Livro Karsten 130 anos

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Enchentes da vida

E

m 1983 não parava de chover. Nós já estávamos acostumados a enfrentar enchente na Rua Alberto Stein, Bairro da Velha. Compramos água e comida antes que a situação se agravasse. Como morávamos em uma casa de dois andares nos sentíamos mais seguros, mas a água não parava de subir. Minha mãe estava sozinha com cinco filhos apavorados, pois o meu pai tinha ido embora de casa. Quando a água chegou ao teto do primeiro piso, começamos a ficar com muito medo. Não tinha mais o que fazer a não ser ter fé. O dia amanheceu e fomos resgatados por uma bateira. O perigo era grande, nossas cabeças quase encostavam nos fios de alta tensão dos postes na rua. Durante uma semana ficamos em um abrigo da Igreja Luterana, pois não nos sobrou nada. Voltar para casa era um sonho muito distante.

Estávamos completamente isolados. Toda a cidade estava debaixo da água, para todos os lados que olhávamos só víamos sujeira e lama.

Estávamos completamente isolados e naquela época não existia a facilidade da Internet e celular para nos comunicarmos. Toda a cidade estava debaixo da água, para todos os lados que olhávamos só víamos sujeira e lama. Quando a água baixou um pouco conseguimos um táxi e fomos para casa de parentes. Recebemos carinho e aconchego, comida feita no fogão à lenha e roupas limpas. Coisas muito simples, mas que nos fizeram muita falta. Tivemos que recomeçar e depois recomeçar mais uma vez, quando veio a enchente de 1984. Aprendi que as enchentes da vida são necessárias para o nosso crescimento.

Rosana Solange Kienen Ambulatório

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