Revista Super Saudável - ed. 82 | O perigo das SUPERBACTÉRIAS

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tência antimicrobiana depletamos totalmente a microbiota dos animais em tratamento com um coquetel de antibióticos e antifúngico, para observar se os efeitos benéficos se mantêm, ou utilizamos a estratégia de transferência da microbiota dos animais, sob tratamento ou não, para outros isentos de microbiota (germ-free), com objetivo de avaliar o impacto dessa modulação nas respostas inflamatórias de interesse”, explica. O grupo já conseguiu demonstrar que, ao induzir disbiose nos camundongos por meio de uma dieta pobre em fibras, os animais ficam mais susceptíveis à pneumonia induzida pela superbactéria Klebsiella pneumoniae, mundialmente conhecida por ser a maior fonte de mecanismos de resistência a antibióticos e um dos principais agentes causadores de pneumonia – com maior associação a óbitos pela doença, principalmente em indivíduos hospitalizados. Encontrada naturalmente na microbiota intestinal da maioria dos indivíduos, a Klebsiella pneumoniae não causa nenhum dano aparente, mas, em situação de disbiose, pode vir a ser patogênica. Nos estudos da UFMG, tan-

tado mais importante do estudo é que a combinação de tobramicina e probióticos encapsulados foi capaz de erradicar completamente os dois patógenos. “Quando aplicamos a tobramicina aos patógenos, apenas a Pseudomonas foi erradicada, e o Staphylococcus foi capaz de persistir. Mas, quando adicionamos probióticos encapsulados dentro de pérolas de alginato protegidas da tobramicina conseguimos erradicar completamente ambos”, comemora. O próximo passo do estudo é aplicar essa abordagem a outros modelos de infecção. Por acreditar que os probióticos têm um enorme potencial no controle da resistência antimicrobiana no futuro e representam uma alternativa eficaz aos antibióticos convencionais para superar a resistência antimicrobiana, o grupo da pesquisadora Ana Jaklenec publicou anteriormente outro estudo sobre o encapsulamento de probióticos para aplicações orais. No artigo ‘Layer-by-Layer Encapsulation of Probiotics for Delivery to the Microbiome’, de 2016, os cientistas conseguiram mostrar que os probióticos encapsulados eram mais resistentes contra o ácido gástrico e biliar encontrados no ambiente gastrointestinal

to o tratamento feito com dieta rica em fibras como o posbiótico (acetato) e o probiótico Bifidobacterium longum cepa 51ª protegeram os animais da infecção pela K. pneumoniae. “Muitos desses efeitos benéficos parecem depender da ativação do receptor específico para o acetato, o Gpr43, visto que os animais deficientes para esse receptor não apresentaram os mesmos efeitos benéficos quando tratados com essas estratégias. Agora, vamos testar esses tratamentos contra a K. pneumoniae resistente a carbapenemase (KPC)”, adianta. Por seus estudos, a pesquisadora Angélica Thomaz Vieira foi uma das vencedoras do prêmio L’OréalUnesco Para Mulheres na Ciência 2018, na categoria Ciências da Vida.

e, portanto, tinham uma melhor eficácia na colonização do intestino. A professora Angélica Thomaz Vieira, da UFMG, lembra que outra estratégia interessante contra a resistência antimicrobiana são as gerações de probióticos manipulados geneticamente, conhecidos como nextgeneration. O objetivo é potencializar os efeitos probióticos ou utilizar essas cepas como estratégia de produção de moléculas conhecidas e selecionadas previamente para modular as respostas fisiológicas do hospedeiro. “O uso de terapias constituídas por probióticos, prebióticos e posbióticos é um mundo mágico e encantador a ser ainda muito explorado”, acentua.

Monrtagem a partir das fotos: Depositphotos/ayo888

coordenadora do grupo de pesquisa do Laboratório de Microbiota e Imunomodulação (LMI) do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A bióloga tem focado seus estudos nos posbióticos, especialmente com relação aos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). O grupo do LMI vem trabalhando em colaboração com outros grupos de pesquisas na UFMG isolando bactérias com potencial probiótico. O objetivo é selecionar as cepas com melhor capacidade de produzir AGCC e testar em modelos experimentais de inflamação em camundongos para avaliar os efeitos terapêuticos. Além disso, a pesquisadora estuda o tratamento de dietas ricas em fibras solúveis em modelos experimentais inflamatórios de mucosite, colite, asma, artrite e, com maior foco, em doenças infecciosas causadas por microrganismos resistentes a antimicrobianos. “Para identificar se os efeitos benéficos observados pelo tratamento com probióticos, prebióticos e posbióticos são mediados pela modulação da microbiota intestinal,


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