#20 | Pocket Magazine Softex

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Softex – Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro

Presidente da Softex

Ruben Delgado

Vice-presidente da Softex

Diônes Lima

Coordenação do projeto Renata Blatt

@2025 – Revista Softex – Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro. Uma publicação institucional. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

Jornalista responsável

Fabrício Lourenço – DF2887 JP

Assessoria de Imprensa (MLP)

Karen Kornilovicz

Mário Pereira

Revisão

Karine Serezuella

Diagramação e projeto gráfico

Paula Oliveira

Laura Santos

Caros leitores,

A nova edição da Revista Softex chega em sintonia com o espírito de transformação que tem guiado nossas ações e articulações ao longo de 2025. Trazemos como matéria de capa um dos momentos mais relevantes do nosso calendário: a terceira edição do Softex Experience, realizada em Brasília. Com mais de 250 participantes, o evento não apenas reuniu especialistas, autoridades e representantes do ecossistema de inovação, como reafirmou o propósito da Softex em promover conexões estratégicas entre tecnologia, desenvolvimento e mercado.

Este encontro, realizado sob o guarda-chuva do Fórum IA², foi palco de debates fundamentais sobre inteligência artificial, transformação digital, políticas públicas e oportunidades de internacionalização. A cobertura completa está nas páginas seguintes — e você vai entender por que o Softex Experience se consolida, ano após ano, como um catalisador de ideias e ações para o setor.

E tem muito mais.

Neste número, destacamos nossa Missão ao Reino Unido, em mais um passo firme no processo de internacionalização de empresas brasileiras, e a participação do Brasil no Silicon Saxony Day, evento europeu que é referência em semicondutores.

Trazemos ainda, por meio do Softex Mulher, uma reflexão necessária: mesmo considerados os avanços, as mulheres ainda enfrentam barreiras significativas para ocupar espaços de liderança, especialmente no setor de tecnologia.

No campo da análise e da inteligência de dados, o Observatório Softex apresenta dois temas de grande impacto: os desafios na formação de talentos em TIC e o preocupante movimento de fuga de cérebros no Brasil.

Há também tempo para o nosso olhar regional voltado para a Amazônia, apresentando um overview das três etapas da Jornada Regional Softex Amazônia, que vem articulando conexões locais e fortalecendo o ecossistema da região.

Na seção “Acontece no Setor”, reunimos os principais movimentos, eventos e articulações em torno da inovação. Destacamos o Campinas Innovation Week, o programa Bolsa Futuro Digital, e trazemos seis insights valiosos do Observatório Softex sobre os temas em destaque no Web Summit Rio 2025. E para quem busca compreender os rumos deste setor tão dinâmico, esta edição conta com análises críticas e visões estratégicas.

Boa leitura — e que esta edição inspire reflexões que gerem conexões e abram novas possibilidades.

Equipe Softex

SUMÁRIO

Onde a inovação se conecta ao futuro do Brasil

Fórum de encerramento do Programa IA² destaca protagonismo brasileiro na pesquisa em Inteligência Artificial 10

MERCADO INTERNACIONAL

Brasil IT+ fecha primeiro semestre com negócios internacionais em alta 12

SOFTEX MULHER

Brasil apresentou sua capacitação em semicondutores na Alemanha 14

Mulheres ainda são minoria na liderança empresarial. Setor de TI é um dos que mais concentra barreiras 16

SUMÁRIO

OBSERVATORIO

Observatório Softex aponta caminhos para reverter o cenário da fuga de talentos em TI

SOFTEX AMAZONIA

Softex Amazônia participou das primeiras etapas da Jornada de Integração Regional da Suframa

ARTIGOS

IA e soluções de visão computacional impulsionam a hiperpersonalização financeira no setor automotivo

Open Industry: a vanguarda para a economia de dados confiável e segura para a indústria brasileira

ACONTECE NO SETOR

ganha Observatório Nacional de Blockchain para mapear e fomentar a tecnologia

cibernético dispara com avanço dos ataques digitais

Por Fabrício Lourenço

Onde a inovação se conecta ao futuro do Brasil

Mais do que um evento, a terceira edição do Softex

Experience foi uma verdadeira jornada de conhecimento, articulação estratégica e construção coletiva de futuro. Realizado no dia 4 de junho em Brasília, no coração político do país, o encontro reuniu mais de 250 participantes entre representantes de órgãos do governo federal, lideranças empresariais, pesquisadores, empreendedores e integrantes do ecossistema nacional de inovação e tecnologia.

Tendo como tema central “Conectando Inovação, Tecnologia e Futuro”, o evento reafirmou o papel da Softex como elo de conexão entre o setor produtivo, a academia e o poder público, consolidando sua atuação como articuladora de políticas públicas, iniciativas de fomento à inovação e programas de impacto social e econômico.

Na visão de Ruben Delgado, presidente da Softex, a iniciativa é um ponto de encontro das áreas de ciência, tecnologia e inovação, permitindo que autoridades técnicas debatam as políticas públicas com um público extremamente qualificado. “O Brasil precisa se posicionar

como produtor de tecnologia e não apenas como mero consumidor. E temos potencial para isso”, afirma, lembrando que o evento está se aprimorando e crescendo a cada edição, reforçando o papel da Softex como indutora destas conexões vitais para o desenvolvimento tecnológico do país.

A missão da Softex também foi analisada por seu vice-presidente executivo, Diônes Lima, que define a entidade como um dos principais agentes articuladores para que recursos gerados por renúncias fiscais do Estado cheguem ao ecossistema da inovação. “Nos últimos anos, conseguimos descentralizar os recursos de Ciência e Tecnologia, que estavam nas capitais. Hoje, temos institutos

no interior do sertão de Cariri, por exemplo, executando projetos com estes recursos”. Ele também destacou o fato de a Softex não oferecer soluções de prateleira. “Primeiro ela entende o problema a ser resolvido e a partir daí é que desenvolvemos uma política pública, um programa, um projeto a ser executado. Atuamos não como protagonista, mas sim como um indutor”, afirma.

Ao longo de um dia inteiro de atividades, a programação foi extensa, intensa e estrategicamente desenhada para provocar reflexões relevantes, incentivar a troca de experiências e estimular conexões que transcendem fronteiras institucionais e geográficas.

CONFIRA A GALERIA DE FOTOS COMPLETA.

experience.softex.br/ fotos2025

Painéis temáticos, debates de alto nível, apresentações de casos de sucesso, lançamento de iniciativas estratégicas e espaços interativos fizeram do evento um ponto de convergência entre pensamento crítico, ação prática e visão de futuro. Mais do que discutir tendências, o Softex Experience 2025 apontou caminhos concretos para o desenvolvimento sustentável, tecnológico e inclusivo do Brasil.

PAINÉIS QUE APONTAM O RUMO

A abertura institucional contou com autoridades como Débora Peres Menezes, diretora de Avaliação de Resultados e Soluções Digitais do CNPq; João Gomes Bosco, presidente da Suframa; e Ruben Delgado, presidente da Softex, que ressaltou a importância da convergência de esforços para transformar ideias em políticas públicas e projetos de impacto real.

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O primeiro painel, mediado pela jornalista Karen Kornilovicz, trouxe Thássius Veloso, editor do Tecnoblog e comentarista da CBN, para um bate-papo sobre o Panorama Brasileiro para o Futuro da Ciência e Tecnologia. O debate abordou as tendências em inteligência artificial, a formação de talentos e os desafios regulatórios em um ambiente digital cada vez mais complexo e acelerado.

Na sequência, o painel sobre diversificação de investimentos para a inovação contou com Ruben Delgado ao lado de representantes da Finep, Suframa e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), explorando alternativas como a Lei do Bem, os fundos setoriais e a interiorização de recursos, com destaque para projetos na região amazônica.

ECONOMIA CIRCULAR, TECNOLOGIA E NOVOS MODELOS

Entre os destaques da programação, a palestra de Carlos Ohde, diretor-geral do FIT – Instituto de Tecnologia, trouxe uma reflexão urgente e estratégica: como integrar inovação e sustentabilidade de forma efetiva, concreta e com resultados mensuráveis? Com sólida experiência no setor produtivo e profundo conhecimento sobre modelos circulares de desenvolvimento, Ohde apresentou

conceitos e práticas que demonstram o potencial transformador da economia circular quando impulsionada pela tecnologia.

Autor do livro “Economia Circular: um modelo que dá impulso à economia, gera empregos e protege o meio ambiente”, o especialista reforçou que a inovação sustentável não é uma tendência, mas uma necessidade vital para empresas, governos e a sociedade civil. Ao destacar exemplos nacionais e internacionais, Ohde mostrou como o reaproveitamento inteligente de recursos, aliado ao uso de tecnologias emergentes, pode gerar impacto econômico real, fortalecer cadeias produtivas e promover inclusão social.

A convergência entre tecnologia e economia circular, segundo ele, é uma das grandes apostas para o futuro da indústria, especialmente em um país com a diversidade ambiental e o potencial produtivo do Brasil. “A inovação sustentável é o único caminho possível para um crescimento duradouro, inclusivo e com impacto positivo”, afirmou.

SEMINÁRIO DE SEMICONDUTORES: SOBERANIA

DIGITAL EM FOCO

Um dos pontos altos da programação foi o Seminário de Semicondutores, que contou com nomes expressivos da academia e do setor produtivo. O painel de abertura destacou a importância do programa CI Inovador, coordenado pela Softex, que busca formar talentos em sistemas digitais,

gestão e empreendedorismo, respondendo diretamente à carência de mão de obra qualificada no setor.

Em seguida, a professora Linnyer Beatrys Ruiz Aylon, da Universidade Estadual de Maringá, trouxe uma palestra vibrante sobre tecnologias de fronteira, com ênfase no papel estratégico da microeletrônica no desenvolvimento nacional. Já a professora Stella Hiroki abordou a interseção entre semicondutores e cidades inteligentes, ampliando o olhar sobre a infraestrutura tecnológica dos espaços urbanos e seu potencial transformador.

TRABALHO, REQUALIFICAÇÃO E HUMANIDADE NO CENTRO

Fechando a programação, o painel Futuro do Trabalho e Evolução Tecnológica reuniu Glaucimar Peticov, especialista em gestão estratégica e em desenvolvimento humano; e Fernando Barra, fundador da startup SkillPlace, escritor e colunista da Rádio Nova Brasil FM; para uma conversa potente sobre re-skilling, inteligência artificial e o novo papel das lideranças no mundo digital. A troca foi marcada por olhares sensíveis sobre longevidade profissional, inclusão de gerações 50+ no mercado e a urgência de uma nova mentalidade nas relações de trabalho.

Ao longo de um dia inteiro de painéis, palestras e diálogos, o Softex Experience 2025 reafirmou seu papel como um espaço de articulação e convergência. O evento foi também um chamado à ação para todos os agentes que constroem, diariamente, a inovação no Brasil.

Fórum de encerramento do Programa IA² destaca protagonismo brasileiro na pesquisa em Inteligência Artificial

OFórum de encerramento do Programa IA², realizado durante o Softex Experience, reuniu participantes da iniciativa e especialistas de diferentes áreas para debater os avanços e os desafios da agenda da inteligência artificial no país.

O programa é uma iniciativa estratégica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), executado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com gestão operacional da Softex e recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

A primeira edição do IA², lançada em plena pandemia, já havia sido considerada um marco: 100 startups aceleradas e quase R$ 6 milhões em investimentos privados mobilizados. Agora, em sua segunda fase, o programa deu um salto qualitativo ao focar na base da inovação: a pesquisa científica.

Ao todo, foram acelerados 35 projetos de alto impacto, desenvolvidos em 14 estados brasileiros e em parceria com 28 Instituições

protagonismo no desenvolvimento e na aplicação da Inteligência Artificial”, disse Diônes Lima, vice-presidente da Softex.

Científicas e Tecnológicas (ICTs). A iniciativa buscou descentralizar a inovação, incentivar a produção de conhecimento estratégico e gerar soluções para desafios complexos em áreas como saúde, acessibilidade, indústria e transformação digital.

“A academia é o celeiro da inovação. O Fórum deixou claro que o Brasil tem talento, tem conhecimento e tem, sim, plenas condições de ocupar um lugar de

Participaram do fórum nomes de destaque do ecossistema de ciência e tecnologia, como Débora Peres Menezes, diretora de Avaliação de Resultados e Soluções Digitais do CNPq; a professora doutora Virgínia Chalegre, PhD em Acessibilidade Digital e Inclusão; Douglas Almeida, head de inovação do Hospital Albert Einstein em Goiânia; e Daniel Passarela, gestor de projetos de Lei de Informática na WEG Drives & Controls.

“Fica muito claro que a IA não é apenas uma tecnologia: é um vetor de transformação que já está redefinindo negócios, sociedades e a própria forma como vivemos e trabalhamos. Esse futuro precisa ser construído de forma colaborativa, ética, inclusiva e sustentável”, acrescenta o vice-presidente da Softex.

O encerramento do IA² durante o Softex Experience consolidou o programa como uma das principais políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da inteligência artificial no país, unindo academia, setor produtivo e Estado em torno de uma mesma missão: construir um Brasil mais inovador, competitivo e digital.

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MERCADO INTERNACIONAL

Brasil IT+ fecha primeiro semestre com negócios internacionais em alta

Oprimeiro semestre de 2025 foi marcado por expressivas conquistas para o projeto setorial Brasil IT+. Celebrando este ano duas décadas de atuação, o projeto comprova na prática seu papel estratégico na internacionalização de startups, empresas e Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), promovendo o acesso a mercados globais, atração de investimentos e aumento da competitividade das soluções tecnológicas nacionais.

Entre as ações de destaque deste semestre, quatro iniciativas se sobressaíram pelo impacto direto na geração de negócios e na ampliação da presença internacional das empresas brasileiras. A participação no Mobile World Congress (MWC) 2025, maior feira de conectividade e tecnologia do mundo, levou 23 empresas nacionais a Barcelona, resultando em 838 contatos comerciais e na geração de 430 leads qualificados. Todas as participantes avaliaram positivamente a ação, destacando o retorno estratégico da presença no evento.

Já o programa Soft Landing 2025, voltado à inserção estruturada de empresas brasileiras em ecossistemas de inovação no exterior, possibilitou que 15 companhias gerassem US$ 1,46 milhão em negócios a partir de 106 contatos estabelecidos. Com investimento médio de apenas US$ 4,9 mil por empresa, a ação mostrou uma excelente relação custobenefício.

A terceira iniciativa, o Programa de Internacionalização para a Alemanha, conectou nove empresas brasileiras ao ecossistema europeu, gerando 370 contatos e mais de US$ 2,3 milhões em negócios, com um investimento projetado de US$ 2,3 mil por empresa. A taxa de satisfação de 100% atesta mais uma vez a eficácia das ações promovidas pelo Brasil IT+.

Outra ação de destaque ocorreu no início de julho, durante a London Tech Week, com a participação de 12 empresas brasileiras em uma missão organizada com apoio institucional do Department for Business and Trade (DBT), do Reino Unido. Além da presença no principal evento de tecnologia britânico, a delegação participou de visitas técnicas ao Connected Places Catapult e ao polo de tecnologia de West Midlands. A programação também incluiu eventos de networking e sessões informativas sobre políticas públicas, incentivos e regulamentações para empresas estrangeiras interessadas em expandir seus negócios no país.

Com foco na geração de resultados concretos e na construção de conexões comerciais duradouras, o Brasil IT+ se firmou como uma das principais iniciativas estratégicas para o setor de tecnologia nacional. Ao oferecer um plano consistente de internacionalização, com alto retorno sobre investimento, o projeto segue impulsionando a inovação brasileira para além das fronteiras nacionais e abrindo novas oportunidades em mercados globais promissores.

Brasil apresentou sua capacitação em semicondutores na Alemanha

OBrasil marcou presença na 19ª edição do Silicon Saxony Day, realizado na área de exposições do aeroporto de Dresden, na Alemanha, no último dia 17 de junho. Focado em alta tecnologia, o encontro reuniu mais de 600 participantes entre executivos, engenheiros, pesquisadores, investidores e representantes públicos de diversos países.

A presença brasileira foi uma iniciativa do CHIP TECH Brasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com organização da Softex, que levou para o evento sete Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs). O objetivo foi apresentar os avanços do país na formação de talentos e na construção de um ecossistema nacional de inovação em semicondutores.

Com essa participação, o Brasil reforçou seu compromisso com a soberania tecnológica, o desenvolvimento científico e a inserção estratégica na economia global de alta tecnologia”, explica Alessandro Augusto Nunes Campos, Coordenador Geral de Tecnologias em Semicondutores da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital (SETAD) do MCTI.

O CHIP TECH Brasil tem como missão fomentar a capacitação de profissio nais altamente qualificados por meio de programas imersivos e especiali zados, realizados em diferentes estados brasileiros. Ele é desenvol vido em parceria com instituições de referência, buscando fortalecer a autonomia tecnológica do país e posi cionar o Brasil como um polo compe titivo e estratégico na cadeia global de semicondutores.

Entre as ICTs que represen taram o país no Silicon Saxony Day estão o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), o Instituto ELDORADO, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Universidade Esta dual de Campinas (Unicamp), a HWI Technology (HwiT), o iRede e a HBR.

Após o Silicon Saxony Day, a dele gação foi recebida pela equipe da X-Fab em Dresden para uma visita técnica. A atividade permitiu conhecer de perto a estrutura de uma das principais foundries inde pendentes da Europa, especializada na fabricação de chips para aplica ções críticas e de alta confiabilidade.

Na sequência, o grupo seguiu para Berlim, onde visitou as instalações do Instituto IHP, ponto alto da missão. A programação incluiu apresentações institucionais, troca de experiências sobre o ecossistema de semicondutores e discussões técnicas voltadas à construção de parcerias estratégicas entre o Brasil e a Alemanha.

Esses encontros marcaram apenas o início de novas possibilidades. As conexões estabelecidas e os diálogos construídos abrem caminho para futuras colaborações que podem impulsionar o Brasil a novos patamares na área de micro-

Mulheres ainda são minoria na liderança empresarial. Setor de TI é um dos que mais concentra barreiras

Segundo o relatório State of Women in Leadership, divulgado pelo LinkedIn, a desigual-

com queda média de 18% na participação feminina nesse movimento, conforme apontado pelo levanta-

45,7% no melhor cenário. Já em setores como construção civil, petróleo e gás, o índice chega a ser inferior a 15%. A queda na represen tatividade também é acentuada entre gerações mais antigas: entre os chamados “Baby Boomers”, mulheres representam apenas 18,4% da lide rança, enquanto entre a Geração Z, esse número sobe para 36%, ainda assim abaixo da equidade.

Para reverter esse quadro, o relatório sugere medidas práticas como a adoção de metas de diversidade em cargos de chefia, programas internos de mentoria, revisão dos processos de promoção e incen tivo à liderança feminina desde os níveis iniciais da carreira. Polí ticas de apoio à parentalidade,

OBSERVATORIO SOFTEX

Por Mário Pereira

Observatório Softex aponta caminhos para reverter o cenário da fuga de talentos em TI

ATecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no Brasil

não tem acompanhado a crescente demanda do mercado — e o cenário se agrava com a fuga constante de talentos qualificados para o exterior. Esse é o alerta do novo artigo “Formação no Setor de TIC e Fuga de Cérebros: Desafios e Perspectivas para o Desenvolvimento Tecnológico”, da série Observando, publicada pelo Observatório Softex, unidade de pesquisa e inteligência estratégica que apoia a formulação de políticas públicas para o setor. Com base em dados de fontes confiáveis, o estudo analisa os gargalos na formação, retenção e migração de talentos e aponta caminhos para enfrentar esse desafio, destacando a importância de uma articulação mais efetiva entre universidades, setor produtivo e governo.

FUGA DE CÉREBROS:

UMA AMEAÇA SILENCIOSA

“A fuga de cérebros no setor de TIC reflete o apetite global por profissionais altamente qualificados, especialmente em uma indústria tão estratégica”, explica Rayanny Nunes, Coordenadora de Inteligência e Design de Soluções da Softex. Ela ressalta que países em desenvolvimento formam talentos que acabam atuando em economias mais avançadas, o que representa uma perda significativa de capital humano. “Trata-se de um fenômeno multifacetado, impulsionado por desigualdades estruturais e motivado por fatores como melhores condições de trabalho, reconhecimento profissional, qualidade de vida e acesso a oportunidades de pesquisa e inovação.”

Diferenças salariais, baixos investimentos em P&D, falta de valorização e infraestrutura precária estão entre as principais causas da evasão de talentos, segundo o levantamento. As consequências são profundas: a perda de profissionais qualificados reduz a capacidade de inovação, desestimula investimentos estratégicos e aumenta a dependência de tecnologias estrangeiras. O estudo chama atenção ainda para o crescimento da migração de especialistas em áreas de ponta como inteligência artificial - incluindo um número crescente de mulheres - especialmente em regiões como a América do Sul, enquanto países como Canadá, Alemanha e Japão registram saldos positivos na atração de talentos.

5 CAMINHOS PARA REVERTER O CENÁRIO

Para o Brasil, os desafios são ainda maiores. O país aparece nas últimas posições de rankings internacionais de competitividade digital, com fraco desempenho em habilidades digitais e pouca atratividade para profissionais estrangeiros. O estudo destaca a necessidade urgente de políticas públicas que fortaleçam a formação especializada, promovam a valorização dos profissionais e criem condições estruturais para que eles permaneçam e prosperem no país. A retenção é apontada como um desafio estratégico que depende de cinco pilares: educação de qualidade, desenvolvimento profissional, remuneração competitiva, qualidade de vida e políticas públicas eficazes.

Embora a remuneração seja um fator central, o estudo ressalta que outros aspectos como estabilidade, benefí-

cios, flexibilidade e reconhecimento são igualmente decisivos. Políticas públicas bem estruturadas podem transformar a evasão em circulação produtiva de conhecimento, como demonstram os exemplos de países como Índia e Cingapura. No Brasil, instrumentos como a Lei do Bem e a Lei de Informática são importantes, mas ainda há espaço para ampliar a digitalização e a competitividade do setor.

O levantamento deixa claro que mais do que conter a evasão, o Brasil precisa se tornar um país onde talentos queiram permanecer, crescer e inovar, se posicionando como protagonista na economia digital global”, conclui Rayanny Nunes.

Neste cenário, governos, empresas e instituições de ensino devem agir de forma articulada, com investimentos em inovação, currículos modernos, planos de carreira atrativos e ambientes de trabalho conectados às tendências tecnológicas.

Clique aqui e baixe a íntegra do artigo

SOFTEX AMAZONIA

Softex Amazônia participou das primeiras etapas da Jornada de Integração Regional da Suframa

As cidades de Presidente Figueiredo e Anori, no Amazonas, e Boa Vista, em Roraima, sediaram, no primeiro semestre deste ano, as três primeiras etapas da Jornada de Integração Regional promovida pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). A ação integra o Plano de Integração Regional e de Interiorização do Desenvolvimento (PIRD), que tem como objetivo impulsionar o crescimento econômico da região, com o apoio de instituições como o Banco da Amazônia (Basa), a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e outras entidades estaduais.

A coordenadora da Softex Amazônia, Emanuela Dias, participou de todas as etapas apresentando o Programa Prioritário de Fomento ao Empreendedorismo Inovador (PPEI), desenvolvido em parceria com a Suframa.

Nossa meta é transformar a Amazônia Ocidental e o Amapá em polos de empreendedorismo e inovação, gerando oportunidades sustentáveis que valorizem as vocações e talentos locais. Ao promover inovação e desenvolvimento, buscamos gerar um impacto positivo de longo prazo”, afirmou.

Nos últimos cinco anos, o PPEI mobilizou 21 empresas incentivadas pela Lei de Informática (Lei nº 8.387/1991), com a execução de 44 projetos em quatro estados da Amazônia Ocidental e no Amapá. Essas iniciativas impactaram diretamente 258 startups e mais de 70 agentes do ecossistema de inovação, alcançando de forma indireta mais de 7,7 milhões de pessoas.

Durante os encontros, a Suframa também disponibilizou um profissional para esclarecer dúvidas sobre cadastro na autarquia, incentivos fiscais vigentes, mudanças previstas com a reforma tributária e oportunidades de negócios voltadas à pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), além de outras ações relacionadas ao desenvolvimento regional.

ACONTECE NO SETOR

Publicada a versão final do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA)

OBrasil acaba de dar mais um passo decisivo para consolidar sua posição no cenário global da inteligência artificial. Foi publicada a versão final do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), documento estratégico coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) no âmbito do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), com apoio técnico do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). O plano orienta o desenvolvimento ético, seguro e sustentável da IA no país e prevê investimentos de até R$ 23 bilhões nos próximos quatro anos.

Com foco em inovação e soberania tecnológica, o PBIA estabelece diretrizes que vão da promoção da pesquisa científica e formação de talentos até a criação de marcos regulatórios que garantam transparência, segurança e proteção de dados. O plano também incentiva o uso da IA no setor público, com o objetivo de melhorar serviços essenciais e fortalecer políticas públicas baseadas em evidências.

Uma das metas mais ambiciosas do documento é a aquisição de um dos cinco supercomputadores mais potentes do mundo. A iniciativa deve ampliar consideravelmente a capacidade nacional de processamento de dados, abrindo caminho para avanços em áreas como saúde, educação, meio ambiente e segurança pública — todas com aplicações cada vez mais impulsionadas por IA.

Mais do que um plano técnico, o PBIA é resultado de um processo colaborativo que envolveu governo, academia e setor produtivo. “Não desejamos simplesmente importar soluções; queremos desenvolvê-las aqui, por brasileiros e para brasileiros, considerando nossas particularidades sociais, culturais e econômicas”, afirma a ministra Luciana Santos na apresentação do documento.

ABES discute governança e uso ético da IA em evento

Opresidente da Associação

Brasileira das Empresas de Software (ABES), Andriei Gutierrez, participou em junho do 12º Congresso Internacional de Compliance, em painel sobre o uso responsável da inteligência artificial (IA). O debate reuniu também líderes empresariais como Paulo Gandolfi, diretor-presidente da multinacional 3M, e Alexandre Riccio de Oliveira, executivo-chefe do Banco Inter, sob a mediação de Alessandra Gonsales, da LEC (Legal, Ethics & Compliance).

Durante a discussão, Gutierrez abordou os desafios enfrentados pelas empresas na adoção da IA, com ênfase em práticas de conformidade e maturidade digital. Segundo ele, a digitalização é um processo que avança de forma desigual entre grandes corporações e pequenas e médias empresas, mas pode ser impulsionada por ferramentas de gestão empresarial (como sistemas ERP e CRM), estratégias de dados consistentes e governança estruturada.

O dirigente também destacou o papel da cultura organizacional na incorporação da inteligência artificial, apontando que a transformação exige o envolvimento direto da alta liderança, em um processo de longo prazo. De acordo com ele, a mudança cultural associada ao uso ético da IA pode levar até sete anos para se consolidar dentro das organizações.

Outro ponto enfatizado foi a necessidade de mecanismos de conformidade desde os estágios iniciais da adoção tecnológica. Isso inclui a atenção à proteção de dados, respeito à propriedade intelectual e controle sobre as saídas produzidas por sistemas automatizados. A ABES, segundo Gutierrez, tem oferecido capacitações gratuitas sobre o tema, com foco em tecnologia e responsabilidade no uso da IA, voltadas a seus associados e colaboradores.

Brasil ganha Observatório Nacional de Blockchain para mapear e fomentar a tecnologia

Com o lançamento do Observatório Nacional de Blockchain, plataforma que reúne informações sobre iniciativas, pesquisas e aplicações da tecnologia no país, o Brasil deu um novo passo na organização e desenvolvimento desse ecossistema. A proposta é oferecer um panorama atualizado do setor e estimular a adoção do Blockchain em diferentes segmentos da economia e do governo.

A criação do Observatório é fruto do Projeto Ilíada, desenvolvido pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e pelo CPQD, com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), no âmbito do programa PPI-Softex. A iniciativa foi inspirada em modelos similares existentes na Europa e tem como objetivo conectar governo, universidades e setor privado para fortalecer o desenvolvimento da tecnologia no Brasil.

Entre os principais recursos da plataforma estão um mapa interativo de iniciativas que mapeia startups, centros de pesquisa e projetos públicos; uma seção de casos de uso reais; e um conjunto de indicadores do setor, elaborado em parceria com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). Esses dados permitem acompanhar a evolução da tecnologia no país, tanto no meio acadêmico quanto no mercado.

O Observatório também oferece um espaço dedicado à curadoria de conteúdos, incluindo artigos, vídeos, relatórios e oportunidades acadêmicas. Além disso, será criada uma Comunidade de Especialistas em Blockchain, que promoverá encontros virtuais e discussões em grupo por meio do LinkedIn, favorecendo a troca de experiências e a formação de redes de colaboração.

De acordo com Leandro Ciuffo, diretor adjunto da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da RNP, a proposta foi idealizada pela professora Fabiola Greve, da UFBA, e visa ser um repositório público e confiável sobre Blockchain no Brasil, promovendo o diálogo entre os diferentes agentes desse ecossistema.

A tecnologia Blockchain, frequentemente associada à Web 3.0, funciona como um banco de dados descentralizado, que registra informações de forma imutável e segura. No Brasil, já existem aplicações práticas como a emissão de diplomas digitais pela RNP e a Carteira de Identidade Nacional, que utiliza Blockchain para garantir a autenticidade dos dados.

Seguro cibernético dispara com avanço dos ataques digitais

Aprocura por proteção financeira diante de crimes digitais cresceu de forma expressiva no Brasil. De acordo com dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o segmento de Seguro para Riscos Cibernéticos acumulou alta de 475,1% em arrecadação nos últimos cinco anos, saltando de R$ 41,3 milhões em 2020 para R$ 237,5 milhões em 2024. O aumento dos ataques e a sofisticação das ameaças, impulsionadas por avanços tecnológicos e pela inteligência artificial, têm levado empresas de diferentes tamanhos a contratar esse tipo de cobertura.

O seguro cobre uma ampla gama de prejuízos causados por ciberataques, incluindo extorsão, perda de receitas, vazamento de dados, uso indevido de informações e violações de direitos de privacidade. A adesão ao produto também se relaciona à expansão da inteligência artificial generativa, que amplia os vetores de ataque e a complexidade dos riscos. Não se limitando às indenizações, as seguradoras têm oferecido pacotes que incluem monitoramento contínuo e gerenciamento proativo de ameaças, por meio de parcerias com empresas especializadas em cibersegurança.

Para apoiar o setor, a CNseg mantém o Sistema de Compartilhamento de Incidentes Cibernéticos (CIC), responsável por emitir alertas a partir do monitoramento de ameaças digitais. Em 2024, o sistema já emitiu 110 notificações, sendo 65%

referentes a falhas como malwares, ransomwares (sequestro de dados) e vulnerabilidades do tipo “zero-day” — falhas ainda não corrigidas. O restante dos alertas veio de observações do cenário global por seguradoras associadas, permitindo antecipar possíveis impactos no mercado local.

A atuação do CIC tem permitido uma resposta mais rápida das empresas diante de vulnerabilidades, com medidas imediatas como isolamento de sistemas e aplicação de correções.

Segundo André Vasco, diretor de Serviços às Associadas da CNseg, a centralização das informações tem contribuído para a redução de custos operacionais e para o cumprimento mais eficiente da legislação de proteção de dados. O aumento expressivo na emissão de alertas em 2024 confirma a crescente exposição das empresas e a necessidade de ampliar mecanismos de defesa digital.

ARTIGOS

IA e soluções de visão computacional impulsionam a hiperpersonalização financeira no setor automotivo

Com a alta demanda por experiências personalizadas, a hiperpersonalização financeira no setor automotivo tem sido impulsionada por soluções avançadas de Inteligência Artificial (IA) e Visão Computacional. Essas tecnologias proporcionam uma abordagem mais precisa e eficiente na oferta de serviços financeiros, auxiliando na reformulação das estratégias de concessão de crédito, precificação de seguros e avaliação de riscos no setor automotivo.

A IA tem permitido a análise avançada de grandes volumes de dados, identificando padrões de comportamento financeiro e de consumo de indivíduos e empresas. A partir dessas análises, é possível oferecer produtos financeiros altamente personalizados, como condições de financia-

mento sob medida, taxas de juros dinâmicas e seguros ajustados ao perfil do condutor. A capacidade da IA de correlacionar dados de diferentes fontes, incluindo histórico de crédito, comportamento de direção e perfis socioeconômicos, resulta em uma abordagem mais precisa e menos propensa a erros manuais ou generalizações excessivas.

Por sua vez, a Visão Computacional desempenha um papel essencial na avaliação de condições de veículos e na identificação de padrões que impactam a precificação de seguros e financiamentos. Por meio da análise de imagens e vídeos, algoritmos avançados são capazes de detectar desgastes, avaliar o estado de conservação do automóvel e estimar seu valor de mercado com alto grau de precisão.

Em adição, a integração da Visão Computacional com sistemas de telemetria avançados possibilita a oferta de seguros baseados no uso (UBI, do inglês Usage-Based Insurance). Nesse modelo, o comportamento do motorista é monitorado em tempo real por sensores IoT instalados no veículo, permitindo ajustes dinâmicos nos valores dos prêmios de seguro conforme o estilo de condução do usuário. Com isso, condutores prudentes são beneficiados com tarifas mais baixas, promovendo uma relação mais justa e transparente entre seguradora e cliente.

A hiperpersonalização financeira também se estende à concessão de crédito automotivo, na qual a IA permite uma avaliação de risco mais granular e inclusiva. Em vez de depender exclusivamente de métodos tradicionais, como scores de crédito convencionais, modelos baseados em aprendizado de máquina conseguem analisar um espectro mais amplo de informações, incluindo dados alternativos, como comportamento de pagamento de contas de serviços, interações em redes sociais e análises transacionais. Isso amplia o acesso ao crédito para indivíduos que antes não eram contemplados pelos sistemas tradicionais de avaliação financeira.

Estudos de mercado indicam que empresas que adotam soluções baseadas em IA e Visão Computacional conseguem reduzir significativamente a inadimplência e melhorar a precisão na concessão de serviços financeiros. Um levantamento da McKinsey apontou que a digitalização na análise de crédito pode reduzir em até 30% os custos operacionais de

instituições financeiras, ao mesmo tempo em que melhora a experiência do consumidor, reduzindo o tempo de aprovação de financiamentos e seguros.

O avanço dessas tecnologias também impacta positivamente a prevenção de fraudes, um desafio recorrente no setor automotivo. A Visão Computacional pode ser empregada na verificação de documentos e no reconhecimento biométrico para autenticar identidades de compradores, reduzindo o risco de fraudes em processos de financiamento e emissão de apólices. Dessa forma, a confiabilidade das transações aumenta, proporcionando maior segurança tanto para instituições financeiras quanto para os consumidores.

Por fim, podemos observar que a combinação entre as tecnologias está tornando o setor mais ágil, seguro e centrado no cliente. Com soluções que permitem uma análise minuciosa do perfil do consumidor e do veículo, caminhamos para um modelo de serviços altamente customizados, nos quais a precisão e a eficiência garantem uma experiência superior para todas as partes envolvidas. A tendência é que essas inovações continuem a evoluir, impulsionando ainda mais a hiperpersonalização e transformando a maneira como os serviços financeiros são ofertados no mercado automotivo.

Por Mauricio Finotti

CEO da I-SENSI, líder do Comitê de Manufatura da ABINC e articulador da iniciativa Open Industry em projetos de transformação digital voltados à Indústria 4.0, Agritech e Logística Inteligente

Open Industry: a vanguarda para a economia de dados confiável e segura para a indústria brasileira

Atransição para o novo paradigma da economia data-driven impõe às organizações desafios intrínsecos à extração de valor a partir de big data, enquanto se navega por um complexo arcabouço regulatório que inclui privacidade de dados (e.g., GDPR, LGPD), segurança cibernética e soberania digital. Nesse contexto, os Data Spaces emergem como uma resposta arquitetônica e estratégica, provendo ambientes colaborativos federados com governança distribuída e infraestrutura tecnológica robusta, onde o intercâmbio de dados entre stakeholders distintos é facilitado de maneira segura, padronizada e com garantia de controle soberano por parte dos data owners.

Um espaço de dados é a soma de todos os endpoints que são capazes de compartilhar dados entre si.

Arquitetura federada de dados:

• Sem integração física dos dados – os dados permanecem em seu local de origem

Interoperabilidade:

• Sem silos, sem dependência de fornecedor

• Soberania e rastreabilidade dos dados

• Participantes confiáveis

Evolução dos Data Spaces - Ecossistema em expansão

FUNDAMENTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÕES REGIONAIS

Inspirados por iniciativas paneuropeias como o GAIA-X e os princípios da International Data Spaces Association (IDSA), os Data Spaces estabelecem os pilares para uma economia de dados trusted, fomentando inovação incremental e disruptiva, transparência algorítmica e a criação de novos modelos de negócios baseados em dados. No Brasil, essa visão é catalisada pela iniciativa Open Industry, liderada pela ABINC (Associação Brasileira de Internet das Coisas), que propõe o desenvolvimento de um espaço nacional de dados com foco inicial em setores estratégicos como a indústria 4.0, agronegócio, logística e saúde.

PARALELO COM OPEN FINANCE E APLICAÇÕES SETORIAIS

A proposta da Open Industry mimetiza a arquitetura e os princípios do Open Finance, regulamentado e operado pelo Banco Central. O objetivo é viabilizar o compartilhamento voluntário e seguro de datasets relevantes, tais como indicadores de

produtividade de ativos (OT/IT), telemetria de consumo energético, registros de falhas operacionais, métricas logísticas, emissões de carbono e, no setor de saúde, registros clínicos anonimizados. Este compartilhamento é orquestrado por meio de contratos inteligentes (smart contracts), transformando dados brutos em ativos informacionais acessíveis para inovação colaborativa, otimização da eficiência operacional e aprimoramento de serviços digitais.

• Indústria: empresas podem compartilhar dados de performance de ativos (APM) com fornecedores, startups ou centros de P&D, impulsionando o desenvolvimento de algoritmos preditivos para manutenção (PdM), redução de downtime e otimização energética.

• Agronegócio: o acesso a dados integrados de clima, solo, produtividade de culturas e logística entre produtores, agritechs e cooperativas possibilita tomadas de decisão mais assertivas e sustentáveis, elevando a competitividade global da produção agrícola brasileira.

• Logística: a integração de datasets entre transportadoras, operadores de armazéns, terminais portuários e embarcadores, via Data Space, pode mitigar gargalos operacionais, antecipar disrupções na cadeia de suprimentos e otimizar o planejamento de rotas e alocação de recursos. A inteligência de dados resultante aprimora a previsibilidade logística, reduz custos operacionais (OpEx) e eleva o nível de serviço ao cliente final.

• Saúde: o potencial dos Data Spaces é vasto para pesquisa, gestão hospitalar e formulação de políticas públicas de saúde. Contudo, este setor exige conformidade rigorosa com a LGPD. O modelo da Open Industry prioriza o uso de dados pseudoanonimizados ou anonimizados, controle granular pelos titulares e cláusulas contratuais de uso que asseguram a aderência legal. Isso permite que, por exemplo, hospitais compartilhem dados agregados de atendimentos com órgãos governamentais ou instituições acadêmicas para estudos de epidemiologia, eficiência de tratamentos ou aprimoramento de protocolos clínicos, desenvolvimento de modelos para diagnóstico por IA, sem comprometer a privacidade do paciente.

ARQUITETURA E COMPONENTES DE UM DATA SPACE

A operação de um Data Space é fundamentada em uma arquitetura de referência bem definida, com papéis e responsabilidades claros

para garantir a segurança, interoperabilidade e governança dos dados compartilhados.

• Provedores de Dados (Data Providers): organizações que detêm e disponibilizam as informações (e.g., indústrias, hospitais, cooperativas agrícolas, empresas de logística). Exercem autonomia sobre quais dados compartilhar, com quem e sob quais condições, formalizadas via contratos digitais.

• Consumidores de Dados (Data Consumers): empresas, startups, centros de pesquisa ou entidades públicas autorizadas a acessar e utilizar os dados para desenvolver soluções, análises ou serviços.

• Operador do Data Space: entidade (pública, privada ou consórcio setorial) responsável por manter a infraestrutura tecnológica e a governança do ecossistema. Garante a aplicação de padrões de interoperabilidade, segurança da informação (confidencialidade, integridade, disponibilidade), autenticação e autorização de participantes (IAM) e rastreabilidade (data provenance) do uso dos dados.

COMPONENTES TECNOLÓGICOS-CHAVE:

• IDS Connectors: implementam o padrão internacional de comunicação segura, descentralizada e auditável entre os participantes, baseado em protocolos de segurança e interoperabilidade.

• Catálogos de Dados (Data Catalogs): repositórios onde os data providers publicam as ofertas de dados disponíveis, com metadados detalhados para facilitar a descoberta e o acesso.

• Contratos de Uso de Dados Dinâmicos (Dynamic Data Usage Contracts): automação das permissões e condições de uso dos dados, baseadas em políticas de acesso definidas em tempo real e executadas via smart contracts ou frameworks de policy enforcement.

Essa arquitetura modular e descentralizada assegura que o compartilhamento de dados ocorra de forma ética, segura e sob o controle do data owner, viabilizando a construção de um mercado de dados confiável e soberano.

DESAFIOS E PERSPECTIVAS FUTURAS

A implementação de Data Spaces enfrenta desafios significativos, que incluem:

• Padronização Semântica: necessidade de ontologias e vocabulários controlados para garantir a interpretação unívoca dos dados.

• Infraestrutura Interoperável: exigência de sistemas que possam se comunicar e trocar dados de forma transparente, independentemente das plataformas subjacentes.

• Contratos Digitais Dinâmicos: desenvolvimento e validação de smart contracts que codifiquem com precisão as permissões e restrições de uso dos dados.

• Tecnologias de Segurança: implementação de soluções avançadas para criptografia, autenticação multifator, e controle de acesso baseado em atributos (ABAC).

• Cultura de Colaboração: fomento de uma mentalidade de inovação aberta e compartilhamento de riscos e benefícios, no qual o dado é visto como um ativo coletivo.

A Open Industry atua como um articulador estratégico no Brasil, conectando-se a redes internacionais, academia e empresas nacionais. Seu objetivo é democratizar o acesso aos benefícios da economia de dados, garantindo a soberania digital, inovação aberta e estrita observância à legislação brasileira, particularmente no que tange à privacidade, confidencialidade e uso ético das informações.

À medida que o futuro se desenha mais conectado e intrinsecamente orientado por dados, os Data Spaces consolidam-se como uma infraestrutura digital essencial para o destravamento de valor, a aceleração da transformação digital e a construção de ecossistemas mais resilientes, eficientes e colaborativos. Para a indústria, o agronegócio, a logística e a saúde, isso representa uma oportunidade ímpar de evolução tecnológica e estratégica, impulsionando um Brasil mais competitivo, sustentável e digital.

EVENTOS

Startups que pensam global desde o início atraem mais capital e crescem mais rápido

Durante o Campinas Innovation Week, realizado no início do mês de junho, o estande do iRede recebeu a coordenadora de Inteligência e Design de Soluções da Softex, Rayanny Nunes, para uma palestra que trouxe uma provocação importante: “Inovação Sem Fronteiras: Por que sua Startup Precisa Pensar Global”.

Lembrando que 25% das startups morrem com menos de um ano de vida, e metade não sobrevive aos primeiros quatro anos, Rayanny comentou que focar apenas no mercado local pode comprometer até mesmo a sobrevivência das startups.

Mais de 90% das startups brasileiras ainda miram apenas o mercado nacional. Enquanto isso, o investimento global em startups foi de US$ 285 bilhões em 2023, contra apenas US$ 1,3 bilhão no Brasil”, destacou Rayanny.

Mais do que exportar, internacionalizar é repensar a base do negócio. Isso envolve desde o desenvolvimento de produtos com aderência internacional até a atração de talentos remotos, a busca por investidores globais e a inserção em ecossistemas de inovação fora do país. Empresas com essa mentalidade desde o início — as chamadas Born Global — são mais inovadoras, atraem mais capital, escalam mais rápido e usam tecnologia de forma estratégica para criar diferenciais competitivos.

SOLUÇÃO BRASILEIRA PARA O MUNDO

Um caso de sucesso citado por Rayanny foi o da brasileira Pipefy, com sua plataforma de gerenciamento de projetos e automação de fluxos de trabalho. A empresa foi fundada em Curitiba com uma missão ousada: não ser uma solução para o Brasil, mas para o mundo. Nos primeiros meses de operação, a startup já produzia conteúdo em inglês e adotava uma postura internacional, mesmo antes de ter clientes fora do país. A virada de chave veio

com a participação no programa da 500 Startups, no Vale do Silício, onde o produto foi testado e validado com empresas globais.

Hoje, a Pipefy atua em mais de 150 países e tem na carteira nomes como IBM, Santander e Visa. A startup mostra que é possível pensar global mesmo com recursos limitados — mas exige clareza, consistência e uma cultura corporativa pronta para dialogar com o mundo. Entre as práticas que fizeram a diferença estão o marketing multilíngue, a participação em eventos internacionais e o investimento em um time fluente em inglês.

Antes de concluir, Rayanny apresentou estratégias práticas para a entrada em novos mercados e destacou as oportunidades do Brasil IT+, iniciativa da Softex em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). O programa apoia empresas brasileiras de tecnologia no processo de internacionalização, oferecendo suporte em ações comerciais, promoção de imagem e acesso a mercados estratégicos.

Ela também reforçou que a internacionalização não deve ser tratada como uma etapa final, mas sim como parte do planejamento desde o início. “Não espere estar grande para pensar global. O pensamento global deve nascer com a ideia, com o pitch, com o site, com o time”, concluiu.

CI

Expert é lançado em Brasília para impulsionar a formação em microeletrônica no Brasil

Com foco na formação de mão de obra especializada e no fortalecimento da indústria nacional de semicondutores, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou, em 9 de julho, em Brasília, o Programa CI Expert. A iniciativa, desenvolvida em parceria com a Softex, visa capacitar 468 profissionais em microeletrônica e no desenvolvimento de circuitos integrados, alinhando-se à estratégia de reduzir a dependência externa na produção de chips.

Participaram da solenidade, entre outras autoridades, Hamilton José Mendes da Silva, Diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital (DECTI) do MCTI; Alessandro Augusto Nunes Campos, coordenador-geral de Tecnologias em Semicondutores (CGSM) do MCTI; Ruben Delgado, presidente da Softex; professor Wally Menezes, reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE); Michetl Bonfim, diretor de operações do Instituto iRede; professor Camilo Allyson Simões de Farias, reitor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG); professor Marcel Parentoni, reitor da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI); professor Daniel Monteiro Rosa, presidente da Finatec; professor Márcio Muniz de Farias, vice-reitor da Universidade de Brasília (UnB); professora Fernanda Gusmão de Lima Kastensmidt, coor-

denadora do Programa de Pós-Graduação em Microeletrônica (PGMICRO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e Nilson Diniz, prefeito do Cedro.

Nos últimos anos, o Brasil tem intensificado esforços no estratégico setor de microeletrônica e semicondutores com o objetivo de ampliar sua competitividade, formar talentos, fomentar o empreendedorismo e a inovação, e assim acelerar a sua inserção na revolução tecnológica impulsionada pela transformação digital”, afirmou Henrique de Oliveira Miguel, Secretário de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital do MCTI.

O CI Expert terá abrangência nacional, com foco especial nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, e será executado em parceria com instituições de ensino e pesquisa reconhecidas, como o Instituto iRede, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).

30% DAS VAGAS SÃO

DESTINADAS A MULHERES

O modelo de ensino combina formação teórica e prática, com atividades hands-on, projetos aplicados e imersão em empresas da cadeia produtiva. A formação terá duração de 24 meses, com corpo docente especializado, laboratórios de ponta e parcerias estratégicas com empresas nacionais e internacionais do setor.

Além de promover a descentralização e o avanço da indústria de alta tecnologia no país, o programa também se compromete com a diversidade de gênero, destinando 30% das vagas a mulheres, ampliando a representatividade feminina em um setor historicamente masculino.

A microeletrônica é um setor estratégico para o desenvolvimento tecnológico do Brasil, que tem potencial para se tornar um polo global no segmento. A capacitação de profissionais altamente qualificados é essencial para o fortalecimento da cadeia produtiva nacional. O Programa CI Expert contribuirá significativamente para a formação de especialistas que impulsionarão a inovação e a competitividade da indústria brasileira”, destacou Ruben Delgado, presidente da Softex.

O público-alvo do programa inclui alunos e graduados de áreas como Engenharia Elétrica, Computação, Automação, Física, Matemática, Estatística, entre outras. A seleção dos participantes será realizada por meio de processo seletivo rigoroso, garantindo alinhamento dos perfis aos objetivos da iniciativa.

Setor estratégico para o futuro do país, a indústria brasileira de semicondutores movimenta mais de US$ 1 bilhão por ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (ABISEMI). O setor acumula ainda investimentos de US$ 2,5 bilhões em infraestrutura e equipamentos, além de mais de R$ 800 milhões em pesquisa e desenvolvimento (P&D), gerando patentes e know-how tecnológico nacional.

PARA SABER MAIS SOBRE O PROGRAMA, CLIQUE AQUI

Summit Rio 2025

Aequipe de pesquisadores do Observatório Softex esteve presente na edição 2025 do Web Summit Rio — o maior encontro de tecnologia, inovação e empreendedorismo da América Latina — acompanhando de perto os debates e movimentos que vêm redefinindo o setor. Ao longo dos três dias do evento, o grupo produziu análises em tempo real e captou insights estratégicos sobre as principais tendências em destaque. Confira seis deles:

1

A nova era da Inteligência Artificial: de agentes a robôs físicos

A palestra de Marcio Aguiar, diretor da NVIDIA, revelou a evolução da IA

rumo à chamada Physical AI, com robôs inteligentes atuando no mundo real. Ele destacou os pilares fundamentais para adoção estratégica da IA e anunciou um novo data center da NVIDIA no Rio, reforçando a infraestrutura nacional.

2

IA em tempo real e chips de alta performance

Chris Stephens, da Groq, apresentou os GroqChips, processadores com baixa latência e alta velocidade para IA em tempo real. A empresa aposta em chatbots e veículos autônomos, estando alinhada ao estudo do Observatório Softex que prevê que a IA generativa pode gerar até US$ 4,4 trilhões de impacto econômico global.

A inteligência artificial transformando o setor financeiro

Executivos do PicPay e da Traive demonstraram como a IA já é um diferencial competitivo. Com mais de 50% dos atendimentos automatizados, o PicPay reforça a eficiência operacional. Já a Traive utiliza IA para facilitar o acesso a crédito no agronegócio, evidenciando o avanço do Open Finance.

Diversidade como estratégia de inovação

No painel liderado por Amanda Graciano, CEO da Trama; Camila Moletta, Co-founder & CEO da MORE GRLS; Grazi Sbardelotto, VP de Marketing Cloud da Pmweb; e Catarina Burguete, que atua no suporte a comunidades do Women in Tech Brasil, a equidade de gênero foi defendida como elemento essencial para competitividade. Dados do estudo “W-Tech”, do Observatório Softex, mostram que as mulheres ainda representam apenas 16,5% das matrículas em cursos de TI e recebem 15,6% a menos que os homens, reforçando a urgência por mudanças estruturais.

IA aplicada à ciência e pesquisa

Patrícia Florissi, do Google Cloud, destacou como a IA está acelerando descobertas em áreas como meteorologia e química, por meio de ferramentas como o AlphaFold 3 e a plataforma Vertex AI. O Google também anunciou a meta de capacitar 1 milhão de brasileiros em IA e nuvem, reforçando a ligação entre tecnologia e formação de talentos.

Educação transformada por IA

Com foco em inclusão digital, a IA foi apresentada como aliada na redução de desigualdades educacionais. O app Buddy.ai mostrou como um tutor virtual pode democratizar o ensino de inglês para crianças. Já a Microsoft Brasil reforçou que a IA pode empoderar professores, promovendo uma educação mais personalizada e acessível.

Estudos gratuitos sobre IA

A inteligência artificial foi, sem dúvida, o grande eixo temático do Web Summit Rio 2025, permeando a maioria das palestras, painéis e discussões ao longo dos três dias de evento.

O Observatório Softex já vinha antecipando muitas dessas tendências em seus estudos recentes sobre o impacto da inteligência artificial — todos disponíveis para download gratuito aqui. 3 4 5 6

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