Livro Agenda Bahia 2015

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PATROCÍNIO GLOBAL

APOIO INSTITUCIONAL

APOIO

REALIZAÇÃO


Todos os investimentos da Coelba em pesquisa e desenvolvimento têm o mesmo objetivo: gerar qualidade para o fornecimento da energia elétrica. E isso só é possível através de inovação e empreendedorismo, dois dos valores que movem o Grupo Neoenergia rumo ao futuro. Prova disso são os projetos desenvolvidos pela Coelba - que visam oferecer mais eficiência e confiabilidade ao sistema de distribuição - por meio de: nanotecnologia, redes autônomas, poda de árvores robotizadas, transformadores e sensores inteligentes e até geração de energia a partir de biogás. O futuro que a Bahia espera a Coelba faz chegar mais rápido.

Saiba mais sobre esses e outros projetos: www.coelba.com.br


CONHEÇA ALGUNS PROJETOS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DA COELBA

Um braço articulado extensível adaptável a veículos e operável remotamente, contendo em sua extremidade superior sistema que permita a adaptação de ferramenta PODA ROBOTIZADA

para a realização de poda de árvores em áreas urbanas.

O equipamento é instalado na rede elétrica para monitorar, coletar informações e enviá-las diretamente ao Centro de Operações da concessionária. Esta tecnologia permite maior rapidez de atendimento em caso de defeito na rede SENSOR INTELIGENTE

ou falta de energia.

O aparelho detecta desvios embutidos de energia elétrica (gato). Detecta também modificações na estrutura do DETECTOR DE DESVIOS EMBUTIDOS

eletroduto por meio de ondas acústicas geradas pelo próprio aparelho.

O equipamento possui dispositivos de autorreligamento e de proteção contra sobrecargas e curtos-circuitos na TRANSFORMADOR DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA INTELIGENTE

rede de baixa tensão.




Novos ambientes e equipamentos. Mais qualidade e lazer. A Prefeitura acaba de entregar o Novo Parque da Cidade. Um importante projeto de requalificação que trouxe para o equipamento mais estrutura e áreas de convivência com acessibilidade, segurança, novo paisagismo e diversão para todas as idades.


NOVO ANFITEATRO DORIVAL CAYMMI

O espaço para shows agora tem mais arquibancadas, rampas de acesso com corrimãos, alargamento da entrada, novos camarins, cercamento e banheiros.

SKATE PARK Um dos melhores do Brasil.

NOVA ILUMINAÇÃO EM LED

CICLOVIA DE 800m Pista com pavimento asfaltado proporcionando a melhor prática do ciclismo.

NOVOS ESPAÇOS INFANTIS INTEGRATIVOS

Mais beleza e segurança aos frequentadores do parque durante a noite.

Além de novos brinquedos, os parquinhos são adaptados para crianças com mobilidade reduzida.

NOVA ESTAÇÃO DE GINÁSTICA INTEGRATIVA

PRAÇA CONFÚCIO

Ginástica ao ar livre, com equipamentos para pessoas com deficiência.

Com arquitetura inspirada na bandeira da paz mundial permite o contato com a natureza e prática de meditação.

NOVO MOBILIÁRIO URBANO A reforma do Parque ainda trouxe: • Novos bancos de madeira e concreto. • Mais lixeiras.

NOVA PRAÇA PARA IDOSOS A Praça da Melhor Idade ganhou novos espaços para a contemplação.

• Novos sanitários. E muito mais.

3 anos de trabalho. 3 anos de uma nova Salvador pra você. #NovoParquedaCidade


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SUMÁRIO 1 2 3 4 5

APRESENTAÇÃO

15

CIDADES INOVADORAS

22

BAIXO CARBONO: A NOVA ECONOMIA MUNDIAL

122

FUTURO DO EMPREGO E VALOR DO TRABALHO

228

OLIMPÍADAS NA BAHIA

362

PARCEIROS NA INOVAÇÃO

458



Competitividade O Brasil conquistou novos mercados, avançou na inclusão social, se tornou a sétima economia mundial e atraiu investimentos de diversas regiões do planeta. Tinha perspectiva de assumir a quarta posição em 2025, mas em poucos anos tirou o pé do acelerador e perdeu, seguidamente, espaço entre os seus principais concorrentes. Em 2015, o cenário se agravou e a economia brasileira passou por uma deterioração rápida e persistente. Parou de crescer e fechou o ano com recessão técnica, no pior cenário desde a década de 90, agravado ainda mais por uma crise política sem tréguas. Diante desse quadro, o Fórum Agenda Bahia — uma realização do jornal CORREIO e da rádio CBN, com apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) — definiu o tema Competitividade como o eixo principal para os debates de 2015. Reuniu em Salvador mais de 30 palestrantes, nacionais e internacionais, para discutir, em quatro dias, o atual cenário e as soluções para reverter esse quadro nos seminários: Cidades Inovadoras, Baixo Carbono: a Nova Economia Mundial, O Futuro do Emprego e o Valor do Trabalho, e Olimpíadas na Bahia.

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O TEMA QUE FOI COLOCADO NO FÓRUM É MUITO DESAFIADOR E OPORTUNO. POR ISSO, TÃO IMPORTANTE O PAPEL DA MÍDIA DA COMUNICAÇÃO. SEM COMUNICAR, VOCÊ NÃO TRANSFORMA MARINA GROSSI PRESIDENTE DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Produziu cerca de 50 reportagens e ouviu os principais executivos, economistas, urbanistas, empreendedores, designers, consultores, autoridades públicas, acadêmicos, brasileiros e estrangeiros, sobre os temas dos seminários para ampliar o alcance do debate para toda a população baiana. Todos os veículos da Rede Bahia estiveram mobilizados na produção de matérias especiais. No dia do evento, o seminário teve transmissão ao vivo. Os temas também foram trabalhados nas redes sociais, inclusive pelos palestrantes nacionais e internacionais, divulgando o debate promovido pelo fórum no mundo. O resultado de quatro meses de debates, no total, está neste livro: uma série de medidas aponta para a retomada do crescimento do país e, especialmente, da economia baiana. Soluções que buscam na inova-

RECONHECER O PROBLEMA COMO SE FAZ AQUI E TENTAR PENSAR EM SOLUÇÕES É O PRIMEIRO PASSO PARA TER UMA MELHORIA CONCRETA NA CIDADE JULIANO SEABRA PRESIDENTE DA ENDEAVOR

ção e na sustentabilidade a base e o diferencial para a transformação. Mas que tem no investimento de qualidade na educação e na infraestrutura a sustentação para devolver ao país o protagonismo nos mercados globais. Para os especialistas, o dever de casa nessas áreas, consideradas estratégicas, deixou de ser feito e levou o Brasil a perder 18 posições no ranking das economias mais competitivas do mundo. Ao contrário de outros países, que avançaram, além de educação e infraestrutura, também em produtividade, pesquisa e desenvolvimento, menor carga tributária e melhor qualidade de vida nas cidades. Outro fator é apontado como um dos gargalos: a má gestão dos recursos públicos.

16   Agenda bahia 2015


TODOS OS FOCOS DE COMÉRCIO, EXPORTAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E TRABALHO – TODOS PODEM SE UNIR SE VOCÊ TEM UMA CONFERÊNCIA COLETIVA E ABERTA COMO A QUE TEMOS HOJE AQUI PAVAN SUKHDEV EMBAIXADOR DE MEIO AMBIENTE DA ONU E CONSULTOR INTERNACIONAL

O Brasil, por exemplo, investe mais em educação (5,7% do Produto Interno Bruto) do que países desenvolvidos (5% do PIB), mas o gasto por aluno é inferior: um terço do valor aplicado, em média, por 34 países pesquisados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na Espanha, são investidos US$ 9.285, na Coreia do Sul, US$ 8.686, e no Chile, US$ 5.152 por cada aluno. Enquanto no Brasil, US$ 2.985 ­— o segundo gasto mais baixo entre os países pesquisados. Os reflexos estão na sala de aula, no capital humano, na produtividade do trabalhador. No Brasil, 22% dos estudantes do ensino fundamental não aprenderam o mínimo para seguir adiante. A situação é ainda mais grave no Nordeste: 37%. Estudo da OCDE mostra que o país poderia crescer até sete vezes, caso garantisse educação básica de

ESTOU IMPRESSIONADO COM OS PATROCINADORES, QUE REALIZAM JUNTOS ESSE EVENTO, PORQUE ELE ESTÁ CRIANDO CONEXÕES, PERMITINDO QUE AS PESSOAS VEJAM O QUE ELAS PODEM FAZER NAEEM ZAFAR PROFESSOR DA UNIVERSITY OF CALIFORNIA, BERKELEY

qualidade para todos os estudantes até 15 anos. Durante o Fórum Agenda Bahia, os especialistas apontaram caminhos para a retomada do crescimento. Nos seminários Cidades Inovadoras e O Futuro do Emprego e o Valor do Trabalho, a inovação é destacada como diferencial competitivo para empregados, empresas, empreendedores e governos. E mais: para o professor de uma das principais universidades de negócios do mundo, a University of California, Berkeley, Naeem Zafar, a era da tecnologia ainda vai promover mudanças radicais em todos os setores da sociedade. Definirá como a humanidade irá se comunicar, produzir e viver. A Internet das Coisas e a indústria 4.0 são exemplos do início dessa transformação.

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O Brasil e, especialmente, a Bahia, que abriga o maior complexo industrial do Hemisfério Sul, têm potencial para entrar na disputa por esses novos mercados. Os palestrantes apresentaram as principais estratégias para isso durante suas palestras, com os impactos da inovação e da tecnologia também no setor produtivo e no mercado de trabalho. Identificaram ainda exemplos de cidades que fazem a diferença pelo capital humano, como Boston e Medellín, ou que se reinventaram, como Florianópolis. O empreendedorismo que impacta na inovação dos

ACREDITO QUE O AGENDA BAHIA É UMA INICIATIVA IMPORTANTE E ÚNICA, PORQUE ESTÁ BEM INTEGRADA A TODOS OS SETORES: PÚBLICO, ACADÊMICO E PRIVADO OLAV LUNDSTOL CONSULTOR DE ENERGIA DA EMBAIXADA DA NORUEGA

municípios. E a infraestrutura e incentivos necessários para essa revolução. No seminário Baixo Carbono: a Nova Economia Mundial, educação e inovação voltaram a ganhar destaque no debate sobre os impactos do aquecimento global. Um novo desafio foi apresentado: como reduzir as emissões dos gases poluentes, e ao mesmo, tempo adaptar a sociedade para as mudanças? Como mudar o paradigma da produção, promover o crescimento da economia, garantir a igualdade social, sem agredir o meio ambiente. Para Pavan Sukhdev, embaixador da ONU para Meio Ambiente e um dos mais respeitados nomes quando o assunto é Economia Verde, o Brasil tem papel de liderança a desempenhar nesse novo cenário. Tanto na agricultura sustentável e em energia limpa quanto no controle ao desmatamento. Os especialistas também lembraram que a Bahia, com o potencial de energia eólico, pode ganhar destaque em uma economia de

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baixo carbono, essencial para tentar frear os efeitos do aquecimento global no planeta. Levantamento apresentado no evento, durante debate sobre pagamento por serviços ambientais, revela outro dado importante: Salvador está entre as 25 cidades da América Latina com maior potencial para investimento em infraestrutura verde. Isso significa que é possível promover a mitigação do risco através de políticas de compensação e da gestão sustentável da água. Decisões fundamentais ainda mais quando o Nordeste brasileiro, junto com a Amazônia, é apontado

AGENDA BAHIA A CADA ANO VAI SE QUALIFICANDO PORQUE FOCA NO TEMA CORRETO. AQUI SE FORMA UMA MASSA CRÍTICA DE IDEIAS E DE SUGESTÕES, INCLUSIVE QUE AJUDAM A PAUTAR POLÍTICAS PÚBLICAS ACM NETO PREFEITO DE SALVADOR

como a principal região a ser afetada com as mudanças climáticas. Em energia, o investimento em Smart Gride também foi defendido como solução para reduzir perdas e aumentar a eficiência do sistema. Em Turismo, as Olimpíadas foram apontadas como uma chance real de atração de novos turistas para as cidades baianas. E incentivo importante para a economia, nesse momento de crise. Para os palestrantes, Salvador tem potencial de virar uma alternativa aos preços altos do Rio de Janeiro durante os Jogos. Os especialistas mostraram ainda ações relevantes para fidelizar os visitantes nos próximos anos, como investimentos em novos equipamentos, no turismo náutico e de negócios e na criação de serviços para diversos segmentos. Com aconteceu nos outros seminários, autoridades públicas participaram dos debates e lançaram novas medidas para cada um dos temas do Agenda Bahia. Nesses seis anos de realização do Fórum, muitos resultados são comemorados. Entre empresários, execu-

19


tivos, consultores e gestores público e privado, representantes de ONGs, profissionais liberais e estudantes. Aproximadamente 6.400 pessoas assistiram a 206 palestras e debates em 20 seminários realizados desde 2010. O Agenda Bahia conta com o apoio do maior grupo de comunicação das regiões Norte e Nordeste do país, a Rede Bahia de Comunicação, e através de suas múltiplas plataformas já alcançou mais de 1 milhão de pessoas na Bahia e no mundo. Nossos parceiros, a cada ano, têm renovado o investimento no projeto — e novos se incorporam a cada edição — por acreditarem que apresentação de exemplos bem-sucedidos e o debate relevante de ideias, entre todos os agentes da sociedade, são fundamentais para melhorar o desempenho da economia da Bahia e a qualidade de vida dos baianos. O próximo Fórum Agenda Bahia já está sendo produzido. 2016 tem mais.

20   Agenda bahia 2015


21



1

CIDADES INOVADORAS


SOLUÇÕES •

Conexão entre

Investir em uma

centros de pesquisas

governos, iniciativa

logística eficaz na

e setores privados

privada, centros de

Bahia para atrair

pesquisa e universida-

novas empresas e

des para impulsionar

aumentar a competi-

a inovação e estimular

tividade dos negócios

pação do investimento em pesquisa

maior competitivida-

e desenvolvimento Criar distrito para

no Produto Interno

comunidades que

Bruto (PIB) brasi-

Promover a inte-

buscam criatividade

leiro e baiano. Hoje,

gração de ações entre

e inovação e um pla-

na Suécia, é de 4%,

cidades vizinhas,

no de convergência

enquanto no Brasil,

com uma política

entre o desenvolvi-

1,75%

comum de infraes-

mento da inovação e

trutura e incentivo à

o desenvolvimento

pesquisa e desenvol-

urbano

de nas cidades •

Maior partici-

vimento, criando um corredor de estímulo à inovação

24   Agenda bahia 2015

Identificar e estimular pesquisas de excelência que

Aumentar a

estejam alinhadas

interlocução entre

com as necessidades


da sociedade e das

res, como as redes de

empresas brasileiras

produção de conheci-

estrutura às áreas

mento

abandonadas

levando mais infra-

Utilizar a tecnologia e a inovação para

Planejar a cidade,

planejar as cidades,

com a colaboração da

cas relacionadas à

reduzir o impacto ao

população, através do

Internet das Coisas,

meio ambiente, in-

orçamento partici-

em diversas áreas,

vestir no planejamen-

pativo e de consultas

da agricultura à

to e design urbano

públicas

saúde pública, para

Estimular a ino-

os cidadãos e os

vação aberta, com a

trabalhadores para a

busca de soluções

revolução da IoT

e promover melhor qualidade de vida

preparar as cidades, •

para a população •

Articular políti-

Criar novas formas

pelo processo de

de trabalho, cola-

colaboração

boração e troca de ideia para estimular ambientes inovado-

Aproveitar as oportunidades que

Programar o

serão criadas com a

urbanismo inclusivo,

IoT para diversificar

cidades inovadoras    25


e incrementar a eco-

preendedores locais

conceito de cidade

nomia das cidades

possam desenvolver

compartilhável, em

e ofertar produtos no

que a cidade funcio-

Criar políticas

processo de concor-

na como um organis-

públicas de incentivo

rência, estimulando a

mo e o Estado, como

ao empreendedo-

inovação, geração de

articulador

rismo, inclusive

emprego e renda na

desburocratizando a

própria cidade

abertura e fechamenPromover o elo

e criar mecanismos

entre grandes e

que envolvam mais

pequenos empresá-

ideias, mais experi-

cultura do empreen-

rios para estimular a

mentos

dedorismo também

economia local

to de empresas •

Estimular a

nas instituições de

to, médio e longo pra-

para o desenvolvi-

tivar empresa scale-up

zos de menor impacto

mento das regiões

para movimentar

no meio ambiente,

economia das cidades

como o controle das

Estimular novas

emissões de carbono, Planejar na gestão

da poluição dos rios

presas de capital de

das cidades a análise

e do reaproveitamen-

risco e ambientes

de indicadores e

to e reciclagem dos

de infraestrutura e

dados que garantam

resíduos sólidos

negócio favoráveis ao

modernizar as políti-

empreendedorismo

cas públicas e atrair

incubadoras, em-

novos investimentos •

Definir ações de cur-

Identificar e incen-

ensino como impulso

Descentralizar a gestão das cidades

Divulgar editais com antecedência suficiente para que em-

26   Agenda bahia 2015

Identificar o impacto ambiental nos projetos a serem

Implantar junto

implementados

com a sociedade o

nas cidades, seja no


transporte público,

a veículos elétricos

aula. Não há cidades,

nas praças ou em pro-

alugados e comparti-

empresas e organi-

gramações culturais

lhados

zações inovadoras se não houver pessoas

Estimular a cul-

Articulação de

inovadoras, lembram

tura da colaboração

transportes entre Sal-

especialistas

na sociedade para,

vador e as três ilhas

através da união de

da cidade

esforços, promover um crescimento mais

incentivar cursos de •

sustentável •

Incentivar pro-

especialização nas

cessos de produção

áreas de vocação da

mais sustentáveis

economia das regiões

Integrar sistemas

através de tecnologia

de transporte para

de ponta, que garanta

melhorar a mobilida-

um diferencial com-

tuições inovadoras

de urbana

petitivo para cidades

contribui para criar

e empresas •

Promover e

Apostar na mobilidade sustentável,

Estimular insti-

força de trabalho altamente instruída e

Modernizar os

estimular regiões

parques industriais.

inovadoras na cidade,

A indústria 4.0, apon-

conectar moradores a

tada como a nova

esses novos projetos

revolução industrial,

e otimizar a econo-

ganha força entre os

mia de regiões

países mais desenvol-

diferenciada

vidos •

Criar políticas para desestimular o uso

Educação de qua-

de carros particula-

lidade e estímulo à

res, com incentivos

inovação na sala de

cidades inovadoras    27


COMPROMISSOS •

O secretário de

O gerente de proje-

protagonista nessa

Urbanismo de Salva-

tos do Departamento

nova onda de tecno-

dor, Sílvio Pinheiro,

de Indústria, Ciência

logia, beneficiando

garantiu que os pri-

e Tecnologia (Deict)

diversos setores da

meiros produtos do

da Secretaria de Tele-

economia nacional -

Plano Salvador 500 já

comunicações do Mi-

como a agricultura, a

poderão ser conferi-

nicom, Thales Marçal

indústria automotiva,

dos até março de 2016:

Vieira Netto, afirmou

saúde e educação

a nova Lei de Ordena-

que o país prepara

mento e Uso do Solo

um plano nacional

O secretário de

do Município (Louos)

para desenvolver a

Ciências, Tecnologia

e o novo Plano Diretor

Internet das Coisas

e Informação da

de Desenvolvimento

(IoC), com políticas de

Bahia, Manoel de

Urbano (PDDU). O

fomento à pesquisa e

Mendonça, anunciou

Plano Salvador 500

à inovação.

a criação de parque

foi anunciado, pela

tecnológico sustentáPara o Ministério

vel para aproveitar a

da Bahia 2013 pelo

das Comunicações,

vocação da indústria

prefeito ACM Neto

o Brasil pode ser

cacaueira. O pro-

primeira vez, no Agen-

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grama se propõe a

a criação do Pro-

trabalhar com gran-

formar um ‘triângulo’

grama de Incentivo

des desenvolvedores

de inovação entre

ao Desenvolvimen-

e fabricantes eólicos

Salvador, Ilhéus e o

to Sustentável e

Oeste do estado

Inovação (Pidi). A

De acordo com

Prefeitura quer esti-

a então secretária

Investimento pela

mular investimentos

Andrea Mendonça,

prefeitura de Salvador

privados em áreas

a Prefeitura vai

na indústria criativa e

prioritárias, em tro-

investir em pilares

na identidade da cida-

ca de incentivos de

estratégicos para

de, segundo o diretor

até 50% do valor que

criar um ambien-

da Salvador Negócios,

for empregado

te inovador para

Roberto Calumby

Salvador, entre eles O secretário Ma-

a desburocratização,

A então secretária

noel de Mendonça

as compras públicas,

de Desenvolvimento,

garantiu a criação

a facilidade para

Trabalho e Emprego

de laboratórios de

abrir e fechar empre-

de Salvador Andrea

pesquisa e estímulo

sas e a estabilidade

Mendonça anunciou

a empresas que vão

jurídica

• •

cidades inovadoras    29


Tudo, tudo conectado EM (MUITO) POUCO TEMPO, OS OBJETOS SE COMUNICARÃO ENTRE SI — ­ E COM OS HUMANOS, CLARO. ESSA INTEGRAÇÃO VAI MODIFICAR RADICALMENTE O MODO COMO A HUMANIDADE SE COMUNICA, PRODUZ E VIVE. É SÓ O COMEÇO DA INTERNET DAS COISAS

Uma geladeira que avisa quando está faltando leite, uma roupa de bebê que informa aos pais se a criança está tendo problemas para dormir e lâmpadas inteligentes o suficiente para te acordar. Não é ficção científica — tudo já está disponível para quem tiver alguns reais para gastar e um smartphone à mão. E isso é só o começo de uma grande revolução que está por vir. Este adorável mundo novo em que objetos, antes inanimados, produzem informação e reagem a ela está ganhando forma — com iniciativas do tipo por todo o mundo, inclusive em algumas cidades brasileiras. A infraestrutura necessária para a integração dos objetos vai modificar radicalmente o modo como a humanidade se comunica e, consequentemente, a maneira como vive. A integração do mundo através da IoT transforma padrões estabelecidos, cria novas regras e assim abre uma série de oportunidades para aqueles que se prepararam

30   Agenda bahia 2015


para a nova realidade. “Os objetos vão ganhar vida”, avisa Gabriel Marão, coordenador do Fórum Brasileiro de IoT e CEO da Perception. Marão abriu com sua palestra o seminário Cidades Inovadoras. Nesse mundo vislumbrado por Marão e outros milhares de pesquisadores em todo o mundo, a lâmpada da casa de veraneio, que hoje acende e apaga sozinha para tentar afastar larápios, vai emitir um alerta para o dono da casa e para a polícia em caso de invasão. Isso tudo, além de informar à empresa de energia da região a respeito dos padrões de consumo daquela residência. Várias outras soluções inteligentes estão sendo planejadas. “Sensores ligados a microprocessadores de grande capacidade podem fazer objetos reagir, de modo planejado, a estímulos, tornando a vida mais simples e segura”, aposta o especialista, que faz um alerta. “Não adianta interligar sistemas e achar que isso é IoT. A Internet das Coisas só atinge seus objetivos ao resolver problemas que afligem a sociedade”, acredita. “Se não houver interação, com integração e uma boa solução para um problema real, não é IoT”, avisa. Na verdade, essa vida conectada é uma das facetas da Internet das Coisas (IoT, de Internet of Things). O termo surgiu em 1999, quando o pesquisador Kevin Ashton, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), fazia uma apresentação em que falava de etiquetar produtos eletronicamente. De maneira didática, significa que não só as pessoas vão usar o computador, mas que ele mesmo “se use” de forma independente. De lá para cá, a Internet das Coisas se tornou realidade: as coisas são desde sensores até objetos do cotidiano, segundo o professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Cássio Prazeres. “(As coisas) estarão conectadas entre si e em rede, de modo inteligente, e passarão a ‘sentir’ o mundo ao redor e a interagir. Essa interação pode ocorrer de diversas formas: coisa-coisa, pessoa-coisa, coisa-pessoa”, explica Prazeres, que faz pós-doutorado na área e coordena um projeto para transformar o campus da Ufba em inteligente com IoT. Assim, qualquer dispositivo eletrônico vai ser capaz de ter conectividade, sempre com o objetivo de tornar a vida mais eficiente. “Você passa a fazer muito mais com os dados que já tinha e a gente vai agregando máquinas e mais inteligência”, diz o

cidades inovadoras    31


diretor de inovação da Intel no Brasil, Max Leite. A tendência para os próximos anos é que os sistemas de iluminação, de trânsito, de segurança, de saúde, de localização, entre outros, se integrem, aponta Marão.

Brasil pode vencer essa disputa Só este ano, as empresas brasileiras devem investir US$ 79 milhões (R$ 306 milhões) em IoT, segundo uma pesquisa da Tata Consultancy Services. Gabriel Marão compara a situação a um campeonato esportivo. “O Brasil tem muito potencial, mas precisa entrar logo em campo e jogar para vencer a disputa. Se esperar demais, já entra para disputar a quarta divisão”, brinca. Marão diz que o país se destaca em uma série de ações, mas explica que a novidade da IoT está na interligação. “É muito importante que existam estímulos para a criação de empresas que vão produzir soluções para o planeta”, diz. Gabriel Marão ressalta que existem diversas iniciativas em estágios diferentes pelo mundo. Algumas bem adiantadas aqui no Brasil, como em Águas de São Pedro e Aparecida do Norte. Ainda assim, ele acredita que há espaço para a Bahia disputar esse mercado. O mundo em que os objetos vão se comunicar entre si terá paradigmas diferentes dos que existem hoje, aponta Gabriel Marão.

50 bilhões de aparelhos conectados De acordo com o diretor de inovação da Intel no Brasil, Max Leite, a previsão é que até 2020 — veja bem: são apenas cinco anos — serão 50 bilhões de aparelhos co-

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PARA ENTRAR EM CAMPO Chance Estruturação de redes inteligentes permite que as empresas focadas em inovação encontrem novas aplicações para a solução de problemas e conquistem, assim, novos mercados Soluções IoT, segundo Gabriel Marão, vai tornar processos mais seguros e mais confiáveis, reduzindo riscos à vida Endereços Um dos desafios colocados para o mercado estará na necessidade de identificar uma quantidade muito grande de pequenos objetos. Cada um deles vai precisar de um endereço IP, utilizado por aparelhos que usam a internet Novo modelo O Brasil ainda utiliza o IPV4, enquanto o mundo já está migrando para o IPV6, o que permitiria classificar todos os grãos de areia do planeta”, diz Qualidade Outro problema a ser solucionado está na qualidade da transmissão de dados. Agora, cada ser humano com um tablet ou celular na mão pode solicitar a sua própria transmissão


nectados por meio da Internet das Coisas. “Quanto mais demanda a Intel tem de processador, melhor. Antes, quem estava trabalhando por trás dos computadores eram seres humanos. Agora, temos máquinas se comunicando com máquinas e isso vai demandar mais servidores. Então, para a gente, é muito interessante”. Existem três camadas de “soluções”, quando se fala em IoT, segundo o executivo de Big Data Analytic da IBM Brasil Carlos Tunes. Primeiro, vem a camada de sensores que capturam dados. Em seguida, a camada que traduz os dados coletados dos sensores, para que possam ser utilizados. E, a partir disso, há a camada de novos negócios. “Hoje, tem empresas trabalhando com esses três tipos de solução. A partir desse momento, posso prever essas informações não só para o usuário de uma geladeira, mas também para conectar com supermercados que podem propor ao consumidor como repor o estoque da geladeira. Isso significa um ambiente criativo de novos negócios”, explica Tunes.

Como manter a privacidade das pessoas Mas nem tudo é lindo no mundo da IoT. Em alguns casos, é possível perder privacidade, segurança e qualidade em serviços. “A IoT oferece um potencial enorme de melhorias para a humanidade, redução de custos e de tempo, mas para ser esse futuro maravilhoso que a gente acha que pode ser tem que resolver esses problemas primeiro”, pondera o presidente do Fórum Brasileiro de Internet Of Things e CEO da Perception, Gabriel Marão. Entre as soluções pensadas por empresas para minimizar os riscos à segurança dos usuários está o uso de criptografia e até de identificação através da íris da pessoa. Na Intel, por exemplo, os desenvolvedores acreditam que a saída seja investir em segurança no hardware — a parte física da máquina. “A maioria das soluções de segurança hoje fica a nível de software (o programa) ou de processador. A gente não quer que essa conversa (entre máquinas) aconteça no nível do aplicativo”, afirma Max Leite. Só que esses problemas não são causados pela IoT, apenas são evidenciados. “É um dos desafios onde podemos colaborar. O Brasil tem oportunidade imensa, porque

cidades inovadoras    33


Gabriel Marão: CEO da Perception e coordenador do Fórum Brasileiro de IoT

Manoel de Mendonça: secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação

34   Agenda bahia 2015


Jay Carrero: vice-cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro

Guilherme Bernard: presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia

cidades inovadoras    35


a Internet das Coisas está começando agora no mundo. Parece que está resolvido, mas não está”, diz Marão.

SP: primeiro modelo de smart city do Brasil A cidade de Águas de São Pedro, em São Paulo, deve ser a primeira no Brasil a ser considerada inteligente. Há pouco mais de um ano, a Telefônica Vivo conduz um projeto que inclui monitoramento de água, segurança, energia e até de vagas de estacionamento. “O conceito de smart city propõe facilitar as coisas para a prefeitura, para que ela consiga economizar energia. Com as câmeras, a gente consegue ver locais

O BRASIL TEM MUITO

que tem menos movimento, por exemplo, e ver se pode-

POTENCIAL, MAS PRECISA

mos abaixar a intensidade de luz. Isso vai reduzir o custo”, conta o consultor de sistemas e negócios do Centro

ENTRAR LOGO EM CAMPO

de Inovação da Telefônica Vivo, Vitor Leal. A ideia é que,

E JOGAR PARA VENCER

a partir disso, as soluções possam ser implementadas

A DISPUTA. SE ESPERAR

em outros lugares.

DEMAIS, JÁ ENTRA PARA

Brasil terá plano nacional para a IoT

DISPUTAR A QUARTA

Até dezembro de 2015, a previsão é que o Brasil tenha

DIVISÃO GABRIEL MARÃO

um plano nacional específico para desenvolver a Internet das Coisas (IoT) no país. Desde 2014, o Ministério das Comunicações (Minicom) já tem uma Câmara de Gestão M2M (Máquina a Máquina, do inglês Machine to Machine, quando não há intervenção humana) para discutir políticas de fomento à pesquisa e à inovação. Com a participação de órgãos federais, da iniciativa privada, de universidades e instituições de pesquisa, o fórum deve articular políticas relacionadas à IoT, in-

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COORDENADOR DO FÓRUM BRASILEIRO DE IOT E CEO DA PERCEPTION


cluindo capacitação de profissionais e infraestrutura de telecomunicações. “O Ministério das Comunicações acredita que o Brasil pode ser protagonista nessa nova onda de tecnologia, beneficiando diversos setores da economia nacional — como a agricultura e a indústria automotiva, a saúde e a educação, dentre outros”, diz o gerente de projetos do Departamento de Indústria, Ciência e Tecnologia (Deict) da Secretaria de Telecomunicações do Minicom, Thales Marçal Vieira Netto.

Santuário inteligente

AS COISAS ESTARÃO

Em Aparecida do Norte, que abriga o santuário em ho-

CONECTADAS ENTRE SI

menagem à padroeira do Brasil, o número de visitantes em determinados períodos do ano supera em mais de

E PASSARÃO A ‘SENTIR’

20 vezes a população de 40 mil pessoas que vivem na

O MUNDO CÁSSIO

cidade em determinadas épocas do ano. Para dar qua-

PRAZERES

lidade e segurança ao fornecimento de eletricidade, a companhia de energia implantou um sistema de redes inteligentes.

PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, COM PÓS-DOUTORADO EM INTERNET DAS COISAS

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INTERNET DAS COISAS

Alta tecnologia une sistemas, permite que máquinas ‘se comuniquem’ e começa a transformar a vida da sua família

Lixeira Smart Belly Serviços de limpeza podem saber quando um recipiente está cheio em tempo real. Preço sob consulta

Sistemas conversam com sistemas O sensor do carro ‘conversa’ com o da casa

Elevador para o espaço Até 2050, será possível chegar ao espaço usando um elevador. Ele deve subir a 200km/h utilizando um cabo

Geladeira Brastemp Inverse Maxi BRV80 Avisa quais produtos vão vencer e quais estão faltando. Por R$ 4.500

HarvestGeek Monitora o crescimento de plantas. A partir de US$ 119

Lâmpada Philips Hue Promete “te acordar, melhorar seu humor e mantê-lo informado sobre o tempo”. Funciona com Wifi e custa R$ 270

Estacionamentos que avisam onde há vagas Quando dirigir por uma rua, uma mensagem avisará se tem vagas e quantas estão disponíveis


O QUE JÁ TEMOS O QUE VIRÁ

Nada de teclado Digitar sem teclado e jogar videogame sem as mãos. Tudo será com a força do pensamento

Toy Mail Usando um app de celular, pais podem mandar mensagens aos filhos com o brinquedo. Por R$ 59.99

Pílulas que ‘falam’ com médicos Medicamentos poderão compartilhar informações sobre como seu corpo está reagindo

Inteligente Os alarmes de incêndio do futuro (próximo) vão fechar saídas de gás e te enviar mensagens no celular

Biquíni Spinali Design Indica se está na hora de uma nova camada de protetor. Feito por encomenda. Custa R$ 600

Fones de ouvido que cuidam da saúde Enquanto você ouve música devem monitorar seus batimentos cardíacos e enviar informações ao seu celular

Neuro On Máscara de sono que monitora o comportamento e os melhores horários para dormir. Por US$ 299

Mimo Baby Roupinha de bebê diz aos pais sobre padrão de respiração e temperatura corporal. US$ 199



Para além de Harvard BOSTON É BERÇO DE UMA DAS MELHORES UNIVERSIDADES DO MUNDO E TAMBÉM DO INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE MASSACHUSETTS (MIT, EM INGLÊS). O PROFESSOR DE HARVARD ANDRES SEVTSUK EXPLICA QUE CONHECIMENTO É IMPORTANTE, MAS HÁ OUTRAS CHAVES PARA A INOVAÇÃO NAS EMPRESAS E NAS CIDADES

Boston, nos Estados Unidos, não é muito mais nova do que Salvador ­— 82 anos apenas. Apesar disso, as duas cidades estão bem distantes quando se trata de inovação. Enquanto Boston foi considerada a mais inovadora do mundo duas vezes (em 2007 e em 2011, pela agência 2thinknow), Salvador ficou mais de 300 posições depois nos mesmos rankings. Só para começar, duas das melhores universidades do mundo ficam em Boston: Harvard e o MIT (Massachusetts Institute of Technology). De Harvard, o professor Andres Sevtsuk conversou com o CORREIO sobre a inovação na capital do estado de Massachusetts. Para ele, um dos destaques na cidade é a cultura do empreendedorismo.

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Como Boston adquiriu o status de cidade global de inovação, a ponto de ter sido eleita duas vezes a cidade mais inovadora do mundo? Primeiramente, Boston é o berço de algumas das mais inovadoras instituições — Harvard, MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na sigla em inglês), hospitais de pesquisa e uma enorme lista de empresas de tecnologia mundialmente renomadas. Essas instituições contribuem para criar uma força de trabalho altamente instruída e inovadora na cidade, além de inspirar as novas gerações a ir ainda mais longe do que as últimas histórias de sucesso. Mas Boston também tem uma tradição de organização de comunidade forte. Organizações comunitárias e ONGs são fundamentais para construir uma ampla gama de interessados nas questões de desenvolvimento e planejamento da cidade. E, por fim, o governo de Boston tem sido progressista e investido no avanço tecnológico e no envolvimento da comunidade como fatores determinantes para o planejamento e para políticas públicas há décadas. Na prática, o que significa ser uma cidade inovadora? É importante fazer distinção entre as cidades que são inovadoras em pesquisa, negócios ou educação e cidades que são inovadoras em políticas públicas, design urbano e decisões de desenvolvimento que atendam as necessidades diárias dos moradores.

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ANDRES SEVTSUK Professor de Harvard destaca que a cultura do empreendedorismo é um dos destaques para o sucesso de Boston


Esses dois tipos de inovação não necessariamente andam de mãos dadas. Palo Alto (na Califórnia), por exemplo, está no primeiro contexto. É o lar de algumas das empresas mais inovadoras em escala global, mas a cidade em si não tem nada de memorável em termos de planejamento, políticas públicas ou desenvolvimento. Como cidade, Palo Alto é um ambiente enfadonho, menos inovador urbanistica-

BOSTON É O BERÇO DE ALGUMAS DAS MAIS INOVADORAS INSTITUIÇÕES, MAS TAMBÉM TEM UMA TRADIÇÃO DE ORGANIZAÇÃO DE COMUNIDADE FORTE

mente do que outros lugares de tamanho comparável. Por outro lado, temos cidades que não produzem inovação em tecnologia ou pesquisa, ainda que tenham sido inovadoras quando falamos de políticas, design urbano e planejamento. Veja Curitiba. Seu sistema de transporte, as instalações e parques públicos oferecem inovação urbana exemplar. Qual seria o melhor caminho entre essas duas

TODO ESSE ACASO NA VIDA URBANA DA CIDADE FAZ PARTE DO SISTEMA DE TROCA DE IDEIAS QUE AMBIENTES INOVADORES OFERECEM

opções? Muitas cidades estão interessadas em como prover o primeiro tipo de inovação — como incubar empresas que devem prosperar, como desenvolver pesquisas de alto impacto — mas não parece ter nenhum segredo aqui. Ter uma população altamente instruída, uma cultura e políticas públicas que apoiem o empreendedorismo e tolerem fracasso, instituições confiáveis e um ambiente de qualidade que atraia uma força de trabalho móvel e bem remunerada são

EMPRESAS DE PESQUISA USAM FORÇA DE TRABALHO QUALIFICADA. ESSES TRABALHADORES TÊM DEMANDAS A RESPEITO DO AMBIENTE

alguns dos ingredientes necessários. Porém, os principais atores da paisagem de inovação estão tomando decisões ao redor do Vale do

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Silício, Boston, Londres, Xangai, Zurique e outras. Então, a maioria das cidades que luta por esse perfil não vai conseguir um pedaço significativo, porque a torta já foi distribuída. Talvez fosse mais inteligente se concentrar em ser inovadora no que diz respeito às necessidades dos cidadãos e das instituições locais. Por exemplo: como fazer com que o acesso aos recursos da cidade seja mais fácil, como lidar com desafios ambientais, como abordar questões sociais dentro do planejamento, etc. Se essa fosse a visão predominante para julgar cidades inovadoras, é improvável que Boston continuasse no topo. Nós provavelmente veríamos mais Curitibas, Bogotás, Barcelonas e Vancouvers nos rankings de inovação. Como a inovação ajuda a impulsionar a economia de Boston? Inovação econômica gera receitas de exportação para empresas e algumas das mais bem — sucedidas companhias contribuem significativamente para a base tributária. Acho que Boston tenta investir em um ambiente empreendedor na esperança de que alguns dos empreendimentos bem — sucedidos retornem os investimentos e contribuam para a reputação do lugar. Como a inovação pode ajudar cidades a serem mais competitivas? A inovação pode ajudar a diversificar a economia. Mas ter empresas jovens focadas em inovação não é suficiente por si só, uma vez que as companhias precisam ter acesso aos consumidores e devem ser capazes de entregar bens e serviços ao mercado, mas alcançar isso é mais complicado. Confiança é um fator importante e também a disponibilidade de redes sociais e financeiras de apoio, além da habilidade de crescimento rápido. Em que aspectos a cultura do empreendedorismo, com a criação de startups, ajuda o desenvolvimento de Boston? Vejo que a cultura do empreendedorismo, a mentalidade, é um dos fatores mais importantes. Acho que ainda nos falta um bom entendimento sobre quais po-

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O MIT Media Lab, ligado ao Massachusetts Institute of Technology, reúne startups e desenvolve o empreendedorismo em Boston

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líticas públicas podem fazer algo para ajudar a desenvolver isso. O MIT MediaLab em Boston é um bom exemplo. Ele reúne uma grande quantidade de startups, incluindo algumas que se tornaram muito grandes. Mas o que, no MediaLab, cria uma cultura de empreendedorismo? Ninguém sabe de verdade. Talvez seja uma tradição de empreendedorismo que segue encorajando os estudantes. Mas como tudo começou não é claro. O fato é que está lá e ajuda a atrair talentos, investimentos e abre novos horizontes para jovens ambiciosos. Como Boston consegue incentivar que empresas invistam em pesquisa e desenvolvimento? Há, claro, a resposta convencional — criando um ambiente fiscal atrativo e que permita o agrupamento produtivo das empresas. Mas acho que a qualidade do ambiente construído tem muito a ver com isso. Empresas de pesquisa e desenvolvimento tendem a usar força de trabalho altamente qualificada e bem paga. Esses trabalhadores têm fortes demandas a respeito da qualidade do ambiente construído ao seu redor — eles gostam de ter casas boas, ruas tranquilas e adaptadas para bicicletas, restaurantes de qualidade, acesso a áreas verdes e de lazer. Isso funciona em Boston? Boston e Cambridge são muito boas em oferecer essas coisas. Lembro — me de falar com um grande desenvolvedor em Kendall Square, o maior cluster

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A CIDADE É UMA ARENA, ONDE OS ENCONTROS DE NEGÓCIOS, SOCIAIS E FAMILIARES ACONTECEM

(empresas concentradas num mesmo local) de tecnologia em Boston, e perguntar por qual motivo ele colocou seu laboratório de biotecnologia lá. A proximidade do MIT, Harvard e MGH (Massachusetts General Hospital) foi um fator decisivo? Ele disse que a maior atração era ter agradáveis restaurantes à direita da sua porta do escritório, ruas bonitas e ambiente tranquilo. Essas coisas permitiram atrair a força de trabalho qualificada que precisava tanto quanto a proximidade das instituições acima mencionadas.

A CIDADE PRECISA OFERECER DENSIDADE E DIVERSIDADE DE NEGÓCIOS E AMBIENTES

O quanto a cultura do empreendedorismo pode influenciar a qualidade de vida na cidade? Essa cultura vai muito além das universidades, e Boston oferece um agradável ambiente urbano propício para atrair força de trabalho e famílias. Acredito que a cidade precisa oferecer densidade e diversidade de negócios e ambientes. A cidade é uma arena, onde os encontros de negócios, sociais e familiares acontecem. A maneira como essa arena se configura no espaço é importante. Ela afeta quantas lojas

A QUALIDADE DO AMBIENTE CONSTRUÍDO TEM MUITO A VER COM O INVESTIMENTO EM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

de café que você pode esperar encontrar a menos de cinco minutos a pé para a sua reunião ou quantas maneiras você pode optar por caminhar até um restaurante para um almoço de negócios. Quanto melhores forem essas escolhas, mais você permitirá que as pessoas sejam produtivas de forma que desejam. E todo esse acaso na vida urbana faz parte do sistema de troca de ideias que ambientes inovadores oferecem.

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Medellín para o mundo MEDELLÍN, NA COLÔMBIA, PASSOU POR UMA TRANSFORMAÇÃO RADICAL: DE FAMOSA PELA CRIMINALIDADE PARA A CIDADE MAIS INOVADORA DO MUNDO. DIRETOR DA AGÊNCIA RESPONSÁVEL PELA MUDANÇA, JUAN CAMILO QUINTERA DIZ QUE O SEGREDO É INVESTIR NO FUTURO SUSTENTÁVEL

Algumas décadas atrás, se você ouvisse falar em Medellín, na Colômbia, é possível que a primeira lembrança que viesse à mente fosse a do cartel de drogas liderado pelo traficante Pablo Escobar, morto em 1993. Hoje, o cenário, a paisagem e até a fama da metrópole colombiana são bem diferentes. Em 2013, Medellín foi eleita a cidade mais inovadora do mundo — batendo Nova York e Tel Aviv — pelo Urban Land Institute. A justificativa foi de que a cidade conseguiu promover uma transformação urbana, que incluiu mobilidade sustentável e a criação de um ambiente atraente para o capital financeiro. Mas nada disso seria possível sem a participação da população, segundo Juan Camilo Quintero, diretor executivo da Ruta N, agência que promove inovação em Medellín. Especialista em desenvolvimento de projetos, Juan Camilo conversou com o CORREIO sobre a cultura de inovação na cidade.

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Para Medellín, o que significa ser uma cidade inovadora? Uma cidade inovadora tem um futuro sustentável no qual as próximas gerações vão encontrar uma cidade melhor do que seus antecessores. Medellín tem se caracterizado por utilizar o conhecimento coletivo para resolver questões importantes. Nos apropriamos de tecnologias novas e existentes em uma busca permanente para resolver os problemas.

A INOVAÇÃO ABERTA É UM VEÍCULO PODEROSO DE COCRIAÇÃO DE DESAFIOS, QUE DÁ VOZ AOS CIDADÃOS, QUE CAPACITA OS GOVERNANTES A ENCONTRAR SOLUÇÕES POR ESSE CAMINHO

Acreditamos que a inovação, assim como a ciência e a tecnologia, levam a uma melhor qualidade de vida. Isso nos ajuda a ter resultados que promovem um sentimento de valor e cidadania. De que maneira a inovação ajuda a estimular a economia local? Quando falamos de uma cidade que tem um futuro sustentável, falamos de sustentabilidade financeira, social e ambiental. Dentro de nossa definição de inovação, é possível gerar bem — estar às comunidades mais desfavorecidas e conceder oportunidades a elas. À medida que levamos bem — estar com elementos de inovação à sociedade, especialmente às comunidades de baixa renda, promovemos inclusão econômica. Quando trazemos empresas de tecnologia ou inovadoras, são gerados empregos, e a empregabilidade é um pilar fundamental para a qualidade de vida. Um exemplo de estímulo à economia é o medidor pré-pago de energia das Empresas Públicas de Medellín (EPM), que cria condições

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Juan Camilo Quintero Administrador, tem especialização em desenvolvimento de projetos e em negócios internacionais. Experiente nos setores público e privado, se tornou autoridade em inovação e competitividade na Colômbia


para diminuir o consumo ilegal de energia e concede ao cidadão o uso correto de um serviço público. Com essa iniciativa, uma empresa pôde ser criada para fabricar e distribuir esses medidores no mundo. Como o poder público conseguiu envolver os moradores para identificar e criar processos que beneficiassem as necessidades específicas das comunidades? Medellín se destaca por fazer com que os cidadãos participem desde a criação do plano de governo de maneira aberta e democrática. Há muitos anos, mais de 10% do orçamento da prefeitura é decidido com a participação das comunidades. Por outro lado, a cidade tem se destacado pela articulação entre entidades públicas, privadas e academia. A essa “tripla hélice”, somamos a cidadania, para resolver os desafios. A integração dos cidadãos em torno dos problemas do cotidiano cresceu com a plataforma MiMedellín (www.mimedellin.org), na qual moradores participam das decisões. Já contamos com mais de 13 mil cidadãos discutindo 7.216 ideias. Como o senhor acredita que a inovação pode fazer com que as cidades enfrentem crises e se tornem mais competitivas? Existem várias formas, já que há conhecimento local e redes de conhecimento global que alimentam as ideias de inovação, evitam as crises e até conseguem gerar desenvolvimento econômico. Entre os caminhos, temos a inovação aberta. Esse é um veículo poderoso de cocriação de desafios, que dá voz aos cidadãos, que, por sua vez, capacitam os governantes a encontrar soluções por esse caminho. Outra opção é a evolução dos recursos humanos, tecnologias e diferentes profissões para resolver os problemas complexos. E há, ainda, o urbanismo pedagógico. Medellín resolveu parte de sua crise de violência com o urbanismo pedagógico, que é includente, levando mais infraestrutura às áreas mais abandonadas. Exemplos disso são o Parque Biblioteca (bibliotecas que oferecem opções culturais), as escadarias elétricas como meio de transporte e o metrô. Essas obras vão além da infraestrutura, já que compõem um modelo de inclusão urbana que proporcio-

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na mudança de ambiente e gera desenvolvimento, através da inclusão econômica. Há estímulo para desenvolver o empreendedorismo na cidade? Existem quatro ações principais. A primeira é inspirar. Fazemos eventos de sensibilização e integração para a validação rápida de mercado, mediante eventos e programas, esperando gerar empreendedorismo como opção de vida e propostas empreendedoras com base em ciência, tecnologia e inovação. Em seguida, devemos estimular, através de centros com foco em tecnologias de acompanhamento especializado e capital para desenvolver novos negócios. Além disso, por meio de fundos de investimento, estimulamos o fechamento de lacunas e alavancamos recursos para investir em inovação. O terceiro é conectar, através de redes conectadas entre si. Temos iniciativas regionais e uma Rede de Capital Inteligente. Por último, influenciar com políticas públicas para mobilizar através de trabalho. Nas universidades de Medellín, como a inovação é tratada? As universidades têm passado por um processo no qual entendem seu papel de quarta geração. Algumas das ações adotadas nos últimos anos são a criação, o fortalecimento e a modernização dos escritórios de transferência tecnológica, bem como a geração de conhecimento aplicado à sociedade e

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CIDADÃO COLETIVO ponto turístico O vilarejo Pueblito Paisa (foto), um dos mais emblemáticos locais para visitar em Medellín, ganhou um jardim por sugestão de moradores. Hoje, esse jardim fez com que o lugar se tornasse mais sustentável e contribuiu para preservação do meio ambiente LAURELES Por sugestão de moradores, o distrito foi transformado em “amigo das bicicletas”. Foram construídos 14 km de ciclovias. Até uma escola de ciclismo foi implementada, para ajudar os moradores a enxergar as bikes como meio de transporte celular Mais de 900 propostas sobre como diminuir o roubo de aparelhos na cidade foram recebidas na plataforma MiMedellín. Segundo a assessoria da cidade, todas serão avaliadas para que sejam implementadas no futuro investômetro Esse programa reúne investidores-anjos e até fundos de capital privado. O ambiente de negócio é monitorado por meio de um estudo do clima de investimento chamado Inversómetro (“Investômetro”, em tradução livre), em que medimos o dinamismo necessário para atrair investimentos Os Escolhidos As sugestões seguem dois critérios: as mais votadas entre os próprios moradores e as mais inovadoras e pertinentes. Os ganhadores passam a ser considerados como “embaixadores” de Medellín e convidados para encontros que discutem a cidade

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o desenvolvimento de spin-offs universitários. Tivemos a revisão de currículos e cursos, de maneira que se adaptem às necessidades de hoje e do futuro. Elas têm caminhado no sentido de aplicar métodos que lhes capacitem a inovar em todas as áreas, inclusive com modelos utilizados pela iniciativa privada. Diante de um cenário internacional favorável ao capital de tecnologia, Medellín investiu na criação de seu parque tecnológico. Como isso aconteceu? Medellín determinou que precisava de um distrito de inovação com um espaço físico e um plano que convergiria o desenvolvimento da inovação com o desenvolvimento urbano. Um espaço físico propício para a criação de comunidades em busca de inovação. Até hoje, existem 73 empresas que geram 1.343 empregos. Como o senhor vê esse tipo de iniciativa para o desenvolvimento de novos talentos? Enxergamos os habitantes de Medellín como fonte de conhecimento para um desenvolvimento com inclusão, no qual convergem atores que se identificam pelos seus interesses comuns. Contar com espaços físicos para interagir e gerar criatividade proporciona inovação e o conhecimento começa a ser gerado. O espaço físico se torna referência porque mostra as condições de vida desejáveis e atrai diferentes grupos interessados em informática e telecomunicações. Existe algum programa para atrair capital financeiro? Para nós, é importante alavancar nossos programas com capital de terceiros, a exemplo do programa de capital inteligente, que reúne investidores — anjos até fundos de capital privado. O capital inteligente inclui tanto o capital financeiro quanto o capital social e gerencial fornecido às empresas que investem. A estratégia de capital inclui o fechamento de lacunas, criação de comunidades através do fortalecimento dos investidores locais e aproximação de projetos de informática e telecomunicações. A maior parte desses projetos já passou por programas acompanhados do ecossistema da inovação da cidade. Nós monitoramos o ambiente

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MEDELLÍN RESOLVEU PARTE DE SUA CRISE DE VIOLÊNCIA COM O URBANISMO por meio de um estudo do clima de investimento chamado Inversómetro (“Investômetro”, em tradução livre), em que medimos o dinamismo necessário para atrair investimentos. Além disso, temos convênios com entidades que ajudam a alavancar capital. Medellín passou a ser um importante destino turístico na América Latina. Como o perfil inovador da cidade contribuiu? O perfil inovador contribui para o posicionamento de Medellín no exterior e isso serve para atrair turistas. Esse perfil inovador acrescenta uma mensagem de mudança social, que serve para atrair eventos e congressos. O bom clima de cidade e o perfil inovador fazem com que o turismo de negócios cresça, uma vez que o mundo está de olho em oportunidades que possam desenvolver um mundo melhor. Temos certeza de que, em Medellín, existem oportunidades em nível mundial.

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Ambiente de negócios UNIR CENTROS DE ENSINO E PESQUISA À INICIATIVA PRIVADA, COM O APOIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS À INFRAESTRUTURA E À INOVAÇÃO, É ESSENCIAL PARA ALAVANCAR O EMPREENDEDORISMO NAS CIDADES

Mais de oito mil quilômetros de distância separam Boston, no Nordeste dos Estados Unidos, de Florianópolis, no Sul do Brasil. No entanto, as duas cidades têm muito o que ensinar. Enquanto a americana já foi eleita duas vezes a mais inovadora do mundo, a brasileira ficou em primeiro lugar em um ranking da Endeavor Brasil que classificou o quanto 14 capitais eram propícias a gerar novos negócios. Os exemplos de Boston e Florianópolis foram apresentados no seminário Cidades Inovadoras do Fórum Agenda Bahia. Boston, capital de Massachusetts, nos Estados Unidos, possui 655 mil habitantes, população semelhante à de Feira de Santana, na Bahia. Já tinha algumas das melhores universidades do mundo — Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) — e centros de pesquisas, mas faltava unir algumas pontas para se tornar referência mundial.

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Há 20 anos, as administrações públicas da cidade e dos municípios vizinhos criaram políticas de incentivo à inovação, combinando ações entre poder público, especialmente infraestrutura, iniciativa privada e universidades. Apenas no MIT, estudantes e ex-estudantes já chegaram a fundar mais de 25 mil empresas — e, consequentemente, geraram outros milhares de postos de trabalho. “Boston é um lugar onde o empreendedorismo acontece. Nesse caso, os alunos trabalham em suas missões e empreendimentos utilizando os recursos disponíveis no MIT e nas áreas circundantes”, exemplificou o vice-cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Jay Carreiro, durante palestra no Fórum Agenda Bahia. Só para dar uma ideia, 7% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade é destinado a pesquisa e desenvolvimento. São mais de 80 universidades na Grande Boston, incluindo Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Jay Carreiro disse ainda que as cidades devem identificar no que são boas e, a partir daí, atrair investimento. Segundo o presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia, Guilherme Bernard, a ligação com as universidades foi um dos fatores mais importantes para criar uma atmosfera favorável ao empreendedorismo em Florianópolis. “Não tínhamos uma economia muito definida, além do funcionalismo público e do turismo. Era uma região pobre, sem perspectiva de trabalho”, contou o presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acafe), Guilherme Bernard, que é investidor de startups. Foi quando a cidade começou a criar programas de desenvolvimento — alguns em parceria com universidades e com entidades governamentais. Apenas o governo estadual investiu R$ 50 milhões nesse tipo de iniciativa, ao longo dos anos. “Tivemos mudança no perfil econômico e cultural e há continuidade, mesmo com alternância do poder executivo”, conta. Bernard destaca que também houve apoio das entidades governamentais, estaduais, municipais e federais, ao longo dos últimos 30 anos. Esse apoio fez com que acontecesse a mudança do perfil da cidade, antes conhecida como o lugar dos funcionários públicos. Atualmente, a cidade, que tem cerca de 250 mil habitantes, já conta com mais de 600 empresas na área de tecnologia, além de 15 centros universitários.

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No debate mediado pelo diretor executivo do CORREIO, Sergio Costa, os palestrantes Juliano Seabra, Manoel de Mendonça, Guilherme Bernard, Andréa Mendonça e Jay Carreiro apresentaram soluções para a Bahia

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“Por três anos consecutivos, conseguimos ter a melhor incubadora do Brasil”, disse Bernard, citando a Midi Tecnológico, incubadora mantida pelo Sebrae e administrada pela Acafe, fundada em 1998. “A gente tem uma preocupação muito grande de tornar um lugar atrativo, para que as pessoas queiram ir para Florianópolis, mas incentivamos empresas e universidades a criar programas de formação. O governo do estado é apoiador e financiador no objetivo de ter uma formação de graduação e despertar o desejo da população”, destacou. Segundo o presidente da Endeavor Brasil, Juliano Seabra, houve um investimento em parques tecnológicos a ponto de Florianópolis ter o que há de mais perto de ser considerado o Vale do Silício brasileiro — o original fica na Califórnia. “Hoje, o que acontece em Florianópolis, que é o desenvolvimento dos polos industriais da ilha, é uma coisa fervente. A quantidade de empresas de tecnologia que estão crescendo ou procurando ir para lá tem atraído um fundo do capital de risco bastante interessante”, analisou.

Parceria público-privada incentiva inovação Para desenvolver ainda mais o empreendedorismo e a inovação na cidade, a administração municipal de Boston criou, em 2010, um distrito específico para isso. Com uma área de 4 km², a propriedade é um espaço físico que reúne a comunidade de inovação em Boston. “Ele fica a apenas 10 minutos do centro de Boston. É possível ir de metrô, de táxi, pela ciclovia, de ônibus… É uma maneira de agrupar comunidades que já existem e encorajar colaboração”, afirmou o vice-cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Jay Carreiro. Para usar o centro de inovação, não é necessário fazer nenhum tipo de pagamento. “Qualquer pessoa que tiver ideias e interesse pode ir ao centro, aproveitar as palestras, as aulas que estiverem acontecendo, os computadores, a internet e o espaço”, listou. Ainda de acordo com Carreiro, o distrito é fruto de uma parceria público-privada. “O que acontece em casos como esse nos Estados Unidos é que o município e o estado tomam a maior parte da responsabilidade pela infraestrutura — e isso significa meios de transporte, construção de ciclovias, sistemas de táxi aquático — e o setor privado começa com as ideias e com as pessoas juntas”.

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O QUE TEMOS FEITO É OLHAR ESSAS CADEIAS PARA INVESTIR COM FOCO MANOEL DE MENDONÇA SECRETÁRIO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO DA BAHIA

Para o vice-cônsul, essa é a melhor forma de promover projetos como esse, já que a dependência total do governo local poderia alargar prazos. “Demora mais tempo, as administrações mudam e alguns projetos talvez não durem. Então, tem que ter essa mão do setor privado”, diz. No “corredor” específico para o desenvolvimento de ciências naturais — o Life Sciences Corridor —, há incentivo à colaboração entre instituições de Boston e de cidades da região metropolitana, como Cambridge, Quincy, Somerville e Braintree. Um sistema de transporte público permite o fácil deslocamento, atraindo cada vez mais

TÍNHAMOS PESSOAS FAZENDO PESQUISA E UNIVERSIDADES, MAS PRECISA CRIAR ESSE ELO PARA INCENTIVAR A COLABORAÇÃO JAY CARREIRO

centivando a colaboração entre eles”, disse Carreiro. Nes-

VICE-CÔNSUL DOS ESTADOS UNIDOS

lhões em um financiamento do nosso Instituto Nacional

interesse pelo projeto na região. “Temos todas essas pessoas fazendo pesquisa, temos universidades e precisamos ser capazes de uni-los, inse corredor estão reunidas mais de 450 empresas só da área de ciências naturais, “com mão de obra muito qualificada”. “As universidades também receberam US$ 2 bide Saúde e as empresas podem ainda utilizar oportunidades de financiamento apoiadas por uma iniciativa de

NÓS INCENTIVAMOS EMPRESAS E UNIVERSIDADES A CRIAR PROGRAMAS DE FORMAÇÃO GUILHERME BERNARD PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE EMPRESAS DE TECNOLOGIA (ACAFE)

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investimento”, pontuou o vice-cônsul.

Descompasso gera atraso na Bahia Na Bahia, o descompasso entre a produção de conhecimento e o caminho necessário para se produzir inovação provoca atrasos no desenvolvimento do estado. O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Manoel Gomes de Mendonça Neto, falou do cenário distinto para as áreas petroquímica, química e de saúde.


“Na Bahia, os setores químico e petroquímico têm uma indústria robusta, mas até 2010 não tinha produção de doutores próprios”, lembrou. O secretário citou outro exemplo. “Já na área de saúde há o oposto. Nós temos o único programa nível 7 do Nordeste, que é o Instituto de Saúde Coletiva na Ufba. Temos a Fiocruz, uma área de pesquisa muito forte, mas não há nenhuma incubação, nem empresa que usa todo esse conhecimento. Só se fecha a cadeia se houver os três fatores”, reforça o secretário, ao falar do tripé formado pelo setor privado, pelos centros de pesquisa e poder público, necessários para a inovação. O secretário falou ainda sobre investimento realizado no setor eólico, uma das principais apostas na economia do estado, e de como os atores estão se organizando para gerar um modelo de inovação. “O que temos feito é olhar essas cadeias para investir com foco. Algumas outras cadeias estão surgindo por necessidade. A área de energia eólica é o maior investimento nos próximos 20 anos, e já conseguiu atrair grandes empresas. Já estamos discutindo a criação de laboratórios, pesquisa e começar a incubar as empresas que vão trabalhar com esses grandes desenvolvedores e fabricantes eólicos”, afirmou.

Salvador: últimA no ranking O presidente da Endeavor Brasil, Juliano Seabra, acredita que o ambiente de negócios no Brasil é “tão difícil” que a Endeavor decidiu criar um ranking das cidades em empreendedorismo para ajudar governos a identificar problemas para buscar soluções. Florianópolis ficou em primeiro lugar. Salvador em último, seguido de For-

NOVAS ESTRATÉGIAS Cidades conectadas Quanto mais as cidades promoverem infraestrutura digital, mais estarão incentivando encontros de pessoas — e, assim, estimulando inovação. Na Filadélfia, nos Estados Unidos, há um projeto para que toda a cidade tenha Wi-Fi livre Capital Humano A qualidade da mão de obra é decisiva para a formação de um ambiente favorável ao empreendedorismo nas cidades. Mão de obra fácil e bem preparada é vantagem na hora de abrir negócio Sem opção Em cidades em que não há vocação bem definida para áreas de trabalho, e onde também não há grande oferta de serviços, as pessoas são mais ‘empurradas’ a montar o próprio negócio, como no Norte e Nordeste do país Varejo Em locais onde há grandes índices de violência e roubos, o risco para empreender cresce em setores como o varejo Estratégias Para estimular ações inovadoras pelos próprios moradores, é preciso criar um plano de longo prazo. Assim, quem for investir saberá que vai encontrar condições favoráveis por 5 ou 10 anos Verticais de negócios Em Florianópolis, as empresas que atuam em mercados semelhantes ou complementares se agrupam para fazer programas cooperados e organizar feiras

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É PRECISO ESTIMULAR AS EMPRESAS (NAS CIDADES) PARA QUE ELAS NÃO SAIAM E PROCUREM OUTROS LUGARES PARA EMPREENDER JULIANO SEABRA PRESIDENTE DA ENDEAVOR BRASIL

taleza e Recife. Seabra citou o exemplo de Porto Alegre para mostrar uma mudança. “A prefeitura identificou que demorava 240 dias para abrir uma empresa. É um horror. A média em Salvador é 68 dias, mas nos Estados Unidos se abre uma empresa em até quatro dias”, disse. Seabra alerta que o risco de não ter um ambiente favorável ao empreendedorismo e à inovação é provocar o afastamento do setor privado. “Em Porto Alegre, já identificamos um fenômeno das empresas que abrem o negócio, mas que não veem a hora de mudar a sede, para o Rio, São Paulo ou Belo Horizonte. É preciso estimular as empresas para que elas não saiam e procurem outros lugares para empreender”, disse.

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João Amato defende investimento em inovação tecnológica como diferencial competitivo

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Tecnologia no comando INOVAÇÃO PERMITE À INDÚSTRIA SE REINVENTAR, MAS CRIA OUTROS PARADIGMAS PARA O SETOR PRODUTIVO COM OS NOVOS HÁBITOS DO CONSUMIDOR. INDÚSTRIA 4.0 É APONTADA COMO A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL DOS TEMPOS ATUAIS

Em vez de centenas de trabalhadores na planta da fábrica, sensores dão o comando às máquinas, sinalizando como elas devem ser processadas. Carros que dirigem sozinhos. Ecoparques industriais. Processos de produção mais sustentáveis. Não se trata de ficção científica, mas de uma realidade em diversos países que já é colocada em prática através do investimento em tecnologia de ponta, que tem permitido um diferencial competitivo. O professor da Faculdade Politécnica da Universidade de São Paulo e presidente da Fundação Vanzolini João Amato Neto apresentou, durante palestra no Fórum Agenda Bahia, o que há de mais inovador na indústria. A indústria 4.0, por exemplo, tem sido apontada como revolução industrial dos tempos atuais. Para Amato, essa revolução tem que ser acompanhada de sustentabilidade. “A indústria sustentável

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é um caminho sem volta”, diz. João Amato destaca que as peças da produção já são recicladas em diversos processos para evitar produção de lixo. Essa nova indústria é movida por três grandes mudanças: avanço da capacidade dos computadores, quantidade de informação digitalizada e novas estratégias de inovação. Empresas como a BMW já usam isso, pelo menos de maneira parcial. “A integração de máquina e células de produção usa intensamente as novas tecnologias da informação para se conectar com fornecedores, para administrar, por exemplo, os fluxos de materiais, o estoque de peças para entrega em tempo real nas montadoras”, explica. Ele cita, por exemplo, que se um eletrodoméstico apresenta defeito, através da tecnologia será possível entender qual peça foi afetada e ter, a partir de um sistema de informação, códigos para identificar o fabricante, data de fabricação e até a causa do defeito, evitando novas repetições. Diretor do Fórum Brasileiro de IoT, Gabriel Marão explica que as oportunidades que estão sendo criadas pelas mudanças tecnológicas vão destruir diversos paradigmas atuais. Em janeiro de 2012, a Kodak, centenária empresa de fotografia, pedia concordata nos Estados Unidos. Três meses depois, o Instagram, que tinha só 15 funcionários, foi vendido para o Facebook por US$ 1 bilhão. Uma mudança de paradigma na indústria mundial. “A Kodak era a empresa mais bem preparada para conquistar o mercado da fotografia digital, mas não conseguiu entender que o negócio dela era imagem, e não produtos para fotografias. Ela se apegou ao paradigma errado”, avalia.

carro com alta tecnologia dirige sem o motorista Já pensou se você só aperta um botão e o carro sai andando sozinho em direção ao seu destino, sem você precisar se preocupar com o volante, a velocidade, com os possíveis obstáculos que tiver pelo caminho? Pois é. Não se trata de sonho. O Drive Me já é uma realidade fabricada pela Volvo e testado no Brasil. “Ele possui os dispositivos mais modernos de segurança, por laser, que mede a distância do carro da frente, é conectado a um sistema que controla a direção e o freio sozinho e usa um GPS de grande precisão”, diz o diretor de assuntos governamentais e serviços ao cliente da Volvo Cars do Brasil e uma das seis pessoas autorizadas a dirigir o Drive Me no mundo, Jorge Mussi.

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O carro é dotado de alta tecnologia que o torna apto a trafegar sem o motorista. Em 2017, 100 modelos serão lançados. O carro sueco precisa de boa infraestrutura para funcionar. Não reconhece buracos e nem faixas gastas na pista. O carro deve andar a uma velocidade média de 50km/hora. A economia de combustível é de 14% e o veículo emite menos CO2 no meio ambiente. Um projeto prevê que, em 2017, haja 100 carros desses nas ruas de Gotemburgo, cidade no sul da Suécia, circulando no trânsito nas mãos de motoristas normais. Ainda em fase de teste, não há previsão de quando começa a ser comercializado. Carros autônomos reduzem de 90% a 95% a probabilidade de um acidente de trânsito, afirma Jorge Mussi. Segundo o executivo, isso ocorre porque esse é o percentual de acidentes causados por falhas humanas. “Desse total, 50% estava sob efeito de alguma droga, incluindo o álcool, e os outros 40% falavam no volante ou estavam cansados”, informa. O especialista defende ainda que o uso do modal libera mais espaço nas rodovias, reduzindo assim os engarrafamentos, além de promover economia em caso de acidentes. “Um atropelamento na Marginal, em São Paulo, representa custo de quase R$ 3 milhões para a sociedade. Tem o gasto com helicóptero, resgate, além do impacto na produtividade das pessoas que estão presas no trânsito”.

NOVA CULTURA Desafio Investimento em educação. “Para que as pessoas tenham raciocínio e ferramentas para captar essa tecnologia”, diz João Amato Solução Estímulo do governo para o setor produtivo investir em inovação e, assim, criar uma nova cultura nas empresas, tornando-as mais competitivas Qualificação Preparar o trabalhador para indústria 4.0, que precisará de mão de obra mais qualificada. “Para pensar e gerenciar os processos”, lembra Serviços O investimento no setor de serviço, em especial as empresas ligadas ao turismo e ao entretenimento, é um dos caminhos para ampliar o desenvolvimento econômico de Salvador, segundo Roberto Calumby Cultura Investir no resgate da identidade da cidade e na valorização da cultura local, como estratégia para a criação de um ambiente favorável a novos negócios. Um exemplo: Pelourinho Dia e Noite, com artistas locais Incentivos Com o Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Sustentável e Inovação (Pidi), o município quer estimular investimentos privados em áreas prioritárias, em troca de incentivos de até 50% do valor que for empregado

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Jorge Mussi mostrou como funciona o novo carro da Volvo: sensores medem a distância de outros veículos

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Inovadoras e sustentáveis PARA ESPECIALISTA, MUDANÇA DE PARADIGMA NO SISTEMA PRODUTIVO IRÁ IMPACTAR NA FORMA COMO AS CIDADES SE ORGANIZAM PARA PRODUZIR BENS E SERVIÇOS

Quando se fala em cidade inovadora, na avaliação do professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) João Amato Neto, uma questão que não deve caminhar dissociada é a sustentabilidade, já que são dois eixos que conduzem o presente e o futuro das cidades. “Já estamos vivendo esse desafio, de ter cidades inovadoras e sustentáveis, assim como o desafio de ser e ter empresas e organizações sustentáveis. Isso pode e deve ser convergente. É preciso pensar globalmente e agir localmente”, defendeu. Para ele, a questão da urbanização e da tendência dos grandes centros urbanos deve ser entendida de maneira muito vinculada à tendência da economia, da produção industrial e da produção de serviços. Por isso, Amato sugere que um dos primeiros passos deve ser a mudança do paradigma produtivo. “A mudança de paradigma no sistema de produção vai impactar na forma como a cidade se organiza para produzir bens e serviços. Vivemos um momento de transição do paradigma da produção de massa versus a produção sustentável”, explicou.

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Um dos desafios das cidades, de acordo com o especialista, é pensar um conjunto de regras e normas que regulem a questão da mobilidade urbana, levando em consideração que os meios de transporte são elementos de um sistema de transporte, que é algo bem mais amplo. “É preciso cuidado para não se buscar soluções simplistas para problemas que são complexos. Não significa que vai ficar passivo, mas é preciso buscar uma solução inovadora, ciente de que está se tratando de uma questão complexa”, diz. Como exemplo, ele citou um projeto desenvolvido na USP de um carro projetado para usar energia renovável e para ser desmontado. Além disso, trouxe a experiência bem-sucedida de Paris com carros elétricos, onde o usuário pega o carro em um local e tem a possibilidade de deixá-lo em outro ponto. “Em 2011 eram apenas 66 carros e hoje esse número já passa de 1.800. Essa é uma

O INDIVÍDUO NÃO PRECISA TER O SEU CARRO. PARA UMA CIDADE INOVADORA PODE SER A SOLUÇÃO JOÃO AMATO NETO PROFESSOR DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

grande mudança de concepção no sistema de transporte urbano. O indivíduo não precisa ter o seu carro. Para uma cidade inovadora, pode ser a solução”, sugere.

Investir em pessoas mais inovadoras Não há cidades, empresas e organizações inovadoras se não houver pessoas inovadoras. Segundo Amato, é preciso romper com modelos do passado. “Não adianta reproduzir modelos anteriores. A questão do transporte urbano envolve grande desafio em termos de inovação na cidade. Se a gente quer buscar soluções inovadoras e sustentáveis para as cidades, talvez a indústria automobilística não seja uma grande contribuição”, pontua.

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Ele ressalta ainda que quando se fala em inovação e criatividade é preciso pensar na cooperação entre os atores e entender que, independentemente da escolha partidária, é importante a cooperação entre as diferentes esferas de governo, além das entidades de classe, empresas e a própria população, que é a grande cliente daquilo que uma cidade produz e do que um estado oferece em termos de serviços público. “É um grande desafio para a humanidade. As novas gerações, tenho certeza, já sabem e entendem bem a importância desses desafios para a sobrevivência da humanidade”.

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Presidente da Endeavor Brasil, Juliano Seabra apresentou o ranking de cidades empreendedoras brasileiras

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Setor privado investe pouco ESTUDO DA ENDEAVOR REALIZADO EM 14 CIDADES REVELA QUE A DISPOSIÇÃO PARA EMPREENDER DO SOTEROPOLITANO É A MAIOR DO PAÍS, MAS AS EMPRESAS BAIANAS SÃO AS QUE MENOS INVESTEM EM INOVAÇÃO NO BRASIL

Ideias e vontade de empreender não faltam em Salvador. Segundo o ranking da Endeavor Brasil, que comparou as 14 cidades brasileiras mais propícias para a geração de novos negócios, o empreendedor baiano é um dos que têm maior vontade de abrir o próprio negócio nos próximos anos. A dianteira do empreendedorismo na capital baiana foi apresentada pelo presidente da Endeavor, Juliano Seabra, em sua palestra no seminário Cidades Inovadoras, no Agenda Bahia. “A disposição para empreender em Salvador é altíssima, a maior do Nordeste. Por aqui, 68% das pessoas querem abrir o próprio negócio”, explica Seabra. Por outro lado, o investimento privado em inovação é pequeno e o empreendedor soteropolitano é o que menos investe em inovação no país, apesar de 1 em cada 13 funcionários das empresas está alocado em áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática

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(STEM). Os números acompanham o conservadorismo do setor privado no país, que, segundo ranking, investe menos do que o setor público. “As empresas de Salvador investem menos em pesquisa e desenvolvimento do que em qualquer outra cidade avaliada. O investimento público na Bahia não é um problema quando comparado com outras cidades. O problema está no setor privado que não investe em inovação”, diz Seabra. Salvador ficou em último lugar no ranking, realizado pela Endeavor e, assim como as outras cidades do Nordeste avaliadas, Recife e Fortaleza, obteve notas ruins em todos os critérios. “Já existe uma diferença que se percebe no ar. Salvador deve ficar em posições melhores nos próximos rankings”, acredita Seabra. De olho no potencial soteropolitano para o empreendedorismo, a prefeitura tenta identificar as vocações e os territórios propícios para conduzir o conhecimento local à inovação. “Salvador está se candidatando a ser uma cidade mais inovadora. Vamos trabalhar oito pilares para tornar Salvador um município empreendedor e assim dar as condições necessárias a quem quer abrir um negócio: desburocratização, compras públicas, facilidade para abrir e fechar empresas, estabilidade jurídica, entre outros. Vamos fazer no menor tempo possível para colocar Salvador em outro patamar”, explicou Andréa Mendonça, secretária municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Emprego. Segundo Seabra, o ranking da Endeavor identificou soluções aplicadas por algumas cidades para melhorar o desenvolvimento de novos negócios. Enquanto Porto Alegre (RS) concentrou forças para reduzir o tempo que se leva para abrir um negócio, São Paulo melhorou o acesso ao capital e à infraestrutura. Ele cita ainda como solução melhorar as condições das empresas chamadas scale-up, que são aquelas responsáveis por gerar 3,3 milhões de empregos nos últimos três anos. Das 51 mil empresas desse tipo no Brasil, 776 são de Salvador. “Se você imaginar que o Brasil está passando por essa crise, essas empresas estão segurando a onda para a situção do país não ser pior. É preciso identificar quais são essas empresas e promover um ambiente de negócios melhor para que elas não decidam ir embora”, alertou Seabra.

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Inovação made in Bahia: desafios Diante das estratégias adotadas em todo o mundo na busca por inovação, quais delas escolher para a capital da Bahia? Para o secretário estadual de Ciência e Tecnologia (Secti), Manoel Gomes de Mendonça Neto, todas as ideias devem ser adaptadas. “A gente não vai ser Boston, nem Recife. Nós temos de ser Salvador, entender o que existe aqui e fazer isso produtivo, mas, claro, aprendendo muito do que está sendo feito lá fora”, defende. Em sua palestra, ele explicou que o estado tem fraquezas na transformação do conhecimento em inovação. “A Bahia tem poucos centros de pesquisa e poucas empresas que trabalham no desenvolvimento de produtos, principalmente em inovação. Por outro lado, falta a transformação dessa inovação em ganhos para a sociedade. O grande desafio é fazer o meio de campo”, explica. Segundo o secretário, é preciso atuar entre os diversos atores para favorecer esse ambiente de inovação. Manoel de Mendonça anunciou a criação de parque tecnológico sustentável para aproveitar a vocação da indústria cacaueira. O programa é desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e deve formar um ‘triângulo’ de inovação entre Salvador, Ilhéus e o Oeste. “A tese desse parque tecnológico é a sustentabilidade, a nova grande onda. A gente passou por uma era industrial muito forte, passamos agora por uma era de informação, Vale do Silício, mas a próxima onda que

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NÓS ACREDITAMOS NA ECONOMIA CRIATIVA, PORQUE ELA NOS PROPORCIONA FAZER MAIS DO QUE VÍNHAMOS FAZENDO, AINDA QUE FAZENDO MAIS DO MESMO ROBERTO CALUMBY DIRETOR DA SALVADOR NEGÓCIOS

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está vindo é mais sustentável”, justificou. Barreiras e Luis Eduardo Magalhães completam a ligação de investimento em inovação através do agronegócio, uma demanda dos empresários locais para estimular inovação na agroindústria.

Salvador aposta na criatividade O caminho para Salvador conseguir se desenvolver de modo sustentável passa pela valorização da economia criativa, acredita o diretor da Salvador Negócios, Roberto Calumby. “A história da cidade é muito voltada para a produção de bens e serviços relacionados ao turismo e ao mercado de entretenimento”, destacou. Segundo Calumby, uma das prioridades de atuação da agência Salvador Negócios está no resgate da identidade da cidade. “Os esforços do município estão no sentido de criar um ambiente de negócios favorável ao desenvolvimento dessa identidade”, diz o diretor da agência. É nesse sentido que a prefeitura investe, por exemplo, no projeto Pelourinho Dia e Noite, que estimula a ocupação do Centro Histórico pelo público atraído por artistas locais. “Nós acreditamos na economia criativa, porque ela nos proporciona fazer mais do que vínhamos fazendo, ainda que fazendo mais do mesmo”, destaca. Mas a prefeitura espera um retorno também da iniciativa privada “Acreditamos que há um grande espaço para o crescimento através da busca de sinergia entre o empresariado, o município e a sociedade”.

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Fernando Sodake, apresentador da TV Bahia, moderou painel Novos Ambientes de Negócios como Geradores de Emprego, Inovação e Crescimento das Cidades, com a participação de João Amato Neto, Roberto Calumby e Gabriel Marão

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Compra pública como estímulo CIDADES COMO PRINCIPAIS CLIENTES DOS EMPREENDEDORES FORTALECEM NEGÓCIOS, A ECONOMIA DA REGIÃO E ESTIMULAM A COMPETITIVIDADE. PARA PALESTRANTES, A DIVULGAÇÃO DE EDITAIS COM MAIOR PRAZO FOMENTA A PRODUÇÃO LOCAL

As cidades podem se tornar principais clientes dos empreendedores que vivem nela. O tema compra pública foi uma das principais soluções apresentadas no painel Novos Ambientes de Negócios como Geradores de Emprego, Inovação e Crescimento das Cidades. Especialistas defenderam o mecanismo como importante indutor do empreendedorismo ao estimular o fornecimento de produtos locais. A estratégia, segundo a maioria dos palestrantes, ajuda a fortalecer novos negócios e o surgimento de startups, a partir da competição interna. O presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), Guilherme Bernard, lembrou, inclusive, que os editais deveriam ser divulgados com prazo que permita e incentive os empreendedores a criar produtos locais para ofertar durante a concorrência. Essa iniciativa deu certo em Florianópolis e estimulou a inovação nas empresas da cidade.

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O PRÓPRIO GOVERNO PODE SER UM POLO DE INDUÇÃO DE EMPRESAS E MECANISMOS MAIS INOVADORES JULIANO SEABRA PRESIDENTE DA ENDEAVOR BRASIL

Para o presidente da Endeavor, Juliano Seabra, a compra pública incrementa a economia das cidades. “Dá pra construir um mercado em torno da prestação de serviços melhores, assim o próprio governo pode ser um polo de indução de empresas e mecanismos mais inovadores. Certamente, um dos maiores PIBs potenciais aqui em Salvador para estimular o mercado é a capacidade do governo, seja estadual ou municipal, de comprar”, defende. Segundo Seabra, o poder público tem ainda o papel de convocar grandes e pequenos empreendedores para a lógica de mercado, simplificando a conexão entre elas. “Quando se fala de estimular empreendedorismo, a gente costuma ter a concepção antiga de que basta o incentivo econômico, mas, em alguns casos, é preciso olhar para a lógica de como funciona o mercado”, diz. Por outro lado, o secretário Manuel Gomes de Mendonça Neto vê com cautela o estímulo a esse tipo de prática. “Na área de TI, o que aconteceu foi que pequenas empresas formaram parcerias com determinados órgãos governamentais, mas nunca saíram desse relacionamento”, explica. Boston, nos Estados Unidos, também conseguiu estimular seu poder de compra ao dar espaço para pequenas e médias empresas. “Alavancamos o papel das cidades como cliente. Isso movimenta a economia local”, afirmou Jay Carreiro.

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Colaboração, palavra-chave NO BRASIL, O GOVERNO É RESPONSÁVEL PELA MAIOR PARTE DOS INVESTIMENTOS EM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO. EM PAÍSES COM ECONOMIAS MAIS PRODUTIVAS, COMO SUÉCIA E ALEMANHA, O SETOR PRIVADO É O GRANDE INVESTIDOR

Para ser um país grande, a Suécia teve primeiro que se reconhecer pequena. O tamanho que hoje o país ocupa na economia mundial é bem maior do que sua área demográfica, capaz de caber por inteiro dentro do estado da Bahia. O tamanho real da Suécia, uma das economias mais criativas e sustentáveis do planeta, se mede pela capacidade que ela tem de inovar. O país que inventou a hélice, o zíper, o telefone celular, o cinto de segurança, e tem empresas multinacionais como Ericsson e Electrolux, conseguiu a façanha de conquistar mercados tão distantes graças à interlocução bem feita entre empresas privadas, iniciativas de governos e centros de pesquisa altamente tecnológicos. Some-se a esse tripé bem-sucedido educação pública eleita entre as melhores, e está

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criado um modelo de inovação capaz de chamar atenção de países do mundo todo, incluindo o Brasil. “Nascer na Suécia implica aprender que, para sobreviver, você tem de colaborar. A cultura da colaboração para crescer é o primeiro grande componente. É diferente do norte-americano em que sozinho você é forte”, diz Mikael Román, consultor de Ciência e Inovação da Embaixada da Suécia no Brasil. De olho na experiência e na capacidade de ligar engrenagens tão difíceis, o Brasil tem desenvolvido projetos junto com a Suécia. O país firmou parceria com a empresa Saab AB por meio da criação do Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb) para desenvolver, por aqui, pesquisas e projetos em diversas áreas, principalmente no setor aeroespacial. O investimento total do Cisb, desde que foi criado, em 2011, é de cerca de US$ 60 bilhões. O objetivo, segundo a diretora do órgão, Alessandra Holmo, é apoiar projetos que envolvam tecnologias avançadas. A Suécia é um dos que mais investem em pesquisa e desenvolvimento no mundo, em torno de 4% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Já o Brasil, apenas 1,75%. O modelo brasileiro, tardiamente criado, ainda está nos testes iniciais para deslanchar. “Na Alemanha, o pesquisador das universidades está dentro das empresas. Ele transita de forma fácil, já aqui é mais difícil. Além de não ter uma tradição, a lesgislação limita isso. Ainda temos um caminho longo a percorrer”, explica Rubén Dario Sinisterra, ex-presidente do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferências de Tecnologia (Fortec). Pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, o colombiano radicado no Brasil enfrenta a burocracia do modelo brasileiro para desenvolver as próprias pesquisas. Ele cita o atraso no reconhecimento de patentes e a falta de interlocução entre centros de pesquisa e setores privados como alguns dos problemas. A diferença entre Brasil e EUA fica ainda maior quando analisadas as fontes de investimento. Enquanto, no Brasil, o governo é responsável por 53% do aporte financeiro em pesquisa, nos Estados Unidos o setor privado arca com 66%. Na Suécia, chega a 70%. “Por não ter um mercado de capital de risco forte, acaba que essas empresas têm dificuldade de conseguir o investimento inicial. Nos EUA, a figura do ‘investidor-an-

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RECURSOS PRIVADOS EM C&T(EM %) Estados Unidos

66

Alemanha

66

Franรงa

56

Itรกlia

51 ร ndia

69 China

75


INVESTIMENTO EM PESQUISAS E DESENVOLVIMENTO (EM %)

NO MUNDO

AMÉRICA DO NORTE, ÁSIA E EUROPA

90%

75%

Governo

Iniciativa privada

53%

47% NO BRASIL

PIB Quanto do PIB é investido em Ciência e Tecnologia – C&T (EM %) Brasil

1,74

Alemanha, França e Suécia

Japão e Coreia do Sul

2

Fonte Unicamp; CNI; Unesco; Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Rodrigo de Araújo Teixeira (Seminário Caminhos para Inovação). Dados de 2008, 2009 e 2010

3,7


jo’, que ajuda as pequenas empresas a darem o primeiro passo, é muito comum”, diz Dário.

parceria alemã e sueca no Brasil O desenvolvimento dos modelos de inovação da Suécia e da Alemanha em outros países se explica, em parte, pela restrição dos seus mercados internos, o que impulsiona, desde o início, os empreendedores a buscar parcerias e projetos além-mar. “Com pouco mais de 9 milhões de habitantes, o sueco teve de se expor ao mundo e, para isso, não precisou

NASCER NA SUÉCIA IMPLICA APRENDER QUE, PARA SOBREVIVER, VOCÊ TEM DE COLABORAR. A CULTURA DA COLABORAÇÃO PARA CRESCER É O PRIMEIRO GRANDE COMPONENTE MIKAEL ROMÁN CONSULTOR DA EMBAIXADA DA SUÉCIA

pensar em protecionismo. Aprendeu que não há como criar regras para se proteger, você tem sempre de estar à frente. Simplesmente sair e enfrentar o mundo, e, para isso, precisa ser o melhor”, diz Mikael, ao tentar explicar um pouco o DNA inovador. Uma das iniciativas dessa expansão internacional buscada por países europeus está instalada no Parque Tecnológico de Salvador desde 2012. O centro Fraunhofer, uma importante organização de pesquisa aplicada da Alemanha, trabalha em parceria com instituições e empresas locais para desenvolver projetos com a cara brasileira. “Temos uma parceria muito grande com o Senai-Cimatec, um centro de excelência em engenharias. Nosso desafio é adaptar um modelo alemão, investir e trabalhar bastante, com experiências de longo prazo, porque trabalhar com pesquisa não é imediatismo. Por isso é preciso mudar a cultura, às vezes, tanto do lado das empresas quanto dos pesquisadores e estudantes em

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relação a projetos, resultados e prazos”, explica Carol Passos, diretora do Fraunhofer no Brasil. O núcleo desenvolve projetos na área de indústria, saúde e mobilidade em área urbana. A criação do centro coincide com o aumento do investimento do estado em inovação. Entre 2012 e 2013, a Bahia investiu mais de R$ 1 bilhão em pesquisas e desenvolvimento. O Parque Tecnológico, onde está instalado o Fraunhofer, abriga startups, que encontram nas incubadoras espaços para se desenvolver, até grandes empresas do setor. Na articulação entre universidades e setor privado, a Fapesb, órgão vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), é responsável por estimular e fornecer subsídios à pesquisa na Bahia. Em uma década, de 2002 a 2012, a Fapesb apoiou 7,4 mil projetos. “O primeiro grande desafio é alavancar o gasto privado em pesquisa e desenvolvimento. Nenhuma das economias mais produtivas e ricas se estabeleceu ou se mantém exclusivamente com investimentos governamentais. O segundo é fazer com que a pesquisa de excelência esteja alinhada com as necessidades da sociedade e das empresas”, defende o titular da Secti, Manoel Gomes Neto.

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O exemplo vem de cima ESPECIALISTAS APOSTAVAM QUE CIDADES BRASILEIRAS SERIAM EXEMPLO DE INOVAÇÃO, MAS O PAÍS PERDEU O BONDE DESSE PLANEJAMENTO E VÊ OS PRAGMÁTICOS AMERICANOS E ATÉ OS VIZINHOS COLOMBIANOS DAREM UM BANHO DE CRIATIVIDADE

“Por muito tempo, acreditou-se que a solução para as cidades do futuro sairia do Brasil. Sem a frieza high tech de japoneses, nem a idealização dos subúrbios longínquos norte-americanos, a marca que os brasileiros imprimiram em suas cidades, imaginava-se, seria mais voltada para as pessoas e para uma forma de viver mais criativa. “Eu também achava que o Brasil seria pioneiro no desenvolvimento dessas cidades, mas hoje, não mais. Acredito que a Colômbia tem implementado soluções mais interessantes que a gente”, provoca Lala Deheinzelin, criadora do Núcleo de Estudos do Futuro, da PUC-SP. A busca para identificar em quais cidades estão sendo implementadas as ideias capazes de servir como exemplo para o resto do planeta se reflete na criação de

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PORTLAND ERA UMA CIDADE TÍPICA INDUSTRIAL, FEIA, RUIM DE VIVER, COM UM RIO PARECIDO AO TIETÊ, EM SÃO PAULO. ELES APLICARAM ESSE CONCEITO DE ‘CIDADE COMPARTILHÁVEL’, EM QUE A CIDADE FUNCIONA COMO UM ORGANISMO E O ESTADO COMO ARTICULADOR LALA DEHEINZELIN PESQUISADORA DO NÚCLEO DE ESTUDOS DO FUTURO, DA PUC-SP

rankings que elegem “os melhores lugares para se viver”. E o Brasil está bem distante das primeiras posições. O atraso na aplicação de soluções por aqui levou o norte de expectativas para nossos vizinhos latinos. Bogotá, na Colômbia, tomou a dianteira e tornou-se um dos grandes exemplos de cidades sustentáveis entre os trópicos na América Latina. A também colombiana Medellín chegou ao topo do ranking como a cidade mais inovadora em 2012 pela lista anual organizada pela consultoria Urban Land Institute, passando à frente de Nova York e Tel Aviv, em Israel. O investimento público tornou a cidade — que até os anos 1990 era conhecida como uma das principais rotas do tráfico do mundo — um exemplo de uma boa gestão do sistema de transporte público. Medellín venceu em uma lista de 200 cidades no mundo em critérios como mobilidade e infraestrutura, capital humano, uso do espaço, investimento em tecnologia e pesquisa. Medellín misturou teleféricos, escadas rolantes, bicicletas compartilhadas, BRT (Bus Rapid Transport) e, claro, carros. Tudo junto e funcionando. Nos Estados Unidos, Boston buscou a inovação na sua base histórica. Fundada no século XVII, a cidade

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ÍNDICE DE HOMICÍDIOS EM MEDELLÍN (Por 100 mil habitantes)

TEMPO DE DESLOCAMENTO MENOR NO TELEFÉRICO 9,4 km

1990

35’ ANTES

MEDELLÍN

Integração teleférico e metrô

6’

360

DEPOIS

2006

28,8 km

39

BOSTON

Berço de grandes universidades e empresas valiosas, como Facebook e Dropbox (Em US$)

70bi

10bi

36 mil hab

PORTLAND Considerada a cidade mais amigável para bicicletas nos Estados Unidos ela tem

510km 600 mil hab

HARVARD De onde vem o orçamento (Em bilhões de US$) total 3,7

US$70bi é o lucro médio anual do MIT só com patentes

MIT Destino do orçamento (Em bilhões de US$) total 2,5 outros 1,1

outros 1,86

PRÊMIOS NOBEL doações 1,1 governo 0,74

Harvard

44

MIT

70

pesquisa 1,4


BOGOTÁ

MEDELLÍN

376km

2010

é a quilometragem da ciclovia, considerada a maior da América Latina

ano em que foi criado o Ruta N, escritório de projetos inovadores

1mi

US$30mi

de usuários de uma só vez é a quantidade comportada pela ciclovia

foi o valor investido para criar o Ruta N, que busca atrair e desenvolver profissionais


UMA COISA SIMPLES QUE AS CIDADES PODEM FAZER É COLETAR DADOS, DESENVOLVER MÉTRICAS E TER UMA ESTRATÉGIA QUE CRIE CONDIÇÕES PARA A INOVAÇÃO CHRISTOPHER HIRE DIRETOR EXECUTIVO DA 2THINKNOW

tem dois dos mais importantes centros de pesquisa do mundo: Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O espírito efervescente a tornou a mais inovadora entre 331 cidades avaliadas pela 2ThinkNow. “Buscamos identificar principalmente como as cidades geram inovação, e observamos a criação de novas formas de trabalho e energia que surgem a partir daí”, explicou o diretor executivo da 2ThinkNow, Chistopher Hire.

Cidade compartilhável Para a 2ThinkNow, a coleta de dados referentes às cidades, desde informações de habitantes e seu comportamento, até questões ambientais, como o tipo de lixo, é o que determinará as escolhas para o futuro. “Nós olhamos as pré-condições urbanas para inovação a partir dos indicadores coletados. Uma coisa simples que as cidades podem fazer é coletar dados, desenvolver métricas e ter uma estratégia que crie condições para a inovação”, diz Hire. Hire elenca outras cidades que estão se tornando exemplos. “Londres tem feito grandes avanços e nós temos fornecido dados para lá. Nova York tem muito a seu favor. Algumas cidades menores na América Latina estão dando grandes passos, junto com cidades de mesmo porte nos Estados Unidos. Viena tem boas condições para desenvolver inovação na economia, e nós estamos de olho em Seul, na Coreia do Sul, e em Dubai”, listou. Já Portland virou marca de cidade amigável, voltada mais para as pessoas e menos para os carros, para o

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concreto e para as indústrias. Isso tudo em uma cidade que era conhecida mundialmente pela fabricação de cimento. Ações de governo e da própria população tornaram a cidade de pouco mais de 500 mil habitantes, no estado do Oregon, uma das mais verdes do planeta. Lá, a quantidade de emissões de carbono dos carros é controlada por lei. Isso vale também para o descarte do lixo e para o setor imobiliário, que deve respeitar um limite para não avançar sobre áreas de vegetação. “Portland era uma cidade típica industrial, feia, ruim de viver, com um rio parecido ao Tietê, em São Paulo. Eles viram que o Estado funciona como um articulador, que pode ter acesso a todas as áreas e os setores de produção, como ONGs, iniciativa privada e os habitantes”, explica Lala Deheinzelin. O investimento tornou Portland uma das melhores cidades para se viver nos Estados Unidos, por aliar inovação e cultura. “Eles aplicaram esse conceito de ‘cidade compartilhável’, em que a cidade funciona como um organismo e o Estado como articulador”, diz Lala.

Conexão com os moradores A jornalista Natália Garcia, especializada em Urbanismo, criou, em 2011, o projeto Cidade para as Pessoas, no qual percorreu 12 metrópoles do mundo para identificar quais utilizavam as melhores ideias para deixá-las mais conectadas aos moradores. “Entendi que não é possível pensar de maneira centralizada, seja no poder público, ou no planejamento de transporte dessas cidades. Entendi que é importante descentralizar a gestão das cidades, criar mecanismos que envolvam mais pessoas, mais ideias, mais experimentos”, observa. Transporte, caminhos para ciclistas, praças e parques, cultura ao ar livre, tudo tem de ser observado de forma a identificar o impacto ambiental em cada ação. “Em Portland, eles desenvolveram plano de gestão do crescimento da cidade em função do transporte público. Lá, a cidade foi se planejando para crescer em função das demandas do transporte”, observa Natália Garcia.

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Sensor avisa até quando lixeira da rua está cheia A cidade de Santander, na Espanha, alterou a dinâmica dos serviços de iluminação, trânsito, segurança, energia e água graças à instalação de uma rede de 12 mil sensores interligados. Os equipamentos monitoram a qualidade do ar, vagas em estacionamento, avisa quando as lixeiras estão cheias, além de facilitar o trânsito para veículos envolvidos em situações de emergência. O sistema inteligente permite que o poder público ofereça melhor qualidade dos serviços Buenos Aires ganha título de Cidade do Empreendedorismo Buenos Aires ganhou o título de Cidade do Empreendedorismo de 2015 graças à construção de uma comunidade de investidores preocupados com um novo modelo de empresas. “Buenos Aires é uma das poucas cidades da América Latina que tem um órgão voltado para empreender e que tem a função de promover toda e qualquer política pública que possa ter efeito na vida do empreededor”, diz Juliano Seabra, presidente da Endeavor linha do metrô de Boston une comunidade inovadora Muito tradicional, o metrô de Boston é o mais antigo dos Estados Unidos. Ele é o responsável por ligar universidades, empresas e o distrito de inovação. A linha vermelha, segundo o vice-cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Jay Carreiro, foi responsável por conectar

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Giro pelo mundo MOBILIDADE COMPARTILHADA, REDE DE SENSORES QUE MELHORAM A QUALIDADE DO SERVIÇO, REDUÇÃO DA BUROCRACIA E POLÍTICAS DE INCENTIVO AO EMPREENDEDORISMO. CONHEÇA O QUE AS CIDADES ESTÃO FAZENDO DE DIFERENTE PARA QUE SE TORNEM MAIS COMPETITIVAS


cidades do entorno ao projeto inovador Life Science Corridor (Corredor de Ciências Naturais). “Qualquer pessoa pode ir até lá, e o metrô é muito barato” Goiânia reduz tempo para abrir e fechar empresas Goiânia conseguiu reduzir para 32 dias o tempo gasto para abrir uma empresa, o mais rápido do Brasil (a média é de 76 dias). Uma das iniciativas implantadas no município foi o Vapt-Vupt, escritório voltado para desburocratizar a abertura e fechamento de empresas. “Apesar de ainda estar longe dos índices americanos, com prazo de quatro dias, em Goiânia, há uma agilidade na gestão burocrática”, diz Juliano Seabra Digital O município de Águas de São Pedro (SP) vem testando soluções através de redes de informação. Seus três mil habitantes vivem na primeira cidade brasileira que é totalmente digital Santander, na Espanha, instalou uma rede de 12 mil sensores interligados

Mobilidade Desde dezembro de 2011, moradores de Paris contam com a opção de usar veículos compartilhados. Trata-se do autolib, carro elétrico, que é menos poluente, não só na emissão de gases poluentes, como no ruído. Em 2011, eram apenas 66 carros e hoje já passam de 2.500. Há 900 estações na capital francesa e mais de 130 mil usuários cadastrados

Paris ampliou o número de carros elétricos

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Baianos inovadores MESMO COM BAIXO INVESTIMENTO, NOVOS EMPREENDEDORES NO ESTADO TÊM FATURADO MILHÕES DE REAIS. BOAS IDEIAS ALIADAS À TECNOLOGIA PERMITEM QUE EMPRESAS CRIEM PRODUTOS COM AJUDA DE INCUBADORAS E UNIVERSIDADES

Em 1943, quando Ary Barroso compôs Terra Seca, falava de um homem que não podia mais trabalhar por conta da estiagem. Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cantou pedindo ajuda a governantes para salvar o povo nordestino da falta de chuva, em Vozes da Seca. Hoje, mais de 70 anos depois, a seca deixou de ser apenas inspiração na música. Na Bahia, ela tem servido de estímulo para negócios inovadores. Quando o estudante de Engenharia Mecânica Matheus Ladeia, 22 anos, viu seu pai, produtor rural, perder 200 animais, devido à seca que afetou a Bahia em 2012, decidiu tomar uma iniciativa. “O prejuízo foi de R$ 300 mil”, lembra. Em 2013, diante do problema — e da vontade de resolvê-lo — teve a ideia que mudou sua vida: fundou a startup Pastar, uma plataforma online que hospeda negócios agropecuários e que já

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possibilitou transações de até R$ 20 milhões. Foi a mesma seca que fez com que o estudante Iago Santos, 19, que faz o 4º ano em Eletromecânica no Instituto Federal da Bahia (Ifba), em Jacobina, no Centro-Norte do estado, criasse um sistema de reaproveitamento de água para ser instalado nas casas da região, com baixo custo. “O que move os jovens hoje em dia é a dificuldade. Sempre temos crise de água, então precisamos dar um jeito de resolver esse problema. Em 2012, chegamos a ficar em estado de emergência aqui”, conta o estudante. Por cerca de R$ 200, é possível adquirir o sistema, incluindo um cartão eletrônico que identifica quando há água (usada) na máquina de lavar. Em vez de ser descartada, a água é utilizada na descarga do banheiro. Depois de um ano de testes, ele está patenteando o sistema. “Agora, estou em busca de um patrocinador”. Como Matheus e Iago, nos últimos anos, não fal-

Sócios da Guell, Yuri Berezovoy (de cinza) e Fábio Pagotti esperam colocar as motos híbridas no mercado

taram iniciativas de baianos desenvolvendo soluções e projetos inovadores — e não só para lidar com as adversidades da estiagem. “Temos hoje uma rede de produção de conhecimento que permite esses esforços de inovação”, diz o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Manoel de Mendonça. O que acontece, de acordo com o secretário, é que existe um ciclo de inovação: começa com a criação de conhecimento, passa pela utilização desse conhecimento até chegar à produção de resultados efetivos. “A inovação é o último passo. O desafio do governo é fazer esses atores se comunicarem”, completa.

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Por isso, é importante investir em incubadoras e aceleradoras — organizações que ajudam empreendedores a desenvolver seu negócio. No Senai Cimatec, há projetos numa incubadora desde 2013, e seis projetos na aceleração, incluindo a Pastar. “Existe uma necessidade de Salvador e da Bahia de gerar novas empresas que tenham condições de competitividade”, diz o gerente do Cimatec Flávio Marinho, responsável pelo programa de empreendedorismo e inovação. A Pastar passou a fazer parte da incubadora depois de ser aprovada no Programa Startup Brasil, do governo fe-

um pouco bonito demais, mas é uma luta diária. É mui-

EXISTE UM MOVIMENTO DE JOVENS EMPREENDEDORES QUE ESTÃO BUSCANDO PLATAFORMAS PARA SE CONSOLIDAR LEANDRO BARRETO

to pior do que montar uma padaria, porque você precisa

GERENTE DO SEBRAE

deral, em 2014. Hoje, a empresa, que começou apenas com aluguel de pasto, se tornou um marketplace pecuarista. “O balanço é muito bom, mas aceleradora nenhuma faz mágica. Ela está lá para dar suporte a bons empreendedores”, afirma Matheus Ladeia. Além disso, ele reforça que a vida das startups não é fácil. “Às vezes fica

mudar o conceito”. As universidades também podem estimular esse processo. Na Uneb, a professora Lynn Alves coordena o grupo de pesquisa Comunidades Virtuais, que começou a produzir games educativos em 2006. Desde então, já são 12 jogos. “O mercado de games aqui ainda é muito incipiente. O do Brasil está em expansão, mas o da Bahia é tímido. Faltam programas que possam contribuir para que as empresas se consolidem nesse mercado”. Atualmente, o grupo também está ligado a uma especialização em Game Design na Uneb. No próximo

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ano, a Bahia também deve ganhar o primeiro curso tecnológico em jogos digitais em uma universidade — também na Uneb.

Investimentos em startups crescem no estado Para que cada vez mais baianos se tornem inovadores, um bom incentivo é mostrar os exemplos que tiveram sucesso, segundo o gerente do Senai Cimatec, Flávio Marinho, responsável pelo programa de empreendedorismo e inovação. “Passamos um tempo com pouco movimento empreendedor na Bahia, mas, nos últimos dois, três anos, começamos a fazer uma nova dinâmica. Hoje, o que a gente tem tentado fazer para motivar nossa juventude é dar exemplo de jovens que até com poucos recursos financeiros conseguiram superar desafios”, explica. Atualmente, o Senai conta com 27 startups no programa de inovação. Além disso, promovem encontros mensais para que qualquer pessoa apresente suas ideias. “É um momento que as pessoas podem se apresentar. Criar parcerias, encontrar investidores, um possível sócio… No último ano, movimentamos mais de mil pessoas”. Em julho, o Sebrae Bahia também lançou seu programa de startups. Até dezembro, devem ser investidos R$ 220 mil em um projeto piloto para 20 empresas. “Hoje, a gente tem 60 startups mapeadas na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Ano que vem, devemos ter um investimento de R$ 2 milhões”, conta o gerente da unidade de acesso à inovação e tecnologia do Sebrae, Leandro Barreto. “Existe um movimento de jovens empreendedores que estão buscando plataformas para se consolidar. Esse era um público que procurava o Sebrae de forma tímida, mas, como essa demanda aumentou e se ampliou, percebemos que precisávamos aumentar um atendimento específico”.

Novos negócios criam conexões entre cidades O caso da Guell, empresa instalada na Aceleradora do Senai Cimatec, é um tanto curioso. A empresa é registrada em Salvador, os fundadores são cariocas e o produto — um híbrido entre motos e bicicletas elétricas — será produzido em São Paulo. Dois dos três sócios trabalhavam como engenheiros na fábrica da Ford, em Camaçari.

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Lynn Alves, professora da Uneb, produz games educativos com seu grupo Comunidades Virtuais: “A maioria dos jogos de educação é chata. Tentamos desenvolver jogos que se aproximem do comercial, mas é um processo longo”

Aos 22 anos, Matheus Ladeia é um dos fundadores da Pastar, que já fez transações de até R$ 20 milhões

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“Pensamos em uma moto sem marcha. Então, pensamos em fazer elétrica. Então, decidimos: ‘vamos fazer com peças de bicicleta’, porque era justamente para não usar uma rede de concessionárias, mas ter uma rede de manutenção em qualquer parte do país”, explica um dos fundadores e sócio-diretor da Guell, Yuri Berezovoy. Segundo ele, é uma moto eletrônica que funciona dentro da legislação de bicicleta elétrica. Depois de três anos, a Guell passou para os cuidados do Senai Cimatec. “Olhamos na UFRJ, na USP, mas a gente já tinha nossa empresa aqui. A gente viu esse movimento todo do Senai acontecendo, Salvador correndo atrás de levantar a bandeira e precisando de bons projetos, querendo mostrar que quer fazer. Decidimos que era ali que a gente queria ficar”, diz. Ao todo, já foram levantados quase R$ 1,5 milhão, incluindo investimentos da Fapesb.

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Salvador para as pessoas PARA PLANEJAR COMO SERÁ A CIDADE AOS 500 ANOS, PREFEITURA REALIZA AUDIÊNCIAS PÚBLICAS E DEFINE PRIORIDADES COM AS COMUNIDADES. ENTRE AS SUGESTÕES, MAIS EMPREGO E MELHORIAS NA SAÚDE E NA SEGURANÇA

Dona Maria, que mora em Plataforma, não quer ir ao centro da cidade ou à região do Iguatemi somente para fazer um exame médico. Seu Francisco, por sua vez, gostaria de não ter que sair do Subúrbio para concentrar as compras do mês em um mercado de grande porte — e depois voltar, no ônibus lotado, cheio de sacolas, para casa. Já Carolina, que trabalha em uma clínica, também queria morar mais perto do trabalho para não perder duas horas no trânsito. Dona Maria, seu Francisco e Carolina podem ser muitos moradores de Salvador. Na verdade, eles representam algumas das milhares de pessoas que participaram do Plano Salvador 500 desde o ano passado. Segundo o secretário municipal de Urbanismo, Silvio Pinheiro, coordenador geral do projeto, a preocupação com o encur-

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tamento das distâncias por motivos como esses era um dos pontos mais frequentes levantados por quem participou do projeto. “Há uma forte demanda dos bairros periféricos de que sejam implementados estabelecimentos e empreendimentos de médio e grande porte nos locais onde moram. Tudo isso a gente está analisando para encontrar maneiras de dar mais autonomia a cada bairro, para que a pessoa não precise ter que sair, sempre pegando ônibus, metrô, e possa resolver mais questões no bairro onde vive”, explica o secretário. Só foi possível saber de demandas como essa depois do lançamento do Salvador 500, em março do ano passado. Desde o início, a proposta da prefeitura era garantir uma cidade melhor para os moradores e construir isso ao longo dos próximos 34 anos (35, na época do lançamento). Assim, quando Salvador completar 500 anos, em 2049, a ideia é que a cidade tenha muito mais oportunidades do que oferece hoje, além de deslocamento mais rápido e fácil, mais saúde e educação de qualidade. Em resumo, o plano é um projeto de desenvolvimento urbano de longo prazo que envolve vários estudos, realizados desde 2014, com a intenção de analisar a situação da cidade hoje e planejar a Salvador do futuro em dimensões territoriais, sociais, culturais e econômicas. Eles também pretendem saber como ela será em 2049 se nada for feito e definir o que devem priorizar para conseguir que ela se transforme em uma cidade com mais qualidade de vida. “Algumas coisas nos chamam atenção, como a falta de empregos. Nossa economia é muito estagnada e também existe um envelhecimento da população. Se nada for feito, a cidade continuará caminhando nesse processo, diminuindo o número de pessoas economicamente ativas e tornando a nossa economia mais frágil”, diz Silvio Pinheiro. Além de estudos técnicos, as expectativas da população para Salvador também fazem parte, oficialmente, do trabalho. Eles esperam que, com isso, a sociedade civil também participe das decisões. De 2014 até outubro de 2015, já foram realizadas sete audiências públicas, mais de 30 oficinas em bairros, cinco fóruns e um fórum internacional. Cerca de 4 mil pessoas estiveram presentes nos eventos.

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“As oficinas geraram um produto riquíssimo, porque elas são a leitura de quem vive a cidade, de quem vive os problemas. O plano vai ser resultado disso, porque é a leitura desse olhar em todos os níveis, desde o morador e o comerciante até de quem apenas trabalha em Salvador, associado à análise técnica”, explica a coordenadora técnica do plano, Tânia Scofield, que é presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF). Segundo Tânia, a maioria das sugestões dos moradores foi “abraçada” pela prefeitura. Entre as mais frequentes, também se destacaram os pedidos por me-

ESTAMOS ANALISANDO COMO DAR MAIS AUTONOMIA A CADA BAIRRO, PARA QUE A PESSOA POSSA RESOLVER MAIS QUESTÕES ONDE VIVE E NÃO PRECISAR PEGAR SEMPRE ÔNIBUS SILVIO PINHEIRO SECRETÁRIO MUNICIPAL DE URBANISMO

lhorias na saúde e na segurança. Para Tânia, o Salvador 500 pode tratar de violência de uma forma que não seja isolada. “E mesmo com o aumento em 50% na implantação de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) nos últimos dois anos, a questão da saúde também é um problema para eles”.

polos de empregos e serviços nos bairros Quanto à mobilidade, Tânia destaca a dificuldade que os moradores das três ilhas de Salvador (Ilha dos Frades, Ilha de Maré e Ilha de Bom Jesus dos Passos) encontram para chegar à cidade. “Eles têm muitos problemas internos, como a questão da articulação com Salvador. Eles sugeriram alternativas até como a possibilidade de ter um barco com horários certos de saída, como já acontece no sistema de transporte de ônibus”, conta. Já para o sistema de transporte coletivo, ela também ressalta que deve ser feito de maneira integrada

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— o que remete à questão do encurtamento das distâncias, lá do início. “Você não pode pensar o transporte de uma forma isolada. Há uma série de questões, porque você sai de Águas Claras para trabalhar no centro. Não é apenas implantar transporte de média e alta capacidade, mas distribuir melhor os polos de emprego e serviços pelos bairros”. Todos esses pontos devem ajudar a traçar o projeto, cujo prazo final para conclusão é março do ano que vem. Já as ações que serão definidas a partir dele, por outro lado, vão ser desenvolvidas a médio e longo prazo.

PDDU e Louos serão lançados até março de 2016 Os primeiros produtos do Plano Salvador 500 já poderão ser conferidos até março de 2016: a nova Lei de Ordenamento e Uso do Solo do Município (Louos) e o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU). “O plano, a Louos e o PDDU são os processos de discussão do planejamento urbano mais participativos de Salvador”, diz o secretário municipal de Urbanismo, Sílvio Pinheiro, coordenador-geral do Salvador 500. “Estimamos que, até o final de 2015, a Câmara vote o plano diretor e vote a Louos”. Com a aprovação dos dois pelos vereadores, a expectativa é de que isso impulsione o desenvolvimento de Salvador. O PDDU e a Louos foram aprovados em dezembro de 2012. Mas, em 2013, declarados inconstitucionais pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ-BA), que entendeu que as leis foram votadas sem participação popular e sem que vereadores tivessem acesso a emendas adicionadas ao texto. Além disso, o secretário Silvio Pinheiro diz que outras leis podem ser criadas a partir do Salvador 500. “O plano não envolve uma lei específica, ele pode vir acompanhado de algumas leis pontuais. Ele é muito mais amplo, muito mais de planejamento estratégico e possibilita isso”.

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Energia sob medida COELBA INVESTE EM PROGRAMAS INOVADORES PARA DEIXAR A REDE ELÉTRICA DO ESTADO MAIS SEGURA. ENTRE OS PROJETOS, SENSORES INTELIGENTES QUE SERÃO IMPLANTADOS NAS PRINCIPAIS CIDADES BAIANAS PARA REDUZIR AS PERDAS DE ENERGIA

A Coelba vai implantar 350 conjuntos de sensores inteligentes em áreas populosas do estado que vão reduzir as perdas de energia por conta de problemas técnicos. Os equipamentos, que já foram usados em fase de teste no circuito do Carnaval de 2015, são apostas da concessionária de energia em projetos inovadores que deverão tornar a rede elétrica no estado mais segura e reduzir o volume de desperdício de energia. Quando estiverem em operação comercial, um dos resultados esperados com o uso dos equipamentos é a redução nos custos da distribuidora com perdas de energia e, consequentemente, um alívio nas contas de luz. O programa é desenvolvido há oito anos e já recebeu mais de R$ 15 milhões em investimentos. O gerente corporativo de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da Coelba, Antônio Brito, acredita que a busca

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pela inovação é o caminho para a sustentabilidade dos negócios no mundo atual. Mais ainda em se tratando de uma empresa do setor elétrico, diz. “O caminho para as distribuidoras de energia é melhorar a eficiência operacional, ampliar a segurança e a qualidade”, aponta. No caso das redes elétricas inteligentes, conhecidas em inglês como Smartgrid, o que se espera é que os sistemas de controle permitam redução nas perdas de energia, tanto com uma quantidade menor de problemas, quanto a partir da identificação dos mesmos se resolva de maneira mais rápida. “Quando isto acontecer, teremos menos gastos e isso, naturalmente, vai se reverter em uma tarifa mais módica, acessível a um número maior de pessoas”, calcula. Antes de chegar ao mercado, os sensores trilharam todo o chamado ciclo de inovação, que passa pelo projeto de pesquisa, busca de fabricante e o aperfeiçoamento do processo industrial, entre outras etapas.

Coelba desenvolve, há oito anos, com investimento superior a R$ 15 milhões, sensor para identificar eventuais falhas no fornecimento de energia elétrica

Mas Brito ressalta que as empresas que investem em inovação ganham antes mesmo de os produtos chegarem até o mercado. “Quando se faz uma parceria com uma instituição de pesquisa, isso gera a capacitação das pessoas, além de identificar se um caminho é viável ou não”, diz. Para ele, o Brasil deveria investir mais em inovação. “Não é um tema devidamente tratado”, acredita, ressaltando que a existência de um cenário favorável à inovação poderia ajudar bastante a economia brasileira neste momento de crise econômica. “É preciso deixar a

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cultura do imediatismo. Quem inova pode ter resultados a médio ou longo prazos, mas são resultados sustentáveis”, aponta. “Hoje, o Brasil aceita ser fornecedor de commodities para o mundo, o que é importante, mas temos que diversificar e disputar o mercado de tecnologia”, ressalta o gerente de P&D. Este ano, a Coelba vai destinar R$ 6,3 milhões para investimentos em pesquisa e desenvolvimento, somente na Bahia. Nos últimos 10 anos, a concessionária de energia já investiu R$ 83 milhões em diversas ações de inovação. O programa de P&D da empresa conta atualmente com 14 projetos em andamento, sendo que seis são desenvolvidos em parceria com as demais distribuidoras do Grupo Neoenergia, nos estados de Pernambuco e no Rio Grande do Norte. As iniciativas do programa são voltadas para sustentabilidade, segurança, qualidade, combate a perdas (furto de energia) e redes inteligentes, áreas estabelecidas como prioritárias pelo Grupo Neoenergia.

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QUANDO ISTO ACONTECER (REDE ELÉTRICA INTELIGENTE), TEREMOS MENOS GASTOS. ISSO NATURALMENTE VAI SE REVERTER EM UMA TARIFA MAIS MÓDICA ANTÔNIO BRITO GERENTE DE P&D DA COELBA


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André Leal: projetos para melhorar a vida das pessoas com o plástico

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Inovação plástica QUARTA MAIOR EMPRESA EM INVESTIMENTO EM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO, A BRASKEM CRIOU PROGRAMA PARA IDENTIFICAR SOLUÇÕES INOVADORES, ESTIMULAR E FORTALECER O EMPREENDEDORISMO E NOVOS NEGÓCIOS NO PAÍS

Na orquestra Neojiba, a iniciação dos jovens músicos é feita através de violinos, violões e violoncelos de plástico. A produção de instrumentos a partir do PVC é um dos 19 projetos selecionados pelo Braskem Labs, programa da empresa de incentivo a empreendedores e de apoio a novos negócios voltados à sustentabilidade e à tecnologia. Os projetos foram selecionados a partir de 159 ideias iniciais em diversas áreas: saúde, educação, cultura, agronegócio, entre outras. O programa da Braskem, eleita a 4ª maior empresa em investimento em pesquisa e inovação no país, é realizado em parceria com a Endeavor Brasil. “O Braskem Labs é um programa de incentivo a empreendedores que têm projetos para melhorar a vida das pessoas com o plástico”, explica André Leal, coordenador de Responsabilidade Social da Braskem e responsável pelo Braskem Labs. Os projetos escolhidos participaram de fases de monitoria realizadas com líderes e executivos de grandes empresas nacionais. Negócios são analisados a partir da viabilidade, da gestão de negócio e da importância socioambiental para a sociedade.

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Como funciona o programa Braskem Labs? A gente fez parceria com a Endeavor Brasil, que trabalha com empreendedorismo de alto impacto na economia da sociedade. Eles têm nos ajudado a construir esse programa: o objetivo é identificar soluções inovadoras que utilizem o plástico para melhorar a vida das pessoas. Foram selecionados 19 projetos para que a gente consiga, utilizando a capacidade de apoiar através de mentorias (método comum utilizado pela Endeavor), transformar os projetos em negócios de fato. Ou, se eles já são negócios, que possam ganhar tração, velocidade no crescimento, de forma que aumentem o impacto de suas empresas ao longo dos anos. Como foi feita a seleção dos 19 projetos a partir dos 159 inscritos? Nosso desafio é encontrar soluções que melhorem a vida das pessoas através do plástico. Pode ser da área de saúde, construção, sistemas digitais com equipamentos eletrônicos… Não há restrição temática, precisa ser relevante. No Brasil, o investimento em pesquisa é feito mais pelo governo do que pelo setor privado. Nesse contexto, a Braskem é uma exceção, é uma das empresas que mais investem em inovação no país. Esse é um ecossistema de emprendedorismo que, no Brasil, ainda está abaixo do que poderia ser, mas que

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A GENTE IDENTIFICOU QUE PODERIA TER UM ESPAÇO PARA SE APROXIMAR DESSES PEQUENOS NEGÓCIOS está crescendo. Hoje, existem investidores focados em direcionar recursos em startups e negócios de impacto. Nos Estados Unidos, há uma cultura maior de investir na inovação de pequenos negócios, de fomentar o potencial de criação desse tipo de modelo. No Brasil, tem bastante espaço e potencial de inovação e criação de solução para resolver problemas do cotidiano das pessoas. Por isso, resolvemos fazer esse programa, porque a gente acredita que normalmente uma empresa pequena tem dificuldade de acessar as grandes corporações. E essas grandes empresas têm muito espaço para fazer com que essas pequenas cresçam de forma rápida e atinjam também seus objetivos e gerem ainda grande impacto. Mas o caminho costuma ser mais difícil. Então, identificamos que poderia criar esse espaço, pois já existe essa lógica de colaboração dentro da Braskem. Já é um modelo comum porque a Braskem faz inovação junto com empresas para desenvolvimento de tecnologia, mas que já têm algum porte. Como esse projeto da Braskem ajuda os pequenos negócios a se desenvolver? No Braskem Labs, identificamos que poderia ter um espaço para se aproximar desses pequenos negócios, que a gente não conhece o suficiente, mas que poderia abrir conexão. Esses pequenos negócios ainda não estão muito bem definidos, estão nascendo, ainda precisam de ajuda para desenvolver, aprender como levantar recursos, fazer gestão de finanças ou de pessoas. Os projetos precisam de uma série de apoios para que o novo negócio tenha potencial de crescimento mais acelerado em seus processos.

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Investimento em pesquisa rende frutos Líder mundial na produção de plásticos produzidos a partir de matéria-prima renovável, derivada do etanol da cana-de-açúcar, a Braskem foi eleita a quarta empresa mais inovadora do país, segundo o Anuário Inovação Brasil, ranking elaborado pelo jornal Valor Econômico e pela Strategy Consultoria. A Braskem se destaca pela alta produção, entre as quais, registra mais de 851 depósitos de patentes no Brasil e no exterior. A empresa acumula mais de 260 pesquisas em desenvolvimento e um investimento de R$ 230 milhões só em 2014. Em 2015, a Braskem anunciou investimento de R$ 1,5 milhão para aperfeiçoar o desenvolvimento de produtos e os serviços da petroquímica. Os novos laboratórios, localizados no Centro de Tecnologia e Inovação da Braskem, em Triunfo, Rio Grande do Sul, serão inaugurados pela empresa. A Braskem possui 35 fábricas distribuídas na Alemanha, Brasil e EUA.

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O projeto da Braskem capacita jovens baianos na confecção artesanal de instrumentos musicais de corda

A iniciativa da empresa estimula uma tecnologia social inovadora

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Indústria 4.0, abre espaço para a quarta revolução industrial A economia está prestes a dar um salto exponencial de competitividade, com a Indústria 4.0. Um novo ambiente produtivo no qual máquinas “conversam” com máquinas (M2M), tomando decisões de produção. Unidades em diferentes lugares trocam informações de forma instantânea sobre compras e estoques, superando o modelo atual, baseado no uso da computação. Está aberto o caminho da quarta revolução industrial. O termo Indústria 4.0 surgiu em janeiro de 2012, quando o governo alemão criou grupo de trabalho para definir uma política de desenvolvimento baseada em fábricas inteligentes, apropriando-se de novos conhecimentos, como a internet das coisas.

Revoluções industriais 1ª 1765

Há 250 anos, James Watt incorporou à máquina a vapor (que já existia) avanços que impactaram na indústria têxtil, aumentando em 3 vezes sua produtividade. Isso significou o fim da produção artesanal.

2ª 1913

Veio quando Henry Ford introduziu, em 1913, a linha de montagem. Logo, as demais manufaturas usavam esse processo que resultou em grande salto de produtividade. Surgia a era da produção em massa, especialmente na indústria automobilística.

3ª 1970

Resultou da introdução do computador no chão de fábrica. Era início dos anos 1970 e ainda não existiam os computadores pessoais, muito menos a internet. Gradualmente, computadores substituíram 120   Agenda bahia 2015 ou humanos, em tarefas repetitivas de risco. Houve forte impacto no barateamento de produtos.

Segmentos mais promissores Mobile Se os smartphones revolucionam a comunicação e as relações sociais, agora é a vez de serem afetados pela Indústria 4.0. A substituição do homem por máquinas inteligentes pode aumentar em 50% da produtividade do segmento, nos próximos anos.

Automobilístico Na Toyota, Nissan e Fiat, por exemplo, o tempo de desenvolvimento de um novo modelo caiu até 50%, desde 2010, quando designers e engenheiros passaram a usar informações digitalizadas e testes virtuais de peças.

Aeroespacial Na fábrica da Embraer, em São José dos Campos, operários que produzem o jato Legacy 500 começam a treinar, de forma virtual, o que farão no chão de fábrica um ano antes do início da produção. São 12 mil horas de testes antes de a aeronave fazer a primeira decolagem. Defeitos que normalmente são detectados somente com o avião no ar foram resolvidos ainda na fase de preparação. O tempo de montagem caiu 25%.


FUNDAMENTOS DA INDÚSTRIA 4.0

Na fábrica inteligente, trabalhadores, máquinas, produtos e matérias-primas se comunicam de forma tão natural quanto pessoas em rede social Sensores espertos dizem para as máquinas como elas devem processar Os processos governam a si mesmos em sistema descentralizado Sistemas embarcados espertos trabalham juntos, comunicando-se sem fio, tanto diretamente como nas ”nuvens”, a Internet das Coisas

Exemplos no Brasil A Kepler Weber, fabricante de silos para grãos, está desenvolvendo um novo equipamento que responde automaticamente às mudanças de temperatura e umidade. Amplamente usada no exterior, a ferramenta elimina a necessidade de ter um técnico de plantão em cada armazém.

A alemã Linde, da área de gases industriais, adotou um sistema de gerenciamento remoto. De um centro de operações em Jundiaí, no interior paulista, 50 engenheiros operam 33 unidades na América Latina. Se uma máquina apresenta um comportamento fora do padrão na unidade de Guayaquil, no Equador, ela é desativada por um clique no computador de um engenheiro em Jundiaí. Isso fez com que as unidades da Linde, que antes tinham cada uma cerca de 20 funcionários, trabalhem agora com equipes de três pessoas, com aumento de 30% na competitividade. Hoje, a unidade é referência da multinacional alemã no mundo.

Sistemas centralizados rígidos de controle das fábricas cedem lugar para inteligência descentralizada, com a comunicação máquina com máquina (M2M) no chão de fábrica Sistemas de controle industrial ficarão cada vez mais complexos e disseminados, possibilitando processos flexíveis e minuciosos Redes sem fio controladas permitirão que sistemas possam ser reconfigurados enquanto operam, algo impossível com sistemas conectados por fios ou de controle centralizado Novos desafios serão exigidos, exigindo mão de obra adequada aos novos conhecimentos, com evolução no mundo do trabalho. Nos países ricos, estima-se que 25% de todas as funções na indústria serão substituídas por tecnologias de automação até 2025

Exemplo na Bahia A empresa Pastar está desenvolvendo, com o auxílio do Senai Cimatec, o Doctor Farm, um dispositivo que antecipa condições que influenciem na produção de café, tais como pragas, falta de água ou necessidade de adubação. Com a Internet das Coisas, sensores “conversam” entre si indicando se está na hora de colocar fertilizantes, defensivos, ou água, aumentando a produtividade da lavoura. “Acelerada” cidades   121 pelo Cimatec, inovadoras  a Pastar atua no segmento agroindustrial e deverá comercializar o Doctor Farm até o final de 2016.



2

BAIXO CARBONO: A NOVA ECONOMIA MUNDIAL


SOLUÇÕES AS PROPOSTAS •

Equae Promover cus, tendeles a transi-

na população e nas

ções, visando a transi-

etur? ção para Resaquid economia min

empresas

ção para a economia

verde num eumquam, e inclusiva:si com velibus energias coribusciisi renová-

de baixo carbono •

Unir esforços e troca Regulamentar e

veis untibus e novas un tecnolo-

de experiência entre

gias, eficiente no uso

os diferentes níveis

estruturar o mercado

dos recursos naturais,

de poder para reduzir

de carbono no Brasil e

regulada para preve-

os impactos das mu-

estados. Criar estímu-

nir grandes externa-

danças climáticas

los à geração de oferta

lidades e muito mais equitativa e inclusiva

e demanda para garan•

Incentivar negócios

tir sua viabilidade

sustentáveis, visando •

Planejar políticas

o capital financeiro,

públicas, de médio

mas também equili-

Programar compras públicas mais susten-

e longo prazos, que

brando o capital natu-

táveis; e maior taxação

incrementem a nova

ral e o capital social

para quem mais polui

economia e crie a consciência pela sustentabilidade

124   Agenda bahia 2015

Realinhar incentivos, taxas e regula-

Investir em novos modelos de negócios


que criem riqueza

poluentes, projetadas pelo governo federal

para os shareholders

brasileira, assumida

e para os stakehol-

pela presidente Dilma

ders, mas com baixo

Rousseff nas Orga-

impacto para meio

nizações das Nações

ambiente •

Cumprir a meta

Definir no BNDES, o maior banco de

Unidas (ONU): reduzir

fomento do Brasil,

em 37% as emissões

uma política de inves-

Apostar em mode-

de gases causadores

timento e crédito que

los de negócio com

do efeito estufa até

estimule a economia

resíduo zero. Evitar

2025 e 43% até 2030,

de baixo carbono

os princípios de ex-

para tentar frear o

trair, fabricar, utilizar

aquecimento global

e descartar

Combater o desmatamento ilegal,

• •

Oferecer anual-

defender a preserva-

Investir em edu-

mente um volume

ção das florestas e

cação de qualidade

de financiamento

o replantio de áreas

é fundamental para

compatível com as

estratégicas e esti-

uma transição para a

metas de redução de

mular a agricultura

economia verde

emissões dos gases

sustentável

baixo carbono: a nova economia mundial    125


Ampliar e acelerar o

Estimular ainda

eólica, tendo o estado

alcance do Plano ABC

novas oportunidades

como referência de

(Agricultura de Baixo

em diversas áreas para

inovação nessa área

Carbono), através da

aumentar a compe-

capacitação técnica

titividade do estado

mais sustentável do

baiano com uma eco-

porte público integra-

produtor rural e do

nomia em modelo de

do na cidade; desesti-

crédito agrícola com

harmonia com o clima,

mular o uso do carro.

menores taxas para

com a preservação de

Inventário realizado

agricultura e pecu-

florestas, a agricultura

em Salvador revela

ária, que garanta a

sustentável e o uso

que 74% das emissões

maior preservação do

responsável da água

de gases do efeito

meio ambiente

estufa na cidade vêm •

Criar, nas estrutu-

do transporte

Criar na Bahia, esta-

ras organizacionais

do com maior número

dos ministérios e

de agricultores fami-

secretarias estaduais,

no Brasil, a realização

liares do país, linhas

unidades relaciona-

de inventário sobre

de crédito específicas

das com a Agricultura

emissões de gases

para fortalecer produ-

de Baixo Carbono

poluentes para a

ção de baixa emissão

Tornar obrigatória,

definição de políticas Incrementar o

públicas que possam

potencial da Bahia

reduzir o impacto das

Alinhar políticas que

para energias limpas

mudanças climáticas

permitam ter a agri-

e desenvolver tecno-

de carbono •

Implantar trans-

Criar estacionamen-

cultura sustentável

logia para fabricação

como oportunidade de

de equipamentos que

tos para bicicletas

negócio e diferencial

estimulem e tornem

próximos às principais

da Bahia também nas

mais acessíveis as

estações de trem, me-

exportações

energias solar e

trô e ônibus

126   Agenda bahia 2015


Incluir o inves-

Promover campa-

Planejar a recu-

timento em smart

nhas pela eficiência

peração da infraes-

gride como solução

energética da popula-

trutura verde, com

para reduzir perdas

ção e das empresas

gestão sustentável

e aumentar a efi-

da ocupação do solo, Gerenciar aterros

para assegurar a

com menor impacto

sanitários e investir

segurança hídrica de

ambiental

no esgotamento

cidades baiana

ciência do sistema,

COMPROMISSOS •

O secretário de

Salvador e boa parte

Fraga, afirmou que o

Meio Ambiente da

dos municípios da Re-

inventário sobre os

Bahia, Eugênio Spen-

gião Metropolitana. O

gases poluentes, di-

gler, garantiu que o

objetivo é recuperar as

vulgado pelo Fórum

projeto Semeando o

principais nascentes

Agenda Bahia, irá definir uma série de

Paraguaçu vai revitaO secretário de

ações da prefeitura

responsável pelo abas-

Cidade Sustentável

para tornar a cidade

tecimento de água de

de Salvador, André

mais sustentável

lizar o rio Paraguaçu,

baixo carbono: a nova economia mundial    127



Uma nova economia UM DOS PRINCIPAIS ESPECIALISTAS NO MUNDO EM SUSTENTABILIDADE, PAVAN SUKHDEV DEFENDE QUE A ECONOMIA VERDE E INCLUSIVA PODE CRIAR MAIS POSTOS DE TRABALHO, COM MENOR IMPACTO NO MEIO AMBIENTE

Um novo valor deve ser atribuído ao que é produzido no mundo. O capital ambiental e também social precisa entrar nessa conta. Uma matemática que prevê os custos indiretos, em que o “poluidor” acaba taxado e quem busca a lógica da economia circular, verde e inclusiva, incentivado. Quem defende é o economista indiano Pavan Sukhdev, um dos principais especialistas em sustentabilidade do mundo. Para Pavan, não há mais tempo a perder. A Conferência do Clima (COP de Paris), realizada em dezembro de 2015, na capital francesa, foi a última oportunidade para os líderes mundiais definirem ações para controlar as emissões dos gases do efeito estufa. E assim tentar frear os impactos causados no planeta pelas mudanças climáticas.


Pavan Sukhdev abriu o seminário Baixo Carbono: A Nova Economia Mundial. Antes de sua palestra, concedeu entrevista por e-mail ao CORREIO. “O Brasil é verdadeiramente a Capital Global do Capital Natural”. O especialista defende que esse “valor” seja contabilizado na economia do país. “O Brasil tem uma grande oportunidade e responsabilidade de liderar o debate sobre a transição para uma economia verde inclusiva”, destaca. Por que o senhor acredita que a economia de baixo carbono é a resposta para as futuras gerações? A atual economia, intensiva no uso do carbono e recursos naturais, com obsessão pelo PIB, também é chamada de “bown economy” ou “economia marrom”. Ela cria uma série de custos ocultos, chamados de externalidades, que causam significativas disparidades sociais e riscos ambientais. Estamos empurrando as fronteiras do planeta para além do limite e colocando em risco todo o futuro. Apesar de décadas de crescimento do PIB, ainda temos 800 milhões de pessoas indo dormir com fome e migrações em larga escala. Precisamos de uma economia diferente: com energias renováveis e novas tecnologias, eficiente no uso dos recursos, regulada para prevenir grandes externalidades e muito mais equitativa e inclusiva. Chamo esta economia de “economia verde e inclusiva”. Como o modelo atual e global de economia pode migrar para uma economia de baixo carbono?

130   Agenda bahia 2015

Pavan Sukhdev trocou o cargo de economista-chefe no alemão Deutsche Bank para estudar e defender uma nova economia mundial. Liderou na ONU o projeto TEEB (A Economia de Ecossistemas e da Biodiversidade), calculou os impactos na natureza (trilhões de dólares por ano) com os efeitos das mudanças climáticas e, atualmente, além de embaixador das Nações Unidas para o Meio Ambiente, é consultor internacional para empresas e governos em Economia Verde


A transição da colapsante “economia marrom” para uma estável e inclusiva economia verde, uma economia de permanência, é um desafio que necessita de muitas forças alinhadas. Tomadores de decisão do G-20 terão que realinhar incentivos, taxas e regulações, incluindo o reporte de performance, de alavancagem, além da taxação de empresas. Os líderes empresariais terão que repensar seus modelos de negócios na direção da Corporação 2020: criando riqueza para os shareholders (acionistas) e para os stakeholders (público estratégico para as empresas), ao mesmo tempo em que não criem danos para a sociedade. Quem vai pagar a conta da transição para a economia de baixo carbono? A formação de Capital Bruto no mundo é de 20% do PIB. Há US$ 15 trilhões de dólares em investimentos públicos e privados, em sua maioria no velho modelo de economia. Alguns são ativos irrecuperáveis, como investimentos em reservas de óleo e gás que se tornam sem valor pela regulamentação de emissões ou pelos baixos preços do óleo. Os custos ocultos da “economia marrom” (custos com saúde, recuperação de danos de tempestades e furacões, escassez de água fresca, etc) já estão sendo pagos pelos contribuintes. Não há “faturas adicionais” para uma “economia verde e inclusiva”. Investidores e contribuintes apenas precisarão parar de investir e gastar com a “economia marrom” e redirecionar recursos. Qual o principal obstáculo para o sucesso dessa transição? Vejo dois obstáculos principais. Primeiramente, os interesses consolidados. Os atuais segmentos da “economia marrom”, como a indústria global de óleo & gás, trabalham pela manutenção do status quo, apesar de terem conhecimento dos devastadores custos ocultos dos combustíveis fósseis. Eles subornam políticos e burocratas para decidirem contra o interesse público; eles pagam por pesquisas tendenciosas e falsas; eles fazem publicidade para persuadir cidadãos de que a resposta é “Carvão Limpo” ou que as “Areias Betuminosas de Alberta”, no Canadá, são uma grande bênção para a humanidade. Isto é um absurdo, que se acredita seja devido a um segundo obstáculo: a educação. Não há suficiente “propaganda

baixo carbono: a nova economia mundial    131


de interesse público” para combater a publicidade dos interesses consolidados, não há ensino suficiente nas escolas e universidades para explicar os riscos que estamos assumindo e as reais escolhas econômicas que dispomos como sociedade. Tudo isso é parte do obstáculo “Educação”. O senhor fala em custos ocultos dos combustíveis fósseis… Os custos ocultos do uso de combustíveis fósseis são os incomensuráveis custos da mudança climática. É um enorme prejuízo econômico e um dramático deslocamento social com o aumento da frequência e da intensidade de tempestades, ciclones e secas devido a mudanças climáticas causadas pela emissão dos gases do efeito estufa. Atualmente, produtos sustentáveis são mais caros. Como inverter essa lógica? Alguns custos são visíveis para os consumidores, alguns invisíveis, mas eles são pagos indiretamente por ambos. Por exemplo, os custos relativos à produção de hortaliças com o uso de pesticidas e fertilizantes estão contidos no preço do produto na prateleira do supermercado. Os custos escondidos ou invisíveis são as perdas de saúde, os custos médicos devido aos pesticidas, a perda de minhocas e da fertilidade do solo e assim por diante. Esses custos são parte das despesas de comprar hortaliças, mas não são cobrados pelo supermercado, dessa forma o consumidor é enganado. Mas, devido ao obstáculo “educação”, o consumidor não sabe disso. Acredito no princípio direcionador em que o “poluidor paga” — seja por meio de impostos pela poluição, ou taxas específicas, ou por sua não inclusão em programas de incentivos a não poluidores, a negócios sustentáveis. O senhor diz que o modelo de Produto Interno Bruto está ultrapassado. Como um novo modelo pode ser apresentado? PIB é estimativa do valor final dos bens e serviços produzidos em um país. Ele não leva em conta a depreciação do “Capital Natural” empregado, e as enormes mudanças na saúde do ecossistema e dos minerais de uma nação não são contabilizadas.

132   Agenda bahia 2015


Mudanças nos capitais humano e social não são contabilizadas, e o aporte de recursos em educação é tratado apenas como mais uma despesa, e não como investimento no “Capital Humano”. Não estamos medindo a verdadeira riqueza nacional. Isso pode ser mudado pelo emprego da contabilização da “Riqueza Inclusiva” ou “Riqueza Abrangente” ou pela contabilização do PIB ambientalmente ajustado. Devemos considerar tanto os acréscimos quanto os decréscimos em todas as dimensões da riqueza pública, porque elas contribuem para o bem-estar social. Como o Brasil se encaixa neste contexto? O Brasil é verdadeiramente a Capital Global do Capital Natural, por causa de sua grande massa de terra, suas florestas, ativos no subsolo e o maior sistema de água doce do mundo: a Amazônia. O Brasil pode e deve integrar o Capital Natural em suas Contas Nacionais, utilizando o mais recente Sistema de Contabilização Ambiental e Econômica das Nações Unidas (SEEA). Além disso, o Brasil tem uma grande e talentosa geração jovem e foco considerável sobre a educação, por isso deve também integrar nas Contas Nacionais esta criação contínua de “Capital Humano”. O Brasil pode assumir uma posição de liderança no debate global sobre uma Economia de Baixo Carbono? O Brasil tem uma oportunidade e a responsabilidade de liderar o debate sobre a transição para uma economia verde inclusiva. Florestas e as emissões de carbono do agronegócio são uma grande parte das emissões globais e o Brasil tem massa crítica suficiente em ambos para liderar o diálogo sobre um regime de carbono terrestre mundial: indo além do REDD + (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). O Brasil pode ser um participante-chave no mercado global do futuro. De onde virão as oportunidades para executivos, trabalhadores e também consumidores numa Economia de Baixo Carbono? Um modelo econômico está em estudo pela Comissão da União Europeia, através

baixo carbono: a nova economia mundial    133


da evolução de suas propostas de Economia Circular. Conceber e gerir a produção de uma forma que otimiza materiais, evita as emissões e “fecha o ciclo” para resíduos orgânicos e técnicos é um meio de criar novos e muitos mais postos de trabalho que

ESTAMOS EMPURRANDO AS FRONTEIRAS DO PLANETA PARA ALÉM DO LIMITE E COLOCANDO EM RISCO TODO O FUTURO

no antigo modelo industrial linear do “tomar-fazerdispor” (take-make-waste), que é eficiente em termos de mão de obra, em um caminho estreito, mas muito ineficiente no uso de recursos. O Brasil poderia explorar oportunidades na agricultura sustentável e em uma variedade de tecnologias e produtos: projetos de transformação de resíduos em energia; fabricação de carros elétricos, usando a tecnologia tornada pública pela TESLA; aviões a biodiesel e extração sustentável e certificada de madeiras e produtos florestais.

O PIB NÃO LEVA EM CONTA A DEPRECIAÇÃO DO CAPITAL NATURAL E DAS MUDANÇAS NO CAPITAL HUMANO E SOCIAL

Quais as suas expectativas para a Conferência do Clima, em Paris? Existem possíveis resoluções que poderiam impactar as futuras gerações? A COP de Paris é, provavelmente, a nossa última oportunidade para uma aliança entre governos, empresas e sociedade civil, com o marco regulatório internacional para controlar e limitar as emissões de Gases de Efeito Estufa. Há regulações necessárias para as emissões de energia e florestais (os chamados “carbono marrom” e “carbono verde”). Se perdermos essa chance e a credibilidade dos governos, a responsabilidade passa para os cidadãos e as empresas.

134   Agenda bahia 2015

CONCEBER E GERIR A PRODUÇÃO DE FORMA QUE OTIMIZE MATERIAIS, EVITE EMISSÕES E ‘FECHE O CICLO’ PARA RESÍDUOS ORGÂNICOS E TÉCNICOS É UM MEIO DE CRIAR NOVOS E MUITOS MAIS POSTOS DE TRABALHO


A China e os Estados Unidos, neste momento, são aliados ou obstáculos para a Economia de Baixo Carbono? Os compromissos já assumidos pela China e os EUA mostram seus presidentes como aliados no processo de transição para uma economia verde inclusiva. No entanto, as políticas nacionais nas duas nações não estão ainda alinhadas à visão compartilhada pelos países, e há interesses consolidados dentro dos EUA que são obstáculos. Por exemplo, 97% das exportações do Canadá de petróleo bruto vão para os EUA (33% das importações). A extração de petróleo canadense, principalmente a partir das areias betuminosas de Alberta, é muito intensiva no uso de energia, altamente poluente e resulta em gigantescos lagos tóxicos de águas residuais que destroem a biodiversidade. O senhor acredita que, além da proposta de criação de novas regras econômicas, os governos deveriam dar o primeiro passo, com iniciativas como programas de compras públicas? Compras públicas verdes (energia, edifícios, carros, etc) através de políticas é uma forma eficaz de sinalizar para o mercado que uma grande fonte de demanda virou “verde” e representa uma oportunidade de negócios sustentáveis. O Deutsche Bank lhe trouxe ferramentas ou inspiração para desenvolver o estudo TEEB? Quando entrei para o Deutsche Bank, em 1994, já estava pensando sobre os valores invisíveis não mercantis da natureza, que ninguém parecia reconhecer, e sobre a importância de uma economia livre de resíduos. Os meus colegas no banco sempre apreciaram meus interesses incomuns e não se surpreenderam quando o meu hobby da economia ambiental finalmente resultou na minha nomeação como líder do TEEB e da Iniciativa Economia Verde do PNUMA. Tomei licença sabática de dois anos do Deutsche Bank e, finalmente, deixei o banco em 2011 para assumir uma bolsa de estudos na Universidade de Yale e escrever Corporação 2020.

baixo carbono: a nova economia mundial    135


O nascimento de suas filhas influenciou em sua decisão de deixar o Deutsche Bank e perseguir os objetivos relacionados à Economia Verde? Minhas filhas nasceram em 1988 e 1990, enquanto estava trabalhando para o ANZ Bank, na Índia. Minha filha mais velha, Mahima, gostava de visitar a natureza selvagem desde que tinha 3 anos, e minha filha mais nova, Ashima, era entusiasta da “reciclagem” desde que tinha 3! Então, no momento em que entrei no Deutsche Bank, em 1994, já estava pensando muito sobre a importância da economia verde.

EDUCAÇÃO É UM DOS DOIS OBSTÁCULOS MAIS IMPORTANTES PARA UMA ECONOMIA VERDE INCLUSIVA

Como os pais podem preparar seus filhos para os desafios que se apresentam no planeta, como as mudanças climáticas? Educação é um dos dois “obstáculos” mais importantes para uma economia verde inclusiva. Assim, exorto todos os pais a se familiarizarem com essas ideias e modelos, pois são do mundo dos seus filhos. É tamanha a responsabilidade dos pais de educar as crianças sobre os maiores riscos e oportunidades do futuro quanto é a responsabilidade de escolas, universidades e governos.

O BRASIL TEM UMA OPORTUNIDADE E A RESPONSABILIDADE DE LIDERAR O DEBATE SOBRE A TRANSIÇÃO PARA UMA ECONOMIA VERDE INCLUSIVA

136   Agenda bahia 2015

Qual a importância de participar de um debate como o proposto pelo Fórum Agenda Bahia? Estou ciente da importância histórica e demográfica da Bahia. Salvador foi a primeira cidade nos tempos coloniais, em seguida, a capital, e a terceira maior no Brasil. Estou ansioso para essa visita.


COMPRAS PÚBLICAS VERDES ATRAVÉS DE POLÍTICAS É UMA FORMA EFICAZ DE SINALIZAR PARA O MERCADO QUE UMA GRANDE FONTE DE DEMANDA VIROU ‘VERDE’

O Estado da Bahia tem a terceira maior cidade do Brasil (Salvador), a segunda maior baía do mundo (a Amazônia Azul, como é conhecida por seu tamanho e biodiversidade), plantações de eucaliptos e vai ser o primeiro estado a ter um complexo que mistura geração de energia eólica e solar. Como pode o estado caminhar rumo a uma Economia de Baixo Carbono? Quando você explora as oportunidades que a “economia verde inclusiva” apresenta para um país tão rico em capital natural e humano, como o Brasil, incluindo a Bahia, sem dúvida, você vai encontrar muitas oportunidades para novos modelos de negócios e novas políticas governamentais e mecanismos que podem ajudar e promover essa transição. Essa transição precisa ser conduzida pelos líderes de negócios, por isso, há também a necessidade de um novo modelo, responsável e ético de negócios — o que eu chamo de Corporação 2020!

baixo carbono: a nova economia mundial    137


Economia circular PARA OS ESPECIALISTAS, O MODELO TRADICIONAL DA ECONOMIA — LINEAR, BASEADO EM PRINCÍPIOS COMO ‘EXTRAIR, FABRICAR, UTILIZAR E DESCARTAR’ — NÃO ATENDE MAIS. É PRECISO INVESTIR EM ECONOMIA QUE SE RESTAURE SEM GERAR RESÍDUOS

A economia — assim como os seres humanos — deve aprender com o planeta. Há bilhões de anos, desde a formação da Terra, os sistemas naturais se comportam de uma maneira circular. Ou seja: se restauram ou se regeneram sem produzir resíduos. E, para as autoridades em sustentabilidade, esse mesmo conceito pode ser transposto para a economia. “Nós, por outro lado, temos apenas milhares de anos. Precisamos elaborar sistemas econômicos e processos para chegar a zero resíduo. Isso deve se tornar um recurso retornável e trazer mais valor”, explica o economista indiano Pavan Sukhdev, durante sua palestra no Fórum Agenda Bahia. O modelo tradicional, que atende por economia linear, é bem conhecido: extrair o material da natureza, fabricar, utilizar e, por fim, descartar (jogar fora mesmo, como lixo). Só que, diante de um cenário de mudanças climáticas que alertam para a ne-

138   Agenda bahia 2015


cessidade de transformações nos métodos de produção e consumo, essa realidade se mostrou insustentável. “Precisamos fazer parte de uma economia que utilize materiais biológicos em cada um dos estágios em que isso for possível, onde haverá coleta de resíduos e também que vai resultar em empregos extras”, defende ele, que afirma que esse tipo de mudança também promoverá inclusão social. “Interesses como sustentar o consumo de energia e promover o acesso a mercados podem fazer com que serviços sejam fornecidos com custos mais baixos para o meio ambiente e para a sociedade”. Nesse contexto, novos negócios, principalmente ligados à inovação, podem ser acrescentados aos movimentos da economia verde. E, para isso dar certo, o diretor de Sustentabilidade da Braskem, Jorge Soto, defende que o setor empresarial tem um papel relevante. “No futuro, não haverá sustentabilidade sem formas inovadoras”, completou. Jorge Soto foi moderador do painel Conferência do Clima: Como o Brasil Pode Ser um dos Líderes na Transição para Economia de Baixo Carbono. Além de Pavan, participaram desse debate Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), e Rachel Biderman, diretora do World Resources Institute (WRI), no Brasil. Para a economista Marina Grossi, a economia circular é uma “tendência no mundo”. Ela defendeu que é preciso compreender sustentabilidade como algo “além de um rótulo”. Ela defende que a gestão dos negócios precisa integrar a busca por retornos financeiros, mas não só isso. Deve se preocupar com os impactos ambientais e sociais gerados pela atividade. “Não se trata de uma coisa que não faz sentido para os negócios. Significa que, além de ter um retorno financeiro, você pensa também no capital natural e no capital social. É preciso ter uma visão de longo prazo, um novo olhar sobre os negócios”, diz. Dentro desse conceito, defende ela, está o de que nenhuma empresa pode ser sustentável sem olhar o ambiente em torno dela. “Nenhuma empresa pode obter sucesso dentro de um ambiente falido. Empresas que atuam em locais muito pobres, por exemplo, percebem isso em suas rotinas diárias”, lembra.

baixo carbono: a nova economia mundial    139


REAPROVEITAMENTO

A proposta é que os materiais retornem ao ciclo produtivo em vez de serem descartados como lixo. O gráfico foi utilizado por Pavan Sukhdev em sua palestra no Fórum Agenda Bahia para explicar como deve funcionar a nova economia

nutrientes biológicos

caça e pesca

FABRICANTE DE PEÇAS

matéria-prima bioquímica

restauração

FABRICANTE DE PRODUTOS

BIOSFERA PROVEDOR DE SERVIÇOS

CONSUMIDOR cascatas biogás

compostagem

coleta

RECUPERAÇÃO DE ENERGIA extração de matéria-prima bioquímica

ATERRO

140   Agenda bahia 2015


nutrientes técnicos

mineração/ fabricação de materiais

FABRICANTE DE PEÇAS

reciclagem FABRICANTE DE PRODUTOS recondicionar e remanufaturar

PROVEDOR DE SERVIÇOS

reúso e redistribuição manutenção

USUÁRIO

coleta

vazamentos para serem minimizados

baixo carbono: a nova economia mundial    141


Marina Grossi, presidente do CEBDS, defende mercado de carbono

Rachel Biderman, diretora do WRI Brasil: incentivos para economia verde

Jorge Soto, diretor da Braskem: inovação aliada à sustentabilidade

142   Agenda bahia 2015


PRECISAMOS REGULAR NÃO APENAS O CARBONO, COMO TAMBÉM A ÁGUA POTÁVEL PAVAN SUKHDEV EMBAIXADOR DA ONU PARA MEIO AMBIENTE E UM DOS PRINCIPAIS ESPECIALISTAS NO MUNDO EM SUSTENTABILIDADE

Rachel Biderman lembra que os impactos das mudanças climáticas atingem a vida na terra como um todo — por isso, o esforço para evitar o aquecimento deveria ser geral. Ela ressalta que é importante incorporar o assunto ao planejamento de todas as atividades. “Há uma grande discussão em relação a como resolver o problema sem parar o desenvolvimento. Mas há outra questão, que deveria vir antes desta: é preciso definir o que vai ser feito para evitar que a temperatura do mundo se eleve mais de 2ºC”, avisa, lembrando ser este um limite que não pode ser

A GENTE TEM QUE ENFRENTAR O DESAFIO DE LEVAR A ECONOMIA PARA MAIS PERTO DO MEIO AMBIENTE RACHEL BIDERMAN DIRETORA DO WRI BRASIL

transposto.

Desconhecimento é maior obstáculo A principal bandeira do setor empresarial para a Conferência do Clima de Paris, a COP21, era a da estruturação do mercado de carbono, diz economista Marina Grossi, presidente do CEBDS. Por ela, as empresas que emitem pequenas quantidades de carbono ganham créditos que podem ser vendidos para outras que emitem grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera e precisam compensar. “Isso está sendo pensado como uma bandeira concreta”, diz. Marina Grossi diz que, no Brasil, o maior desafio para a estruturação desse mercado está na falta de conhecimento do setor público. Recentemente, numa reunião no Ministério das Relações Exteriores, lembra de ter ouvido que a estruturação seria muito ruim para as empresas — quando o cenário, segundo ela, é o oposto. “Mostrei que não só o setor produtivo acha interessante

baixo carbono: a nova economia mundial    143


e levanta a bandeira, como já se está trabalhando para estruturar o mercado”, afirma. Como se fosse pouco a falta de conhecimento da diplomacia brasileira, ela lembra que o problema se repetiu no Ministério do Meio Ambiente. “Em muitos casos se faz confusão com o pagamento por serviços

NO FUTURO NÃO HAVERÁ SUSTENTABILIDADE SEM FORMAS INOVADORAS JORGE SOTO DIRETOR DE SUSTENTABILIDADE DA BRASKEM

ambientais”, destaca Marina Grossi. A presidente do CEBDS conta que o cenário gerou a perda de recursos, disponibilizados pelo Banco Mundial. “O Ministério da Fazenda tem desenvolvido vários estudos atualmente, mas parte dos recursos se perdeu

da oferta de incentivos para quem se adequa aos novos

É PRECISO TER UMA VISÃO DE LONGO PRAZO, UM NOVO OLHAR SOBRE OS NEGÓCIOS MARINA GROSSI

paradigmas pode tornar o processo menos “doloroso”,

PRESIDENTE DO CEBDS

por conta da demora em relação aos projetos”, conta.

Regra existe, mas falta regulamentar Enfrentar a adaptação para a economia verde a partir

defende a diretora do World Resources Institute no Brasil (WRI Brasil) Rachel Biderman. “A gente precisa enfrentar o desafio de levar a economia para mais perto do meio ambiente. Isso pode acontecer de uma maneira menos dolorosa na forma de oportunidade. Para isso, é preciso se pensar no mercado de carbono”, acredita. Rachel lembra que existem exemplos bem-sucedidos no mundo e cita os Estados Unidos e a Europa como regiões em que os brasileiros podem se inspirar. No Brasil, lembra ela, já existe legislação prevendo a criação de um mercado de carbono, mecanismo visto como eficiente para estimular as empresas a dar uma

144   Agenda bahia 2015


guinada rumo à sustentabilidade. “A gente tem uma lei aprovada em 2009, que criou o mercado de carbono. Há estudos para entender o tamanho desse mercado no Brasil. Ele é possível, é viável e nós só precisamos enfrentar esse desafio e colocá-lo em prática”, explica. “As condições estão instaladas, falta apenas a normatização, que deve ser feita pelo governo, porque o mercado não pode existir sem isso”, acredita Rachel.

Mercado pode ser voluntário Não é porque nem mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) formalizou um sistema de precificação do carbono que os países não podem aproveitar esse mercado para desenvolver sua economia verde. Para o economista indiano e embaixador da ONU para o Meio Ambiente Pavan Sukhdev, esse é o momento de investir em mercados voluntários. “Isso é muito importante para o Brasil. Precisamos regular não apenas o carbono, como outros potenciais, como a água potável. Os mercados voluntários podem ser trabalhados e podemos encontrar mudanças a partir do tamanho dos mercados”, diz. É possível ter essa diversificação de mercados porque há diferentes “cores” de carbono: desde o verde, que vem do reflorestamento, até o preto, oriundo da queima de combustíveis fósseis, e o azul, armazenado no mar. “Tem empresas que querem ser neutras em seu impacto de carbono. Os consumidores estão tentando reverenciar os produtos feitos por essas empresas neutras. Não ser oficial não quer dizer que não é parte de nossos sistemas, mas que os investidores vão aumentar o interesse com o tempo”, afirma.

baixo carbono: a nova economia mundial    145


A vez do Brasil PAÍS PODE SER UM DOS LÍDERES NA NOVA ECONOMIA MUNDIAL, QUE DEVE SER VERDE E INCLUSIVA. PARA SAIR NA FRENTE, ALERTAM OS PALESTRANTES, TEM QUE INVESTIR EM EDUCAÇÃO E TIRAR DO PAPEL PROMESSAS PARA REDUZIR EMISSÃO DE CARBONO

Se tem alguém que pode ser líder na nova economia mundial — baseada em baixas emissões de gases poluentes e causadores do efeito estufa — é o Brasil. “Se reconhecerem isso, pode levar o Brasil a ser um dos países mais importantes, o quarto do mundo”, analisa o economista indiano Pavan Sukhdev, consultor internacional e embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Meio Ambiente. Para Pavan, chegou a hora de o Brasil chamar a responsabilidade para si. Só que não há um caminho simples para conseguir isso. Pavan é enfático: problemas complexos exigem soluções complexas. E, por problemas, dá para entender uma abrangência de situações que estão todas conectadas e incluem desde a degradação de ecossistemas até a eliminação de empregos. “Sabemos que as pessoas mais vulneráveis são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, mas isso não é um problema só do Brasil”, pondera.

146   Agenda bahia 2015


Para levar o país nessa direção, Pavan Sukhdev afirma que é preciso decisão política e um recado claro dos governos. “Nós, então, criamos oportunidades em diversas áreas, como na área florestal, quando mudamos a matriz energética e utilizamos resíduos domésticos e da agricultura para serem convertidos em energia. Essas são oportunidades que vão surgir a partir de uma liderança que o país já tem”, diz, referindo-se às iniciativas individuais e empresariais que já demonstram interesse por essa área no país. Durante a Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro de 2015, a presidente da República, Dilma Rousseff, ressaltou a redução no ritmo do desmatamento no país e anunciou o lançamento do Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas. O Brasil planeja reduzir em até 43%, até 2030, a emissão dos gases que provacam o efeito estufa, com base em 2005, proposta anunciada na COP21. Para Pavan Sukhdev, os objetivos do país representam um passo importante e são possíveis de ser atingidos. “Acredito que isso vai levar a economia do Brasil a se tornar uma economia mais verde e inclusiva, onde temos melhores oportunidades e que podemos ter desenvolvimento sem destruir o meio ambiente. Não tem que ser uma coisa ou outra. Elas podem andar de mãos dadas. Os dias em que a gente deixava para resolver os problemas mais tarde já passaram”, afirmou. Mas como isso pode ser feito? Segundo ele, há três vertentes que devem ser priorizadas. Primeiro, vem o capital humano. Na prática, isso significa uma população jovem, mas que ainda pode ser absorvida e treinada pelo sistema educacional brasileiro. A realidade é diferente da Índia, considerada “em desenvolvimento”. Lá, segundo Pavan, é improvável que o governo consiga oferecer formação universitária de qualidade para mais de 220 milhões de pessoas com idades entre 15 e 24 anos. “Já o Brasil está bem posicionado. Vocês já têm as universidades, mas a educação universitária tem que ter mais qualidade, mais investimento do governo. As pessoas precisam de mais treinamento, de novas habilidades. Se você fizer esse tipo de investimento, as mudanças serão possíveis”. Em sua palestra, Pavan também comparou o país à China e mostrou que, a longo prazo, o Brasil terá mais população jovem. Por isso, o investimento no capital huma-

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no é essencial, destaca. O segundo ponto, o Brasil já leva vantagem: capital natural. São todos os recursos naturais do país, incluindo água, ar e o solo, que podem ser utilizados para gerar bens e serviços. Isso leva ao terceiro ponto para a economia verde e inclusiva, que é como isso deve ser administrado. “O Brasil tem uma grande liderança. Em nenhum país que eu tenha visitado encontro tão frequentemente empresas interessadas. Tem problemas políticos e econômicos, mas tem soluções e líderes para essas soluções”. Mas existem diversos desafios. Entre eles, a crise hídrica, como acontece na Represa de Sobradinho, na Bahia, com baixo nível da água. E, para completar o caminho, é preciso investir em inovação de diferentes formas — inclusive, aceitando sugestões dos mais jovens e de estudantes. Para isso, tanto o setor privado quanto a administração pública podem promover prêmios que estimulem essas ideias. “É importante ver como pode avançar para levar isso a um próximo nível. A universidade é um lugar onde novas ideias podem ser encontradas”, avalia o economista. Para Pavan, o momento é de focar em uma economia circular — que utilize materiais biológicos, com coleta de resíduos e que resulte em mais empregos. “Vocês têm ingredientes, têm o bônus demográfico. Não tem mais desculpas (para não desenvolver economia verde e inclusiva)”, provocou.

Novas Oportunidades As ações anunciadas pelo Brasil na COP 21 representam grandes oportunidades econômicas, ressalta a diretora

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O QUE O BRASIL PRECISA FAZER PARA MELHORAR Agenda positiva A adaptação da economia para um modelo em harmonia com o clima, com a preservação de florestas, a agricultura sustentável e o consumo responsável da água, pode render boas oportunidades de negócios Crédito Oferecer anualmente um volume de financiamento compatível com as metas de redução de emissões projetadas para o ano de 2020 Nordeste Definir com o Conselho Deliberativo do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), através da Sudene, a criação de linhas de financiamento específicas para o Plano ABC, a exemplo do que já fizeram os fundos constitucionais do Centro-Oeste e do Norte Agricultura familiar Criar linha de crédito específica para as tecnologias da agricultura de baixa emissão de carbono dentro do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), permitindo que o recurso seja distinguido do utilizado para outras finalidades distintas, mas previstas nas linhas Pronaf Eco e Pronaf Florestal Banco Central Reavaliar os procedimentos e exigências previstos no Manual de Crédito Rural do Banco Central para a liberação do crédito, tendo em vista a redução do tempo de avaliação dos projetos


do instituto World Resources Institute no Brasil (WRI Brasil), Rachel Biderman. A presidente Dilma Rousseff anunciou metas de restaurar 12 milhões de hectares de terra e planos de recuperar 15 milhões de hectares de pastagens. “O que acontece muito, e a gente percebe pelo anúncio que a presidente fez em relação às metas do país para o clima, é que a gente costuma ter boas declarações, boas leis, como a de serviços ambientais, mas eu acho que a gente costuma falhar é na implementação”, ressalta Rachel Biderman. A economista Marina Grossi diz que o maior desafio do país é o de “aproximar a economia e o clima”. Ela diz que há uma ideia equivocada de que a economia verde pode comprometer os negócios. “Trabalhamos com a promoção de redes empresariais para a discussão de soluções relacionadas a florestas, clima, energia biorrenovável, cimentos. Através de parcerias, buscamos entregar soluções de negócios”, diz.

Divulgação Assegurar que haja alocação de recursos financeiros, materiais e humanos para as ações de divulgação, treinamento e capacitação de pessoal de forma proporcional ao esforço do Tesouro Nacional com a equalização de juros, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte Assistência Concentrar esforços de assistência técnica e treinamento para a melhoria de gestão das propriedades, a fim de garantir a implementação das medidas Multiplicadores Investir na capacitação de técnicos em Ciências Agrárias, analistas bancários e projetistas, focando a orientação dos mesmos nos objetivos estabelecidos pelo Plano ABC Apoio institucional Criar, nas estruturas organizacionais dos Ministérios e secretarias estaduais, unidades relacionadas com a Agricultura de Baixo Carbono

Cadeia de negócios beneficiada Para Rachel Biderman, promover uma economia de baixo carbono pode ser uma grande oportunidade para o Brasil. “Existe uma cadeia de negócios que poderá se beneficiar com isso. A sociedade precisa se adequar a um novo modo de viver”, pontuou Rachel. Uma alternativa pode ser seguir o mesmo caminho da China. Embora o país asiático ainda tenha sua economia baseada no carvão mineral, está se tornando líder na produção de energia solar. “A China criou um

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NA BAHIA Bahia Marina A presidente do CEBDS, Marina Grossi, destacou que a Bahia vem ocupando uma posição cada vez mais importante no Brasil em relação à produção de energia limpa Bom Jesus da Lapa A cidade, a 780 quilômetros de Salvador, é a que possui o maior potencial para a geração de energia solar do país Saber administrar É preciso identificar quais são as necessidades de investimento, além de tempo e dinheiro disponíveis para melhor administrar os recursos

comércio local de carbono. Outro exemplo de lá está no investimento em restauração em larga escala. O México está investindo em energia solar. A troca de tecnologias é fundamental”. Ainda assim, já há a colaboração do setor privado. “Existe uma conscientização em relação ao problema por parte de 99% dos executivos brasileiros”, disse a economista e presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina

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Jorge Soto foi o moderador do painel Conferência do Clima: Como o Brasil Pode Ser um dos Líderes na Transição para a Economia de Baixo Carbono, com os debatedores Marina Grossi, Rachel Biderman e Pavan Sukhdev

Grossi. Agora, é preciso existir colaboração para encontrar soluções. “Hoje, existe um movimento forte no Ministério da Fazenda, no sentido de usar recursos do Banco Mundial, que é o braço econômico da ONU, para aproveitar oportunidades das mudanças climáticas. O problema é que se demorou muito e se perderam oportunidades importantes”, destacou.

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Como sair da promessa? EM 2009, O BRASIL FOI PIONEIRO NO PROCESSO DE ADAPTAÇÃO À ECONOMIA DE BAIXO CARBONO. O PAÍS ESTABELECEU METAS VOLUNTÁRIAS DE REDUÇÃO NAS EMISSÕES, MAS NÃO ESTÁ CUMPRINDO O QUE PROMETEU DE FORMA VOLUNTÁRIA

Se o processo de adaptação da economia às mudanças climáticas pudesse ser comparado a uma corrida de cavalos, o Brasil poderia ser facilmente comparado ao chamado cavalo paraguaio — aquele que no jargão dos jóqueis dispara na frente no início da disputa, porém vai perdendo força e acaba ultrapassado pelos outros. Espontaneamente, o país estabeleceu metas de redução nas emissões. O problema é que o Brasil não está cumprindo o que decidiu fazer de maneira voluntária. O mundo está ficando cada vez mais quente, com graves prejuízos para a continuidade da vida no planeta. Esse cenário é causado pela destruição da camada de ozônio, provocada pela emissão de gases do efeito estufa, principalmente pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo e derivados, e pelo desmatamento. No primeiro semestre deste ano, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) registrou o perío-

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do mais quente já registrado na história. Aqui no Brasil, os principais desafios estão no aumento do consumo de energia a partir de combustíveis fósseis, reduzir o desmatamento ilegal e ampliar as ações para uma agricultura de baixo carbono, destaca a pesquisadora Mariana Xavier Nicolletti, da Fundação Getulio Vargas. Ela diz que faltam sinais práticos de uma transição para a economia de baixo carbono no Brasil. “Há sinalizações do governo, com a possibilidade de assumir um

PROCESSOS QUE EMITEM MAIS GASES (EM %) Tratamento de efluentes 3 Produção industrial 6 Produção de energia e combustíveis

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posicionamento mais ambicioso na COP 21 (Conferência Mundial do Clima, em Paris, em dezembro de 2015)”, lembra. Segundo ela, esses atos simbólicos são importantes, entretanto, é preciso “ver os desdobramentos em políticas públicas nacionais para que as metas sejam alcançadas”. Falta a percepção de que a mudança é estratégica para o futuro, diz Mariana. “Ainda existe uma ideia de que os investimentos na economia de baixo carbono podem ser protelados, principalmente agora no atual

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Agricultura e pecuária

contexto de crise”, lamenta Mariana. “A gente tem uma conquista grande em relação ao desmatamento, que se reflete nas emissões brasileiras, mas, por outro lado, temos um desafio grande na geração de energia e também na agropecuária”, ressalta.

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Bomba térmica Com a crise hídrica, que reduziu a oferta de água nos reservatórios das grandes hidrelétricas brasileiras, o país Desmatamentos e queimadas

vem garantindo o abastecimento de energia utilizando cada vez mais energia térmica, produzida sobretudo à

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base de derivados de petróleo. Segue no caminho inverso ao que deveria, acredita a diretora do CDP Latin América, Juliana Lopes. Ela explica que a necessidade de evitar o aquecimento do planeta é o pano de fundo para uma série de mudanças e o estabelecimento de uma economia baseada no baixo consumo de carbono. “O Brasil estabeleceu metas para a redução das emissões entre 36% e 38% até o ano de 2020. Com o compromisso do governo, houve a construção de uma série de plataformas setoriais, envolvendo o manejo de ecossistemas e mudanças operacionais no setor produtivo, principalmente na indústria”, lembra Juliana. O problema é que o ímpeto apresentado inicialmente pelas autoridades brasileiras não vem sendo mantido, diz a diretora do CDP. “Hoje, se compararmos a situação no Brasil com a de outros países, alguns que nem tinham uma posição tão destacada na discussão inicial, percebemos que estamos ficando para trás”, avisa. Juliana Lopes acredita que o principal problema por aqui está no setor energético, onde sobrariam estímulos ao consumo de combustíveis fósseis, no lugar de políticas para acelerar o uso de energia renovável. “Um ponto importante nesta discussão é que a crise hídrica tem a ver com as mudanças que estão acontecendo no clima”, acrescenta. Por outro lado, Juliana Lopes aponta um comprometimento do setor industrial, principalmente em atividades que enfrentam concorrência internacional, na mudança de paradigmas de produção. “Existe um esforço de repensar atividades mais intensivas, que é o que pode ser feito individualmente. É óbvio que este esforço seria mais efetivo com um trabalho de cima, no sentido de modificar a matriz energética”, acredita. Para Juliana, ainda há tempo para o país retomar o fôlego e voltar a disputar a corrida. “Os números ainda são assustadores, porém, com esforço, é possível obter os resultados necessários. Agora, é importante a sociedade como um todo perceber que atitudes micro podem ter resultados macro”, destaca.

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E VOCÊ, O QUE PODE FAZER PELO CLIMA DO MUNDO Saiba a origem da carne A criação de gado na Amazônia é uma das principais causas de desmatamento ilegal. Procure saber se o produto tem uma origem certificada no açougue ou supermercado Use madeira certificada Busque produtos que sejam feitos com madeira de origem certificada. Verifique se a madeira possui o selo FSC, que significa o uso de reflorestamento Guarde o carro Sempre que for possível, opte pelo transporte coletivo e procure manter o carro guardado na garagem. Em um ano, um carro que roda 30 quilômetros por dia emite gases que precisariam de 17 árvores crescendo por 37 anos para absorver Prefira o etanol Se tiver que utilizar o carro para se locomover, opte por abastecer com etanol, que é produzido a partir da cana-de-açúcar, a gasolina ou diesel, que são produzidos à base de petróleo

Repense o consumo O processo de fabricação de qualquer produto envolve o consumo de matéria-prima e, muitas vezes, o consumo de energia. Opte por aqueles baseados em processos com baixo consumo de energia e, sempre que possível, que reaproveitem matérias-primas Investigue as empresas Você pode buscar empresas cujos processos operacionais são certificados para emitir menos gases causadores do efeito estufa Combata o desperdício Restos de comida são a maior parte do lixo que é produzido no Brasil. Quando é depositado inadequadamente em lixões, os dejetos orgânicos emitem metano na atmosfera, que é um dos gases causadores do efeito estufa Recicle Diversos produtos que são jogados no lixo comum podem ser utilizados para a reciclagem. Papel, vidro, plástico e alumínio são alguns deles. Quando se utiliza produtos recicláveis, preservase materiais que ainda estão na natureza

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O CICLO DO CARBONO

Gás é responsável por regular a temperatura no planeta retendo parte do calor gerado pela radiação solar. Problema: o excesso desses gases na atmosfera impede que parte da radiação solar que entra no planeta volte para o espaço. Isso provoca a elevação da temperatura. No ritmo atual, a temperatura mundial deve se elevar entre 2ºC e 7ºC

ALÉM DO CARBONO, OUTROS GASES COMO O METANO (CH4), O PERFLUORCARBONETOS (PFC'S ) CONTRIBUEM PARA AQUECE

4 USO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS LIBERA DIÓXIDO DE CARBONO

3


1

PLANTAS ABSORVEM DIÓXIDO DE CARBONO

O ÓXIDO NITROSO (N2O), ER A TERRA

2 ANIMAIS EXPIRAM DIÓXIDO DE CARBONO O gás vai para a atmosfera. Além dele, vai também o metano, presente no lixo orgânico e no pum da vaca. Ambos agressivos à camada de ozônio

MATÉRIA ORGÂNICA EM DECOMPOSIÇÃO, COMO PLANTAS E ANIMAIS, LIBERA CARBONO NO SOLO Após milhares de anos, a matéria orgânica decomposta deu origem ao petróleo e ao carvão mineral, combustíveis ricos em carbono e não-renováveis


Imposto maior para quem polui PARA ECONOMISTA, OFERECER RECOMPENSAS A QUEM JÁ PROMOVE DESENVOLVIMENTO SEM AGREDIR O AMBIENTE ESTIMULA AÇÕES SUSTENTÁVEIS NA ECONOMIA. QUEM EMITE MAIS GASES DO EFEITO ESTUFA DEVE PAGAR A MAIS POR ISSO, SUGERE

Maus têm que pagar mais, bons devem pagar menos. À primeira vista, essa máxima pode até parecer uma punição maniqueísta ou moral de fábula infantil, mas não tem nada a ver com isso — e a conversa é bem séria. Na verdade, é uma medida que o economista indiano Pavan Sukhdev, embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Meio Ambiente e consultor de empresas e governos, defende que os governos adotem para chegar a uma economia verde e inclusiva, baseada nas baixas emissões de carbono. “Isso é o que eu diria para os governos não continuarem da maneira tradicional. Hoje, temos tantas coisas que podemos fazer, como mudar a base fiscal. Vamos começar a colocar impostos sobre os maus e não sobre os bons”, diz Pavan, um dos principais especialistas no mundo em sustentabilidade. Por maus, entenda-se: setores da econo-

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mia “marrom” — todos os setores que geram emissões de gases causadores do efeito estufa. Logo, os bons são os que investem em economia verde. Segundo o embaixador da ONU, essa é uma maneira de recompensar aqueles que investirem na criação de capital humano e natural que promovam desenvolvimento sem prejudicar o meio ambiente. “O poluidor deve pagar pelos danos que inflige ao meio ambiente”. Uma forma de atingir isso seria retirando os subsídios dos combustíveis fósseis. “Nosso dinheiro é usado pelo governo para prolongar a indústria de gás e petróleo. Se queremos uma economia verde, essa não é uma estratégia sensata”. Nesse caso, os subsídios deveriam ser usados para energias renováveis — como a eólica e a solar. “Da mesma forma que investimos em economia marrom, podemos fazer mudanças em 10, 20 anos, na economia como um todo. Podemos alcançar uma demanda maior de capital, demanda hídrica mais baixa, poderíamos ter um aproveitamento de floresta muito melhor, ao mesmo tempo, mantendo os empregos”, acredita Pavan, que abriu o seminário Baixo Carbono: A Nova Economia, o segundo evento do Fórum Agenda Bahia 2015. Para Pavan, é preciso que a natureza seja vista como riqueza pública, já que respirar ar puro e ter acesso a água limpa beneficiam a todos gratuitamente. Ao final, o lucro virá de iniciativas inovadoras dentro de um cenário de sustentabilidade. “Deve vir da habilidade de gerar novas ideias”, defende o especialista.

Compra Pública É preciso investir nesse tipo de iniciativa porque, a longo prazo, os custos que as mudanças climáticas vão trazer para a economia devem ser enormes, se continuarmos seguindo a economia “marrom”. “Vai ter redução de lucros, menos qualidade de vida, mais perda de emprego e a produtividade da agricultura será reduzida”, avalia. Entre as atitudes que o governo pode adotar para desenvolver a economia local está a compra pública. Uma compra pública verde que estimula iniciativas que promovam uma economia de baixo carbono. “Temos que refletir se estamos fazendo compra verde ou simplesmente comprando o que está disponível”, pondera.

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Crédito verde DIRETORA DO WRI, RACHEL BIDERMAN DEFENDE QUE OS INVESTIMENTOS NO SETOR PRODUTIVO E NO AGRONEGÓCIO SEJAM VOLTADOS PARA A ECONOMIA DE BAIXO CARBONO. ‘COM ISSO, O BRASIL SE TORNARIA UM LÍDER MUNDIAL’

A advogada Rachel Biderman, diretora no Brasil da World Resources Institute (WRI), empresa global responsável por desenvolver ações na gestão do clima e uma das principais consultoras na área ambiental, acredita que o Brasil precisa criar condições para cumprir sua parte nesse esforço mundial de reduzir o aquecimento do planeta. “A decisão que será tomada em Paris é crítica e também histórica para a humanidade. Um grande momento”, avalia Biderman, que esteve na Conferência Internacional Sobre o Clima (COP 21), mas antes participou como palestrante do Fórum Agenda Bahia 2015, no tema Baixo Carbono: A Nova Economia Mundial. A especialista destaca que o Brasil pode ser um dos líderes dessa nova economia (que prevê redução das emissões dos gases do efeito estufa), mas precisa redimensionar, especialmente, os investimentos.

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UM DOS MAIORES POTENCIAIS NO MUNDO PARA GERAR ENERGIA A PARTIR DO VENTO FICA NO NORDESTE. QUE BOM QUE A BAHIA ESTÁ INVESTINDO NISSO

“Se o BNDES, que é o maior investidor no país, tiver uma política dirigida para economia de baixo carbono, o Brasil se torna um líder na economia mundial”. Biderman é a favor de investimentos em fontes mais limpas e criticou o pré-sal. Como o Brasil está se preparando para a COP21? Todo ano, no começo de dezembro, existe uma conferência dos países que assinaram o tratado da convenção no Rio de Janeiro, em 1992, a Eco 92. Essa é a 21ª primeira reunião das partes, a COP21. Ali é o grande momento. A decisão que vai ser tomada ali é crítica e histórica para a humanidade. Os países vão anunciar seus compromissos para reduzir as emissões. Cada país tem de levar para Paris o seu compromisso. O Brasil não anunciou ainda qual o seu. É isso que se espera. Alguns países estão sendo mais arrojados, os europeus, e outros mais tímidos. E o Brasil está demorando de anunciar o seu número. Quando a Dilma se encontrou com o Obama, a imprensa estava atenta, esperando que ela fosse

Rachel Biderman Advogada, consultora do World Resources Institute (WRI), coordenadora do curso de Gestão para o Baixo Carbono da Fundação Getulio Vargas, é hoje um dos principais nomes quando o assunto é baixo carbono. Presente em mais de 50 países, o WRI é uma das organizações que estimulam a transparência da Conferência do Clima, com o objetivo de fortalecer os compromissos e acordos firmados pelas nações

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anunciar nossa meta, mas pelo jeito ela vai deixar para o último minuto. A presidente Dilma Rousseff declarou nesse encontro que o Brasil tem o compromisso de alcançar taxa zero de desmatamento até 2030. Qual o peso dessa declaração? Apesar de já ter as leis e as instituições para evitar o desmatamento, na prática, o sinal que ela dá é que


vamos acabar com a ilegalidade. Tem gente que está dizendo: ‘mas isso é o óbvio’, ou ‘Por que ela anuncia algo que é óbvio’. Mas acho que quem é realista sabe da dificuldade que é controlar o desmatamento na Amazônia, em um lugar remoto, com pouco equipamento e pouca gente. É louvável essa decisão, esse anúncio, mas ainda tem de criar as condições. O Ministério do Meio Ambiente, o Ibama e outros órgãos de fiscalização, a Polícia Federal, que estão lá no front, não estão equipados, então ela precisa aprovar e trazer os elementos para que esses órgãos do governo possam implementar essa meta. O Brasil hoje é um dos maiores exportadores de alimento, mas com uma taxa de emissão de gases altíssima. Como aliar essas duas posições? Sem dúvida, uma das nossas principais fontes de emissão de gases do efeito estufa é com a produção agrícola e a pecuária. O Brasil lançou há alguns anos o Plano ABC, o Plano de Agricultura de Baixo Carbono. Temos todas as condições de ser um país que produza alimento de forma sustentável, mas temos de investir nos próximos anos pesadamente em treinamento do uso dessas técnicas que a Embrapa já desenvolveu. Usar esses sistemas de treinamento, escolas agrícolas, e tornar o acesso aos insumos e aos recursos mais barato. Para isso acontecer, o crédito agrícola tem de incorporar essa dimensão climática e ambiental. Já temos uma linha de crédito ABC. É preciso massificar, usando a grande mídia para fazer com que essas informações cheguem ao produtor rural. Pecuária e agricultura de baixo carbono é possível. A gente tem os estudos, a gente tem a técnica, falta o treinamento e o crédito mais baixo. Quais os países que se destacam na gestão do baixo carbono? Os países europeus e o Japão são um bom exemplo. Já colocaram nas leis há mais de uma década a obrigação de reduzir e eliminar a emissão desses gases que causam aquecimento global. Foi por lei. O sistema financeiro incorporou também. Os bancos não emprestam dinheiro para empresas e indústrias que emitem gases de forma irregular. O outro incentivo criado na Inglaterra foi o mercado de

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carbono, eles criaram incentivos para as empresas porque não adianta só punir. Investimento em transporte público não poluente, que é um dos mais poluentes, a queima de combustíveis fósseis, gasolina, diesel. A outra medida importante também é a agricultura de baixo carbono. O que o Brasil poderia copiar, que fosse mais fácil de iniciar, de adaptar? Um exemplo bacana é a política energética da Alemanha. Eles fizeram uma revolução energética, eles estão praticamente abandonando a fonte de energia fóssil, o petróleo, o gás, e passando a usar energia solar e eólica. É isso que o Brasil poderia fazer. Parar de usar petróleo e seus derivados e começar a usar o sol e o vento como fontes principais, nós vamos fazer nossa lição de casa. O investimento no petróleo é um problema? Esse é o maior problema do Brasil hoje. O investimento no pré-sal é contramão total. Então esse recurso deveria estar indo para nos tornar competitivos na corrida energética, que a gente está perdendo. Hoje quem mais investe em tecnologia para geração de energia solar no mundo são os chineses. Eles investiram tanto que o acesso à tecnologia solar ficou viável. Eles geraram uma economia de escala em torno da energia solar. E agora são eles que estão vendendo os equipamentos para nós. Ou seja, eles, muito espertamente, estão virando líderes na nova economia do baixo carbono. A Bahia investiu numa ampla rede eólica. Como isso pode contribuir nesse processo? A Bahia tem de se fazer conhecer mais para o resto do Brasil. A gente precisa de bons exemplos mesmo. Nossos tomadores de decisão precisam ver essas coisas. A Bahia não é só influenciadora do Nordeste, mas do Brasil inteiro. Pela cultura, pela visão, sempre teve grandes políticos historicamente, então, ela tem um alcance internacional. O Nordeste tem um potencial eólico que é um dos maiores do planeta. Um dos maiores potenciais para gerar energia a partir do vento fica

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SALVADOR ESTÁ ENTRANDO PARA ESSE GRUPO DAS GRANDES CIDADES DO MUNDO DE BAIXO CARBONO. A GENTE ESTÁ AJUDANDO A FAZER ESSA MEDIÇÃO

no Nordeste, então, que bom que a Bahia está investindo nisso. Salvador foi incluída na lista C-40, e preparou um inventário para monitorar a emissão de gases. Como esse tipo de monitoramento funciona? Para mostrar aos prefeitos, vereadores e tomadores de decisão que é possível fazer uma gestão de uma cidade de forma mais ecológica, mais sustentável. Normalmente, o que o inventário traz é uma fotografia de onde estão os maiores problemas de

PECUÁRIA E AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO É POSSÍVEL. A GENTE TEM A TÉCNICA, FALTA O TREINAMENTO E O CRÉDITO MAIS BAIXO

emissão. E se repete a história: a principal fonte de emissão é o transporte e depois, em geral, é o resíduo, o lixo. Porque na degradação do lixo gera o gás metano, que é um potente gás do efeito estufa. Se uma cidade como Salvador decidiu se tornar mais limpa, do ponto de vista do clima no planeta, o que ela precisa fazer é implantar mais transporte público, tirar carros da rua e gerenciar bem os seus lixões e aterros sanitários. Tratar o seu esgoto, pois ali tem muitos gases do efeito estufa, na fermentação que acontece. Essas três coisas e promover eficiência energética nas casas, nos edifícios. Porque, quanto menos energia a gente consome, menos vai queimar lá na termelétrica para gerar energia, que é movida a petróleo, movida a gás, então uma boa parte da energia do Brasil vem dessa forma. Se você é eficiente no uso de energia, significa que você queima menos gás para gerar energia. São essas coisas que uma cidade como Salvador pode contri-

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buir ou as grandes cidades da Bahia podem fazer para resolver a questão do clima. Salvador está entrando para esse grupo das grandes cidades do mundo de baixo carbono. O Brasil é hoje uma economia de baixo carbono? Dois aspectos importantes do baixo carbono que acontecem no Brasil: a gente diminui o desmatamento e a nossa matriz energética ainda tem uma grande fatia do uso de águas e hidroelétrica. Essa é uma fonte renovável e mais limpa. Então isso nos coloca em uma situação de certa vantagem se comparar nosso país com os Estados Unidos, com a Índia, com a China. Onde nós estamos errando e indo para trás é o pré-sal. O investimento no pré-sal não faz sentido no mundo contemporâneo, no mundo de hoje. É um atraso. A gente tem de redirecionar nosso investimento para a produção de energia eólica. Tem de fazer essa guinada. A outra virada é na agricultura. Algumas técnicas de intensificação da pecuária, pois nós temos hoje uma pecuária extensiva, que destrói muito a floresta. Essa pecuária é muito ruim para o clima do planeta. A Embrapa tem defendido uma técnica que é integração pecuária-lavoura-floresta, que é quando você desenvolve as três atividades em um lugar só. Então, basicamente, você intensiva, já que você passa a usar o território produtivo de uma forma mais inteligente, mas eficiente e de forma a desperdiçar menos recursos. Como o investimento privado pode se envolver? As empresas são o principal ator da revolução que a gente precisa ter, pelo seu poder de investimento. Se os presidentes e os conselhos das empresas decidirem que elas só vão investir em processos produtivos compatíveis e de forma a respeitar a natureza e o desafio do clima, elas sozinhas dão conta do problema. É muito mais poderoso do que o cidadão. Elas que estão dirigindo a economia, tanto é que algumas iniciativas hoje para resolver o problema do clima — que até o papa Francisco lançou uma encíclica pelo nível de gravidade — quem tem poder para resolver são os bancos e as empresas. Não precisaria de uma convenção, de um

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SE O BNDES TIVER UMA POLÍTICA DIRIGIDA PARA A ECONOMIA DE BAIXO CARBONO, O BRASIL SE TORNA UM LÍDER NA ECONOMIA MUNDIAL tratado do clima, de uma lei internacional como a que foi assinada no Brasil em 1992. Bastaria o poder econômico fazer a mudança. Como os Brics têm se preparado para essas mudanças? Eles criaram um banco de desenvolvimento recentemente e se espera que o recurso que eles vão colocar lá seja para uma economia de baixo carbono. Tem toda uma expectativa em cima disso. Porque essas economias emergentes dependem das grandes e essas grandes economias estão sinalizando: “Olha, nós não vamos receber mais seus produtos se eles forem produzidos de forma a comprometer o planeta”. Os países Brics são líderes nessa agenda. É mais lenta a tomada de decisão e adoção de políticas nos Brics porque eles falam: “Nós ainda estamos em crescimento”. A pressão é enorme para que eles mudem seus processos produtivos para que sejam menos poluentes. Mas eles têm de mudar. Imagine o BNDES, que é o maior investidor aqui no Brasil. Se o BNDES tiver uma política dirigida para uma economia de baixo carbono, o Brasil assim se torna um líder na economia mundial. O modelo que eles estão usando lá é um modelo antigo ainda. Estão investindo à moda antiga, usando o pensamento do tempo que o mundo não tinha o problema da mudança do clima.

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Agricultura sustentável BRASIL DEFINIU PLANO PARA ESTIMULAR O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO, MAS PRECISA ACELERAR A IMPLEMENTAÇÃO DA OFERTA DE CRÉDITO E TREINAMENTOS PARA ENFRENTAR OS PROBLEMAS COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A solução brasileira para o problema das mudanças climáticas passa pelo campo. Juntos, o desmatamento e a atividade agropecuária respondem por 62% das emissões de gases do efeito estufa. Aqui no Brasil, apesar dos avanços nos últimos anos com o lançamento do Plano ABC, para estimular a Agricultura de Baixo Carbono, o diagnóstico no setor é que o país precisa acelerar os esforços rumo à agricultura sustentável. A diretora do World Resources Institute no Brasil (WRI Brasil), Rachel Biderman, defende o aumento no volume de recursos utilizados para financiar a mudança nos meios de produção agrícola. “O crédito de baixo carbono ainda é menor que o crédito tradicional, infelizmente, mas já é uma boa indicação de que o governo está procurando soluções e assumiu essa questão como premente e já aloca recursos para o produtor rural. Tem sido feito através do Banco do Brasil”, acredita.

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“O Plano ABC é um plano contundente, que precisa ser melhorado, mas já possibilita até o acesso ao crédito mais barato para produtores rurais que querem implementar tecnologias e técnicas para a redução da emissão de carbono”, diz. Rachel Biderman acredita que o país precisa trabalhar pela ampliação no volume de recursos disponíveis para o baixo carbono, no treinamento dos operadores de crédito para a oferta de financiamentos e também na difusão e na capacitação de tecnologias de produção limpas, entre os produtores rurais. “Atrelado ao crédito, precisamos criar mecanismos de capacitação dos produtores rurais, alterar a maneira como ele produz e como cria gado”, destaca. Ela lembra ainda que já existem empresas agroindustriais desenvolvendo voluntariamente métodos para calcular emissões no Brasil. A iniciativa é considerada um importante passo para a redução das emissões. “Por que é que a gente precisa medir as emissões? Se não há obrigatoriedade de medir as emissões, a gente não reduz as emissões. No Brasil ainda não é obrigatório fazer inventário. Há uma lei, mas ela ainda não foi regulamentada”, explica, ressaltando a expectativa do lançamento de uma normatização após a Conferência do Clima de Paris, a COP 21. A diretora do WRI Brasil, Rachel Biderman, lembra que a iniciativa privada criou uma instituição para acompanhar o desenvolvimento do Plano ABC, o Observatório do Plano. Recentemente, o Observatório, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), divul-

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Pavan Sukhdev defende investimentos em pequenos fazendeiros, como os produtores baianos

gou um estudo mostrando a necessidade de acelerar a implementação de medidas para a área. “O estudo diz que o Plano ABC indica uma boa direção, mas é insuficiente para manter os 2ºC de temperatura até o final deste século, que é uma meta que foi definida pelas Nações Unidas e precisa ser respeitada”, diz.

Pequenas fazendas sustentáveis Para o economista indiano Pavan Sukhdev, embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Meio Ambiente, a agricultura sustentável é uma ótima oportunidade de negócios. E, segundo ele, esse modelo

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pode ser adotado pelas pequenas fazendas. Elas já são responsáveis por quase 60% das terras produtivas no mundo. Na Bahia, há o maior número de agricultor familiar do país — o que representa uma grande oportunidade. Em 50 países em desenvolvimento, essas pequenas fazendas aumentaram a produção em 79% nos últimos anos. Nesse ritmo de aumento de produção, o aumento de alimentos pode chegar a 40% — suficiente para abastecer as necessidades de comida do mundo até 2050. “Não precisamos de mais terras. Precisamos de pequenas fazendas mais sustentáveis para fornecer mais resiliência em relação a mudanças climáticas que trazem insegurança alimentar. Os alimentos vão ser trazidos por esses fazendeiros que estão melhorando a renda e a produtividade”, explica Pavan. O que acontece é que, hoje, muitas das pequenas fazendas não são capazes de vender produtos pelo mesmo preço que os grandes produtores. Para Marina Grossi, presidente do CEBDS, a solução brasileira para o problema das mudanças climáticas passa por mudanças no campo. “Nós defendemos a ideia de colocar as florestas plantadas e a agricultura como soluções do Brasil para a economia de baixo carbono”, afirma. Ela acredita que é necessária também uma mobilização social pela mudança. “A sociedade precisa deixar claro que quer essa mudança”, diz.

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Novo cenário para a Bahia ESTADO BAIANO, QUE VIVE MOMENTO CRÍTICO QUANTO AO ABASTECIMENTO NA HIDRELÉTRICA DE SOBRADINHO, TEM POTENCIAL PARA AMPLIAR E TORNAR SUA MATRIZ ENERGÉTICA AINDA MAIS LIMPA

Há quem diga que é a partir da dificuldade que surgem grandes oportunidades. Se for assim, a Bahia pode se aproveitar disso — inclusive, para sair de uma realidade não muito animadora, no que diz respeito ao armazenamento de água e produção de energia. No final de 2015, a usina hidrelétrica do Sobradinho, o principal reservatório do estado, atingiu níveis críticos: menos de 10% da sua capacidade total. O antes e depois, com reservatório cheio e depois em baixa, através de fotos, teve destaque na apresentação de Pavan Sukhdev, embaixador da ONU para Meio Ambiente, no Fórum Agenda Bahia. “Não temos feito um trabalho muito bom do lado do meio ambiente. Temos que olhar para o Rio São Francisco, para o que ele era antes e o que ele é agora. Tem um declínio na disponibilidade de água potável”, diz. De acordo com ele, os problemas de Sobradinho também são causados pela sedimentação, pela falta de controle e gestão, além da falta de chuva.“Um dos motivos

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Dois momentos da barragem de Sobradinho: com nível alto de água (acima) e na seca, onde as ruínas da antiga cidade de Remanso aparecem

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também é o que nós fazemos e como causamos a mudança nas precipitações, num nível mais amplo. A nível local, tem a ver com gerenciamento, que leva à conservação das florestas em torno das nascentes e dos reservatórios. Se olharmos o ciclo da precipitação, vemos que as florestas no Brasil têm um papel muito importante”. Se esses recursos naturais não forem bem administrados, fica muito difícil prosperar em outras áreas. “O turismo tem um potencial fantástico na Bahia, mas como vamos administrar e otimizar se não tivermos um bom gerenciamento da água, das questões ecológicas e da beleza da região? É um grande risco. Isso tudo são desafios para a economia inclusiva verde”, avalia. No caso da redução da capacidade hídrica, ele defende o cuidado com a preservação da água nas cidades. “Em São Paulo, por exemplo, eles estão utilizando a água e depois voltam a reutilizar para molhar gramados. Temos que olhar para toda essa cadeia de fatores e assegurar que a educação está presente e também como gerenciar as necessidades de investimento, tempo e dinheiro”, diz ele. Desde 2014, o estado de São Paulo enfrenta sua maior crise hídrica, devido a fatores como a redução da capacidade do Sistema Cantareira, reservatório que abastece quase 9 milhões de pessoas, por problemas de infraestrutura e planejamento. “É preciso ter certeza de que os governos e o mundo têm consciência da importância disso. A floresta aqui é de vocês e vocês têm que educar as pessoas sobre o que é importante”, alertou Sukhdev. A Bahia concentra 60% do potencial brasileiro para a geração de energia elétrica a partir da irradiação solar, com potencial para gerar 207 GW de energia, destaca a economista Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Ela lembra que o município baiano de Bom Jesus da Lapa, a 780 quilômetros de Salvador, é o que possui o maior potencial para a geração de energia solar do país. Além disso, o estado apresenta um significativo potencial de energia eólica, estimado em 14,5 GW para uma altura de 70 m — o que representa 10,1% do potencial nacional e 19,3% do potencial da região Nordeste, complementa. “Três anos após pôr em funcionamento seu primeiro parque eólico, em Brotas de Macaúbas, a Bahia já ocupa o segundo lugar nacional na geração da energia

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pela força dos ventos, com produção de 463 megawatts”, lembra Marina. “A Bahia vem ocupando uma posição cada vez mais importante no Brasil em relação à produção de energia limpa”, destaca. Para ela, todo o aprendizado em relação à produção de energia eólica vai ajudar muito no desenvolvimento de energia solar. Para a diretora do World Resources Institute no Brasil (WRI Brasil), Rachel Biderman, o desenvolvimento do potencial para energia limpa no país passa pelo redirecionamento de investimentos. “A gente precisa redirecionar os nossos investimentos para beneficiar, não apenas a Bahia, mas todo o Brasil. Ainda se subsidia o petróleo aqui no Brasil. A gente tem que sair dessa lógica, claro que o petróleo é importante, mas precisamos nos encaminhar para uma transição rumo à nova economia”, diz. Ela lembra que as empresas de petróleo em todo o mundo estão se ajustando à nova economia. “Elas estão investindo em novas formas de energia”.

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Clima pesado INVENTÁRIO DA EMISSÃO DE GASES DO EFEITO ESTUFA REALIZADO EM SALVADOR MOSTRA QUE 74% DAS EMISSÕES DENTRO DA CIDADE SÃO DO SETOR DE TRANSPORTE. OUTROS 18%, DA ENERGIA ESTACIONÁRIA E 8%, DOS RESÍDUOS

Todos os dias, 2.682 ônibus vão às ruas de Salvador. Pelo Aeroporto Internacional Deputado Luis Eduardo Magalhães passam 220 voos domésticos por dia e mais 57 voos internacionais por semana. Somado a isso há uma frota de 831.584 veículos automotivos e 45 navios que chegam ao porto por mês. Todos queimam combustível e liberam gases prejudiciais à atmosfera. Isso tem um preço e a cobrança vem com mudanças no clima. É muita chuva em curto espaço de tempo e verões mais quentes. Os dados fazem parte do inventário da emissão de gases do efeito estufa de Salvador, realizado pela primeira vez na cidade pelo Iclei, a principal associação mundial de governos locais dedicados ao desenvolvimento sustentável. Segundo o estudo, 74% das emissões dentro da capital vêm do transporte. Outros 18% da energia estacionária e 8% dos resíduos. Estes números indicam que Salvador tem o mesmo perfil de emissões das demais capitais brasileiras.

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“O transporte é o grande vilão. Há muitos carros usando gasolina, falta incentivo para o etanol”, avalia o gerente de mudanças climáticas do Iclei para a América do Sul, Igor Albuquerque, que participou como palestrante do Fórum Agenda Bahia, em 2014. Dentre os meios de transporte, é o terrestre que responde por 74% das emissões, a aviação por 24% e o hidroviário por 2%. Quando um veículo queima gasolina, a molécula de carbono do combustível é jogada na atmosfera e esses gases esquentam o planeta, além do que já aqueceria naturalmente. “Qualquer combustível que se queima vai emitir CO2 e água. Por isso, o gás carbônico é tão importante no cenário de mitigação, de a gente evitar ou tentar reduzir as emissões a partir da queima de combustíveis fósseis. O grande emissor hoje em dia é o transporte. É assim no mundo inteiro”, explica a professora do MBA de Gestão Ambiental e Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV) Christianne Maroun. Quando sai às ruas de Salvador, o representante comercial Helder Guido se sente só. Ele é um dos poucos que usam com frequência a bicicleta para se deslocar. “Tenho que preparar o espírito, porque sei que será uma guerra. Melhorou bastante, mas ainda é complicado”, avalia. A meta da prefeitura é implantar 200 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e vias compartilhadas até 2016. Segundo o secretário da Cidade Sustentável, André Fraga, a atual gestão recebeu uma cidade em que o conflito e a disputa eram a tônica do trânsito. Para Fraga, com a implementação do Salvador Vai de Bike, uma virada está acontecendo, com novas faixas exclusivas, treinamento para motoristas de ônibus e campanhas de mobilização cidadã. “Eu mesmo, uma vez por semana, sigo de minha casa ao Parque da Cidade, de bike, para trabalhar. Nesses 19 quilômetros, percebo a completa mudança de atitude dos motoristas na relação com os ciclistas”, assegura. Se a meta é reduzir as emissões, o estímulo do uso da bicicleta é um bom começo. Em grandes cidades do mundo isso já é realidade. “Engarrafamentos contribuem significativamente para o aumento de emissões”, explica Albuquerque. O inventário de Salvador não mede a contribuição dos congestionamentos, mas, segundo o especialista, com base no documento, é possível fazer análises e estimar esse número. Por ano, a capital baiana emite 3.698.964 milhões de toneladas equivalentes de gás

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carbônico (CO2). Para Albuquerque, o número bruto não significa que a emissão é maior. É preciso levar em consideração o tamanho da população, os aspectos avaliados e a área da cidade. “Quanto mais dados se consegue, mais alto fica o valor do inventário. Uma cidade pode apresentar indicadores mais baixos e não ter mensurado alguns setores relatados em outro inventário”, diz. Para realizar um inventário completo, seis gases do efeito estufa têm de ser mensurados. Em Salvador, foram avaliados três: dióxido de carbono, metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Embora tenham um potencial de aquecimento maior, os demais gases estão relacionados a indústrias específicas. Para a professora Christianne Maroun, um inventário com os três gases avaliados em Salvador é considerado bem eficiente, já que eles respondem por 90% das emissões. O N2O é referente à agricultura, o CO2 vem de todas as queimas de combustíveis para gerar energia e o metano vem do tratamento de matéria orgânica (esgoto e lixo). Cada gás tem um potencial de aquecimento e um impacto diferente na atmosfera. O mais recorrente em Salvador foi o dióxido de carbono, seguido do óxido nitroso e, por último, o metano, que é 25 vezes mais prejudicial do que o gás carbônico. Já o óxido nitroso é 298 vezes mais maléfico. “Quando você queima combustível, libera os três gases, sendo o CO2 a maior parte do gás emitido nessa reação química. A fração do óxido nitroso é menor, mas bem mais danosa”, explica Albuquerque.

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O representante comercial Helder Guido diz enfrentar uma guerra para usar a bike como transporte e assim evitar a poluição

Frota de Salvador: tecnologia mais limpa A concessão do transporte público de Salvador colocou entre os pré-requisitos para exploração do serviço o uso da motorização Euro 5, tecnologia que reduz em 60% as emissões de óxido de nitrogênio (NOx) e em até 80% as emissões de partículas promovidas pelos modelos com a tecnologia Euro 3. Hoje, 100% da frota já usa essa motorização. Segundo o secretário da Cidade Sustentável, André Fraga, o uso de uma matriz energética menos poluente, como o Euro 5, e a possibilidade de ônibus elétricos com a integração de modais como o metrô e o VLT e o BRT possibilitarão um transporte de qualidade e rápido. O secretário de Mobilidade, Fábio Mota, diz que Salvador testou em 2013 um modelo de ônibus elétrico. “Desistimos por não ter autonomia. Existe um problema de durabilidade de carga. Estamos estudando e recebendo propostas e projetos para o setor dentro da área de energia renovável”, informou Mota.

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Esgoto é transformado em energia em Estação de Feira A Coelba, a Embasa e a Uefs inauguram, em 2016, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Jacuípe II, em Feira de Santana, que usará o biogás captado do esgoto para gerar energia. A estimativa é que a energia gerada chegue a 80% da demanda da ETE, que atende 100 mil habitantes. Segundo a gerente de assistência energética da Coelba, Ana Christina Mascarenhas, só depois da inauguração é que será possível mensurar a viabilidade econômica do projeto. A ideia é que, a partir do piloto, a Embasa possa difundir a experiência em outras estações. “No Brasil, não é muito comum usar o gás como fonte de energia, mas a produção da energia pelo biogás é uma realidade em muitos países. Com essa iniciativa, deixa-se de jogar o metano no meio ambiente, que é um gás 21 vezes pior do que o gás carbônico”.

Estratégia para reverter poluição Com o estudo pronto, Salvador já pode atacar seus vilões climáticos. “A cidade tem uma fotografia do que significam as emissões”, diz o especialista do Iclei. Agora, segundo ele, é possível traçar uma estratégia de redução das emissões por setor. O secretário André Fraga sabe que a agenda é complexa, já que o grande desafio é conseguir materializar os efeitos do aquecimento global no dia a dia do cidadão. “É preciso mostrar que os eventos climáticos extremos, como as chuvas torrenciais que passamos recentemente, são a ponta do iceberg. A elevação do nível do mar pode acabar com um de nossos principais ativos que são as belezas naturais. Sem isso não há turismo, não há economia para a cidade”. O inventário é parte de um projeto que a prefeitura de Salvador firmou com a WRI com foco na inovação da mobilidade urbana. A ideia era descobrir como encontrar uma solução inovadora para reduzir as emissões do efeito estufa através da mobilidade. “É possível o desenvolvimento de um plano de ação para enfrentamento das mudanças climáticas, um levantamento do sistema de transporte, metrô, linha de ônibus, criação de ciclovias, extensão do BRT”, sugere Albuquerque.

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SALVADOR E O IMPACTO NO CLIMA Indústrias de energia e atividades agrícolas, florestais e de pesca Indústrias de manufatura e construção

O QUE É

0,2

6

Energia estacionária Edifícios residenciais, comerciais, consumo industrial e energia relacionada à atividade agrícola, sobretudo à pesca

%

30 Edifícios comerciais e institucionais

64

Transporte Terrestre, hidroviário e aviação Edifícios residenciais

ENERGIA ESTACIONÁRIA total CO2 670.129 ton

2

Resíduos sólidos Aterros dentro da cidade, fora da cidade, incinerado e o tratamento de efluentes

INVENTÁRIO DE GASES POLUENTES

Hidroviário

TRÊS TIPOS Os inventários variam entre o básico, o básico mais e o expandido

Aviação 24

%

74 Transporte terrestre

Básico: mensura resíduos, transporte e energia TRANSPORTE total CO2 2.729.700 ton

aterro sanitário

Básico mais: mensura resíduos, transporte e energia mais mudanças e uso do solo, agricultura e uso de produtos industriais

11

Incineração

30

%

RESÍDUOS SÓLIDOS total CO2 299.135 ton

59

Tratamento de efluentes líquidos Expandido: mensura resíduos, transporte, energia, mudanças e uso do solo, agricultura e uso de produtos industriais e leva em conta tudo aquilo que a cidade consome que vem de fora e o que produz e manda para outras cidades


Bahia mais sustentável AÇÕES NA CAPITAL E NO INTERIOR DO ESTADO VISAM AUMENTAR A SEGURANÇA HÍDRICA E REDUZIR OS IMPACTOS NO MEIO AMBIENTE

Salvador e grande parte dos municípios da Região Metropolitana são abastecidos por um dos principais rios do semiárido, que é o Paraguaçu. O problema é que, segundo o secretário de Meio Ambiente do Estado, Eugênio Spengler, isso acaba comprometendo o abastecimento de municípios situados na margem do rio, além de reduzir o uso da água para atividades econômicas em cidades que passa o rio. Segundo ele, há um projeto para revitalizar o rio, que é o Semeando o Paraguaçu, que visa a recuperação das principais nascentes e engloba 14 municípios. Apesar de não viver uma crise de falta de água, a Bahia tem municípios onde a presença do líquido é uma preciosidade. “Temos uma parcela significativa da população baiana que vive no semiárido, que é uma região com pouca disponibilidade de recursos hídricos e baixo investimento em infraestrutura”, observa o secretário, ponderando que resolver o problema do semiárido é um grande desafio, já que a região tem o bioma caatinga, caracterizado por pouca chuva e pouca captação de água.

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Samuel Barrêto e os secretários André Fraga e Eugênio Spengler participaram do painel Bahia Mais Sustentável, com moderação do jornalista Fernando Sodake

A situação se completa com o desenvolvimento de projetos econômicos que não estão adequados com o uso racional da água. Para tornar Salvador mais sustentável, o secretário de Cidade Sustentável da capital baiana, André Fraga, falou da produção de inventário para identificar a origem de todas as emissões de gases do efeito estufa na cidade. No estudo, o transporte aparece como o grande vilão ambiental da cidade. “A prefeitura desenvolveu uma agenda complexa, iniciou com a concessão do transporte público, hoje exige-se um diesel menos poluente, que vai reduzir no curto e médio prazo a emissão. Além disso, houve um incentivo ao uso das bicicletas”, defende.

Salvador: potencial para infraestrutura verde Um levantamento realizado pela The Natury Conservance coloca Salvador entre as 25 cidades da América Latina com maior potencial para investimento em infraestru-

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INFRAESTRUTURA VERDE É CONTAR COM SERVIÇOS QUE A NATUREZA GERA DE GRAÇA PARA EVITAR A FALTA DE ÁGUA SAMUEL BARRÊTO

questão ambiental para a gestão sustentável da água e

GERENTE DA THE NATURE CONSERVANCY

a mitigação do risco.

tura verde. Além da capital baiana, foram listadas outras cidades brasileiras: Curitiba, Santos, Maceió, São Paulo, Recife, João Pessoa, Brasília, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte e Vitória. São cidades com potencial para receber políticas de compensação e regularizar a

Segundo Samuel Barrêto, gerente nacional de água da The Nature Conservancy, organização presente em 35 países com a missão de conservar as terras e águas do planeta, ter infraestrutura verde é contar com servi-

AS PESSOAS VÃO PODER ESCOLHER QUAL TRANSPORTE UTILIZAR, SE BICICLETA OU CARRO ANDRÉ FRAGA

ços que a natureza gera de graça para evitar problemas

SECRETÁRIO DE CIDADE SUSTENTÁVEL

não aparece, que ainda não faz parte dessa visão de in-

como a falta de água. Ele defende ainda que é preciso sair do modelo tradicional para superar os desafios impostos pelo risco de faltar água no país. “Para nós, tem uma equação que fraestrutura hídrica, que é a infraestrutura verde. E nós estamos dizendo que ela é mais importante do que a infraestutura cinza e do que a gestão de demanda. Sem ela, você não vai chegar nessa visão de segurança hí-

TEMOS UMA PARCELA SIGNIFICATIVA DA POPULAÇÃO BAIANA QUE VIVE NO SEMIÁRIDO EUGÊNIO SPENGLER

drica estruturante e de longo prazo”, disse, citando que

SECRETÁRIO DE MEIO AMBIENTE DO ESTADO

Noruega: investimento sustentável traz eficiência

o uso e a ocupação do solo também são determinantes para auxiliar na questão de qualidade e quantidade de água.

O alto grau de investimento em pesquisa e desenvolvimento tem tornado a indústria da Noruega cada vez

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mais eficiente, ou seja, menos poluidora. Segundo Olav Lundstol, consultor de energia da Embaixada da Noruega, o país nórdico é um dos que mais investem em projetos de sustentabilidade no mundo, em torno de 1% do seu Produto Interno Bruto (PIB). O alto custo de uma produção mais limpa tem sido absorvido dentro do próprio mercado e também a partir de investimentos do Samuel Barrêto defende a infraestrutura verde

governo e do setor privado. “A indústria norueguesa se tornou mais eficiente para lidar com suas questões ambientais, mas ainda temos grande contribuição a fazer”, defende Olav. Já o setor de transporte tem investido nos chamados carros elétricos como alternativa para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Desde o primeiro carro alimentado por fonte limpa, há 30 anos, a Noruega conta hoje com aproximadamente 50 mil veículos que contribuem para a redução de gases resultantes da queima de combustíveis.

André Fraga: inventário sobre gases poluentes em Salvador

Ele afirma que a maior eficiência na aplicação de soluções limpas para o setor produtivo é resultado de uma articulação bem-sucedida entre os diversos atores da cadeia. “Na Noruega, há uma troca de informações entre os setores privados, os centros de pesquisa e os governos para aumentar a eficiência da indústria”. Ele citou os investimentos em biotecnologia para reduzir a emissão de gases. Uma das iniciativas que recebem grande investimento é o uso da biogasolina.

Eugênio Spengler: projeto para revitalizar o Rio Paraguaçu

baixo carbono: a nova economia mundial    185


Energia de fonte limpa ESPECIALISTAS DEFENDEM MAIS INVESTIMENTOS EM REDES INTELIGENTES E INOVAÇÃO PARA DAR MAIS SEGURANÇA E EFICIÊNCIA AO SETOR ELÉTRICO

O uso intenso de energia originada de termelétricas aumentou o custo da tarifa no Brasil nos últimos anos. O reajuste é resultado da crise hídrica que atingiu estados do Nordeste e do Sudeste, e também por problemas de planejamento dos recursos no país, segundo o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Coelba, Antonio Brito. Apesar da matriz energética brasileira ser predominantemente limpa, ou seja, com poucas emissões de gases do efeito estufa, Brito alerta para a necessidade de se investir em formas de distribuição, produção e geração de energia cada vez mais eficientes e sustentáveis. “Temos investido em redes mais inteligentes para melhorar a segurança e a redução das perdas na distribuição. É importante associar ações de eficiêncie energética com ações de inovação para melhorar a utilização final da energia e torná-la mais universal”, explica Brito. Se, por um lado, o Brasil podia se orgulhar de ter uma matriz energética limpa, especialistas do setor energético já começam a se preocupar

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com a questão. É que o aumento da demanda tem contribuído para que o país perca esse status. “Nesse panorama de aumento de renda, tem crescido o consumo por conta de um aumento considerável do uso de equipamentos eletrônicos e entra um backup sujo, que são as termelétricas”, informa o gerente do Instituto Lactec, Rodrigo Riella. Segundo ele, uma saída é apostar na expansão da geração de energia através de hidrelétricas, eólica e solar. “Hoje isso tem sido viabilizado mais com a eólica porque a licença ambiental para hidrelétrica leva muitos anos e a solar é muito cara, não sendo viável economicamente”, explica. Outra possibilidade é ampliar cuidados para evitar perdas técnicas e comerciais. Se o assunto é eólica, a Bahia tem o vento a seu favor. “Antes, quando havia predomínio das torres menores, de até 70 metros, não se pensava na potência da Bahia no setor eólico. Com o desenvolvimento de torres maiores, com mais de 100 metros, isso mudou. Hoje, o maior potencial desse tipo de energia no país é aqui, com capacidade de produção entre 40% e 45%”, afirma o diretor da Coelba. O Brasil hoje está em fase de redução de custos e aumento da eficiência para fazer um uso maior da energia solar. Antonio Brito e Rodrigo Riella participaram, junto com Olav Lundstol, de painel sobre Energia Inteligente, moderado pelo o jornalista Fernando Sodake, apresentador da TV Bahia, que também fez a moderação do debate Bahia Sustentável.

baixo carbono: a nova economia mundial    187


SOLUÇÕES Distribuição Novas tecnologias na distribuição permitem que o consumidor acompanhe o seu consumo em tempo real Falhas As novas tecnologias permitem também a identificação das falhas em tempo real Smart Gride O smart gride possibilita agir sobre as cargas em caso de adimplência

Eficiência energética Gerente do Instituto Lactec, Rodrigo Riella chama a atenção que a integração de veículos elétricos no Brasil não é muito forte, por conta do preço dos veículos, enquanto na Europa e nos Estados Unidos já é uma realidade. “Nesses lugares, você pode comprar um veículo elétrico e andar como um carro normal. A entrada desses veículos cria uma nova carga para a rede e isso tem que ser balanceado. Criou-se no Japão uns modelos para isolar a residência e utilizar o veículo elétrico como um gerador, que permite o uso da energia do carro para a

DESAFIOS ACESSO À ÁGUA Brasil ainda enfrenta dificuldades de acesso à água e problemas com irregularidades no regime de chuvas, como ocorre na região Nordeste, que enfrenta a pior seca dos últimos 30 anos, e também em São Paulo REDE FORTE DE ENERGIA Países mais desenvolvidos consomem mais energia. É preciso fortalecer a rede de distribuição de energia para evitar perdas e reduzir inseguranças ENERGIA É NEGÓCIO Empresas de distribuição de energia têm desenvolvido tecnologias para melhorar eficiência das unidades consumidoras e para universalização do atendimento ENERGIA ACESSÍVEL Dispositivos de detecção de desvios de energia e estruturas mais acessíveis para energia solar viabilizam alternativas sustentáveis

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casa, em caso de emergência”, explicou o especialista. Ele destacou ainda que o uso da energia veicular elétrica é uma ação de eficiência energética. “Quanto melhor o veículo é conduzido, há mais economia de energia”, pontua.

Smart gride Falta energia em determinado ponto da cidade e, antes mesmo que dezenas de consumidores liguem para reclamar, um sensor já constatou a falha no sistema e muitas vezes até sinaliza qual o problema que ocorreu. Isso é possível através do smart gride, a rede elétrica inteligente do futuro, que reúne diversas tecnologias num único equipamento e já vem provando do que é capaz. De acordo com o gerente do Instituto Lactec, Rodrigo Riella, são as telecomunicações que possibilitam todas essas modificações. “Atualmente, elas são mais aplicadas no sistema de distribuição, mas a proposta atual é que a rede de telecomunicações alcance até o


O painel Energia Inteligente contou com Antônio Brito, Rodrigo Riella e Olav Lundstol

consumidor final, permita a ele ler o seu consumo em tempo real”, explica o especialista. Essa tecnologia permite medidores inteligentes, transmissores inteligentes, centralização de todas as informações de medições em tempo real e até mesmo limitar as cargas em caso de consumidor inadimplente. “Tudo é centralizado em um ponto, que é o centro de medição, onde as ações são gerenciadas”, explica Riella. O setor de energia tem como desafio ampliar a geração, a transmissão e distribuição de energia com segurança, rentabilidade e menor impacto ambiental, diz Antônio Brito, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Coelba. “É preciso desenvolver redes inteligentes capazes de reduzir perdas e aumentar a eficiência do processo”, defende.

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Conta de luz zerada PROGRAMA DA COELBA QUE TROCA RECICLÁVEIS POR DESCONTO NA CONTA DE ENERGIA VAI SER AMPLIADO PARA A CLASSE MÉDIA EM 2016

Moradora de Castelo Branco, a aposentada Maria Paulina dos Santos, 76 anos, já teve a alegria de receber a conta de luz zerada. Isso foi possível através do Vale Luz, da Coelba, que troca recicláveis por desconto na conta de energia. A novidade é que o programa, que está presente em 30 comunidades carentes de Salvador, será ampliado para bairros de classe média. Também já há estudo em curso para analisar a viabilidade de levá-lo para o interior. Atualmente, só são beneficiados moradores da capital. “Nossa ideia é agregar parceiros que gerem esses resíduos. Reduzindo os resíduos, vamos conseguir economizar energia na criação desses materiais. A reciclagem das latas, por exemplo, gera uma economia de 90% a 95% de energia em relação à energia necessária para produção de uma lata nova”, explica a gerente de Eficiência Energética do grupo Neoenergia, do qual a Coelba faz parte, Ana Christina Mascarenhas. Além de reduzir o valor da conta de energia, o projeto Vale Luz tem o objetivo de estimular o uso racional dos recursos naturais e minimizar os impactos negativos

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causados pelos resíduos no meio ambiente, estimulando a reciclagem. Para cada mil quilos de alumínio que se recicla, por exemplo, poupa-se aproximadamente cinco mil quilos do minério bruto. O projeto tem um custo mensal para a Coelba de R$ 80 mil. São aceitos para reciclagem: metal (latas de alumínio e ferro), papel (papel branco, revista, jornal, panfleto), papelão e plásticos (garrafas pet, embalagens de detergente e produtos de higiene, água sanitária). Para garantir a economia, na vizinhança de Maria Paulina todo mundo já sabe: se tiver latinha de reciclável tem que guardar pra ela. A cada 15 dias, ela coleta e vai entregar no caminhão da Coelba que passa no bairro, ritual que é repetido em 30 comunidades. “Antes a minha conta de luz era R$ 80, R$ 60, agora é R$ 20, R$ 10, R$ 5, R$ 1 e já teve mês de vir até zerada”, conta. O desconto funciona da seguinte forma: após os recicláveis serem pesados, o consumidor tem o crédito na conta debitado em um cartão. “Onde há o projeto, as comunidades ficam mais limpas e os consumidores mais adimplentes”, destaca a aposentada. A Coelba já recolheu 727 toneladas de resíduos com o Vale Luz. Criado em 2008, o programa garantiu uma economia de cerca de R$ 150 mil na conta de energia de 2.500 consumidores baianos, ao longo dos últimos sete anos. Já o Grupo Neoenergia, que compreende além da Coelba as distribuidoras Celpe e Cosern, recolheu 1.369 toneladas, envolve 7.652 clientes e proporcionou R$ 300 mil em descontos na conta de energia.

ANTES, A MINHA CONTA DE LUZ VINHA R$ 80, R$ 60. DEPOIS QUE ENTREI NO VALE LUZ AGORA É R$ 20, R$ 10, R$ 5, R$ 1 E JÁ TEVE MÊS DE VIR ATÉ ZERADA MARIA PAULINA DOS SANTOS APOSENTADA BENEFICIADA PELO PROGRAMA VALE LUZ DA COELBA

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Todo o material coletado é vendido para a Cooperativa de Coleta Seletiva Processamento de Plástico e Proteção Ambiental (Comapet), que funciona na Massaranduba e reúne 30 cooperados. “Ajuda muito a gente. O material já chega separado, fazendo com que a revenda seja bem melhor”, avalia o diretor operacional da cooperativa, Flávio Almeida. Diariamente, quatro caminhões chegam por dia à sede da Camapet levando os recicláveis coletados nas comunidades. “Muita gente que participa do projeto consegue ficar adimplente: depois do desconto a conta fica baixa e ela consegue pagar sem dificuldade”, observa a gerente de Eficência Energética. No caminhão, ainda é possível trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes compactas, que são mais econômicas. Para efetuar a troca, basta levar três lâmpadas incandescentes ou três fluorescentes queimadas, estar adimplente e não ter recebido lâmpadas da Coelba nos últimos três anos. Nos caminhões, os consumidores também podem fazer cadastro na Tarifa Social de Energia, benefício do governo federal que concede descontos de até 65% na conta de luz e fazer alteração cadastral.

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1

2

3

4

1 Os moradores levam material reciclável para os caminhões da Coelba, que percorrem 30 comunidades de Salvador  2 O crédito com a troca dos recicláveis fica disponível em um cartão do Vale Luz e vira desconto na conta de energia  3 Material é pesado para definir o valor da troca  4 O desconto já vem debitado na conta de luz

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Muda o clima, sua vida muda A PREVISÃO MAIS OTIMISTA É DE QUE A TEMPERATURA NA TERRA DEVE SUBIR 2º, O SUFICIENTE PARA INTENSIFICAR OS EXTREMOS: CHUVA E SECA

Salvador teve, entre os meses de abril e junho de 2015, as chuvas mais fortes dos últimos 20 anos. Por outro lado, já em 2012, a Bahia passou pela maior seca dos últimos 60 anos — e sobreviveu aos tropeços à estiagem que persiste. Pois, o futuro não é muito animador. Diante de um cenário de altas emissões de gases que provocam o efeito estufa, as mudanças climáticas previstas por especialistas devem incluir que esses extremos — muita chuva e muita seca — sejam mais comuns. “A gente sabe que os eventos extremos serão mais frequentes e duradouros, com maior intensidade. E esses eventos vão estar relacionados à água. Porque a água é aquela coisa que o ideal é nem tanto nem tão pouco”, diz o coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais, Marcos Freitas, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Até 2100, a temperatura do mundo vai aumentar — quanto a isso, não dá mais para voltar atrás. Agora, a questão é como fazer com que ela não aumente demais. A

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meta da comunidade internacional é manter esse crescimento de temperatura em até 2°C. Mas, se o mundo continuar produzindo em excesso gases do efeito estufa, o número pode dobrar — há quem acredite que chegaria até a 7°C. Agora, você pensa: por que dois graus a mais ou a menos fariam tanta diferença? Por que um dia com 30°C seria um pior do que outro cuja máxima registrada foi de 28°C? De fato, como o ser humano tem facilidade de adaptação, talvez nem dê para notar que houve alguma diferença. “O que vai dar para perceber mesmo é a variação nos extremos. O problema, do ponto de vista do conforto térmico, vai ser um desequilíbrio na fauna e na flora. Poderá causar extinções enormes de organismos em algumas regiões”, alerta o coordenador de monitoramento do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) do Estado, Eduardo Topázio. No entanto, desequilíbrio na biodiversidade não significa só que bichinhos e plantinhas podem desaparecer. Mesmo com a facilidade para se adaptar, a qualidade de vida dos humanos vai piorar. A partir disso, podem vir desde falta de alimentos, maior vulnerabilidade a desastres naturais, epidemias e até deslizamentos de terra. As chuvas no Nordeste também vão diminuir, apontam especialistas. A situação se agrava quando percebemos que, desde a seca de 2012, a produção de energia a partir de

MUDANÇAS Aumento do nível do mar Como o planeta está mais quente, as geleiras começam a derreter — o que significa mais água no mar. Cidades litorâneas — como Salvador — podem sofrer inundações e até desaparecer Epidemias de doenças Se a ocorrência de algumas doenças tropicais estava restrita a uma região, a coisa mudou. É o caso da dengue, que agora está presente até em zonas temperadas, como a Europa Desequilíbrio ecológico Espécies da fauna e da flora podem desaparecer por completo. Na prática, para os humanos, pode significar desde a falta de alguns alimentos até problemas de saúde Extremos duradouros Não apenas é possível ter mais chuvas fortes e secas mais prolongadas, como furacões e tornados podem se tornar mais comuns no Sul do Brasil Falta de energia A maior parte da energia no Brasil ainda é proveniente de usinas hidrelétricas. Porém, como o nível dos reservatórios está baixo (no Nordeste, no final de 2015, era de 14% da capacidade), as termelétricas entram em cena: só que elas produzem mais gases estufa, os principais responsáveis pelas mudanças climáticas

usinas termelétricas no Brasil tem crescido, enquanto as fontes hídricas, diminuído. “Em 1988, 85% de nossa

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Tanto as chuvas fortes que caíram em Salvador em 2015 quanto a seca que atingiu a Bahia em 2013, e deixou a Barragem de Sobradinho com nível crítico de água, não devem ser eventos isolados: devido às mudanças climáticas, situações assim serão cada vez mais frequentes

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capacidade instalada era de hidrelétricas. Hoje, é de 75%. Apesar de ter entrado a eólica, o maior crescimento é das termelétricas, que são à base de diesel, de óleo combustível, gás natural e carvão. O setor de energia está mais carbonizado do que no passado”, afirma Marcos Freitas. Só que uma coisa puxa a outra. Quanto mais se consome energia mais gases são produzidos. Mais carros na rua, mesma coisa. Mais calor significa mais ar-condicionado. Resultado? Mais consumo de energia, mais gases. “Em São Paulo, quase 50% das emissões vêm do transporte. A saída é investir no transporte público, na bicicleta…”, exemplifica André Nahur. Em Salvador, o inventário dos gases do efeito estufa, divulgado com exclusividade pelo jornal CORREIO, mostra que transportes são responsáveis por 74% das emissões na capital baiana. “Além disso, devemos repensar ambientes climatizados e encontrar solução para reduzir a sensação térmica onde você estiver”, lembra Nahur. No caso de Salvador, há outro problema: trata-se de uma cidade litorânea. Como o planeta está mais aquecido, geleiras estão derretendo. Assim, o mar passa a ter mais água e, com isso, seu nível sobe. “A gente não tem noção de como vai acontecer, mas algumas áreas já sofrem inundações. Eu não compraria uma casa à beira-mar”, pondera Marcos Freitas, coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Climáticas.

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Nem o acarajé está a salvo: as mudanças podem afetá-lo Você consegue imaginar como seria viver em um mundo sem acarajé? Pois, é possível que as mudanças climáticas globais interfiram até no seu bolinho de lei toda sexta-feira. Isso porque, segundo o coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais, Marcos Freitas, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), animais como o camarão e outros mariscos podem ter dificuldades para sobreviver no mar do futuro. “Esses bichinhos podem ter problemas de sobrevivência, seja por questões como a poluição, seja por questões de aquecimento”, diz. No caso do acarajé, o feijão fradinho da massa também não está totalmente a salvo. “Apesar de não ter visto nenhum estudo especificamente sobre o fradinho, existem muitos estudos que relacionam a temperatura e as chuvas no desenvolvimento das culturas agrícolas e algumas delas terão dificuldade de ter a mesma produtividade de antes”, explica o professor.

Chuvas fortes: efeitos no clima ainda são estudados Apesar de a intensidade das chuvas em Salvador em 2015 ter pego muita gente de surpresa, ainda não é possível afirmar que isso esteja relacionado a mudanças climáticas. “Tivemos mesmo chuvas acima da média, mas, em outros anos, como em 2009, também tivemos essas ocorrências”, afirma a meteorologista Cláudia Valéria, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Ainda segundo ela, só é possível concluir se esse tipo de situação já significa mudança climática se forem notados padrões diferentes dentro de um período de 30 anos. “Acontecem variações de um ano para o outro, porque temos fenômenos meteorológicos que atuam e não são fixos, assim como nada na atmosfera é fixo”. Em 2015, os índices foram de 394,2 mm em abril (numa média de 309,7mm), 639 mm em maio (média de 359,9) e 352,8 mm em junho (243,7 mm, em média).

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Peso no bolso IMPACTO DO AUMENTO DA TEMPERATURA NO PLANETA SERÁ SENTIDO NOS CUSTOS DA ALIMENTAÇÃO E DE GERAÇÃO DE ENERGIA. ALIMENTOS COMO FEIJÃO E MILHO FICARÃO MAIS ESCASSOS, JÁ O NORDESTE DEVE ENFRENTAR MAIS SECAS

O sertão vai virar deserto e o mar vai avançar para o interior. O impacto das mudanças climáticas deve ter efeitos devastadores na economia do país e nos hábitos dos brasileiros, principalmente daqueles que vivem no Nordeste, segundo relatórios que apontam as transformações provocadas pelo aquecimento da temperatura do planeta. As mudanças são resultado das emissões de gases do efeito estufa cada vez maiores na vida moderna: desmatamentos para viabilizar a agropecuária, uso de energia de termoelétrias (que queimam combustíveis fosseis) e menos ações de combate a esses problemas. No Brasil, os setores de energia e de transporte são os principais responsáveis pelas emissões dos gases do efeito estufa. “A área de transporte precisa realmente ter uma atenção especial, porque a gente ainda faz muito transporte via caminhão e diesel pelo Brasil inteiro, se usa muito pouco trem e outros transportes que seriam

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muito mais eficientes em termos de emissões”, explica Christianne Maroun, professora do MBA de Gestão Ambiental e Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV). O principal efeito vai além do aumento da temperatura na Terra, estimada em dois graus Celsius até 2050, segundo o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC, sigla em inglês), responsável por avaliar as mudanças socioeconômicas provocadas pela alteração no clima. O impacto maior deve ser sentido mesmo no bolso. Com a mudança no regime de chuvas, haverá períodos mais prolongados de secas e, consequentemente, no volume dos rios. Energia e alimentação ficarão ainda mais caras e a tendência é que bandeira vermelha na tarifa de energia seja uma boa lembrança do passado. Alimentos hoje tão comuns, como o milho e o feijão, se tornarão mais escassos nas mesas, de tão raros vão se transformar em iguarias achadas em delicatessens

PRECISAMOS FAZER MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS NO NOSSO MODO DE VIDA ALEXANDRE COSTA PROFESSOR DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

mais caras. No Brasil, as principais áreas afetadas deverão ser a Amazônia e o Nordeste, segundo relatório Economia da Mudança do Clima, organizado por especialistas da Embrapa, Universidade de São Paulo, Fiocruz e outros órgãos ligados à questão ambiental. “Em uma atmosfera mais quente, a tendência é de ter mais evaporação. Por conta disso é que as regiões com escassez de chuva terão ainda mais problemas com falta de água”, diz o professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Alexandre Costa. Segundo o professor,

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que é especialista em mudanças climáticas, o aquecimento global impactará também diretamente na vida nas cidades litorâneas. “Imagine que 65% das cidades do mundo com mais de 5 milhões de habitantes estão na zona de baixa costeira. A elevação da temperatura em até 2 graus implica uma provável elevação de 6 metros do nível do mar. Salvador seria bastante afetada e Recife ficaria numa situação bastante complicada com o mar avançando. Isso tem potencial de catástrofe”, diz. Bichos e vegetações da Amazônia poderão enfrentar um aumento de até 8°C quando projetados os mesmos níveis de emissão de gases do efeito estufa em 2100. A temperatura capaz de fazer sumir onças pintadas, tucanos, araras-azuis e micos-leões deve transformar a floresta amazônica em uma savana africana, porém, sem as girafas e os rinocerontes. A redução das chuvas também vai impactar diretamente nas produções agrícolas em todos os estados da região. No Nordeste, as chuvas devem diminuir até 30% por dia, segundo o coordenador do programa Clima e Energia do WWF-Brasil, André Nahur. “Dez anos

A emissão de gases do efeito estufa está diretamente li-

ELEVAÇÃO DA TEMPERATURA EM ATÉ 2 GRAUS IMPLICA UMA PROVÁVEL ELEVAÇÃO DE 6 METROS DO NÍVEL DO MAR. SALVADOR SERIA BASTANTE AFETADA ALEXANDRE COSTA

gada ao consumo e às cadeias produtivas que envolvem

PROFESSOR DA UECE

atrás, 80% das emissões de carbono do Brasil vinham do desmatamento. Hoje, elas caíram para 30%. Só que, enquanto isso, as emissões provenientes da energia e da agropecuária cresceram. Hoje, os três estão empatados com 30%”, diz.

obstáculos para uma economia mais limpa

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as grandes empresas, segundo a professora de Gestão Ambiental da FGV Christianne Maroun. “A grande questão que nós temos que discutir na nossa sociedade é o consumo, pois temos uma sociedade monetarizada e baseada em consumo e no livre comércio. Vejo que todas as empresas estão realmente atuando fortemente nesse assunto”, explica ela. Segundo a professora, apesar dos esforços levarem a uma discussão cada vez maior da economia de baixo carbono, as ideias que propõem uma cadeia produtiva mais limpa ainda enfrentam grandes obstáculos. “O pesquisador descobre [uma nova tecnologia] lá na universidade, por exemplo, aí ele vai patentear, vai produzir vários artigos científicos. Mas tem que conseguir produzir aquilo ali num preço minimamente competitivo em relação ao que os outros, que já estão aí há anos, praticam no mercado”, explica. “As dinâmicas comerciais do mundo são muito perversas para as novas tecnologias que podem impulsionar a gente para uma economia de baixo carbono, que é o que a gente quer, que é reduzir as emissões absolutas da terra. Porque São Pedro não está lá com uma planilha olhando reduções absolutas”, diz. “Falam muito em mitigação dos efeitos, mas os limites de adaptação a essas mudanças são muito estreitos. Será que estaremos preparados para esses dois graus mais quentes? Quando se fala em mitigação implica algumas medidas muito claras: abandonar os combustíveis fósseis, carvão e gás, como fonte de energia. Se nós não quisermos que o aquecimento passe de 2º Celsius, é preciso abandonar esses combustíveis, ou nós vamos comprometer as condições de vida”, defende o pesquisador.

Brasileiros dizem que efeitos das mudanças no clima são sensíveis O baixo volume de chuvas impactará diretamente nas bacias que alimentam as hidrelétricas responsáveis por fornecer energia para a região. O volume de água que deve correr nos rios das bacias, principalmente no Nordeste, se confirmadas as previsões até 2100, é alarmante para a vida humana. Parte desse impacto já foi possível ser sentido no Nordeste, que enfrentou a pior seca dos últimos 30 anos em 2012, e por moradores da região de São Paulo, que enfrentaram uma grave crise hídrica em

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PREVISÕES 2050 Temperatura deve subir entre:

1°e 2°

PIB anual da América Latina e o Caribe sofre impacto de 2,5% caso a temperatura passe dos 2˚

PREVISÕES 2100 Na Amazônia, aquecimento pode chegar a

A perda de receita média anual para o cidadão brasileiro deve ficar entre

US$ 291 US$ 874

7°c

Mudanças climáticas podem reduzir em 40% a cobertura florestal na Amazônia, que virará uma savana, ou seja, deserto em meio à floresta

40

No Nordeste, as chuvas tenderiam a diminuir até

2,5

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mm/dia

Redução de chuvas reduziria em 25% a capacidade de criação de bois de corte

As regiões mais vulneráveis às mudanças do clima no Brasil são: Amazônia e Nordeste

E em até 90% da vazão das bacias do ParnaÌba e do Atlântico Leste, com impacto na geração de energia


2015, provocada pela redução do volume de água dos reservatórios. “Temos assistido a secas recordes no mundo todo, como, por exemplo, na Califórnia, no crescente fértil no Oriente Médio, que cobre parte do Iraque e Síria, onde morreu 85% do rebanho. Isso levou, inclusive, a uma fuga das pessoas do campo para as cidades. Já no Nordeste, a gente está com 4 anos de seca e com todas as evidências apontando que essa seca se prolongue. Estamos enfrentando o El Niño mais forte desde 1998. Aquecimento global com efeito do El Niño não dá boa coisa”, diz o professor da Uece Alexandre Costa. Uma pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa Datafolha, encomendada por Greenpeace e Observatório do Clima, mostra que 95% dos brasileiros acreditam que suas vidas já são impactadas pelas mudanças da temperatura do planeta. A pesquisa foi realizada entre 11 e 13 de março de 2015 e ouviu 2.100 pessoas, que responderam à pergunta ‘As mudanças climáticas que estão afetando o Brasil têm relação com a crise hídrica e a crise energética?’. Mais de 90% dos entrevistados disseram que sim. A pesquisa identificou ainda que, para 48% da população, o governo federal faz menos do que deveria para enfrentar esses problemas.

o aquecimento vai custar caro Custa caro migrar da economia tradicional — onde os meios de produção são baseados no consumo de combustíveis que emitem uma grande quantidade de car-

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bono — para o modelo de baixo consumo de carbono. O problema é que manter as coisas como estão vai sair ainda mais caro. E, nesse caso, o custo não será apenas financeiro. Os custos das mudanças no clima do planeta vão da perda de qualidade de vida, com aumento de pobreza, migrações populacionais e problemas de mobilidade, até a redução nos lucros de empresas e a consequente queda na arredacação dos governos. Para deixar a conta ainda mais salgada, vale lembrar que, como dizem os mais antigos, remediar custa mais que prevenir. Para a economista Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), é preciso compreender sustentabilidade além de um rótulo. “Não se trata de uma coisa que não faz sentido para os negócios. Significa que, além de ter um retorno financeiro, você pensa também no capital natural e no capital social. É preciso ter uma visão de longo prazo, um novo olhar”, diz. Ela lembra que durante a Rio +20, realizaram-se exercícios para verificar qual seria a situação do Brasil em 2050. O cenário traçado pelo CEBDS é de um país com uma população de 226 milhões de pessoas, que, para viver bem, precisará “respeitar os limites naturais do planeta, dentro de uma cooperação entre o poder público, a sociedade civil e as empresas”, descreve. Um exemplo do quanto custa ignorar a sustentabilidade, lembra ela, está nos prejuízos causados pela falta de redes de saneamento. O problema, visto como sendo do poder público, impacta diretamente na pro-

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dutividade dos trabalhadores, indica estudo do CEBDS. Aqueles que vivem em locais com redes de esgoto e dispõem de água tratada adoecem menos e têm remunerações 14% maiores. “Os principais impactos são as migrações, a poluição, a seca e falta de mobilidade. Embora os problemas sejam gerais, eles afetam, sobretudo, os mais pobres”, destaca. A diretora do World Resources Institute no Brasil, Rachel Biderman, ressalta que o Brasil já vive os impactos das mudanças climáticas. “No Sul e no Sudeste do país, verificam-se tempestades mais fortes e mais frequentes, com muito mais chuvas, grande parte longe dos reservatórios de água para consumo humano e para abastecer as hidrelétricas. Já no Nordeste, onde já chovia pouco, o cenário de seca se agrava”, destaca. Ela lembra a urgência que a ONU indica para a solução do problema. “É agora ou nunca que a gente resolve essa questão do clima”, diz. Pavan Sukhdev recomenda que governos deixem de lado a mentalidade tradicional: “Para os governos, eu diria que não continuem da maneira tradicional. Parem de investir na economia marrom e invistam na economia verde”.

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Como fazer a transição? O PARADOXO NORUEGUÊS É SEMELHANTE AO BRASILEIRO: COMO EQUILIBRAR UMA ECONOMIA DEPENDENTE DO PETRÓLEO COM CRESCIMENTO BASEADO EM SUSTENTABILIDADE? JÁ A AUSTRÁLIA SUPEROU A CRISE HÍDRICA COM EFICIÊNCIA NO USO DOS RECURSOS NATURAIS E COM MOBILIZAÇÃO DA POPULAÇÃO

O petróleo, que movimenta grande parte da economia no mundo, deu à Noruega um desafio parecido ao do Brasil: como fazer a transição para uma economia mais limpa, invertendo a curva de investimentos do que hoje é um dos maiores pesos na receita dos dois países. A produção de petróleo hoje corresponde ao maior emissor de gases do efeito estufa do país nórdico, junto com o setor de transporte e o setor industrial, um total de 70% das emissões. Por conta do seu tamanho, pouco mais de 5 milhões de habitantes, a Noruega tem como principal desafio reduzir as emissões de gás dentro do território. “A carga tributária sobre alguns setores já é muito alta e alguns desses impostos sobre a emissão de gases já estão embutidos”, explica Olav Lundstol, consultor de energia da Embaixada da Noruega, em palestra no Fórum Agenda Bahia. Como estratégia, a Noruega utiliza

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as compensações para emissões de gases previstas pelo Protocolo de Kyoto, em que compra cotas de créditos de carbono de outros países que emitem menos gases para manter-se dentro da meta prevista pelos protocolos ambientais assinados. Embora as emissões de gases resultantes da exploração e produção do petróleo tenham aumentado, em torno de quase 100%, desde a década de 1990, quando o país participou da Rio-92, o setor industrial e de transporte tem conseguido diminuir os índices de emissões. O alto grau de investimento em pesquisa e desenvolvimento tem tornado a indústria norueguesa cada vez mais eficiente, ou seja, cada vez menos poluidora. O custo tem sido absorvido dentro do próprio mercado e também a partir de investimentos dos governos e setor privado. Já o setor de transporte tem investido nos chamados carros elétricos. Desde o primeiro carro alimentado por fonte limpa, há 30 anos, a Noruega conta hoje com aproximadamente 50 mil veículos que contribuem para a redução de gases resultantes da queima de combustíveis. Da mesma forma que a Noruega tratou a questão do petróleo, a Austrália também aproveitou um momento de crise hídrica, quando foi acometida por uma seca que durou dez anos, para mudar a forma com que tratava a sua gestão hídrica, adotando uma política eficiente do recurso natural. “A partir dessa seca, eles fizeram uma revolução na forma como veem e tratam a água. A diferença é que lá a água tem uma questão econômica envolvida, então tem um mercado de água que não existe no Brasil”, revela o gerente nacional de água da The Nature Conservancy, organização presente em 35 países com a missão de conservar as terras e águas do planeta, Samuel Barrêto. Diferentemente de São Paulo, que demorou a administrar a crise hídrica, a Austrália não só assumiu de imediato o problema da escassez de água como passou a envolver toda a população na busca de soluções para conter a situação. “No caso da região Sudeste, por muito tempo se falava que não tinha problema, que não tinha crise hídrica. Lá não, até criaram mecanismos como uma ampulheta que dura 4 minutos, que é o tempo que você tem para tomar seu banho”, informa. Eles também investiram no reúso de água, possuem uma modelagem matemática para apontar qual o risco dos impactos das mudanças climáticas e ainda licença pelo uso da água, além de um sistema eficaz de gestão dos recursos hídricos.

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Sustentabilidade por toda parte REPÓRTER DO JORNAL CORREIO VISITA A DINAMARCA E A NORUEGA E ACOMPANHA AÇÕES PARA REDUZIR AS EMISSÕES DOS GASES DO EFEITO ESTUFA. A META DOS PAÍSES NÓRDICOS É AUDACIOSA: ZERAR AS EMISSÕES DO CARBONO

Do alto, ainda no avião, a imagem chama atenção. Uma sequência a perder de vista de turbinas para a geração de energia eólica em diversos pontos de Copenhague, capital da Dinamarca. Já nas ruas, quem percorre os bairros da cidade encontra no dia a dia dos moradores outras ações sustentáveis: as bicicletas, por exemplo, ganham cada vez mais espaço e são tão importantes que foram construídas pontes exclusivas para esse meio de transporte. Tanto investimento tem uma finalidade: assim como a vizinha Noruega, a Dinamarca pretende zerar as emissões de gases poluentes do efeito estufa para reduzir os efeitos das mudanças climáticas no planeta. O investimento em energia limpa, inclusive no combustível dos meios de transportes, é fundamental. O planejamento começou há muito tempo, mas até hoje novas ações são implantadas, como o incentivo aos carros elétricos na Noruega.

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“É um trabalho em equipe de diversos ministérios, universidades, instituições e ONGs. Há fóruns regulares para debater questões ambientais e as pessoas têm oportunidade de opinar na elaboração das políticas públicas. Há também sites para monitorar o que vem sendo feito”, explica Olav Lundstol, consultor de energia da Embaixada da Noruega no Brasil, palestrante do último seminário do Fórum Agenda Bahia (Baixo Carbono: A Nova Economia Mundial). Olav acompanhou a mudança de cultura desde menino. Em vez de jogar no lixo, ele juntava garrafas plásticas vazias de sua casa numa sacola. Sempre que ia ao

É UM TRABALHO EM EQUIPE DE DIVERSOS MINISTÉRIOS, UNIVERSIDADES E INSTITUIÇÕES. AS PESSOAS PODEM OPINAR NAS POLÍTICAS PÚBLICAS. OLAV LUNDSTOL CONSULTOR DA EMBAIXADA DA NORUEGA

mercado com a mãe, as colocava numa máquina parecida com aquelas de refrigerante. E saía de lá com o bolso cheio de moedas. “Fazia isso para ganhar uns trocados na infância. Os noruegueses usam essas máquinas no cotidiano, é comum nos mercadinhos”, conta ele. A Noruega é um dos expoentes mundiais em redução de emissões de carbono. Entre os planos do país está reduzir pela metade a emissão de gases poluentes de 1991 até 2030 e zerar os números até 2050. “O envolvimento dos cidadãos é de vital importância para atingir essas metas”, afirma Olav. O resultado está por toda parte. Até visitantes se sentem parte dessa cultura, com vontade de separar o lixo, andar de bicicleta e trocar garrafas por moedas. Estive lá em agosto de 2015 e recebi uma coroa norueguesa, que equivale a R$ 0,50, pela garrafinha de água mineral. Foi supersimples. No próprio rótulo havia indicação de quanto dinheiro eu receberia pelo retorno.

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SOLUÇÕES Abastece de graça Mais de 70% dos 1.100 pontos de recarga para carro elétrico em Oslo são públicos e gratuitos Não paga pedágio Carros elétricos são isentos de pedágios nas estradas e podem entrar nos ferryboats também sem pagar Estaciona free São os únicos veículos que não precisam pagar para estacionar na ‘zona azul’ de lá Não pega trânsito Assim como os ônibus, podem circular nas faixas reservadas para o transporte público Ajudinha da Prefeitura Oslo contribui com a conta e promete instalar um ponto de recarga perto de seu escritório

Na Dinamarca, o sentimento foi o mesmo. Na cidade mundial da bicicleta, Copenhague, impressionam ruas e pontes exclusivas para bikes. Do bairro de Vesterbro, onde estive hospedado, para visitar Christiania, ponto turístico do outro lado do mar, foi mais rápido — e simples — ir de bike do que de metrô.

Governo dá incentivo para uso de carro elétrico na cidade Num país com mais de 95% da matriz energética em hidrelétricas — caso da Noruega — carros elétricos são ótima saída para reduzir as emissões de carbono. Mas não adianta apenas trocar a frota do governo, como fez a prefeitura de Oslo, em 2009. É preciso incentivar o cidadão a querer um veículo elétrico para chamar de seu. De acordo com a consultoria IHS Automotive, em julho deste ano, 22,9% dos automóveis vendidos em Oslo foram assim. No mesmo período, na Holanda, o número ficou em 5,2% e nos Estados Unidos em 0,8%. Segundo a Associação Norueguesa de Veículos Elétricos, da frota do país, estimada em 2,6 milhões de automóveis, 62.500 são elétricos, o que equivale a 2,4% do total. Parece pouco, mas é quase o dobro da fatia de 2013. Com isenção de impostos, os preços de automóveis movidos a gasolina e a eletricidade ficam bem próximos. As vantagens vêm depois: de isenção de pedágio à recarga gratuita na maioria dos pontos de abastecimento da cidade.

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PARTE DA PAISAGEM 3.768 turbinas de geração de energia eólica estão espalhadas pela Dinamarca. Em dias mais ventilados, conseguem suprir toda a necessidade do país e ainda exportar excedentes que chegam a 40%. A produção de energia limpa corresponde a 74% do total das reduções de carbono em Copenhague. Os cataventos gigantes ficam especialmente em lugares próximos do litoral. No centro da capital, Copenhague, fazem parte do skyline do bairro de Christianshavn e estão em pontos de prática de esportes aquáticos

As máquinas recebem garrafa de plástico e devolvem moedas, incentivando a reciclagem

Em Copenhague, há vagões de metrô e trem adaptados para bicicletas

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Troca de plástico por moedas Em 1972, a empresa norueguesa Tomra inventou a primeira máquina de venda reversa do mundo: as pessoas depositavam uma garrafa de plástico e recebiam de volta uma moeda. A invenção está presente em diversos supermercados e mercadinhos por toda a Noruega. Hoje, uma garrafinha plástica de água mineral com capacidade para 500 ml, por exemplo, rende NOK 1. É cerca de 5% do valor que ela custa, cheia, no mercado. Alguns dos produtos trazem o valor da embalagem no próprio rótulo. As mais de 70 mil máquinas de venda reversa da Tomra espalhadas por cerca de 40 países levam para a reciclagem aproximadamente 35 bilhões de recipientes usados de bebidas por ano. Isso poupa uma quantidade de gases poluentes equivalente às emissões de dois milhões de carros percorrendo 10 mil quilômetros cada.

Transporte integrado com bicicleta Além de ciclovias por toda a cidade, Copenhague investe pesado na integração da bicicleta com outros meios de transporte. É o caso dos ônibus, do metrô e dos trens urbanos, que oferecem espaços para os ciclistas viajarem com as bikes. A maior parte das estações ferroviárias tem uma pequena rampa na escada para contemplar a descida e a subida das bicicletas. Interessante é a Bicyle Snake, uma ponte sinuosa de 220 metros de comprimento e quatro de largura, exclusiva para bicicletas. Desde 2013, ela liga duas das principais ilhas do centro da capital dinamarquesa. De acordo com o Plano Climático Copenhague 2025, que pretende tornar a cidade neutra em carbono daqui a 10 anos, as iniciativas ligadas a transporte correspondem a 11% das reduções de carbono.

Eficiência garante melhor uso dos recursos São Paulo foi quem mais sofreu com o drama da falta de água desde 2014. Mas a crise hídrica não é um problema localizado. Segundo o especialista Samuel Barrêto, no Brasil, há uma falsa imagem de que a água é um recurso abundante. “A maior parte

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Antônio Brito, gerente corporativo de p&d da Coelba: eficiência energética

está diponível na Amazônia, onde há uma menor concentração populacional. Nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, que têm mais de 80% da população brasileira, temos apenas 16% da água disponível e boa parte não é apropriada ao uso”, alerta Barrêto em sua palestra no Fórum. No caso de Salvador, Barrêto diz que a demanda hídrica será de 17,3 metros cúbicos por segundo em 2025. “O Plano Municipal aponta que até 2020 a demanda não supera a oferta, mas o estudo não ponderou as mudanças climáticas”, alerta. Apesar do risco de escassez, ele destaca que há um campo de oportunidades. “Poderiam gerar empregos, seja no saneamento, no reúso da água, na infraestrutura verde, promovendo, além dos empregos, o desenvolvimento regional e uma solução estruturante de longo prazo”, informa. O gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Coelba Antônio Brito ressaltou a importância das pesquisas para aumentar a eficiência energética no Brasil. “É preciso desenvolver redes inteligentes capazes de reduzir perdas e aumentar a eficiência do processo”, defende. O desafio é garantir a produção com menor impacto ambiental.

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GIRO PELO MUNDO MAIS SUSTENTÁVEL 1 bons ventos Apesar das grandes reservas de petróleo, o México tem se destacado na nova economia por investir na geração de energia eólica 2 Baixo Carbono A cidade de Almada, em Portugal, possui um sistema de ônibus elétrico, integrado a outros meios de transporte 3 Vou de bike Capital da Dinamarca, Copenhague planeja neutralizar sua emissão de carbono até 2025. Uma das ações para viabilizar a meta é o estímulo ao uso de bicicletas 4 Saída Nova York gastou US$ 1 bi para proteger suas fontes. A cidade já planeja o abastecimento dos próximos 50 anos e consome 1/3 de água a menos do que há 25 anos. Para cada privada e descarga econômicas que instalam, moradores ganham US$ 125 Preservação remunerada Em Minas Gerais, o Programa de Recuperação da Mata Atlântica (Promata) remunera, desde 2008, agricultores e pecuaristas que evitam realizar queimadas nos solos em florestas Crise Na Califórnia, quando os reservatórios chegam a 50%, já se fala em crise hídrica. Em São Paulo, só foi considerado quando alcançou os 5% 1

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Círculo limpo BRASKEM, PETROQUÍMICA QUE OPERA NO POLO INDUSTRIAL DE CAMAÇARI, ADOTA CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE PRESENTES NA ECONOMIA CIRCULAR, DEFENDIDA PELO EMBAIXADOR DA ONU PARA O MEIO AMBIENTE, PAVAN SUKHDEV

Quase 30% da água consumida pela unidade da Braskem no Polo Industrial de Camaçari é reaproveitada, através do projeto Água Viva. Em São Paulo, uma iniciativa similar se chama Aquapolo. A empresa petroquímica está em linha com o conceito de economia circular, defendido pelo embaixador para o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU) Pavan Sukhdev, que um foi um dos palestrantes do Fórum Agenda Bahia 2015, no dia 29 de setembro. Através da economia circular, as empresas buscam uma atuação ambiental sustentável, responsabilizando-se por todo o ciclo de vida dos produtos utilizados durante a operação. O novo paradigma, defendido pelo economista indiano, está entre as práticas adotadas pela Braskem, afirma o diretor de Sustentabilidade da empresa, Jorge Soto. “Nós entendemos que é muito importante enxergar a nossa atividade com base neste conceito, de economia circular, por isso buscamos o reaproveitamento de

220   Agenda bahia 2015


O CLIENTE PERCEBE QUE É UM POUCO MAIS CARO E AINDA ASSIM A DEMANDA CRESCE DIARIAMENTE. EXISTE UMA PERCEPÇÃO DE QUE ESSES PRODUTOS FAZEM PARTE DA SOLUÇÃO JORGE SOTO DIRETOR DE SUSTENTABILIDADE DA BRASKEM

materiais e de recursos”, explica. A plataforma Wecycle, criada pela petroquímica para apoiar cadeias produtivas de clientes, segue esta lógica, diz Soto. Com a iniciativa, lançada em 2015, a Braskem pretende envolver diversos públicos na cadeia de consumo de resinas e estimular que os resíduos sejam reaproveitados, no lugar de se transformarem em lixo. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast) indicam que o plástico representa atualmente 13,5% do que é descartado em aterros e lixões no país. Um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) indica que em 2012 a destinação inadequada de plástico custou ao país R$ 5,08 bilhões. O objetivo da Braskem é modificar essa realidade através de projetos que gerem valor ao produto. Um exemplo disso, lembra Soto, pode ser percebido na parceria entre a empresa e a rede de cafeterias Starbucks. “Ajudamos a Starbucks a tratar o pó de café e o polipropileno. Com isso, eles podem construir contêineres para armazenar os resíduos a partir de produtos que antes seriam tratados como lixo”, explica. Na mesma linha, o programa Ser + Realizador oferece condições para catadores se profissionalizarem e melhorarem o rendimento com a atividade. Atualmente, existem 3 mil beneficiados. O Ser + Realizador está presente em Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, estados onde a Braskem tem presença industrial. Os projetos têm permitido o desenvolvimento profissional de catadores e o aprimo-

baixo carbono: a nova economia mundial    221


ramento dos processos de triagem e beneficiamento de materiais em suas cooperativas. Os cooperados são beneficiados com diversas consultorias e capacitações, garantindo um apoio personalizado, contando também com investimentos em infraestrutura e equipamentos nas centrais. A empresa investe também no desenvolvimento de produtos com base renovável. Todos os anos, a empresa destina R$ 230 milhões no desenvolvimento de tecnologias que auxiliem no desenvolvimento de cadeias sustentáveis, destaca Jorge Soto. Atualmente, a empresa está desenvolvendo a fabricação de isopreno e butadieno a partir do etanol da cana-de-açucar. “O Brasil tem uma grande produtividade para a biomassa e nós tentamos aproveitar isso da melhor maneira possível”, explica. O diretor de Sustentabilidade da Braskem acredita que os produtos que respeitam o meio ambiente terão um espaço ampliado na nova economia, defendida por Pavan Sukhdev, que, entre outros aspectos, irá valorizar iniciativas em sintonia com o meio ambiente. “Existe um mercado muito importante que está para surgir. Nós estamos tentando nos antecipar a ele porque, obviamente, quem sai na frente tem vantagem”, afirma Jorge Soto. Apesar disso, ele afirma que já existe “uma grande demanda” por produtos e serviços sustentáveis. “Ainda que o cliente olhe e perceba que é um pouco mais caro, a demanda cresce diariamente. Existe uma percepção de que esses produtos fazem parte da solução”, diz.

222   Agenda bahia 2015

SER SUSTENTÁVEL DEIXOU DE SER UMA QUESTÃO DE MELHORAR A IMAGEM DA EMPRESA E HOJE REPRESENTA A SOBREVIVÊNCIA DELAS JORGE SOTO DIRETOR DE SUSTENTABILIDADE DA BRASKEM


Empresa recupera quase 30% da água que é utilizada na Bahia Em tempos de crise hídrica, com dificuldades para garantir o abastecimento humano e a geração de energia elétrica, por conta da falta de energia, projetos que estimulam o uso consciente da água e a reutilização do bem natural se tornam fundamentais. Esse é o caso de um outro ciclo que a Braskem está trabalhando para fechar: o da água. Aqui na Bahia, 29% do líquido utilizado pela empresa instalada no Polo de Camaçari é reaproveitado, graças ao projeto Água Viva. Em São Paulo, no polo instalado na Região do ABC, o projeto se chama Aquapolo. Juntos, os projetos economizaram 6,5 bilhões de litros — volume mais do que suficiente para abastecer por um ano uma cidade do porte de Vitória da Conquista, no interior da Bahia, que tem 350 mil habitantes.. Jorge Soto lembra que os benefícios da medida se estendem a toda a sociedade, uma vez que otimiza o recurso para a população e para outras empresas instaladas nos locais. Em pleno funcionamento, os dois projetos possibilitaram à Braskem o reúso de cerca de 2 mil metros cúbicos de água por hora. Com essa iniciativa, os programas se tornam alternativas sustentáveis, inovadoras e eficazes, uma vez que dão nova utilização para um produto que anteriormente era tratado como um resíduo. O aumento do volume de utilização de água reciclada é uma das iniciativas da Braskem que está alinhada ao seu compromisso com o desenvolvimento sustentável, envolvendo não apenas produtos finais, mas todo o processo produtivo, defende Jorge Soto, diretor de Sustentabilidade da empresa. “Ser sustentável deixou de ser uma questão de melhorar a imagem da empresa e hoje representa a sobrevivência delas”, acredita Soto.

baixo carbono: a nova economia mundial    223


Mercado de baixo carbono, uma realidade O termo “economia de baixo carbono” surgiu com o desenrolar das conferências climáticas de Toronto (1988), Genebra (1990), Rio de Janeiro (1992) e Quioto (1997), realizadas pela Organização das Nações Unidas. Refere-se ao mercado de carbono, no qual países com taxas de emissões de gases do efeito estufa abaixo do limite vendem créditos para nações que estão acima do limite recomendado. No processo, os países mais limpos obtêm recursos para investir ainda mais em procedimentos e tecnologias verdes, incluindo a geração de energias renováveis (eólica, solar, hidroelétrica, etc) e o desenvolvimento de processos inovadores que diminuam a emissão de gases do efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono (CO2).

O mercado

US$ 141,9 BILHÕES Como evoluiu o comércio de créditos de carbono (em US$ bilhões) 150

Operações conjuntas de países e ações voluntárias, não atreladas às metas de Kyoto.

120

Mecanismos de Desenvolvimento Limpo Secundário (créditos vendidos por intermediários).

90 60

Mecanismos de Desenvolvimento Limpo Primário (negócio entre vendedor e comprador).

30

Créditos emitidos por Japão e países do protocolo, menos UE. Tratado de emissões da União Europeia.

2005

2006

2007

2008

2009

2010


FLORESTAL

5 segmentos potenciais Levantamento do Centro de Estudos em Sustentabilidade, da Fundação Getulio Vargas, com apoio do Environmental Defense Fund, definiu cinco setores nos quais o Brasil reúne requisitos para se estabelecer como potência econômica e ambiental. São:

SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS Os mercados de serviços ecossistêmicos são incipientes ou meramente voluntários. No primeiro caso está o de títulos florestais – as Cotas de Reserva Ambiental – com potencial para abater 56% do déficit de Reserva Legal e movimentar até R$ 24 bilhões. Similarmente, os Créditos de Logística Reversa de Embalagens já são emitidos por cooperativas de catadores. Em relação às emissões de gases de efeito estufa, as iniciativas são voluntárias, a exemplo dos projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal.

ENERGIAS RENOVÁVEIS No campo das energias renováveis, o cenário é de realidade quanto à fonte eólica (onshore); difícil para a biomassa, em função dos elevados custos; e incerto para solar fotovoltaica, em estágio inicial no país. O potencial de crescimento é afetado pela insegurança regulatória. Pelo lado da demanda, ações de eficiência energética possuem custo inferior ao de expandir a rede e são objeto de programas como o Procel, que em 2013 contribuiu para economizar quase 10 terawatt-hora (TWh) ano, abaixo do potencial de mais de 50 TWh/ano.

O Brasil ocupa a segunda posição também no ranking mundial de cobertura florestal, atrás da Rússia, mas com apenas 0,8% destinado à produção de florestal plantada. O clima e a disponibilidade de terras e água fazem com que o país tenha a maior produtividade mundial na produção de eucalipto e pinus. Mas, com obstáculos de infraestrutura e fundiários, não figura entre os cinco principais exportadores de produtos florestais. Mesmo assim, a área de florestas plantadas pode crescer dos atuais 7 milhões de hectares para 17 milhões de hectares em 2025.

ETANOL Segundo maior fabricante de etanol no mundo, atrás dos EUA, o Brasil apresentou forte crescimento nos anos 2000. Mas, desde a safra 2007/08, o setor sucroenergético tem sofrido com o controle de preços da gasolina e o alto endividamento. Pesam a favor do país o fato de o etanol de cana-de-açúcar ter maior produtividade e potencial de redução de emissões que o milho e a frota de veículos flex fuel, com mais de 20 milhões de automóveis. Apesar da crise atual, a expectativa é de que a produção e o consumo de etanol dobrem até 2022.

AGROPECUÁRIA Respondendo por 22,5% do PIB brasileiro, em 2013, a agropecuária deve sua pujança à mecanização, às condições climáticas e à disponibilidade de terra, o que deve permitir elevar a produção em 34% até a safra 2022/23. Aí está uma grande oportunidade: a agropecuária tem o potencial de reduzir suas emissões em até um terço até 2020, por meio de ações contempladas no Plano de Agricultura de Baixo Carbono, especialmente na produção de gado de corte.


Vilões do efeito estufa Os dois principais vilões chamam-se carvão e petróleo. Só o petróleo é responsável por 35% das emissões de CO2 no mundo. A produção de energia, em todas as formas, responde por quase 60%. A agropecuária equivale a 17%. Outros gases além do CO2, incluindo: Metano (CH4, expelido pelo lixo), Óxido Nitroso (N²O, composto químico que age como anestésico) e Clorofluorcarbonetos (CFCs), totalizando 9%. Incêndios e desmatamentos são responsáveis por quase 10%. A indústria contribui com 4%.


Medidas para gerar economia de baixo carbono Países exemplos de sustentabilidade O Brasil pode ter posição de destaque no cenário mundial, pois se destaca na geração de energia originária de fontes renováveis, como a hidroelétrica e o etanol. Mas ainda precisa evoluir em vários pontos, como na reutilização da água, ainda baixo em comparação com países como França e Reino Unido.

AUSTRÁLIA NOVA ZELÂNDIA DINAMARCA SUÍÇA SUÉCIA ITÁLIA ESPANHA HOLANDA FRANÇA BÉLGICA

Países que mais poluem o planeta Estudo de 2014 põe o Brasil como sexto principal responsável pelo aquecimento no planeta, graças principalmente aos desmatamentos. Estima-se que cada brasileiro emitiu, em 2013, nada menos que 7,8 toneladas de gases de efeito estufa. Estamos acima da média mundial, de 7,5 toneladas por habitante, e acima da média chinesa (6,2 toneladas).

1º CHINA 2º ESTADOS UNIDOS 3º ÍNDIA 4º RÚSSIA 5º JAPÃO 6º BRASIL 7º ALEMANHA 8º CANADÁ 9º MÉXICO 10º IRÃ

Incentivo a processos de reciclagem e reutilização de produtos, já que o reuso diminui a necessidade de produção de novos bens e de extração de recursos naturais, diminuindo a emissão de gases do efeito estufa. Mudança das matrizes energéticas tradicionais — como petróleo e carvão mineral — por alternativas sustentáveis. Investimentos em energia solar e eólica, por exemplo, reduzem drasticamente a emissão dos gases do efeito estufa. Estimular o transporte coletivo (ônibus, metrô) ou alternativo (bicicleta) contribui para diminuir a emissão de CO2, ao desestimular a circulação de automóveis nas grandes cidades. Diminuir drasticamente as taxas de desmatamento de florestas como a Amazônica. Investir em sistemas smart grids (redes inteligentes), que empregam sensores e medidores para ajudar a reduzir o desperdício de energia elétrica.



3

FUTURO DO EMPREGO E VALOR DO TRABALHO


SOLUÇÕES •

Aumentar a compe-

Aumentar taxa

titividade e a produ-

de investimento no

cio para cultura da

tividade do país e das

Produto Interno Bruto

inovação

cidades brasileiras

(PIB) •

Criar ambiente

favorável para incre-

Planejar o desen-

Ter força de trabalho qualificada

volvimento social

mentar a economia

Melhorar a qua-

Oferecer educação

lidade dos gastos

Investir em capital

de qualidade em

na educação dos

humano, tecnologia,

todos os níveis e para

brasileiros. Brasil

inovação, infraestru-

todos os brasileiros

investe mais do que

• •

Criar clima propí-

tura, logística, menor

a média dos países Aliar inovação e

desenvolvidos — 7%

desburocratização,

tecnologia de ponta

do Produto Interno

segurança jurídica e

como diferenciais

Bruto—, mas tem

carga tributária, na

tarifa de energia mais competitiva para setor produtivo

230   Agenda bahia 2015

baixo desempenho •

Investir em pesqui-

na aprendizagem

sa e desenvolvimento

dos alunos


Priorizar o redire-

Estimular univer-

cionamento de recur-

sidades a gerar novos

tes, trabalhadores e

sos para garantir a

conhecimentos e a

empreendedores para

qualidade e equidade

promover inovação

enfrentar, com inova-

na educação

ção e criatividade, as Investir em educa-

constantes transfor-

Reduzir a

ção interdisciplinar

mações tecnológicas

desigualdade

nas universidades. O

educacional no

casamento de habi-

Brasil e nos estados,

lidades diferentes é

a população tenha

com um sistema de

a aposta de inovação

acesso à tecnologia e

financiamento que

no futuro, afirma

estímulo a inovação

destine mais recursos

especialista

• •

Capacitar estudan-

para cidades mais

Garantir que toda

Mudar o formato do

Qualificar e esti-

ensino médio no país,

melhor professores de

mular o ensino téc-

com currículo mais

regiões consideradas

nico para a formação

diversificado e flexí-

de risco ou de difícil

da nova mão de obra

vel para a escolha do

acesso

do país

aluno

pobres e remunere

futuro do emprego e valor do trabalho    231


Buscar o engaja-

produzidos nos esta-

mento e a qualifica-

dos brasileiros

ção dos professores para preparar o traba-

lhador do futuro

Priorizar estratégias para fortalecer as cadeias produtivas

Combinar novas

baianas

formas de ensino para o aprendizado

real

Garantir a modernização e eficiência portuária para

Usar a tecnologia

aumentar a competi-

como um facilitador

tividade

no aprendizado na sala de aula, va-

Estudo apresentado

lorizando o papel

no Fórum Agenda

do professor nesse

Bahia mostra que

processo

Brasil pode ganhar US$ 30 bilhões até

Aliar esforços entre

2030 caso resolva pro-

governo e empresá-

blemas com atrasos

rios na educação dos

nos portos

jovens •

Promover as reformas tributária e trabalhista

Aumentar o valor agregado dos bens

232   Agenda bahia 2015


COMPROMISSOS •

Secretário esta-

Osvaldo Barreto

dual de Desenvolvi-

afirmou colaboração

mento Econômico,

entre o governo e os

Jorge Hereda garan-

municípios para o

tiu que o governo

fortalecimento da

vai atrair a cadeia de

educação básica, a

equipamentos para

educação profissio-

produção de energia

nal e a integração

limpa. A proposta

família-escola

é tornar a Bahia o principal produtor

Secretário de

nacional de energia

Educação de Sal-

eólica em 2016, am-

vador, Guilherme

pliando novos inves-

Bellintani apresen-

timentos e emprego

tou projeto Agentes

no estado

da Educação, uma ponte entre pais e

Secretário de

escolas, para evitar

Educação da Bahia,

evasão escolar

futuro do emprego e valor do trabalho    233



Mudança radical no emprego PROFESSOR DE UMA DAS PRINCIPAIS UNIVERSIDADES DE NEGÓCIOS DO MUNDO, NAEEM ZAFAR DIZ QUE AS RELAÇÕES DE TRABALHO VÃO MUDAR E QUE A INOVAÇÃO VIRÁ DO ‘CASAMENTO’ DE ÁREAS DISTINTAS, COMO PSICOLOGIA E CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO

Seja qual for a sua área, a forma como você trabalha vai mudar — se isso não começou a acontecer ainda. Para o trabalhador do futuro, não vai bastar fazer o que tem que fazer quase que num ritmo automático. Quem quiser sobreviver — e, principalmente, crescer — nesse novo cenário digital, dominado pelas novas tecnologias, terá que se tornar expert em alguma coisa. Patrões e chefes vão esperar, cada vez mais, que seus empregados sejam os melhores no ramo e que conheçam o assunto como ninguém. Além disso, domínio sobre as novidades tecnológicas disponíveis por aí também será regra. Para completar, sua área poderá ser algo totalmente novo — que sequer existe ainda. Isso porque a tendência é que mais especialidades diferentes (como Agricultura e Ciência da Computação) comecem a se “unir”. E é daí que vai surgir a inovação.


Por outro lado, as relações de trabalho também vão mudar. Nesse caso, o impacto maior será sentido por aqueles que, hoje, trabalham em grandes empresas com milhares de funcionários. Se, atualmente, o presidente ou o CEO da companhia não tem contato direto com os funcionários, já que tudo é intermediado por muitas camadas de gerentes e diretores, as relações do futuro devem eliminar esses atores do meio. Assim, o caminho vai ser mais horizontal. Quem diz isso é o professor da University of Cali-

O QUE VAMOS TER NO FUTURO É MENOS GERENTES INTERMEDIÁRIOS. AS RELAÇÕES DE TRABALHO VÃO FICAR MAIS HORIZONTAIS, MAIS EFICIENTES E MAIS DIRETAS. VAI SER UM TIPO DE EMPREGO DIFERENTE

fornia, Berkeley, Naeem Zafar. Especialista em empreendedorismo, inovação e pesquisa de mercado, Zafar abriu o terceiro seminário do Fórum Agenda Bahia 2015. Em entrevista ao CORREIO, por Skype, Zafar garantiu que o futuro está próximo — e que ele não será ruim. Como será o futuro do emprego nessa nova era digital? É difícil imaginar como será, mas acho que nós já temos algumas evidências interessantes desse futuro. Algumas mudanças podem estar relacionadas à economia compartilhada e ao fato de que não já existem tantas limitações de distância. Hoje, as pessoas podem se comunicar facilmente, com rapidez. Isso é só o começo. E você vai ver muitas possibilidades de economia compartilhada. Você tem muito mais dinâmica. Hoje, nos Estados Unidos, precisamos de muitos estacionamentos. Um prédio comercial precisa ter 200 vagas de estacionamento. Mas, no futuro, você não vai precisar de um lugar

236   Agenda bahia 2015

Naeem Zafar é sócio e CEO da TeleSense, empresa no Vale do Silício que cria soluções para a Internet das Coisas. Já fundou seis startups e publicou livros sobre inovação, pesquisa de mercado e financiamento. Também atuou como consultor em 76 países e é professor do Centro de Empreendedorismo e Tecnologia da University of California, Berkeley


para estacionar em todo lugar, porque essas distâncias serão encurtadas. As pessoas vão se deslocar menos, seja porque vão trabalhar mais perto de casa, seja por conta da facilidade de comunicação. Isso vai mudar a percepção dos empregadores? Algumas indústrias estão requerendo mais especialistas. Pessoas em Hollywood, por exemplo, querem especialistas. Elas contratam atores, diretores. Depois que o filme está pronto, contratam arte-finalistas. Se você olhar para cirurgiões, vai ver que eles têm especialidades. No futuro, teremos mais especialistas. Então, esse conceito de arranjar um trabalho e simplesmente se encaixar nele está mudando. Esse é outro exemplo de como o mercado de trabalho será no futuro. Nesse contexto, o que vai ser esperado de um profissional? O que vai ser esperado é que ele seja muito bom em alguma área. Na imprensa, por exemplo, a maioria dos jornalistas deverá ser especialista em uma área de cobertura e terá que apresentar habilidades específicas relacionadas a ela. Como as novas tecnologias vão mudar relações de trabalho? Se você olhar, no passado, tinham muitas categorias dividindo as pessoas numa empresa. Gerentes, diretores. Mesmo hoje, existem muitas pessoas entre os trabalhadores e os chefes. Se uma empresa tem 10 mil funcionários, o presidente não tem contato direto com as 10 mil pessoas que trabalham lá. Os funcionários se reportam aos seus gerentes, que, por sua vez, se reportam aos seus gerentes superiores e assim por diante. Agora, as coisas estão mudando. As tecnologias fazem com que seja possível se comunicar com muitas pessoas diretamente, o que diminui o ruído. Mais e mais dessas tecnologias vão começar a fazer parte do ambiente de trabalho. Por exemplo, com o Facebook e outras redes sociais, você é capaz de aumentar sua rede de contatos. Se você usar redes sociais dentro da empresa, gerentes vão ser capazes de saber o que está acontecendo com todos os funcionários. Assim, o que vamos ter no futuro é menos gerentes intermediários.

futuro do emprego e valor do trabalho    237


As relações de trabalho vão ficar mais horizontais, mais eficientes e mais diretas. Vai ser um tipo de emprego diferente do que as pessoas estão acostumadas. As pessoas e as empresas vão conseguir fazer dinheiro provendo serviços que rompem com a linha tradicional de trabalho que todos conhecem. E de que maneira as universidades e a comunidade acadêmica podem ajudar nesse processo? Essas instituições podem ajudar trazendo luz aos elementos que promovem eficiência. Elas podem in-

O PONTO É QUE EDUCAÇÃO INTERDISCIPLINAR É A INOVAÇÃO VERDADEIRA QUE PODE ACONTECER. (…) UNIVERSIDADES DEVEM PREPARAR OS ESTUDANTES PARA IDENTIFICAR ESSAS NOVIDADES

vestir em uma educação interdisciplinar, o que significa abordar diferentes assuntos de uma forma relacionada, como o exemplo de um “casamento” entre a Psicologia e a Ciência da Computação. Por exemplo, nós já temos o Big Data, que é uma forma de analisar dados sobre o comportamento das pessoas. Também é possível estudar como as pessoas deveriam ser, como deveriam se parecer. Isso é uma união das duas áreas. O ponto é que educação interdisciplinar é a inovação verdadeira que pode acontecer. Cite outros exemplos… Se você observar a ciência da computação em um casamento com telecomunicações, você tem smartphones, por exemplo, que é algo que já temos. Existem muitas possibilidades a serem exploradas ainda, mas, por outro lado, se você cruzar Engenharia Civil, Agricultura e Ciência da Computação, chegaremos a uma área que é nova. E é a partir disso que a

238   Agenda bahia 2015


inovação nasce. As universidades devem preparar os estudantes para identificar essas novidades. E a segunda coisa que elas podem fazer é perceber que também é preciso investir em Ciências Humanas. No Japão, recentemente, eles começaram a fechar cursos da área de Humanas e a investir apenas em computadores e nos cursos de Ciências Exatas. Isso é um erro. Eu acredito que lá, a longo prazo, o que vai acontecer é que as pessoas vão ter dificuldade de se relacionar com outras pessoas. Elas também precisam estudar Literatura, Psicologia, Ciências Sociais e outras matérias da área de Humanidades. Que exemplos o Vale do Silício (na Califórnia) pode oferecer ao Brasil? A questão no Vale do Silício é que se trata de estabelecer uma cultura local. O que acontece no Vale do Silício não acontece em outras cidades dos Estados Unidos, como Houston ou Chicago. Lá, existe uma cultura de empreendedorismo e inovação que foi desenvolvida ao longo dos anos e o Brasil pode investir nisso. Mais pessoas estão criando projetos inovadores e começando novos negócios. É preciso pensar em formas de como desenvolver essa cultura no Brasil. Se trata de promover inovação e de não ter medo de começar uma coisa nova. Diante desse novo contexto digital, é possível dizer que existem profissões que correm o risco de mudar completamente? E, na contramão, que outras ocupações podem se desenvolver mais nesse novo cenário? É verdade que muitas profissões podem mudar por completo. Acho que uma área em que essa é uma preocupação real é o setor de transportes. Muitas atividades na indústria de transportes vão ser totalmente automatizadas, então, se existe uma área com postos de trabalho em perigo de serem substituídos, é essa. Por outro lado, profissões que lidam diretamente com pessoas, em que há um contato com elas, como médicos e outros profissionais de saúde, podem se desenvolver mais. Isso acontece porque vamos ter uma demanda cada vez maior, porque existe uma ligação pessoal do profissional com o paciente. Como são pessoas conectadas a pessoas, fica mais difícil que essas profissões sejam automatizadas.

futuro do emprego e valor do trabalho    239


TENDÊNCIAS Expertise O novo mundo de trabalho exigirá cada vez mais especialistas na área em que atuam. Não vai bastar conhecer o assunto — os profissionais devem saber muito sobre o tema Domínio de novas tecnologias A inovação deve estar cada vez mais presente nas rotinas e nos ambientes de trabalho. Por isso, o trabalhador terá que se manter atualizado para ter o domínio das técnicas. Vale a pena investir em cursos e outros tipos de qualificação Cultura de inovação Tanto o governo quanto a iniciativa privada devem buscar maneiras de criar um clima propício para desenvolver essa cultura no Brasil Não abandonar as humanas Apesar de todo o foco nas áreas de Ciência e Tecnologia da Informação, países não devem deixar de desenvolver e estimular formações e disciplinas de Ciências Humanas. A falta delas pode afetar a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras Rede horizontal É possível que não tenham tantos intermediários como hoje. Presidentes e CEOs poderão se relacionar diretamente com milhares de funcionários

Quais consequências um trabalhador pode ter que enfrentar se não se mantiver atualizado diante de tanta inovação no mercado de trabalho? Na verdade, é possível sim que esse trabalhador chegue até a ser demitido. Isso é uma coisa que vai acontecer lentamente, mas é uma possibilidade real. Não vai ser de uma hora para outra, mas é possível ter consequências como a perda do emprego. Mas, ao mesmo tempo, se você olhar para o passado, se olhar para como estávamos há 300 anos, vai ver que todos estavam lutando pela sobrevivência, matando animais, por exemplo. Hoje, máquinas e tecnologias já fazem isso por nós. Você não vai precisar trabalhar como um louco, assim como você também vai ser capaz de enxergar novas possibilidades. No final, não estamos falando de um futuro ruim (esse que se aproxima). Que tipo de cursos ou outro tipo de qualificações um profissional deve buscar para estar preparado e adaptado a essa nova situação? Acho que as pessoas precisam entender como a tecnologia funciona e entender como é possível aplicá-la em sua vida. É preciso entender como a tecnologia pode fazer as coisas mais fáceis, como ela pode facilitar o transporte e o deslocamento e como ela aumenta a produtividade. Todo e qualquer tipo de curso que estuda isso, que analisa isso e que pode fazer com que você se torne especialista em algo pode ajudar a encarar essa nova paisagem e essa nova indústria de trabalho.

240   Agenda bahia 2015


De que maneira essa era digital pode aumentar a produtividade nas empresas? E como é possível melhorar a qualidade de vida dos funcionários? Acredito que a produtividade está ligada ao fato de que uma empresa pode tomar decisões hoje baseada na tecnologia e na inovação e nos exemplos que já estão disponíveis por aí. Também vejo que os funcionários vão ter mais qualidade de vida, mas isso é um processo que pode durar mais ou menos 20 anos. Essas mudanças são lentas de acontecer,

NO VALE DO SILÍCIO, EXISTE UMA CULTURA DE INOVAÇÃO. É PRECISO PENSAR EM COMO DESENVOLVER ISSO NO BRASIL. SE TRATA DE PROMOVER INOVAÇÃO E DE NÃO TER MEDO DE COMEÇAR UMA COISA NOVA

não é de uma hora para outra. Talvez elas demorem um pouco, porque são grandes transformações que envolvem muitas grandes áreas.

futuro do emprego e valor do trabalho    241


Era de compartilhar COM EXEMPLOS COMO O UBER E O AIRBNB, A ECONOMIA COMPARTILHADA SÓ DEVE CRESCER. O CONCEITO DE CONSUMIR SERÁ DIFERENTE, APONTA ESPECIALISTA EM EMPREENDEDORISMO, IMPACTANDO NOS NEGÓCIOS, NOS EMPREGOS E NAS CIDADES

É bem provável que você já tenha ouvido falar do Uber — talvez já tenha até usado. Em todas as cidades onde o serviço já existe, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, o aplicativo de transporte de carros de luxo tem despertado a ira de taxistas por se tratar de carros particulares e ainda não existir uma legislação específica para o sistema — os motoristas do Uber não têm as mesmas obrigações que os de táxi. Essa novidade (e suas controvérsias) é apenas um dos exemplos de como a Economia Compartilhada pode mudar a rotina das pessoas e das cidades. O princípio dela é bem básico: uma pessoa tem uma coisa e outra pessoa precisa dessa mesma coisa. Logo, por que não compartilhar? Ou até tomar emprestado? “A economia compartilhada está aí e vai crescer ainda mais. Existem muitas empresas que já estão fazendo isso e a razão pela qual isso tem sido visível e eficiente é que, lentamente, a tecnologia tem tornado essas questões possíveis”, afirmou o professor

242   Agenda bahia 2015


No painel Quem É o Trabalhador do Futuro e os Impactos na Produtividade, Luis Breda moderou o debate entre Fernando Veloso, Naeem Zafar e Paulo Alvim

Naeem Zafar, da University of California — Berkeley, durante o terceiro seminário do Fórum Agenda Bahia 2015. E, para ele, é natural que os protestos existam. Especialmente no caso do Uber, que balançou a indústria de táxis. Para o professor, de alguma forma, os taxistas se recusaram a se transformar. Daí, veio alguém e fez isso por eles. “Foi o que aconteceu com os donos de cavalos em 1920, quando os automóveis começaram a ser fabricados. Mas temos que nos adaptar e fazer aquilo que é melhor para a população”. Outros exemplos, como o Airbnb, seguem o mesmo caminho: consolidados, ameaçam o reinado das indústrias tradicionais. Segundo o professor Zafar, na Copa do Mundo do Brasil, no ano passado, cerca de 80% das reservas de hospedagem foram feitas com serviços como o Airbnb e não com o próprio setor hoteleiro. Parece que foi no período jurássico, mas as locadoras de DVD tinham uma lógica

futuro do emprego e valor do trabalho    243


O FORTE DO BRASIL É A ECONOMIA DE SERVIÇO, QUE REPRESENTA 70% DO PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) NACIONAL FERNANDO VELOSO PESQUISADOR DO INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA (IBRE)

parecida — ainda que tenham sido engolidas pelos serviços de filmes digitais e de streaming. “Só que, diferentemente do passado, agora é a vez do bed and breakfast (do inglês, “cama e café da manhã”, quando a hospedagem é em casas de família), é a música, é o compartilhamento de carros… E outras coisas vão surgir, até como o compartilhamento de dinheiro”, explicou, referindo-se a uma espécie de ‘empréstimo compartilhado’. Nesses serviços, uma pessoa pode se cadastrar em um site especializado e, em seu perfil, explicar qual será o uso da quantia. Se for R$ 5 mil, por exemplo, um

NÃO PODEMOS PERDER AS OPORTUNIDADES. É FUNDAMENTAL NESSE PROCESSO SER E ATUAR DE FORMA DIFERENCIADA PAULO ALVIM COORDENADOR NACIONAL DO CENTRO DE REFERÊNCIA DO ARTESANATO BRASILEIRO DO SEBRAE

investidor pode emprestar R$ 500 e exigir um retorno com uma taxa de juros. “Dividindo a quantidade total em pequenas quantidades e em mais pessoas, o risco fica dividido”, afirmou Zafar. Falta de locais para estacionar é um dos problemas que as grandes cidades têm em comum. Em Houston, segundo Naeem Zafar, há uma lei que obriga que prédios comerciais tenham a mesma quantidade de vagas de estacionamento que o número de funcionários do local — o que eleva muito os custos das edificações.

MUITAS EMPRESAS JÁ ESTÃO FAZENDO ISSO E A TECNOLOGIA TORNA POSSÍVEL NAEEM ZAFAR PROFESSOR DA UNIVERSITY OF CALIFORNIA — BERKELEY E ESPECIALISTA EM EMPREENDEDORISMO

Só que a economia compartilhada deve mudar até isso. “Por que você precisa ter um carro se ele fica lá parado? Você tem o Uber. Nos próximos cinco anos, vamos ter uma redução do número de proprietários de carros”. De fato, isso vai ajudar até a reduzir congestionamentos e a tornar as cidades mais inteligentes. Mas tudo deve ser feito de maneira integrada com a Internet das Coisas (IoT, do termo em inglês Internet of Things), já que os engarrafamentos não são causados somente pelo

244   Agenda bahia 2015


grande número de automóveis que estão nas ruas. Por segurança, recomenda-se que motoristas deixem um espaço de até dois metros de distância entre um veículo e outro. Só que essa regra deve mudar com os novos carros sem motorista — que já desfilam por aí em lugares como o Vale do Silício. “Hoje, temos seres humanos atrás do volante. Se os carros conversassem um com o outro, poderiam ficar a meio metro de distância”, analisou o professor de Berkeley. Se isso acontecesse com caminhões, o impacto seria ainda maior do que com os carros particulares, porque chegaria a interferir na eficiência de entrega dos produtos e no mercado de trabalho. “Isso criaria novas oportunidades, porque precisamos de diferentes tipos de ocupações para manter essa nova estrutura”. Até 2020, serão 50 bilhões de dispositivos conectados pela IoT no mundo. Desses, a maior parte estará ligada à geração de eletricidade, à indústria automotiva, aos carros inteligentes e a saúde pessoal. No fim, todos vão deixar sua vida mais fácil. “Imagine que você tem uma reunião marcada para as 6h com alguém na Europa e coloca seu alarme para 5h da manhã. Quando acorda, percebe que alguém mudou o horário para as 9h. Você fica zangado, mas se o seu alarme estivesse conversando com o seu calendário, isso estaria resolvido”, exemplificou o professor. No caso, humanos não vão mais precisar participar desse tipo de conversa — as coisas vão acontecer no nível ‘máquina a máquina’. “Existem muitas decisões bobas que eu não quero tomar. Conversem vocês e simplifiquem minha vida”, brincou Zafar.

futuro do emprego e valor do trabalho    245


Futuro de experts NA ERA DA INOVAÇÃO, CONHECIMENTO GERAL NA ÁREA DE TRABALHO NÃO VAI SER SUFICIENTE. O MERCADO EXIGIRÁ CADA VEZ MAIS ESPECIALISTAS

Se, hoje, mesmo quem tem um diploma pregado na parede já tem dificuldade para encontrar um emprego, o futuro próximo — coloque aí uns 10 anos — não é muito animador. A menos que você seja especialista em sua área. Nesse caso, você vai estar com tudo. Isso porque, em um mundo tão tecnológico e cheio de espaço para a inovação, a tendência é que quem tenha formação generalizada perca seu lugar ao sol. “Nos últimos 30 ou 40 anos, tínhamos expectativas de ter trabalho fixo. A gente saía da universidade e esperava que o setor governamental ou o setor privado nos oferecesse emprego. Mas isso vai mudar”, defende o professor Naeem Zafar, da University of California — Berkeley, uma das melhores universidades de negócios do mundo. É o que já acontece com cirurgiões — todos são especializados em alguma área da Medicina e um não invade o território do outro. “Não quer dizer que isso vai acontecer com todas as áreas, mas muitas vão passar por essa transformação”, prevê o professor Zafar, que abriu o seminário O Futuro do Emprego e do Trabalho.

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Assim, não vai bastar ter conhecimento geral da área de atuação. Pelo contrário: cada vez mais os empregadores vão querer que seus funcionários sejam os melhores de seu ramo e que ainda dominem o uso das novas tecnologias disponíveis e das que virão no futuro. Em seguida, as relações de trabalho devem mudar. Esse tipo de emprego, segundo Zafar, não será permanente. A indústria cinematográfica, por exemplo, já funciona assim desde a década de 1940: atores e diretores são contratados por produção. “Eles vêm, fazem, recebem o dinheiro e vão embora”, explica. Da mesma forma, se grandes empresas costumam ter gerentes separando o presidente ou o CEO do restante dos empregados, isso também deve desaparecer. “É muito mais fácil reunir as ideias dos trabalhadores usando tecnologias, em vez de os gerentes intermediários como filtros”.

TÍNHAMOS EXPECTATIVAS DE TRABALHO FIXO. A GENTE SAÍA DA UNIVERSIDADE E ESPERAVA QUE O SETOR PÚBLICO OU PRIVADO NOS OFERECESSE UM EMPREGO. MAS ISSO VAI MUDAR NAEEM ZAFAR PROFESSOR DA UNIVERSITY OF CALIFORNIA

Todas essas mudanças no mercado de trabalho e as expectativas do próprio mercado vão acabar provocando transformações no ensino, de acordo com o professor de Berkeley. “Ainda precisamos entender em que isso vai ser bom, e em como vai ter implicações no sistema educacional e na forma como treinamos nossos filhos”. Até porque a nova força de trabalho será composta por jovens da chamada Geração Z — nascidos na década de 1990, considerados nativos digitais. “Essas pessoas cresceram com a internet e têm expectativas diferentes. Elas são muito mais sábias e sagazes em relação à internet. Eles têm mais conhecimento na mão deles”. Nesse cenário é que a educação online — que tam-

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bém é a distância — desponta como uma das tendências mundiais. Para Zafar, o sucesso de portais, como o Khan Academy e o Coursera, que reúnem aulas e conteúdos digitais, tem mudado até a forma como escolas e universidades se comportam diante dessa nova era. “Existe um tsunami que está surgindo na educação, porque a maior parte desses ensinamentos online é gratuita. Diversas universidades como o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e Stanford fizeram isso nos últimos anos. E qualquer pessoa pode se beneficiar disso. Você pode estar aqui sentado na Bahia e ter um diploma de especialista em Big Data pelas melhores universidades do mundo”, completa.

ONDE ESTUDAR EM APENAS UM CLIQUE Khan Academy É uma espécie de sala de aula global gratuita, disponível em 36 idiomas, incluindo Português. Confira em https:// pt.khanacademy.org Coursera Um dos mais conhecidos, o portal Coursera foi fundado por professores de Ciência da Computação. É possível fazer cursos de 115 universidades do mundo. Veja mais em https://pt.coursera.org/ Edx Fundado por professores de Harvard e do MIT, tem a maioria dos cursos em inglês (https://www. edx.org)

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MIT OCW Desde 2002, a iniciativa tenta disponibilizar todos os materiais dos cursos do MIT online, de forma aberta. Mais de 175 milhões de pessoas já assistiram aulas de 2.260 cursos. Acesse http://ocw. mit.edu/ My Open Courses Com um acervo de quase 17 mil vídeos, tem cursos que vão de Biotecnologia a Gestão (http://www.myopencourses.com). Udacity Oferece cursos de programação, análise de dados. É pago. (https://www.udacity.com/)


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A nova revolução industrial NÃO É SÓ A MANEIRA COMO AS PESSOAS TRABALHAM QUE VAI MUDAR NO FUTURO. NA PRÓXIMA DÉCADA, CENTENAS DE PROFISSÕES PODEM SER AUTOMATIZADAS — OU SEJA: SUBSTITUÍDAS POR COMPUTADORES, DEFENDE CARL FREY

Operadores de telemarketing, preparem-se: sua profissão está no topo da lista dos postos de trabalho que mais correm risco com a automatização, na próxima década. Ou seja, aquelas que podem ser substituídas por máquinas — especialmente computadores e robôs. Quem diz isso é o professor Carl Frey, da University of Oxford, na Inglaterra. Em 2013, ele conduziu um estudo que classificou as chances de 702 profissões serem automatizadas nos Estados Unidos. Desse total, 47% podem ser substituídas por computadores. Por telefone, Frey, que atualmente é um dos diretores do Programa de Tecnologia e Emprego da Universidade de Oxford, conversou com o CORREIO e falou sobre o futuro do emprego e do mercado de trabalho.

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Como o senhor conduziu o estudo que concluiu que mais de 700 profissões podem ser automatizadas? Nós começamos a olhar para o mercado de trabalho, uma vez que a automação tem se expandido. Historicamente, se você olhar o mercado de trabalho, vai perceber que tem que estar preparado para a forma como a automação vai se associar às atividades. Hoje, estamos diante de uma nova geração de tecnologia e máquinas relacionadas à robótica. Assim, a pergunta que nós nos fizemos foi: como

COMBINAR NOVAS FORMAS DE ENSINO COM A GARANTIA DE QUE OS ESTUDANTES SE BENEFICIEM DAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM É UM BOM CAMINHO PARA AS UNIVERSIDADES

será o futuro do emprego e que tipo de atividades são mais suscetíveis à automação ao longo da próxima década. Tentamos descobrir isso com um grupo de especialistas em máquinas de aprendizagem e robótica móvel. Juntos, na Universidade de Oxford, buscamos apresentar uma nova visão. E fizemos isso associando a possibilidade de automação a critérios como interação social, criatividade, percepção e manipulação. Por que esses critérios? Escolhemos isso porque essas são palavras-chave para que o trabalho humano tenha uma vantagem competitiva. Depois, tentamos classificar o quão suscetíveis os postos de trabalhos são à automação. Fizemos perguntas como “quanto de originalidade o seu trabalho envolve, quanto de associação (a outras habilidades), o quanto de persuasão”… Baseado nisso, chegamos a um algoritmo que prevê quão suscetíveis à automação são esses empregos.

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Carl Benedikt Frey é professor da University of Oxford, na Inglaterra, e um dos diretores do Programa de Tecnologia e Emprego da instituição. Além de pesquisar sobre a transição de nações industriais para economias digitais e seus desafios para o crescimento do mercado de trabalho e do desenvolvimento urbano, Frey também atua como consultor internacional para governos


O que significa ser suscetível à automação? Essas profissões podem ser extintas? Depende muito. Acho que não podemos dizer quais postos de trabalho serão extintos e quais trabalhos a demanda por eles vai diminuir. Não estou dizendo que esses trabalhos vão desaparecer, o que estou dizendo é que eles são suscetíveis à automação. Mas, sim, em alguns casos, as pessoas que ocupam esses postos de alto risco poderão ser potencialmente substituídas por computadores. O que dizemos é justamente isso, que é possível substituir a força humana por computadores. Existe algum motivo para áreas como transportes, logística e setores administrativos serem mais suscetíveis à automação? Sim, existe. É porque o desenvolvimento nessas áreas caminha nesse sentido. Temos inovação na área de robótica, de veículos, e isso afeta o setor de transportes. Hoje, dirigir um carro já é uma atividade que um computador pode fazer. O desenvolvimento na área de robótica móvel também nos levará a isso cada vez mais. Foi uma surpresa que postos de trabalho no setor de serviços tenham alto risco de automação? De certa forma, sim. Um exemplo disso são os garçons e garçonetes ou telefonistas, mas acredito que isso vai acontecer a partir da tecnologia que será implementada para facilitar esses serviços.

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Serão criadas novas ocupações? Claro. Se você olhar para o século passado, vai ver que foram criados trabalhos novos de lá para cá, com pessoas trabalhando com turismo, com engenharia de softwares. Novas profissões são criadas sempre. A velocidade com que isso acontece depende das necessidades do mercado e também do investimento que é feito para garantir que esses novos empregos sejam criados. Acho que a grande questão é saber se o preço pela criação de novos trabalhos será justo, nesse cenário. Nós não sabemos isso ainda. Como essas mudanças afetam o mercado de trabalho? Não é só dizer que a tecnologia cria novos trabalhos e, ao mesmo tempo, destrói trabalhos já existentes. Mas parte das profissões que têm emergido também pode desaparecer, a partir das tecnologias disponíveis. Você vai ver que atividades que requerem baixos níveis de competências vão diminuir. Hoje, você vê que os novos trabalhos na área de biotecnologia, por exemplo, requerem competências específicas. Ao mesmo tempo, os trabalhos que têm alto risco de automação são atividades que requerem menos qualificação. O que vemos é que as oportunidades de emprego se tornarão mais e mais disponíveis para quem tiver essas habilidades específicas.

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PROFISSÕES QUE PODEM SER AUTOMATIZADAS • 0.99 Operadores de telemarketing • 0.99 Trabalhadores de conservação de esgotamento • 0.99 Técnicos matemáticos • 0.99 Corretores de seguros • 0.99 Reparadores de relógios • 0.99 Fiscais e agentes de cargas • 0.99 Preparadores de impostos • 0.99 Operadores de máquinas de processamento • 0.99 Agente de contas • 0.99 Verificadores de dados • 0.98 Montadores de dispositivos de cronometragem • 0.98 Agentes de crédito • 0.98 Avaliadores de seguros • 0.98 Árbitros e autoridades esportivas • 0.98 Contadores • 0.98 Operadores de máquinas de enchimento e embalagem • 0.98 Vendedores de peças • 0.98 Motoristas • 0.98 Modelos • 0.97 Telefonistas


PROFISSÕES COM MENOR RISCO • 0.0028 Terapeutas recreacionais • 0.003 Administradores de gerenciamento de emergência • 0.0031 Profissionais que trabalham com Saúde Mental e pacientes com abuso de substâncias químicas • 0.0033 Fonoaudiólogos • 0.0035 Terapeutas ocupacionais • 0.0036 Cirurgiões bucomaxilofaciais • 0.0039 Nutricionistas • 0.004 Coreógrafos • 0.0041 Engenheiros de vendas • 0.0042 Físicos e cirurgiões • 0.0043 Psicólogos • 0.0044 Delegados • 0.0044 Professores de educação infantil e de educação especial • 0.0045 Cientistas médicos, exceto epidemiologistas • 0.0046 Podólogos • 0.0055 Gerente de Recursos Humanos • 0.0065 Analistas de sistemas • 0.0067 Gerentes de serviço social e comunitário

O senhor enxerga essas mudanças como uma guerra entre humanos e tecnologia ou essa pode ser uma visão muito pessimista? Nós temos que ter consciência de que a tecnologia pode trazer consequências econômicas adversas para os trabalhadores e nós precisamos gerenciar isso. Se você voltar alguns anos atrás, verá que muitas pessoas trabalhavam com agricultura, mas isso foi mudando e muitas pessoas passaram a trabalhar em fábricas. Hoje, a maioria das pessoas ocupa esses postos de trabalho. Logo, a tecnologia é uma oportunidade, mas nós temos que garantir que uma grande parcela da população se beneficie dessas mudanças. Nesse cenário, como os países conseguem ser competitivos? Acredito que, para ser competitivo, você precisa ter uma força de trabalho que possa competir, o que demanda que postos de trabalho sejam criados e que você precisa inovar para criar novas ocupações na indústria. Acho que você precisa estar na linha de frente da tecnologia. O que os países precisam fazer é investir na força de trabalho, investir na infraestrutura que vai prover o ambiente necessário para a inovação e garantir que a população que está às margens se beneficie disso. Não existe ganho econômico se todas as pessoas no país não forem igualmente beneficiadas pela inovação. E também é preciso garantir que uma boa fração da força de trabalho parti-

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ACREDITO QUE, EM UM PAÍS COMO O BRASIL ESSA MUDANÇA TALVEZ ACONTEÇA DE UMA FORMA MAIS LENTA. MAS TAMBÉM PODE SER IGUALMENTE DESTRUTIVO

cipe das atividades. Acredito que atingir o equilíbrio perfeito é um desafio para muitos países. Como essas mudanças podem influenciar o que é ensinado nas universidades? Provavelmente não vai mudar tanto quanto deveria. Mas se você olhar para o meu próprio trabalho (como professor e pesquisador) algumas décadas atrás, a maioria das pessoas simplesmente faria cálculos usando as mãos. Agora, nós temos softwares sofisticados que tornam mais fácil fazer algumas

EMPREGOS QUE TÊM ALTO RISCO DE AUTOMAÇÃO REQUEREM MENOS QUALIFICAÇÃO

pesquisas e chegar a novas percepções. E também houve benefícios quanto a forma como os dados ficam disponíveis. Então, para a pesquisa, acredito que essa conquista foi muito boa. Quando falamos de ensino, acredito que muitas universidades não estão usando a tecnologia tão bem quanto deveriam. É possível investir em jogos de criatividade em plataformas online que promovam aprendizado real. Combinar novas formas de ensino com a garantia de que os estudantes se beneficiem das tecnologias no processo de aprendizagem é um bom caminho para as universidades. Em que os profissionais devem investir para não ficar de fora desse novo mercado de trabalho? Você não vai estar fazendo nada de errado se aprender sobre novas tecnologias para se tornar apto a responder demandas e processos complexos. Mas também acho que existe um risco em focar demais

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EM ALGUNS CASOS, AS PESSOAS QUE OCUPAM ESSES POSTOS EM ALTO RISCO PODERÃO SER SUBSTITUÍDAS POR COMPUTADORES. O QUE DIZEMOS É QUE É POSSÍVEL SUBSTITUIR HUMANOS POR COMPUTADORES

em habilidades técnicas. É preciso investir em competências sociais. O estudo fala sobre a realidade dos Estados Unidos. Como isso pode afetar países em desenvolvimento, como o Brasil? A partir do momento que a tecnologia se torna disponível, ela se torna disponível em todos os lugares. A tecnologia que existe nos EUA pode existir no Brasil, na Suécia ou na Etiópia. Não importa de onde estamos falando. O que importa é a velocidade com que o uso da tecnologia vai afetar os profissionais. Acredito que, em um país como o Brasil, essa mudança talvez aconteça de forma mais lenta. Mas também pode ser igualmente destrutivo, porque o Brasil ainda não tem a indústria de tecnologia estabelecida. Não existem tantas oportunidades de trabalho e o nível de educação da força de trabalho é provavelmente um pouco mais baixo do que nos Estados Unidos. Por isso, o impacto da automatização pode ser tão grande quanto nos Estados Unidos, mas não será tão rápido. Também é preciso investir em desenvolvimento social e esse é o grande desafio. Acredito que se trata de garantir que a população que está à margem também tenha acesso aos benefícios oriundos dessas mudanças. Acho que não existe forma de ser competitivo sem isso.

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Profissionais do futuro próximo PROCURA-SE: CONSULTOR DE APOSENTADORIA E ESPECIALISTA EM SIMPLICIDADE. VOCÊ NÃO CONHECE NENHUM DESSES PROFISSIONAIS, MAS ESPECIALISTAS APONTAM QUE ESSAS ESTÃO ENTRE AS PROFISSÕES QUE SERÃO DEMANDADAS EM FUNÇÃO DAS MUDANÇAS QUE OCORREM NO MUNDO. INOVAÇÃO GANHARÁ AINDA MAIS DESTAQUE

Rodrigo Barreto tem 32 anos, entrou na faculdade de engenharia civil em 2001 e, quando pensava no futuro profissional, se via tocando uma empresa no segmento da construção. Até então, sequer imaginava que, anos depois, mudaria de área e passaria a ganhar dinheiro com a internet. Naquela época, não havia uma dimensão do real potencial que os negócios na internet teriam nos anos seguintes. Assim como ele, nos próximos anos, milhares de pessoas estarão atuando em profissões que nem existem ainda, mas que serão demandadas em função das mudanças que ocorrem no mundo inteiro. Na avaliação da professora e coordenadora na área de pessoas da Fundação Getulio Vargas, Ana Cherubina, o que vai definir as profissões do futuro são as novas

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demandas, tanto na ordem de leitura tecnológica quanto de serviços. “A globalização gerou uma grande abertura, quebrou muros. Associado a isso, temos os grandes avanços tecnológicos, que foram os principais responsáveis da própria evolução da sociedade”, explica a professora da FGV. O futuro ainda não chegou, mas o mercado já aponta o que espera desses profissionais. “A demanda será por profissionais que sejam criativos, inovadores e também líderes em suas áreas de atuação. Que não se limitem ao que é pedido, mas que tenham iniciativa, atitudes empreendedoras e que saibam compartilhar e trabalhar em equipe”, antecipa Ana Cherubina. Se a população tem maior expectativa de vida, é preciso pensar em como proporcionar qualidade a ela. Para isso, especialistas apontam a necessidade de um consultor de carreira. Segundo o professor do Profuturo, da Fundação Instituto de Administração (FIA), Daniel Estima, com a longevidade é preciso pensar nisso, já que, segundo ele, os executivos têm vida útil nas organizações. “Lá pelos 40, 50 anos, ele não tem mais empregabilidade como tinha aos 30. Mas ele não vai se aposentar aos 55. Não é mais o idoso do século passado. Então, precisa ser preparado para a segunda ou terceira carreira. Precisa saber quando entrar no mestrado, quando investir na formação, direcionar a carreira, levantar os recursos necessários, porque, às vezes, a transição da carreira traz impactos financeiros”, explica. Outra profissão que deve ter espaço garantido é a de executivo de inovação. “Da mesma forma que um CEO, vai trabalhar com inovação na organização. Tem carta branca para andar nos diferentes níveis da organização para identificar melhorias de processos, oportunidades, novos produtos e novos negócios”, adianta Daniel Estima, acrescentando que a inovação está na agenda das empresas, mas que cada uma lida com o tema de uma forma diferente. Outro aspecto destacado por Estima é que as empresas precisam de profissionais com maior formação e visão mais abrangente. “O profissional de RH quando recruta uma pessoa tem que alinhar isso com os resultados que a empresa precisa. Tem que saber como investir no profissional que lá na frente vai obter os resultados que a empresa precisa”, pontua.

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A DEMANDA SERÁ POR PROFISSIONAIS QUE SEJAM CRIATIVOS, INOVADORES ANA CHERUBINA PROFESSORA DA FGV

Já as profissões que têm tudo para sair de cena têm como principal rival a tecnologia. “Ao longo do desenvolvimento da humanidade, profissões foram extintas e outras não deixaram de existir, porém, evoluíram, como a profissão de secretária, que passou para assistente e, em alguns casos, para assessora”, exemplica a professora da FGV. Um dos exercícios que podem ser feitos para antever quais são as profissões que podem estar com os dias contados, segundo Cherubina, é avaliar onde e como a automação (uso de robôs e computadores) pode assumir as funções de um trabalhador. “Entre os exemplos de profissões que deixarão de existir estão a de cobrador de ônibus, caixa de banco e de supermercado”, lista. O especialista Daniel Estima completa: “Todas as profissões voltadas ao trabalho mais operacional, mais braçal, podem continuar, mas a oferta trabalhada nessas áreas vai diminuir bastante”.

Relações de trabalho mais flexíveis Além de novas profissões, o futuro trará também mudanças nas relações de trabalho, que passarão a contar

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com mais informalidade e flexibilidade. E isso não significa abrir mão de resultados. Ao contrário, o propósito é justamente alavancá-los. A questão parte da filosofia de que um trabalhador satisfeito traz mais resultados. De acordo com o professor do Profuturo da Fundação Instituto de Administração (FIA) Daniel Estima, a tendência é que aumente a flexibilização com horários, a possibilidade de trabalhar em casa e a realização de reuniões usando ferramentas tecnológicas para aumentar a produtividade. “Os profissionais serão cobrados pelos resultados que oferecem e não pelo horário que entram e saem do trabalho. O foco será nos resultados, nas metas definidas entre líder e subordinado. É menos presença no escritório e mais resultados”, explica. Outra novidade que deve se tornar comum num futuro próximo é a reunião de um pool de empresas funcionando no mesmo espaço. Escritórios e estações de trabalho em espaços alugados, com pessoas trabalhando conjuntamente na mesma área. “Empresas com interesses comuns não justificam que cada uma alugue um espaço. Isso deve crescer, assim como o trabalho autônomo. A tendência é cada vez mais crescer. As pessoas querem associar o trabalho à qualidade de vida, poder gerenciar seu tempo em relação ao trabalho”

padrões informais nas empresas É sexta-feira, passa das 18h, e no sexto andar de um prédio da Avenida Tancredo Neves chama a atenção o som alto. Ao abrir a porta, mesa de sinuca, instrumentos musicais, um freezer cheio de cervejas, grupinhos

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O QUE HÁ NO HORIZONTE Gerente de Eco-Relações vai interagir com consumidores, grupos ambientais e governos para desenvolver e maximizar programas ecológicos Chief Innovation Officer vai trabalhar com funcionários de diferentes áreas da organização para pesquisar, projetar e aplicar inovações Gerente de Marketing e e-commerce vai desenvolver e implementar estratégias de web sites para vender produtos e serviços Conselheiros de Aposentadoria Profissionais responsáveis por ajudar a planejar a aposentadoria Coordenador de Desenvolvimento da Força de Trabalho e Educação Continuada será responsável por gerenciar programas para ajudar funcionários qualificados a atingir níveis avançados em suas áreas de especialização Técnico em Telemedicina estará em equipe que oferecerá tratamento médico para moradores de áreas remotas


bebem e jogam dominó. Aos olhos dos 52 funcionários do escritório do JusBrasil, aquilo faz parte da rotina. Ali é assim. Os sócios se misturam aos funcionários, ninguém usa terno ou gravata, é permitido trabalhar de bermuda e tênis, cada um faz seu horário, dá para ficar em casa se não tiver com vontade de bater ponto no escritório, há reuniões via Skype, funcionário que ganha mais do que sócio e um sagrado happy hour toda sexta, após o fim do expediente. Apesar de toda a liberdade de produção, informalidade e flexibilidade na relação de trabalho, os colaboradores trabalham com metas semanais. “Se ele está entregando as coisas dentro do prazo, não vemos problema nenhum que ele trabalhe de casa. Tem gente que chega no escritório às 10h. Cada um aqui se autogerencia”, diz um dos sócios da empresa, Rodrigo Barreto.

Coordenador de Terceirização Offshore responsável por cuidar que os fornecedores terceirizados mantenham determinados padrões, além de prospectar novas oportunidades de terceirização Chief Health Officer responsável por estabelecer programas de cuidados com a saúde e reavaliação do sistema de seguros da companhia Especialista em Simplicidade vai simplificar e melhorar a eficiência da tecnologia da corporação Analistas de Networking vão pesquisar o fluxo de poder dentro de uma companhia Coordenador de Experiências Educacionais vai criar métodos de aprendizagem que possam ser acessados de diferentes formas — como a Web

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Educados para competir TRABALHADOR BEM FORMADO É MAIS PRODUTIVO. COM OITO ANOS DE ESTUDOS, EM MÉDIA, BRASILEIRO ESTÁ ENTRE OS MENOS PRODUTIVOS DO MUNDO, DIZEM ESPECIALISTAS

Na Coreia do Sul, 65,7% da população entre 25 e 34 anos tem ensino superior completo. No Japão, são 58,6%. Bem distante disso está o Brasil, com apenas 15,2%. Segundo o IBGE, 49,9% dos brasileiros só estudaram até o ensino fundamental. A escolaridade não é o único indicador a ser levado em consideração, mas explica muito o fato de o Brasil figurar entre os países com as taxas mais baixas de crescimento da produtividade no mundo. Em 2011, por exemplo, um brasileiro produzia, em média, 30% do que produzia um sul-coreano. O grau de eficiência do Brasil para produzir bens e serviços é baixíssimo, comparado aos países desenvolvidos, e é o segundo pior da América Latina, ganhando apenas da Bolívia. E nas últimas décadas o Brasil ficou ainda mais distante dos países da fronteira. “A produtividade no Brasil cresceu muito entre 1950 e 1980, período da indus-

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trialização, mas de 1980 até hoje a tendência de crescimento é muito baixa”, observa o especialista em produtividade do Instituto Brasileiro da Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas, Fernando Veloso, palestrante do Fórum Agenda Bahia 2015. Houve até a retomada de um movimento de aceleração na segunda metade dos anos 2000, que coincidiu com a aceleração do crescimento da economia. Mas, de 2011 para cá, voltou a desacelerar, enquanto a produtividade de outras economias seguia crescendo. Segundo especialistas, é impossível ter uma boa produtividade sem investimento em capital humano, tecnologia, inovação, infraestrutura, bom ambiente de negócios, desburocratização e diminuição da carga tributária. Uma simulação realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostra que se o Brasil tivesse o mesmo ambiente de negócios do Chile, a produtividade cresceria 11%. Se a melhoria alcançasse o ambiente de negócios do Japão, cresceria até 29%. “É preciso ter um ambiente que estimule investimentos”, diz o gerente de competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. Para o professor de Inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, palestrante do Fórum Agenda Bahia 2014, entre as causas do mau desempenho da produtividade está o baixo nível educacional dos trabalhadores. “Trabalhadores menos qualificados são menos produtivos. As empresas investem em treinamentos, mas não basta. A qualidade da educação tinha que melhorar muito para ter uma mão de obra mais qualificada e, consequentemente, mais produtiva”, avalia. Outro problema, para Arruda, está na falta de investimentos em inovação. “No Brasil, quando a gente fala em inovação, a prática dominante não é criar uma coisa nova, é melhorar o que a gente já faz. É inovação olhando para o passado. Como sustento minha condição competitiva assim?”. Não bastassem os problemas estruturais e conjunturais, o país passa por ajustes fiscais que impactam na produtividade. “Num ambiente de incerteza, os empresários investem menos e isso reduz a produtividade”, diz Veloso, da FGV. Para os especialistas, se a produtividade não crescer, o Brasil terá dificuldade, por exemplo, de sustentar a atual política de salário mínimo. “Não é possível aumentar

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RANKING DA PRODUTIVIDADE COREIA DO 6,2 SUL TAIWAN CINGAPURA

4,4

ESTADOS UNIDOS

4,4

JAPÃO

3,1

ESPANHA

3,1

ALEMANHA

2,9

FRANÇA

2,2

AUSTRÁLIA 1,3 CANADÁ 1,1 ITÁLIA 0,8 BRASIL 0,6

FONTE: CONFERENCE BOARD

6,7 6,2


FAZ CRESCER A PRODUTIVIDADE

FAZ CAIR A PRODUTIVIDADE

Educação de qualidade

Baixa qualidade da mão de obra

Infraestrutura

Elevada carga tributária

Inovação

Burocracia

Tecnologia

Instabilidade econômica

Ambiente de negócios favorável

Leis trabalhistas defasadas

PRODUTIVIDADE DO TRABALHADOR NO BRASIL (EM %) DE 1948 A 2013

5,7

4,7 3,6 2,4

2,1 1,0 1981-1992

1948-1862

1963-1967

1968-1973

1974-1980

1993-2002

2003-2013

-0,6

CRESCIMENTO DO PIB REAL (EM %) DE 1999 A 2015 (projeção) 3,7 2,8

2,5

1,0 0,1 1999-2006

2007-2012

2012

2015 projeção 2013

2013

2014

-1,2


salário sem que a produtividade suba. Se ela aumenta, quer dizer que o trabalhador produziu uma quantidade maior de produtos e isso permite que ele ganhe mais”, fala Veloso.

China melhorou produtividade ao adotar tecnologias de outros países Não existe uma receita pronta, mas os especialistas sabem os erros que o Brasil cometeu e que se traduziram em baixa produtividade. Sabem, também, os caminhos para mudar esses resultados. Segundo Fernando Veloso (FGV), muita coisa já foi feita para melhorar a produtividade brasileira. O fato dela ter crescido muito pouco mostra o tamanho da dificuldade. Para ele, é preciso melhorar a infraestrutura, a educação, a questão tributária, e mexer com isso não é fácil. “Reforma tributária se discute desde os anos 90 no Brasil. Educação também. O tempo todo se fala que é ruim e não melhora. São fatores difíceis de mudar. Por outro lado, temos vários exemplos de países que aumentaram a produtividade em um curto tempo. Nossa produtividade é em torno de 25% da americana”, ressalta. O fato de estar muito abaixo significa que o país pode adotar tecnologias e métodos de produção desenvolvidos nos Estados Unidos — e em outros países que já são ricos — para reduzir essa distância rapidamente. “Foi o que a China fez e teve um crescimento extraordinário dos anos 80 para cá. Era um país muito pobre e passou pelo processo de industrialização. O Brasil não

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pode mais fazer isso porque já ultrapassou esta fase, mas a China se beneficiou muito da abertura ao comércio internacional. A Índia também tem tido um crescimento significativo, assim como os países da África. Na América Latina temos o Chile e a Colômbia com um crescimento expressivo de produtividade”, compara o especialista. Já para Arruda, mais do que adotar tecnologias que dão resultado em outros países, é preciso ter ferramentas próprias. “O que falta é mais investimentos em inovação, que vão gerar rupturas. O setor agrícola brasileiro é altamente produtivo dentro da fazenda, graças a pesquisas e inovação. Falta isso em outros setores”, pontua Arruda. Ele chama a atenção ainda para a necessidade de o Brasil ter uma agenda combinada do setor público com o setor privado. “Se a empresa precisa de um bom porto, ela tem que participar do processo e investir nesse porto. O mundo faz isso em larga escala. Mas para as empresas fazerem isso elas precisam ter certeza de que as regras vigentes hoje serão mantidas”, avalia. O problema é que, na avaliação de Arruda, faltam lideranças empresariais que chamem a comunidade empresarial para contribuir com o desenvolvimento do país. “É essa agenda que está faltando, é essa liderança que não está muito em evidência hoje”, afirma.

Brasil tem que melhorar a educação O Brasil ocupa as últimas posições no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o desempenho de estudantes de 65 países. No último resultado, divulgado em 2012, o país está na 55ª posição no ranking da leitura, na 59ª em ciências e na 58ª em matemática. O indicador é só mais um termômetro de que a qualidade da educação brasileira não vai mesmo bem. Segundo Renato da Fonseca, da CNI, as pessoas concluem o ensino médio sem um bom conhecimento em disciplinas básicas. “Sem isso é muito difícil ser um trabalhador no mundo atual. Você pega um trabalhador numa indústria, você muda o equipamento e a pessoa não tem noção para interpretar um manual”, diz. Para ele, o trabalhador tem que estar apto às exigências do mundo moderno e isso só é possível por meio da educação. “O trabalhador não é mais aquele que

futuro do emprego e valor do trabalho    271


só aperta parafusos. Ele tem que ser perspicaz o suficiente para perceber que há um problema naquele carro e parar a produção para resolver. Um dos grandes problemas do Brasil em relação à competitividade é a educação. A gente não vai resolver isso num curto prazo. Educação se leva, pelo menos, uma geração para resolver”, explica. Enquanto nos países desenvolvidos metade da população tem ensino superior completo, no Brasil, a escolaridade média é em torno de 7,5 a 8 anos de estudo, o que corresponde ao ensino fundamental completo ou um pouco incompleto ainda. O Brasil investe hoje mais de 5% do seu PIB em educação. Ainda assim, as escolas não oferecem uma educação de qualidade. “O governo fala há muitos anos em melhoria da qualidade da educação básica, mas a implementação dessa preocupação ainda não está gerando resultados devidos”, pondera Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral.

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futuro do emprego e valor do trabalho    273


Educação de qualidade BRASIL INVESTE MAIS EM EDUCAÇÃO DO QUE PAÍSES RICOS, MAS GASTO POR ALUNO É PEQUENO. ESTUDO DA OCDE APONTA QUE, SE GOVERNO BRASILEIRO INVESTISSE MAIS EM EDUCAÇÃO BÁSICA, PIB PODERIA AUMENTAR SETE VEZES

Se todos os países estivessem em uma sala de aula, não seria difícil identificar o Brasil. Como um retrato daquele aluno até esforçado, mas pouco produtivo, o país gasta mais do Produto Interno Bruto (PIB) com educação do que os países mais ricos, mas, ao contrário deles, não consegue atingir bons resultados, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na liderança dos países que possuem melhor relação entre gastos públicos e bons resultados nos rankings de educação estão os países asiáticos, como Coreia do Sul, China, Japão, Cingapura e Taiwan. Esses seriam os nerds, estariam sentados na frente da sala de aula e obteriam as notas mais altas. O Brasil investe 5,7% do PIB em educação, acima da média de 5% dos países mais desenvolvidos do mundo. Porém, segundo especialistas ouvidos pelo jornal CORREIO, apesar do alto investimento quando considerados todos os gastos públicos do país, o

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Brasil não consegue distribuir o dinheiro de forma eficiente para garantir uma boa educação aos brasileiros, nem para tornar a economia mais eficiente. Segundo relatório da OCDE, o PIB do país poderia crescer até 7 vezes o valor atual se garantisse educação básica para todos os adolescentes até 15 anos. Em 2030, PIB anual do Brasil seria 16,1% superior ao atual, que é de R$ 5,521 trilhões. No acumulado até 2095, o estudo apontou que haveria um crescimento de US$ 23 trilhões. “Nosso modelo não é baseado em meritocracia. O montante total de investimentos no Brasil em educação não é ruim, é acima de 5% do PIB brasileiro, o problema está na qualidade e na distribuição”, avalia Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral. Para projetar o salto na economia, a OCDE, que reúne as economias mais desenvolvidas do planeta, avaliou o desempenho dos estudantes brasileiros através dos testes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o raciocínio lógico em matemática e ciências. O resultado foi catastrófico. O Brasil ficou em 60º lugar entre os 76 países pesquisados. A relação entre o investimento do PIB em educação, a qualidade dos gastos e o resultado no crescimento do PIB pode ser medida através da competitividade de cada país. O mau desempenho em administrar os gastos públicos e na pouca eficiência da gestão de negócios e no desenvolvimento da inovação deixa o país na rabeira dos países mais competitivos. “Quanto melhor a educação, maior será a produtividade, maior será o domínio da técnica, melhor será a performance na empresa, pois esse profissional poderá transformar problemas em soluções. Isso está atrelado ao conhecimento que ele tem, que ele construiu desde a educação básica, no ensino médio até sua formação”, defende o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Luís Breda Mascarenhas. O modelo voltado mais para a priorização do ensino superior e menos para a educação básica garante as baixas notas nesses índices. “O nosso desafio é qualitativo e distributivo. Uma boa parte dos recursos é investida no ensino superior, o que produz um modelo histórico colonial, onde uma minoria tem acesso a educação de qualidade e a minoria da educação básica recebe poucos recursos”, afirma Arruda.

futuro do emprego e valor do trabalho    275


INVESTIMENTO POR ESTUDANTE

EDUCAÇÃO × COMPETITIVIDADE Comparativo entre os rankings de educação da OCDE e de competitividade do Fórum Econômico Mundial Cingapura

Hong Kong

Coreia do Sul

Japão

Taiwan

Finlândia Alemanha

1

OCDE Competitividade EUA

76

1

Reino Unido

Colômbia

Letônia

Portugal

Rep. Tcheca

Itália

Eslovênia

Nova Zelândia

Coreia do Sul

MÉDIA DA OCDE

Islândia

Espanha

França

Holanda

Reino Unido

Irlanda

Finlândia

Suécia

Canadá

EUA

Bélgica

Dinamarca

Suiça

Noruega

1.063

3.072

2.985 Brasil

do valor médio

México

4.883

33,3% 4.752

5.152 Chile

Eslováquia

5.613

5.442

Israel

Estônia

7.265 6.222

7.926

7.919

8.067

8.952

8.686

9.291

9.285

9.612

9.588

9.631

10.179

10.037

11.219

10.629

11.760

11.517

12.903

14.099

13.799

Valor aplicado em instituições públicas em todos os níveis de educação (EM US$)

140

França

Brasil

1º 2º 3º 4º 5º 6º 13º 28º 20º 23º 60º 2º 11º 24º 9º 13º 4º 6º

5º 10º 18º 53º


BRASIL INVESTIMENTO DO PIB EM EDUCAÇÃO (EM %)

5,7

Média dos países mais desenvolvidos do mundo

5

EDUCAÇÃO BÁSICA × ENSINO SUPERIOR Em 2000, o investimento no ensino superior era 11 vezes o gasto na educação básica. Em 2011, proporção passou a ser 3,7 SUPERIOR BÁSICO | ATÉ 15 ANOS

GASTO PÚBLICO COM EDUCAÇÃO (EM %) BRASIL

19

2000 MÉDIA OCDE

13

45%

2011

dos adultos brasileiros entre 25 e 64 anos completaram o ensino básico

16,3

Brasileiros têm em média 16,3 anos de educação entre 5 e 39 anos

EDUCAÇÃO NO MUNDO Cingapura tinha altos níveis de analfabetismo na década de 1960, implantou progresso educacional e hoje é o país com a nota mais alta no ranking da OCDE. Dos 76 países avaliados, três sul-americanos ficaram entre os últimos: Argentina (62ª), Colômbia (67ª) e Peru (71ª)

COREIA DO SUL

82%

dos adultos na Coreia do Sul entre 25 e 64 anos completaram o ensino básico

17,5

coreanos têm em média 17,5 anos de educação entre os 5 e os 39 anos

CRESCIMENTO DO PIB (EM %) Potencial dos países ao garantir universalização da educação básica 153 EUA 143 Reino Unido 751 Brasil FONTE OCDE - Education at a glance 2014 (set/2014)


Quando considerados todos os gastos públicos do Brasil, a educação recebe 19% dos investimentos do país, segundo relatório com dados analisados de 2011, enquanto a média dos países da OCDE é de 13%. Porém, o gasto por aluno foi de US$ 2.985, o equivalente a um terço da média dos 34 países integrantes da OCDE, que é de US$ 8.952. O valor está bem atrás do custo por aluno na Noruega (US$ 14.099), Suíça (US$ 13.799), Dinamarca (US$ 12.903), Estados Unidos (US$ 11.760) e Coreia do Sul (US$ 8.686). Segundo o gerente de competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, o Brasil se esforça para garantir uma distribuição mais equilibrada dos investimentos em educação e garantir uma atenção maior para o ensino básico. “O ensino superior é mais caro. A razão era de 10 pra 1 entre gastos no ensino superior e básico por aluno. Isso caiu para mais ou menos em torno de quatro. Ainda é muito alto, ainda se gasta muito mais no ensino superior. Em países da Europa, por exemplo, a proporção é em torno de dois”, diz . A diferença de investimento na educação reflete no tempo dedicado aos estudos e, segundo o diretor do Senai, na qualidade do profissional e na competitividade do país. “O trabalhador americano tem, em média, 13 anos de estudo, na Alemanha, em torno de 12 anos, já no Brasil, apenas 7. Nossa produtividade é um quinto da de um americano”, explica Breda, que exemplifica. “Imagine competir dois profissionais numa empresa. Aquele que teve educação melhor vai ser mais beneficiado, vai ter maior domínio de técnica, maior capacidade de planejamento. As empresas terão de pagar mais por ele, é um profissional mais qualificado, mas o poder de interferência no processo é maior”.

China e Coreia avançam com modelos bem diferentes Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, destaca o modelo adotado pela China, onde todas as escolas são particulares. Segundo ele, o ensino chinês tem garantido bons resultados: o país deu um salto na educação e atingiu um Produto Interno Bruto (PIB) no valor de US$ 9,24 trilhões. “Na China, há um compartilhamento de deveres, em que a educação básica não é apenas do estado, mas também das famílias. A meritocracia é menos agressiva. To-

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dos pagam e a escola não é pública. Todas as escolas são controladas e os melhores alunos têm vagas nas melhores escolas”, explica Carlos Arruda. O modelo, segundo ele, é menos estressante do que o da Coreia do Sul, que modificou as notas nos rankings de educação. “O resultado é inquestionável, mas é resultado de um estresse excessivo. O pré-escolar é quase um vestibular”, afirma Arruda.

Investimento em ensino técnico é uma das saídas O investimento em um ensino técnico mais forte é uma das apostas para a formação de mão de obra mais qualificada e no desenvolvimento da economia brasileira, segundo o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Luís Breda Mascarenhas. Países como França e Alemanha investem em profissionais técnicos e têm crescimento econômico sólido. “No Brasil, ainda existe essa ideia de que o nível técnico é um conhecimento de segundo nível. Os alunos são preparados para o vestibular, mas 80% dos estudantes não vão para as universidades. Nesse tempo todo de estudo, não houve nenhuma preparação para a vida profissional”, explica Breda. Segundo ele, é preciso entender a pirâmide de demanda de mão de obra. “Existe um gradação de demanda por níveis de formação profissional”, explica Breda sobre a importância de profissionais de nível técnico.

futuro do emprego e valor do trabalho    279


Como fazer a diferença QUANTO MAIOR A QUALIFICAÇÃO, MAIOR O SALÁRIO E MELHOR A PRODUTIVIDADE DO TRABALHADOR E DAS EMPRESAS. PAÍSES QUE INVESTEM EM EDUCAÇÃO DE QUALIDADE SÃO OS MAIS COMPETITIVOS

Um trabalhador com nível superior completo, na Bahia, ganha até seis vezes e meio mais do que um profissional sem nenhuma formação. No Brasil, a diferença é de 5,7 vezes, segundo dados da Pnad Contínua, do IBGE. Em média, enquanto o trabalhador baiano sem instrução ganha R$ 566,22, o de nível superior recebe R$ 3.658,34. Mas quando a comparação parte de um trabalhador com ensino médio para aquele que concluiu o terceiro grau, a diferença fica menor: R$ 1.589,47 contra R$ 3.658,34. Segundo o PhD em Economia pela Universidade de Chicago e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) Fernando Veloso, a medida que o país se torna mais desenvolvido passa a demandar trabalhos intensivos em qualificação. Em sua palestra no Fórum Agenda Bahia, Veloso citou como exemplo os Estados Unidos, onde quem tem ensino superior completo ganha muito mais do que quem tem ensino médio e isso tem aumentado desde os anos 80.

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A EDUCAÇÃO É FUNDAMENTAL. SEM ESCOLARIDADE, VAI SER MUITO DIFÍCIL FAZER ESSA MIGRAÇÃO

O especialista realizou estudo sobre produtividade no setor de serviços. “Quando a gente olha no Brasil é um quadro oposto. Os grandes salários em relação ao ciclo anterior estão desabando. O único que subiu foi o ensino superior, mas até a década de 90. Nos anos 2000, caiu”, explica. Segundo o economista, quem ti-

O PRINCIPAL DESAFIO SERÁ ADAPTAR A ECONOMIA E CAPACITAR OS TRABALHADORES E EMPREENDEDORES EM UM CONTEXTO DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS FERNANDO VELOSO PESQUISADOR DO IBRE

nha ensino superior completo ganhava três vezes mais do que quem completou o ensino médio no início dos anos 2000. “Hoje em dia, ele ganha apenas duas vezes mais”, compara. Isso ocorre porque, de acordo com Veloso, aumentou muito o número de pessoas com ensino superior no Brasil nos últimos anos. “Como aumentou a oferta, a procura caiu e, consequentemente, os salários também”. Na avaliação do pesquisador, o fato desse trabalhador qualificado não ter um melhor retorno financeiro retrata uma economia muito pouco dinâmica. “Na economia dinâmica deveria estar girando um enorme

futuro do emprego e valor do trabalho    281


aumento desses prêmios, como aconteceu nos Estados Unidos”, explica. Na Coreia do Sul, 53% dos trabalhadores do setor de serviço têm alta qualificação, no Brasil são apenas 23% e, na China, 15,5%. O problema central da produtividade brasileira é a enorme dificuldade da economia fazer a transição para os setores modernos, o que envolve diferentes variáveis. “Há um grande desafio pela frente, porque será um mundo de cada vez mais transformações tecnológicas. Precisamos pensar em uma estratégia porque já ficou muito claro que essas mudanças vão ter impacto no mercado de trabalho”, pontuou o pesquisador do Ibre.

Maior tecnologia colabora para aumento nos salários O Reino Unido lançou mão de uma reforma para se adequar a um mundo no qual qualificações, flexibilidade e receptividade a mudanças tecnológicas são cada vez mais importantes para a prosperidade. Para isso, adotou uma nova estratégia. “O Reino Unido se preparou para um mundo de flexibilidade nas relações de trabalho. A ideia de que a pessoa não tem mais emprego para toda vida, vai transitar entre vários empregos e que as mudanças tecnológicas terão impacto em várias dimensões. Definitivamente, a gente deveria estar pensando nesses temas”, sugere Fernando Veloso. Em relação a salários, há o que se comemorar com essas mudanças. Veloso informa que se o Brasil absorver mais tecnologia, não resta dúvida de que os salários vão aumentar. “Vão ser mudanças que terão um impacto enorme no mercado de trabalho. Nos Estados Unidos, no final dos anos 70, o número de alunos do ensino superior tem crescido menos do que a quantidade necessária. Essa onda não chegou ao Brasil, mas eventualmente espero que chegue e vai ter enorme impacto”, diz. Veloso lembra que a maior parte da mão de obra está no setor de serviços, que tem baixa produtividade. O setor é dividido em moderno (15%) e tradicional (85%). Números do segmento mostram que 32% dos trabalhadores de serviço moderno possuem 15 anos ou mais de estudo, o que significa, pelo menos, ter cursado o ensino superior completo, enquanto que no serviço tradicional são apenas 15,8% que alcançam essa escolaridade. “O setor moderno é muito mais intenso em mão de obra qualificada.

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Esse é um primeiro grande obstáculo para a gente fazer essa transição, seria melhorar a educação”, avalia Veloso.

Só agropecuária tem crescimento de produtividade Para um país ser competitivo, ele precisa ter uma boa produtividade e nesse quesito pode se dizer que o Brasil vai muito mal. O país, que teve um crescimento médio anual de produtividade em torno de 4,5% ao ano entre 1950 e 1980, estagnou, chegando a registrar queda em 2014. Segundo o PhD em Economia pela Universidade de Chicago e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) Fernando Veloso, o Brasil passou por um período de enormes transformações tecnológicas, mesmo assim, não alavancou a produtividade. Em 1950, mais de 60% da mão de obra brasileira estava no setor agrícola e hoje é algo em torno de 17%. Em contrapartida, o setor de serviços saltou de 27% em 1950 para 66% da mão de obra do país. Segundo Veloso, diferentemente do que ocorre no Reino Unido e nos Estados Unidos, por aqui o emprego na indústria aumentou muito pouco e depois estagnou. “O forte do Brasil é a economia de serviço, que representa 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e gera 2/3 dos empregos”, disse Veloso. Estudo realizado pelo Ibre aponta que a agropecuária é o único setor que tem um crescimento consistente de produtividade no Brasil, só que o nível de crescimento ainda está bem abaixo da produtividade dos demais setores. “A indústria é o setor mais produtivo, mas a produtividade tem caído desde 1995 até 2014”, explica o pesquisador.

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Tecnologia × inovação PALESTRANTES DEFENDEM A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DO PROFESSOR NA ESCOLA DO FUTURO, MAS DIVERGEM SOBRE COMO A TECNOLOGIA DEVE SER APLICADA NAS SALAS. TODOS CONCORDAM QUE INOVAÇÃO É ESSENCIAL PARA A QUALIDADE DO ENSINO

Com tanta tecnologia, como fica o papel do educador nos próximos anos? Que escola que se pretende para formar o capital humano brasileiro? O professor da University of California — Berkeley Naeem Zafar defende o uso da tecnologia, como tablets e programas especiais, em sala de aula. A diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, avalia que a inovação é mais importante do que lousas eletrônicas, holograma e robôs, no processo de aprendizagem. Ambos, no entanto, concordam que o ensino de qualidade é a base para todas as transformações. Naeem reforça que, apesar das tecnologias, o professor não será substituído. “Não estamos substituindo-os, estamos assistindo-os. Hoje, o trabalho do professor é muito difícil e, por isso, a qualidade do ensino cai. Temos que engajar, envolver os professores e eles também vão trabalhar como mediadores”, defende. Priscila acompanhou um dos projetos citados por Naeem, no Quênia, em que a

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tecnologia tem papel importante no aprendizado. Segundo ela, o professor precisa ter um papel mais ativo. Priscila Cruz defende mudanças no sistema atual de ensino, mas que essa mudança não passe pela implementação de tablets e parafernalhas para alunos. “Inovar significa mudar o sistema educacional de ensino. É a escola que precisamos para o futuro que queremos. Não pensar em inovação é desistir de garantir esse futuro melhor, mais interessante e mais sintonizado com o século 21”, acredita. Durante sua palestra, Priscila mostrou que o sistema de ensino não conseguiu avançar, diferente de ou-

É PRECISO BUSCAR IMPACTO REAL. A GRANDE INOVAÇÃO É FAZER O SIMPLES GUILHERME BELLINTANI SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DE SALVADOR

tras áreas. A especialista citou como exemplos os hospitais, que mudaram radicalmente nas últimas décadas. “Programas que envolvem a família e a escola, por exemplo, são excelentes iniciativas. É preciso ver que a escola não é só um quadrado concreto, onde a educação só acontece lá dentro, com disciplinas a cada 50 minutos. A gente precisa inovar no modelo, e nesse modelo pode ter tecnologia”, defende Priscila.

A ESCOLA DEVE ESTAR ABERTA PARA O USO DA TECNOLOGIA. O CELULAR E O TABLET JÁ FAZEM PARTE DA REALIDADE DE NOSSAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES OSVALDO BARRETO SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DA BAHIA

Nesse mesmo ideal de inovar, o secretário de Educação de Salvador, Guilherme Bellintani, citou como exemplo de mudança na estrutura de articular pais, alunos, professores o projeto Agentes da Educação, iniciado em 2015 em escolas públicas do município. O projeto prevê que cada escola tenha um estudante de Pedagogia, que ficará responsável por acompanhar a frequência dos alunos, servir como uma ponte entre os pais e a escola. O objetivo é combater a evasão escolar, um dos principais problemas da educação. “Há uma sé-

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Priscila Cruz, Osvaldo Barreto e Guilherme Bellintani participaram de debate A Virada do Jogo pela Educação, com mediação do diretor executivo do CORREIO, Sergio Costa

rie de coisas que precisam ser resolvidas antes de colocar um tablet na mão de cada aluno”, defende. O secretário estadual de Educação, Osvaldo Barreto, também defendeu os processos de inovação nas escolas do estado. Mas acredita que não é possível mais negar o uso de tecnologias em sala de aula. Para Barreto, os estados devem ser tratados de maneira diferenciada para qualificar o ensino dos jovens. Fernando Veloso, PhD em Economia pela Universidade de Chicago, defende a tecnologia aliada à mudança no perfil dos professores. “O grande papel da tecnologia na educação é facilitar. Na turma, há pessoas com diferentes capacidades, alguns acompanham rápido, outros precisam mais de ajuda. Então, a tecnologia permite você fazer isso em diferentes ritmos”, diz Veloso.

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Transformação começa pela educação básica Fazer o simples. Sem inovações tecnológicas, mas apostando no contato maior entre as escolas e a Secretaria de Educação, em ações corriqueiras como limpeza e poda de árvores, o secretário Guilherme Bellintani aposta na implementação efetiva de 112 ações para revolucionar o sistema de ensino de Salvador. “Cada ação tem orçamento bem definido, com monitores responsáveis por acompanhar cada projeto, modelo de gestão. Dessa forma, conseguimos mobilizar a rede toda, os gestores pedagógicos, as famílias e as crianças. É preciso buscar impacto real. A grande inovação é fazer o simples”, defende. As ações servem para chamar atenção para a gestão do ensino fundamental, onde, segundo o secretário, está a base do qual saíram alunos bem ou mal preparados. “A real transformação se dá por meio da educação básica. A transformação para essa nova realidade na educação se dá nos municípios”, defende Guilherme Bellintani sobre a necessidade de se redefinir a prioridade nos repasses de dinheiro para a educação básica. Segundo ele, o modelo atual distribui o dinheiro de forma desigual.

Celular e tablets no processo de ensino Produtos como celulares e tablets, redes sociais como

GIRO PELO MUNDO NA EDUCAÇÃO Vale do Silício Escolas de São Francisco, na Califórnia (EUA), já começam a mudar por influência do Vale do Silício e da Universidade de Stanford, que têm orientação para inovação. Existem projetos que reorganizaram a sala de aula, o papel do professor e usam a tecnologia como apoio para viabilizar ideias que há 20 anos não funcionariam i-Zone Em Nova York, por orientação do governo, há um incentivo à inovação. Escolas foram liberadas de cumprir algumas burocracias para serem mais inovadoras, na chamada i-zone (innovation zonte, zona de inovação, em inglês) Disciplinas Na América Latina, há experiência na Colômbia, no Peru e no Uruguai, em que escolas testam novos modelos de abordar os assuntos em aulas que integram mais de uma disciplina. No Brasil, apesar de não serem proibidas as disciplinas integradas, por lei, há uma acomodação, segundo Priscila Cruz Bolo dividido Países adotam a divisão de responsabilidades na educação entre governos e empresas para melhorar ensino dos jovens

Whatsapp, Facebook e Instagram, são parte da realidade diária dos estudantes brasileiros. O caminho para aproveitar bem a tecnologia no processo educacional passa pela capacidade de ajudar a garotada que as fer-

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DADOS DA BAHIA

NÍVEL DE APRENDIZAGEM

Taxa de analfabetismo para pessoas de 15 anos ou mais na Bahia diminui de

Porcentagem dos alunos com bom aprendizado em matemática

23,1% 2000

2013

FONTE: PNAD/IBGE

14,9%

Tal redução reflete a alfabetização entre 2007 e 2013 do número aproximado de pessoas de

1.153.000

45%

Alfabetização

36%

Fundamental 1

17%

Fundamental

9%

Ensino médio

FONTE: SEI

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO Educação infantil

87,9%

Crianças que estão na escola no Brasil Crianças que estão na escola no Nordeste

92,6%

Crianças que estão na escola na Bahia

92,7%

Bahia

26% Domínio da leitura Nordeste

30%

Brasil

45%

Educação profissional

11,7%

Estudantes no ensino técnico


ALGUÉM TEM ALGUMA DÚVIDA QUE A ESCOLA VAI MUDAR? ELA VAI MUDAR PRISCILA CRUZ DIRETORA EXECUTIVA DO MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO

ramentas utilizadas para a interação são um caminho para o aprendizado, defende o secretário de Educação da Bahia, Osvaldo Barreto. “A escola precisa estar aberta para o uso da tecnologia. O celular e o tablet já fazem parte da realidade de nossas crianças e de nossos adolescentes. Nós precisamos orientar esse uso para o aprendizado. Os estudantes precisam ver esses materiais como uma possibilidade de pesquisa”, acredita. Mas existem alguns desafios que impedem o processo de funcionar adequadamente. Um dos maiores está na falta de infraestrutura adequada para o acesso à banda larga em algumas regiões do estado. “Em alguns lugares, a escola tem uma rede wifi, o aluno está lá com o celular, mas a rede não suporta que se abra para o acesso irrestrito dos alunos”, lamenta. O jeito é limitar o acesso, diz.

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Desafio de educar SEM EQUILÍBRIO NA DIVISÃO DE RECURSOS, OS MUNICÍPIOS QUE MAIS PRECISAM INVESTIR EM SALA DE AULA SÃO OS QUE MENOS RECEBEM VERBA O salto para tornar o país mais competitivo economicamente e mais rico em capital humano passa pela garantia de uma educação de qualidade, principalmente com ênfase no ensino para adolescentes de até 15 anos. Para o secretário da Educação de Salvador, Guilherme Bellintani, a desigualdade na distribuição de recursos cria diferentes níveis de acesso a ensino de qualidade dentro do próprio país. De acordo com Bellintani, o modelo atual, que toma como base os recursos provenientes da contribuição de cada estado e município, acaba por fortalecer as diferenças entre os níveis de educação. “A forma como está concebida hoje a distribuição dos recursos do país faz com que a cesta seja desigual. Acaba que o estudante de São Paulo recebe mais dinheiro proporcionalmente do que os que estudam nas escolas baianas. Às vezes, até um quarto do valor. É preciso equilibrar essa distribuição para que todos os estados ganhem os mesmos recursos”, defende o secretário, ao citar o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (Fundeb).

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Diretora do Todos Pela Educação, Priscila Cruz propõe um modelo mais radical de distribuição de recursos

Priscila Cruz, diretora-executiva do Movimento Todos Pela Educação, propõe um modelo de distribuição de recursos da educação ainda mais radical: os alunos que estudam em escolas cujos municípios têm piores condições de oferta do ensino e que têm notas mais baixas nos rankings devem receber mais dinheiro público. A lógica passa não pela igualdade de recursos, mas pela garantia da equidade, no qual quem precisa mais deve receber mais, tanto atenção, quanto dinheiro. “Hoje, os adolescentes e as crianças têm acesso a uma qualidade de ensino muito variável no país. É preciso enfrentar esse debate, e acho que essa é uma tarefa de nossa geração, reduzir a desigualdade educacional tratando diferentes os diferentes, dando mais para quem tem menos. É preciso desenvolver um sistema de financiamento que transfere mais recursos para os locais mais pobres e que remunere mais aqueles professores que estão indo para os locais mais difíceis. Eles precisam ter mais apoio, mais recursos, para sair do ciclo de exclusão e pobreza”, argumentou Priscila. “Do jeito que está, quanto mais desenvolvida a cidade, mais ela ganha

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Osvaldo Barreto e Guilherme Bellintani pedem maior igualdade na distribuição de recursos para educação

do Fundeb. A criança que nasce em uma cidade desenvolvida terá educação melhor. Dinheiro já existe, estamos priorizando errado”, diz Bellintani. O secretário de Educação da Bahia, Osvaldo Barreto, lembra que os dados oficiais sobre a educação no Brasil mostram o “tamanho do desafio que o país tem”. Ele faz coro à queixa de desigualdade na distribuição dos recursos. “Os números oficiais mostram que 37% dos estudantes do nível I (ensino fundamental) no Nordeste não aprenderam o mínimo para seguir adiante. No Brasil, a média é de 22%. É preciso equilibrar isso”, afirma.

Modelo atrasado prejudica estudantes Salas de aula com a mesma estrutura do século 19, currículo escolar inchado e pouco definido do século 20 e alunos com a cabeça no século 21. A transformação da educação brasileira passa por mudanças na organização, na grade de ensino e pela valorização de professores. A diretora-executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, diz

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que o desafio de melhorar a qualidade do ensino fundamental e médio inclui a mudança no papel dos professores em sala de aula e na inovação da estrutura da sala de aula. “Se você olhar uma imagem de uma sala de cirurgia do século 19 e comparar com a de hoje, está bem diferente. Se você olhar para uma sala de aula você vai ver exatamente a mesma coisa: alunos sentados e um professor em pé falando sem parar. Precisamos agir rapidamente e não esperar um momento ideal para implementar uma mudança”, alerta. O modelo colaborativo de educação se assemelha a uma redação de jornal, em que os estudantes se dividem por temas e se comprometem a entregar um resultado em um determinado tempo. O professor age como um catalisador do ensino, esclarecendo as dúvidas, e cobrando resultados. “Infelizmente, muita gente pensa que isso desvaloriza a figura do professor. Ao contrário, porque vai se exigir um professor cada vez mais capacitado e sofisticado para administrar a condução desse conhecimento. Ele vai ser um animador do conhecimento”, defende Priscila. A especialista alerta para a urgência da mudança ao citar a baixa aprendizagem dos estudantes que estão em sala de aula. Ela destaca a mudança no currículo, em que se prioriza outras competências dos estudantes. “Alguns países, como a Alemanha e a Suíça, têm excelentes níveis de ensino técnico. Aqui, a taxa é de apenas

NÃO PODEMOS ESPERAR UM MOMENTO IDEAL PARA MUDAR PRISCILA CRUZ DIRETORA EXECUTIVA DO MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO

10%. Se você excluir os 10% que irão para as universidades, nós temos 80% dos estudantes que estão sendo jogados no mercado sem nenhuma preparação”, diz.

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futuro do emprego e valor do trabalho    295


Novo ensino médio no Brasil MODELO BRASILEIRO SEGUE A MESMA ESTRUTURA DE GRADE FIXA EM 13 DISCIPLINAS. ENSINO PROFISSIONALIZANTE E CURRÍCULO MAIS DIVERSIFICADO E FLEXÍVEL SÃO AS SAÍDAS ENCONTRADAS POR TODOS OS OUTROS PAÍSES PARA ENRIQUECER O APRENDIZADO E ESTIMULAR ALUNO EM SALA, SEGUNDO ESPECIALISTA

Em qualquer escola brasileira, seja nas grandes cidades ou no interior do país, a grade curricular do ensino médio é o mesmo: 13 disciplinas divididas em aulas de 50 minutos, em que na maior parte das vezes o professor explica o assunto para alunos sentados em carteiras. Para Priscila Cruz, diretora executiva do Movimento Todos Pela Educação, o modelo brasileiro de formar os estudantes brasileiros está defasado e retrata ainda a mesma estrutura do século 19. “Qualquer país do mundo vai ter um projeto de ensino médio diversificado. Seja por áreas, em que permite ao aluno escolher quais as disciplinas ele quer cursar, que oferece disciplinas obrigatórias, optativas, onde o aluno pode escolher seguir mais pela área de humanas ou de exatas, ou se quer fazer um ensino médio mais profissionalizante”, defende. Segundo Priscila, o Brasil tem de abandonar o

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modelo único fechado voltado para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Todos os especialistas foram unânimes: é preciso melhorar a qualidade do ensino básico, o fundamental, para corrigir os erros ainda na origem. Mas, sem a modernização do ensino médio, a formação do capital humano brasileiro fica ultrapassada. A mudança no formato, defende Priscila, pode tornar o aprendizado mais estimulante, evitando a evasão escolar e baixa qualidade no ensino. “Apenas 9% de alunos do ensino médio têm aprendizagem adequada ao seu ano. É preciso conhecimento diver-

NOSSO SISTEMA (SENAI) DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL É REFERÊNCIA LUIS BREDA DIRETOR SENAI-BAHIA

sificado e complementar. Alguém tem alguma dúvida que a escola vai mudar?”, afirma. Segundo o secretário de Educação da Bahia, Osvaldo Barreto, o estado tem cinco eixos para transformar a educação no estado: a colaboração entre estado e municípios, o fortalecimento da educação básica, a educação profissional, a integração família-escola e outras parcerias. Osvaldo Barreto disse ainda que a secretaria tem

EXISTE NECESSIDADE DE SE REESTRUTURAR O ENSINO MÉDIO. O PRIMEIRO PASSO FOI DADO COM O ACESSO À INFORMAÇÃO EM RELAÇÃO AS ESCOLAS OSVALDO BARRETO SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DA BAHIA

investido em aumentar o acesso ao ensino médio, com a inclusão de estudantes da zona rural. “Existe uma necessidade de se reestruturar o ensino médio. O primeiro passo para isso foi dado com o acesso à informação em relação as escolas”, diz, lembrando que até 2011 não se tinha acesso às notas dos alunos. Fernando Veloso, PhD em Economia pela Universidade de Chicago, concorda com a mudança no en-

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QUALQUER PAÍS TEM O ENSINO MÉDIO DIVERSIFICADO. (…) SEJA PELA ESCOLHA DE HUMANAS OU DE EXATAS, OU POR PROFISSIONALIZANTE PRISCILA CRUZ DIRETORA DO TODOS PELA EDUCAÇÃO

sino médio. “Hoje, é muito voltado para um modelo antigo de absorção de conhecimento, de decorar. É preciso capacitar as pessoas a transitarem em diferentes ocupações”, pondera. O ensino profissionalizante é um caminho. Luis Breda Mascarenhas, diretor regional do Senai, moderador do debate do seminário, também defende a valorização. “Nosso sistema de formação profissional é referência”, afirma.

PROFISSIONALIZANTE Técnico Em países como França, Alemanha e Suíça, o ensino técnico concentra grande parte dos estudantes. Ao contrário do Brasil, onde esse ensino é tratado como se fosse de segundo nível, acredita Priscila Cruz Nova referência Apesar de muitos creditarem à Alemanha, a Suíça é referência atualmente em educação profissional no mundo, garante Priscila. “Lá, existe uma corresponsabilidade das empresas em conjunto com o governo para garantir educação dos jovens”, diz maioria Em sua palestra, a diretora do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, mostrou que, na Suíça, 60% dos estudantes estão no ensino profissionalizante, enquanto os demais nas universidades. “Eles são bem valorizados, não há diferenciação. A Suíça tem a segunda maior renda per capita da Europa”, diz

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O valor das cadeias produtivas O DESAFIO DA INDÚSTRIA NO BRASIL É ANTIGO, MAS A RETOMADA DO CRESCIMENTO PODE SER ACELERADA POR MEIO DE UM AMBIENTE PRODUTIVO MAIS FAVORÁVEL

Há 40 anos, a indústria brasileira vem perdendo espaço na economia do país. O período coincide com a queda no ritmo de crescimento da economia do Brasil, na comparação com o resultado de outros países do mundo. Entre as décadas de 50 e 80 do século passado, a economia brasileira apresentou um crescimento médio de 7% ao ano, de acordo com dados de um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) apresentados pelo professor de Economia da entidade e coordenador do Centro do Comércio Global e Investimentos da FGV, Lucas Ferraz. Para Ferraz, os números mostram que o desafio da indústria no país é mais antigo e mais profundo do que se imagina. A situação está relacionada às grandes cadeias globais de valor mundo afora — processo em que o Brasil estaria tendo dificuldades de se inserir por conta de um modelo econômico protecionista. “O Brasil se encontra ligado a um modelo antigo, que é muito fechado dentro das fronteiras do próprio país. A competitividade precisa ser compreendida de maneira sistêmica atualmente”, defende.

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Secretário Jorge Hereda participou do painel Estratégias para Fortalecer as Cadeias Produtivas Baianas

Apesar dos indicadores apontarem cenários adversos para a cadeia produtiva brasileira, a retomada do crescimento pode ser acelerada por meio de um ambiente produtivo favorável para a indústria, acredita o diretor de negócios da Braskem, Edison Terra. Ele defende que para desenvolver o setor produtivo é preciso estimular a competitividade através de capacitação e garantir o desenvolvimento da inovação, com investimentos em pesquisa e desenvolvimento. “O salto da economia passa pela qualificação de mão de obra e de como agregar valor através da inovação. Temos alguns trunfos na realidade brasileira”, afirma e destaca: “Na cadeia química, um deles é o uso do etanol e outras matérias-primas renováveis”. Ele acredita que a inovação, na busca por soluções, precisa agregar as vantagens competitivas do país para dar mais valor à cadeia de produção e, consequentemente, mais competitividade. Edison defende que o papel do estado é promover um ambiente saudável para o desenvolvimento. Nesse sentido, o secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Jorge Hereda, ressalta os esforços da Bahia para atrair a cadeia de equipamentos para a produção de energia limpa. “A Bahia se destaca na produção de energia renovável. Vamos nos tornar o principal produtor nacional de energia eólica no ano que vem e temos boas perspectivas para energia solar. Isso abre possibilidades para investimentos”, diz.

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Maior valor agregado PARA ESPECIALISTA, A FALTA DE SOFISTICAÇÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA E OS ALTOS CUSTOS DE PRODUÇÃO TORNAM O BRASIL CADA VEZ MENOS COMPETITIVO. TAXA DE INVESTIMENTO NO PIB DEVE AUMENTAR PARA MUDAR ESSE CENÁRIO

O Brasil precisa adotar estratégias que favoreçam o aumento do valor dos bens produzidos aqui para retomar o caminho do crescimento. Nos últimos 40 anos, a indústria do país vem perdendo participação no Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com um estudo do Centro do Comércio Global e Investimentos (CCGI) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para o professor da Escola de Economia da FGV Lucas Ferraz, o baixo valor agregado dos produtos brasileiros explica o movimento. “A indústria brasileira produz cada vez menos e o país vem se especializando em serviços. O problema é que, diferente do que acontece em outros lugares do mundo, o Brasil vem se especializando em serviços de baixo valor agregado”, ressalta Ferraz. O país passa ao largo dos serviços mais valiosos, que são aqueles relacionados à fabricação de bens manufaturados, explica. O que coloca o país nesta encruzilhada são os custos de produção internos, acima dos praticados pelos principais con-

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correntes mundiais. No cenário de competição global, prioriza-se a produção nos ambientes onde os custos são mais competitivos. Nos últimos 40 anos, o país reduziu o volume de investimentos de 5,42% do PIB, em meados da década de 70, para 2,29% em 2012, diz Ferraz. “No melhor ano desde o lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o país teve uma taxa de investimento de 2,5%. A redução dos investimentos em infraestrutura torna o país menos competitivo”, afirma. Ele defende ainda a necessidade de se ampliarem os investimentos na eficiência da operação portuária. “O tempo é um fator muito importante no comércio. Se tem atrasos nos portos, isso é muito ruim. A pontualidade é um fator mais importante até que os custos de tarifas”, diz. Segundo Ferraz, o Brasil pode ter um ganho de US$ 30 bilhões até 2030, caso consiga resolver os problemas de atrasos nos portos. Para o professor da FGV, o Brasil deveria investir

A INDÚSTRIA BRASILEIRA PRODUZ CADA VEZ MENOS E O PAÍS VEM SE ESPECIALIZANDO EM SERVIÇOS (…) DE BAIXO VALOR AGREGADO LUCAS FERRAZ COORDENADOR DO CENTRO DO COMÉRCIO GLOBAL E INVESTIMENTO DA FGV

mais em parcerias comerciais. “Temos que buscar acordos comerciais mais relevantes”, diz. Ele defende que o país priorize acordos comerciais com os Estados Unidos, Europa e a China. Se o Brasil quiser mesmo conquistar uma posição de destaque no comércio mundial, o país terá que abrir a sua economia. O mundo está se organizando em grandes “cadeias globais de valor (CGV)”, onde se formam alianças em torno das melhores condições de produção e as fronteiras nacionais se tornam aspectos menos importantes, avisa Lucas Ferraz. “A terceirização de algumas tarefas para países de

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OS PAÍSES NÃO ESTÃO MAIS BUSCANDO A COMPETITIVIDADE APENAS NO SEU TERRITÓRIO. O CONCEITO PASSA A SER SISTÊMICO LUCAS FERRAZ COORDENADOR DO CENTRO DO COMÉRCIO GLOBAL E INVESTIMENTO DA FGV

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mão de obra mais barata passou a ser uma opção depois da década de 80”, lembra. Segundo ele, a evolução da tecnologia de comunicação, com tecnologias como a videoconferência e o barateamento do custo de frete internacional, permitiu que as etapas de produção passassem a ser feitas em diferentes locais do mundo. Assim, é possível optar por produzir as partes de determinados produtos nos locais em que são oferecidas as melhores condições. “Os países mais verticalizados, que buscam fazer tudo sozinhos, têm um conteúdo de importados mais baixos em suas exportações. Este é o caso da economia brasileira. A cada US$ 1 exportado, US$ 0,87 são de valor adicionado doméstido”, diz. A questão fundamental é que ninguém consegue fazer tudo sozinho de maneira competitiva, ressalta ele. Atualmente, o comércio de bens intermediários corresponde a 66% das exportações mundiais. Enquanto isso, “o Brasil continua privilegiando a maneira antiga de fazer comércio”. Uma das consequências do processo de fragmentação da produção é que o conceito de competitividade passa a ser global. “Os países não estão mais buscando a competitividade, estão buscando apenas o seu território. O conceito passa a ser sistêmico e precisa ser avaliado olhando-se a totalidade da cadeia de produção”, diz. “O valor adicionado passa a ter uma importância grande”, ressalta.

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Maior investimento na Bahia COM POTENCIAL PARA A PRODUÇÃO DE ENERGIA LIMPA E PARA A INDÚSTRIA PETROQUÍMICA, BAHIA APOSTA NO DESENVOLVIMENTO DESSES SEGMENTOS PARA GERAR MAIS EMPREGOS E RENDA

Com a história de um processo de desenvolvimento concentrado na Região Metropolitana de Salvador (RMS), a Bahia luta para melhorar as condições no interior. A aposta para levar empregos e renda para o semiárido, que abrange 64,5% do território baiano, passa pela busca por desenvolver as potencialidades do estado para a geração de energia limpa, a partir dos ventos e da luz do sol, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado (SDE), Jorge Hereda. “A Bahia vai ser a maior produtora de energia renovável do Brasil a partir de 2016. E a região onde se apresentam os melhores índices de ensolação e os melhores ventos é justamente o semiárido, onde há problemas com pobreza”, diz o secretário. O potencial para a geração de energia é um atrativo para as empresas fornecedoras de equipamentos, destaca Hereda. Atualmente, existem 10 empresas da cadeia implantadas aqui e, segundo ele, outras duas estão em processo de implantação.

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Edison Terra, da Braskem: investimento em infraestrutura pode aumentar a competitividade

“Nós acreditamos que é válido apostar no encadeamento produtivo para dar competitividade a essas atividades e garantir empregos aqui”, defende. O secretário avalia que existem problemas “além da alçada” do estado que complicam a atuação da SDE. “Nós acreditamos na importância do planejamento de médio e longo prazo, acreditando que um dia teremos uma reforma tributária, que vai nos permitir acabar com a guerra fiscal e colocar ordem na casa”. Até lá, o secretário acredita que o papel do governo no processo de atração de investimentos é mostrar as potencialidades do estado e “receber bem” quem demonstra interesse em investir. “Nós entendemos que as empresas precisam caminhar com as suas próprias pernas, e temos que lembrar que existe um costume do próprio empresário de atribuir a responsabilidade de tudo para o governo. Mas é muito importante que o Estado exerça o papel de fomento ao desenvolvimento econômico”, ressalta.

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NÃO EXISTE PAÍS COM INDÚSTRIA FORTE QUE NÃO TEM UM INDÚSTRIA PETROQUÍMICA FORTE EDISON TERRA DIRETOR DE NEGÓCIOS DA BRASKEM

Edison Terra, diretor de Negócios da Braskem, ressaltou a importância da Bahia dentro das cadeias química e petroquímica. Cerca de 30% da produção de resinas plásticas é baiana. “A Bahia tem uma relevância enorme dentro do setor, a indústria petroquímica nasceu neste estado. Entre 8% e 10% da transformação de resinas é feita na Bahia”, disse. Para Edison Terra, o investimento em infraestrutura e o ambiente de produção podem aumentar a competitividade do produto baiano. “Não existe país com indústria forte que não tem uma indústria petroquímica forte”, defendeu. O diretor da Braskem defende que, apesar dos indicadores apontarem cenários adversos para a cadeia produtiva brasileira, a retomada do crescimento pode ser acelerada com ambiente produtivo favorável para a indústria. Para isso, é preciso estimular a competitividade através de capacitação e garantir o desenvolvimento da inovação, com investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

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É hora de inverter a equação EM UM AMBIENTE DE COMPETIÇÃO GLOBAL, BRASIL SE VÊ DIANTE DO DESAFIO DE MELHORAR SEUS ÍNDICES DE PRODUTIVIDADE PARA GARANTIR ESPAÇO NO MERCADO INTERNO E EXTERNO PARA OS PRODUTOS DAS EMPRESAS DO PAÍS

O Brasil está diante de um círculo vicioso. Nos últimos anos, o crescimento da economia foi sustentado pelo aumento na quantidade de pessoas contratadas, sem investimentos que permitissem a melhoria na qualidade do trabalho. Entre 2002 e 2012, a produtividade da indústria brasileira cresceu, em média, a minguados 0,6% ao ano, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria. No mesmo período, o indicador que mede o custo da mão de obra, o Custo Unitário do Trabalho (CUT), cresceu, em média, 9% ao ano. Com o custo crescendo em um ritmo 15 vezes maior que o ritmo de produção, a conta não fecha e o resultado final da equação para as empresas é a perda de espaços no mercado. Para os trabalhadores, as consequências são o aumento do desemprego, como ressalta o professor sênior da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Hélio Zylberstajn.

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“A produtividade no Brasil é baixíssima e esta é uma questão que pede uma solução com urgência”, destaca Zylberstajn. Ele explica que países com produtividade baixa não conseguem produzir riquezas. O professor explica que houve um aumento no número de empregos no país nos últimos anos, com elevação na massa salarial, dois indicadores econômicos importantes, entretanto, a performance do Brasil em termos de produtividade diminuiu em comparação com outros países. Em situação oposta à da economia brasileira, a Coreia do Sul conseguiu elevar a produtividade em 6,7% ao ano, mesmo tendo elevado o salário real da população em 2,5%, mais que os 1,8% do Brasil, e ainda assim ter um CUT negativo, segundo dados da CNI. Por que os aumentos de salários em outros países não impactam negativamente a produtividade? “O Brasil oferece ao setor produtivo uma mão de obra pouco qualificada e, por conta disso, as empresas produzem menos do que poderiam”, diferente do que acontece na Coreia, compara. Ele explica que esse cenário é crítico para o futuro, porque tende a tornar os produtos brasileiros cada vez mais caros que os fabricados em outros mercados mundiais. Prêmio Nobel de Economia em 2008, o norte-americano Paul Krugman tem uma frase que serve de mantra para o pesquisador de Inovação da Fundação Dom Cabral Hugo Soares: “No curto prazo, a produtividade não é nada. No longo prazo, é tudo”. Há quatro anos, quando o norte-americano dizia isso, o Brasil já dava sinais de queda em seus índices de produtividade e não aproveitou o cenário favorável, lembra Soares. “Há quatro anos, o Brasil surfava na ‘crista da onda’, com um PIB em crescimento, mesmo não exportando produtos de alto valor agregado e com um gasto público alto. Já havia sinais de que a situação não era boa”, lembra Hugo Soares. Embora a situação seja ruim para o setor produtivo como um todo, são as empresas que competem internacionalmente as principais prejudicadas, diz Soares. “As empresas com acesso ao mercado internacional acabam sofrendo para conseguir oferecer os produtos, porque enfrentam custos típicos do Brasil que encarecem os seus produtos”, diz o professor.

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AMBIENTE DE COMPETIÇÃO BRASIL EM DEZ ANOS Posição no ranking 2015 primeiro Suíça

56 64

66 2006

72

53

58

2009

48 56

57

2013

2014

2012 2011

2010

75

2008

2007

2015

Guiné 140 2015

NOV

DEZ

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

-111.199

OUT

-115.599

2015 SET

JUL

AGO

-555.508

Geração de vagas formais

Fonte Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fundação Dom Cabral (FDC) e Ministério do Trabalho Emprego e Renda (MTE)

-86.543

-157.905

SALDO DE EMPREGOS NO BRASIL

-2.415

-30.283

-81.774

8.381

19.282

123.785

101.425

AGO

-97.828

2014


Taiwan -6,2

Estados Unidos -5,2

Coreia do Sul -3,0

Japรฃo -1,7

Alemanha -1,4

Cingapura -1,1

Franรงa -0,4

Espanha 0

Itรกlia 1,7

Canadรก 2,3

Austrรกlia 5,3

Brasil 9

CUSTO DO TRABALHO

AUMENTO ANUAL (Em %)


Infraestrutura pode resolver no curto prazo A falta de recursos para investimentos em infraestrutura impede o Brasil de lançar mão da melhor estratégia de curto prazo para reverter a falta de produtividade na economia, avalia o professor de Inovação da Fundação Dom Cabral Hugo Soares. Em comparação com o ano passado, o país reduziu em 50% a capacidade de investimento, que era de 16% do Produto Interno Bruto (PIB) e passou para 8%. “No curtíssimo prazo, investir em infraestrutura é fundamental, mas o problema é que falta fôlego ao governo para bancar esses investimentos com o déficit público”, diz. Completam a receita para reverter o cenário, investimentos em inovação e, principalmente, em educação, pondera Soares. “É vergonhoso, mas no teste piso da educação, aquele que mede o conhecimento das pessoas em Português e Matemática, a média do Brasil é de 60%”, lembra. Hugo Soares lembra que quando a discussão muda de produtividade para a competitividade — que mede a capacidade de produzir na comparação com outros países — o cenário brasileiro é preocupante. “Tivemos uma queda de 18 posições no Relatório Global de Competitividade por conta de problemas com nossa carga tributária, legislação trabalhista e pela falta de inovação”, enumera. Para o professor sênior da FEA-USP Hélio Zylberstajn, o caminho para elevar a produtividade do trabalhador brasileiro passa por decisões de governo relacionadas à educação. “A falta de qualificação está na raiz da baixa produtividade e o problema é que a solução para isso está cada vez mais longe das empresas”, acredita. Zylberstajn lembra que há alguns anos era possível que o setor produtivo investisse em determinados conhecimentos, que permitiam ao trabalhador dominar processos industriais mais simples. “Hoje, as operações são mais complexas e exigem conhecimento que o trabalhador, mesmo de nível técnico ou superior, nem sempre dispõe”, afirma. Neste caso, a solução a longo prazo seria o investimento na qualidade da educação brasileira. “Houve um esforço do governo brasileiro no sentido de solucionar a questão numérica. Hoje existem vagas na educação pública suficientes para todos, mas ainda falta enfrentar o problema qualitativo”, pondera o professor da FEA-USP. Ele

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acredita que a escola brasileira precisa ser reestruturada para se voltar para o mercado de trabalho. “O trabalho que as entidades do Sistema S faz é maravilhoso, só que acontece em um universo reduzido na comparação com o que seria necessário”, diz o professor. A médio prazo, diz, o ideal seria que se investisse no beneficiamento de produtos que o país exporta atualmente em larga escala como bem primário, as commodities. “O Brasil é campeão na produção de café in natura, mas processa muito pouco. Isso reduz nossa

O PAÍS PRECISA DE UMA REFORMA TRIBUTÁRIA O QUANTO ANTES, TEM QUE TER TAXAS DE JUROS MAIS BAIXAS, MAS NÃO DE MANEIRA ARTIFICIAL ARMANDO MONTEIRO NETO MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO E COMÉRCIO EXTERIOR

produtividade”, diz.

Governo prevê melhoria com dólar alto A aposta do governo brasileiro para aumentar a competitividade das empresas do país no curto prazo está relacionada à alta do dólar. O ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio (Mdic), Armando Monteiro Neto, diz que só a médio e longo prazos o país vai conseguir atacar outros problemas conjunturais, como a falta de infraestrutura adequada e a questão tributária. “A estratégia no curto prazo é aproveitar a janela do câmbio e oferecer elementos adicionais, como financiamentos, seguro e garantias ao exportador”, disse em encontro com jornalistas promovido pela Apex-Brasil, em agosto de 2015. Para ele, o câmbio vai trazer um “alívio imediato” aos exportadores brasileiros. Entretanto, Monteiro faz questão de ressaltar que está atento às questões de médio e longo prazo. “A questão de logística, dos custos de mão de obra, a questão tributária. Temos o custo da energia, que é outro ele-

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mento muito importante. Esses fatores precisam estar em linha com o que nossos concorrentes têm. Se isso está fora do lugar, as condições se tornam muito desfavoráveis”, destaca. “Esses pontos (do PNE) vão ajudar no curto prazo, mas existem questões mais de médio prazo que o Brasil vai ter que resolver. O país precisa de uma reforma tributária o quanto antes, tem que ter taxas de juros mais baixas, mas não de maneira artificial, e sim de um ambiente macroeconômico mais equilibrado, com inflação controlada”, diz.

Projeto alcança retornos de até 108 vezes Apesar de grande parte dos problemas relacionados à produtividade depender de soluções estruturais, existem pequenas ações que podem ajudar empresas dos mais diversos portes a melhorar os índices de produtividade da “porteira para dentro”. É o que mostra um projeto da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Aumentar a produtividade é um dos desafios mais importantes para a indústria brasileira, sobretudo em um momento de ajuste fiscal e retração econômica. A iniciativa da CNI, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), mostrou que é possível mais que dobrar a produtividade e reduzir as despesas de produção em pouco tempo, com medidas simples e, mais importante, com baixo custo para as empresas. O resultado foi um retorno financeiro entre 8 e 108 vezes maior que o valor investido pelas indústrias. O Programa de Apoio à Indústria Brasileira para o Aumento da Produtividade funcionou em quatro estados brasileiros (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Ceará), onde foram selecionadas 18 empresas de médio porte — com faturamento entre R$ 3,6 milhões e R$ 20 milhões — de cinco setores: alimentos, confecção, calçados, metalmecânico e brinquedos. O investimento médio por empreendimento foi de R$ 18 mil e a ideia era utilizar os recursos humanos e os instrumentos existentes na própria fábrica. Os consultores do projeto analisaram o processo produtivo de cada empresa e buscaram soluções

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CINCO PASSOS PARA TER MAIS PRODUTIVIDADE ferramentas Organização dos materiais em ordem poupa tempo e reduz a movimentação Libere espaço Mantenha no chão da fábrica apenas o que é necessário para a produção de um determinado período Padrão A fabricação de qualquer coisa deve seguir parâmetros preestabelecidos Olhar externo Peça a alguém de fora para dar uma opinião sobre a sua produção Ouça o funcionário Na maioria das vezes, ele tem boas propostas, simples e baratas

inteligentes, por vezes simplórias, para diminuir o desperdício de tempo e materiais, e, consequentemente, reduzir os custos de produção. Na maioria das indústrias atendidas, havia excesso de estoque, disposição inadequada dos espaços de trabalho, falta de organização de peças e insumos, como ferramentas, e ausência de padronização de cada etapa de montagem. O gerente-executivo de Política Industrial da CNI, João Emílio Gonçalves, explica que o projeto foi desenvolvido de forma que empresas de qualquer porte ou setor possam se beneficiar. “O aumento da produtividade é uma necessidade de todas as empresas brasileiras e o projeto mostrou que é possível ter ganhos expressivos de maneira rápida e barata, alcançando um grande número de empresas. Falta apenas uma ação coordenada dos atores para dar escala ao projeto”, afirma, em nota.

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Caminho para crescer A RETOMADA DO DESENVOLVIMENTO NO BRASIL PASSA PELA EXECUÇÃO DE UMA AGENDA DE REFORMAS LIBERAIS, APONTA O ECONOMISTA ALEXANDRE SCHWARTSMAN. PARA ELE, A POLÍTICA ECONÔMICA IMPLEMENTADA NOS ÚLTIMOS ANOS DESAJUSTOU AS CONTAS DO PAÍS

Em dez anos, entre os anos de 2002 e 2012, a produtividade média do trabalho no Brasil cresceu 6,6%, de acordo com uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e apresentada no início deste ano. É como se a cada ano o retorno pelo trabalho tivesse crescido apenas 0,6%, enquanto em outros países do mundo que disputam mercados com o Brasil obtiveram resultados superiores. Caso da Coreia do Sul, a melhor colocada no ranking, que obteve em um ano mais produtividade da indústria que o Brasil em 10 anos. Para o economista e consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, investir no aumento da produtividade é o caminho para o desenvolvimento do Brasil.

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O Brasil se tornou a sétima economia mundial, atraiu investimentos de diversas regiões do planeta, mas nos últimos anos o país tirou o pé do acelerador e tem perdido cada vez mais espaço entre os principais concorrentes mundiais. Como é possível reverter este processo? O caminho para reverter o atual momento vivido pelo país é o que vem sendo tentado pela equipe econômica. É um trabalho complicado, porque significará retroceder em algumas questões e poderá acabar criando algum desconforto para muita gente. Uma das áreas que vão terminar sendo mais impactadas negativamente pelo cenário é exatamente o mercado de trabalho. Nós vínhamos experimentando um cenário com taxas de desemprego baixas e os sinais que já foram dados são de um momento diferente daqui por diante, de que teremos um aumento no desemprego até a metade do ano que vem. Eu acredito que o trabalho da equipe econômica do governo vai colocar a casa em ordem, com as medidas que foram apresentadas, mas é importante que a discussão vá além do esforço para colocar a casa em ordem. O que é que nós precisamos fazer para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento do Brasil? Temos que pensar no que fazer para o país crescer de maneira sustentada, e não simplesmente trabalharmos para arrumar a casa. O Brasil precisa retomar uma agenda mais liberal. É preciso revisar o modelo de concessões para que ele se torne mais interessante e alavanque os investimentos de que o país necessita e faça a economia girar. Precisamos de um ambiente mais favorável em relação aos negócios. O senhor acredita que o governo tem força política para conduzir o ajuste na economia, suportando os desgastes que algumas medidas trazem? Não. Na verdade, o governo já deu sinais de que não está conseguindo conduzir bem a situação. E isso fica muito claro na postura do PT, que é o partido da presidente da República (Dilma Rousseff), e não consegue fechar questão em torno da agenda que o país precisa neste momento. Nós vemos até o ex-presidente Lula, que em um primeiro momento era um grande defensor das mudanças, voltar atrás. Todo mundo se recorda que foi ele quem sugeriu os nomes

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do (presidente do Bradesco, Luiz Carlos) Trabuco e do Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central). Isso deixa muito claro que até o partido da presidente tem a consciência da necessidade de mudanças profundas na estrutura econômica do país, mas, infelizmente, falta coragem para conduzir este processo. Nós precisamos de uma reforma que foque a questão da produtividade, que faça o trabalho ser um fator de ganho competitivo para as empresas, e não mais um dos muitos componentes que impactam negativamente a economia nacional no cenário de competição global. A situação que se vivencia atualmente no Brasil é muito complicada. O país não cresce, por um lado, e temos um grande desequilíbrio nas contas públicas e na inflação, por outro lado. Mas essa política surtiu resultados positivos durante um tempo, não?

NÓS VÍNHAMOS EXPERIMENTANDO UM CENÁRIO COM TAXAS DE DESEMPREGO BAIXAS E OS SINAIS QUE JÁ FORAM DADOS SÃO DE UM MOMENTO DIFERENTE DAQUI POR DIANTE

Essa política desajustou as contas do país. Houve uma elevação de gastos em um volume muito grande, utilizaram-se recursos públicos, através de empréstimos de bancos públicos, para fomentar o crédito. Isso tudo elevou a dívida do governo. E, diga-se de passagem, esses empréstimos serviram para ampliar a intervenção estatal na economia. Esse conjunto de políticas não acelerou o crescimento do país. Pelo contrário, criou mais um entrave para a produtividade. Foi esse modelo que colocou a inflação acima do teto, causou a piora das contas pú-

Alexandre Schwartsman foi economista-chefe do Santander Brasil e diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. Graduado em Administração e Economia, é doutor pela Universidade da Califórnia

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blicas do país e tornou necessário esses ajustes que estão sendo implementados agora. No livro Complacência, que o senhor lançou recentemente, junto com o Fábio Gambiagi, vocês falam em um “país feliz que cresce pouco”. O que fazer para crescer mais? A economia brasileira vem sendo influenciada por decisões incoerentes do governo, que nos conduziram até o momento atual. A produtividade é um tema central no livro. O Brasil deve ter uma elevação na taxa de desemprego a médio prazo, mas ainda assim vai exibir taxas baixas, se compararmos o cenário com o nível de crescimento do país. A produtividade do país não cresce. Então, para dar conta do pequeno crescimento do PIB, necessita-se de muitos trabalhadores. Essa situação limita o aumento da renda do país. O caminho para o Brasil é o do aumento da produtividade do trabalhador brasileiro. Eu acredito que o país precisa adotar, com urgência, uma agenda liberal. Já passou da hora de o governo pensar menos politicamente e agir para salvar a economia do país. Essa disposição precisa ser mostrada nos ajustes da economia, mas também em medidas mais profundas. O ajuste resolve uma parte do problema. Entre 2006 e 2012, a produtividade do trabalhador brasileiro cresceu por ano a uma média de 0,6%, de acordo com dados da Confederação Nacional

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O MODELO DE CONCESSÕES DEVE SER REVISTO PARA QUE SE TORNE MAIS INTERESSANTE E ALAVANQUE OS INVESTIMENTOS DE QUE O PAÍS NECESSITA E FAÇA A ECONOMIA GIRAR


da Indústria (CNI). Por outro lado, o país apresentou o segundo maior aumento no salário real nesse mesmo período. Qual é o impacto deste cenário a médio e longo prazo? Isso afeta toda a economia, mas de maneiras diferentes. Quando você está falando de uma atividade ou de um setor em que você pode repassar o impacto dos custos para os preços, como acontece no setor de serviços, por exemplo, os aumentos de custos são repassados aos preços dos produtos e produzem inflação. É exatamente este o cenário que estamos vivenciando no Brasil atualmente. Por outro lado, quando não há possibilidade de repassar os aumentos, temos o que está acontecendo com a indústria brasileira atualmente: a perda de competitividade e de espaço no mercado internacional. Diferente do setor de serviços, que é muito voltado para o mercado nacional, a indústria trabalha com foco no mercado global. Os concorrentes estão lá fora e nem sempre sujeitos às mesmas dificuldades vivenciadas aqui dentro. Este cenário se repetindo de maneira prolongada vai representar cada vez mais uma menor participação do Brasil como competidor no mercado internacional. Por que investir em produtividade é tão importante? O Brasil conseguiu crescer mais entre 2004 e 2010 porque tinha um grande contingente de desempregados. A economia foi crescendo e a taxa de desemprego, reduzindo. O problema é que o crescimento baseado apenas na expansão do emprego é insustentável. É muito importante fazer a transição para a produtividade. É aí que entra a necessidade de uma maior abertura comercial, melhorias na educação e na infraestrutura e seguranças jurídica, com leis, marcos regulatórios e bom funcionamento das instituições. Nessa agenda de reformas, é preciso centrar fogo e poder político na reforma tributária. O nosso cenário é tão complexo que simplificar o recolhimento dos impostos e reduzir a burocracia já faria diferença. Em números, com a produtividade crescendo ao redor de 0,7% ao ano, enquanto a força de trabalho encolhe em magnitude parecida, nossa capacidade atual de crescimento não deve ser muito diferente de zero. Isto, contudo, não deve ser persistente, já que em algum momento a força de trabalho voltará a crescer em linha com a população.

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O CAMINHO PARA O BRASIL É O DO AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHADOR BRASILEIRO De quem é a culpa pela baixa competitividade do país? Olha, a lista de problemas é muito extensa. Podemos destacar como um importante fator de custo que nos prejudica no cenário internacional a rede de infraestrutura do país, que é defasada em relação à oferecida por outros países do mundo. Mas dá para falar também do impacto da carga tributária, ou ainda da estrutura que é necessária para se conseguir pagar impostos no país. E nós não estamos falando apenas no percentual que se paga de impostos — um estudo recente da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostra que o Brasil tem a maior carga tributária da América, que chega a 35,7% do PIB (Produto Interno Bruto). Mas o que preocupa também é a complexidade desses impostos. Calcular o tributo representa um gasto significativo para as empresas. Nós podemos falar de diversos fatores, além desses, mas um que é importante destacar diz respeito à mão de obra. Em muitos casos, o nível de qualificação do trabalhador impede que as empresas implementem novas tecnologias ou processos. Enfim, existe um conjunto de dificuldades que vem tornando cada vez mais difícil para o Brasil competir internacionalmente. E o resultado disso já

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pode ser visto no desempenho do comércio exterior do país. Perdemos espaço no comércio internacional e estamos cada vez mais dependentes de importações de produtos industriais. O mesmo levantamento apresentado pela CNI mostra o exemplo da Coreia do Sul, que entre 2002 e 2012 liderou o aumento de produtividade e de ganho real do salário. É possível elevar os dois indicadores sem que haja perda de competitividade? Sim, é possível e, mais do que isso, é desejável. O cenário ideal é aquele em que a produtividade e o salário crescem na mesma proporção, ou que a produtividade cresça mais do que o salário real. Por exemplo, a empresa dá um reajuste de 10% e tem um aumento de 10% na produtividade do trabalhador. Agora, esse cenário requer a flexibilização de algumas regras envolvendo o trabalho. Eu não sou especialista no mercado de trabalho, mas não é preciso ser para saber o quanto o Brasil é engessado em relação ao assunto. Temos agora a possibilidade de regulamentar a terceirização, mas precisamos de mais do que isso. A lógica que precisa ser estabelecida em relação ao trabalho é a de uma remuneração compatível com o retorno, mas existe uma série de amarras no país em relação a isso. Ninguém quer voltar ao cenário em que as pessoas trabalhavam 18 horas por dia. O que se quer é que os benefícios sejam compatíveis aos retornos que são oferecidos.

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O novo poder do consumidor EMPRESAS SE VALEM DE CADA CLIQUE DO CONSUMIDOR NA INTERNET PARA DEFINIR PERFIL E NOVOS PRODUTOS PARA CLIENTES, QUE, POR SUA VEZ, PARTICIPAM MAIS COM SUGESTÕES. COM A TECNOLOGIA, SURGEM OUTRAS FORMAS DE EMPREGO E DE FAZER NEGÓCIO, EM UM MUNDO CADA VEZ MAIS CONECTADO

Um tsunami. O professor Naeem Zafar, da University of California, Berkeley, não tem dúvida de que essa é a melhor forma de classificar as mudanças trazidas pela nova era digital. Para ele, que é especialista em empreendedorismo e CEO de uma empresa que cria soluções para Internet das Coisas (a TeleSense), essa onda vai mudar totalmente a forma de fazer negócios. Mas, segundo o professor, não há por que se assustar. Na verdade, os empreendedores devem enxergar uma oportunidade nessa nova paisagem, inclusive no que parece ser um transtorno. “Acredito que temos que reconhecer que as mudanças estão surgindo e que diversas delas são necessárias, como o treinamento de funcionários. As tecnologias estão vindo sumariamente. Não lute contra mudanças”. Até mesmo porque a tecnologia deve reduzir os custos dos novos negócios. Com o Big Data, por

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exemplo, as companhias podem ficar mais eficientes. “O Big Data trata-se de coletar informações sobre como seu cliente utiliza seus produtos e o que eles consomem. Isso vai ajudar a identificar várias coisas, como se você precisa começar a construir uma nova fábrica”, exemplifica Zafar. Dessa forma, quem conseguir ter um olhar mais sagaz ou atencioso diante do que for coletado pelo Big Data deve ser cada vez mais produtivo e aumentar os lucros. Aqueles que souberem tirar o melhor disso também vão economizar até com os valores dos contratos de marketing e publicidade. “Nos últimos anos, você tinha que gritar para falar para as pessoas sobre seus produtos. Só que seria melhor se você pudesse fazer com que seus clientes falassem de você”, explica o professor, referindo-se a iniciativas como a da Starbucks. A maior cadeia de cafeterias do mundo lançou o site My Starbucks Idea (mystarbucksidea.force.com) para que seus clientes sugerissem o que eles podem fazer

TEMOS UMA TENDÊNCIA A ACHAR QUE ALGUMA OUTRA PESSOA VAI RESOLVER OS PROBLEMAS, MAS A SOLUÇÃO VEM DE DENTRO NAEEM ZAFAR PROFESSOR DA UNIVERSITY OF CALIFORNIA

para melhorar os produtos e o atendimento. Resultado: uma grande comunidade de clientes conversando sobre a marca Starbucks. “Eles estão fazendo o marketing. E muitas ideias foram implementadas a partir disso, como novas bebidas”. Tanto engajamento gerou mais de 45 mil sugestões só de tipos de café, além de 22 mil pitacos sobre tipos de comida e até opiniões sobre a responsabilidade social da empresa (mais de 11 mil). Ao todo, foram quase 2 milhões de interações e sugestões até hoje. E, assim, a Starbucks se transformou em um dos casos de maior

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sucesso da chamada Economia de Serviços hoje. “Isso certamente está mudando a indústria”, diz Zafar. Mas os exemplos de empresas que estão se apropriando disso só aumentam. A Cisco, uma das maiores multinacionais da área de tecnologia do mundo, por exemplo, conseguiu reduzir seus custos de marketing em até 81%, segundo Naeem Zafar. “Empresas no Vale do Silício estão fazendo isso utilizando as mídias sociais. A Cisco aumentou sua eficácia em 212%”. Até os serviços de atendimento ao cliente foram otimizados assim. Tradicionalmente, grandes empresas contam com milhares de funcionários somente para atender clientes. “Hoje, tem clientes que tiram dúvidas de clientes. É o engajamento do cliente, que também é um bom exemplo de redução de custos”, afirma. Além disso, as novas tecnologias disponíveis criam possibilidades de negócio que, até pouco tempo, sequer tinham chance de existir. É o caso do Uber, aplicativo para transporte em carros particulares de luxo, e do Airbnb, de aluguel de imóveis para turismo. Na Copa do Mundo de 2014, no Brasil, cerca de 80% das reservas de hospedagem foram feitas em sites como o Airbnb e não diretamente com o setor hoteleiro. Por isso, as antigas formas de indústria também devem ser remodeladas e afetadas pelas transformações. “É economia compartilhada. Alguém tem uma coisa e alguém precisa dessa coisa. Na minha casa, tenho 1.200 livros que não são tocados na maior parte do tempo. Ter uma maneira confiável de compartilhar isso, nem que seja por algumas horas, melhora a vida de todos”, explica. Em meio a essas novidades, é importante não deixar de investir em treinamento desde as escolas. Segundo o professor, o Brasil está na contramão do mundo quanto à quantidade de horas na educação infantil: apenas quatro por dia. Em alguns países, crianças chegam a ficar até 10 horas na escola. “Não sei como podem aprender tudo em apenas quatro horas”, critica. Além disso, ele defende que as companhias também devem trazer o engajamento que os jovens têm com as tecnologias para o ambiente de trabalho. Dessa forma, é mais fácil atingir o sucesso comercial.

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“Jovens passam horas jogando videogame, mas, quando você diz para eles trabalharem em algum lugar, eles ficam entediados. Precisamos trazer essas mudanças para atrair as pessoas e aumentar a produtividade”. A experiência da Target, rede de lojas de varejo dos Estados Unidos, é um exemplo de como agregar as coisas. E de uma forma simples: eles estabeleceram que, nos caixas, se as pessoas estiverem scaneando produtos em uma velocidade errada, vão ouvir um ‘bip’. Assim, os funcionários conseguem ter uma noção de seu próprio ritmo — é a gamificação, a aplicação de elemen-

VOCÊS JÁ TÊM TECNOLOGIA, FAZEM AVIÕES. É PRECISO EXPANDIR O PENSAMENTO. DEVERIAM PENSAR COMO ATORES GLOBAIS NAEEM ZAFAR

tos de jogos eletrônicos em contextos diferentes. No final, a produtividade cresceu 80%. Ainda assim, ele ressalta que as pessoas não vão ser ‘devoradas’ por essa nova realidade, até porque nem tudo será substituído por máquinas. “O que importa é entender que nem tudo será substituído pelas máquinas. O papel dos seres humanos será a empatia. As máquinas não podem sentir isso”. Apesar das previsões, ele diz que não tem todas as respostas sobre o futuro. “Mas sei que mudanças vão surgir, teremos implicações

JOVENS PASSAM HORAS JOGANDO VIDEOGAME. PRECISAMOS USAR A TECNOLOGIA PARA ATRAIR AS PESSOAS NAEEM ZAFAR

sociais e temos que pensar nisso”.

Preços mudam e lucratividade aumenta Uma das possibilidades que as tecnologias trazem para os empreendedores e para as empresas é a chamada precificação dinâmica. Na prática, ela significa o ajuste automático de produtos e ofertas disponíveis em um portal ou loja eletrônica a partir das condições do ambiente — quantos consumidores disponíveis e o perfil

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1 Relógios integrados à agenda: se uma reunião às 6h for adiada, ele não te acordará antes e irá programar o novo horário para despertar  2 O carro do Google, que já desfila por ruas do Vale do Silício, também não terá motorista: engarrafamentos devem diminuir  3 Caminhões serão programados para ir de um lado para o outro sem motorista, profissão que deve ser automizada no futuro  4 O Apple Watch tem a promessa de conectar ainda mais os dispositivos pela Internet das Coisas, como a geladeira

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MUNDO HIGH TECH estacione mais fácil Cidades inteligentes vão começar a implementar sensores que indiquem se há vaga em determinados estacionamentos, reduzindo custos e tempo Saúde digital Com a Internet das Coisas, vai ser possível monitorar a saúde de pacientes por meio de câmeras em pílulas. “Quando ela entra em seu sistema, coleta dados e envia ao seu médico pelo smartphone. Muito mais fácil do que uma pessoa abrir você para olhar dentro”, diz o professor Naeem Zafar A voz no comando Os equipamentos que funcionam com ativadores de voz só vão aumentar. Vai ser possível perguntar a um assistente eletrônico com quem você não tem falado e, a partir disso, fazer uma ligação para a pessoa. “Além disso, a Microsoft acabou de introduzir um serviço de tradução em tempo real”, completa Zafar sensores nas casas Dispositivos vão conversar com outros dispositivos. “Nossa casa será automatizada e teremos distribuição de energia com uma rede inteligente” Todas as respostas Plataformas como o site Quora permitem que pessoas façam perguntas e gente de toda parte do mundo responda. Com isso, é possível reduzir custos de serviços de atendimento ao cliente

de compra deles, identificado através do cruzamento de dados pelo comportamento na internet. É como se a pesquisa de preço de passagens aéreas fosse ampliada para vários aspectos da vida das pessoas. “Hoje, nós vemos o preço dos voos mudando muitas vezes por dia e monitoramos isso até decidirmos comprar”, explica o professor Naeem Zafar. Empresas inteligentes têm se apropriado disso. Foi o caso do Giants, um time de beisebol de São Francisco. Primeiro, eles perceberam que alguns jogos de sua equipe tinham o estádio lotado, enquanto outros não. Em média, a ocupação dos assentos ficava em torno de 52%. “Eles decidiram mudar para a precificação dinâmica, então o custo do ingresso pode aumentar se eles estiverem jogando com grande equipe ou pode diminuir se o jogo for contra time que não está jogando bem ou se o tempo não estiver bom”. Resultado? Mais de 5 mil preços calculados por minuto e ocupação de 98%. Isso pode aumentar a lucratividade das empresas em qualquer área. “Imagine quando for uma máquina para comprar Coca-Cola. Uma latinha custa R$ 5, por exemplo. Mas, se lá fora está fazendo 40°C e a máquina só tem cinco latinhas, o preço pode aumentar dinamicamente para R$ 20. Vai te deixar zangado, mas vai acontecer”, brinca.

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Dever de casa EMPRESAS BAIANAS MOSTRAM QUE É POSSÍVEL IR CONTRA A TENDÊNCIA DE BAIXO CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE VERIFICADA NA ECONOMIA BRASILEIRA E GANHAR MERCADO COM O AUMENTO DA EFICIÊNCIA NAS ROTINAS PRODUTIVAS

O que começou como parte do programa para a certificação da ISO 9.000 na Indeba transformou-se em um programa permanente de qualificação e bonificação por cumprimentos de metas. O conjunto de iniciativas elevou em 60% a produtividade dos empregados da empresa baiana nos últimos cinco anos, o que a colocou em um seleto grupo que segue na contramão da realidade nacional, onde o ritmo de produção na indústria cresceu a passos lentos e abaixo da média de outros países. No mesmo grupo estão empresas como a Cristal, fabricante de pigmento de dióxido de titânio no Polo de Camaçari, e a Pratigi Alimentos, que trabalha com produtos para a nutrição animal. Em uma década, entre os anos de 2002 e 2012, a produtividade da indústria brasileira, medida pela relação entre os salários pagos no período e o retorno disso em produção, cresceu 0,6% ao ano, de acordo com um estudo da Confederação Nacional

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Iuri Pontes é o coordenador do setor de Desenvolvimento Humano e Qualidade da Indeba. Segundo ele, a empresa baiana atua há cinco décadas no mercado de higienização profissional e vem investindo continuamente em produtividade para garantir terreno em um espaço dominado por empresas multinacionais

Fabiano Viana dos Santos é operador de caldeira na fábrica da Pratigi Alimentos, em Castro Alves, desde 2009. No período em que está na empresa, já fez treinamentos para aplicar a norma NR13, que determina aspectos de proteção e segurança durante o trabalho na caldeira e para o combate a incêndio, dentre outros

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da Indústria (CNI) divulgado recentemente. Líder do ranking, a Coreia do Sul apresentou um índice de 6,7% de crescimento. O país asiático é apontado pela CNI como um exemplo positivo para o Brasil, porque foi também o país que conseguiu a maior elevação na remuneração real dos trabalhadores, de 2,5% ao ano, em média. A indústria brasileira foi a que registrou o segundo maior aumento real de salários, de 1,8%, entretanto foi incapaz de repetir o bom desempenho no que diz respeito ao aumento da produção. O alerta da CNI em relação ao assunto é de que a combinação de baixa produtividade e de elevados custos sistêmicos é fatal. “A perda de competitividade resulta em baixo crescimento e maiores dificuldades para as empresas brasileiras”, indica nota técnica emitida pela entidade. A redução da confiança do empresário é uma das consequências, o que leva à queda do investimento, complementa a nota. “Assim, um círculo vicioso é gerado, uma vez que o aumento da produtividade depende do aumento do investimento”, afirma. Na contramão desse círculo vicioso, empresas baianas investem em ações para se manter bem no mercado. “A nossa empresa está há 50 anos no mercado, concorremos diretamente com multinacionais, então temos essa questão da produtividade como um foco”, explica Iuri Pontes, coordenador do setor de desenvolvimento humano e qualidade da Indeba. “No Brasil, temos índices de produtividade baixíssimos, com problemas que estão além da nossa alçada”, diz, apontando o caminho: “O que a gente conseguir maximixar de ganhos internamente é muito importante”. O esforço para melhorar o desempenho dos funcionários se iniciou em 2007, conta Iuri, quando a empresa criou um programa para o desenvolvimento pessoal, com oferta de recursos para auxiliar na capacitação e na qualificação de profissionais. A empresa oferece um incentivo financeiro para o pagamento da mensalidade, que chega a 50% do custo total. Segundo ele, existem diversos resultados positivos, como mudanças em processos internos que permitiram à empresa reduzir custos operacionais e renderam promoções para os trabalhadores. Outra iniciativa importante da empresa para melhorar a produtividade dos fun-

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cionários está na política de indicadores de desempenho, iniciada em 2010, com metas e premiações para os colaboradores. De lá para cá, a empresa conseguiu ampliar o indicador de produção por funcionário de 0,8 tonelada para 1,4 tonelada, o que representa 60% de acrescimento. “Isso é reflexo do esforço de qualificação e dos investimentos em tecnologia”, diz. O líder de operação e coordenador do programa Atuação da Cristal, em Camaçari, Luiz Fernando Pinho, diz que, há quatro anos, a empresa buscava mais participação dos funcionários em sistemas de gestão na área de produção, além de saúde, segurança e meio ambiente. A empresa estruturou indicadores de performance e metas de produção que foram apresentados aos trabalhadores. “A partir do momento que as medições de desempenho foram realizadas, os resultados apurados servem como desafios para evoluir os índices ou manter aqueles que já estão em estágio de excelência”, destaca. Como resultado concreto, no primeiro bimestre deste ano, a empresa diz que constatou um aumento de 1% em um dos processos da fábrica, a Sulfatação, que, se mantido durante o ano, vai representar um ganho financeiro de aproximadamente R$ 1 milhão.

Fábrica conseguiu elevar em 13% a produtividade em um ano Em um ano, a Pratigi Alimentos conseguiu elevar em 13% a produtividade dos trabalhadores. A fabricante de produtos para a nutrição animal, com aproximadamente 100 funcionários, vem investindo em ações para es-

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timular os trabalhadores da unidade a produzir mais e melhor, diz o líder empresarial da Pratigi, Erik Bahia. “As ações vão desde a mensuração sistematizada e diária daquilo que foi programado e o que foi produzido, através de metas pré-estabelecidas e pela análise mensal”, explica. A empresa vem desenvolvendo um trabalho de padronização, revisão e correção de processos, além de investir em treinamento e em parcerias que promovam a melhoria da produtividade na unidade, diz Bahia. O gestor destaca o trabalho de treinamento, focado nas tarefas diárias e em sua padronização. Na Pratigi desde 2009, o operador de caldeira Fabiano Viana dos Santos, por exemplo, já fez treinamentos para aplicar a norma NR13 e foi capacitado no combate a incêndio, dentre outros.

Brasil precisa resolver problemas conjunturais As ações internas das empresas pela melhoria dos índices de produtividade são importantes, mas a solução para os problemas conjunturais depende de ações do governo, acredita Ricardo Kawabi, gerente de Estudos Técnicos da Superintendência de Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). “Não tem como escapar da necessidade de uma participação efetiva do governo. Temos energia muito cara, carga tributária alta e complexa, aumentos de combustível e isso tudo impacta na questão da produtividade”, diz.

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TEMOS QUE ACABAR COM A IDEIA DE QUE INOVAR É CARO ADHVAN FURTADO SUPERINTENDENTE DO SEBRAE BAHIA


Ele explica que esses aspectos impactam negativamente no resultado final das empresas . “O Brasil precisa de soluções estruturais, não adiantam os pequenos remendos”, diz, lembrando que atualmente o câmbio representa um “refresco momentâneo” para o setor produtivo. “O que não pode acontecer é nos acomodarmos a isso”, ressalta.

otimizar uso de recursos para crescer Melhorar a relação entre o faturamento e os recursos utilizados para chegar ao resultado — sejam humanos, materiais ou mesmo de tempo — é fundamental também para as micro, pequenas e médias empresas, avisa o superintendente do Sebrae Bahia, Adhvan Furtado. “As micro e pequenas empresas têm um desafio muito grande, porque normalmente poucas pessoas precisam dominar todo o processo”, explica Furtado. Um caminho importante, recomenda, é o de investir em inovação. “Temos que acabar com a ideia de que inovar é caro”, avisa, lembrando que é possível receber auxílio de instituições como o Sebrae. Mas ele lembra que os caminhos para grandes resultados podem ser trilhados a partir de mudanças pequenas. “As pessoas esquecem que pequenos ajustes que evitem o desperdício e a perda de tempo fazem diferença”, diz Furtado.

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Procuram-se mais talentos RESPONSÁVEL POR 54% DOS EMPREGOS DO PAÍS, PEQUENOS NEGÓCIOS BUSCAM PROFISSIONAIS CONECTADOS, LIGADOS NA TECONOLOGIA DA INFORMAÇÃO E QUE TENHAM FACILIDADE PARA RESOLVER OS PROBLEMAS

Se você está conectado, tem facilidade com a tecnologia da informação, sabe usar as redes sociais, tem inciativa e capacidade de resolver problemas, saiba que o mercado que gera mais empregos procura profissionais como você. Este é o perfil mais requisitado pelos donos de pequenos negócios, que respondem hoje por 54% dos postos de trabalho e 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A maior parte dessas empresas tem base familiar, mas, de olho no futuro e nas mudanças que vêm ocorrendo nas relações do trabalho, passaram a se preocupar em melhor qualificar as pessoas que conduzem a linha de frente do negócio. “Cresce a demanda por capacitação. Também há uma crescente demanda por participação em exposições, feiras e seminários. Eles querem saber o que está acontecendo no setor, o que seu concorrente está fazendo”, explica Paulo Alvim, coordenador nacional do Centro de Referência do Artesanato Brasileiro do Sebrae, durante sua palestra.

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Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) mostram que entre os empreendedores que são empregadores e não possuem CNPJ, apenas 13,6% têm 15 anos ou mais de escolaridade, contra 32,6% dos que possuem CNPJ. “A educação do empreendedor é fundamental. Uma pesquisa realizada no México, na tentativa de formalizar microempreendedores informais, só deu certo entre os microempreendedores que tinham nível de escolaridade. Quem tinha pouca escolaridade não queria formalizar o negócio porque não via nenhum benefício”, informa o pesquisador do Ibre Fernando Veloso. Outro aspecto que vem mudando, segundo Paulo Alvim, é que também já é constatada entre os pequenos empreendedores a necessidade de reter pessoas consideradas importantes para a empresa, as que são consideradas grandes talentos. “Eles também já usam a internet e as redes sociais para dar visibilidade ao negócio, para se relacionar com sua clientela e há um crescente

O COMÉRCIO ELETRÔNICO AINDA É UM GRANDE DESAFIO PARA OS EMPRESÁRIOS PAULO ALVIM COORDENADOR NACIONAL DO SEBRAE

uso do comércio eletrônico. O comércio eletrônico ainda é um grande desafio”, avalia. Para os pequenos empreendedores, a economia de compartilhamento vem potencializar os negócios e se somar a dois movimentos importantes para a categoria: a economia de proximidade e a economia da experiência. “As tecnologias de informação contribuíram muito para reduzir distâncias, trazer informação e conhecimento”, explica Alvim.

‘É preciso ver a crise como oportunidade’ Uma empresa chinesa criou um celular que só fala, liga e desliga. Para muitos, o aparelho pode ser visto como um

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Paulo Alvim : ‘Cresce a demanda por capacitação também nas empresas familiares’

objeto obsoleto em tempos de smartphones que fazem praticamente tudo. Mas a empresa tinha um foco, queria direcionar seu produto a um público que não tinha grana para comprar um aparelho de última geração. “Ela viu na pobreza uma oportunidade de criar um produto para atender apenas as necessidades básicas. Como dizem os chineses: crise é ameaça e oportunidade. Não podemos perder as oportunidades. É fundamental nesse processo ser e atuar de forma diferenciada”, diz o coordenador nacional do Centro de Referência do Artesanato Brasileiro do Sebrae, Paulo Alvim. Ainda segundo ele, antes, a crise era uma fotografia de tempos em tempos, hoje virou um filme, que é a todo

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momento. “Para a gente não transformar retrato em filme tem que ter uma estratégia de mudanças, pensar na lógica do desenvolvimento. Temos que sair do ciclo vicioso que desestimula a produção”, propõe. Capacidade e criatividade para buscar essas saídas, na avaliação do especialista, não faltam. “Num país que faz Carnaval e micareta olhando esses eventos como negócio e não como festa, é fundamental que isso seja apropriado dentro de uma lógica empresarial. A lógica de negócio atrelada a diversas manifestações que temos na realidade brasileira precisa ser migrada, incorporada no ambiente de negócios”, sugere Alvim, acrescentando que hoje tem muita gente ganhando dinheiro com economia criativa e que é preciso potencializar isso em um momento de dificuldade como o atual. Na avaliação de Alvim, as empresas têm papel-chave na busca desse modelo de desenvolvimento. “As empresas hoje são maiores do que as nações. Precisamos ter as nossas âncoras, que não sejam vistas apenas como empresas, mas como uma cadeia de valor que

LIÇÃO DE CASA Trabalhar no conceito de cadeia de valor e encadeamento produtivo Convergência de esforços entre todos os atores no apoio ao desenvolvimento produtivo Melhoria do ambiente de empreender Segurança jurídica para permitir novos investimentos no país Apoio efetivo ao processo de inovação nas empresas Imagem de um país produtivo Logística eficaz e infraestrutura produtiva Qualidade na educação

puxe a força da produção local, que tenham competitividade internacional”.

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A hora delas A PROCURA POR CURSOS DE ENGENHARIA TEM CRESCIDO ENTRE AS MULHERES, AUMENTANDO CARGOS E A LIDERANÇA FEMININA NA INDÚSTRIA. BRASKEM PARTICIPA DE PROGRAMA DA ONU DE IGUALDADE DE GÊNERO NO TRABALHO

A engenheira química Ana Carolina Viana decidiu que o lugar dela era dentro de uma indústria. Mais de 15 anos depois de entrar na universidade, onde a maioria dos seus colegas era do sexo masculino, a engenheira vê um ambiente bem diferente ao olhar para a unidade industrial da qual é diretora na Braskem, uma das maiores produtoras de resinas termoplásticas do mundo, no Polo de Camaçari, na Bahia. “Na minha época, eram 5 ou 6 mulheres, no máximo, numa turma de 40 alunos. Hoje, quase metade da minha equipe é de mulher e isso tem evoluído. Nossos processos de seleção têm percebido essa presença feminina maior. Isso é caminho natural do desenvolvimento, e as carreiras têm aspectos relacionais e técnicos maiores”, afirma Ana Carolina. As mudanças nas relações de trabalho e no próprio sistema de educação são responsáveis por aumentar a participação das mulheres nos cursos de engenharias e no

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mercado de trabalho. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2000, as mulheres representavam 19% do número de matrículas nos cursos de Engenharia. Já em 2011, o índice passou para aproximadamente 30%. Se hoje elas já são maioria entre estudantes que chegam às universidades todos os anos, em torno de 55%, não deve demorar para mudar também a cara das indústrias. Na Bahia, o número de engenheiras é de 5.751, o equivalente a 17% do total de engenheiros, segundo o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-BA). “Acho que a prevalência tem muito a ver com o histórico, mas vemos nos detalhes como isso tem se transformado”, defende Ana Carolina. Para a engenheira Aline Milani Medeiros, gerente de produção da Braskem, o universo dominantemente masculino tem ficado cada vez mais congelado no passado. Para ela, quanto mais chances, maior será a presença feminina. “A gente tem de, cada vez mais, mostrar que isso

NA MINHA ÉPOCA, ERAM 5 OU 6 MULHERES, NO MÁXIMO, NUMA TURMA DE 40 ALUNOS. HOJE, METADE DA MINHA EQUIPE É DE MULHERES ANA CAROLINA VIANA DIRETORA DA BRASKEM

vem mudando, para estimular as mulheres a buscar esse caminho. Talvez existam pessoas que acreditam que o universo da indústria é masculino e acabem desistindo de tentar”, defende Aline. As transformações começam a ser implementadas nas pequenas e grandes empresas. Na Braskem, onde Ana Carolina trabalha, a mudança na política de gestão dos funcionários foi decisiva para colocar em prática um termo cada vez mais usado para tratar de homens e mulheres na sociedade: equidade, onde ambos os gêne-

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A GENTE TEM DE MOSTRAR, CADA VEZ MAIS, QUE ISSO VEM MUDANDO, PARA ESTIMULAR AS MULHERES A BUSCAR ESSE CAMINHO PARA SUA PROFISSÃO ALINE MILANI GERENTE DE PRODUÇÃO DA BRASKEM

ros são tratados de forma justa, de acordo com cada necessidade. “Equidade não é diferenciação para fortalecer as mulheres, mas pensar em quais ações podemos pensar para garantir que as oportunidades sejam as mesmas. Quando você permite que isso aconteça, você dá as mesmas oportunidades, sem perder a meritocracia”, defende Ana Carolina. Essas pequenas mudanças foram relacionadas à flexibilização do horário de trabalho, na segurança relacionada à licença maternidade, um dos principais medos das mulheres no ambiente de trabalho, no apoio às mães com auxílio creche e na valorização do trabalho feminino na corporação. A empresa passou a adotar a licença estendida de 180 dias e tem salas voltadas para a amamentação. “As engenheiras têm tranquilidade para planejar suas gestações, pois contam com creche, flexibilidade de horários. Esse é um momento natural, e aqui há políticas para tratar com tranquilidade”, diz a engenheria Ana Carolina. Em 2015, a Braskem assinou o Women’s Empowerment Principles (Princípios de Empoderamento das Mulheres, em português), iniciativa da ONU Mulheres e do Pacto Global para incentivar a igualdade de gênero e o fortalecimento do papel da mulher no trabalho. A empresa criou também o Fórum Braskem de Mulheres, um espaço de troca sobre vida e carreira entre líderes mulheres e integrantes. Os resultados das mudanças já são sentidos pela petroquímica, que vê crescer, em aproximadamente 1,5% ao ano, o número de mulheres em seus cargos. Hoje, 22% deles já são ocupados por lideranças femininas. As mulheres representam 58% dos estudantes que chegam para o programa de estágio universitário, e 29% no programa voltado para os cargos técnicos.

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Mais com menos FÁBRICA MODELO DO SENAI CIMATEC MOSTRA NA PRÁTICA COMO OS EMPRESÁRIOS BAIANOS PODEM IDENTIFICAR ERROS E AUMENTAR A PRODUTIVIDADE EM 40% NA MÃO DE OBRA E 60% NA ÁREA INDUSTRIAL. OS GESTORES APRENDEM COMO REDUZIR DESPERDÍCIO E A PRODUZIR DE FORMA MAIS ENXUTA

O futuro encanta a humanidade. Culpa da ficção e seus livros e filmes com seus carros voadores, viagens interplanetárias, robôs e a vida iluminada em neon. Se esse adorável mundo novo ainda está longe da realidade de muita gente, em alguns casos, o futuro está bem diante dos olhos. Projeto pioneiro do Senai Cimatec — mais um — a Fábrica Modelo, primeira do tipo na América Latina, montada em parceria com a Mckinsey, permite à direção de indústrias baianas, de todos os portes, descobrir como podem organizar melhor suas linhas de produção. O Estado Futuro é o nome utilizado na Fábrica Modelo para descrever a organização da estrutura fabril após a adoção de conceitos do toyotismo japonês, que apresentou ao mundo a famosa manufatura enxuta, com a produção sem gargalos e com níveis de estoque apropriados. Numa pequena fábrica de cilindros hidráuli-

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cos montada no Cimatec, os empresários podem ver in loco como pequenas mudanças no local permitem ganhos de produtividade de 40% e uma economia de 60% no espaço utilizado. A coordenadora da Fábrica Modelo, Lara Sorensen, diz que a metodologia da unidade, de mostrar os estados presente e futuro, é muito importante para convencer os gestores de que a mudança no modo de produção realmente funciona. “Basicamente, nós mostramos como é possível fazer mais com menos. O segredo para isso está em reduzir os desperdícios”, afirma. O processo de manufatura enxuta te ajuda a enxergar com outros olhos o processo e a perceber o que está sendo desperdiçado. Apesar de utilizar conceitos que já existem no mundo dos negócios, alguns há décadas, o que faz a diferença no projeto é a experiência prática. “É um laboratório que simula um processo industrial real, do início ao fim, desde o corte de matéria-prima até a expedição”, explica Lara. O foco é a capacitação de pessoas da indústria. Quem faz cursos no local tem acesso a diversos exercícios, simulações, além de aulas teóricas. Mas é a prática que faz a diferença no processo de modificação de cultura. Na unidade de ensino, os alunos conseguem “enxergar” o que se passa nas próprias fábricas a partir do que veem. “O processo de aprendizado de adultos é diferente. Quanto mais próximo do ambiente real, mais ele assimila o conceito. É o que nós buscamos apresentar aqui”, destaca Lara Sorensen. Segundo ela, o projeto se baseia na crença de que é possível reter mais de 80% do conhecimento em uma experiência prática. “É diferente de livros, pequenos jogos e simulações”, compara. Para se tornar ainda mais próxima do que se verifica “na vida real”, a unidade fabrica cilindros pneumáticos de oito tipos diferentes. A ideia é simular a realidade de fábricas que normalmente trabalham com mix de produtos. Na primeira parte do exercício, é apresentado aos participantes o chamado Estado Presente. Nele, percebe-se a organização convencional de linhas de produção, com estruturas de estoque em cada uma das bancadas. A distância entre as cinco áreas responsáveis pela fabricação do produto gera perda de tempo. O ritmo de produção diferente entre as áreas provoca gargalos. A fabricação acontece em lotes.

futuro do emprego e valor do trabalho    347


Os funcionários precisam se abaixar para pegar materiais, retirar embalagens das matérias-primas, etc. “Primeiro, a gente explica quais são os oito tipos de desperdício, depois a gente vem aqui para baixo e ele vai ter a missão de enxergar o desperdício na linha de produção”, explica. “À primeira vista, a fábrica está bonita, arrumada, mas é possível perceber deficiências. Não adianta ter uma etapa funcionando mais rápida que a outra porque o processo vai ficar parado em uma das etapas. Isso é dinheiro que está parado, que já foi investido e ele não transformou em receita”, diz. No Estado Futuro, que é a segunda etapa da implementação, tudo é melhorado. A produção em lotes dá lugar a uma célula de produção. No caso da fábrica modelo, os cinco funcionários que trabalhavam em cinco ilhas de produção diferentes dão lugar a apenas dois funcionários em uma célula de produção e mais um trabalhador que fica responsável pela movimentação do estoque. A área para a fabricação dos produtos é reduzida em 60%. “A gente já faz o mesmo processo que fazíamos anteriormente, só que com menos recursos”, diz. Lara lembra que o fato de se necessitar de menos trabalhadores não representa necessariamente que a empresa vai realizar cortes. “O empresário pode decidir manter a produção no patamar atual, mas também passa a ter a possibilidade de aumentar a sua produção, sem elevar seus custos. Nesse caso, mantém-se o quadro de funcionários da empresa”, explica a coordenadora da Fábrica Modelo.

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ANTES E DEPOIS 1 Estado presente Apesar de estar aparentemente arrumada, é possível perceber deficiências na organização da fábrica. A unidade produz em lotes de três peças, que são transferidas entre cinco estações de trabalho localizadas uma distante da outra. Se uma trabalha em um ritmo maior que a outra, cria-se um gargalo. Os funcionários precisam se deslocar entre as estações e abaixar para pegar materiais 2 Estado futuro Após a reorganização do modo de produção da fábrica, o produto passa a ser fabricado em uma única célula, onde os trabalhadores não precisam fazer grandes deslocamentos ou se agachar para pegar materiais. Um terceiro funcionário é destacado para cuidar da movimentação do estoque, quando necessário. A reorganização permite fazer o mesmo trabalho anterior com três pessoas 3 Na prática A fábrica da Aramita faz parte da primeira turma da Fábrica Modelo, iniciada no último mês de junho. Com o uso dos conceitos da manufatura enxuta, a unidade de fabricação de telas de arame conseguiu ampliar em 25% a capacidade de produção no local. A direção da empresa considera o resultado importante para superar a concorrência com produtos de empresas do Sudeste


1

2

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futuro do emprego e valor do trabalho    349


Supercomputador ajuda a simular novos processos Se a Fábrica Modelo do Senai Cimatec permite aos alunos do local enxergar o estado futuro de suas linhas de produção, em uma outra sala do mesmo centro tecnológico é possível visualizar o futuro de processos e testar o uso de novas tecnologias. O supercomputador Yemoja, o maior da América Latina em capacidade de processamento de dados, coloca ao alcance de empresários baianos a possibilidade de simular o impacto de novos processos, a inserção de novos produtos no mercado e toda a sorte de cálculos que uma máquina com a capacidade de processamento equivalente à de 4 mil computadores domésticos de última geração poderiam oferecer. “Uma das soluções que o supercomputador pode oferecer está na possibilidade de simular situações perigosas, ou mesmo naqueles casos em que se torna muito caro se construir um protótipo”, explica Ingrid Winkler, do Centro de Supercomputação para Inovação Industrial do Senai Cimatec. Ela lembra que o setor produtivo pode aproveitar o “grau de sofisticação das simulações” para o desenvolvimento de softwares, testes com medicamentos, chegando a simular células em nível atômico, além de fazer protótipos digitais e construir cenários econômicos. Atualmente, a máquina com capacidade de realizar 400 trilhões de operações por segundo (teraflops) é responsável por realizar cálculos que vão ajudar na exploração do pré-sal, com a criação de modelos para auxiliar no geoprocessamento do solo no fundo do mar.

Empresa consegue ganho de 25% em produtividade A adoção de conceitos da manufatura enxuta na fábrica da Aramita — que produz telas de arame, como aquelas utilizadas ao redor de campos de futebol — reduziu em 25% o número de pessoas no processo de fabricação dos produtos. Com a melhoria, a empresa diz que conseguiu fazer frente à concorrência de produtos oriundos do mercado do Sudeste. “Os conceitos da Fábrica Modelo revolucionaram o nosso processo de manufatura. E o mais interessante é que isso aconteceu com o uso de conceitos que já são consagrados mundialmente, mas a gente não utilizava”, destaca o diretor comercial da Aramita, Eduardo de Sá.

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QUANTO MAIS PRÓXIMO DO AMBIENTE REAL, MAIS ELE (O GESTOR) ASSIMILA O CONCEITO LARA SORENSEN COORDENADORA DA FÁBRICA MODELO

A Aramita faz parte da primeira turma da fábrica modelo, iniciada em junho de 2015. “Você sai do Cimatec e volta para a sua fábrica com um outro olhar sobre ela”, destaca. Segundo ele, no caso da fabricante de telas de arame, a principal modificação aconteceu na organização do sistema de produção e no desenho da fábrica. A empresa tem atualmente 90 funcionários. Desses, 37 atuavam antes na linha de produção. Após as modificações, o número de trabalhadores necessários foi reduzido para 30, lembra o diretor. “O

OS CONCEITOS DA FÁBRICA MODELO REVOLUCIONARAM O NOSSO PROCESSO DE MANUFATURA EDUARDO DE SÁ DIRETOR COMERCIAL DA ARAMITA

mais interessante é que este processo chamou a atenção em outros setores da empresa e já existe um interesse em expandir essa lógica”, diz. “Apesar de não termos um número grande de concorrentes, os que existem no mercado incomodam bastante. Nosso objetivo é que parem de incomodar”, afirma.

futuro do emprego e valor do trabalho    351


352   Agenda bahia 2015


futuro do emprego e valor do trabalho    353


Os talentos ficam ATRAVÉS DE UM PROGRAMA DE ESTÁGIO EFICIENTE, A COELBA CONSEGUE MANTER 45% DOS PROFISSIONAIS QUE ENTRAM NA EMPRESA COMO ESTAGIÁRIOS. A POLÍTICA AJUDA A EMPRESA A ‘OXIGENAR A GESTÃO’

Há um ano e um mês, o engenheiro elétrico José Roberto Bezerra de Medeiros, 58 anos, é presidente da Coelba, do grupo Neonergia. Antes disso, ele presidiu por 11 anos a Cosern, outra distribuidora do grupo, que atua no Rio Grande do Norte. Mas, muito antes disso tudo, ele começou na empresa potiguar como estagiário. Ele, e muitos outros, ajudam a entender por que o Neoenergia é reconhecido como um dos melhores locais para se iniciar a carreira, de acordo com o Guia Você S.A. “Quando a gente chega novo em uma empresa, e este foi o meu caso, a gente sempre procura olhar os funcionários da casa que têm tempo de carreira. É uma inspiração e a gente sempre busca trabalhar muito esta questão dentro do grupo”, diz José Roberto. Prova disso é o percentual de aproveitamento dos estagiários na Coelba, que chega a 45%. “Para quem está começando, é muito bom saber que, se tiver qualidades, a empresa vai dar oportunidades”, avalia.

354   Agenda bahia 2015


Atual presidente da Coelba entrou no Neoenergia como estagiário

A superintendente de Desenvolvimento e Cultura do Grupo Neoenergia, Adriana Teixeira Martinez, explica que a empresa trata o estagiário como um potencial “agente transformador, alguém que poderá ocupar uma posição-chave no futuro”. A ideia é trazer cabeças frescas para oxigenar a empresa, explica Adriana, unindo a experiência de profissionais tarimbados no mercado com o gás de quem está chegando no mercado de trabalho. Segundo Adriana, desde o processo seletivo até a rotina de trabalho em si, a empresa analisa o perfil do profissional e verifica se está dentro do que está sendo buscado. “Para quem está querendo o estágio, é uma oportunidade para o desenvolvimento. A pessoa vai ser acompanhada por um mentor, terá a oportunidade de tirar dúvidas, ser orientada, além de poder ver na prática aquilo que aprende na universidade”, destaca.

futuro do emprego e valor do trabalho    355


Adriana Martinez diz que a empresa busca oferecer para quem está começando a carreira um ambiente acolhedor, com equilíbrio e qualidade de vida. “O que a empresa oferece e que fica muito claro para quem vem para a empresa é que este é um lugar onde ela pode ser feliz”, afirma. Isso tudo é importante, acredita, por conta das características do público jovem. “As pessoas mais jovens não chegam como chegavam antigamente. Elas não vêm pensando em começar uma carreira numa empresa e terminar lá. Se as empresas não forem atrativas, acabam perdendo grandes talentos”, diz. Não foi esse o caso de José Roberto. Quando entrou na Cosern, do Neoenergia, em 1980, sonhava em crescer na empresa — a maior do estado. “Nós entramos na época no estágio porque era uma empresa grande, a

CAPITAL HUMANO Invista Investir é essencial para reter talentos. E é mais barato valorizar os colaboradores do que contratar novos Segurança Estabilidade é importante para reter talentos. Muitas pessoas consideram mais essencial ter segurança que salários polpudos Plano de carreira Ter um caminho possível fará os profissionais se esforçarem para atingir as metas e evoluir na organização Desenvolver Nem todos os talentos chegam prontos. Proporcionando treinamentos, é possível extrair o melhor das pessoas

maior empresa do estado, que oferecia uma boa perspectiva de carreira. Estava formando um corpo técnico para enfrentar os desafios. A empresa deixava muito claro que havia uma grande perspectiva de crescimento”, diz. “Todo o conhecimento que eu trago em minha bagagem foi conquistado no Neoenergia. Eu acredito

lorizado, consigo executar coisas complexas”. Prestes a se

PARA QUEM ESTÁ COMEÇANDO, É MUITO BOM SABER QUE, SE TIVER QUALIDADES, A EMPRESA VAI DAR OPORTUNIDADES JOSÉ ROBERTO BEZERRA DE MEDEIROS

formar, deixa claro o sonho: “Ser contratado e continuar”.

PRESIDENTE DO GRUPO NEOENERGIA

que me proporcionou um crescimento profissional muito interessante”. É exatamente o que busca o estagiário da Coelba Julio Wolsovitch, 22 anos. Ele não sabe se vai conseguir se tornar presidente da empresa algum dia, mas deixa claro o sonho de crescer por lá. “Aqui, mesmo sendo estagiário, me sinto parte da equipe. O meu trabalho é bastante va-

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futuro do emprego e valor do trabalho    357


O futuro do emprego O que vai acontecer ao emprego com o surgimento de novas aplicações tecnológicas? Nos EUA, 47% dos empregos são considerados sob ameaça de extinção por substituição tecnológica. Há previsões de que metade dos empregos da União Europeia esteja sob ameaça da tecnologia. Na China, esta parece já ser uma realidade: uma fábrica daquele país anunciou que vai trocar 90% dos funcionários por robôs. No Brasil, não há uma estimativa, mas é certo que muitas profissões serão extintas e outras surgirão por efeito da tecnologia até início da próxima década. Como lidar com isso?

A concorrência das máquinas | Probabilidade de robotização em 20 anos (%) No portal da revista Forbes, notícias sobre mercado já são redigidas por um robô. Pacientes de câncer são diagnosticados com muito mais acerto que os médicos por um software. Um programa de computador acerta 7 a cada 10 decisões da Suprema Corte nos Estados Unidos. Pesquisa da Universidade Oxford (Reino Unido) analisou 702 ocupações e estimou as chances de automatização nos próximos 20 anos. O estudo considerou pontos fracos (por enquanto) das máquinas, tais como soluções criativas, interações sociais e negociações. Profissões repetitivas ou burocráticas serão as mais atingidas. O operador de telemarketing é o profissional mais ameaçado. Já o trabalho menos "robotizável" é o de assistente social. Veja as profissões mais ameaçadas a curto ou médio prazo.

ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS

EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO

Contador na área de tributos

Arquivista

98,7%

Assistente de empréstimos

75,9%

Bibliotecário

98,4%

64,9%

Assistente de professor

Analista de crédito 97,9%

55,7%


MATEMÁTICA E COMPUTAÇÃO

GASTRONOMIA

Programador de computação

Cozinheiro de restaurante 96,3%

48,1%

Estatístico

Garçom 93,7%

21,8%

Analista de segurança da informação

Cozinheiro de lanchonete

20,6%

82,7%

VENDAS

TRANSPORTE

Operador de telemarketing

Motorista de caminhão 97,8%

99%

Taxista

Caixa

89,4%

97,1%

Vendedor de varejo

Motorista de ônibus 88,8%

92,3%

DIREITO

ARQUITETURA E ENGENHARIA

Assistente paralegal

Cartógrafo 87,9%

94,5%

Escrivão

Desenhista de arquitetura 52,3%

50,2%

Engenheiro de hardware

Juiz 40,1%

22,5%


Saiba quais são as profissões do futuro Técnico em energias alternativas

Perito forense digital

O QUE É

O QUE É

No Nordeste, especialmente na Bahia, os investimentos na produção de energias solar e eólica têm crescido muito, apesar da crise. A tal ponto que ambas passaram a ter viabilidade econômica. Isso significa um mercado de trabalho potencialmente elevado.

O perito busca evidências digitais diante de ataques a servidores e contas bancárias, roubo de dados, pedofilia e outros crimes na rede. Os peritos se ocupam de encontrar provas para crimes online. POR QUE VAI CRESCER

POR QUE VAI CRESCER Se mesmo na crise o segmento cresce tudo indica que, a partir de 2017, quando se espera a retomada gradual da economia, as oportunidades de trabalho se multipliquem. COMO SE PREPARAR Na Bahia, o Senai Cimatec possui um núcleo de energia eólica e desenvolve cursos noturnos de extensão em energia solar e eólica, com carga horária de 40 horas.

Só no Brasil, são registrados quase 80 mil crimes cibernéticos/dia, segundo pesquisa da Norton. A profissão vai crescer com o aumento do e-commerce e de transações bancárias virtuais. Concursos da Polícia Federal para cargos de peritos digitais exigem curso superior em ciência da computação e os salários podem chegar a R$ 14 mil. COMO SE PREPARAR Além de domínio em TI, o perito tem de ter boa base de Direito. A Universidade Estadual de Campinas e a Universidade Anhembi Morumbi, por exemplo, têm cursos de pós-graduação em gestão de segurança da informação.


Dicas para manter o emprego A competição no mundo do trabalho é a cada dia mais acirrada e algumas posturas são importantes para segurar o emprego. Em períodos de recessão, quando as chances de trabalho diminuem, como agora, é fundamental atentar para algumas dicas:

#INVISTA EM QUALIFICAÇÃO. Desenvolva conhecimentos e novas aptidões. É fundamental estar sempre um passo à frente da concorrência. Faça cursos de reciclagem, especialmente na área tecnológica. Os cursos do Senai estão em alta.

#SEJA FLEXÍVEL. Fugir de novas tarefas ou se negar a ajudar em algo são atitudes que o patrão vê como má vontade - com razão. Use a oportunidade a seu favor. Sua competência em um projeto extra pode ser determinante para uma futura promoção.

#SEJA PRODUTIVO. Concentre-se no trabalho. Assegure que ele esteja sempre pronto ou até adiantado. Pense em formas de dinamizar seus projetos ou até o seu departamento e faça propostas fundamentadas à direção.

#DISPONIBILIDADE. Em tempos difíceis, mais do que se tornar indispensável, seja alguém com quem todos podem contar.

#SEJA PONTUAL. Chegar atrasado, sem ser por uma boa razão, demonstra falta de comprometimento. Caso se atrase por um imprevisto, como doença, avise.

#TRABALHE DURO. Quando a empresa precisa cortar gastos, normalmente os menos eficientes e com perfil mais rígido são os primeiros a sair.

Gestor de resíduos

Consultor de bem-estar na velhice

O QUE É

O QUE É

O gestor de resíduos é o profissional especializado em propor soluções para os detritos urbanos, transformando-os em fontes para gerar gás e outras formas limpas de energia.

Profissional da área de saúde disposto a construir pontes entre os pacientes da 3ª idade e os serviços que podem trazer a eles melhor qualidade de vida. Os cuidados envolvem contatos médicos, questões de moradia, condicionamento físico e até aconselhamento financeiro.

POR QUE VAI CRESCER O volume de lixo produzido no Brasil aumentou três vezes mais do que a população nos últimos 30 anos, fruto do aumento do consumo. Os salários para gestor de resíduos nas empresas ficam entre R$ 10 mil e R$ 14 mil. COMO SE PREPARAR Já existem cursos de pós-graduação para gestão de resíduos, mas ainda não temos no Brasil cursos de graduação. O caminho mais fácil para quem quer trabalhar na área é a graduação em engenharia ambiental ou química, ou um curso no Senac de São Paulo.

POR QUE VAI CRESCER No Brasil, os idosos serão 18% da população em 2040. Por isso, aumentará o uso de medicamentos e exames. A transmissão digital de informações médicas possibilitará monitorar à distância a saúde e dar melhor atendimento ao idoso. COMO SE PREPARAR Sua formação pode ser em qualquer ramo da saúde. A Faculdade de Medicina da USP já estuda criar um curso de pós-graduação com esse fim.



4

JOGOS OLÍMPICOS NA BAHIA


SOLUÇÕES •

Investir na atração

Explorar nas cam-

e fidelização do turis-

panhas de divulgação

que compensem o

ta que virá ao Brasil

dos destinos o fato

deslocamento para

para as Olimpíadas

de ter abrigado os

fugir dos altos preços

alemães, campeões

do Rio de Janeiro

Ampliar o interesse

do mundo em 2014, e

pelas cidades baianas

concentrado o maior

através da sua história,

número de gols do

de atletas olímpicos

cultura, entreteni-

torneio: ‘Bahia uma

baianos de sucesso

mento, religião e o

terra abençoada’

em campanhas de

jeito baiano de receber

Investir na imagem

sedução ao turista •

Promover pacotes

Negociar com

Usar a experiência

companhias aéreas

positiva da Copa do

melhores preços para

Mundo, com eventos,

que, durante os Jogos

políticas de desenvol-

na imagem do destino

Olímpicos, o turista

vimento das cidades,

Bahia

possa aproveitar a cur-

como aconteceu em

ta distância para se

Barcelona para as

hospedar em Salvador

Olimpíadas

364   Agenda bahia 2015

Unir os setores público e privado em


Oferecer uma gama

de serviços para atrair

Incentivar turismo de negócios

turistas de diversos

tura para ampliar o turismo náutico na Baía de Todos os San-

à área de saúde, como

instalações do Centro

tos, a segunda maior

parte do planejamento

de Convenções para

navegável do mundo.

no pós Jogos

promoção de eventos

Em muitas cidades do

de grande porte

mundo, esse segmen-

Investir em novos equipamentos turísticos

Criar infraestru-

Modernizar

segmentos: da cultura

to já é a principal fonte •

Preservar o patri-

de receita dos gover-

mônio histórico das

nos e incremento da

cidades

economia local

Definir estratégias para aumentar a arrecadação com turismo através de novos produtos e serviços

olimpíadas na bahia    365


COMPROMISSOS •

O prefeito ACM

Prefeito garantiu

rístico, com ar-condi-

Neto prometeu, na

que os Fortes de Santa

cionado, nos princi-

abertura do seminá-

Maria e São Diogo,

pais trechos turísticos

rio, que Salvador irá

que irão abrigar mu-

da cidade

trabalhar para ser o

seus em homenagem

segundo destino de

a Pierre Verger e a

turismo litorâneo do

Carybé, respectiva-

2016, Vem Curtir a Rua,

país durante as Olim-

mente, serão inaugu-

foi revelado no Fórum

píadas, logo depois do

rados em março de

pelo prefeito ACM

Rio de Janeiro

2016. O anúncio dos

Neto, assim como

O tema do Carnaval

dois projetos foi feito

mais desfiles sem cor-

A Prefeitura irá

pelo então secretário

da nos trios durante o

lançar um calendário

de Turismo, Guilher-

evento

cultural com eventos

me Bellintani, no

e atividades que serão

Fórum de 2013

desenvolvidas ao

Prefeito revelou ampliar calendário

Prefeito ACM Neto

na cidade para atrair

além da passagem da

anunciou a volta de

mais turistas: grandes

tocha olímpica

ônibus executivo tu-

eventos a cada dois

longo da competição,

366   Agenda bahia 2015


meses e ainda Carna-

a aviação regional.

primeiro semestre de

val fora de época.

Acordo com a Gol

2016, época que será

foi fechado para dois

reaberto ao público

O Mercado São Mi-

voos internacionais

guel, na Baixa dos Sa-

em Porto Seguro

pateiros, ganhará novo

ra de Bares e RestauNelson Pelegrino

rantes prometeu qua-

espaço gastronômico.

garantiu que a Setur

lificar profissionais

Segundo o assessor

está investindo em

para atender ao turista

especial da Secretaria

uma nova plataforma

e criar festival Bar em

Municipal de Ordem

digital para melhorar

Bar, com pratos locais

Pública, Isaac Filho,

a estrutura de atendi-

haverá 90 boxes

mento ao turista que

projeto, inclusive com

virá nas Olimpíadas •

Associação Brasilei-

Secretário de Turis-

Ministro do Turismo, Henrique Alves, anunciou que

Nelson Pelegrino

projeto prevê acabar

Pelegrino, afirmou

prometeu que a obra

com visto, durante os

que o governo prepara

do Centro de Conven-

Jogos, para o turista

ações para estimular

ções ficará pronta no

americano

mo da Bahia, Nelson

olimpíadas na bahia    367


1

2

3

1 A orla da Barra, no trecho do Porto ao Barra Center, foi concluída pouco antes do início da Copa do Mundo de 2014. Com isso, ficou pronta a tempo de abrigar a Fifa Fan Fest, que reuniu milhares de pessoas durante os jogos  2 A Casa do Rio Vermelho, museu construído na casa onde Jorge Amado e Zélia Gattai viveram  3 Último trecho da orla da Ribeira, que foi completamente requalificada. Assim como nos outros bairros, as obras de urbanização tiveram como objetivo priorizar o pedestre e as bicicletas: o calçadão foi alargado e uma ciclovia foi construída


Salvador colada nas Olimpíadas A META DA PREFEITURA É FAZER COM QUE SALVADOR SE TORNE O SEGUNDO DESTINO TURÍSTICO LITORÂNEO PARA QUEM VISITAR O BRASIL DURANTE A COMPETIÇÃO. ALÉM DE MAIS EQUIPAMENTOS, A CIDADE PROGRAMA UM NOVO CALENDÁRIO TURÍSTICO

Em agosto de 2016, durante os Jogos Olímpicos, os olhares do mundo estarão voltados para o Rio de Janeiro. No entanto, é bem possível que a cidade anfitriã tenha que dividir um pouco de sua visibilidade com outras vizinhas. E, se depender do projeto da prefeitura, Salvador terá direito a holofotes e a uma boa fatia dos visitantes que virão para a competição. O prefeito ACM Neto anunciou sua meta ambiciosa para as Olimpíadas: quer que Salvador seja o segundo destino de turismo litorâneo do país na ocasião, logo depois do Rio. “A característica dos turistas das Olimpíadas é das famílias, mas temos tempo para trabalhar em articulação e vender a cidade com as principais articuladoras. A cidade está qualificada e, em 2016, estará mais ainda”, garante. Antes mesmo de os Jogos começarem, a prefeitura também deve lançar um calendário cultural com eventos e atividades que serão desenvolvidos ao longo da com-

olimpíadas na bahia    369


petição. Além disso, a tocha olímpica vai passar 24 horas em solo soteropolitano. Por isso, uma programação especial será definida para a ocasião.“Com um calendário de eventos, atividades culturais e alternativas de lazer, o turista vai se sentir tentado a conhecer um lugar além do Rio. E esperamos que seja Salvador”. Para o prefeito, a experiência com a Copa do Mundo, em 2014, serviu de cartão de visitas. “Claro que o acompanhamento das seleções olímpicas é menor do que o das seleções profissionais, mas queremos que a gente tenha um clima parecido”. Uma das ideias é realizar eventos nos moldes da Fan Fest, um dos maiores sucessos do Mundial. “Estamos preparando eventos e atividades que serão divulgados na época”. De acordo com o prefeito, o primeiro passo para conseguir chamar atenção dos visitantes, iniciado há três anos, foi requalificar os produtos e equipamentos turísticos da cidade. “Um dos pilares de nossa estratégia são os pilares de requalificação da orla. Salvador tem uma forte presença do turismo de sol e praia, mas observamos que o turista chegava aqui no aeroporto, pegava uma van e se dirigia à Linha Verde, procurando principalmente a Praia do Forte e Costa do Sauipe”, explica. Até 2013, Salvador tinha uma das orlas mais ultrapassadas e abandonadas entre as capitais do país, diz Neto. Desde então, foram feitas obras de recuperação em São Tomé de Paripe, Tubarão, Ribeira, Barra, Boca do Rio, Piatã e Itapuã. A obra da Barra, concluída pouco antes da Copa do Mundo, fez com que o local servisse de palco para a Fifa Fan Fest. Os trechos do Jardim de Alah e do Rio Vermelho devem ser os próximos a ser entregues. “Nossa perspectiva é de que possamos fazer a entrega da primeira etapa do Rio Vermelho até essa data, para que no 2 de fevereiro, na festa de Iemanjá, tudo já esteja requalificado”. Na orla, foram implantados espaços de convivência, pisos compartilhados entre pedestres e veículos, iluminação em LED e, mais recentemente, novos quiosques de praia. “Tudo isso foi concebido para convidar o soteropolitano, o baiano e o turista do mundo inteiro a aproveitar a orla de nossa cidade”. Depois da Casa do Rio Vermelho, memorial em homenagem a Jorge Amado e Zélia Gattai inaugurado em 2014, outros espaços culturais devem chegar em 2016. Os

370   Agenda bahia 2015


Fortes de Santa Maria e São Diogo passam por intervenções para abrigar museus em homenagem a Pierre Verger e ao artista plástico Carybé, respectivamente. Os dois devem ser abertos em 2016. Outra aposta da prefeitura é a criação do Museu da Música Brasileira, que funcionará no Palácio dos Azulejos Azuis. A recuperação desse prédio histórico de Salvador foi anunciada pelo então secretário de turismo, Guilherme Bellintani, no Fórum Agenda Bahia 2013. “Vai ser um equipamento multiuso, com espaço para apresentação de música”. O Mercado Modelo e a Praça Cayru também serão reformados. Já foram concluídos o Teatro Gregório de Matos, a Casa do Benin e o Espaço Cultural da Barroquinha. Soluções de mobilidade também foram implementadas, como o projeto de compartilhamento de bicicletas Salvador Vai de Bike e o sistema de ônibus 24 horas, o Corujão Salvador. “Essa era outra reivindicação histórica, não só do turista que quer curtir a noite, mas das pessoas que trabalham com o mercado”. Além disso, a prefeitura deve relançar o ônibus executivo turístico — o antigo Frescão. “Vai ter ar-condi-

NOVOS EVENTOS Cidade de eventos Durante as Olimpíadas, a meta da prefeitura é atrair turistas para Salvador. Por isso, o prefeito ACM Neto adiantou que será criado um calendário de atividades culturais para o período. Eles ainda estudam se terão estruturas como a Fan Fest, da Copa do Mundo vocação Nesses novos pontos, é possível identificar vocações de como atrair público — seja com a reforma de equipamentos existentes, como o Mercado São Miguel, ou o uso diferente do espaço. A Praça Cayru, por exemplo, já se consolida como um local para eventos de grande porte Promover a cidade Não basta investir em infraestrutura. Também é necessário mostrar o que o destino tem de diferente e quais seus principais atrativos — é uma forma de “vender” a cidade. “Investimos nos últimos meses e até o fim do ano R$ 6 milhões em revistas, jornais, mídias digitais e TVs de bordo, em parceria com companhias aéreas”, diz ACM Neto

cionado e todo o conforto, ligando os principais trechos turísticos aos hotéis da cidade”. O prefeito acredita que é importante entender que Salvador precisa de calendário de eventos. Assim, cria empregos e desenvolve a economia local. “Teremos novidades nas festas populares, sempre com a preocupação de melhorar a qualidade do serviço, ter todo o receptivo para o turista e de incluir essas festas no trabalho de promoção da cidade”, diz

olimpíadas na bahia    371


ACM Neto apresentou os novos projetos da Prefeitura para promover Salvador como destino turístico

372   Agenda bahia 2015


Carnaval aberto MENOS CORDAS NOS TRIOS ELÉTRICOS, GRANDES EVENTOS A CADA DOIS MESES E AINDA CARNAVAL FORA DE ÉPOCA. O PREFEITO ACM NETO ANUNCIA NO FÓRUM AGENDA BAHIA NOVIDADES NO CALENDÁRIO DE EVENTOS DE SALVADOR

O Carnaval de 2015 já dava indícios de que a folia de Salvador vive um novo momento — e é de cada vez menos separação, cada vez menos cordas. Pois, se já tivemos quase metade das atrações desfilando sem cordas este ano, em 2016, isso só deve aumentar. A novidade foi adiantada pelo prefeito ACM Neto, durante o último seminário da sexta edição do Fórum Agenda Bahia, realizado pelo CORREIO e pela rádio CBN, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). “O tema (do Carnaval 2016) é Vem Curtir a Rua, então, todas as novidades pensadas derivam desse conceito, que é um convite para as pessoas curtirem o Carnaval de rua. Depois dos desfiles sem cordas em 2015, queremos que mais da metade seja sem corda”, anunciou. No meio dessa festa de rua, iniciativas como o Furdunço, criado em 2013 e composto por artistas que desfilam no chão ou em microtrios, sem cordas, vão ganhar ainda

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mais destaque. “Vamos ter outras novidades e movimentos como esse. A vitalidade do Carnaval se encontra nisso e tudo o que está sendo pensado será nesse sentido”, explicou Neto, que lançou a festa em um encontro com empresários e agências de turismo, em São Paulo. O prefeito estuda ir além: Salvador pode ter mais um

SALVADOR PRECISA TER PELO MENOS UM EVENTO DE PESO NACIONAL A CADA DOIS MESES ACM NETO PREFEITO DE SALVADOR

período de folia. “Temos conversado com o trade do entretenimento para fazer um Carnaval fora de época no dia 12 de outubro, que coincide com a Semana do Saco Cheio, que acontece no Sul e no Sudeste do Brasil”. Apesar de não ser comum na Bahia, a folga engloba também

seja um dos destinos mais procurados durante todo o

ANTES DE PENSAR EM ESTRATÉGIAS DIGITAIS, É PRECISO ENCONTRAR FORMAS DE SE CONECTAR COM OS TURISTAS CAMILO DE LEON

ano — não apenas no período do fim de novembro, com

DIRETOR DE MÍDIA DA MCGARRYBOWEN

o Dia do Professor, 15 de outubro, em estados como São Paulo e Paraná. Porém, mesmo com todas as medidas para garantir que a folia baiana continue sendo a maior do Brasil, o prefeito defende que é preciso fazer com que Salvador

a chegada das férias, até a Quarta-Feira de Cinzas. “Salvador precisa ter pelo menos um evento de peso nacional a cada dois meses. Esse tem que ser o nosso objetivo maior”, afirmou. Por isso, há três anos, a prefeitura também começou a promover eventos como o Festival da Cidade, que marca o aniversário de Salvador, o Festival Arte do Sagrado, na Semana Santana, e o Festival da Primavera, em setembro. Recentemente, também foi recriado o Pelourinho Dia e Noite, que cria uma programação cultural no bairro, com ações de empreendedorismo e inclusão social. Diante disso, o Réveillon de Salvador já desponta como um dos eventos mais consolidados entre

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os propostos no novo calendário turístico. Em 2015 foram cinco dias com 23 shows na Praça Cayru, no Comércio. Entre os quase 300 artistas, há nomes como Luan Santana, Wesley Safadão e Ivete Sangalo. No seminário, o prefeito já anunciava que a agência CVC, a principal vendedora da cidade como destino turístico no Brasil, já não tinha pacotes de viagem para o Réveillon. “Eles já abriram três novos voos e a ideia é que, logo após fechar esses voos, continuar vendendo Salvador, se tiver capacidade na rede hoteleira”. A expectativa era que a ocupação dos hotéis e pousadas alcançasse 90% do total. “E estamos falando de pacotes semanais. É uma ocupação prolongada”, comemora o prefeito. “Nós introduzimos em Salvador a maior festa de fim de ano do Brasil. É certo que somente a soma de todos os dias permite chegar ao que o Rio de Janeiro recebe na noite da virada, mas, em termos de número de atrações e de atenção de mídia, será importantíssimo”, diz ACM Neto. De acordo com o secretário municipal de Cultura e Turismo, Érico Mendonça, a expectativa para o número de turistas no Réveillon da cidade é alta. “Temos uma boa notícia porque já esgotamos todas as vendas de pacotes, tendo que buscar a colocação de voos extras”, contou.

Mercado São Miguel é novo espaço turístico O Mercado São Miguel, que fica na Baixa dos Sapateiros, é uma das apostas da prefeitura de novo espaço turístico da cidade. De acordo com o prefeito ACM Neto, o projeto executivo está sendo elaborado. “Quero publicar a licitação ainda este ano”. Segundo o secretário municipal de Cultura e Turismo, Érico Mendonça, o mercado deve contar com restaurantes. “Não vai ser apenas um mercado tradicional, mas um espaço de atração gastronômica. Em Madri, na Espanha, tem um Mercado San Miguel que funciona assim”. Atualmente, o mercado funciona de forma precária, com cerca de 20 boxes, segundo o assessor especial da Secretaria Municipal de Ordem Pública, Isaac Filho. “Teremos cerca de 90 boxes, também com venda de artesanato, produtos da terra, iguarias”. O espaço terá uma roda de capoeira e um palco. As obras devem ser iniciadas após o fim do período de licitação.

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Redes sociais aumentam contato com os visitantes O aumento do uso de sites de redes sociais, como o Facebook, o Instagram e o Twitter, permite um contato maior com os consumidores de turismo por parte de empresários e empregados do setor. Segundo Camilo de Leon, diretor de mídia da Mcgarrybowen, agência responsável por divulgar o Brasil como um destino turístico através da Embratur, comentários, imagens compartilhadas e avaliações em sites como TripAdvisor e Booking ajudam a promover locais e servem como matéria-prima para aprimorar ações. “Quem trabalha com turismo precisa conhecer o seu público-alvo e seus hábitos. Antes de pensar em estratégias digitais, é preciso encontrar formas de se conectar com eles”, afirma Leon. Ele diz que dados relacionados a esses usuários podem ser coletados em sites que reúnam informações do setor turístico. O passo seguinte à identificação do turista é envolvê-lo através da inspiração do lugar como possível destino. “São vários elementos que determinam a escolha por um destino turístico. Não adianta trabalhar bem um destino se você não entrega o que promete. Se você vende uma coisa maravilhosa e não entrega, a frustração é pior. O problema é que não é só o turista que veio, mas também os 200 amigos da rede social dele que também terão esse impacto”, diz Leon. Ele diz que as redes sociais amplificam a voz dos usuários de turismo, e é preciso saber ouvi-la.

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De olho no turista SALVADOR SERÁ PALCO DE DEZ JOGOS DE FUTEBOL DURANTE AS OLIMPÍADAS — UMA OPORTUNIDADE PARA ATRAIR OS TURISTAS DURANTE OS JOGOS. O SECRETÁRIO DE TURISMO DO ESTADO ESTIMA CRESCIMENTO DE 10% NO NÚMERO DE VISITANTES NA COMPARAÇÃO COM A COPA DO MUNDO

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Telões na Barra e atrações musicais, como na Fan Fest durante a Copa do Mundo, estão na programação para as Olímpíadas em Salvador

Não é Copa do Mundo, mas vai ter direito a Furdunço, telão para assistir as competições, festa na Barra e, se tudo der certo, milhares de turistas na cidade. Os holofotes podem estar mais voltados para o Rio de Janeiro, cidade-sede das Olimpíadas, mas a Bahia trabalha para capitalizar da melhor forma possível o evento. A ideia é atrair os turistas para os dez jogos de futebol que acontecerão em Salvador e fazer com que eles estendam a permanência no estado. “Vamos montar um espaço nos moldes da Fan Fest. Alavontê e Furdunço podem estar incluídos”, informou o secretário municipal de Cultura e Turismo Érico Mendonça. Até lá, a capital baiana já vai ter vivido uma espécie de esquenta para os jogos olímpicos. É que Salvador está entre as cidades por onde a tocha vai passar. Ela chega na capital baiana no dia 27 de maio e ficará mais de 24 horas, com direito a programação intensa, que será encerrada no Farol da Barra, com um show. Além de Salvador, a tocha passará por mais 25 cidades baianas. O cronograma ainda não foi todo definido, mas é certo que o percurso começa por Porto Seguro, no dia 19 de maio, e termina em Salvador, no dia 27. Secretário de Turismo do Estado, Nelson Pelegrino estima uma presença maior de visitantes na Bahia do que no período da Copa. “Espero um crescimento entre 5% e 10%”, informou, referindo-se aos 700 mil visitantes que passaram pela Bahia no Mundial, sendo 70 mil estrangeiros. Para ele, potencialmente, as Olimpíadas são mais importantes do que a Copa do Mundo. “Como envolve

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várias modalidades esportivas, terá um alcance maior. Será um cenário de muitas oportunidades que não vamos deixar passar. Salvador, mais uma vez, será mostrada para o mundo inteiro”, avalia. Essa pode ser uma boa oportunidade para o turismo. Mas tudo vai depender dos sorteios das chaves do futebol. Depois da invasão da torcida da Laranja Mecânica às ruas de Salvador, o trade turístico quer bis. Embora a Holanda não tenha se classificado para a competição, o setor quer seleções que arrastem multidões. Na Copa do Mundo, por exemplo, eram apenas 12 cidades-sede, mas os turistas estrangeiros passaram por 491 municípios brasileiros, segundo levantamento do Ministério do Turismo. O estudo mostra ainda que o país recebeu turistas de 203 nacionalidades e cada um ficou, em média, 13 dias no país. De olho nesse potencial, tanto a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur) quanto a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) já selecionam os melhores cartões-postais para espalhar pelas feiras de turismo mundo afora. “Quando tiverem definidas as seleções que jogarão aqui, faremos um trabalho especial nesses países”, informou o titular da Secult, Érico Mendonça. Durante a Copa, por exemplo, entre os estrangeiros, os turistas dos Estados Unidos foram os que vieram em maior número a Salvador, seguidos dos alemães e dos franceses. As seleções dos três países jogaram em Salvador. Outra estratégia será investir na requalificação de pontos turísticos de Salvador, além de montar estan-

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des no Rio, durante os jogos, para apresentar as belezas naturais da cidade aos turistas. “Não dá para fazer projeção do número de turistas que vamos receber. Se sair um país asiático (no sorteio), fica mais difícil. Hoje temos voos diários saindo da Europa para Salvador, o que facilita o acesso desses turistas”, avalia Mendonça. Pesquisa realizada pela Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura (Sedes) em parceria com a Associação Brasileira de Indústria de Hóteis Seção Bahia (ABIH-BA), durante a Copa, mostrou que 94% dos 2.077 entrevistados declararam a intenção de voltar a Salvador devido à boa experiência que tiveram no Mundial. O dever de casa agora é fisgar o turista que já veio e gostou ou aquele que ouviu recomendações positivas. Na Copa, os itens mais bem avaliados no Brasil foram a hospitalidade e a gastronomia, com 98% e 93% de aprovação respectivamente. A segurança pública brasileira foi avaliada positivamente por 92% deles. Os táxis e o transporte público foram aprovados por nove em cada dez visitantes internacionais e os aeroportos por oito em cada dez.

Governo prepara campanha para atrair turistas O governo da Bahia está preparando uma campanha promocional para “vender” Salvador como destino turístico durante as Olimpíadas de 2016. Sede de dez partidas de futebol no período dos Jogos do Rio, o estado quer aparecer bem nas fotos, filmagens e comentários mundo afora. Segundo o secretário do Turismo, Nelson Pelegrino, o governo vai lançar uma campanha para promover o Verão da Bahia e em dezembro será promovida outra campanha relacionada às Olimpíadas, com ações na web, tevê aberta e fechada. A divulgação vai acontecer assim que forem sorteados os grupos. “Não adianta lançar campanha agora, enquanto não soubermos quais serão os times que irão jogar em Salvador”, pondera. Ele acredita que, além de investir na venda dos destinos brasileiros, o país precisa melhorar a qualidade do atendimento ao turista, o que considera ser um dos gargalos que a atividade enfrenta. “Há uma grande janela de oportunidades para o turismo brasileiro, seja interno, porque há um desejo dos brasileiros de conhecer o país,

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seja externo, porque a alta do dólar tornou o país barato”, explica. Nelson Pelegrino acredita que a ampliação da infraestrutura de turismo da Bahia e o aumento dos investimentos em promoção do destino vão ajudar o estado a repetir o desempenho alcançado durante a Copa do Mundo. Entre os projetos, ele destaca os incentivos à aviação. A Bahia oferece estímulos para aviação regional e prepara ações para estimular novos voos em destinos de alta demanda, como é o caso de Porto Seguro. Nessa linha, ele ressalta a importância de concluir a reforma do Aeroporto Internacional de Salvador. “Temos a expectativa de termos o nosso aeroporto completamente modernizado e como o maior do Nordeste, após o processo de concessão”, afirma, fazendo referência ao plano anunciado pelo governo federal no último mês de julho. O secretário diz ainda que tem mantido contatos com as prefeituras das cidades por onde a tocha olímpica vai passar (26 em todo o estado), a fim de realizar um trabalho de promoção da infraestrutura dos locais. “Vamos promover o marketing de todos esses lugares e no principal destino, que é Salvador, estamos montando o esquema para reforçar os aspectos sociais e culturais”, destaca. Na linha promocional, Nelson Pelegrino diz que a Setur está investindo em uma nova plataforma com recursos digitais para melhorar a estrutura de atendimento ao turista que virá à Bahia nas Olimpíadas.

Setor hoteleiro espera repetir resultados obtidos no Mundial A Copa foi tão boa para o turismo baiano que deixou muita gente saudosa por aqui. O setor ainda não tem a dimensão real do impacto que os jogos olímpicos terão na cidade, mas espera que seja tão positivo quanto a experiência do Mundial. O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens da Bahia (Abav), José Alves Peixoto Júnior, também aposta que a definição das seleções que jogarão aqui vai influenciar muito no resultado. “Durante a Copa, a gente chegou a ter 100% de ocupação e uma média de 80%. Se coincidir de virem as mesmas seleções que passaram por aqui, será muito bom”, diz. Apesar de faltar menos de um ano para os Jogos Olímpicos, ele diz que o trade ainda

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não começou a se preparar para o evento. No momento, o foco é a alta estação que se aproxima. “Estamos preocupados em nos preparar para a alta estação, para compensar as perdas que estamos tendo agora. Só vamos pensar em Olimpíadas no final do ano, quando tiver o sorteio. Agora temos outras demandas mais urgentes”, explica. Enquanto os gestores demonstram otimismo, o pre-

SERÁ UM CENÁRIO DE MUITAS OPORTUNIDADES. SALVADOR, MAIS UMA VEZ, SERÁ MOSTRADA PARA O MUNDO INTEIRO NELSON PELEGRINO SECRETÁRIO DE TURISMO DO ESTADO DA BAHIA

sidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Sílvio Pessoa, não esconde sua preocupação e aponta uma falta de investimentos para divulgar o destino Bahia lá fora. Na avaliação dele, a Bahia desperdiçou oportunidades antes e depois da Copa. “Não nos planejamos para divulgar a Bahia lá fora antes, e depois não foi feito nada. Se não nos atentarmos, vamos perder de novo”, alerta Pessoa. Ele ressalta o fato de a Bahia ter construído mais de

VAMOS MONTAR UM ESPAÇO NOS MOLDES DA FAN FEST ÉRICO MENDONÇA SECRETÁRIO MUNICIPAL DE CULTURA E TURISMO

6 mil leitos para a Copa do Mundo e hoje 50% deles estarem ociosos. “Isso porque o turismo é a mola mestra da economia e o setor é o maior empregador da cidade. Hoje, 26% do ISS gerado na cidade vem do turismo e não contamos com políticas do estado nem do município”, reclama.

Restaurantes querem festival nos jogos Como os turistas já demonstraram aprovar a culinária nacional, o setor quer investir pesado na culinária para fisgar os turistas pela boca. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA), Luiz Henrique do Amaral, será realizado

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um planejamento estratégico para aproveitar o espaço. “Serão ações não só de qualificação, mas também durante o evento. Queremos promover ações gastronômicas na cidade durante o período. Nossa culinária desperta bastante o interesse das pessoas”, avalia. Entre as novidades previstas está a realização do Festival Bar em Bar, que oferece tira-gostos a preços especiais. Nos bares, onde normalmente são vendidos petiscos e bebidas alcoólicas, o movimento durante os jogos aumentou, em média, 25%, sendo que nas regiões mais frequentadas por turistas estrangeiros foi registrado um crescimento até duas vezes maior, segundo a Abrasel. De olho nesse nicho, Amaral explica que o setor pretende potencializar os resultados com relação à Copa. “Tivemos sorte na Copa e esperamos repetir isso. Nossa meta é aumentar as vendas em 25%”, afirma. A Secretaria de Turismo do Estado estuda até a implantação de um selo de qualidade para os bares e restaurantes. De acordo com o titular da pasta, Nelson Pelegrino, o assunto já foi discutido durante uma reunião no Ministério do Turismo, que trouxe a proposta de requalificação dos bares e restaurantes da cidade, para que eles possam ter um selo de qualificação. “O turista internacional se baseia em selos de qualidade da higiene, da comida, do serviço. A Setur, dentro dessa estratégia, está iniciando o processo para fazer essa certificação aqui”, explicou.

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Turismo mais competitivo TURISMO É RESPONSÁVEL POR 7,5% DO TOTAL DE RIQUEZAS PRODUZIDAS NA BAHIA. O GOVERNO DO ESTADO ACREDITA QUE ESSA PARTICIPAÇÃO PODE SER AINDA MAIOR A PARTIR DE NOVOS INVESTIMENTOS EM CIDADES BAIANAS

O turismo é responsável por 7,5% do Produto Interno Bruto da Bahia (PIB), de acordo com dados da Secretaria do Turismo da Bahia. E embora este número represente o dobro do que se verifica no Brasil, o objetivo do governo do estado é elevar a participação da atividade nos próximos anos, através de ações para tornar a Bahia um destino cada vez mais desejado nacional e internacionalmente. “Nosso objetivo é ampliar o papel do turismo na geração do emprego e renda do estado”, ressalta o secretário Nelson Pelegrino, destacando ainda que a atividade é a segunda maior responsável pelos postos de trabalho na Bahia. Perde apenas para a Agricultura, segundo ele. “Tivemos, no ano passado, um fluxo global de 14,5 milhões de pessoas para o estado”, diz. A conta inclui os deslocamentos dos baianos pelo estado. Através do projeto Bahia Competitiva, o estado pretende conhecer melhor o potencial de cada uma das regiões para o turismo, com a análise de dados, como indica-

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PRINCIPAIS EMISSORES INTERNACIONAIS 2014 (FLUXO EM %)

25,5

11,5

8,4 7,1

6 4,1

ARGENTINA FRANÇA

EUA

ITÁLIA

ALEMANHA

SUÍÇA

4

CHILE

3,6

3,1

2,9

ESPANHA PORTUGAL

REINO UNIDO

PRINCIPAIS EMISSORES NACIONAIS 2014 (FLUXO EM %) Excluindo o turismo interno da Bahia SÃO PAULO

31,4

MINAS GERAIS

14,7

RIO DE JANEIRO

10,9 6

PERNAMBUCO SERGIPE

5,6

DISTRITO FEDERAL

5,4 4,2

ESPÍRITO SANTO GOIÁS

3,3

R. G. DO SUL

3,3

CEARÁ

2,7

OUTROS

12,5

Fonte FIPE 2014


dores econômicos, número de turistas e as características dos locais. Um dos destaques entre as ações do governo para as Olimpíadas, que deve deixar frutos para o turismo mesmo após o fim dos Jogos no Rio, é a plataforma digital que está sendo implantada, afirma Pelegrino. “Estamos nos preparando para atender melhor na web. Temos o maior centro de informações turísticas do Brasil e queremos torná-lo ainda melhor”, garante o secretário. Pelegrino lembra que um terço dos turistas prefere fazer pela internet tudo o que diz respeito à organização das viagens. “A nossa experiência na Copa do Mundo mostrou que a promoção através das redes sociais e da internet foi muito importante para a Bahia”, conta Pelegrino. Para o secretário, os investimentos na infraestrutura turística são fundamentais para ampliar a participação econômica da atividade na Bahia. Nesse sentido,

A FORÇA DO TURISMO NA BAHIA Sol e Praia O extenso litoral oferece inúmeras opções Náutico Estado tem potencial para desenvolver a atividade na Baía de Todos os Santos Cultural Em Salvador, está localizado o Centro Histórico, que é um patrimônio cultural da humanidade Negócios O estado tem vocação para a realização de eventos Religioso Igrejas, romarias, terreiros de umbanda. O sincretismo religioso é presente na Bahia Étnico-Afro Salvador é a cidade mais negra do Brasil Esportivo Palco da Copa de 2014, o estado busca atrair grandes eventos esportivos

Nelson Pelegrino comemora o incentivo via redução do ICMS à aviação regional — entre cidades baianas — para estimular ida de turistas para cidades no estado com grande apelo turístico, com destaque para Salvador. “Fizemos um acordo com a Gol para ter dois voos internacionais para Porto Seguro. Estamos conversando com a Avianca”, revela. O fator de preocupação no que diz respeito à aviação é o Aeroporto Internacional de Salvador, reconhece Pelegrino. “Temos a expectativa de o nosso aeroporto fique completamente modernizado e como o maior do

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Nordeste, após o processo de concessão”, afirma, fazendo referência ao plano anunciado em julho de 2015. O Centro de Convenções, empreendimento fundamental para o turismo de eventos — importante para o turismo na baixa estação — deve ficar pronto no primeiro semestre de 2016, estima Nelson Pelegrino. “Os empresários do setor e as instituições que trabalham captando eventos para Salvador me pediram uma data porque precisam dar garantias lá fora. Eu garanti para eles que o Centro de Convenções estará reformado, em condições de uso, nos primeiros meses de 2016”, destaca o secretário. O secretário acredita que o país precisa superar alguns gargalos para desenvolver o turismo. “As dificuldade em relação aos investimentos? Podemos enumerar as questões ambientais, tem o Patrimônio Histórico e toda a burocracia. Sou favorável à fiscalização, mas me preocupo com os excessos”, avalia. Mas Nelson Pelegrino aponta oportunidades para o turismo brasileiro, propiciadas pela visibilidade internacional e o cenário cambial. “É preciso aproveitar este momento em que o país ficou mais barato para atrair os estrangeiros. O Brasil ficou mais barato do que destinos como Cancun”, compara. Com a desvalorização da moeda brasileira, turistas estrangeiros encontram preços mais convidativos no país. Outro turista que está na mira da Secretaria estadual de Turismo é o nacional, que deixou de viajar para o exterior pela subida no dólar e no euro. “Momento de crise é de grande oportunidade. O destino Brasil ficou mais competitivo”, avalia o secretário de Turismo, Nelson Pelegrino.

Passagem da tocha na Bahia terá programação As 26 cidades baianas por onde a tocha olímpica vai passar entre os dias 19 e 27 de maio do próximo ano vão receber um reforço na infraestrutura e na promoção turística, diz o secretário do Turismo da Bahia, Nelson Pelegrino. Segundo ele, o símbolo do maior evento esportivo mundial deverá pernoitar em sete dessas cidades, incluindo Salvador, onde o tempo de permanência será maior e contará com uma programação especial, por ser a sede de dez jogos do torneio de futebol. “Este momento será muito importante na promoção da Bahia como destino turístico”, acredita Pelegri-

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4

3

4

1 Apesar de já estar pronto desde 2014, o Terminal de Passageiros do Porto de Salvador ainda depende de autorização do Tribunal de Contas da União (TCU) para funcionar plenamente  2 Morro de São Paulo foi urbanizada com recursos do Ministério do Turismo, foram realizados investimentos de US$ 85 milhões na infraestrutura de destinos  3 A cidade de Porto Seguro será a primeira na Bahia a receber a tocha olímpica  4 O Centro de Convenções está fechado desde o primeiro semestre de 2015 para reformas, trazendo prejuízos para o turismo de negócios

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A NOSSA EXPERIÊNCIA NA COPA MOSTROU QUE AS REDES SOCIAIS E A INTERNET FORAM MUITO IMPORTANTES NELSON PELEGRINO SECRETÁRIO DE TURISMO DA BAHIA

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no. Como indicação do potencial de divulgação positiva que o evento representa, ele lembra que, durante a Copa do Mundo em 2014, 90% dos turistas que estiveram no estado manifestaram o interesse em retornar futuramente. Os grandes destaques, lembra ele, foram a hospitalidade do baiano e a gastronomia. “Nós estamos identificando a infraestrutura dos locais por onde a tocha vai passar. O que nós podemos fazer para potencializar os benefícios é melhorar a infraestrutura desses locais e garantir a visibilidade da passagem”, diz. Segundo ele, o estado vem promovendo os locais. “Estamos promovendo o marketing de todos esses lugares. O principal deles é Salvador, onde estamos montando um esquema para ver os aspectos sociais e culturais”, explica. “A gente quer aproveitar essa oportunidade para mostrar a representatividade do povo baiano”. Uma das obras que o secretário considera prioritária para as Olimpíadas é a do Terminal de Passageiros. “Não é possível que tenhamos um local com todo aquele potencial, pronto para ser utilizado, que só faz o básico por conta de entraves burocráticos”, reclama, em relação ao processo de licitação do empreendimento, que está parado por conta do Tribunal de Contas da União. “Estou convicto de que podemos ganhar muito se conseguirmos investir mais no turismo”, diz.

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Henrique Alves quer aproveitar as Olimpíadas para projetar o Brasil como um dos principais destinos internacionais

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HENRIQUE EDUARDO ALVES Advogado de formação, é ministro do Turismo desde abril de 2015. Reconhece que o Brasil precisa melhorar sua infraestrutura, mas vê evolução nos últimos anos e quer que Olimpíadas ajudem nesse sentido


Olimpíadas do Brasil AMPLIAR PARA TODO O PAÍS OS GANHOS COM OS JOGOS OLÍMPICOS DO RIO É O MAIOR DESAFIO DO MINISTRO DO TURISMO, HENRIQUE EDUARDO ALVES. ELE QUER QUE O APRENDIZADO DA COPA DO MUNDO AJUDE NA MISSÃO A menos de um ano dos Jogos Olímpicos do Rio, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, 66 anos, trabalha com um propósito: quer que o evento tenha o mesmo impacto da Copa do Mundo. Tamanho entusiasmo tem uma explicação: “Vimos na Copa que quem visita o Brasil gosta, quer voltar e recomenda. Temos uma oportunidade de projetar o Brasil em definitivo como destino internacional”. A proposta dele é fazer com que os turistas que vierem ao Brasil atraídos pelas Olimpíadas queiram visitar não só o Rio, mas também outros destinos ícones da diversidade do país. Ele diz que o Brasil já mostrou que sabe realizar grandes eventos. Na Copa, um milhão de estrangeiros de 203 países visitaram 491 municípios brasileiros. A expectativa é que, na devida proporção, esse sucesso se repita nos Jogos Olímpicos. Em entrevista ao CORREIO, Alves falou ainda sobre o apoio do ministério nas obras de revitalização do Centro de Convenções e também da parceria com a prefeitura na segunda etapa das obras da orla da Barra, que contará com R$ 4,8 milhões do Prodetur.

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Em 2014, tivemos a Copa do Mundo e em 2016 teremos Olimpíadas. O que já temos de legado desses eventos? O Brasil já mostrou que sabe realizar grandes eventos, o maior exemplo foi a Copa do Mundo de 2014. Mais de 95% dos turistas que vieram ao Brasil assistir ao mundial se mostraram interessados em voltar. Esse é um atestado de credibilidade e aprovação. Um estudo divulgado recentemente pelo Fórum Econômico Mundial mostra que, de 2013 para cá, melhoramos significativamente em quesitos como recursos culturais, competitividade de preço, passagens aéreas, hotéis, aeroportos. O Brasil também avançou 60 posições no ranking de competitividade em estádios. Isso é só uma amostra do impacto e do poder de indução do desenvolvimento da Copa do Mundo no setor. Durante o Mundial, mais de 4 milhões de pessoas visitaram quase 500 municípios. Ou seja, outros destinos, além das cidades-sede do evento, foram beneficiados. Agora, trabalhamos para potencializar a vinda de turistas também nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, com o objetivo de motivá-los a visitar não só o Rio, mas também outros destinos que são ícones da diversidade do país. Uma cidade como Salvador, que tem forte vocação para o turismo, não conta mais com o Centro de Convenções para abrigar grandes eventos, e a Fonte Nova, que deveria ser multiuso, é alvo de

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briga judicial que impede a realização de eventos que não sejam esportivos. Como o senhor vê isso? Todo grande equipamento turístico, como é o Centro de Convenções, passa por reformas estruturantes que aprimoram e até mesmo redefinem, muitas vezes, o seu uso. Nós estamos apoiando o pleito do governo do estado, que é a climatização de toda a estrutura do centro de eventos. O investimento do Ministério do Turismo nessa obra é de R$ 5,8 milhões, o que, na minha opinião, vai contribuir para transpor dificuldades ligadas ao conforto e comodidade do público, o que é muito sério, considerando que Salvador é uma cidade de temperaturas tropicais. Em relação à realização de eventos na Fonte Nova, há uma agenda bastante prestigiada e já planejada para acontecer lá. O estádio de Salvador foi um dos escolhidos pelo Comitê Olímpico da Fifa para sediar partidas de futebol durante os Jogos Olímpicos de 2016, o que presume uma grande movimentação esportiva e cultural em torno dessa estrutura. O Ministério do Turismo apoia os projetos de infraestrutura turística de Salvador e, desde 2003, investimos mais de R$ 409 milhões em obras na cidade. Há um esforço permanente dos governos para qualificar o que já é muito bom. O número de turistas estrangeiros esperado para a Copa superou a expectativa do governo. A que se atribui esse resultado? Um ano antes, o Brasil realizou a Copa das Confederações. O evento serviu como aprendizado, acúmulo de conhecimento e para dar início à ampla difusão da imagem do país. Foi a preparação para receber a “Copa das Copas”, um título que o mundo nos deu, por ter realizado um campeonato que colocou os atributos do Brasil no centro do mundo por 30 dias e na memória dos visitantes e espectadores para sempre. Uma nação jovem, alegre, com forte avanço em infraestrutura, e que se transformou em unanimidade. Fomos testados e postos à prova em todas as áreas, e o mundo gostou do que viu. Investimos na construção de grandes estádios e em infraestrutura, além de fazer o que temos de melhor: hospitalidade. Um milhão de estrangeiros de 203 países, um número recorde para o período, saiu le-

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vando na mala a experiência de viver o Brasil. Aí é que começa o verdadeiro legado: as obras que ficam para a população, a imagem que os estrangeiros levam daqui, e uma infinidade de ganhos de competitividade como destino internacional. Salvador não conseguiu atender a tudo o que estava previsto na matriz de responsabilidades da Copa. Isso impactou na imagem que os turistas levaram da cidade? A pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo durante a Copa revelou exatamente o contrário. Quase 90% dos turistas estrangeiros entrevistados se mostraram satisfeitos com a infraestrutura aeroportuária da cidade, 79% elogiaram a sinalização turística e mais de 77% dos entrevistados aprovaram a segurança pública. Me reuni recentemente com o prefeito ACM Neto e começamos a tratar da revitalização da orla de Salvador. A cidade é uma das mais visitadas por brasileiros, segundo o Estudo da Demanda Turística Doméstica de 2012. É um destino de extremas riquezas naturais, culturais e de diversidade, que está fortalecendo sua infraestrutura turística para manter sua imagem como um dos destinos brasileiros mais estruturados e procurados. Levando em consideração os investimentos realizados no país para receber a Copa, o Brasil saiu ganhando ou perdendo? Saiu ganhando. O maior legado que a Copa deixou ao Brasil foi a boa imagem projetada ao mundo. A Copa no Brasil teve a maior audiência da história. Foram 3,6 bilhões de espectadores em todo o planeta. Além da imagem, tivemos inúmeros ganhos no quesito infraestrutura. Agora temos que trabalhar para manter esse padrão e melhorar em tudo o que temos mais a oferecer: profissionalizar o turismo e transformar nossos recursos naturais, culturais e nossas vocações em atrativos bem estruturados, em negócios. Quais são as expectativas para as Olimpíadas? Turismo e Olimpíadas são indissociáveis. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos,

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embora concentrados majoritariamente no Rio de Janeiro, são eventos nacionais. Precisamos ampliar o eco das oportunidades para todo o país. Expandir, a exemplo da Copa, os ganhos com o turismo para centenas de cidades. Algo que pode ampliar o impacto econômico do turismo olímpico na economia

A IDEIA É QUE OS TURISTAS VISITEM O RIO, MAS TAMBÉM APROVEITEM PARA CONFERIR OUTROS DESTINOS

do país é a isenção de vistos. Trabalhamos para tirar do papel um projeto piloto para receber os norte-americanos sem visto até dezembro de 2016. Se der certo, e é muito provável que os resultados nos surpreendam positivamente, podemos estender, posteriormente, a outros países importantes para a ampliação do fluxo de estrangeiros ao Brasil. O objetivo é melhorar a abertura internacional do país às vésperas do maior evento esportivo do mundo, em 2016, decisão que pode contribuir para reduzir o déficit da conta Turismo, que em 2014 foi de US$

SALVADOR É UM DESTINO DE RIQUEZAS NATURAIS, CULTURAIS E DE DIVERSIDADE QUE ESTÁ FORTALECENDO A INFRAESTRUTURA

18,6 bilhões. Muitos empresários não imaginaram o potencial da Copa e, consequentemente, não souberam tirar bom proveito. Como explorar melhor o potencial das Olimpíadas? A lição da Copa foi aprendida até mesmo por aqueles que não acreditaram. Mostramos que somos capazes de realizar grandes eventos e os empresários que querem aumentar os seus ganhos devem estar atentos às oportunidades. O Brasil tem 775 mil micro e pequenas empresas trabalhando para fazer a roda do turismo brasileiro girar. É um mar de ofer-

olimpíadas na bahia    397


tas em um oceano de demandas. Quem se qualificar, sairá na frente. O investimento em aprimoramento profissional pode ser um referencial para o resto da vida da empresa. O conhecimento em idiomas é outro divisor de águas. É possível que Salvador e as outras três cidades que vão receber jogos tirem proveito do evento para alavancar o turismo? A ideia é que os turistas — brasileiros e estrangeiros — visitem o Rio, mas também aproveitem para conferir outros destinos, distribuindo os impactos positivos dos Jogos pelos 26 estados e pelo Distrito Federal, como ocorreu na Copa, quando mais de 491 municípios foram visitados. Cabe aos governos locais promoverem ações para atrair esse turista qualificado que estará no Brasil. Há alguma campanha ou ação para estimular isso? Há diversas campanhas promocionais em formatação nesse sentido, uma vez que o marketing deve ser uma ação continuada. São press trips, fantours, seminários de capacitação e workshops para operadores e agentes de viagens de vários países, participação em feiras e ações de publicidade e comunicação digital que fazem parte das estratégias de divulgação, comercialização e inteligência de mercado para o destino Brasil. Mercados prioritários para promoção internacional do Brasil já estão recebendo ações específicas, de “aquecimento” para as Olimpíadas. Quanto o Ministério do Turismo está investindo nas ações voltadas para as Olimpíadas? O ministério já destinou mais de R$ 180 milhões à infraestrutura turística no estado do Rio de Janeiro. Dos 342 projetos apoiados, 201 já estão concluídos e 27 estão em execução. Só no Rio, o ministério investiu R$ 24 milhões em obras, entre elas, a de sinalização turística na cidade e a recuperação do Cristo Redentor. Além disso, estamos apoiando a construção de uma rede de serviços turísticos qualificada em todo o Brasil, em sinalização turística e infraestrutura de informação digital, em capacitação de mão de obra e em adequação da infraestrutura e de

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recomendações para rede hoteleira, bares, restaurantes e serviços turísticos para a acessibilidade de todos os turistas. Com o real bem desvalorizado, o Brasil pode tirar proveito dessa situação, já que vir para cá fica mais barato para os estrangeiros? O câmbio tende a favorecer o turismo brasileiro, uma vez que o destino fica mais competitivo do ponto de vista financeiro para o estrangeiro e as viagens para o exterior ficam mais caras para os brasileiros. É importante notar, no entanto, que o dólar se valorizou frente a outras moedas também, como o euro. Por isso temos de trabalhar duro na disputa pelo turista internacional que tem uma série de opções. Nesse sentindo, estamos repensando o modelo de gestão da Embratur, autarquia responsável para promoção internacional do Brasil. A ideia é aproveitar a experiência da Apex e criar uma agência mais ágil e mais agressiva em marketing, capaz de firmar parcerias com o mercado para fortalecer a divulgação internacional do país. Esses ganhos se estendem pós-evento? Vimos na Copa que quem visita o Brasil gosta, quer voltar e recomenda. Temos a certeza de que os Jogos Olímpicos terão o mesmo impacto. Nós temos a oportunidade de projetar o Brasil em definitivo como destino internacional. O Rio de Janeiro, que será a porta de entrada, vai estar com a infraestrutura readequada, com oferta turística qualificada, e o que falta para consolidar o Brasil como destino internacional é sustentar esse posicionamento criado durante a Copa, com ações integradas entre as diversas esferas de governo e as empresas privadas. Qual o potencial desse turista que viaja para eventos esportivos? Gasta muito? O turista estrangeiro que veio ao Brasil na Copa do Mundo tem um gasto médio superior a US$ 2,4 mil dólares, é quase o dobro da média do turista internacional convencional. Estamos tratando, portanto, de um visitante qualificado, que merece ser bem tratado para querer voltar.

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Muita história para contar PARA ESPECIALISTA, UMA SÉRIE DE EVENTOS POSITIVOS QUE ACONTECERAM NA BAHIA DURANTE A COPA PODEM SER EXPLORADOS PARA ATRAIR OS TURISTAS QUE QUEREM FUGIR DOS PREÇOS ALTOS DO RIO E CURTIR O AXÉ QUE SÓ O BAIANO TEM O que não falta é motivo para a Bahia atrair os turistas que vão procurar o Brasil durante as Olimpíadas. De acordo com o professor da PUC-Campinas e autor de estudo sobre cidades que acolheram os Jogos Olímpicos Roberto Brito de Carvalho, a localização privilegiada — mais próxima da Europa e dos Estados Unidos do que estados do Sudeste — e os altos custos do Rio de Janeiro são apenas dois dos pontos que podem ser explorados na promoção de destinos da Bahia. “As diárias no Rio de Janeiro estão muito caras, giram em torno de R$ 1 mil. É muito dinheiro, inclusive para os turistas estrangeiros. Competir com isso, negociando as condições de transporte diferenciadas, possibilita a outras localidades, inclusive a Bahia, hospedar esse turista para que ele possa fazer essa visita ao Rio de Janeiro e retornar”, propõe Roberto de Carvalho, lembrando a proximidade das cidades, apenas duas horas de avião. Para o professor, essa é uma oportunidade que o estado tem, mas que precisa ser amplamente trabalhada, sobretudo no fortalecimento da cadeia

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produtiva, para dar resultados efetivos. Ou seja, para convencer o turista de que ele pode ficar hospedado em outra cidade e se deslocar para o Rio apenas quando for assistir a alguma competição, é preciso garantir toda a infraestrutura necessária e de forma atrativa. “Não basta só a rede hoteleira baixar os seus preços, é necessário que o setor negocie com as companhias aéreas. O turista tem que se hospedar em localidades com custos mais acessíveis e poder gastar o restante dos recursos em outros passeios que não exclusivamente na hospedagem no Rio”, informa. Outro visitante que também deve ser trabalhado é aquele interessado pelos dez jogos de futebol que irão ocorrer em Salvador durante as Olimpíadas. E os que curtem assistir a passagem da tocha olímpica: no total, 26 cidades baianas irão abrigar esse percurso. O diretor da Agência Catalã de Turismo em São Paulo, Joan Romero, também concorda que é uma chance de ouro para a capital baiana. “Salvador tem que aproveitar para vender melhor a cidade nas transmissões da televisão durante os Jogos”. Já o professor Roberto de Carvalho acredita que a cidade precisa aprender a cuidar do seu patrimônio histórico. Roberto de Carvalho destaca que a Bahia, durante a Copa de 2014, foi palco de eventos importantes para reforçar a imagem acolhedora do estado. Abrigou a Alemanha, seleção campeã do mundo. Os jogadores elogiaram o carinho recebido e fizeram fotos até com os índios de Cabrália. Salvador promoveu festas animadas e concentrou, pela Arena Fonte Nova, o maior número de gols da Copa. O professor enumera outros pontos: atletas olímpicos bem-sucedidos, história, cultura e axé que só os baianos têm. “A Bahia tem uma vantagem porque se permite explorar algo que os outros não conseguirão”. Porém, o especialista ressalta que, para que esse projeto possa avançar, é fundamental uma articulação não só do setor público, mas também que haja condições de trabalho para que as operadoras, companhias aéreas e, de fato, todo o trade tenham o mesmo interesse. “Tem que inovar, pensar o que os outros não estão fazendo”, pondera. O professor sugere que haja um processo efetivo de vendas e compras e de logística para viabilizar a possibilidade de viagem.

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COMPETITIVIDADE TURÍSTICA Turistas estrangeiros no Brasil EM (%)

7,9

METAS AMBICIOSAS

5,8

5,4

5,2

2011

2010

2012

7,2

7,1

2014

2015

6,2

2013

2016

Receita em 2013

Receita em 2014

Gasto médio

6,7MI

6,8MI

US$134

US$

US$

per capita diário

%

68,6

Usaram a internet como principal fonte de informação

%

80,1

Não utilizam agências de viagens


AS DIÁRIAS NO RIO ESTÃO MUITO CARAS. NEGOCIAR CONDIÇÕES DE TRANSPORTE DIFERENCIADAS POSSIBILITA À BAHIA HOSPEDAR ESSE TURISTA ROBERTO CARVALHO PROFESSOR DA PUC-CAMPINAS E AUTOR DE ESTUDO SOBRE CIDADES QUE ACOLHERAM AS OLIMPÍADAS

“A iniciativa parte de estruturar um produto específico para transportar com eficácia aqueles que desejam vir à Bahia, seja por modal aéreo ou terrestre. Por mais distante que possa ser, desde que seja um produto que permita paradas, que permita uma experiência diferenciada”, diz.

cidade deve ser planejada para moradores Se tem uma coisa que é possível tirar de lição da Copa do Mundo de 2014 é que a cidade deve ser pensada para seus moradores e não exclusivamente para turistas. “Essa perspectiva subordina a qualidade urbana exclusivamente a um contexto atípico para não-cidadãos. Uma cidade comprometida em oferecer uma boa qualidade de vida aos seus moradores certamente poderá oferecer uma boa estada aos seus visitantes. O inverso, no entanto, nem sempre é verdadeiro”, pondera a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufba Any Leal Ivo, que lançou o livro Para Além dos Jogos de Futebol, fruto de sua tese de doutorado, pela Edufba. Para ela, além de trazer visibilidade, outro legado do Mundial de futebol foi o endividamento das instâncias de poder. “A privatização dos espaços públicos, seja pelo desequilíbrio entre as áreas públicas e privadas, seja pelo caráter excludente resultante da ‘elitização’ de alguns pontos da cidade também são resultado desse legado. No caso de Salvador, não se pode deixar de registrar a perda do Estádio Otávio Mangabeira (Fonte Nova), sendo que os espaços esportivos previstos como compensação a essa perda ainda não foram finaliza-

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dos”, analisa a professora, que considera que a mobilização da sociedade, como os protestos ao redor do país desde junho de 2013, também foi uma herança. Para o professor Roberto Brito de Carvalho, da PUC de Campinas, o setor público tem um papel fundamental nesse processo. “É ele que lidera e organiza, mas é a iniciativa privada que executa. Cabe ao setor público induzir, virar referência de articulação. Embora, no Brasil, a gente muitas vezes tenha uma relação promíscua entre o público e o privado, o ideal é que eles busquem seu papel para maximizar os resultados dos investimentos”.

mais turistas nacionais durante os Jogos Se na Copa do Mundo a invasão foi de turistas dos Estados Unidos, Alemanha e França, dessa vez quem vai encher as arquibancadas da Arena Fonte Nova serão os turistas dos estados vizinhos. Essa é a avaliação do professor Roberto Carvalho. Para ele, diferentemente do mundial, onde os estrangeiros passaram por 491 municípios brasileiros, durante as Olimpíadas, a circulação de turistas se dará em menor volume, atingindo, no máximo, 100 municípios, por não haver uma distribuição regional do evento. Além da cidade-sede, terão jogos de futebol em Brasília e outras cinco capitais: Salvador, Belo Horizonte, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo. “A tendência é que o maior fluxo seja doméstico, que aqueles que estejam no entorno venham ver os jogos. Salvador será, provavelmente, invadida por pernambucanos, sergipanos, que queiram assisistir aos jogos,

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BAHIA PÉ-QUENTE Golaço A Arena Fonte Nova abrigou os jogos com maior número de gols da Copa de 2014, uma festa a mais para as seleções e os torcedores de todo o mundo que passaram por Salvador Anfitriã A Bahia foi sortuda novamente: anfitriã da seleção alemã, que elogiou a acolhida. “Não explorar que os campeões do mundo ficaram aqui é de uma ingenuidade enorme”, diz Roberto Projeção Foi construído em Lauro de Freitas, na Bahia, o Centro Pan-Americano de Judô (CPJ), considerado o maior centro de treinamento das Américas e um dos maiores do mundo Olímpicos Atletas baianos se destacaram em outras competições, como Isaquias Queiroz (canoagem) e Ana Marcela e Allan do Carmo (natação). Motivo de orgulho e novos investimentos


semelhante ao que aconteceu na Copa, com um volume bem menor de turistas estrangeiros”, aposta o pesquisador da PUC Campinas. Outro aspecto que deve ser levado em consideração é quanto as especificidades de cada um dos eventos. Segundo o diretor de mídias da Mcgarrybowen, Camilo de Leon, não é preciso esperar quais seleções virão jogar na Bahia. Ele destaca que as pessoas não vêm para torcer pelo país, elas virão pelos Jogos. “Nas Olimpíadas, você vem para ver um evento em um lugar maravilhoso. Não se pode perder tempo. É preciso identificar esse cara que está buscando Olimpíada 2016 na internet e fazer com que ele venha para a Bahia, e fazer com que ele comece a considerar a Bahia como um destino”, sugere.

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Todos por um ALIANÇA ENTRE SETORES PÚBLICO E PRIVADO É DESTACADA PELO DIRETOR DA AGÊNCIA CATALÃ DE TURISMO, JOAN ROMERO, QUE FALOU SOBRE A EXPERIÊNCIA DE BARCELONA, EXEMPLO ATÉ HOJE DE COMO UM EVENTO PODE TRANSFORMAR UMA CIDADE

Unir o público ao privado em prol do desenvolvimento das cidades. Foi assim que a cidade de Barcelona, na Espanha, conseguiu se reinventar após as Olimpíadas de 1992 e virar um polo de turismo em diversos segmentos. Nos Jogos Olímpicos de 92, foram investidos 6 milhões de euros. Desses investimentos, 40% vieram do setor privado e 60%, do público. “O ponto chave foi unir os setores público e privado, sobretudo pensando na planificação de 5 a 10 anos ou mais”, explicou o diretor da Agência Catalã de Turismo no Brasil, Joan Romero, durante o último seminário da sexta edição do Fórum Agenda Bahia, realizado pelo CORREIO e pela rádio CBN, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Na Espanha, empresas de pequeno e médio porte representam 2% do PIB da Espanha e têm força para apoiar atividades que sejam do setor público. Segundo Romero, já existe um senso de coletividade em ações que

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podem trazer benefícios para o país. “Independente de qual partido politico governa a cidade, sempre o setor privado está dentro do trabalho de produção”, afirmou. Romero disse que existe uma sensibilização entre as empresas para que a parceria funcione. “Você tem que falar com o setor privado que é preciso caminhar em conjunto. Então, a empresa se mobiliza”, explicou. Segundo ele, existe uma espécie de acordo para que as empresas se preocupem com a exposição midiática de cada atividade em que participa. Ou seja, existe investimento privado e haverá divulgação, o que contribui para a atração de turistas também. Nesse esquema, Barcelona, que era uma cidade baseada na indústria, se abriu para outras possibilidades. “Antes dos Jogos Olímpicos, Barcelona era uma capital industrial, temos muitas empresas catalãs, marcas de moda, de grande consumo, multinacionais europeias. As autoridades viram nos Jogos uma alternativa às indústrias”, explicou. Isso também acontece nos 11 escritórios de turismo que Barcelona tem espalhados em diferentes partes do mundo. Os agentes que trabalham nessas unidades faziam a divulgação das Olimpíadas de 92, quando os recursos de comunicação ainda eram escassos — não havia internet, por exemplo. Esses agentes continuam atuando e já conhecem as estratégias para conseguir promover a cidade. “Eu ainda tenho os mesmos diretores de turismo dessa época. Manter a diretoria de base é muito importante, é a planificação de tudo. Não se muda a articulação de base”, aconselhou.

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Projeto coletivo Além disso, Romero destacou que as alianças políticas em prol do desenvolvimento vão além dos interesses partidários. “Um dos fatores-chave é a aliança política, independente de partido”, reforçou. Romero lembrou também a importância de se criar um ambiente de seriedade para atrair novos investimentos. A participação das empresas também entra nesse quesito. “Tudo isso exige um trabalho de seriedade para investir. Tudo deve ser muito transparente, a forma como a parte privada está ajudando”, explicou. Na Catalunha, região da Espanha onde Barcelona está situada, a cultura é muito forte, desde o seu idioma — o catalão — até as suas manifestações culturais. E, segundo Romero, após um trabalho conjunto, durante a abertura das Olimpíadas, isso ficou claro. “O setor privado entendeu que precisava ajudar o setor público na criação do turismo de Barcelona”, explicou. Por isso, durante a abertura das Olimpíadas, o país conseguiu apresentar a sua identidade para o mundo, mesmo com poucos recursos. “Conseguimos mostrar para o mundo nossa identidade na época, que não tinha tanta modernidade, como as mídias sociais”, detalhou.

mau planejamento pode custar caro Ser sede das Olimpíadas abre um mundo de oportunidades, mas se o anfitrião não souber aproveitá-las, o legado pode ser desastroso. Professor da PUC-Campinas e autor de um estudo sobre cidades que acolheram os Jogos, Roberto Brito de Carvalho destaca Barcelona (1992),

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O PONTO CHAVE FOI UNIR OS SETORES PÚBLICO E PRIVADO, SOBRETUDO PENSANDO NA PLANIFICAÇÃO DE CINCO A DEZ ANOS OU MAIS JOAN ROMERO DIRETOR DA AGÊNCIA CATALÃ DE TURISMO NA AMÉRICA LATINA

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Roberto Brito é autor de estudo sobre cidades-sede dos Jogos

Los Angeles (1984), Atlanta (1996) e Sydney (2000) como exemplos de cidades que souberam aproveitar bem a competição para ganhos futuros. Em contrapartida, Montreal (1976) e Atenas (2004) se destacam pelas experiências malsucedidas. Barcelona, na Espanha, conseguiu dar outra característica à cidade, a partir da revitalização da área portuária. Atlanta, nos Estados Unidos, é outra referência de organização, de redução de custos. “Eles fizeram uma boa gestão do recurso público, captação de patrocínio para fazer o investimento e equipamentos multiuso, que acabaram utilizando para outras finalidades além dos jogos. Não ficaram com uma herança maldita, com equipamentos ociosos”, explicou. Já Sydney, na Austrália, é referência pela visibilidade internacional que conseguiu atrair. “São cidades referências de bom uso do recurso público e com impactos socioeconômicos muito positivos”. Já Montreal e Atenas figuram como exemplos de mau gasto do dinheiro público e obras com custo muito acima do planejado. “O retorno do investimento foi praticamente nulo, um conjunto de equipamentos ociosos. Montreal levou 30 anos para pagar a conta”, diz.

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Diversas Barcelonas CIDADE ESPANHOLA, QUE ATÉ HOJE É REFERÊNCIA DE SUCESSO NAS OLIMPÍADAS, BUSCOU NO TURISMO SEGMENTADO A RECEITA PARA CONQUISTAR CADA VEZ MAIS TURISTAS APÓS OS JOGOS. SERVIÇOS EXCLUSIVOS SÃO OFERECIDOS DE ACORDO COM O VISITANTE, DA ÁREA DE SAÚDE AO FUTEBOL

Uma Barcelona, muitas Barcelonas, com diversas possibilidades e oportunidades de investimentos. Com as Olimpíadas de 1992, a cidade espanhola criou uma rede capaz de oferecer serviços diferenciados para atrair turistas em diversos segmentos, até mesmo na área de saúde. E, assim, o governo parou de investir em uma promoção genérica para a “segmentação”. Gastronomia, reuniões, saúde, compras, esporte, cultura e lazer e cruzeiros são algumas das áreas que o governo investe especificamente. Então, o turista de cada um desses segmentos tem um tratamento especializado. “Observamos que muitos turistas vinham de outros países da Europa para os nossos hospitais, para se consultar com nossos médicos. Então, aproveitamos essas oportunidades para que ficassem também mais alguns dias como turistas em nossa

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cidade”, explicou o diretor da Agência Catalã de Turismo na América Latina, Joan Romero, durante o último seminário do Fórum Agenda Bahia. A oferta também se diferencia de acordo com o poder aquisitivo. “Então, temos um trabalho ‘premium’. O que podemos oferecer a esse turista? Helicóptero? Um serviço personalizado? É nisso que investimos”, explicou. Nesse segmento, se encaixam os turistas que chegam à cidade por cruzeiros. “Os turistas dos cruzeiros são os que gastam muito dinheiro. Hoje, nós temos 2,6 milhões de visitas anuais desses visitantes”. Aliado a isso, a cidade investiu em mobilidade. “O nosso turista desce no porto e pode ir andando até o centro da cidade. Com muita facilidade, o turista consegue atravessar a cidade e chegar até o centro”, contou. Tudo isso porque, com as Olimpíadas, a cidade se modernizou. O governo construiu uma rede de infraestrutura para que a cidade melhorasse para todos: turistas e moradores. “Tivemos muitos investimentos nas ruas, nas estradas. Tinha favelas, que tiramos e construímos casas para essas famílias. Tudo isso foi muito importante, estava muito degradada”, acredita. O governo decidiu investir em diversos produtos para quem chega de fora na cidade. E todos eles carregam o nome da cidade, como reforço da identidade cultural. São eles: Barcelona Card, Barcelona Walking Tours, Barcelona Columbus, Barcelona Bici, Barcelona

LEGADO DOS JOGOS Hospedagem Com investimento na área de turismo, a oferta hoteleira deu um salto. O número de hotéis entre 1990 e 2011 cresceu 137%, e hoje são 339. No mesmo período, o número de quartos ampliou 216% e hoje são 32 mil. Já a quantidade de camas passou de 18 mil para 63 mil, no mesmo período Transporte O número de turistas que chegam a Barcelona por cruzeiros aumentou de 115 mil, em 1990, para 2,6 milhões, em 2011. Já o de passageiros que desembarcam pelo aeroporto cresceu de 9 milhões para 34 milhões. Tudo isso porque novos aeroportos também foram criados. Os turistas que usam ônibus passaram de 23 mil para 2,1 milhões congressos O número de congressos cresceu de 373 (1990) para 2.283 (2011). Com isso, o fluxo de congressistas saltou de 105 mil para 647 mil no mesmo período. No ranking mundial de congressos, Barcelona aparece em segundo lugar Recursos próprios Investindo cada vez mais com verba própria, Barcelona criou algumas estratégias para arrecadar mais recursos, entre eles a comercialização de produtos e serviços, de publicações (publicidade), comissões de reserva de hotel, taxas de adesão de membership e patrocínio

Mar, Barcelona Metro Walks. Além de Catalunya Bus Turistic e Arqueoticket. O Barcelona Card, por exem-

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O TURISTA PODE ENTRAR NO WEBSITE E COMPRAR TÍQUETES DE FUTEBOL DO BARÇA, ENTRADA PARA SAGRADA FAMÍLIA E TAMBÉM FECHAR A HOSPEDAGEM JOAN ROMERO DIRETOR DA AGÊNCIA CATALÃ DE TURISMO NA AMÉRICA LATINA

plo, oferece facilidades aos visitantes nos principais atrativos turísticos e tem o seu equivalente em outras cidades europeias. Já o Arqueoticket promove uma rota voltada para os museus com coleções arqueológicas. Além disso, a cidade oferece outras facilidades como a compra de produtos diretamente no site de turismo de Barcelona. Mesmo serviços do setor privado, como partidas de futebol. Tudo concentrado em um só lugar, facilitando a busca e ampliando o interesse do visitante por atividades até desconhecidas. “O turista pode entrar no website e comprar tíquetes de futebol do Barça, entrada para Sagrada Família e também fechar a hospedagem”, conta. A partir dessas vendas, a cidade conseguiu aumentar o orçamento com a maior parte de recursos próprios. Em 2014, foram 54,8 milhões de euros em recursos próprios.

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Revitalizado na época das Olimpíadas, o Porto de Barcelona hoje é referência

Mudança radical BARCELONA APROVEITOU OS JOGOS DE 1992 PARA SE REVITALIZAR E ATRAIR VISIBILIDADE ENTRE OS TURISTAS INTERNACIONAIS. AMPLIOU DE 1,8 MILHÃO PARA OS ATUAIS 8 MILHÕES DE VISITAS ANUAIS

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Quando os Jogos Olímpicos de Barcelona começaram, em 1992, na Espanha, já dava para ter uma ideia de que algo grande estava acontecendo. Era a primeira vez, em cinco edições dos Jogos, que todos os comitês de países tinham enviado atletas à competição — a última vez tinha sido em 1972, nas Olimpíadas de Munique, na Alemanha. Talvez pouca gente saiba, mas uma das maiores heranças do torneio foi ter ajudado a mudar a cara de Barcelona e transformá-la no reduto turístico que é até hoje. Deve ser até difícil para os 8 milhões de visitantes que passam por lá anualmente imaginar que a capital da região da Catalunha já teve uma paisagem bem diferente — e nem tão atrativa. Naquela época, a média de visitantes da cidade ficava em torno de 1,8 milhão por ano. Hoje, além de ser a mais visitada da Espanha (o quarto país que mais recebe turistas no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Turismo), Barcelona consegue ameaçar a preferência dos visitantes de concorrentes de peso, como Paris, na França. “Barcelona sempre foi uma cidade importante para a Espanha, mas estava abandonada e necessitava ser revitalizada. Algumas regiões estavam comprometidas, em função do abandono”, diz o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da PUC de Campinas Roberto Brito de Carvalho, autor de um estudo sobre o turismo em cidades que já sediaram as Olimpíadas. Mas é claro que Barcelona também não era qualquer cidade. Lá, a indústria sempre foi bem desenvolvida. A própria localização também era uma condição favorável, na opinião do diretor para América Latina da filial da Agência Catalã de Turismo em São Paulo, Joan Romero. “Estamos tocando a França e temos tanto o rio quanto o mar. Barcelona também sempre foi uma cidade inovadora arquitetonicamente, com as obras de Gaudí (Antoni Gaudí, arquiteto catalão morto em 1926). Se os Jogos Olímpicos nunca tivessem vindo, Barcelona ainda seria parecida com o que é hoje, porque sempre teve políticos muito criativos e sempre houve dinamismo. As Olimpíadas tornaram esse processo mais rápido”, pontua Joan Romero. Só que, de fato, a infraestrutura ainda era bem distante do que é hoje. O porto e o aeroporto, por exemplo, pediam uma revitaliza-

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ção. Assim, o projeto olímpico começou a ser tocado. Na época, tudo custou 12 bilhões de euros. Para começar, o Porto de Barcelona foi reformado. “A cidade estava

Além de ponto turístico, o Palau Sant Jordi abriga atualmente competições esportivas e shows internacionais

de costas para o mar, então abrimos para o mar com a renovação dele”. Em 1992, 132 mil turistas chegavam à cidade em cruzeiros por ano. Hoje, são 2,3 milhões, e o equipamento se tornou o principal porto turístico da Europa. Além disso, os equipamentos construídos tiveram o conceito de “múltiplo uso” — desde os estádios até a vila olímpica onde os atletas ficaram hospedados. O Estádio Olímpico, hoje, serve para competições de atletismo e shows. Já a arena Palau Sant Jordi, que sediou esportes como basquete e handebol, tem, até o final de 2015, uma programação com shows de 29 grandes atrações musicais, incluindo importantes nomes da música internacional, como Madonna e Foo Fighters. Aos poucos, a reforma do aeroporto se beneficiou do contexto que a Europa começou a viver naquele momento e nos anos seguintes: foi quando começaram a surgir e se consolidar as companhias aéreas low cost (de baixo custo),

rente depois das Olimpíadas, porque ela se tornou mais

BARCELONA É UMA CIDADE QUE NÃO PARA DE MELHORAR. TEM QUE DAR SEGUIMENTO JOAN ROMERO

conhecida. Toda cidade que passa por esse processo, de

DA AGÊNCIA CATALÃ DE TURISMO

como Ryanair (irlandesa) e EasyJet (britânica). Foi o momento de revitalizar espaços, como o Centro, valorizar imóveis e criar atividade turística, de acordo com Carvalho. “Houve uma alavancagem dife-

receber um grande evento, acaba se tornando referência de destino”. Em contrapartida, houve um faturamento de R$ 34 bilhões no evento esportivo.

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Críticas ao projeto Nem tudo são flores, ou coroas de louros, como destaca a professora do curso de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Any Leal Ivo. “Muitos autores e estudos mostram que a ‘Barcelona Olímpica’ é marcada também pela perversidade de processos de desapropriação, despejo e deslocamento, pelo aumento do custo de moradia, por políticas e legislações especiais e, ainda, por processos de higienização social, redução da transparência e participação, criminalização da pobreza, etc”. O professor Roberto Brito de Carvalho também concorda que uma das consequências

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ruins para a cidade foi a especulação imobiliária. “De um lado, você tem um encarecimento e tem um problema muito sério, que é quando a cidade torna-se ainda mais dependente do turismo. A tendência é que, com isso, ela se torne mais cara e quem mais sente isso é o morador, porque o turista está de passagem”, explica. E, claro, não dá para abandonar os investimentos na infraestrutura após a realização do grande evento. Se Barcelona tivesse feito isso, provavelmente, não conseguiria competir pela preferência dos turistas com outras grandes cidades, na opinião de Joan Romero. “Barcelona é o exemplo de cidade que não para de melhorar. Os Jogos têm que ser vistos como uma ferramenta para abrir sua cidade para o exterior e criar infraestrutura, mas tem que ser feito um trabalho de seguimento”, diz.

NOVAS AÇÕES Retorno O projeto dos Jogos Olímpicos custou 12 bilhões de euros. Por outro lado, o faturamento foi de R$ 34 bilhões. A organização do evento conseguiu capitalizar em cima da marca ‘Barcelona 92’ desde a venda dos ingressos até patrocínio. Mais leitos Com a visibilidade de grandes eventos, o setor hoteleiro das cidades precisa se modernizar e ampliar para acomodar os visitantes. Em Barcelona, o número de leitos passou de 13 mil para 34 mil em 23 anos. Revitalizar espaços Barcelona requalificou os principais pontos de chegada dos turistas: o porto e o aeroporto. No caso do Porto, sua capacidade aumentou tanto que o número de visitantes que chegam por lá foi de 132 mil para 2,3 milhões. Atrair investimento Hoje, a Catalunha, onde fica a cidade de Barcelona, é responsável por 20% do PIB espanhol — o maior entre as 19 comunidades autônomas do país. A maior parte disso vem justamente do turismo, além da indústria e do setor de serviços. sequência Após o evento, é preciso continuar com melhorias na infraestrutura e qualidade de vida dos moradores, não apenas para chegada de turistas.

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Na contramão dos eventos ENQUANTO O MERCADO BRASILEIRO DE EVENTOS CRESCE 14% AO ANO, NA BAHIA A ATIVIDADE VEM PERDENDO RITMO, COM A DEGRADAÇÃO DO CENTRO DE CONVENÇÕES, PRINCIPAL ESPAÇO EM SALVADOR PARA CONGRESSOS E FEIRAS

Em julho de 2015 completam-se sete anos que o Ministério do Turismo colocou à disposição da Secretaria do Turismo da Bahia (Setur) R$ 5,85 milhões para a climatização do Centro de Convenções (CCB). Os recursos continuam disponíveis, diz o ministério, dependendo apenas da regularização de documentos, o que incluiu durante muito tempo a escritura do local, que desapareceu por um tempo, de acordo com informações de bastidores. O tempo passou e nem o sistema de ar-condicionado foi implantado, nem se investiu adequadamente na manutenção do local — o que causou a perda de dez eventos que juntos movimentariam em torno de R$ 100 milhões entre 2015 e 2017. Agora, após os problemas se agravarem, a Setur, responsável pela manutenção do Centro de Convenções, informa que reapresentou o projeto de climatização, com valor atualizado de R$ 9,3 milhões. Outros R$ 5 milhões estão previstos para obras

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emergenciais de recuperação da estrutura do local. E por que demorou tanto para tocar o projeto? A Setur foge da resposta, afirma apenas que a atual gestão assumiu, viu que tinha os recursos assegurados e apresentou um novo projeto. O problema é que o que devia ter sido feito lá atrás, e não foi, traz prejuízos no presente e compromete o futuro próximo. Enquanto o mercado brasileiro de eventos cresce a uma média de 14% ao ano, na Bahia a atividade está comprometida, muito por conta dos problemas no CCB, que está interditado por questões de segurança. Detalhe é que há apenas dez anos o espaço hoje defasado era vencedor do Prêmio Caio 2005, considerado um Oscar do setor de eventos. Nos últimos anos, o mercado de congressos, feiras e convenções tornou-se uma atividade importante no âmbito mundial por seu impacto econômico, comercial, técnico, científico e sociocultural, como destaca a pesquisa Impacto Econômico dos Eventos Internacionais Realizados no Brasil, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Dados da Organização Mundial do Turismo indicam que a atividade pode movimentar mais de 50 segmentos, como transporte, hospedagem, lazer, alimentação, comércio e outros serviços especializados que os eventos demandam. No curto prazo, há um impacto econômico com a arrecadação de impostos e a geração de empregos diretos. Dada a sua importância para a economia, a indústria de feiras e eventos foi reconhecida oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) e incluída como uma categoria econômica diferenciada. Pesquisas realizadas pela Embratur indicam que o turista de negócios e eventos costuma gastar mais que o turista de lazer. O Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos do Brasil — 2013, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), aponta um gasto médio do turista de lazer de US$ 304 por dia, aproximadamente R$ 972, enquanto o que viaja a passeio costuma gastar, em média, US$ 73,77, o equivalente a R$ 236. O mercado de eventos movimenta aproximadamente por ano R$ 210 bilhões no Brasil e responde por 4,32% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O problema é que, nos últimos anos, a Bahia caminha na contramão do movimento mundial. Enquanto capitais nordestinas, como Fortaleza (CE) e Recife (PE),

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HOTELARIA (EM%)

Média de ocupação nos últimos quatro anos

82,5 1°/2011 Última vez em que a ocupação média esteve acima de 80%

56,9

2/2012 Ocupação abaixo de 60%, apesar do Carnaval no dia 21

40

GASTOS DOS TURISTAS DE EVENTOS (EM %) Hospedagem

LOCALIZAÇÃO DOS EVENTOS (EM %) Sudeste

Nordeste

Sul

4

21 Transporte

14

Outros gastos

10

EVENTOS INTERNACIONAIS EM SALVADOR

52

17

16 14

20

15

Centro-Oeste

Norte

Alimentos e bebidas

55

7

9 0 2011

2012

2013

2014

Fontes Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos do Brasil - 2013; Pesquisa do Impacto Econômico dos Eventos Internacionais Realizados no Brasil; International Congress and Convention Association (ICCA); Secretaria do Turismo da Bahia (Setur) e Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha)


63,4

45

6/2015 Pior ocupação hoteleira em um mês de junho desde o ano de 2002

6/2014 Copa do Mundo elevou ocupação em hotéis

57

12/2013 Mês seguinte a problema no banheiro do Centro de Convenções durante evento

EVENTOS PERDIDOS

IMPACTO ECONÔMICO

2015

Eventos movimentam R$ 209,2 bilhões por ano no Brasil e são responsáveis por 1,8 milhão de empregos diretos e 8 milhões de indiretos (EM US$)

Semana Brasileira de Gastro Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva 2016 Congresso Brasileiro de Nefrologia Congresso Brasileiro de Reumatologia Congresso Brasileiro de Dermatologia Congresso Brasileiro de Radioterapia Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica 2017 Congresso Brasileiro de Oftalmologia Congresso Brasileiro de Endocrinologia

INVESTIMENTOS PREVISTOS NO CENTRO DE CONVENÇÕES (EM R$) 14,3 milhões

Gasto do turista de eventos 304 POR DIA

9,3 milhões milhões na climatização do 2º e 3º piso (recurso disponível desde 2008)

5 milhões em reformas emergenciais

Gasto do turista de lazer 73,77 POR DIA


receberam investimentos nas estruturas para eventos, o principal espaço disponível na capital baiana está se degradando. Segundo dados da Associação Internacional de Congressos e Convenções, cuja sigla em inglês é ICCA, a Bahia vem perdendo posições na captação de eventos internacionais desde 2011, quando tinha uma média anual de 17 eventos. Em 2014, ano em que se realizou a Copa do Mundo, foram 14 eventos, mas, antes, em 2013, o estado recebeu apenas sete eventos internacionais. Inaugurado em 1979 como uma obra de vanguarda, o CCB ocupa uma área de 153 mil metros quadrados, sendo 57 mil metros quadrados de área construída, mas vem sendo tomado pela ferrugem e o desgaste do tempo. Nos últimos anos, tornaram-se comuns notícias de goteiras, equipamentos, como elevadores e escadas, quebrados, entre outras coisas, até o ápice do problema, quando um defeito em uma bomba d’água que abastecia os banheiros jogou na lama a imagem positiva que as principais entidades médicas brasileiras faziam do local, em novembro de 2013. Ex-secretário de Turismo da Bahia e atual presidente da Salvador Destination, Paulo Gaudenzi não se conforma com o cenário atual em que o mercado de eventos da cidade está inserido. Para ele, atuar para modificar a “péssima imagem” que se passou do CCB é tão importante quanto a requalificação do espaço. “Esses eventos que deixaram de vir para Salvador e foram para outros locais representam uma perda palpável. Mas o grande prejuízo que estamos enfrentando

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Interditado, Centro de Convenções tem mais problemas estruturais do que eventos


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é que muitas entidades passaram a desconsiderar Salvador como destino. Nós estamos enfrentando uma perda brutal desde novembro de 2013”, afirma. Segundo ele, diversas entidades médicas deixaram de considerar o Centro de Convenções como um possível local para os seus congressos. “E é o maior espaço que nós dispomos na cidade para grandes eventos”, lamenta. Ele explica que há um esforço dos empresários do turismo para atrair eventos de pequeno e médio porte, com limite máximo de 2,5 mil pessoas, para espaços de convenções nos hotéis de Salvador e na Arena Fonte Nova. “Conseguimos captar nove eventos, dois para este ano e sete para o próximo, mas todos pequenos”, diz. O secretário de Turismo, Nelson Pelegrino, que assumiu o cargo no início de 2015, diz que vai trabalhar pela reabertura do CCB, mas deixa clara a insatisfação pelas condições atuais do espaço. “Eu acho que, de fato, não se poderia deixar o Centro chegar à condição que chegou, mas temos que pensar em termos de futuro”, diz. Segundo ele, o foco do governo é recuperar o espaço e mantê-lo funcionando até a construção de um novo. O secretário diz que o CCB só será reaberto quando estiver em plenas condições.

Salvador tem mercado para dois grandes centros de convenções O investimento do governo do estado na construção de um novo centro de convenções, ou em uma grande reforma do Centro de Convenções da Bahia (CCB), poderia ser pago em cinco anos, a partir da receita tributária gerada pela movimentação de turistas, acredita o diretor da consultoria Hotel Invest, Diogo Canteras. Segundo ele, a empresa costuma fazer modelagem de negócios para arenas multiuso e espaços para convenções e a proporção de receita mensal gerada pelos equipamentos costuma ser equivalente a três ou quatro vezes a prestação do financiamento. “Como normalmente se contratam financiamentos de 15 anos, numa conta bastante conservadora, poderia se pagar o financiamento tranquilamente em cinco anos. Numa cidade com o potencial turístico de Salvador, é possível que se pagasse em menos tempo”, estima Canteras. Para o consultor, o mercado turístico da capital, com uma ampla rede hoteleira e desejado pelo público nacional e internacional, teria po-

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tencial para ter até dois centros de convenções. “O mercado do turismo brasileiro tem visto as notícias do Centro de Convenções da Bahia estupefato. Uma cidade com o potencial turístico de Salvador não pode ser tratada dessa maneira”, diz.

Hotelaria tem piora na ocupação na baixa estação sem os eventos Os turistas de eventos, feiras e convenções é que garantiam um mínimo de ocupação nos hotéis de Salvador entre os meses de julho e novembro. Sem essa “salvaguarda”, preocupa-se o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA), Silvio Pessoa, as perspectivas para a hotelaria nos próximos meses são “muito ruins”. Desde o fim do Carnaval de 2015, os hotéis de Salvador vêm registrando taxas de ocupação média inferiores a 60%, taxa que indica retorno financeiro. Porém, em junho, o setor registrou o pior desempenho para o mês desde o ano de 2002, de acordo com uma pesquisa mensal feita pela FEBHA entre os maiores hotéis da cidade “Eram os congressos de julho a novembro que movimentavam a cidade no período. Agora, sem o Centro de Convenções, estamos mais perdidos que cego em tiroteio”, diz Silvio Pessoa. Segundo ele, o pleito do setor é que o Centro de Convenções seja mantido, climatizado e em boas condições, pelo menos até que um novo espaço seja inaugurado. Segundo o presidente do Salvador da Bahia Convention Bureau, José Alves, com as incertezas em relação ao futuro do Centro de Convenções, a captação de grandes eventos para os próximos anos está “praticamente parada”. “Precisamos de uma definição para buscar grandes congressos, feiras e convenções. O que está sendo trazido para a Bahia está sendo direcionado para o Litoral Norte”, afirma.

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Barcos como parte da cidade TURISMO NÁUTICO AMPLIA RECEITA DAS CIDADES E AUMENTA POSTOS DE TRABALHO. APESAR DE TER A SEGUNDA MAIOR BAÍA NAVEGÁVEL DO MUNDO, ESTADO BAIANO VEM PERDENDO MERCADO NESSE SETOR. SECRETÁRIO PROMETE NOVAS AÇÕES NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

Diz o ditado que bom empreendedor é aquele que sabe identificar uma oportunidade e faz uso dela para ganhar dinheiro. Salvador tem no seu quintal a Baía de Todos os Santos, a segunda maior do mundo, mas não explora todo seu potencial náutico como outras cidades pelo mundo. A afirmação é de Walter Garcia, diretor da GW Consultoria Náutica, que participou do último seminário do Fórum Agenda Bahia 2015. Em sua palestra, o especialista usou o exemplo de Salvador para comparar com outras regiões que decidiram investir em náutica e transformaram a receita das cidades. A Baía de Todos os Santos tem 1,2 mil quilômetros quadrados de extensão e 56 ilhas, mas apenas 2.561 vagas para embarcações em sete marinas e quatro clubes. Na francesa La Rochelle, com 120 mil habitantes, apenas a Marina Minimis abriga 6 mil vagas para embarcações.

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Resultado: 12 mil postos de trabalho — 10% dos moradores da cidade trabalham na marina — e uma receita de 8,8 milhões de euros por ano, o que significa quase R$ 40 milhões. “La Rochelle era uma cidade-dormitório até o desenvolvimento náutico. Hoje, a espera de uma vaga é de oito anos”, explica Walter Garcia. Do Caribe, o consultor citou San Martin: os turistas náuticos deixam na ilha, por ano, US$ 56 milhões. Já no arquipélago de Seichelles, na República de Seichelles, onde vivem 80 mil habitantes, o turismo náutico movimenta US$ 14 milhões, só com o aluguel de charter (embarcações). Segundo Garcia, a estimativa é que o gasto médio de um turista náutico seja cinco vezes maior do que o de um turista convencional. A Galícia também usou a modalidade para sair da crise. Em pouco mais de um ano de investimento no setor, com capacitação da mão de obra, toda a mão de obra que se ocupava da pesca estava trabalhando com turismo. A Baía de Todos Santos tem tudo que precisa para alavancar o turismo náutico. A começar pelo vento, que sopra a seu favor, tornando-a propícia à navegação. Além disso, a tempertura média de suas águas é considerada boa, em torno de 26º, e não é poluída. “Tudo é favorável. Se o turista cair no mar do Norte ele tem 15 minutos para ser resgatado, se não morre, em função das baixas temperaturas. Na Baía de Todos os Santos, se morrer é de tédio”, brinca Garcia. Esse potencial fez com que a Baía fosse eleita pelo Ministério do Turismo como a área piloto do turismo

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náutico do Brasil. Outro vento que sopra a favor é a localização geográfica. O Nordeste brasileiro está no meio do caminho entre a Europa e o Caribe, que são, respectivamente, o maior emissor e o maior receptor de turistas náuticos. E se tratando de fisgar o turista brasileiro, a Baía de Todos os Santos fica a 2,5 horas de São Paulo. Ex-presidente da Real Power Boats e atualmente consultor do estaleiro, Paulo Renha diz que já perdeu as contas de quantos negócios deixou de fechar com a venda de embarcações na Bahia por falta de vagas nas marinas. “Já ofereci desconto acima do normal e ouvi do cliente: ‘não me dá desconto, consegue uma vaga para mim’”, conta. Com esse cenário, a Bahia vem perdendo espaço nesse mercado. “A loja de Salvador era a segunda colocada no ranking em número de vendas de embarcações, de um universo de dez lojas. Hoje ela é a última. Até Brasília, que só tem um lago, tem mais lanchas do que em Salvador”, lamenta o empresário. Para alavancar esse turismo no Brasil, em 2006, um decreto presidencial ampliou o prazo de permanência dos barcos estrangeiros no país, visando atrair mais turistas. Também foi criado um Grupo de Trabalho do Turismo Náutico, envolvendo oito ministérios e a Presidência da República. Na avaliação dos especialistas, as medidas refletiram um grande avanço. “Se entendia muito pouco sobre o que era o turismo náutico. Havia uma grande dificuldade que todos os setores falassem o mesmo idioma”, avalia Garcia, ressaltando que os investimentos em náutica em geral não são caros. “O potencial do Brasil é tão grande que a náutica vai crescer com, sem ou apesar do governo. Decretos vêm ajudando a desenvolver o setor”.

Croácia investiu e hoje atrai milhares de turistas A Bahia e a Croácia começaram a pensar no desenvolvimento do turismo náutico praticamente na mesma época. A diferença é que, de lá para cá, a Croácia soube tirar proveito do potencial náutico dos seus 1.778 quilômetros de litoral e mais de mil ilhas e transformou o turismo na sua maior receita. Já a Bahia mantém até hoje no papel os projetos para impulsionar o turismo náutico na Baía de Todos os Santos, a segunda mais extensa do mundo, perdendo apenas para o Golfo de Bengala.

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Na Croácia, entre 1995 e 2007, o turismo náutico teve um crescimento anual de 20% a 30%. Só para se ter uma ideia, em dez anos, o número de barcos charters (de aluguel) no país do leste europeu pulou de 85 para 2.500. O número de marinas dobrou e o número de vagas por marina também aumentou. Atualmente, existem 14 mil vagas molhadas nas marinas da Croácia. O crescimento do setor atrai milhares de turistas todos os anos. O turista que chega lá encontra diversas empresas para aluguel de embarcações, que vão das mais simples a iates de luxo, além de muitas marinas bem equipadas. “É possível encontrar uma embarcação cuja diária sai a partir de R$ 190. Não é produto só para ricos”, afirma o consultor. Paralelo a isso, a indústria de serviços cresceu também. De olho no potencial do segmento, o governo croata escolheu o turismo náutico como um dos dez principais produtos para o desenvolvimento estratégico do setor no país até 2020. Tanto cuidado não é à toa. De acordo com Walter Garcia, o turista náutico gasta no destino mesmo depois que ele vai embora, porque deixa o barco no local, gerando empregos e receita o ano inteiro. “É um dos poucos setores que continuam gerando divisas mesmo após o turista voltar ao seu país de origem”, avalia Garcia. “O turista náutico consome em restaurante, viaja mais de uma semana e na outra fica embarcado, consumindo também no interior da embarcação. O único

OPORTUNIDADE Emprego A náutica destaca-se mundialmente entre os maiores geradores de postos de trabalho por dólar investido Economia Impacta de forma positiva setores ligados à hotelaria, entretenimento, gastronomia, agências de viagem e imobiliário Indústria Empresas de charter chegam a ser responsáveis por 80% do consumo dos grandes estaleiros Manutenção Gasta-se em torno de 8%, por ano, do valor de compra de uma embarcação com a sua manutenção Trio de ouro Alemanha, França e Inglaterra são os maiores emissores de turistas náuticos Produção 90% da produção mundial de barcos de lazer está concentrada nos países que melhor desenvolveram o turismo náutico Expansão A Croácia investiu na náutica através do turismo e conseguiu dobrar o número de marinas, triplicar o número de vagas e hoje tem na náutica a maior fonte de arrecadação do governo aumento Existem 14 mil vagas molhadas nas marinas da Croácia. O segmento cresceu entre 20% a 30% entre 1995 e 2007

turista que gasta tanto quanto o náutico é o de golf”, argumenta. A estimativa é que uma embarcação avaliada

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em R$ 1 milhão tenha um custo de manutenção de R$ 80 mil por ano. “O país virou a coqueluche do turismo náutico mundial. O Brasil tentou desenvolver o segmento náutico através do esporte, com o projeto Navegar, e a Croácia pelo turismo. Hoje é a maior receita do governo croata”, informa o diretor da GW Consultoria Náutica, Walter Garcia, ressaltando a importância do segmento. Ele explica que, no litoral da Croácia, os barcos fazem parte do cenário das cidades, que se adaptaram para criar comodidade para os adeptos dessa modalidade turística. Nelas, o barco está ao alcance das pessoas. No horário de almoço, por exemplo, é possível passear de barco porque há rampas pela cidade, que facilitam o acesso. “Eu chego em Mônaco, que é um morro, e tenho rampas para descer a qualquer hora. Essa cultura é necessária. É preciso ter caminho de acesso. Se eu for descer o barco aqui em Salvador, por onde vou descer? É preciso dar acesso ao mar. Quando isso acontece, você consegue fazer a economia rodar e faz com que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) suba”, sugere Garcia, ressaltando que, devido ao clima, as bases de charters só funcionam entre abril e outubro na Croácia. Enquanto que, no Brasil, principalmente no Nordeste, poderiam funcionar o ano inteiro.

Governo garante novos investimentos O especialista lembra que existem projetos para alavancar esse segmento na Bahia, mas com pouco resultado até agora. Antes de sua apresentação no Fórum Agenda Bahia, Walter Garcia se mostrou entusiasmado, no entanto, com as palestras do prefeito ACM Neto e do secretário de Turismo, Nelson Pelegrino, destacaram iniciativas no entorno da Baía. De acordo com Pelegrino, o projeto lançado em 2012 vai engrenar. “Tivemos a missão de arranque em setembro, então podemos dizer que o Prodetur começou a ser tocado”, afirma. O Prodetur Nacional prevê investimentos de US$ 84,5 milhões na região que banha 18 municípios baianos. “Nós vamos desenvolver um projeto para turismo náutico, nossa Baía de Todos os Santos, que é o nosso diamante bruto, e que vai ser importante para o destino Salvador”, diz.

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É UM DOS POUCOS SETORES QUE CONTINUAM GERANDO DIVISAS, MESMO APÓS O TURISTA VOLTAR AO SEU PAÍS DE ORIGEM WALTER GARCIA CONSULTOR NA ÁREA DE PROJETOS NÁUTICOS

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Antes A foto usada por Walter Garcia é de 1954, antes de Fort Lauderdale se transformar em um dos grandes centros de turismo náutico no mundo. Para aumentar a capacidade do porto de Miami, foi desenvolvido um porto de embarque

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Depois Já essa imagem apresentada por Walter Garcia é de 2001, quando o local já havia se transformado em grande centro do turismo náutico, com 42 mil iates e 100 marinas e oficinas de barcos. Atualmente, Fort Lauderdale é conhecida com a capital de iates

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Expansão da Marina parada há dois anos Obras de ampliação da Bahia Marina estão há dois anos aguardando autorização da Superintendência do Patrimônio da União (SPU). O projeto prevê a construção de um preamar para criação de 200 vagas e um investimento de R$ 4 milhões. “Hoje, o Brasil não vende barco porque não tem onde colocar. Há uma dificuldade grande para a construção de marinas e não é uma coisa só daqui não. É assim no país inteiro”, diz o diretor da Bahia Marina, Reinaldo Loureiro. Embora a Bahia Marina não tenha sido feita para barcos em seco, hoje há 180 embarcações nessas condições no local e outras 400 em água. “A dificuldade que temos é que há uma grande demanda por vagas de barco em seco e não temos como atender a todo mundo, porque estamos com as obras paralisadas até hoje. O Patrimônio da União não libera a construção do quebra-mar”, garante o empresário. Segundo Loureiro, a decisão de fazer o quebra-mar foi há 15 anos, passaram 12 anos discutindo com o Ibama para obter a licença e agora estão há mais de dois anos aguardando a autorização do Patrimônio da União. Em nota, a assessoria da SPU informou que ainda não foram solucionados todos os impasses e que o processo continua em análise. Só na Bahia Marina a estimativa é que haja 1.200 empregados, entre marinheiros, garçons, prestadores de serviço e mecânicos. A ampliação incrementaria em mais 200 a 300 vagas de trabalho. Além disso, a obra tornaria a Marina apta a receber embarcações acima de 50 pés, já que atualmente só abriga embarcações maiores em caráter provisório, por questões de segurança. “Nossa baía é subaproveitada. Falta um projeto de grande envergadura, um planejamento a longo prazo”, considera Loureiro.

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Negócios da Baía SEGUNDA MAIOR BAÍA DO MUNDO, A BAÍA DE TODOS OS SANTOS ESTÁ RODEADA POR MUNICÍPIOS QUE RESPONDEM POR 33,2% DO PIB BAIANO, MAS TEM POTENCIAL PARA RECEBER AINDA MAIS INVESTIMENTOS

Não foi por acaso que Thomé de Souza escolheu as margens da Baía de Todos os Santos para implantar a sede do Império Português no Novo Mundo. O acidente geográfico de 1,2 mil quilômetros quadrados oferece condições únicas para atividades relacionadas ao mar. Hoje, entre portos, unidades industriais voltadas para o refino de petróleo e a construção naval, a Baía é rodeada por 18 municípios, que respondem por 33,2% da economia baiana, de acordo com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). Embora nem toda a riqueza dos municípios que a BTS banha esteja relacionada a ela, a baía é apontada como principal responsável pela riqueza entre o Porto da Barra, em Salvador, e a Ponta do Garcêz, em Jaguaripe. “Existem atividades nesses municípios que não se relacionam diretamente à Baía de Todos os Santos, mas podemos dizer que 25% do PIB (Produto Interno Bruto) do estado da Bahia está relacionado a

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ela”, projeta o diretor de Indicadores e Estatísticas da SEI, Gustavo Pessoti. Caracterizada pela grande disponibilidade de águas tranquilas e com profundidade natural atrativas para atividades voltadas para o mar, a BTS tem às suas margens empreendimentos como a Refinaria Landulpho Alves, os estaleiros Enseada e de São Roque do Paraguaçu, além dos principais terminais portuários do estado, responsáveis por movimentar as cargas recebidas e escoadas pela indústria baiana. E isso sem contar o potencial para o desenvolvimento do comércio e de serviços ligados ao turismo. “Não foi por acaso que os navegadores portugueses escolheram a Baía de Todos os Santos para fundar Salvador”, destaca o presidente da Associação de Empresas do Centro Industrial de Aratu (Procia), Marconi Andraos Oliveira. “Ela é, na verdade, um imenso porto com áreas abrigadas, que oferece condições excepcionais para o desenvolvimento de atividades relacionadas ao mar”, diz. Essas características dão ao local um potencial único para a atração de investimentos que precisam de uma logística de distribuição eficiente, ressalta Oliveira. Para ele, o aproveitamento do recurso natural poderia ser otimizado. “A Baía de Todos os Santos já cumpre um papel fundamental no desenvolvimento do estado, mas isso poderia ser otimizado a partir de um trabalho ordenado e coordenado para o desenvolvimento da in-

POTENCIAL Segunda Maior É a maior baía do Brasil e a segunda maior do mundo, com 1,2 mil quilômetros quadrados de extensão, perdendo apenas para o Golfo de Bengala Cidade da baía A cidade de Salvador, capital da Bahia, é a maior entre as 18 que estão ao redor da Baía de Todos os Santos. Segundo dados da Associação Comercial da Bahia, a baía representa 55% do território da capital baiana Projeto do BID O BID, em parceria com a Secretaria do Turismo da Bahia, tem um projeto para a requalificação da Baía de Todos os Santos com previsão de um investimento total na área de US$ 85 milhões Atrações naturais Ao contrário do que aconteceu com outras grandes baías no mundo, a Baía de Todos os Santos tem condições de balneabilidade, ou seja, é propícia para o banho de mar, além de oferecer condições para atividades náuticas. A região tem um total de 56 ilhas Amazônia Azul A baía foi declarada pela Marinha sede da Amazônia Azul, que abrange os 8,5 milhões de quilômetros quadrados de costa do país. A escolha visa estabelecer debates sobre a economia do mar.

fraestrutura portuária na região”, afirma. Ele lembra que há um grande número de órgãos com jurisprudência na região — federais, estaduais e

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BAÍA DE TODOS OS SANTOS

S. Francisco do Conde

Local atraiu investimentos no refino de petróleo, indústria naval e portuários, entre outros

Candeias

N Mataripe 4

5 7

Madre de Deus Maragojipe

6

Ilha dos Frades

8

9 10

3 São Thomé de Paripe 2

Simões Filho

1

11

Salvador

Itaparica

OCE ANO ATL ÂNTICO

BA

Participação dos municípios ao redor da baía no PIB baiano. Só o Porto de Salvador corresponde a 23,7%

33%

PORTOS 1 Estaleiro São Roque 2 Estaleiro da Enseada do Paraguaçu 3 Terminal de Regaseificação da Petrobras 4 Terminal da Petrobras 5 Refinaria Landulpho Alves 6 Terminal do Moinho Dias Branco 7 Terminal da Dow Química 8 Porto de Aratu 9 Terminal da Ford 10 Terminal da Gerdau Usiba 11 Porto de Salvador FONTE Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba)


ELA É UM IMENSO PORTO COM ÁREAS ABRIGADAS, QUE OFERECE CONDIÇÕES EXCEPCIONAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES RELACIONADAS AO MAR MARCONI OLIVEIRA PRESIDENTE DA PROCIA, EXPLICANDO A IMPORTÂNCIA DA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

SE NÃO TIVÉSSEMOS A BAÍA DE TODOS OS SANTOS, MUITO PROVAVELMENTE NÃO TERÍAMOS UMA REFINARIA, OU UM POLO INDUSTRIAL EM CAMAÇARI EDUARDO ATHAYDE DIRETOR DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BAHIA E DO WWI-WORLDWATCH INSTITUTE NO BRASIL

municipais. O problema é que nenhum deles tem poder de arbitragem, no caso de eventuais conflitos. “Falta uma postura de comando, uma definição clara em relação a que direção se pretende tomar”, acredita. O coordenador do Comitê de Portos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Sérgio Faria, diz que as condições geográficas na BTS não são encontradas em nenhum outro local do mundo. “Não existe outro lugar em que você tenha águas tranquilas em tão grande quantidade, com uma profundidade média tão boa e com pequena variação de maré”, enumera. As características da baía tornam os investimentos portuários na região mais baratos que em outros lugares. “Se pensarmos no Brasil, por exemplo, temos no Maranhão a Baía de São Marcos, que também tem um bom calado (profundidade); o problema é que lá a diferença entre a maré alta e a baixa é de sete metros, enquanto aqui é de apenas dois metros”, compara. Além disso, existe uma pequena necessidade de investimentos em dragagem para aprofundamento do solo. “O nível de assoreamento é baixo. As dragagens são feitas basicamente para adequar os portos aos navios maiores, mas, no geral, os gastos com operações de manutenção são baixos”, explica. Para Faria, a melhor maneira de atrair investimentos para a BTS é dando segurança jurídica para a iniciativa privada. Ele lembra que projetos na área de infraestrutura costumam ser feitos a partir de contratos de longo prazo. “Em alguns setores, é necessário se investir hoje para ter retorno daqui a 30 anos. A iniciativa privada

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não vai fazer isso se existirem incertezas relacionadas aos próximos cinco anos”, destaca. Sérgio Faria acredita que o Brasil está chegando a um ponto em que não será mais possível adiar os investimentos necessários na área portuária. “Estamos chegando a um ponto em que ou se faz alguma coisa ou a economia brasileira será estrangulada”, avisa. O diretor da Associação Comercial da Bahia (ACB) e do WWI-Worldwatch Institute no Brasil, Eduardo Athayde, acredita que a importância econômica da Baía de Todos os Santos vai muito além do PIB gerado diretamente por ela. “Se não tivéssemos a Baía de Todos os Santos, muito provavelmente não teríamos uma refinaria, ou um polo industrial em Camaçari”, diz. Além disso, ele lembra da importância que a região tem para o desenvolvimento do turismo baiano. “Nós estamos falando da segunda maior baía do mundo. E esse patrimônio ainda é balneável”, diz. Defensor do projeto que estabelece a BTS como sede da Amazônia Azul, em alusão à riqueza natural da região, Athayde diz que a ACB defende a criação de uma agência para cuidar do desenvolvimento da região.

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Turismo digital SITES E REDES SOCIAIS PODEM AJUDAR MICRO E GRANDES EMPRESÁRIOS A ESTREITAREM RELAÇÕES COM TURISTAS. COM A DEFINIÇÃO DO PÚBLICO-ALVO, AJUDAM NA CONQUISTA DE NOVOS VISITANTES E NA DIVULGAÇÃO DOS DESTINOS

O processo de transformação de um lugar em um polo de atração turística passa por várias etapas: entre fazer com que as pessoas saibam que aquele destino existe e queiram conhecê-lo, existem inúmeras estratégias que hoje estão mais acessíveis a quem trabalha com turismo. O desenvolvimento da internet e o surgimento dos sites de redes sociais estreitaram a relação com os turistas. Seja imagem compartilhada no Facebook ou um comentário bem avaliado no TripAdvisor, site que reúne informações de hotéis, pousadas e restaurantes, vale tudo para captar os viajantes e fazer com que eles voltem. “É preciso entender o processo de tomada de decisão desse turista. Hoje, existem muitas formas de identificar o público-alvo de um destino e rastreá-lo através de dados já disponibilizados por ele na web”, avalia Camilo de Leon, diretor de mídia da agência Mcgarrybowen, ao citar formas de conhecer os turistas que podem visitar a Bahia

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HOJE, JÁ É POSSÍVEL DIRECIONAR DETERMINADOS ANÚNCIOS PARA UM PÚBLICO-ALVO ESPECÍFICO, ATRAVÉS DA MÍDIA PROGRAMÁTICA CAMILO DE LEON DIRETOR DE MÍDIA DA AGÊNCIA DE PUBLICIDADE MCGARRYBOWEN

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durante os Jogos Olímpicos, que serão disputados em Salvador. Responsável por vender o destino Brasil para o mundo através da Embratur, Leon lembra que o investimento em mídia é importante. De acordo com o especialista, hoje é possível criar páginas e perfis nos sites de redes sociais para ampliar a comunicação com os turistas. “É preciso aumentar os pontos de contato, seja através de ambientes oficiais da marca, onde há propriedade e liberdade para dividir informações e conteúdos, como o Facebook, ou sites da própria empresa”, explica. Camilo de Leon explica que a internet permite publicidade para públicos específicos. “Hoje, já é possível direcionar determinados anúncios para um público-alvo específico, através da mídia programática, em que você paga para disponibilizar seu anúncio para determinado perfil de pessoa”, explica. Outra estratégia sugerida pelo diretor é chamar atenção da mídia para um determinado fato criado apenas para promover o turismo, como exemplo do que ele chama de “mídia ganha”, Leon cita que, durante a realização dos jogos da Copa do Mundo, no Brasil, jogadores da seleção foram estimulados a compartilhar entre seus seguidores um vídeo feito pela Embratur para convidar os turistas estrangeiros a visitar o país durante os jogos. “Alguns foram pagos, outros fizeram por vontade própria, mas o fato é que esse vídeo que nós queríamos divulgar foi exposto a mais de 35 milhões de pessoas

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2

3

PLANEJAMENTO

1

SONHO

RESERVA

6 etapas para viajar 6 4 DESTINO

PRÉ-VIAGEM

5

VIAGEM

ONDE BUSCAR O CLIENTE Camilo de Leon mostra onde o turista busca informações para decidir sua viagem. Os seis passos ajudam a planejar ações para atrair o visitante para seu negócio 1 SONHO

2 PLANEJAMENTO

3 RESERVA

- Programas sobre o destino

- Guias

- Agência de turismo

- Viagem de amigos/parentes

- Buscadores

- Online Travel Agencies (OTA)

- Matérias

- Sites/blogs de viagens

- Site de companhia aérea

- Filmes

- Online Travel Agencies (OTA)

- Vídeos

- Revistas de turismo

- Séries

- Vídeos

4 PRÉ-VIAGEM

5 VIAGEM

6 DESTINO

- Sites meteorológicos

- Mídia aeroportuária

- Redes sociais

- Mapas

- Mídia de bordo

- Sites de busca

- Sites de deslocamento

- OOH – Transportes e Ruas


nas redes sociais desses jogadores, como David Luiz e Daniel Alves”, comenta. A circulação do vídeo nas redes sociais foi impulsionada pelo compartilhamento das imagens através dos seguidores desses jogadores. O vídeo acabou recebendo prêmios e ajudou a colocar o destino Brasil no imaginário do mundo todo. Leon fala que uma das grandes estratégias é identificar os turistas antes mesmo que eles decidam para qual destino vão viajar, na fase em que a viagem ainda é um sonho. Como exemplo, cita as estratégias de veicular anúncios segmentados de um destino toda vez que determinado tipo de turista pesquisa sobre viagens. “Para muitos que trabalham na cadeia do turismo, ainda há tempo para conseguir que alguns turistas venham para a Bahia durante as Olimpíadas. Precisa identificar aqueles que estão na fase de sonhar, planejar e comprar. Pode-se focar para fazer com que ele tenha consciência de que o destino existe, considere a hipótese de vir, avaliar junto com outras opções, e comprar”. As redes sociais podem ajudar ainda para se comunicar com o turista local e saber os gostos e características do tipo de consumo. “É possível identificar algumas características do comportamento só por dados disponíveis em sites, como o da Bahiatursa. “Sei que 45% dos baianos passam tempo na internet em sites de redes sociais”, diz ao falar de como a internet entrega informações valiosas sobre os turistas.

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Campo social CERCA DE 120 CAMPOS E QUADRAS SERÃO RECUPERADOS E REFORMADOS EM SALVADOR. O OBJETIVO, SEGUNDO A PREFEITURA, É ESTIMULAR A PRÁTICA DO ESPORTE. OUTROS DOIS GRANDES GINÁSIOS ESTÃO SENDO CONSTRUÍDOS

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Não importa o horário: pode ser de manhã, logo cedo, ou lá pelas 23h. Quem passa pelo campo de futebol próximo à Avenida Paralela, no Bairro da Paz, vai encontrar a bola rolando. “Antes, era só sábado e domingo. Agora, tem baba todo dia, todo horário. Tem até gente demais, a ponto de termos que organizar os horários”, conta a estudante de Administração Jamile da Conceição, 28 anos, que mora no bairro há mais de 20 anos. O “antes” ao qual Jamile se refere era o período até agosto de 2015, quando o campo foi inaugurado. O espaço foi um dos 105 equipamentos esportivos — entre campos e quadras — entregues pela prefeitura. A meta é que, até o fim de 2015, 120 tenham sido concluídos em localidades como Cajazeiras, Castelo Branco, Nordeste de Amaralina, São Gonçalo do Retiro e Alto da Terezinha. “(O campo) estava numa situação que fazia medo. Foram muitos anos lutando por essa reforma, porque o Bairro da Paz ainda é muito carente de lazer. Na região onde eu moro, é a única opção que as pessoas têm, inclusive durante o dia”, diz Jamile. O solo do campo antigo era irregular, a iluminação era precária e o alambrado estava destruído. Se uma bola pegasse um impacto maior, corria o risco muito grande de chegar até a Avenida Paralela — e a criança que fosse em busca dela tinha que se aventurar entre os carros. “Temos um projeto social com 75 crianças e (o campo) é para que elas tenham uma ocupação. A gente quer mostrar para esses meninos o caminho certo”. O diretor de Esportes da Secretaria Municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza (Semps), Téo Sena, reforça que o principal objetivo do projeto de reforma aos campos e quadras é o incentivo à prática de esportes. “O desafio maior é fazer com que esses campos sejam ocupados de forma ordenada e com que essas comunidades possam oferecer lazer e educação às crianças e adolescentes”. Dos 120 espaços que devem ser entregues, 11 foram “adotados” por uma cervejaria e há, ainda, contribuições de emendas parlamentares do deputado Popó e do prefeito ACM Neto, quando ainda era deputado federal. Outros 35 foram recuperados em um programa da Secretaria Municipal de Educação. As outras obras fazem parte de uma licitação da Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop), no valor de R$ 15 milhões. “Até agora, utilizamos cerca de R$

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7 milhões, então vamos construir mais ainda no próximo ano, porque queremos ampliar essas reformas”. Na Semps, estão cadastrados 374 campos e quadras. Alguns dos equipamentos são integrados a reformas maiores, como a requalificação da orla. Em Tubarão, duas quadras foram recuperadas no ano passado — uma delas, de frente para o mar, junto ao projeto da orla. “Estava em um estado precário, sem iluminação. E era um problema, porque muitas escolinhas de futebol usam. Desde a reforma, está tudo novo”, conta a líder comunitária Valdízia Freitas, 57. No Campo do Lasca, na Ribeira, a reforma ajudou até a movimentar a economia local. “O comércio aqui é movimentado pelo campo. Lanchonete, bares, casa de esporte… O movimento é até meia-noite e diminui até o risco de assalto”, afirma o comerciante Aguinaldo Silva, 54. Mas, com o foco na formação de atletas, serão inaugurados, em 2016, dois ginásios na cidade: um no Centro Esportivo Biriba, em Itapuã, e outro em São Marcos. As obras devem ser iniciadas em fevereiro e o prazo de conclusão é de até oito meses. “Esses serão locais de treinamento esportivo para incentivar atletas mesmo. Não vai ser para competição. Cada um deles deve ter cerca de 600 crianças praticando, inicialmente, futsal, vôlei, basquete, handebol e ginástica rítmica”, diz o diretor Téo Senna. Os recursos são provenientes do Ministério do Esporte e cada ginásio demanda um investimento de R$ 3 milhões. A prefeitura será responsável pelos equipamentos e pela contratação de professores.

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Fonte vai brilhar EQUIPADA COM UMA MODERNA SUBESTAÇÃO, A ARENA FONTE NOVA ESTÁ PRONTA PARA RECEBER OS 10 JOGOS DE FUTEBOL DO TORNEIO OLÍMPICO DE 2016

Quando os holofotes da Arena Fonte Nova se acenderem em agosto de 2016 para a realização de dez jogos de futebol das Olimpíadas, os artistas da bola vão brilhar em campo. Graças a um investimento de R$ 40 milhões da Coelba na construção de uma subestação de grande porte, a Arena Fonte Nova tem a garantia de fornecimento de energia. Luz é o que não falta ao principal palco do esporte baiano. Apenas 3 megavolt ampére (MVA), de um total de 50 MVA, ficam na Arena. O restante fornece aos bairros da região energia suficiente para abastecer um município do porte de Vitória da Conquista, com mais de 300 mil habitantes. Da subestação, saem dez circuitos alimentadores, sendo dois exclusivos para atendimento ao estádio e os demais para interligação à rede elétrica existente, por meio de chaveamentos automatizados. Isso aumenta a confiabilidade do sistema elétrico na região vizinha e reduzirá o tempo para o restabelecimento da energia, em caso de interrupções.

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“Toda essa estrutura já está pronta. Foi implantada durante os preparativos para a Copa do Mundo e atende a Fonte Nova e os baianos”, destaca o gerente do Departamento de Planejamento de Rede da Coelba, Joe Tavares. Segundo ele, a estrutura dá suporte para a Arena receber qualquer tipo de evento. Além da subestação, o projeto de abastecimento do local conta com uma linha de alta tensão de 69 mil volts subterrânea e com um total de 4 quilômetros de extensão. “Nós não temos, por exemplo, o risco de a queda de uma árvore vir a interromper o fornecimento de energia. Isso dá uma segurança muito grande ao sistema”, explica Tavares. Segundo ele, a estrutura implantada é a mais moderna para esse tipo de serviço. É a primeira no mundo a contar com dois transformadores de força (de 25 MVA de potência cada), isolados a seco, que operam sem o uso de óleo mineral isolante. Fabricados pela empresa ABB, essa solução favorece o meio ambiente e evita o risco de incêndio. Além disso, os equipamentos são totalmente automatizados. “A utilização dos mais avançados recursos tecnológicos na subestação Fonte Nova oferece maior confiabilidade no suprimento de energia ao estádio e aos bairros vizinhos”, diz. A escolha do nível inferior para o equipamento de última geração atende requisitos de segurança e tem a ver com o que a Coelba espera em relação ao seu serviço, diz Joe Tavares. “O nosso trabalho é atender sem sermos notados”, afirma. E por falar em segurança, ele explica que diversos equipamentos do local foram construídos em duplicidade. Se um falha, o outro garante o abastecimento. “O risco é mínimo, porque nós trabalhamos com várias reservas de contingência. Temos dois transformadores, por exemplo. Se um para, o outro entra em operação instantaneamente”, explica. Esse padrão de contingência, com mais de um equipamento para garantir o abastecimento energético, foi implantado na Fonte Nova por uma exigência da Federação Internacional de Futebol (Fifa), lembra o gerente da Coelba. Mas o padrão não se restringe à Arena. Segundo ele, na maior parte dos bairros de Salvador, a estrutura é parecida, com reserva para os casos de contingências.

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A UTILIZAÇÃO DOS MAIS AVANÇADOS RECURSOS TECNOLÓGICOS NA SUBESTAÇÃO FONTE NOVA OFERECE MAIOR CONFIABILIDADE NO SUPRIMENTO DE ENERGIA AO ESTÁDIO E AOS BAIRROS VIZINHOS JOE TAVARES GERENTE DO DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO DE REDE DA COELBA

“Esse esquema de trabalho com reservas já está presente na maioria de nossos circuitos. Se você prestar atenção, a maior parte das interrupções de energia atualmente acontece por um curto espaço de tempo, às vezes por poucos segundos”, diz. Isso ocorre, segundo ele, porque, quase simultaneamente ao desligamento, o sistema redireciona a energia de um outro local para aquele. “Em praticamente toda a cidade, nós temos como transferir a carga de um local para o outro porque temos um sistema interligado, automatizado e com várias frentes”, explica. Apesar de toda a estrutura já implantada, no período dos Jogos Olímpicos, a Coelba pretende reforçar a presença de pessoal tanto na Arena Fonte Nova quanto em outros lugares considerados importantes para o sucesso do evento, como o Aeroporto Internacional de Salvador, hotéis, hospitais e pontos em que se espera um grande fluxo de pessoas. “Nossas equipes serão reforçadas. Mesmo nos locais em que a operação é automatizada, nós iremos manter técnicos a postos, para o caso de eventualidades”, explica.

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PARCEIROS NA INOVAÇÃO


Educar para competir PRESIDENTE DA REDE BAHIA E PROFESSOR DA UFBA, ANTONIO CARLOS JÚNIOR AFIRMA QUE A MÁ QUALIDADE DO ENSINO NO PAÍS PREJUDICA A COMPETITIVIDADE E A PRODUTIVIDADE E DEFENDE QUE O GOVERNO FACILITE A VIDA DAS EMPRESAS PARA VENCER GARGALOS DA INFRAESTRUTURA

O presidente da Rede Bahia e do CORREIO, Antonio Carlos Júnior, ex-senador da República e professor da Escola de Administração da Ufba há 36 anos, mostra, nesta entrevista, sua preocupação com a perda de competividade do país, tema principal de debate do Fórum Agenda Bahia de 2015. Para o empresário, o país não está fazendo a lição de casa em vários setores e se acomoda na posição de exportador de commodities. A educação, avalia, é um dos principais problemas para o Brasil perder seguidas posições no ranking mundial de competitividade. “Negligenciamos a educação e, consequentemente, vamos pagar essa conta da produtividade e da competitividade”, diz.

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O Fórum Agenda Bahia, é uma realização do jornal CORREIO e da rádio CBN, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Desde 2010, o Brasil perdeu 16 posições no ranking mundial de competitividade. O senhor acredita que debater o tema neste momento é relevante para a retomada do crescimento do país? O Brasil vem perdendo muitas posições na competitividade até na nossa pauta de exportações. A proporção de commodities com produtos semimanufaturados aumenta se comparados com produtos manufaturados. Nossa competitividade industrial é muito baixa. Não conseguimos competir com produtos industrializados. Esse é um problema.

O BNDES PRIVILEGIA FORMAÇÃO DE GRANDES GRUPOS PARA AQUISIÇÃO DE EMPRESAS LÁ FORA. PRECISAMOS FINANCIAR OUTRAS COISAS: INOVAÇÃO E TAMBÉM DINAMIZAR O MERCADO DE CAPITAIS

Voltamos a ser um país exportador de commodities. Perdemos espaço no processo industrial mais complexo. Quais as causas? A baixa qualidade da educação influi na produtividade do trabalhador e no avanço tecnológico. Isso gera inovação abaixo do desejado. Há o Custo Brasil, que envolve uma carga tributária elevadíssima. Outro ponto é o setor público absorver a poupança privada. Isso resulta na diminuição dos recursos para a iniciativa privada e eleva a taxa de juros. O BNDES, por exemplo, foca na sua atividade de financiamento de uma forma completamente equivocada. Privilegia formação de

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grandes grupos para aquisição de empresas lá fora. Precisamos financiar outras coisas: inovação e também dinamizar o mercado de capitais, que ainda é estreito para o tamanho das nossas necessidades de crescimento. O BNDES assume o

NEGLIGENCIAMOS A EDUCAÇÃO E VAMOS PAGAR ESSA CONTA DA COMPETITIVIDADE E DA PRODUTIVIDADE

papel de protagonista e é o maior financiador do investimento quando deveria ser fomentador seletivo do investimento. Em vez de financiar 100% da empresa, financiaria 20%. Assim, teria dinheiro para mais gente. Como mudar? Na economia, tudo está interligado e acontece em cadeia. Quando o governo toma decisões econômicas erradas contamina toda a cadeia produtiva. A competitividade não virá apenas com a melhoria da conjuntura externa. Isso melhora a demanda por produtos, mas, se não formos mais competitivos, vamos aproveitar pouco. Educação e inovação têm sido diferenciais para países que estão passando o Brasil em competitividade. China e Coreia do Sul, por exemplo, ultrapassaram o Brasil no espaço de duas gerações. Educação é um tema transversal em todos os seminários do Fórum Agenda Bahia 2015. É um calcanhar de aquiles do Brasil? Quando eu era estudante, não se falava em China como competitiva e muito menos Coreia. Nós éramos mais competitivos na indústria até na época do

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O SETOR PRIVADO PRECISA DAS PESQUISAS, DOS RECURSOS HUMANOS, DA MESMA FORMA QUE AS UNIVERSIDADES PRECISAM DOS RECURSOS DA INICIATIVA PRIVADA


regime militar. Claro, tínhamos subsídios pesados que, de certa forma, mascaravam nossa ineficiência. Mas tivemos tempo para substituir subsídio por produtividade. E não o fizemos. Na economia, o senhor vê semelhança entre o regime militar e o governo de agora pela mão pesada do Estado? Sim. Só que o governo militar subsidiava as empresas brasileiras para não depender do exterior. O governo era muito intervencionista e era um governo empresário, tinha a Petroquisa, a Siderbras. Mas tínhamos uma posição de comércio exterior melhor do que hoje, relativamente. Somos mais dependentes de commodities do que naquela época em termos proporcionais. Isso mostra que negligenciamos a educação e, consequentemente, vamos pagar essa conta da produtividade e da competitividade. O governo militar tentou tirar o Brasil da situação de exportador de commodities. Hoje, há pouco esforço para mudar essa situação. Para o senhor, além da conquista social, falta ao governo fazer o dever de casa em outras áreas? Primeiro é preciso sanear o Estado. O governo cometeu alguns erros. Entre eles, o de direcionar R$ 500 bilhões para o BNDES, dinheiro do Tesouro Nacional, emprestar a taxas subsidiadas. Para quem? Para poucos. Não deveria ter subsídio nenhum nesse nível. Isso mascara a questão da dívida líquida que parece não crescer em relação ao PIB, além de desviar um foco importante: nós temos que desenvolver nossa indústria aqui e não usar esse dinheiro subsidiado para comprar empresa no exterior. Quais são os outros problemas? Infraestrutura. Outro fator que tira nossa competitividade. Portos, ferrovias, aeroportos, do jeito que estão, aumentam o Custo Brasil. O poder público não tem capacidade de financiamento. Ele tem que privatizar, buscar parceiros privados. E mais: facilitar a vida do setor privado para ajudar a melhorar a infraestrutura do país e

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PORTOS, FERROVIAS, AEROPORTOS, DO JEITO QUE ESTÃO, AUMENTAM O CUSTO BRASIL

ser mais competitivo. Houve uma negligência muito grande por muito tempo. O que acontece é que temos uma situação fiscal ruim, infraestrutura deteriorada, educação abaixo do nível aceitável. Tudo isso faz com que o Brasil fique para trás. Na educação, o governo tem que centrar os poucos recursos que tem para buscar melhores resultados. O Agenda Bahia 2015 vai mostrar cases de lugares em que a parceria entre universidades, iniciati-

TEMOS UM POLO IMPORTANTE, MAS PRECISAMOS COMPLEMENTAR NOSSA CADEIA PRODUTIVA. O NORDESTE TEM QUE TER UMA SITUAÇÃO DIFERENCIADA.

va privada, centros de pesquisa e governo resultou no aumento da competitividade. O senhor, como professor universitário, acredita que a universidade brasileira deveria estar mais próxima da iniciativa privada? Com certeza. Sou professor há 36 anos. Acredito que melhorou, mas ainda há um preconceito enorme da universidade pública com o setor empresarial. Isso é desastroso. Isso é fruto de uma ideologização do ensino? Sim, precisamos quebrar isso. Um precisa do outro. O setor privado precisa das pesquisas, dos recursos humanos, da mesma forma que as universidades precisam dos recursos da iniciativa privada. Um ajuda o outro, vão se complementar. A universidade não será engolida, como muitos acreditam. A universidade forma para o mercado. Nada melhor que se entrosar com o mercado, que pode ajudá-la com

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recursos. O setor público não consegue alocar os recursos necessários para desenvolver a universidade. Tem que quebrar essa ideologização excessiva. Quebrar esse preconceito. Se não vamos perder mais tempo. Poderíamos estar inovando mais e tendo maior produtividade. Outro tema do Agenda Bahia é Economia de Baixo Carbono. A Bahia, especialmente pelas energias renováveis, tem todas as condições de se tornar um exemplo nessa direção. A Economia de Baixo Carbono é futuro no mundo. O Brasil e a Bahia deveriam estar mais preocupados com isso. Buscar fontes renováveis e não fósseis. As cadeias produtivas baianas também são tema do Agenda Bahia 2015. Temos um polo importante, mas precisamos complementar nossa cadeia produtiva. Um dos entraves tem a ver com os incentivos fiscais. O Nordeste tem que ter uma situação diferenciada. Uma política que preveja compensações. Não sai reforma tributária e nem pacto federativo sem compensações dos estados. Enquanto não resolver isso, nada será resolvido no país. Ficaremos paralisados. Isso afeta diretamente a competitividade da nossa região e não conseguiremos atrair empresas que queiram investir nesses elos restantes. No caso do Nordeste, particularmente, temos uma infraestrutura mais deficiente que as demais regiões.

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É mais do que ações isoladas... Sim. Para isso é preciso que se faça um pacto federativo novo. Já discuti muito isso quando era senador. Se não fizer pacto federativo, não sai reforma tributária e nem acordo para incentivos fiscais. Qualquer modificação que se faz hoje se exige unanimidade no Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária). Se não tem acordo no Congresso, não se vota nada, inclusive a reforma tributária. Há uma paralisação também nessa questão. Não é uma questão política, mas regional. Há um desequilíbrio imenso entre Norte e Nordeste com o resto do país Salvador irá sediar jogos de futebol nas Olimpíadas. O senhor acredita que a Bahia pode atrair esse turista que virá para os Jogos? Potencial tem. Mas é preciso ver como serão essas ações. Nossos equipamentos turísticos estão defasados, o aeroporto ineficiente, que só agora decidiram fazer concessão. Fomos discriminados. A Bahia vem perdendo espaço. Faltou luta política para atrair mais investimentos, especialmente em infraestrutura. O Centro de Convenções é uma calamidade e de situação indefinida. Estamos vendo hotéis de pequeno porte fecharem. Estamos perdendo muito espaço no turismo e isso pode nos prejudicar nas Olimpíadas. Essa é a sexta edição do Fórum Agenda Bahia. O senhor acredita que o evento já se tornou uma referência na Bahia? O Agenda Bahia se tornou uma referência e contribuímos bastante, com o conteúdo abordado, para discussões de extrema importância. Gerando debates sobre mobilidade urbana, energia, competitividade, infraestrutura, turismo, entre outros. Muitos pontos importantes, inclusive com soluções. Esse é um dos papéis do jornal. De colaborar para o desenvolvimento econômico e social do estado. Jornal é uma voz importante porque pode ser um distribuidor de conteúdo mais consistente e de volumes mais densos que outros veículos. O jornal assume esse papel e vai continuar fazendo. Esse compromisso é permanente: de continuar debatendo temas da mais alta importância para o estado. Buscamos trazer especialistas de peso, do

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O JORNAL ASSUME ESSE PAPEL E VAI CONTINUAR FAZENDO. ESSE COMPROMISSO É PERMANENTE: DE CONTINUAR DEBATENDO TEMAS DA MAIS ALTA IMPORTÂNCIA PARA O ESTADO

setor privado, da academia para que, junto com autoridades públicas, possam colaborar com ações para o desenvolvimento sustentável do estado. Vamos continuar fazendo também seminários específicos para dar continuidade a temas que surgiram no Agenda Bahia, como aconteceu este ano com Energia Competitiva. Um desdobramento de assuntos que são essenciais para a Bahia.

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Na defesa do investimento A ANÁLISE SOMBRIA QUE O EMPRESÁRIO ANTONIO RICARDO ALVAREZ ALBAN, PRESIDENTE DA FIEB, FAZ SOBRE OS CENÁRIOS POLÍTICO E ECONÔMICO DO PAÍS CONTRASTA COM SEU ENTUSIASMO AO DEFENDER AÇÕES E REFORMAS PARA DAR SEGURANÇA À INICIATIVA PRIVADA PARA PODER VOLTAR A PLANEJAR E BUSCAR RECURSOS PARA INVESTIR

O agravamento da crise política prejudica o ritmo dos investimentos no país. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Ricardo Alban, enquanto essa situação não se resolver será difícil prever o fim do ciclo de uma outra crise, a econômica. “Hoje, é muito difícil fazer planejamento com risco aceitável. Por isso, é natural que os investimentos sejam postergados, alguns até cancelados. Pior ainda: destinados a outras economias, onde não haverá possibilidade de retorno”, avalia. Para tentar reverter esse cenário, Ricardo Alban defende ações prioritárias para aumentar a competitividade brasileira, tema principal do Fórum Agenda Bahia de

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2015. Pautadas em gestão, reformas tributária e previdenciária e investimento em educação com busca de resultados, especialmente no ensino técnico, com prioridade para inovação e pesquisa. O Agenda Bahia é realizado pelo CORREIO e pela rádio CBN, em parceria com a Fieb. Alban reafirma a importância do evento na busca de soluções. “Essa parceria não podemos jamais descontinuar”, assegura. Como a perda de competitividade do Brasil afeta a indústria? Se existe uma palavra que pode resumir o insucesso do desempenho da indústria brasileira, ela se chama competitividade, tema do Fórum Agenda Bahia. Por trás dela, há uma série de motivos para a situação atual: desde a baixa produtividade, o Custo Brasil, o sistema educacional falho. É um tema mais do que apropriado, especialmente neste momento, quando é preciso buscar fazer mais com menos. É o grande desafio da indústria, já que o histórico não é favorável: em 10 anos, a perda foi de quase 1% ao ano na participação do PIB (Produto Interno Bruto). Como a Fieb pode colaborar para essa mudança? Nós entendemos que as federações das indústrias devem colaborar para melhorar o desempenho econômico e social dos estados. Algo que temos que exercitar ao máximo é a convergência das entidades, dos atores que fazem parte de qualquer processo de desenvolvimento e crescimento das regiões. Temos feito com sucesso até então. Somos parceiros do Fórum Agenda Bahia, que está na sexta edição. Não era algo comum de existir. Estamos trabalhando muito próximos com a Federação do Comércio, a Federação da Agricultura, com os bancos, com o Sebrae, com a prefeitura de Salvador, através da agência de fomento. Com o governo do estado, a ideia é, neste momento em que investimentos estão sendo procrastinados e até cancelados, juntar competências para tentar tornar mais efetivo esse investimento. A nossa parceria com a Rede Bahia, com o Agenda Bahia, não podemos jamais descontinuar.

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O Brasil tem perdido competitividade. Se o senhor pudesse focar em um ponto para mudar esse quadro, qual seria? Falta de foco, falta de gestão pragmática. Nas crises, surgem as oportunidades. Nesse momento, podemos gerar condições mais favoráveis para fazer as medidas duras e necessárias para o país crescer. A Grécia é um exemplo disso. Está sendo obrigada a tomar medidas que em condições normais não tomaria. É o que temos que enfrentar no Brasil. Uma dessas medidas é a reforma da previdência social. O remédio pode ter dose menor se for feito um planejamento sério. Caso não, será mais amargo. Mas o Congresso começou a debater a reforma previdenciária. Especialistas acreditam que o resultado não foi positivo… Temos que encontrar uma solução para a crise política. Hoje, há crise econômica, com causas e efeitos identificáveis. Mas o que ajuda mais a alimentar uma crise econômica é a expectativa. O mercado financeiro costuma dizer: bolsa de valores sobe na expectativa e cai no fato. Isso vale para toda a economia. O que mais impede que possamos vislumbrar qual será o ciclo dessa crise econômica é uma situação política indefinida. Essa crise política pode travar ainda mais o crescimento do país nos próximos anos? Pode travar a possível saída desse ciclo de crise econômica. Ciclos que todas as economias mundiais enfrentam, o Brasil já passou por alguns, mas é um ciclo. Essa ambiência da crise política brasileira, no entanto, não permite saber quando esse ciclo começará a mudar. Pode ser no fim do ano, em 2016 ou 2017. Isso não é bom para o Brasil. É muito tempo. A indústria não está vendo então essa luz no fim do túnel? Nós ainda temos medo da situação (política) se agravar antes de começar a vislumbrar uma melhora (na econômica). É difícil ter essa previsibilidade. E a

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indústria precisa trabalhar com planejamento. Hoje, é muito difícil fazer planejamento com risco aceitável. Por isso, é natural que os investimentos sejam postergados, alguns até cancelados. Pior ainda: investimentos serem destinados a outras economias, onde não haverá possibilidade de retorno. Navegamos em mar de almirante na crise mundial. Mas o cenário do mercado global se reverteu e nós estamos no ápice de uma crise, resultado de alguns equívocos da política econômica e que afetaram sobremaneira a indústria. Por que isso ocorreu? Não é só uma política econômica que dá resultado a um país. De fato tivemos um incremento do poder aquisitivo: saímos de um salário-mínimo de menos 100 dólares para quase 300 dólares, um ganho importante para população brasileira, especialmente para as classes C e D. Isso resultou em crescimento de consumo, com reflexos no comércio e na agricultura. Mas houve uma dicotomia. A indústria não acompanhou esse crescimento, ao contrário, especialmente a indústria de transformação. Por que isso ocorreu? Transferimos parte da riqueza gerada no país para a indústria internacional.

O senhor acredita que o Brasil se acomodou diante do mar de almirante proporcionado pelo ‘boom’ das commodities? Faltou um plano de desenvolvimento industrial, principalmente da indústria de transformação. Para a indústria naval, podemos dizer que existiu política estratégica por conta do projeto da Petrobras para o pré-sal. Houve estímulo nas regiões para incentivar os stakeholders e toda a cadeia produtiva. Mas essa fonte se esgotou, pelo cenário que vivemos hoje, e não houve planejamento para trabalhar com fontes alternativas. Podemos voltar 20 anos no tempo quando a indústria naval foi totalmente sucateada. Investimentos podem ser perdidos. Mas se a indústria naval estivesse inserida em uma política geral da indústria certamente isso seria diferente.

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Que fatores são essenciais para uma nova política para a indústria? Temos uma realidade tributária desatualizada, não condizente com a competitividade mundial. Em energia, por exemplo, deveria se onerar o consumo e não a produção, fato praticamente pacifica-

FALTOU UM PLANO DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, PRINCIPALMENTE DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

do mundialmente. O Brasil tem uma das energias mais baratas do mundo, a hidrelétrica, mas cobra alto e se tornou uma das mais caras do mundo. O fator energia, especialmente no Nordeste, tem peso importante no custo do processo industrial. É um país só, mas nós somos desiguais e precisamos ser tratados também como desiguais para que a busca dessa unicidade seja mais possível. Outro ponto seria educação e a consequente inovação?

O FATOR ENERGIA, ESPECIALMENTE NO NORDESTE, TEM PESO IMPORTANTE NO CUSTO DO PROCESSO INDUSTRIAL

A mudança da cultura de um povo se processa ao longo de gerações. Temos processo educacional com enormes falhas há muito tempo. Governos federal, estadual e municipal deveriam elaborar um plano único para cada um ser mais competente nesse foco: encontrar uma equação onde os esforços não sejam duplicados e perdidos. O governador Rui Costa tem dado prioridade na educação. Estamos dialogando, dentro dos nossos limites de competência, para usar o expertise do sistema S. Como seria isso? Estamos identificando como podemos colaborar.

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NAS CRISES, SURGEM AS OPORTUNIDADES. TEMOS QUE GERAR CONDIÇÕES MAIS FAVORÁVEIS PARA FAZER MEDIDAS DURAS E NECESSÁRIAS PARA O PAÍS VOLTAR A CRESCER


Não só na identificação de quais cursos profissionalizantes são mais adequados como na colaboração da grade curricular. Como nossas tecnologias e experiências ao longo de tantos anos podem contribuir com algo mais. O senhor falou em colaborar na grade curricular? Sim, com a nossa experiência nas escolas públicas. Estamos iniciando essas conversas, inclusive com a Secretaria de Educação. No Brasil, citando um número referência e não estatístico, temos cerca de 80% de pós-graduados, mestres e doutores atuando na academia. Ao contrário da Alemanha... E dos Estados Unidos. Apenas 20% desses pós graduados no Brasil estão na vida prática. No Cimatec, centro de tecnologia, inovação e desenvolvimento, referência em todo o país, estamos criando um conceito diferente, do desenvolvimento. Investimos também em doutores e mestres, especialmente na área de engenharia. Mas a proposta é que a maioria dos nossos alunos seja destinada à ciência aplicada e apenas 20% vá reverberar o ensinamento na academia. Assim, podemos melhorar o que estamos buscando: competitividade, pesquisa, inovação. Hoje, o Cimatec está entre os três principais centros de pesquisa do Brasil. Esse investimento no ensino técnico poderia reverter essa situação no Brasil? Não basta o governo criar cursos. Esses cursos precisam estar ligados com as oportunidades de trabalho para que o próprio aluno ou trabalhador identifique a vantagem de mudar a sua imagem. É necessário um programa de Educação, uma preocupação com a sequência da formação profissional. Não adianta pegar uma pessoa que não tem um bom ensino primário. Não sabe ler e nem fazer contas básicas para entrar no curso técnico. Não se muda uma cultura em uma gestão. Mas com política consistente e contínua de governo.

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Mais competitividade NA ABERTURA DOS SEMIINÁRIOS, A DEFESA DE AMBIENTES FAVORÁVEIS À INOVAÇÃO, BOAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA E INFRAESTRUTURA MAIS EFICIENTE

Boas ideias. Sem isso, não dá para desenvolver o empreendedorismo. Mas elas não surgem de uma hora para outra: antes, é preciso criar ambientes favoráveis à inovação. “Os países precisam de boas práticas de governança, mercados abertos e marcos regulatórios transparentes”, disse o cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, James Story, na abertura do seminário O Futuro do Emprego e o Valor do Trabalho, do Fórum Agenda Bahia 2015. Presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior ponderou durante o evento que, no mundo globalizado, o impacto da tecnologia é cada vez maior e que as relações de trabalho e o funcionamento das empresas vêm mudando de forma acelerada, obrigando empresários e trabalhadores a permanentes adaptações. “Muitos empregos vão desaparecer, outros vão sofrer grande impacto com as novidades tecnológicas disponíveis agora e com algumas que ainda nem foram criadas”, ressaltou. Já Alexi Portela, vice-presidente da Fieb, chamou a atenção para a necessidade de o

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Brasil melhorar a sua produtividade. “ Os encargos e tributos são cada vez maiores e as empresas não têm condições de dar treinamento para aumentar a produtividade do seu trabalhador. A reforma tributária é algo urgente”. Júnior apontou ainda outros pontos essenciais para aumentar a competitividade do país. Segundo ele, para que um negócio dê certo, as empresas precisam da combinação de quatro fatores: um ambiente regulatório, infraestrutura, custo de capital e carga tributária. “Nesses quatro pontos, o Brasil está devendo a nós todos. Temos uma infraestrutura precária, alta carga tributária, um ambiente regulatório confuso e uma taxa de juros elevada. A inovação pode ser o caminho para sermos competitivos, mesmo com esse quadro da infraestrutura. É um caminho para a gente sair e não ficar dependendo da política econômica do governo ou da falta de investimento em infraestrutura”, destacou Antonio

OS PAÍSES PRECISAM DE BOAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA, MERCADOS ABERTOS E MARCOS REGULATÓRIOS TRANSPARENTES JAMES STORY CÔNSUL-GERAL DOS ESTADOS UNIDOS NO RIO DE JANEIRO

Carlos Júnior, na abertura do seminário. O presidente da Rede Bahia lembrou que é preciso incentivar que a iniciativa privada invista em infraestrutura. “Qualquer empresário e qualquer empresa têm que pensar numa série de pontos fundamentais para isso. A inovação é uma forma de sairmos das amarras em que estamos envolvidos em função da política macroeconômica”, destacou. O também vice-presidente da Fieb, Carlos Henrique Gantois, destacou a realização do evento para discutir o ambiente de inovação e empreendedorismo nas cidades baianas. “O Nordeste representa 30% do PIB nacional, e também 30% de sua população, mas a diferença em re-

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SEM INOVAÇÃO, NÃO TEM COMPETITIVIDADE. E SEM COMPETITIVIDADE, O PAÍS NÃO CONSEGUE CRESCER ANTONIO CARLOS JÚNIOR

xo Carbono - o segundo seminário da edição 2015 do

PRESIDENTE DA REDE BAHIA

Agenda Bahia. “Os efeitos das mudanças climáticas,

lação ao Sul e ao Sudeste tem de ser revertida”, afirmou Gantois. As oportunidades para o Brasil e para a Bahia estiveram no centro dos debates sobre Economia de Bai-

com extremos de seca e chuvas intensas, vão continu-

MAIS DO QUE NUNCA, É PRECISO ENCONTRAR SOLUÇÕES, AUMENTAR OS INVESTIMENTOS NO SETOR PÚBLICO E PRIVADO CARLOS HENRIQUE GANTOIS

gou luz sobre questões fundamentais para o futuro do

VICE-PRESIDENTE DA FIEB

planeta.

ar se multiplicando. Mas o Brasil pode fazer diferença. Temos responsabilidade de ser um dos novos líderes da nova economia mundial, uma economia com novos valores e mais competitiva, mas com menor impacto ao meio ambiente”, afirmou Antonio Carlos Júnior, presidente da Rede Bahia, ao abrir o encontro que jo-

A secretária municipal de Desenvolvimento, Traba-

A REFORMA TRIBUTÁRIA É ALGO URGENTE ALEXI PORTELA

a inovação é o caminho para identificar as vocações da

VICE-PRESIDENTE DA FIEB

cidade. “Vamos transformar Salvador em uma cidade do

lho e Emprego, Andréa Mendonça, que representou o prefeito ACM Neto em um dos seminários, ressaltou que

futuro através da inovação”, garantiu. Por sua vez, representando o governador Rui Costa, o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Manoel Gomes Neto, falou da importância do investimento em pesquisa e desenvolvimento. “Nenhum outro investimento leva ao crescimento dos países como em inovação”, defendeu. Andréa Mendonça também reforçou que a inovação é o caminho para o futuro. “Ela faz parte do mundo moderno, para que possamos identificar as vocações das cidades”, disse.

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O Turismo é uma dessas vocações das cidades baianas. Para Antonio Carlos Júnior, Salvador conseguiu mostrar todo o seu potencial com a promoção de festas na Copa do Mundo, como a Fifa Fan Fest, que reuniu milhares de pessoas no Farol da Barra durante os dias de jogos do Brasil. “Salvador fez bonito no campeonato mundial, com uma festa inesquecível, que atraiu torcedores de todos o cantos, e fazendo outras festas bonitas pela cidade. Vamos ter uma nova oportunidade de fazer bonito aos olhos do mundo com as Olimpíadas”, afirmou no seminário Olimpíadas na Bahia. Para o presidente da Rede Bahia, ainda há tempo para que a cidade se planeje. O vice-presidente da Fieb, Alexi Portela, afirmou que, antes dos Jogos, ainda é necessário priorizar algumas áreas, como a infraestrutura. “Precisamos ter uma infraestrutura compatível com o evento. Temos que melhorar a infraestrutura na Bahia para atrair mais turistas. Assim como tivemos oportunidade para fazer na Copa, podemos fazer agora”, afirmou. Portela disse ainda que este é o momento chave para se pensar de que maneira investir na cidade. “É o grande momento para alavancar o turismo na Bahia”, completou o vice-presidente, durante o último evento do Fórum, em 2015. O Agenda Bahia é uma realização do CORREIO e da rádio CBN, em parceria com a Fieb. Na sexta-edição, o evento debateu Competitividade como tema principal em quatro seminários.

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QUEM SOMOS A Rede Bahia A Rede Bahia é um grupo empresarial formado por 14 empresas, sendo 6 emissoras de TV afiliadas à Rede Globo, 4 emissoras de rádio, jornal, portal de internet, empresa de eventos e uma produtora de vídeo. Maior grupo de comunicação do Norte e Nordeste, a Rede Bahia atua dentro e fora do estado, com alto padrão tecnológico contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e cultural da Bahia. O CORREIO Jornal líder de circulação na Bahia e no Nordeste, o CORREIO assumiu lugar de destaque na imprensa nacional pelo seu crescimento expressivo a partir do fim de 2008, quando foi implantado um novo projeto editorial e gráfico. A partir daí, conquistou prêmios nacionais e internacionais de jornalismo e artes gráficas. A inovação é a sua principal característica. Foi através dela que ampliou sua participação no mercado baiano e nordestino de leitores e tornou-se o veículo com crescimento mais expressivo e sustentado do país nos três anos que se seguiram à sua reforma. Uma evolução acompanhada por sua versão online e que, com a proposta da criação do Agenda Bahia, mostra-se totalmente alinhada com a missão e os valores da Rede Bahia, da qual faz parte, de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico e cultural do estado. A CBN Informação precisa e isenta, notícias 24 horas por dia, pluralidade de opiniões e análise crítica do que está por trás dos fatos. Este é o conceito do jornalismo praticado pela rádio CBN, que atua em Salvador com programação local de alta qualidade. Presente nas principais cidades brasileiras, a rádio CBN, pioneira no modelo all news, destaca em sua programação assuntos políticos e econômicos da Bahia, do Brasil e do mundo, além de abordar temas relevantes como comportamento, cultura, esportes, saúde e variedades. Como consequência da sua alta credibilidade jornalística, foi eleita pelo décimo quinto ano consecutivo a rádio mais admirada do Brasil (Pesquisa Veículos Mais Admirados, categoria Rádio, edição 2014, realizada pelo Grupo Troiano de Branding para o Meio&Mensagem).


EXPEDIENTE Livro agenda bahia edição Rachel Vita reportagem Donaldson Gomes, Perla Ribeiro, Thais Borges, Victor Villarpando e Wladmir Lima revisão Socorro Araújo Projeto gráfico Iansã Negrão e Morgana Miranda FOtografia CORREIO (Almiro Lopes, Arisson Marinho, Betto Jr., Evandro Veiga, Marina Silva, Mauro Akin Nassor e Sora Maia) e Estúdio Voulta (Alexia Zunhiga, Mayra Lins e Pablo Cordier) Ilustração Rex infográficos Ari Barbosa, Iansã Negrão, Morgana Miranda e Editora Bamboo/ Superintendência de Comunicação Instucional da Fieb Projeto de marketing Vanessa Araújo correio Conselho de Administração Antonio Carlos Júnior (presidente), Renata de Magalhães Correia, Wilson Maron Diretor-executivo Sergio Costa Diretor Wilson Maron Editor-chefe Oscar Valporto Editora de produção Linda Bezerra Editora-executiva do Agenda Bahia Rachel Vita gerente comercial Luciana Gomes Gerente de marketing Alessandra Lessa Gerente de mídias sociais Fábio Góis Marketing Vanessa Araújo, Gabriela Souza, Maurício Hermida, Murilo Neves, Viviane Anchieta, Litza Rabelo e Leila Guimarães FEDERAçÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DA BAHIA (FIEB) PRESIDENTE Antonio Ricardo Alvarez Alban Vice-presidente e membro do Conselho do Agenda Bahia Alexi Portela Diretor-executivo Vladson Menezes Gerente de Comunicação Institucional Mônica Mello Coordenador de Jornalismo e Mídias Digitais Cleber Borges Superintendente de Desenvolvimento Industrial Marcus Verhine Gerência de Estudos Técnicos da Superintendência de Desenvolvimento Industrial Ricardo Kawabe, Carlos Danilo Peres Almeida, Mauricio West Pedrão Gerente do Centro Internacional de Negócios – CIN Patrícia Orrico



PATROCÍNIO GLOBAL

APOIO INSTITUCIONAL

APOIO

REALIZAÇÃO


Este livro foi impresso no papel Pólen Soft 70 g/­m², na Gráfica LuriPress, em Salvador. Com as tipografias: Elena, projetada por Nicole Dotin, em 2011; Klavika, de Eric Olson, de 2012; e Obsidian, de Jonathan Hoefler, de 2015




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