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Boraceia
Boraceia, o interior à beira-mar
A orla de cinco quilômetros da parte bertioguense se divide entre o Canto do Itaguá, faixas vazias, o trecho da Morada da Praia e a área do centro do bairro, separado de São Sebastião pelo rio Parateus
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A capela de Sant’Anna é a base para a tradicional festa da padroeira do Itaguá, no final de julho

Na fronteira norte de Bertioga, limite com São Sebastião, Boraceia é um bairro que se assemelha a uma cidade interiorana, só que à beira-mar. Distante mais de 30 quilômetros do centro da cidade, seu mar cristalino é a principal atração. Você pode fazer o programa normal, chegar de carro ou de ônibus, descer na área central, que reúne o comércio e as opções gastronômicas, e entrar na areia, separada da rodovia Rio-Santos por uma faixa de mata de restinga com várias trilhazinhas. Ou pode chegar pelo Canto do Itaguá, na extremidade sul de Boraceia, onde a faixa de mata é bem maior, e descobrir a praia caminhando em direção ao norte. Aí, a aventura já será outra.
Parte do Parque Estadual da Restinga de Bertioga (Perb), o Canto do Itaguá é um pedacinho do passado, uma pequena vila de pescadores na qual residem algumas dezenas de famílias, em meia dúzia de ruas. Na principal, que liga a pista à areia, difícil não parar para apreciar as conchas que ornamentam a fachada do Bar do Hiroshi e o muro de uma casa em frente, que vende artesanato. Há várias opções de serviços de estacionamento e banho, um camping e uma pequena pousada. Para comer, só o Pastel da Marilda, que também serve outras comidinhas. O senhor Hiroshi só vende bebidas e sorvetes. Isso nos fins de semana movimentados, feriadões e no verão, entenda-se bem.
No fim de julho, a pequena capela de Sant’Anna é a base para a tradicional festa da padroeira do bairro, com procissão, brincadeiras para as crianças e guloseimas para todos, com destaque para a tainha assada na brasa, e, em algumas ocasiões, shows musicais. Famoso,

Antonio TK
Parte mais movimentada da praia conta com carrinhos de comidas e bebidas, salva-vidas e locação de guarda-sóis; já o trecho do Canto do Itaguá, é ideal para quem busca isolamento
o festejo atrai muita gente.
Transposto os 100 metros iniciais da vila, ao pisar na areia, você mergulhará em outro mundo, e poderá escolher onde quer começar a curtir a praia: no canto do paredão rochoso bem próximo, à direita de quem entra, ou no trecho seguinte, de cerca de um quilômetro, de praias selvagens. É sol, areia, mata e muitos cursos d’água em direção ao mar. Naturalmente, se a ideia é ficar por ali mesmo, tem que levar o que comer e o que beber. E guarda-sol é indispensável. Não há sombras salvadoras nessa área.
No passado, antes de as leis ambientais começarem a garantir proteção à Mata Atlântica, muito se acampava no Canto do Itaguá, e eram bem altos os índices de mortes por afogamento, provocadas pela forte correnteza do mar junto às pedras. Você ficará tentado a subir nelas, já que, do outro lado fica a prainha do Diabo, e ainda outra, atualmente já encoberta pela mata. Mas, é melhor se valer da companhia de quem tem experiência, como os monitores ambientais credenciados pelo Perb (veja matéria sobre passeios, agências e monitoes na página 64). Se a opção for seguir adiante, pela praia, no próximo trecho, após o Itaguá, você encontrará toda a estrutura do loteamento Morada da Praia, do outro lado da Rio-Santos, com carrinhos de comidas e bebidas, salva-vidas, banheiros químicos na temporada, alguns quiosques, prioritários para idosos, grávidas e pessoas com restrição de movimentos, além de ofertas de locação de cadeiras e guarda-sóis. E, bem interessante, tem cadeiras anfíbias para pessoas com necessidades especiais curtirem o mar. Para quem está na caminhada sob o sol, é

um bom ponto de parada.
A seguir, vem mais um trecho isolado e meio vazio, e depois a área central da praia, que se estende até a divisa com São Sebastião, marcada pelo rio Parateus, totalizando cerca de cinco quilômetros da parte bertioguense da praia de Boraceia. Logo no início dessa faixa, perto do centro comercial, tem um camping, para quem busca emoções mais rústicas. Por ali se vê que Boraceia é uma praia bem família, com muitos idosos e crianças, entre moradores e turistas, dividindo a areia branquinha e o mar tranquilo. Adiante, o trecho de sete quilômetros da praia, em Boraceia 2, já no município vizinho, é bem mais vazio. A 1,5 quilômetro da orla, encontram-se as Terras Índigenas do Rio Silveira, que ficam em Boraceia, mas às quais se chega por Boraceia 2, e constitui-se em um programa à parte (veja matéria sobre a aldeia na página 52).
Para se hospedar, há várias pousadas no bairro. Para comer, no centro de Boraceia encontram-se opções de restaurantes, na rodovia e nas travessas em direção ao interior do bairro. Na pista, um pequeno comércio reúne padaria, lanchonetes, farmácias, supermercado, lojas e serviços. A feira dos sábados, realizada na última travessa antes da divisa, na altura do quilômetro 192, também pode ser uma solução divertida de alimentação para quem faz o estilo alternativo. Para completar, uma caminhada pelas ruas de areia do bairro pode revelar surpresas como encontrar um bando de filhotes de papagaio aprendendo a voar ou vendedores de milho, mandioca e outros produtos da terra, como em uma verdadeira cidade de interior.
Guaranis preservam sua cultura em Boraceia
Passeios de meio dia, com direito a mergulho no rio Silveira, atraem quem se interessa pelas raízes da história brasileira às Terras Indígenas do Rio Silveira
Fotos Marina Aguiar


Uma das grandes atrações de Bertioga é a Terra Indígena Ribeirão Silveira, também conhecida como Terras Indígenas do Rio Silveira, em Boraceia, na qual vivem 550 índios das etnias mbya e nhandeva, subgrupos da etnia guarani, que inclui o subgrupo kaiowás, o mais numeroso de todos no Brasil. Os povos guaranis originam-se também de países da América do Sul, como Bolívia e Paraguai, e hoje vivem até na Argentina. São seminômades, como eram praticamente todos os índios brasileiros.
No Brasil, os guaranis, atualmente, vivem nos estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Santa Catarina e Tocantins. Eles começaram a chegar a Boraceia por volta dos anos 1940, vindos do Espírito Santo, do Paraná e do estado paulista. O decreto que criou a reserva indígena é de 1987, mas a homologação só foi efetivada em 2012, depois de muita luta. A esta altura, você deve estar se perguntando onde estão os tupiniquins nativos de Bertioga?
Na semana do Dia do Índio, em abril, a aldeia fica aberta, mas, no restante do ano, as visitas são agendadas. Roteiro garante uma imersão no modo de vida e costumes do povo local


Foram dizimados já no início do século XVII, mortos pelos tupinambás ou escravizados pelos portugueses, como outros povos tupis.
Historiadores, como Cadú Castro, dizem que os guaranis se entendem como extensão da terra em que pisam. São povos que caçam, pescam, coletam e plantam. Por isso, frente à situação de outros povos indígenas no Brasil, é considerada alta a qualidade de vida que têm nas Terras do Rio Silveira, em 948 hectares de área em meio à exuberância da Mata Atlântica, entre as cabeceiras do rio Silveira e a do ribeirão Vermelho, a 1,5 quilômetro do oceano. Localizada em área do Parque da Serra do Mar, a reserva é duplamente importante, por abrigar povos menos numerosos no país e por permitir aos índios viverem em seu habitat.
Essas são algumas coisas que se aprende ao visitar a Terra do Rio Silveira, necessariamente com um monitor turístico ou ambiental credenciado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), em passeios que, geralmente, duram meio dia (veja matéria sobre passeios, agências e guias na página 64).
Os guaranis organizam-se em núcleos familiares, criados conforme os filhos de um casal vão se casando e construindo suas casas. Lá vivem cinco núcleos, sob o comando do cacique Adolfo Wera Mirim e do vice-cacique Mauro, que ocupam cargos eletivos. Há anos acostumados a lidar com turistas, inclusive os índios Cleiton e Tiago são monitores ambientais, a cada vez colocam uma equipe para receber os visitantes, de acordo com os contatos de cada guia e agência.
Mas o roteiro de todos é bem parecido. Após serem amigavelmente recepcionadas, as pessoas partem para uma trilha que leva aos deliciosos poços do rio Silveira. O passeio dura cerca de duas horas. De volta à aldeia, tem a parte cultural, em rodas de conversa sobre o

modo de vida dos índios, todos pertencentes aos povos tupis, seus costumes, sua culinária, crenças e rituais e, até, visita à casa de reza e bate-papo com um dos quatro líderes religiosos da aldeia, designados como nhanderui, que significa o pai de todos e, não, pajés, que é uma designação dos povos tupis.
Eles alcançam tal posição por acharem que têm aptidão e buscam treinamento com os líderes espirituais, em um preparo que pode durar até 20 anos. Para finalizar a visita, há o belo artesanato guarani, cujas peças podem ser adquiridas, assim como
Colorir-se com as pinturas na pele típicas dos guaranis é uma das oportunidades ofertadas

o palmito-juçara e as plantas ornamentais que os indígenas cultivam.
Na semana do Dia do Índio, em abril, a aldeia fica aberta e recebe o público com apresentações de canto e dança, arco-e- -flecha, luta corporal e corridas de tronco, entre outras atividades do Festival da Cultura Indígena da Aldeia do Rio Silveira. Dá para experimentar atirar flechas em um alvo e se colorir com as pinturas na pele típicas dos guaranis.
No restante do ano, as visitas são agendadas. Naturalmente, se alguém aparecer por lá por conta própria, será recebido e poderá trocar dois dedos de prosa com os moradores. Mas não terá acesso a todas as informações que, somadas à força da natureza, remetem à ideia de como seria a vida de índio no Brasil de antigamente. A Aldeia Indígena Guarani do Rio Silveira fica na avenida Tupi Guarani, em Boraceia, no território de Bertioga, mas a entrada é pelo bairro Boraceia 2, em São Sebastião, diretamente pela avenida, no fundo do trecho do bairro, na altura do km 183 da rodovia Rio- -Santos, ou pela alameda Mauá, acessível na altura do km 189.
