governo; 11 Naqueles cargos e funções inerentes à atividade de engenheiros, só admitir os referidos profissionais engenheiros devidamente registrados e quites com o Sistema Confea/Crea; 12 Que nossas recomendações possam ser efetivadas como ações de Estado e não como ações de Governo, deixando um legado para o futuro.

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CEOs da Engenharia

Presenรงas ilustres

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Homenagem

Engenheiro do ano

Da esquerda para a direita: Bernardo Alvarenga, presidente da Cemig; Murilo Valadares, então secretário de Transporte e Obras Públicas de Minas Gerais; Aloísio Vasconcelos; Ronaldo Gusmão, presidente da SME; Paulo Lamac, vice-prefeito de Belo Horizonte e José da Costa, chanceler da Medalha

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ono de um extenso currículo na área de engenharia e de participação na política e na gestão de estatais, principalmente no setor elétrico, o engenheiro Aloísio Vasconcelos recebeu, em dezembro, a medalha “Engenheiro do ano”, que é outorgada anualmente pela SME, ao profissional que tenha se destacado pela sua contribuição à engenharia. Uma homenagem merecida que levou à entidade grande número de amigos e admiradores de seu trabalho, e que compartilharam com ele o reconhecimento de sua trajetória.

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Em agradecimento, Aloísio Vasconcelos disse que sentia-se imensamente honrado com a homenagem prestada pela entidade, da qual também foi presidente. “Tenho muito boas lembranças do tempo em que presidi a SME, que é uma entidade de coragem e de posição de defesa pública do engenheiro e da engenharia. Fico muito honrado pelo reconhecimento e espero poder retribuir através da minha modesta participação”, afirmou o homenageado.

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Engenharia Social

Projeto Arquitetura na Periferia traz esperança e autoestima às mulheres de comunidades de Belo Horizonte Lígia de Matos

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onhecimento, compreensão e solidariedade. Estas são as premissas do projeto Arquitetura na Periferia (AnP) que, desde 2013, ajuda mulheres em comunidades de Belo Horizonte a terem suas casas reformadas e sua autoestima e autoconfiança aumentadas. A ideia da iniciativa surgiu durante o projeto de mestrado da arquiteta Carina Guedes, que resultou em um trabalho de assessoria técnica para grupos de mulheres de baixíssima renda. Desde sua concepção, o Arquitetura na Periferia já ajudou a melhorar a vida de 28 mulheres e possibilitou a reforma de 22 casas, incluindo as que ainda estão em obras. Os trabalhos começaram na Ocupação Dandara (bairro Céu Azul), apenas com a interação de Carina e hoje há obras também nas ocupações Eliana Silva e Paulo Freire (as duas na região do Barreiro). A Dandara foi escolhida por ser um local em que a arquiteta já havia atuado antes, conhecia pessoas de lá e que também trabalhavam lá. Depois, ela participou de projetos na Eliana Silva, quando essa ocupação estava se formando e, ampliar a atuação para lá, se tornou uma escolha natural. A ocupação Paulo Freire é vizinha da Eliana Silva e, por isso, as moradoras souberam do projeto e mostraram interesse em participar. Em sua essência, o Arquitetura na Periferia é um projeto que dá assessoria técnica às mulheres moradoras das ocupações, ensinando conceitos básicos de planta baixa, planejamento de obra e também noções financeiras, entre outros pontos. O objetivo é dar o mínimo de subsídios para que elas possam fazer o projeto de reforma de suas próprias casas. O passo seguinte são as oficinas de construção com aulas sobre alvenaria, reboco, hidráulica, elétrica e assentamento de cerâmica. “Dessa forma, elas aprendem como executar essas atividades e podem, elas mesmas, realizar parte da obra ou toda ela. Vale ressaltar que essa é uma escolha das mulheres. Elas podem decidir também contratar pedreiros para a execução, se for o caso. EEssas oficinas têm o principal objetivo de mostrar a elas que, caso queiram, são capazes de construir sozinhas o que desejarem”, explica Rafaela Dias, engenheira civil e diretora financeira do Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação – IAMÍ. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

As mulheres aprendem e realizam os projetos juntas. Foto: Acervo A

Antes do início das oficinas é oferecida às mulheres participantes a possibilidade de adquirir um microcrédito para compra de materiais de construção e também um apoio financeiro para o início das obras. Segundo Rafaela, a equipe procura evitar todo tipo de burocracia, tendo em vista que este pode ser um fator excludente. Dessa forma, todo o processo é feito na base da conversa e confiança. Elas decidem quanto de empréstimo pegar (existe um teto devido às limitações financeiras do projeto) e em quantas parcelas pagar (sem juros).

Problemas reais

Ainda hoje, as mulheres são as que mais permanecem em casa e realizam a maior parte das atividades domésticas. E os cômodos voltados para essas funções, como cozinha e área, quando são mal feitos, constituem um incômodo constante. O grupo da AnP já se deparou com diversas situações tais como cozinhas quentes demais, pouco arejadas e com problemas de iluminação e também áreas de tanque sem cobertura (problemáticas de serem usadas

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Engenharia Social em dias de chuva ou de muito sol) e com falta de pontos de água na casa. “O principal é entender que, quando a mulher não participa do processo de planejamento e construção da própria casa, esta acaba sendo feita por um homem que pode ser o marido, pai, ex-marido, pedreiro etc. Com isso, ela vai morar em uma casa que não corresponde ao que gostaria, o que é um motivo de constante frustração. Uma de nossas participantes queria muito uma casa como as do interior, com varanda e plantas e, quando viu a casa que o marido tinha construído, percebeu que nenhum de seus pedidos havia sido atendido. Quando essas mulheres entram para o AnP, elas fazem reformas que transformam o espaço onde vivem da forma que desejam e assim percebem a importância de serem protagonistas também nas decisões”, relata a engenheira civil. Simone Alves dos Santos foi uma das primeiras mulheres a participar do AnP na ocupação Dandara e seu maior desejo era ter um banheiro em casa para ela e sua filha. “Esse programa me ajudou muito, não só na reforma, mas também em relação a reconquistar minha autoestima. Fiquei muito tempo sem ter um banheiro e quando os trabalhos começaram eu queria bater laje em tudo. Mas então aprendi mais sobre iluminação e ventilação com as arquitetas e engenheiras e hoje nossa vida (minha e de minha filha) é muito melhor”, descreve. O Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação (IAMÍ) possui hoje uma campanha de doadores mensais via catarse (www.catarse.me/projects/72704). E, segundo Rafaela, que também é diretora financeira do IAMÍ, essa forma de arrecadação é muito importante para o projeto devido à regularidade de entrada do valor. Por isso, ele é utilizado normalmente para cobrir custos permanentes e contínuos, como transporte, escritório de contabilidade, taxas bancárias etc. O AnP também recebe doações pontuais (www.arquiteturanaperiferia.com.br/produto/doacao) de quem esteja interessado em ajudar.

Conheça mais sobre o AnP

O projeto Arquitetura na Periferia atua de forma independente desde 2014, a partir da captação de recursos e consolidação de parcerias que possibilitam evoluir cada vez mais. Entre 2015 e 2018, o projeto foi executado por meio da Associação Arquitetas Sem Fronteiras – ASF Brasil - entidade que desenvolve diversas ações e projetos relacionados à produção do espaço urbano e rural junto a comunidades e movimentos sociais. Em outubro de 2018, com o crescimento do projeto, o Arquitetura na Periferia se institucionalizou através da criação do Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação (IAMÍ), que pretende abrigar novos projetos em prol da equidade de gênero e do combate às desigualdades sociais. Seu cerne é atuar por meio de ações que priorizam o fortalecimento do protagonismo da mulher nos trabalhos desenvolvidos, incentivando iniciativas autogestionárias e autônomas, como estratégias de consolidação da cidadania e da promoção do desenvolvimento econômico, social e o combate à pobreza, dentre outros. A equipe é atualmente formada por três arquitetas urbanistas (Carina Guedes, Mariana Borel e Elisabetta McKena), duas engenheiras civis (Rafaela Dias e Tereza Barros), duas articuladoras comunitárias (Luciana da Cruz e Cheyenne Miguel), uma mestre de obras (Cenir Silva) e uma estudante de arquitetura (Lívia Gonçalves). Em 2019 foi criado um programa de voluntárias, para ampliar ainda mais a equipe e diversificá-la, incluindo o apoio de assistentes sociais, psicólogas, estudantes de arquitetura e uma técnica em edificações. “Algumas participantes do AnP hoje fazem parte da equipe como agentes locais nas ocupações onde moram, o que é muito importante para manter a proximidade com as comunidades. Além disso, normalmente, o grupo de mulheres que irá participar do AnP é formado pelas participantes antigas, que indicam amigas e conhecidas interessadas em formar o novo grupo. Ou seja, elas são essenciais na divulgação do projeto nas comunidades e mobilização de novas participantes”, ressalta, Rafaela Dias.

E, para quem deseja participar do projeto de forma voluntária, novas chamadas serão abertas no segundo semestre deste ano. Também são realizados workshops periodicamente para ensinar a metodologia de atuação. Alguns deles contam com mutirões em casas de mulheres do AnP que já estejam em obras. Acompanhe as informações pelos canais de comunicação: arquitetossemfronteiras@gmail.com www.arquiteturanaperiferia.com.br /perifeitura @arquiteturanaperiferia

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A equipe cuida de cada detalhe para que os projetos saiam como planejados. Foto: Acervo AnP

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Agrotecnologia

Minas Gerais é um dos novos polos da produção de lúpulo no Brasil e a perspectiva é de um grande crescimento no setor em todo o país Lígia de Matos

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abemus humulus lupulus no Brasil! Em uma realidade antes considerada impossível – como Carnaval em Belo Horizonte – o país possui hoje diversas pequenas plantações de lúpulo espalhadas pelo tterritório nacional. O seu cultivo está ainda em estado embrionário, mas já sinaliza uma grande possibilidade de crescimento ao ponto de chegar um dia ao patamar de exportação. O lúpulo é um dos quatro elementos básicos para produção de cerveja (ver box “O que é lúpulo?”). Quando adicionado ao malte, água e leveduras, ele dá corpo, aroma e sabor à bebida. Até há pouco tempo, a única forma de obtê-lo era por meio da importação, mas esse cenário está mudando devido à descoberta de uma variação dessa planta no Brasil. Minas Gerais é um dos novos polos de produção de lúpulo brasileiro e a Revista Mineira de Engenharia visitou uma plantação, localizada na Fazenda Fartura, que fica no município de Rio Espera (a 164 quilômetros de Belo Horizonte). Os responsáveis pelo cultivo são os produtores Getúlio Guedes e Pedro Salim, que investiram na compra de mudas e adaptação do terreno para a plantação no final de 2017. Em 2018, eles fizeram uma primeira colheita experimental que até resultou na produção de uma cerveja também experimental feita pela Cervejaria Loba, intitulada Mantiqueira Beer (ver box “Cervejas experimentais”). “A primeira colheita, feita em 2018, foi pequena e a planta ainda estava verde, por assim dizer. Em fevereiro, realizamos a segunda colheita oficial de mil mudas e aproximadamente 60 quilos de lúpulo. A cada nova colheita, a planta vai amadurecendo (assim como as videiras), se tornando melhor e a quantidade de lúpulo também aumenta. A partir do terceiro ano, a planta chega ao seu auge. Acreditamos que em breve vamos colher 100 quilos e, até o ano que vem, já estaremos colhendo entre 300 e 400 quilos”, descreve Getúlio Guedes. A plantação da Fazenda Fartura ocupa hoje dois terços de hectare e a última colheita foi feita em abril deste ano. Segundo os produtores, o ciclo da planta é

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Flor de lúpulo fresca que acabou de ser colhida do pé. Foto: Lígia de Matos

de quatro meses. No segundo semestre, ela entra em dormência (quando o pé seca e fica na terra encoberto); depois sai desse estado, quando é irrigado e começa a brotar. A irrigação utilizada hoje é por gotejamento, mas eles pretendem mudar para aspersão, segundo orientação de um especialista em cultivo de trepadeiras. O método só é utilizado de vez em quando, pois na época das chuvas é desnecessário (ver box “Saiba mais”). Outra informação relevante sobre a planta é que ela precisa de muito nitrogênio para crescer e se desenvolver e a solução encontrada por Getúlio e Pedro foi plantar mudas de feijão para ajudar a nutrir o lúpulo. A adubagem é toda feita com produtos orgânicos, esterco de boi e farelo de rocha vulcânica, rico em fosfato, principal nutriente para flores em geral, incluindo a do lúpulo.

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Agrotecnologia

O que é lúpulo? O lúpulo (humulus lupulus L .) é uma trepadeira, da família das canabáceas, nativa das regiões temperadas da Europa, Ásia Ocidental e América do Norte. É uma planta dioica, perene, herbácea, que dá brotos no início da primavera e definha no inverno. Recebe também o nome popular de pé-de-galo. O lúpulo exerce um papel importante na hora de produzir a cerveja, pois é o responsável pelo amargor e aroma e possui diversas variações, de acordo com o estilo fabricado. Atualmente, os países com maior produção são a Alemanha, Estados Unidos, China e República Tcheca, que possuem o clima mais apropriado para a planta.

Saiba mais

Irrigação por gotejamento A água e os nutrientes são transportados por “tubos gotejadores”, que possuem em seu interior os elementos-chave para a eficiência do sistema. Cada gotejador deixa cair diretamente na raiz de cada planta gotas contendo água e fertilizantes, na quantidade e momento ideais, resultando em uma aplicação uniforme e econômica desses recursos em todo o cultivo.

Irrigação por aspersão A aplicação de água nos sistemas de irrigação por aspersão se faz pela divisão de um ou mais jatos de água em uma grande quantidade de pequenas gotas no ar, que caem sobre o solo na forma de uma chuva artificial. A passagem de água sob pressão através de orifícios de pequena dimensão causa o fracionamento do jato. O auxílio de um sistema de bombeamento permite que a água percorra um conjunto de tubulações, com a pressão necessária para acionar os aspersores.

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Aprendendo com a prática A fazenda pertence à família de Pedro Salim e era utilizada para pecuária, mas estava “parada” há cinco anos. A ideia de plantar lúpulo veio pelo gosto que os dois possuem por cerveja e pelas pesquisas sobre a descoberta de Rodrigo Veraldi de uma planta resistente no Brasil, Mantiqueira BRK2014, mais popularmente conhecida como Mantiqueira (ler “Como tudo começou por aqui”). Os produtores se interessaram em investir, pesquisaram sobre as possibilidades e tornaram o projeto realidade. Hoje, eles vendem sua produção para a Cervejaria Loba (seu principal cliente e parceiro) e para outras cervejarias de Juiz de Fora. “Sabemos que ainda é um cultivo experimental no país e estamos aprendendo mais e mais a cada dia, mas sabíamos que funcionaria, pois a terra é ótima. A fazenda não se chama Fartura à toa. Aqui tudo dá. Pesquisamos também sobre clima e as condições ideais. O Mantiqueira, particularmente, é muito resistente. Ele precisa pegar sol por pelo menos 12 horas por dia e ter um refresco à noite. É o que a planta pede. É preciso ter uma boa drenagem do terreno também. Terras encharcadas não funcionam. Se plantar em uma baixada, o plantador não irá prosperar. Muitos não conseguiram por este motivo. Uma plantação em terra plana pode encharcar durante as chuvas e fazer com que a planta apodreça”, ensina o produtor. A colheita do lúpulo dura uma semana ao todo e a fazenda possui dois catadores e cinco colhedeiras. É importante ressaltar que apenas mulheres fazem a colheita, por sua experiência e delicadeza no trato do produto. “É uma colheita de flor e exige um cuidado especial e delicado. Algumas de nossas colaboradoras já tinham trabalhado com flores antes e essa prática ajudou a eliminar os elementos indesejados como galhos, folhas e lúpulos amarelados e/ou avermelhados (já passados). Apenas as flores verdes são separadas, o que garante a qualidade de nosso produto”, descreve Getúlio Guedes. O lúpulo fresco tem validade de seis dias e deve ser usado imediatamente ou mantido refrigerado durante esse período em temperaturas entre 10 e 15°. Após esses dias, o produto não deve ser utilizado e sua qualidade não é mais garantida pelos produtores. Eles também disponibilizam seu lúpulo desidratado e embalado a vácuo para ser congelado. Assim, ele tem duração de um ano. A alternativa foi criada para possibilitar a venda para clientes de outras regiões e ampliar sua capacidade logística.

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O lúpulo é que dá o amargor à cerveja. Foto: Lígia deMatos

Lúpulo fresco e pronto para ser usado em uma receita de cerveja. Foto: Lígia de Matos

Visão aérea da plantação da Fazenda Fartura. Foto: Melt Comunicação

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Agrotecnologia

Como tudo começou por aqui A primeira variedade de lúpulo produzida em solo nacional surgiu por acaso. A história começou em 2005, quando o agrônomo Rodrigo Veraldi ganhou as primeiras variedades e conseguiu fazer a germinação em estufa. Em seguida, ele tentou levar o experimento a campo, mas as plantas não resistiram e foram descartadas. Na época, ele pensou que era o fim de todo o trabalho, mas depois reparou que uma das plantas havia resistido na várzea, área de descarte de matéria orgânica do Sítio Entre Vilas, sua propriedade no município de São Bento do Sapucaí (SP). Era 2011 e uma das mudas que ele havia jogado fora dois anos antes, depois de tentativas frustradas de cultivo, parecia ter sobrevivido. Mesmo surpreso, Rodrigo não acreditou que o pé vingaria na época de chuvas. As águas vieram, ele voltou à várzea, e lá estava a planta, resistente. Surgia então a primeira variedade de lúpulo brasileiro, que foi batizada com o nome da região em que foi desenvolvida: a Serra da Mantiqueira. Desde então, além da fazenda de Rodrigo, a erva é produzida em baixa escala em outras regiões brasileiras como Minas Gerais, Distrito Federal, estados do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Bahia. O “descobridor” destaca que é uma planta que prefere solos de alto teor de matéria orgânica. Apesar de ser nativo de regiões temperadas, a experiência brasileira mostra que ele não se limita a esse tipo de clima e hoje é cultivado em solos de climas tropicais e quentes. Foi uma questão de adaptação.

Cervejas experimentais A Cervejaria Loba, localizada na cidade de Santana dos Montes (a 30 quilômetros de Rio Espera), é a principal parceira e cliente da Fazenda Fartura e já produziu duas diferentes cervejas com o lúpulo mineiro. A Mantiqueira Experimental Beer foi produzida ano passado, com os lúpulos da primeira colheita. É uma cerveja cristalina de cor “rubi vermelho”, com boa formação e persistência de colarinho cremoso (bronzeado claro). Seu aroma é maltado, seguido por leves notas frutadas, de frutas secas e nozes, tostado de pão e sem evidenciar o lúpulo. Seu sabor também é maltado com notas de tostado derivadas dos maltes especiais. É uma cerveja equilibrada entre malte e amargor, sendo que o lúpulo promove amargor de boa qualidade e de média potência. Apesar de não seguir ou ter uma receita de estilo pré-determinado, se assemelha mais a uma “Irish Red Ale” potente. Foram produzidos 500 litros. A segunda cerveja produzida foi a Loba Harvest Ale. Segundo Kelvin Azevedo Figueiredo, mestre cervejeiro da Loba “a cada colheita (ou safra) será realizada uma produção de dois mil litros de uma nova cerveja. O lúpulo Mantiqueira a ser usado na produção será sempre colhido poucas horas antes de seu início, mantendo todas as características naturais da flor. A cada lote/colheita teremos uma cerveja com base/estilo diferentes, mas sempre com lúpulo fresco. É algo completamente inovador. Estamos criando receitas novas, pois ainda não conhecemos por aqui as características do uso da flor fresca e estamos aprendendo muito a cada nova experiência”. Membros da Acerva Mineira (Associação dos Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais) também realizaram em fevereiro uma produção de cerveja (também conhecida como brassagem) com o lúpulo Mantiqueira da Fazenda Fartura, em busca de conhecer melhor o produto e suas possibilidades. Luiz Otávio Portela, vice-presidente da SME, também é cervejeiro e possui uma nanocervejaria chamada Kostlich, em fase de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Ele já ouviu relatos e leu pesquisas sobre o novo lúpulo brasileiro, mas ainda não teve a oportunidade de experimentar o produto em uma de suas receitas. “Não o conheço, mas considero a notícia excelente. Quero muito experimentar e conhecer melhor e ver as diferenças práticas entre o lúpulo fresco e o lúpulo peletizado. Na verdade, todos os cervejeiros deveriam experimentar o lúpulo brasileiro e conhecer suas propriedades e possibilidades. É importante para o desenvolvimento de nosso mercado”, orienta o engenheiro e cervejeiro.

Fazenda Fartura

Visão de um dos corredores de uma plantação de lúpulo. Foto: Melt Comunicação

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Getúlio Guedes - 32.9888.1234 getulio.guedes@yahoo.com.br Pedro Salim - 32.98848-2679 pedrosalim@gmail.com Estrada para Rio Melo - Km 5 - Rio Espera - Minas Gerais

Visão aérea da plantação da Fazenda Fartura. Foto: Melt Comunicação

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Para Relaxar

Cervejarias investem no turismo de experiência e abrem suas portas para visitação Lígia de Matos

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ue tal um programa diferente que pode agradar em cheio aos amantes das cervejas artesanais e ainda ser instrutivo e delicioso? Visitar uma fábrica cervejeira é uma ótima pedida para aproveitar os fins de semana e ainda aprender um pouco sobre uma das bebidas mais apreciadas em todo o mundo. Muitas cervejarias – da capital e também do interior de Minas Gerais - abrem suas portas para visitação e oferecem atrações que, com certeza, vão encantar todos os membros adultos da família.

A fábrica da Krug Bier disponibiliza visitas aos sábados de manhã, para que as pessoas possam conhecer suas instalações e provar seus produtos direto dos tanques. Os agendamentos são feitos às segundas e terças-feiras, para grupos com no mínimo seis pessoas e no máximo 20. O mestre cervejeiro Alfredo Oliveira acompanha os visitantes em um tour guiado pela fábrica, com explicação dos processos e curiosidades e degustação de cervejas à vontade. A Krug Bier abriu as portas no bairro Belvedere, em Belo Horizonte, em setembro de 1997, com receitas Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

O Templo Cervejeiro da Backer já virou ponto turístico em Belo Horizonte. Foto: Pixel Stúdio

tradicionais austríacas e total respeito às leis de pureza da Baviera. Era a primeira cervejaria artesanal de Minas Gerais e apresentava um produto novo e ainda desconhecido pelo público. Desde então, a empresa cresceu, se desenvolveu, mudou de endereço para o bairro Jardim Canadá (município de Nova Lima) e também criou produtos diferenciados para os paladares mais exigentes, com mais de 20 opções. Já na Cervejaria Backer, cada tour leva uma hora e inclui a degustação de cinco rótulos e um outro sexto que esteja sendo preparado naquele momento, para dar aos visitantes a experiência da cerveja fresca do tanque. As visitas são aos sábados, sempre às 11 horas; podem ser marcadas por telefone ou pelo site da cervejaria. Criada em setembro de 1998, a receita do chope Backer, “made in Minas”, conquistou os clientes da antiga e renomada casa de shows de Belo Horizonte, a Três Lobos. O grande sucesso fez com que os empresários Halim e Paula Lebbos e Munir Khalil investissem no negócio. No final de 2014, a Backer abriu as portas do Pátio Cervejeiro, complexo que engloba o restaurante

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Para Relaxar

Fachada da Hofbräuhaus. Foto: Luiza Ananias

Tanques da cervejaria Loba. Foto: Daniel Mansur

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Caixas de cervejas e barris de chope da Prussia prontos para entrega, Foto: Victor Schwaner

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Para Relaxar

Interior A Prussia Bier, localizada na cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo (87 km de distância de Belo Horizonte), também realiza visitas guiadas em sua fábrica para grupos com, no mínimo, cinco pessoas. Os visitantes conhecem suas instalações, degustam as cervejas e até ganham um souvenir, mas é preciso telefonar e fazer um agendamento prévio, pois elas são esporádicas e não possuem datas definidas.

Linha de produção da Prussia Bier. Foto: Victor Schwaner

Tempo Cervejeiro e a Maternidade Cervejeira, onde são produzidas as cervejas e também receitas exclusivas de gim e whisky. O local é um capítulo à parte, tendo se tornado um importante ponto turístico de Belo Horizonte. A Hofbräuhaus BH possui um projeto para visitação do público à sua fábrica quinzenalmente (sempre aos sábados), com intuito de mostrar seus processos produtivos e toda tecnologia envolvida. Durante o passeio, cada grupo, com no máximo 20 pessoas, conhece a estrutura da Hofbräuhaus, um pouco de sua história, seus equipamentos e de como são produzidos os quatro estilos de cervejas disponíveis em seu cardápio: três fixos e um sazonal, que muda a cada mês. A Hofbräuhaus BH se enquadra no modelo BrewPub, em que a fábrica é ligada ao restaurante e as cervejas servidas são “frescas”, saídas diretamente dos tanques. Cada detalhe da casa, desde o projeto arquitetônico desenvolvido pelo arquiteto Gustavo Penna - até a decoração, escolha dos móveis, lustres, equipamentos, mestre-cervejeiro, chef de cozinha, pratos e até as músicas passaram pelo crivo da matriz alemã da Hofbräuhaus para que os consumidores e clientes possam sentir sons, aromas e sabores como se estivessem realmente na Baviera. Todo esse cuidado faz com que ela seja um oásis alemão em plena capital mineira, mas há outras peculiaridades pouco conhecidas que tornam a casa um lugar ainda mais especial para quem a visita. É o único restaurante do país que possui um sistema de dosagem para servir as bebidas. É um sistema austríaco chamado Gruber, que porciona as bebidas e praticamente exclui desperdícios e erros ao servir cervejas, refrigerantes e também drinks. Durante o passeio, os visitantes aprendem a tirar suas próprias cervejas no Gruber. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

A Prussia Bier é a primeira cervejaria do Médio Piracicaba. O nome foi inspirado em uma região da Europa que abrangia diversas localidades cervejeiras em meados do século XIII. Em 17 de novembro de 2014, os amigos e empreendedores Fernando Cota, Railton Vidal e Douglas Vidal produziram sua primeira brassagem. A cervejaria atende diretamente demandas do Vale do Aço, Médio Piracicaba e grande BH, além de 100 pontos de venda terceirizados espalhados por Minas Gerais e Rio de Janeiro. Hoje, a Prussia produz seis diferentes cervejas, além das sazonais. Também nesse formato, a Cervejaria Ouropretana realiza visitações sob demanda para grupos com no máximo 20 pessoas, nas segundas e sextas-feiras, a partir das 15 horas. As visitas não são cobradas e duram em média duas horas com degustação de alguns rótulos. Após o tour, as pessoas são convidadas a conhecer a Loja da Fábrica, também conhecida como Bar da Ouropretana. A fábrica está localizada em Cachoeira do Campo (78 km de Belo Horizonte), que é um distrito de Ouro Preto e o bar fica no bairro do Pilar, em Ouro Preto. Fundada em 2011, a Ouropretana buscou na história os princípios e fundamentos para a produção de suas cervejas, aliando tradição à tecnologia no desenvolvimento da bebida. A cervejaria produz hoje seis estilos de cervejas em sua linha fixa, além de um rótulo em parceria com a Experimento Beer e possui também algumas receitas sazonais, todas elas sem adição de produtos químicos. A Loja

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da Fábrica funciona de terça a sexta e possui nove torneiras, sendo duas para cervejarias parceiras de Belo Horizonte. No município de Santana dos Montes (130 km de Belo Horizonte) está localizada a fábrica da cervejaria Loba, que também oferece programas de visitação às quintas e sextas-feiras, das 10h às 16h e aos sábados e domingos, das 09h às 18h. O passeio dá direito à degustação de alguns rótulos e a fazenda onde está instalada a Loba possui vários outros atrativos para os visitantes.

Linha de produção da Krug Bier. Foto: Midiaria/Divulgação

A cervejaria Loba fica dentro da Fazenda Guarará, responsável também pela produção de leite, vinho, grãos e cachaça. Ela recebeu este nome em homenagem aos lobos guará da região e ocupa uma área de cinco mil metros quadrados dentro da fazenda que inclui todos os tanques para produção, almoxarifado, expedição, e também um bar e loja de souvenires. A Loba possui hoje 22 rótulos e foi a primeira cervejaria de Minas Gerais a experimentar o uso do lúpulo mineiro fresco em suas receitas.

Marque sua visita Krug Bier Rua Alaska, 115 - Jardim Canadá - Nova Lima/ MG Todos os sábados • 10h às 12h • Máx: 20 pessoas. Min: 06 pessoas • Valor por pessoa: R$ 60 Agendamento: (31) 3507-0777

Backer Rua Santa Rita, 220 - Olhos D’Água - Belo Horizonte/ MG • Todos os sábados • 11h às 12h • Máx: 20 pessoas • Valor por pessoa: R$ 40 Agendamento: (31) 3228-8888 https://www.lojavirtualbacker.com.br/loja/ outros/visitacao-backer

Hofbräuhaus BH Avenida do Contorno, 7613 – Lourdes – Belo Horizonte/MG • Dois sábados por mês • 11h às 12h • Máx: 20 pessoas • Valor por pessoa: R$ 60

Agendamento: http://visitaguiada.hofbraubh. com.br/produto/visita-guiada

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Barris de carvalho da cervejaria Ouropretana. Foto: Divulgação

Prussia Bier Rodovia MG 129, KM1,4 - São Gonçalo Do Rio Abaixo/MG • Horários e dias a definir • Máximo de pessoas a definir. • Min: 05 pessoas • Valor por pessoa: R$ 28 Agendamento: (31) 3852-3400

Ouropretana Rua das Mercês, 7 - Cachoeira do Campo/MG Segundas e sextas-feiras (a definir) • a partir das 15h • Máx: 20 pessoas • Valor por pessoa: não é cobrada Agendamento: contato@ouropretana.com.br

Loba Fazenda Guarará, Zona Rural, s/n – Santana dos Montes/MG • Quintas, sextas, sábados e domingos 10h às 16h (qui e sex) • 09h às 18h (sab e dom) • Total máximo de participantes por visita: não definido • Valor por pessoa: R$ 25 com direito a três copos Agendamento: (31) 3726-1207 ou (31) 3814-0858

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Tecnologia

Tecnologia: futuro na pista estudantes de Engenharia da UFMG criam carro de corrida Viviane Wehdorn

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uperação, criatividade e trabalho em equipe são os principais elementos que motivam os jovens estudantes de Engenharia da Equipe Fórmula SAE da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Fundada em 2008, por alunos de Engenharia Mecânica, o objetivo da equipe é fabricar e testar um carro de alto desempenho e representar a UFMG nas competições de Fórmula SAE.

A equipe, com aproximadamente 40 alunos, é liderada pela capitã Carla Sayuri e pelo vice-capitão Eduardo Caldeira. Ela é subdividida em grupos de trabalho que cuidam tanto da gestão da equipe, como dos recursos humanos e marketing, quanto das partes mecânica e estrutural do carro, como motor e aerodinâmica. Segundo a capitã, a equipe aceita alunos de diversos cursos, não só das Engenharias. “Nós precisamos atuar em diversas áreas, como Administração, Design, Contabilidade, então, precisamos de membros de outros cursos além das Engenharias”, explica Carla, estudante de Engenharia Mecânica. Para o vice-capitão, Eduardo Caldeira, também estudante de Engenharia Mecânica, o grande desafio da Equipe Fórmula é criar um carro competitivo, capaz de disputar as diversas provas da competição. “Precisamos de um carro leve e confiável, que consiga terminar todas as provas, principalmente o enduro, que são 22 quilômetros percorridos”, conta. A Fórmula SAE-Brasil é uma competição realizada pela afiliada brasileira da SAE International (Society of Automobile Engineers), que ocorre todos os anos em São Paulo desde 2004. O objetivo do evento é propiciar aos estudantes de Engenharia a oportunidade de praticar os conhecimentos aprendidos em sala de aula, desenvolvendo um projeto completo e construindo um carro tipo fórmula. De acordo com o professor Marco Túlio Corrêa de Faria, Coordenador do Projeto Fórmula SAE-UFMG, o trabalho em equipe, a organização de projeto, a aplicação de procedimentos de análise em Engenharia e o desenvolvimento de habilidades de comunicação são alguns dos ganhos experimentados pela equipe de alunos.

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Carro do Projeto Fórmula SAE-UFMG. Foto: arquivo da equipe

“Posso dizer que o projeto é um dos divisores de águas na formação dos alunos de graduação em Engenharia Mecânica. A participação na equipe de projeto é passaporte garantido para o crescimento intelectual e interpessoal, abrindo portas para a superação dos desafios tecnológicos no desenvolvimento de veículos automotores de competição”, pondera o coordenador. Segundo Larissa Moraes, estudante de Engenharia Civil e diretora de gestão da equipe, um dos obstáculos que precisam ser superados é a obtenção de recursos. “As equipes de universidades particulares têm uma facilidade maior na obtenção desses recursos junto das próprias instituições. No nosso caso, que somos de universidade pública, a busca desses recursos fora da universidade precisa ser maior, embora tenhamos ajuda da Faculdade de Engenharia”, esclarece. Ainda, segundo ela, a maior parte dos recursos angariados com os patrocinadores vêm em forma de material, mas as doações em espécie também são importantes, principalmente para fazer usinagens específicas no carro.

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Tecnologia

A competição

Criada em 2004, a Fórmula SAE fará este ano sua 16º edição. Em 2018 a competição contou com 69 equipes, sendo 65 brasileiras e quatro estrangeiras. Foram 52 carros movidos a combustão e 17 de propulsão elétrica. A Equipe Fórmula UFMG disputa a categoria “combustão”. Esta categoria é dividida em 2 sub-categorias: provas estáticas e provas dinâmicas. As provas estáticas avaliam o projeto do carro, design, custos, manufatura e segurança. Já as provas dinâmicas avaliam a aceleração, a habilidade em curvas, a dirigibilidade, a performance, o desempenho, a durabilidade e confiabilidade do carro. Segundo Matheus Lourenço, um dos pilotos e diretor da equipe de motor, a prova mais desafiadora da competição é o enduro. “No Enduro o carro é levado ao limite. Muitas equipes não conseguem terminar a prova, pois o motor não agüenta. A maioria que é desclassificada para por falta de combustível”, explica o estudante. Na última competição, a equipe conquistou a sexta colocação geral, o que para a capitã é um grande feito. “Nós conquistamos um sexto lugar geral, o que para nós é ótimo. Das cinco equipes melhores colocadas que a UFMG, quatro já possuem rodas 10 polegadas, que tornam o carro mais leve e melhora a dirigibilidade. O nosso ainda possui rodas com aro 13”, argumenta Carla. “Inclusive o maior desafio da equipe este ano será investir num jogo de rodas de 10 polegadas. Precisaremos economizar em outras áreas, pois cada jogo de pneus custa, em média, 4 mil reais”, completa.

Classificação da equipe da UFMG em suas participações nas competições de Fórmula SAE Brasil

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Posso dizer que o projeto é um dos divisores de águas na formação dos alunos de graduação em Engenharia Mecânica. A participação na equipe de projeto é passaporte garantido para o crescimento intelectual e interpessoal, abrindo portas para a superação dos desafios tecnológicos no desenvolvimento de veículos automotores de competição”

Carro do Projeto Fórmula SAE-UFMG. Foto: arquivo da equipe

17º

2010

Especificações do carro

11º

2011

Carro atual: TR-06

2012

Massa total: 249kg

2013

Potência máxima: 72,1 cv

2014

Torque máximo: 5,7 kgf•m

2015

Aceleração 0 km/h - 100 km/h: 4,4 s

2016

11º

2017

Suspensão com barra estabilizadora ajustável Diferencial de deslizamento limitado

2018

Telemetria com acompanhamento de dados em tempo real

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Turismo em Minas

Conheça 10 cachoeiras em Minas Gerais que irão tirar o seu fôlego e encantar a sua alma Lígia de Matos

Cachoeira de Santo Antônio. Foto: Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico

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ndiscutivelmente, Minas Gerais possui atrativos irresistíveis para quem deseja relaxar. Uma das dicas de viagem mais encantadoras são as cachoeiras mineiras. O Estado possui centenas de opções sensacionais e a Revista Mineira de Engenharia resolveu selecionar algumas delas com a ajuda da Associação do Circuito do Ouro:

Cachoeira de Santo Antônio A Cachoeira de Santo Antônio localiza-se entre os municípios de Caeté e Raposos. É considerada de fácil acesso e uma excelente alternativa para todos os gostos. Para chegar lá é preciso ir de carro e depois fazer uma pequena caminhada de cerca de 850 metros em estrada de terra até a cachoeira. Este é um passeio para ser realizado em um turno do dia. A sugestão é que o visitante vá pela manhã e retorne perto do meio da tarde.

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Turismo em Minas Além da cachoeira, é possível descer pelo leito do rio e curtir pequenas quedas d’ água. A Cachoeira de Santo Antônio é considerada grande e tem uma boa vazão de água. O poço é largo, mas seu início é bem raso. Nas partes laterais, há paredões lisos que limitam o poço. Para quem gosta de nadar, a parte funda é uma boa opção, mas vale destacar que há poucos pontos possíveis para apoio.

Cachoeiras da Pedra Pintada e do Leão Em Barão de Cocais, há duas cachoeiras que valem o passeio. A mais conhecida da região é a Cachoeira da Pedra Pintada, que possui uma larga extensão com uma bela queda. A Cachoeira do Leão fica logo acima da Pedra Pintada e é considerada uma cachoeira pequena e com poço igualmente pequeno. Apesar disso, é muito bonita. A trilha entre elas é relativamente curta e rápida. Se a pessoa estiver na Cachoeira Pedra Pintada, antes do final da trilha há uma entrada que fica do lado direito. É preciso ficar atento, pois não há nenhuma placa que indique o caminho, mas basta seguir esta indicação para chegar lá. O trajeto é bem curto — menos de 500 metros — e não há nenhum tipo de dificuldade. A dica aqui é visitar as duas cachoeiras em um só dia. Vá à cachoeira da Pedra Pintada na parte da manhã e, na parte da tarde, visite a do Leão.

Parque Natural do Caraça – Cascatinha, Bocaina e Cascatona As cachoeiras do Parque Natural do Caraça, entre Catas Altas e Santa Bárbara, também merecem uma visita e vamos sugerir três delas. Há trilhas bem sinalizadas indicando as rotas para as cachoeiras e piscinas naturais, mas vale frisar que o tempo de caminhada e o nível de dificuldade podem variar bastante de uma para outra. A maior delas e também a mais procurada por turistas é a Cascatinha. Ela tem aproximadamente 40 metros de queda e seu acesso é por uma trilha leve e tranquila. A cachoeira Bocaina está localizada entre o Pico do Inficionado e o Caraça, em um grande desfiladeiro. Para chegar até lá, é preciso fazer uma trilha de cinco quilômetros; segundo consta, basta entrar à direita na terceira entrada, atravessar o rio e seguir em frente, na direção da garganta do Gigante. A Cascatona tem acesso por uma trilha bem arborizada de seis quilômetros e durante o caminho é possível encontrar diversos animais, como macacos e esquilos. A Cascatona tem mais de 80 metros de queda d’água. Ao chegar, a dica é ir até o Oratório, de onde se tem uma vista panorâmica

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incrível. Uma curiosidade é que as águas que cortam a mata do parque são amareladas e intensamente ferruginosas, por conta da presença de minério de ferro contido nas rochas.

Cachoeiras Alta e Patrocínio No distrito de Ipoema, pertencente à cidade de Itabira, vale muito a pena conhecer as cachoeiras Alta e Patrocínio. A Cachoeira Alta tem uma queda de quase 100 metros de altura e é considerada uma das mais bonitas de Minas Gerais. Ela está localizada bem próxima a um povoado chamado São José do Macuco. Por conta disso, ela também é chamada de Cachoeira do Macuco entre os moradores da região. A Cachoeira Alta está localizada a 11 quilômetros de Ipoema e, para chegar até lá, o acesso é relativamente fácil. Fica em uma propriedade privada e o proprietário cobra uma taxa de R$ 10 pela visitação, que é revertida para a manutenção e limpeza do local. Esta cachoeira é bastante cobiçada por praticantes de canyoning, além dos banhistas. Já a Cachoeira do Patrocínio está distante cerca de 12 quilômetros de Ipoema e é composta de duas quedas d’águas que, juntas, têm aproximadamente 50 metros. Assim, há a formação de uma piscina natural muito apreciada pelos turistas.

Circuito A Associação Circuito do Ouro apresenta uma das mais interessantes rotas turísticas do país e engloba 15 municípios históricos de Minas Gerais. Eles foram separados em quatro roteiros distintos para tornar a experiência do viajante ainda mais rica e satisfatória. O primeiro é o “Entre Cenários da História”. É dedicado aos apaixonados por história, arte, cultura e o contato com a mãe natureza e formado pelas cidades de Congonhas, Ouro Branco, Ouro Preto e Mariana. O roteiro “Entre Ruralidades e Personalidades” é indicado para os amantes do turismo rural e da natureza exuberante; engloba as cidades de Itabira e Nova Era. O terceiro roteiro é “Entre Serras, da Piedade ao Caraça” e inclui as cidades de Caeté, Santa Bárbara, Barão de Cocais e Catas Altas. Ele é ideal para quem gosta de turismo religioso e gastronômico, assim como natureza e manifestações culturais. O último, “Entre Trilhas, Sabores e Aromas”, é perfeito para os aventureiros, que adoram o contato direto com a natureza e também curtem eventos temáticos ligados à gastronomia. Fazem parte dele as cidades de Rio Acima, Itabirito, Nova Lima, Sabará e Raposos. Quem quiser mais informações, pode acessar: http://circuitodoouro.tur.br Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro/março/abril /2019


Turismo em Minas

Sim, nós temos “cachopraia”! Fora do Circuito do Ouro, no distrito de Conselheiro Pena (a 10 quilômetros de Diamantina), existem simplesmente 22 opções deslumbrantes de cachoeiras para conhecer, mas duas delas são verdadeiramente especiais: a cachoeira do Telésforo e a cachoeira das Fadas. Você já visitou uma cachopraia? Pois em Minas Gerais nós temos esta opção: uma cachoeira que parece uma praia e une o melhor das duas atrações. A Cachoeira do Telésforo é considerada a mais bonita do distrito e possui 12 quilômetros de faixa de areia branca e fina. É formada por corredeiras que desaguam em poços propícios ao banho. Ela fica em uma propriedade privada e o proprietário cobra uma taxa de R$ 15 para visitação diária e R$ 30 para quem deseja acampar. O acesso é via estrada de terra e fica localizada a 36 quilômetros de Diamantina. Os turistas levam suas cadeiras de praia e guarda sois e também seus lanches pois, diferentemente das praias, não há vendedores ambulantes ou barraquinhas. O poço segue como um rio, propício para a diversão de crianças de todas as idades e até mesmo de deficientes físicos.

Cachoeira das Fadas. Foto: Lígia de Matos

Cachoeira da Pedra Pintada. Foto: Daniel Avelar

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A Cachoeira das Fadas possui aproximadamente 30 metros de queda livre, com um largo poço propício à natação. É cercada de densa vegetação. Sua água possui um tom esverdeado, sendo cristalina e límpida. A trilha é de fácil acesso. Saindo de Conselheiro Mata, basta seguir quase um quilômetro; sendo uma parte de estrada e uns 300 metros de trilha com descida. Vale ressaltar que essa descida é um pouco inclinada, com pedras e barro, e por isso é preciso ficar atento onde se pisa e se coloca as mãos. Diz a lenda que, a cada vez que uma pessoa entra embaixo da queda da Cachoeira das Fadas, ela ganha seis meses a mais de vida.

Cachoeira do Telésforo. Foto: Lígia de Matos

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Turismo em Minas

Dicas

Importantes Todo bom mineiro sabe que Minas Gerais é um estado feito de montanhas e estradas de terra e, por isso, muitas vezes o acesso às cidades e belezas naturais exige equipamentos e cuidados especiais. Seguem algumas dicas básicas para que seu passeio ocorra com segurança e tranquilidade: Como o acesso à maioria das cachoeiras é por estrada de terra, o uso de um carro com tração nas quatro rodas é o mais indicado para sua viagem ou, pelo menos, um veículo que seja alto e resistente. Nunca vá sozinho a uma cachoeira ou trilha que não conheça e dobre os cuidados com crianças e jovens. Apesar das incontestáveis belezas, as trilhas podem ser escorregadias ou difíceis e os poços muitas vezes não possuem apoios adequados.

Cachoeira da Cascatinha, no Caraça. Foto: Daniel Avelar

É de conhecimento geral que toda água de cachoeira é gelada, independentemente da época do ano ou incidência do sol. Cuidado com hipotermia. Outra dica imprescindível: saia imediatamente da água caso comece a chuviscar. Mesmo que a chuva seja fraca no local onde se encontra, na nascente ela pode estar mais intensa e todo cuidado com trombas d’ água é pouco. Leve roupas, lanches, filtro solar e também uma sacola para recolher o seu lixo. A natureza agradece e os outros visitantes também. Os turistas curtem a vibe "praia" da Cachoeira do Telésforo. Foto: Lígia de Matos

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Jovem Engenheira

Jovem promissora para a Engenharia Viviane Wehdorn

Aos 22 anos, a futura Engenheira Carla Sayuri Matsushita Guimarães tem o desafio de estar à frente de uma equipe de, também, futuros Engenheiros, cujo objetivo é construir um carro de corridas para uma competição anual

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Cursando o sexto período de Engenharia Mecânica, ela foi escolhida capitã da equipe Fórmula SAE-UFMG em dezembro de 2018. “É um desafio liderar uma equipe com tantas pessoas que contam com você, principalmente porque representamos a UFMG na competição nacional. Fico muito feliz que todos confiaram em mim para esse papel e espero que continuem me apoiando todos os dias", comenta. As obrigações como capitã envolvem, além da gestão de sua própria equipe, o relacionamento com membros de outras equipes, membros da Escola de Engenharia, da UFMG e patrocinadores. Fora as funções burocráticas, como cuidar dos documentos que serão entregues para a organização da competição. Uma rotina complexa para conciliar com a vida acadêmica. “Não é fácil conciliar, participar de uma equipe como o Fórmula SAE-UFMG e fazer toda a carga horária sugerida por semestre pela faculdade. AAssim, para poder me dedicar o suficiente a equipe, esse ano resolvi ‘atrasar’ um pouco a minha vida acadêmica. Como a UFMG é flexível com relação aos horários de aula que montamos, decidi me matricular em menos matérias e fazê-las bem, priorizando minhas obrigações como capitã”, esclarece Carla Sayuri. Ser capitã da equipe e estudante de Engenharia implica, também, em ter menos tempo para a vida pessoal. “Assim como a vida acadêmica, ao fazer parte de uma equipe de competição, a vida pessoal acaba ficando um pouco de lado. Mais vezes do que gostaria, deixei de ir em almoços em família ou saí tão cedo e cheguei tão tarde em casa que Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

Carla Sayuri está aprendendo a liderar. Foto de arquivo pessoal.

não via meus pais por dias”, lembra a jovem. Realidade que ela tenta compensar tendo momentos de qualidade no pouco tempo que dispõe para a família. “Quando estou com eles, tento me desconectar o máximo possível da oficina e estar presente. Por outro lado, a equipe é como uma família. Passamos por todo o tipo de situação juntos e fiz amizades que sei que vão durar a vida inteira”. Dentre todos os desafios que tem enfrentado desde quando assumiu o cargo na equipe, Carla aponta que aprender a ser líder é o maior deles. “Aprender como ser uma líder é um grande desafio. Saber lidar com cada situação, como ser justa com as pessoas e com a equipe é um aprendizado diário. Como sou muito tímida, também estou me acostumando a falar em público. Também venho aprendendo a falar ´não´, visto que como capitã, devo fazer o que for melhor para equipe, e nem sempre tudo o que me pedem é viável ou correto”, explica. Abrir mão de parte da vida acadêmica e deixar um pouco de lado a vida pessoal em prol da equipe, pode não parecer uma boa opção à primeira vista, mas a estudante acredita que compensará no futuro. “No final, essa escolha vale a pena, uma vez que esse atraso se torna insignificante quando comparado com todo o conhecimento obtido. Creio que essa experiência nos prepara para a vida profissional. Todos os aprendizados que citei anteriormente são somados ao conhecimento técnico que adquirimos ao fazer parte do projeto e da construção de um carro de corrida”, esclarece a estudante. Sobre um futuro profissional na indústria automobilística, Carla conta que, antes de entrar para no Fórmula SAEUFMG, não tinha interesse em trabalhar com automóveis, porém, se apaixonou pela área. “Se surgir uma oportunidade, tenho certeza que irei tentar”, completa.

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Mestres da Engenharia

Doutora Adriana Tonini ensina o que é preciso fazer para melhorar a formação dos novos engenheiros Lígia Matos Minas Gerais (1999) e Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007). Atualmente, Adriana atua como Diretora de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e também como Avaliadora Institucional Externa do SINAES, para o ato autorizativo de credenciamento do Basis/INEP/MEC (Sistema Nacional). Além disso ela é professora associada da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), lotada no Centro de Educação Aberta e a Distância, Departamento de Educação e Tecnologias (DEETE), Coordenadora Geral do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) na UFOP, vice coordenadora geral do Programa Escola de Gestores na UFOP e ainda coordenadora dos cursos de especialização em Coordenação Pedagógica e Mídias da Educação, também na UFOP. "Foco no saber fazer, saber pensar, saber ser e agir". Foto: Arquivo Pessoal

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driana Maria Tonini é casada, possui dois filhos e como hobbies adora ler, assistir a filmes e boas peças teatrais. A sua brilhante carreira a levou por um caminho bem trilhado, mas ao ser perguntada sobre este tópico, ela imagina que poderia ter escolhido a Medicina, pois gosta muito de ajudar as pessoas. O fato é que se graduou como Engenheira Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1992 e continuou sua trajetória pelos estudos, pesquisas e árduo trabalho no meio acadêmico desde então. Ao continuar a descrever seu currículo, vale destacar que a engenheira também se graduou em Licenciatura Plena pela Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais (1995), completou Mestrado em Tecnologia (Modelos Matemáticos e Computacionais) pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de

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A lista se amplia com os cargos de professora do mestrado em Educação Tecnológica do CEFET-MG, Diretora de Ciências Exatas e Tecnologias (UNI-BH), editora da revista de Ensino de Engenharia da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (ABENGE) e ainda como membro da comissão técnica de ensino de Engenharia da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME). A doutora possui experiência na área de Ensino, Pesquisa, Extensão e Gestão com foco principal em Formação Profissional e Tecnológica, Educação a Distância, Formação de Professores, Educação em Engenharia, Mulheres na Ciência, Tecnologia e Inovação. “Atuo na área acadêmica e meu maior desafio é sempre contribuir para a formação de profissionais qualificados e responsáveis e também comprometidos em atender as demandas da sociedade”, declara Adriana Tonini. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019


Mestres da Engenharia

Educação em Engenharia Hoje, seu foco de trabalho é pesquisa em Educação em Engenharia e a professora descreve a importância de seu estudo e como se dá o desenvolvimento. “O objetivo desta linha é acompanhar a formação e a qualificação dos profissionais engenheiros nos cursos de Engenharia e no mercado de trabalho. Para tanto, é feito um estudo dos currículos e projetos político-pedagógicos dos cursos de Engenharia e sua forma de implementação, bem como as competências e habilidades demandadas no mundo do trabalho ou na área acadêmica. A pesquisa é realizada nas IES e nas empresas de modo a traçar um diagnóstico de formação exigida e contemplada por esses engenheiros no ambiente educacional brasileiro”, descreve.

“Atuo na área acadêmica e meu maior desafio é sempre contribuir para a formação de profissionais qualificados e responsáveis e também comprometidos em atender as demandas da sociedade” Com o mesmo enfoque, Adriana Tonini desenvolve um projeto que analisa a lógica de competências no mundo do trabalho e na educação profissional e tecnológica faz parte do grupo de pesquisa FORQUAP - Formação e Qualificação Profissional do CEFET-MG. “Esta pesquisa tem por objetivo investigar a efetividade do Programa Ciência sem Fronteiras, enquanto política pública que contribui para a mobilidade acadêmica de estudantes brasileiros, em nível de graduação, com foco em identificar se os participantes têm desenvolvido as competências necessárias requeridas para o avanço da sociedade do conhecimento e evolução industrial tecnológica”, explica. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

Na visão de Adriana e baseada em todas as suas análises, desde o início de seus estudos, os currículos de Engenharia passaram de uma ênfase tecnicista para além disso, incluindo também uma formação generalista, humanística e crítica. Começou a se buscar a inovação nos cursos de Engenharia por meio de uma formação que contempla mais interação com mercado, participação nas pesquisas, percepção da realidade brasileira, conhecimentos técnicos, sociais e humanos e Investimentos no interpessoal. “As novas propostas para inovação na educação em Engenharia são muito amplas e englobam os programas de estágio; incentivar o empreendedorismo e incubadoras de empresas; projetos de extensão aplicados às demandas; mobilidade tecnológica; parcerias com empresas e escolas; apoio às empresas juniores; visitas técnicas para docentes e discentes em institutos de pesquisa, universidades e empresas; compreensão do alcance e da responsabilidade social de sua atividade; formar pensamento reflexivo e, principalmente, foco no saber fazer, saber pensar, saber ser e agir, entre outras”.

Esta pesquisa tem por objetivo investigar a efetividade do Programa Ciência sem Fronteiras, enquanto política pública que contribui para a mobilidade acadêmica de estudantes brasileiros, em nível de graduação, com foco em identificar se os participantes têm desenvolvido as competências necessárias requeridas para o avanço da sociedade do conhecimento e evolução industrial tecnológica”. 41


Destaque

Protagonismo feminino na Engenharia Viviane Wehdorn

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eterminação, coragem e persistência: estes parecem ser os ingredientes fundamentais para que mulheres tornem-se Engenheiras de sucesso. Inseridas numa área profissional majoritariamente masculina, muitas ainda precisam lidar com preconceito, injustiças e desigualdade salarial. A Engenheira Eletricista Marita Arêas de Souza Tavares é uma referência quando se fala em protagonismo feminino na área tecnológica. Aos 80 anos, ela se lembra de como decidiu cursar Engenharia. “Havia um colégio em Itajubá que oferecia o curso Clássico, para quem pretendia seguir carreira na área de Ciências Humanas e o curso Científico, que era praticamente especializado para aqueles que pretendiam ingressar no então Instituto Eletrotécnico de Itajubá, que hoje é a Unifei – Universidade Federal de Itajubá. Eu entrei nessa área científica porque eu gostava muito de matemática, mas eu não tinha aquela ideia ainda de fazer Engenharia, porque não havia mulheres cursando. Todos os meus colegas estavam estudando para fazer o vestibular da Engenharia e, como eu gostava das disciplinas básicas, resolvi fazer também”, conta. Única mulher em uma turma de 60 alunos, ela diz nunca ter sofrido preconceito por parte de colegas e professores e não admitia ser tratada de forma diferente dos demais colegas. “Durante o trabalho de conclusão de curso, que era a elaboração do projeto de uma usina hidrelétrica, fomos a campo de caminhão fazer levantamento topográfico. Aquele bando de rapazes, três professores e só eu de mulher. Tudo que os rapazes faziam, eu quis fazer também. Eles entravam na água, eu também entrava. Eles viajavam na carroceria do caminhão, eu também viajava”, recorda. Logo que se formou, Marita trabalhou na Ligth, na cidade de São Paulo, mas se casou em seguida e foi morar em Santos, no litoral do estado. Embora a empresa tivesse uma unidade na cidade, a engenheira não conseguiu ser transferida por um motivo inusitado. “A resposta que recebi é que não era possível, porque não havia banheiro feminino na empresa. Não tinha nem secretária. Não havia mulheres. Era só área técnica”, explica. Após sair da Ligth, Marita foi a primeira mulher engenheira contratada pela Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), onde seu marido também trabalhava como engenheiro. Após cinco anos na empresa, ocupando o cargo de chefe da Divisão de Coordenação de Projetos,

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Marita Arêas de Souza Tavres. Foto: Arquivo pessoal

por motivos de saúde de sua segunda filha, decidiu se demitir e buscar uma ocupação mais próxima de casa. Se registrou, então, como autônoma. Durante dez anos, ela atuou na construção civil e como Técnico Certificante da Receita Federal no porto de Santos, cargo que conseguiu após muita insistência. “O quadro de Técnicos Certificantes era composto de 50 profissionais, com extensa fila de espera para uma eventual vaga. Conversei com o delegado da receita pleiteando o cargo, mas ele alegava ser o ambiente inadequado para uma mulher, tendo de circular na área portuária em meio aos “bagrinhos”, muitas vezes entrando em conteiners para avaliação dos equipamentos para emissão de laudos técnicos. Na primeira vez ele disse que seria difícil eu conseguir. Voltei mais duas vezes. Na terceira ele disse que a vaga era minha”, lembra a engenheira. Marita ainda atuou durante 5 anos como gerente regional da MAIN Engenharia, em Brasília, e por quase 10 anos na EPC – Engenharia Projeto e Consultoria, em Belo Horizonte, onde ocupava o cargo de superintendente. Após a aposentadoria, fundou, junto com o marido, um escritório de representação e consultoria e passou a se dedicar, também, a associações e entidades de classe. Foi presidente da Associação dos Diplomados da UNIFEI, participou de várias diretorias da SME, foi Conselheira e vice-presidente do Crea-MG. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019


Destaque Sobre a atuação feminina na Engenharia, Marita Tavares vê um crescimento grande de mulheres na área, mas percebe que muitas ainda abrem mão da carreira em prol da família. “Da mesma forma que eu precisei deixar o emprego porque minha filha requereu maiores cuidados, muitas mulheres desaceleram a profissão na fase da maternidade. Algumas deixam o emprego, outras procuram uma função em que tenha maior disponibilidade para a família. Quando retorna ao trabalho, com os filhos mais crescidos, perdeu espaço perante aqueles com os quais competia no início da carreira”, exemplifica. Para as jovens engenheiras, estudantes ou para quem quer ingressar na área, ela aconselha: “Busquem seu próprio lugar. Não se preocupem com discriminação. A gente ocupa o lugar que busca com competência e determinação. Acho muito válido incentivar mulheres a trilhar os caminhos da área tecnológica”, conclui.

Na primeira vez ele disse que seria difícil eu conseguir. Voltei mais duas vezes. Na terceira ele disse que a vaga era minha” – Marita Arêas de Souza Tavares.

Quebrando Paradigmas

Heleni de Mello Fonseca. Foto: Viviane Wehdorn

telecomunicações, era montar todo esse sistema de telecomunicações que existe hoje”, recorda. Embora tenha recebido muito apoio dos pais, o fato de estudar Engenharia e morar longe de casa era uma quebra de paradigma muito grande para a família da então estudante, principalmente para o avô, fazendeiro conservador. “Meu avô dizia que meu pai estava me jogando aos lobos. Meu pai respondia que confiava em mim. Ele sempre me dizia que estava me dando um voto de confiança”, conta Heleni. Ela relata um acordo que fez com o pai antes de ir para a faculdade. “Eu precisava estar em casa as 22h30, no máximo. E não podia participar das horas dançantes do Diretório Acadêmico. Ele também pediu para que eu não usasse shorts ou saias; eu usava calça comprida o tempo todo”.

Seguindo os caminhos trilhados por Marita e outras precursoras, Heleni de Mello Fonseca, 64 anos, ingressou no Inatel aos 17, após concluir um curso técnico de eletrônica em Santa Rita do Sapucaí. Filha de militar, ela se deslumbrava com a tecnologia emergente naquele período. “Na época estava sendo criado o sistema da Embratel. Tinham muitas partes da infraestrutura que me deixavam maravilhada. Eu era de Lambari e meu pai tinha amigos que trabalhavam e eram professores na EFEI, em Itajubá”, lembra.

Os anos de estudo na escola técnica contribuíram muito com seu currículo na faculdade e, já nos primeiros anos, Heleni passou a colaborar nos laboratórios e se tornou professora assistente. Evento que complicou ainda mais a relação com o avô. “Ele ameaçou me deserdar”, conta a engenheira rindo. “Perguntou quanto eu ganhava por aula, querendo me pagar o mesmo para eu não dar as aulas. Eu dizia que não adiantava querer me comprar. Queria continuar dando aula. Isso foi um problema muito sério na família”, explica.

Quando ainda cursava a escola técnica, Heleni cogitou a hipótese de fazer vestibular para o Instituto Militar de Engenharia (IME), mas naquele tempo não admitiam mulheres. Foi quando soube que os professores da EFEI também davam aula no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). “Aquilo me entusiasmou muito. Era

A visão de seu pai, no entanto, era muito diferente e a incentivava levar seus planos adiante. “Ele queria que os filhos tivessem uma formação e que ninguém tirasse deles o conhecimento. Poderiam tirar patrimônio, mas o conhecimento, não. Percepção bem diferente do meu avô, que pensava em deixar a herança para os filhos,

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Destaque netos etc. Eu não pensava em herança. Pensava no que eu poderia conquistar através do meu conhecimento”, conta Heleni. Depois de formada, Heleni trabalhou no Departamento Estadual de Comunicações de Minas Gerais, que fazia a retransmissão e interiorização dos sinais de televisão das cinco emissoras do estado. “Nós fomos, no Brasil, os primeiros a usar sinais de micro-ondas, pois eu era especialista na área. Depois, fomos a primeira regularização de recepção de satélite, em Patos de Minas”. Após dez anos na área, Heleni entrou na Embratel, de onde foi cedida para a extinta Telemig, como diretora da área de operações, sendo a primeira mulher a assumir um cargo de direção na área de telefonia. Ela participou da privatização da estatal, que era tida como modelo nacional. Na ocasião, ela e a equipe receberam o prêmio “Homem de Marketing do Brasil”. Após as privatizações, a engenheira permaneceu na regional mineira da OI até 2001, em seguida foi para a Cemig, como a primeira diretora do sistema elétrico brasileiro. Nesse intervalo, foi a primeira presidente da SME, na gestão 1999-2002.

“Perguntou quanto eu ganhava por aula, querendo me pagar o mesmo para eu não dar as aulas. Eu dizia que não adiantava querer me comprar. Queria continuar dando aula. Isso foi um problema muito sério na família” – Heleni de Mello Fonseca.

Ao refletir sobre sua história e sobre o papel da mulher na Engenharia, Heleni diz que sempre prezou por uma postura de respeito e que seu conhecimento adquirido na escola técnica a ajudou a ganhar a confiança dos colegas na faculdade. “Eu não tenho do que reclamar em relação a isso. Era uma questão de respeito absoluto e carinho”, comenta. Segundo ela, a única limitação que teve em relação a gênero, foi o fato de sofrer três abortos

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quando estava em campo. “Eu estava exagerando, subindo nas torres de transmissão. Então eu percebi que tinha que dar uma diminuída no esforço para conseguir levar a gestação até o fim”, esclarece.

Engenheiras Empoderadas

Com uma trajetória diferente e igualmente brilhante, a engenheira eletricista e de segurança do trabalho, Fabyola Gleyce da Silva Resende, de 30 anos, atua como Gerente de Relações Institucionais do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e coordena o “Programa Mulher” do Sistema Confea/Crea. Fabyola conta que foi uma criança criativa e inquieta, que gostava de inventar e descobrir coisas novas. Na adolescência, ao contrário da maioria das pessoas que optam pelas ciências exatas, ela tinha dificuldades em matemática. “Se eu fosse olhar a minha vocação natural, teria feito algum curso voltado para a área de humanas, porém, como sempre gostei de desafios, eu quis desenvolver um lado que me daria base para dar vida às minhas invenções”, explica. A Engenheira cursou os primeiros quatro anos de Engenharia Elétrica com o auxílio de uma bolsa integral do Programa Universidade Para Todos (ProUni), em Curitiba-PR, depois conseguiu transferência para Belo Horizonte, onde concluiu a graduação no Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH). Em seu TCC, ela desenvolveu, juntamente seu amigo André Nogueira, um jogo da memória em realidade aumentada para ser utilizado em terapias de estimulação cognitiva de crianças com deficiência. “Este projeto me levou para congressos, feiras, rendeu publicações e prêmio de ciência e tecnologia. Trabalhamos com um alto teor de inovação tecnológica ainda estudantes, sonhadores”, lembra. Fabyola Resende sempre fez questão de ser protagonista na Engenharia. Ainda estudante, participou em diversas entidades de classe que existiam em Curitiba. Atuou no CreaJr-PR, foi Coordenadora Regional do Senge – Jovem no Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge – PR) e foi, também, a primeira sócia acadêmica da Associação Paranaense de Engenheiros Eletricistas (APEE). Atualmente, ela assessora o presidente do Confea, Joel Krüger, e coordena, na entidade, o “Programa Mulher”, que visa propor fomentar o empoderamento feminino e a equidade de gênero no Sistema Confea/Crea, em conformidade com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 5 da Agenda 2030 da ONU. “Este Programa é fruto de constante diálogo com diferentes agentes da sociedade civil, lideranças do

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Destaque estatísticos em relação à participação da profissional mulher, poderemos instrumentalizar as entidades de classe e Creas e incentivar a formulação de políticas para ampliação da participação da mulher de forma protagonista e, consequentemente, a ampliação da nossa representação junto ao Sistema Confea/Crea”, esclarece Fabyola Resende. A engenheira enxerga com positividade o futuro das mulheres nas áreas tecnológicas e diz que a mulher pode ser protagonista do que ela quiser. “Na iniciativa pública já conseguimos equiparar nossos salários. Na iniciativa privada os desafios ainda são muitos, como a condução com sucesso e responsabilidade de uma dupla jornada, já que muitas profissionais engenheiras são esposas e mães, além de atuarem em cargos de liderança”, comenta. Fabyola acredita que as empresas necessitam fazer uma reflexão a respeito de qual paradigma se apoiam para fazer avaliação e escolha de profissionais igualmente competentes, mas que, veladamente, são excluídas de um espaço de disputa. “Essas mulheres profissionais, formadoras de opinião, éticas e influenciadoras, que competem dia a dia em igualdade de atribuições, mas que nem sempre são reconhecidas por suas contribuições à Engenharia, precisam ter em mente que a miopia corporativa não as torna profissionais inferiores”, pondera. Fabyola Gleyce da Silva Resende. Foto: Arquivo pessoal

Sistema Confea/Crea, parlamentares, dentre outros. Ele assume o papel de coordenação e atuação articulada com as diversas entidades de classe, sindicatos e Creas, ações que contribuam para estimular a equidade de gênero e eliminar o preconceito”, explica. A engenheira afirma que, embora nunca tenha sofrido nenhum tipo de preconceito no trabalho, sofreu discriminação durante a faculdade. “Alguns professores chegaram a dizer bem diretamente pra mim que eu deveria cursar moda, que Engenharia não combinava comigo. Senti na pele o estereótipo que engenheira não pode usar batom, não pode ser vaidosa. Alguns colegas diziam que eu teria que provar a minha competência duas vezes”, conta. Integrado a este programa, o projeto “Mapeamento da Participação Feminina’’ busca relacionar as mulheres que participam de forma protagonista nos Conselhos e Entidades de Classe da Engenharia, Agronomia e Geociências em todo o Brasil, com o objetivo de garantir uma maior e efetiva participação das mulheres dentro do Sistema Confea/Crea e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política institucional. “Este mapeamento da participação feminina é importante pois, sabendo como cada Estado se comporta, em termos Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

Na iniciativa pública já conseguimos equiparar nossos salários. Na iniciativa privada os desafios ainda são muitos, como a condução com sucesso e responsabilidade de uma dupla jornada, já que muitas profissionais engenheiras são esposas e mães, além de atuarem em cargos de liderança” – Fabyola Gleyce da Silva Resende

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Eventos SME

Grandes Palestras e Cursos marcaram a agenda eventos da SME em 2018 Lígia de Matos Ronaldo Morado para falar sobre engenheiros cervejeiros e outra com Ricardo Sena, presidente do Grupo Andrade Gutierrez. Segundo a agenda apresentada no relatório, Portela também fez uma visita oficial ao jornal Diário do Comércio, ao CIT do Cetec-MG e às instalações da GE em Contagem. Ele esteve presente em eventos relevantes nas universidades Fumec e Newton Paiva, além de participar de uma reunião no Sinduscon sobre a alteração do Plano Diretor de Belo Horizonte e, na Fiemg, fez parte da entrega do Prêmio SME de Ciência, Tecnologia e Inovação. Ele ainda participou de uma reunião da Câmara da Indústria da Construção.

Palestras e cursos

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Augusto Paulino de Almeida Neto, presidente da Ordem dos Engenheiros de Andogola Foto: arquivo SME

m fevereiro, foi feita uma apresentação à diretoria do Relatório de Gestão 2018, que incluiu detalhes sobre os cursos, palestras, seminários, reuniões e representações realizadas durante todo o ano. Em linhas gerais, os números são positivos e foram promovidos eventos científicos, motivacionais, políticos e técnicos que englobaram os mais variados temas de relevância para a classe dos engenheiros. Foram ao todo 19 palestras, 13 apresentações, 72 reuniões das comissões técnicas e quatro cursos.

O workshop “Carreira e Mercado – fui demitido, e agora?”, realizado em fevereiro, foi um dos eventos mais expressivos de 2018. Os participantes puderam conhecer estratégias e táticas para enfrentar de forma bem-sucedida o processo de demissão e de recolocação no mercado de trabalho e ter clareza quanto às ações que não foram tomadas no momento correto, mas que são essenciais para sua recolocação.

As reuniões e eventos das comissões técnicas foram os mais frequentes e o cronograma para 2019 já está todo marcado até o mês de dezembro. Além das sete comissões (Recursos Hídricos, Técnica de Inovação, Mineração e Metalurgia, Cidades Sustentáveis, Transportes, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Avaliações e Perícias), também foram contabilizadas as reuniões do conselho de comissões.

Em agosto, o curso “NBR - 15.575:2013 - Norma de Desempenho” apresentou aos participantes as mudanças introduzidas nas edificações habitacionais devidas à emissão da norma ABNT NBR 15575:2013 (Partes 1 a 6) Edificações habitacionais - Desempenho e foi muito apreciado. Já em setembro, o curso “Segurança no Trabalho para Gestores de Grandes Empresas” possibilitou uma visão geral da segurança no trabalho, tendo como foco central o gestor responsável na empresa, sua responsabilidade como pessoa física e as implicações na governança empresarial. Para fechar a lista, também em setembro foi realizado o curso “ODS 11 (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) - Cidades Sustentáveis” que teve o objetivo de apresentar informações sobre o tema para associados e público em geral.

O vice-presidente da SME, Luiz Otávio Portela, foi o representante oficial da instituição em diversas solenidades. Uma delas foi a audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais sobre o Rodoanel, na região metropolitana de Belo Horizonte e também marcou presença na reunião sobre a Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias.Fez ainda uma reunião com o engenheiro

A grade de palestras foi mais recheada com temas ligados às variadas áreas da Engenharia e teve grande adesão dos associados e público em geral. Em março, por exemplo, foi realizada a palestra “Negócios 4.0” que destacou temas como a velha e nova indústria, o novo petróleo, pilares da indústria 4.0, atenção gerencial, framework 4.0, com apresentação de casos práticos, fáceis e ágeis de implantação.

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Eventos SME Outro evento de suma importância, promovido pela SME em maio, foi a palestra do engenheiro Augusto Paulino de Almeida Neto, presidente da Ordem dos Engenheiros de Angola e empresário da área de petróleo e gás no país. Em sua apresentação, ele destacou os campos de negócios em Angola, seus desafios e possibilidades. Sua explanação apontou as oportunidades no contexto da diversificação da economia e apresentou um quadro geral e atualizado de chances de negócios que mostram o interesse do país em se sintonizar com o mundo e criar perspectivas de desenvolvimento. Entre outras apresentações, vale destacar “Desenvolvimento Sustentável - Agenda 2030”, “Macro Visão do Minério de Ferro da CSN Mineração”, “Escassez Hídrica e Energética”, “Acústica em Edificações ABNT NBR 10152 e sua Correlação com a NR-17”, “Propriedade Intelectual”, “Inspeção Predial”, “A importância da Geologia de Engenharia”, “Dimensionamento de Sistemas Fotovoltaicos através do Aplicativo Estimate” e também o lançamento oficial da Comissão Técnica de Recursos Hídricos, em 14 de junho de 2018.

Encontro dos CEO's durante a Semana do Engenheiro 2018. Foto: arquivo SME

Semana do Engenheiro Fechando 2018, entre os dias 07 e 13 de dezembro foram realizados 2 grandes eventos e 3 seminários. O primeiro - CEO da Engenharia 2019 reuniu no dia 07 de dezembro destacados executivos do setor para debater, na sede da SME, os desafios da reconstrução da engenharia e ressaltar as inovações do mercado. No dia do Engenheiro - 11 de dezembro, a SME fez a entrega de merecida homenagem ao Engenheiro do Ano 2018 a Aloísio Vasconcelos, ex-presidente da SME, da Eletrobrás e da Cemig Telecom.

contratações da área de Engenharia, levando-se em consideração habilidades e qualificações dos engenheiros em pleno século XXI e também apresentando as visões das empresas contratantes, de recrutamento e seleção, e na visão empreendedora necessária às novas relações de trabalho. Depois foi a vez do painel “Inovação e Desenvolvimento Sustentável”, que apresentou de forma conceitual e objetiva avanços na área de inovação, aplicações e proteção em projetos ambientais numa perspectiva de utilização tecnológica da área. E o fechamento contou o tema “Engenharia Biomédica e as Novas Tecnologias”, que animou os participantes ao mostrar de forma resumida e direta os avanços na área da Engenharia Biomédica, atualizando-os com o que já existe e projetando o futuro tecnológico da área.

Eventos 2019 O ano de 2019 já começou animado com a realização de importantes encontros. A primeira palestra foi realizada no dia 28 de janeiro com apresentação do vereador Mateus Simões, coordenador da equipe de transição do Governo Zema, sobre a atual situação financeira de Minas Gerais e os reflexos em Belo Horizonte. Entre as questões discutidas, vale ressaltar a renegociação da dívida do Estado com a União, o corte dos privilégios e cargos em excesso e também a ausência da sociedade civil nas discussões das políticas públicas. Em 31 de janeiro, a Sociedade Mineira de Engenheiros recebeu o novo Secretário de Estado de Infraestrutura e Transportes, Marco Aurélio de Barcelos Silva, para falar sobre os planos do governo para o setor. Ele destacou a importância de uma abordagem técnica e não política na Secretaria e prometeu priorizar obras que tragam mais benefícios aos usuários. Outro evento de relevância já realizado este ano foi a palestra “Grafite e Grafeno: a nova era do carbono”, proferida pelo engenheiro de Minas Sândio Pereira, no dia 19 de fevereiro. Em sua apresentação, ele mostrou um panorama mundial sobre a utilização do grafite natural e fez uma explanação sobre o grafeno, suas propriedades e usos potenciais. Este primeiro evento foi reservado somente à diretoria da SME, mas em breve uma segunda edição será marcada e aberta ao público.

Nos dias 10, 12 e 13 de dezembro foram realizados os seminários: “Habilidades Requeridas para o Mercado de Trabalho”. Este evento focou os debates em como trazer conteúdo de qualidade ao mercado de

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Eventos SME

Novo governo, dívidas antigas Viviane Wehdorn

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vereador e coordenador da transição do governo Zema, Mateus Simões, do partido Novo, esteve na SME (Sociedade Mineira dos Engenheiros) em janeiro em um debate sobre a atual situação financeira de Minas Gerais e os reflexos em Belo Horizonte. Além de apresentar um panorama sobre a situação financeira do estado, o vereador discutiu sobre a distorção do papel do poder legislativo, sobre o excesso de burocracia para licenciamento de obras e sobre a importância da sociedade civil nas discussões na Câmara e na Assembléia.

Após um mês de trabalho, a equipe de transição do atual governo elaborou três relatórios com diagnósticos detalhados sobre Minas Gerais. O primeiro deles trata da visão financeira do governo. Segundo o relatório, o maior gasto do Estado é com o funcionalismo público. “As despesas de pessoal consomem 86 por cento das receitas tributárias do Estado. Além disso,

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Apresentação do Vereador Mateus Simões sobre a situação financeira do Estado de Minas Foto Viviane Wehdorn

elas representam metade das despesas totais”, esclareceu o vereador. Outro gasto que tem tirado o sono do novo governo é com a previdência. De 2014 a 2017, as despesas com pessoal inativo cresceram quase duas vezes mais do que as com pessoal ativo. “É um problema tão complexo que mereceu do governo a formação de um grupo especial para discutir sobre o tema para ver como ajustar nossa Previdência”, explicou Mateus Simões. Eu me condoo muito da situação dos militares porque são eles que vão para a rua correr risco. Então, falar que o militar não pode ter uma aposentadoria diferente não sei se é justo, mas eu também não posso ter mais custos com a inatividade do que com a atividade como acontece com a polícia hoje. Essa conta está para ser encontrada”, completou. Este primeiro relatório também aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais é inferior ao PIB Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019


Eventos SME nacional desde 2013 e que Minas é o pior estado no cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal de acordo com o Tesouro Nacional. Além disso, é o que apresenta a maior discrepância entre o cálculo do tesouro e o próprio cálculo. O saldo de contas a pagar é proveniente principalmente dos anos de 2016 e 2017 e está concentrado nas principais secretarias com direcionamentos constitucionais. No final de 2018, a dívida chegou à casa dos 23 bilhões, o que representa um crescimento acumulado superior a 400% desde 2014. Dessa dívida, sete bilhões são referentes a repasses aos municípios, segundo dados da Associação Mineira de Municípios. Questionado sobre a possibilidade de o atual governador Romeu Zema denunciar o ex-governador Fernando Pimentel por improbidade administrativa, o vereador Mateus Simões respondeu que esta não é uma prioridade para o governador. “Acredito que o governador Zema não vai denunciar o governador Pimentel, porque ele está preocupado com o que acontecerá de primeiro de janeiro em diante. Resolver o passado de Minas daria um trabalho por mais de quatro anos e ele tem muita coisa para ser feita nesse tempo”, explicou. Ainda sobre o ex-governador, Mateus Simões afirmou que Pimentel é um criminoso. “Deveria já estar preso há bastante tempo. Ele não é criminoso só porque desviou dinheiro, fez peculato e vendeu bens. Ele é criminoso pela forma como administrou Minas Gerais. Ele descumpriu todos os preceitos da lei de responsabilidade fiscal, maquiou as contas de Minas Gerais como pôde, prejudicou o estado de uma forma que a gente não tem notícia no passado”, disse o vereador. Durante a apresentação dos relatórios, Mateus comentou que o poder legislativo brasileiro está mais preocupado em atuar como despachante de interesse privado do que como guardião de interesses públicos e que parte dessa culpa é da sociedade civil. “Todas as vezes que um de nós utiliza de um vereador ou de um deputado para resolver um problema pessoal de licenciamento, ao invés de discutir com ele o problema geral do licenciamento, que é burocraticamente mal feito, nós incentivamos a máquina a trabalhar por interesses menores e escusos. Esse favor vai ser pedido pelo vereador ou deputado lá para o prefeito ou governador. O favor é concedido com uma condição: de que eles não atormentem a vida do executivo depois. Esse sistema é um sistema alimentado também por nós”, explanou. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

Um tema levantado durante o debate foi o licenciamento ambiental em Minas. Segundo o vereador, ele precisa ser repensado, pois não consegue evitar problemas como o rompimento de barragens e, por outro lado, causa problemas devido às disfunções burocráticas. “Há um equívoco no processo do licenciamento. Não estamos falando nesse momento em mudar leis ambientais ou sanitárias. Precisamos mudar a forma como o licenciamento é feito, pois ele não consegue evitar problemas como esses que nós vimos em Brumadinho e, por outro lado, causa problemas como estamos vendo no sul de Minas, onde produtores de queijo conseguem comercializá-los em São Paulo e não conseguem comercializá-los em Minas, pois não passam no controle ambiental e sanitário”, comentou. Sobre privatizações e demais medidas para a diminuição dos problemas do estado, Mateus Simões mencionou que Minas Gerais assistirá a implantação de medidas liberais pelo governo. “Nós temos uma oportunidade única, em Minas e no Brasil, de reprosperar a política econômica liberal porque, tudo que nós liberais falamos é que o estado não tem as melhores soluções para nossos problemas e este é o momento para mostrar isso”, comentou.

Nós temos uma oportunidade única, em Minas e no Brasil, de reprosperar a política econômica liberal porque, tudo que nós liberais falamos é que o estado não tem as melhores soluções para nossos problemas e este é o momento para mostrar isso” OUTRAS DÍVIDAS E DÉBITOS ATUAIS

16,6% FUNDO ESTADUAL DE SAÚDE

7,48 Bi 32,1%

51,3%

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO OUTROS ORGÃOS

O saldo de restos a pagar é proveniente principalmente dos anos de 2016 e 2017, e está concentrado nas principais secretarias com direcionamentos constitucionais.

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Eventos SME

SME, 88 anos fazendo história Marita Tavares

Apoio

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Sociedade Mineira de Engenheiros foi fundada em fevereiro de 1931, tendo por primeiro associado o engenheiro de Minas e Civil Américo René Gianetti, que foi prefeito da capital mineira e um dos fundadores da entidade. Reconhecida pela classe e pela sociedade, não só pelo seu pioneirismo e tradição, a entidade conquistou sua consolidação e credibilidade com sua expressiva atuação que visa contribuir para a valorização e contínua evolução da engenharia, voltada ao desenvolvimento sustentado e à construção de uma sociedade política, econômica e socialmente justa. No ano seguinte de sua fundação, participou dos debates que resultaram na regulamentação da profissão através do Decreto 23.569 de 11/12/1933, data em que se comemora o Dia do Engenheiro. E, um ano depois, por iniciativa de um grupo de seus associados, nasceu dentro da sede da SME, o CREA-MG.

O homenageado, engenheiro Mauro Teixeira e a engenheira Marita Tavares. Foto: Célio Camilo

Também foi na década de 30 que a SME sediou os debates e se pronunciou favorável à criação de um parque siderúrgico nacional, tema que deu continuidade, tendo exercido grande influência na posterior criação da Usiminas e da Açominas. Na década de 40 podemos destacar sua grande participação no plano de urbanização de Belo Horizonte e nas discussões sobre o Plano Rodoviário Nacional e de Minas Gerais. Na década de 50, dentre suas inúmeras atividades, promoveu o I Congresso Nacional de Energia e Indústria, cuja meta era a criação da Cemig. Também foi nesta década, durante reunião realizada na SME, que se decidiu pela criação da Usiminas, tendo a entidade empreendido um trabalho para atrair investimentos japoneses para este fim. Coube ao presidente da SME de então, Engo. Vicente Assunção, chefiar uma delegação que excursionou ao Japão para divulgar o projeto de implantação dessa siderúrgica nipo-brasileira.

O homenageado, engenheiro Geraldo de Almeida Fonseca, com Sumaia Zaidan, diretora da SME, e sua filha Maria de Lourdes Fonseca. Foto: Célio Camilo

formação destes jovens, abrindo-lhes portas e proporcionando maior visibilidade de competências em seus currículos.

Na década de 60 a SME debateu e defendeu a construção de novos portos marítimos e fluviais no país; discutiu e defendeu a nova política de energia elétrica do governo e liderou os trabalhos que resultaram na criação do Código de Ética Profissional para o Sistema Confea/Crea.

Em 1996 foi criado o “Projeto SME 12h30” com o objetivo de reunir profissionais, empresários, lideranças classistas e imprensa para apresentação de palestras seguida de debates, focado em temas atuais e de interesse da sociedade; também o “Projeto Ponto e Contraponto”, dirigido ao mesmo público, promovendo palestras e debates de temas controversos, que muito contribui para a formação de opinião da entidade e de seus participantes.

Na década de 70 a SME adquiriu o terreno e construiu sua sede própria, na Rua Timbiras, nº 1514, inaugurada festivamente em 1978 com a presença de grande número de autoridades. Atrelada ao entusiasmo de contar com melhor estrutura física para ampliar suas atividades, a SME criou suas Comissões Técnicas temáticas, que passaram a promover eventos e debates internos e abertos à comunidade, visando firmar posições e aprofundamento de estudos tantas vezes apresentados ao governo do estado, fazendo inúmeros contatos com autoridades relacionadas com a aprovação e desenvolvimento dos projetos.

Em reconhecimento aos profissionais que deixaram marcas históricas na sociedade com suas ideias, projetos, soluções, conhecimento e novos caminhos para o desenvolvimento de Minas Gerais e da Nação, a SME instituiu em 1983 a “Medalha Sociedade Mineira de Engenheiros – Engenheiro do Ano”. Em 1995 foi criada a “Medalha Lucas Lopes” em parceria com a CEMIG, com o objetivo de homenagear profissionais com atuação de destaque no setor de Energia. E ainda, a “Medalha Amaro Lanari Junior” a partir do ano 2000, outorgada a profissionais com destaque no setor Siderúrgico.

Em 1991 foi criado o “Prêmio SME de Ciência, Tecnologia e Inovação” visando incentivar os alunos dos cursos de graduação ligados à Engenharia, Arquitetura e Agronomia no desenvolvimento de trabalhos técnico-científicos. Em 25 edições do Prêmio foram mais de 1.800 projetos inscritos e quase duas centenas de premiados, que muito contribuíram para o desenvolvimento e

Para a comemoração do Dia do Engenheiro, em 11 dezembro, quando se realiza o evento festivo de entrega da Medalha Engenheiro do Ano, a SME vem estendendo sua programação para o que denomina “Semana do Engenheiro”, com palestras diárias abertas não só aos seus associados, mas a todos os profissionais interessados.

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Eventos SME A história quase centenåria da SME não estarå completa, sem citarmos uma lacuna em sua trajetória de realizaçþes. A despeito do idealismo classista e dedicação de seus colaboradores, todos voluntårios, a entidade passou por um período de dificuldades que a levaram a deixar sua sede por algum tempo, quando passou a ocupar um espaço sem estrutura adequada para exercer vårias de suas atividades com a mesma frequência e disponibilidade para seus associados. Mas chegou o dia que nos foi possível resgatar a sua sede, viabilizando o retorno de suas atividades ainda mais fortalecidas após uma reforma parcial do imóvel, que no momento estå em fase de conclusão graças aos parceiros que acreditam no trabalho em prol da engenharia que a entidade vem desempenhando hå 88 anos. Como nos ensina a história, Ê na dificuldade que se criam as oportunidades, geradoras de criatividade para vencê-la. Minas Gerais e o País, que atualmente enfrentam uma crise sem precedentes de estagnação do seu crescimento, têm na engenharia, na arquitetura e na agronomia, soluçþes que muito contribuirão para voltar a colocar o trem nos trilhos do desenvolvimento. E para isso, acreditamos no protagonismo da Sociedade Mineira de Engenheiros.

Baile e homenagens na festa de 88 anos da SME No dia 13 de abril a SME promoveu uma comemoração festiva dos seus 88 anos, que contou com a presença de quase 200 pessoas, entre estes, eminentes nomes do cenĂĄrio da Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais. Durante o evento, a SME fez a entrega da carteira de SĂłcio Remido e Diploma ao engenheiro civil Mauro Teixeira e ao engenheiro de minas, metalurgista e civil Geraldo de Almeida Fonseca, por suas contribuiçþes ao desenvolvimento da Engenharia Brasileira. A noite foi animada ao som da banda “TRiO Brothersâ€? e o buffet ficou a cargo de LetĂ­cia Pimenta. A responsĂĄvel pela organização impecĂĄvel foi a engenheira Marita Tavares, membro do Conselho Deliberativo da SME.

Fotos: CĂŠlio Camilo

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Comissões Técnicas

Comissão Técnica de Ensino de Engenharia e Qualificação Profissional fabricação de alimentos. Ela surge através das demandas humanas e sinto uma desconexão da engenharia com essa realidade. Precisamos estudá-la de forma sistêmica”, explica o engenheiro. Bernardo acredita que existem alguns paradigmas relacionados à Engenharia que precisam ser quebrados. “Um engenheiro não faz somente projetos e obras. Seu trabalho vai muito além. Ele pode, por exemplo, desenvolver estudos de viabilidade de projetos e empreendimentos, fornecer argumentos para tomadas de decisão ou mesmo criar soluções criativas para garantir a qualidade de vida da população”, argumenta. O novo presidente acredita que a comissão deve buscar uma integração entre a gestão pública, mercado e universidade e fomentar a atualização de conhecimentos necessários à prática profissional a engenheiros e estudantes.

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Bernardo Abrahão. Foto: Arquivo pessoal

engenheiro civil Bernardo Abrahão Lopes assumiu, no princípio desde ano, a presidência da Comissão Técnica de Ensino de Engenharia e Qualificação profissional. Bernardo, que é professor aposentado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e consultor em gestão de serviços de infraestrutura ambiental, defende o ensino humanizado da Engenharia. “Precisamos mostrar nas universidades o papel social da Engenharia. Em tudo tem Engenharia: na habitação, na produção de energia, nos meios de transporte, na

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“Precisamos mostrar nas universidades o papel social da Engenharia. Em tudo tem Engenharia: na habitação, na produção de energia, nos meios de transporte, na fabricação de alimentos. Ela surge através das demandas humanas e sinto uma desconexão da engenharia com essa realidade. Precisamos estudá-la de forma sistêmica” Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019


Comissões Técnicas

Comissão Técnica de Construção Pesada ações importantes no setor, defendendo os interesses dos engenheiros e ampliando a representatividade”, afirma Danilo. Segundo o engenheiro, a finalidade da Comissão Técnica de Construção Pesada será aprofundar a atuação da SME no setor para promover assuntos de interesse da classe, incluindo o aprimoramento tecnológico e gerencial, além de emitir pareceres sobre assuntos de interesse da entidade. Atualmente está em desenvolvimento na comissão uma análise do atual cenário da construção pesada, a elaboração de um mapa com as obras que deverão ser contratadas nos próximos quatro anos e a avaliação dos modelos de contratação público e privado.

Danilo Prado. Foto: Arquivo pessoal

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riada no final de 2018 com o objetivo de promover e fortalecer os profissionais do setor, a Comissão Técnica de Construção Pesada tem como presidente o engenheiro civil Danilo Roberto Prado. Atuando na área há 15 anos, Danilo teve passagens por grandes construtoras e, atualmente, é o responsável comercial da Empresa Construtora Brasil (ECB), associada ao Grupo Português, Mota-Engil. Para ele, O setor de construção pesada está em constante expansão e os engenheiros que atuam neste setor dependem, sempre, da valorização, pois este tipo de obra demanda qualificação e mobilidade. “Acredito que, com a atuação da Comissão de Construção Pesada, a SME conseguirá desenvolver Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

“Acredito que, com a atuação da Comissão de Construção Pesada, a SME conseguirá desenvolver ações importantes no setor, defendendo os interesses dos engenheiros e ampliando a representatividade” 53


Comissões Técnicas

Comissão Técnica de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

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presidente da Comissão Técnica de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Virginia Campos de Oliveira, participou da primeira reunião plenária do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) de 2019. Na assembleia, que aconteceu no dia 13 de março, foram discutidas, dentre outras pautas, as ações dos órgãos de controle e de gestão ambiental relacionadas ao rompimento da Barragem 1, da Vale, em Brumadinho, e a atuação dos conselheiros neste contexto. A sessão foi presidida pelo secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira, e contou a participação dos demais dirigentes da pasta ambiental do Estado. Virgínia Campos, que é Conselheira do COPAM pela SME, destaca a participação da SME no conselho. “A presença atuante da SME no Plenário e na Câmara Normativa Recursal do Conselho Estadual de Politica Ambiental do Estado de Minas Gerais – COPAM, se reveste de importância tendo em vista que, através desse espaço, a entidade contribui

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Reunião Copan. Foto: Ascom Meio Ambiente

de forma efetiva na construção das políticas públicas do Estado.”, afirma.

A presença atuante da SME no Plenário e na Câmara Normativa Recursal do Conselho Estadual de Politica Ambiental do Estado de Minas Gerais – COPAM, se reveste de importância tendo em vista que, através desse espaço, a entidade contribui de forma efetiva na construção das políticas públicas do Estado.” Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019


Atividades SME

Vice da SME assume presidência da Prodemge Viviane Wehdorn

Tomou posse como novo diretor-presidente da Prodemge em janeiro, Rodrigo Paiva, vicepresidente da Sociedade Mineira dos Engenheiros. Em sua primeira fala, Paiva disse que a palavra chave de sua gestão será eficiência, de forma a atender os anseios de mudança da sociedade.

Posse no Crea-MG

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ez membros da Sociedade Mineira de Engenheiros tomaram posse como Conselheiros no CREA-MG no dia 24 de janeiro de 2019. Celso de Araújo Pinto Coelho, José Eduardo Caetano Corrêa, Krisdany Vinícius Santos de Magalhães Cavalcante, Marco Aurélio Horta e Ronaldo Emílio Simi assumiram como Conselheiros Efetivos, já Virginia Campos de Oliveira, Misael de Jesus dos Santos Sá, João Jackson Batista Braga, Carlos Henrique Guerra Schettino e Marcelo Albano Ferreira de Morais como seus respectivos suplentes.

Os Conselheiros do Crea são profissionais ligados a entidades de classe ou instituições de ensino. Seu papel é deliberar sobre o registro de profissionais e empresas, estabelecer normas de fiscalização, julgar infrações e analisar casos omissos na legislação. O cargo é honorífico e não possui remuneração.

ABNT

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oi realizada no dia 24 de outubro de 2018 na sede da SME, a palestra “A Importância da Inspeção Predial”. Ministrada pelo Engenheiro Civil e Presidente da Comissão de Avaliações e Perícias da SME, Kleber José Berlando Martins, a palestra abordou os conceitos e definições da inspeção predial, as legislações existentes e as metodologias utilizadas para elaboração de laudos. O projeto da Norma de Inspeção Predial da ABNT, que ainda aguarda aprovação, também foi discutido durante o encontro. “A norma da ABNT, que poderá ser publicada ainda este ano, servirá como parâmetro de monitoramento da vida útil de uma edificação. Aliada às normas já existentes, 5674, 14037, 16280 e 15 575 será um importante instrumento para melhorar o desempenho, a segurança e qualidade de vida dos usuários, já supracitados”, explica Kleber José.

Rodrigo Paiva (segundo à esquerda) e os conselheiros da Prodemge Kassius Vasconcelos, Roberto Reis, Ezequiel de Melo Campos Netto e Tadeu Barreto Guimarães Foto: Prodemge/Divulgação

Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

A norma da ABNT, que poderá ser publicada ainda este ano, servirá como parâmetro de monitoramento da vida útil de uma edificação”. 55


Artigos

Diagnóstico Socioambiental

A importância da comunidade na construção do PEA

Por Inês de Oliveira Noronha Arthur Ribas de Souza Sales*

dois públicos, que são: Público interno: trabalhadores (próprios ou contratados) que atuam nas atividades do empreendimento; Público externo: comunidades localizadas na Área de Influência Direta (AID) do empreendimento. Em se tratando especificamente do público externo, sua participação é extremamente importante na construção do PEA, pois este público é o que será diretamente afetado pelas atividades do empreendimento em processo de licenciamento, e portanto receberá diretamente os impactos, sejam eles positivos ou negativos, destas atividades. Isto remete ao conceito de stakeholders, que trata justamente deste público-alvo das ações do empreendimento. Além disto, a comunidade terá grande participação na execução das atividades propostas no PEA, sendo diretamente influenciada por seus resultados, e podendo ainda interferir no andamento do PEA, através de críticas e sugestões baseadas nas informações obtidas pelos indicadores na etapa de avaliação e monitoramento do Programa. Isto também é reforçado por duas das sete principais características da Educação Ambiental propostas pela Conferência de Tbilisi, ocorrida na ex-União Soviética em 1977: Dinâmico integrativo: é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornam aptos a agir, individual e coletivamente e resolver os problemas ambientais.

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Execução de DSP com público externo. Foto: Agenda 21 – Conceição do Mato Dentro/MG, 2005.

Instrução Normativa do IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis nº 2, de 27 de março de 2012, em seu §2º do Art. 3º, define o Diagnóstico Socioambiental Participativo como parte integrante do processo educativo, cujo objetivo é realizar projetos que considerem as especificidades locais e os impactos gerados pela atividade em licenciamento, sobre os diferentes grupos sociais presentes em suas áreas de influência. Já a Deliberação Normativa COPAM nº 214, de 26 de abril de 2017, define o DSP como: “instrumento de articulação e empoderamento que visa a mobilizar, compartilhar responsabilidades e motivar os grupos sociais impactados pelo empreendimento, a fim de se construir uma visão coletiva da realidade local, identificar as potencialidades, os problemas locais e as recomendações para sua superação, considerando os impactos socioambientais do empreendimento. DDesse processo, resulta uma base de dados que norteará e subsidiará a construção e implementação do PEA. O §1º doArt. 8º desta mesma Deliberação Normativa dispõe que o Programa de Educação Ambiental (PEA) deve se estruturar distinguindo

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Participativo: atua na sensibilização e na conscientização do cidadão, estimulando-o a participar dos processos coletivos. Sendo assim, é necessário que se estabeleça um bom relacionamento com estes stakeholders desde o início do PEA, tanto por parte do empreendedor quanto por parte da equipe que elaborará e executará o Programa na comunidade. Afinal, uma crise neste relacionamento pode impactar significativamente o andamento do PEA e, por consequência, o licenciamento do empreendimento em questão. A figura a seguir mostra um macrofluxo com as etapas que podem ser seguidas para a construção do relacionamento com os stakeholders. * Inês de Oliveira Noronha: Pedagoga; Diplomado em Arqueologia e Patrimônio; Doutora em Educação; Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental; Mestre em Administração; Pós-graduada em Engenharia Ambiental Integrada; Pós-graduada em Educação Ambiental; Pósgraduada MBA Gestão de Negócios e Competências. Para acessar o Currículo: http://lattes.cnpq.br/5532896897856115 Arthur Ribas de Souza Sales: Engenheiro Ambiental, Técnico em Meio Ambiente e Consultor Ambiental. Atua na área de Educação Ambiental há mais de 2 anos. Para acessar o Currículo: http://lattes. cnpq.br/8730584613627743

Acesse este artigo completo em: www.sme.org.br Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019


Artigos

A infraestrutura de transportes e a falta de planejamento Vêm aí novos tempos? Por Eng. Elzo Jorge Nassarala*

Temos muitos estudos feitos; faltam-nos, no entanto, matérias sobre vários assuntos. Vamos trocar papéis e, com toda a certeza, as ideias aparecerão e com elas os projetos serão elaborados e teremos condições de aplicar os recursos – cada vez mais limitados – de uma maneira racional. Partindo daqui e analisando o documento Proposta/ Programa Minas de Volta aos Trilhos – Pelo “Plano de Desenvolvimento de Sistemas Integrados de Transportes – Soluções sobre Trilhos”, elaborado pela Comissão Técnica de Transportes/CTT/SME, estamos vendo uma grande oportunidade para iniciar um planejamento. O último documento que enviei à CTT/SME contém sugestões de projetos a serem considerados importantes para envio à equipe do novo Governador. Faz parte desta lista, uma referência ao Programa “Minas de Volta aos Trilhos”, que contém uma futura participação da Comissão Técnica de Transportes - CTT da SME. O abandono de algumas de nossas ligações ferroviárias necessita de alguém que possa lutar por um novo tratamento ao transporte por trilhos. Chegou a hora!

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ivemos reclamando da falta de planejamento no nosso país. E não é sem razão. Estamos sempre alegando que o Brasil é um país novo e que é um país de futuro garantido. Estas palavras sempre aparecem nos discursos de autoridades e de governantes. Até quando? A realidade, todavia, nos mostra que isso é uma balela. Tomando nosso estado como base, pergunta-se: qual o futuro que nos espera? O que é planejar? Como se deve planejar? Vamos nos sentar em um salão e começar a falar defronte mapas dependurados na parede? Vamos combinar mil reuniões e trocar informações? Vamos escrever, vamos divulgar, vamos discutir e, assim, nascerão as ideias. Vamos, então colocá-las no papel definitivo e vamos aguardar o debate sobre as ideias colocadas ali no papel. O final chegará quando as ideias começarem a ser plantadas no chão. Revista Mineira de Engenharia nº 40 | fevereiro - maio/2019

A ideia do programa “Minas de Volta aos Trilhos” é um caminho que levará a encontrar o objetivo buscado pela sociedade de nosso Estado. E vindo de quem vem – a SME – merece ser considerada, principalmente porque junta na raiz, uma entidade composta por técnicos conhecedores das nossas necessidades e o Ministério Público Federal, que tem aparecido em várias oportunidades, dando uma colaboração inestimável para busca de um futuro seguro e firme para nosso país. E traz para nosso lado a Escola de Engenharia, a Nucletrans e, especificamente, o Departamento de Engenharia de Transportes e Geotécnia/ETG, da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG, para marcharmos no mesmo sentido, em busca de um caminho a ser trilhado com firmeza e com objetividade. Trazer também a Fundação Christiano Ottoni daquela escola, para um contrato de cogestão, com a SME e para se constituir um agente para administração dos recursos financeiros que virão de um acordo resultante de ação civil contra a Ferrovia Centro – Atlântica – FCA e ANTT, contando com o apoio das entidades representativas da força produtiva e da Engenharia de Minas (ofício de 21/03/2016 firmado por FIEMG/ACM/SME), da realização do seminário (...)

*Membro da Comissão Técnica de Transportes/CTT/SME. Sócio Diretor da ENECON – Engenheiros Consultores

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Assessoria de Engenharia na gestão de projetos muncipais Apoio à infraestrutura urbana e rural Por Bernardo Abrahão Lopes*

controladas, como exigido em outros setores nacionais e externos. A exigência pública de maior transparência e eficácia na disponibilização de recursos impõe que os projetos sejam claros, planejados e acompanhados. A necessidade de implantação adequada da infraestrutura urbana e rural é uma demanda de fato, física, contínua, proporcional ao nível de informação; os atuais meios de comunicação impulsionam para a melhoria, para sua ampliação e manutenção com padrões ambientais, sociais e econômicos reconhecíveis. A saturação e a violência dos grandes centros são alguns dos indicadores de formação de cidades polo (em Minas Gerais: Governador Valadares, Montes Claros, Divinópolis, Poços de Caldas, Juiz de Fora, Uberlândia e muitas outras) cujo crescimento e desenvolvimento promove acréscimo de autonomia regional, pressionando autoridades a desenvolverem planos diretores e ações que viabilizem sua gestão. Na oportunidade, o associativismo é inevitável promovendo planos estratégicos regionais.

O contexto atual

Atualmente, com a tendência de transferência de deveres dos governos federal e estadual para o município e com a arrecadação tributária em definição, muitos municípios se encontram impotentes frente as crescentes dificuldades.

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O panorama social, como já colocado, mudou; a população torna-se mais participativa exigindo cada vez mais de seus representantes eleitos, então mais envolvidos com maior complexidade das demandas.

administrador público é submetido a grande diversidade de demandas, muitas delas inesperadas. As dificuldades habituais que enfrenta para atender as necessidades e expectativas públicas com escassez de recursos financeiros, técnicos e administrativos indicam uma inadiável mudança na forma de gerenciar.

Infelizmente, com tantos indicadores, em nosso país pouco se estuda a viabilidade dos empreendimentos, tampouco se projeta e planeja com o rigor necessário. Ocorre elevado desperdício e retrabalho, com conseqüente perda de tempo e de recursos em geral. AAlguns serviços não atendem (ou mal atendem) as necessidades para as quais foram executados.

Para prosseguir, mostro os escopos de demandas de nossa atualidade, expostos em congressos e encontros do gênero que me fazem acreditar na necessária atualização e valorização da administração pública, aqui, especialmente, a administração municipal que enfocando a auto sustentabilidade, promoverá maior autonomia para toda a comunidade local.

Constata-se que ocorre também pouca captação de recursos junto a instituições financeiras e a programas sociais, que atualmente exigem projetos tecnicamente bem elaborados.

As demandas

As mudanças nas leis, novos projetos nacionais, novos direcionamentos para a administração pública exigem uma adequação gradativa e com precisa estratégia. A exemplo da Lei de Responsabilidade Fiscal, hoje tão discutida, as operações necessárias para fornecimento de recursos governamentais tendem ser padronizadas e

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* Bernardo Abrahão Lopes é professor aposentado do Departamento de Engenharia de Produção da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais; consultor em gestão de serviços de infraestrutura municipal; presidente da Associação de ex-alunos da Escola de Engenharia da UFMG; Presidente da Comissão de Ensino de Engenharia e Qualificação Profissional da SME .

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Muito obrigado!

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O futuro se constrói agora E a Andrade Gutierrez vem fazendo a sua parte para que seja melhor Elaboramos um manifesto com princípios que criam um novo modelo de fazer negócio, tendo como norte a ética, a governança, a responsabilidade social e o zelo com os clientes. Nossas práticas no presente são a matriz para o futuro. E é para isso que investimos tanto na nossa engenharia, em governança e inovação. Adotamos “reinvenção” como a palavra-chave da Andrade Gutierrez: uma nova estratégia global de negócios que nos faz voltar a crescer e nos reposicionar. Essa base e o compromisso de sermos intolerantes com qualquer desvio ético ou moral são os pilares dessa nova construção que nos move adiante.

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