Revista Super Saudável 94 - Nanotecnologia

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Publicação da Yakult do Brasil - Ano XXI - No 94 - abril a junho/2022

NANOTECNOLOGIA Aplicações relacionadas às ciências biomédicas têm os maiores potenciais para produzir impactos na saúde

Alterações da voz podem sinalizar a presença de lesões, doenças e câncer

Estudos demonstram papel da microbiota na longevidade saudável

Probiótico da Yakult mostra efeitos benéficos em sintomas depressivos


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Para um amanhã mais saudável, Yakult hoje.


SUMÁRIO

CARTA DO EDITOR

matéria de CAPA

A

EXPEDIENTE A revista Super Saudável é uma publicação da Yakult SA Indústria e Comércio dirigida a médicos, nutricionistas, técnicos e funcionários. Coordenação geral: Atsushi Nemoto Produção editorial e visual: Companhia de Imprensa Divisão Publicações – Telefone (11) 4432-4000 Editora responsável: Adenilde Bringel – MTB 16.649 adbringel@companhiadeimprensa.com.br Editoração eletrônica: Companhia de Imprensa Designer gráfico: Renato Borges Fotografia: Arquivo Yakult Capa: Depositphotos/paulistano Impressão: Gráfica Plural Telefone (11) 4512-9572 Cartas e contatos: Yakult SA Indústria e Comércio Rua Porangaba, 170 – Bosque da Saúde – São Paulo CEP 04136-020 – Telefone 0800 131260 – www.yakult.com.br Cartas para a Redação: Rua José Versolato, 111 – Cj 1024 Bloco B – Centro – São Bernardo do Campo – SP – CEP 09750-730 DIREITOS RESERVADOS É proibida a reprodução total ou parcial sem prévia autorização da Companhia de Imprensa Divisão Publicações e da Yakult.

Alterações vocais, a exemplo de rouquidão e nódulos, podem indicar problemas de saúde e devem ser devidamente investigadas por especialistas

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Depositphotos/imtmphoto

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MICROBIOTA & PROBIÓTICOS Novos estudos revelam que pode haver influência da microbiota intestinal para uma longevidade muito mais saudável Rebeca Figueiredo

18 ENTREVISTA A neurocientista Natália Bezerra Mota estuda estratégias em processamento de linguagem natural para extrair informação de vários relatos de pacientes, com e sem esquizofrenia ou sofrimento mental, e um desses relatos é sobre os sonhos

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SAÚDE

Uma dieta composta de alimentos ricos em micronutrientes, como o triptofano, melhora o humor e o bem-estar

32 DESTAQUE O alimento à base de extrato de soja Tonyu passou por reformulação e ganhou nova embalagem. A Yakult também está com nova campanha publicitária

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ARTIGO CIENTÍFICO

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Pesquisa realizada por cientistas chineses investigou os efeitos do LcS nos sintomas de constipação em pacientes com depressão

VIDA SAUDÁVEL

Estudos demonstram que a leitura de um bom livro traz relaxamento, ajuda na formação da memória e envolve redes neurais

34 ENTRETENIMENTO Parque Nacional do Iguaçu merece ser visitado e apreciado

Christian Rizzi

Adenilde Bringel

Diversas aplicações presentes na nanotecnologia potencializam diagnósticos e permitem tratamentos terapêuticos mais eficientes, especialmente contra alguns tipos de câncer

Depositphotos/natis76

nanotecnologia é uma área multidisciplinar com inúmeras aplicações e, nos últimos anos, vem trazendo inovações e muitas possibilidades para a área da saúde. Entre outras, a tecnologia em escala nanométrica apresenta benefícios em termos de diagnósticos, tratamentos e medicamentos, especialmente para a Oncologia. E é para desenvolver novas possibilidades e aplicações que beneficiem o ser humano que cientistas brasileiros vêm trabalhando em diferentes instituições no Brasil e no exterior. Os cientistas também querem entender de que maneira a microbiota intestinal interfere para uma longevidade saudável. Para isso, recentes estudos envolvendo indivíduos de 80, 90 e 100 anos ou mais tentam decifrar esse ecossistema fundamental à vida humana e que se mostra diferenciado naqueles que conseguem envelhecer com qualidade de vida e boa saúde. E como o objetivo é viver bem do começo ao fim da vida, também é importante lembrar de cuidar da voz, escolher alimentos que ajudem no bem-estar e no bom humor, e ficar atento aos sonhos, porque podem auxiliar na identificação de transtornos mentais. Aproveitem a leitura!

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Super Saudável

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MATÉRIA DE CAPA

NANOTECNOLOGIA COMO APOIO DIVERSAS APLICAÇÕES POTENCIALIZAM DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTOS TERAPÊUTICOS MAIS EFICIENTES, ESPECIALMENTE CONTRA VÁRIOS TIPOS DE CÂNCER

Á

Fernanda Ortiz Especial para Super Saudável

rea multidisciplinar das ciências aplicadas que estuda a compreensão, o controle e a manipulação da matéria em escalas molecular, atômica ou macromolecular com dimensões nanomé­tricas (1 nanômetro é 1 bilhão de vezes menor que 1 metro), a nanotecnologia está presente em vários setores da indústria e do conhecimento científico, incluindo a Medicina. Dentre as várias aplicações, aquelas relacionadas com as Ciências Biomédicas são as que apresentam maior potencial para produzir impacto direto na vida dos seres humanos, por possibilitarem a criação e transformação de uma grande v­ ariedade de produtos e serviços para a prática clínica e a saúde pública. Na Medicina, a nanotecnologia tem sido aplicada para otimizar processos terapêuticos, com destaque para a liberação controlada e

direcionada de medica­mentos em nanopartículas funcionais – sejam quimioterápicos, antibióticos, antibactericidas ou anti-inflamatórios –; smart drug delivery, que localiza a célula-alvo, direcionando e controlando a distribuição de nanofármacos no organismo e reduzindo, principalmente, os efeitos colaterais; além de biossensores de diagnóstico, terapias inovadoras e tecnologias de prevenção, incluindo o desenvolvimento de vacinas. “Nessa interface de nanotecnologia aplicada na Medicina, a ideia é utilizar o controle que temos de nanomateriais, a exemplo das nanopartículas metálicas (ouro, prata, platina e outras), de polímeros e de cerâmica, nanotubos de carbono e grafenos, entre outros, e juntá-­los a outra classe de biomoléculas como enzimas, anticorpos, proteínas, células inteiras ou componentes de células, resultando em novas possibilidades diagnósticas e terapêuticas de combate a agentes nocivos”,

Valtencir Zucolotto

destaca o professor doutor Valtencir Zucolotto, vice-chefe do Departamento de Física e Ciência dos Materiais do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) – campus São Carlos, e coordenador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP São Carlos. A área também envolve inúmeros estudos e aplicações voltados para a Medicina diagnóstica por meio do desenvolvimento de biossensores, que são dispositivos para detecção de várias substâncias (ureia, glicose, dopamina, anticorpos e vírus, entre outros) com baixo custo,

GRANDE AJUDA NA LUTA CONTRA O SARS-CoV-2 Renomadas instituições brasileiras têm trabalhado em uma pesquisa colaborativa para o desenvolvimento de um kit de diagnóstico, a partir de anticorpos extraídos de animais, que detecta o coronavírus em até cinco minutos. Segundo a professora doutora Célia Machado Ronconi, coordenadora do Laboratório de Química Supramolecular e Nanotecnologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e docente do Instituto de Química da Instituição, o objetivo é fornecer, através da experiência de cada área envolvida, a demanda por métodos de detecção rápida do vírus utilizando anticorpos de cavalos, coelhos e camundongos para a criação do kit por meio de nanotecnologia. “Inicialmente, fizemos testes com a proteína S (Spike) do coronavírus, que entra nas células humanas e é alvo dos anticorpos produzidos pelo sistema imunológico após a contaminação. Os animais não desenvolvem a doença, mas produzem um soro rico em anticorpos

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que são capazes de reconhecer e se conectar a diferentes partes da proteína S”, detalha. A equipe da UFF purificou os anticorpos e acoplou em nanopartículas de ouro para gerar biossensores responsáveis por analisar e quantificar o componente biológico. A pesquisa está na etapa de validação do método para buscar aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). “Caso seja aprovado, cada teste custará aproximadamente R$ 5 para ser fabricado, o que provavelmente viabilizará a distribuição no Sistema Único de Saúde (SUS)”, destaca a professora. Os resultados trazem novas perspectivas para a pesquisa científica em toda área da saúde podendo, futuramente, ser testado para identificar a presença de outros vírus, como H1N1, zika, dengue e HIV. Além disso, essa metodologia pode ser usada para acoplar anticorpos específicos para imunoterapia nos tratamentos de câncer.


Emerson Rodrigues de Camargo

para serem utilizados no conceito de ­point-of-care pelo próprio paciente ou em laboratório. “Composto por três elementos, um biológico sensível, o detector ou transdutor e um aparelho de leitura, as propriedades principais dos biossensores são especificidade e sensibilidade”, analisa o professor doutor Emerson Rodrigues de Camargo, chefe do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pesquisador do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDFM-CEPID), sediado na Instituição. A capacidade de detectar biomolécu-

O professor doutor Andris Bakuzis, pesquisador e docente do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (UFG), destaca a importante contribuição da nanotecnologia na prevenção ao coronavírus. Duas das principais vacinas licenciadas para uso humano, desenvolvidas pelas farmacêuticas Pfizer/BioNTech e Moderna, utilizaram nanopartículas lipídicas para capturar, estabilizar e transportar moléculas de mRNA produzidas em laboratório. “Essas nanopartículas, ao serem injetadas no organismo, são internalizadas por células do sistema imune. Dentro da célula, os RNA mensageiros são liberados, induzindo-as a

las associadas a doenças, tais como ácidos nucleicos, proteínas, patógenos, metabólitos específicos e células, incluindo as tumorais, também é essencial para a investigação biomédica que envolve a descoberta e o desenvolvimento de fármacos. O professor da UFSCar acentua que o avanço da Nanomedicina está atrelado com as propriedades dos nanomateriais que permitem aplicações em diagnóstic­ os e terapias. “Agentes terapêuticos podem ser encapsulados, ligados ou ­absorvidos sobre os nanomateriais, result­ando nos chamados sistemas tera­nós­ticos (leia mais na página 6). Tais abordagens p ­ odem resolver questões de solubilidade e biodispersão de muitos ativos. Desta forma, métodos cada vez mais eficientes têm sido desenvolvidos para a produção de nanomateriais com elevado controle dos seus parâmetros físico-químicos”, avalia. Além de potencializar diagnóstico e tratamento nas mais diversas áreas, inclusive na Odontologia com o uso de nanopartículas sintéticas,

a ­nanotecnologia pode possibilitar avanços importantes no desenvolvimento de equipamentos médicos. Um exemplo é a inserção de nano­partículas de prata e óxido de ­zinco para a produção de bisturis, seringas, linha têxtil e equipamentos hospitalares. Os especialistas afirmam que, embora demande uma série de estudos em relação à sua aplicação ética e segura, ao controle de toxicidade no corpo huma­no e no ambiente, e a investimentos signifi­cativos em pesquisa, certamente a nanotecnologia aplicada à área da saúde é altamente promissora e com potencial transformador.

Depositphotos/natis76

Fotos: Arquivo pessoal

DA SAÚDE

produzirem partes da proteína Spike, que são transportadas para a superfície das células desencadeando um processo de defesa. Basicamente, o sistema imunológico cria uma espécie de ‘impressão digital’ e, quando entra em contato com o vírus, o reconhece imediatamente como algo perigoso e, a partir daí, desenvolve a imunidade”, explica. Como o RNA é muito instável, degradando-se com maior facilidade, os cientistas introduziram uma versão sintética de parte do RNA do vírus em uma nanocápsula lipídica, impedindo a instabilidade em longo prazo e garantindo maior eficiência às vacinas.

Andris Bakuzis

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MATÉRIA DE CAPA

Uma forte aliada para tratamento do

Depositphotos/lightsource

Na prática oncológica, muitas vezes, os tratamentos precisam ser interrompi­ dos devido à toxicidade associada às drogas pois, além de atacarem os tecidos tumorais, atingem os tecidos saudáveis. Com o advento da nanotecnologia, pesquisadores em todo o mundo têm trabalhado pela efetividade dos quimioterápicos já existentes, porém, melhorando a forma de entrega desses fármacos no organismo, potencializando a resposta direcionada ao alvo e reduzindo os efeitos colaterais. Com foco em um modelo de câncer de mama bastante agressivo, que produz metástase principalmente no pulmão, um grupo de pesquisadores coordenado pelo professor doutor João Paulo Figueiró Longo, docente nas áreas de Nanobiotecnologia e Nanomedicina da Universidade de Brasília (UnB), tem utilizado a nanotecnologia como ferramenta para reduzir os efeitos cola­terais da quimioterapia e prevenir a possibilidade

de metástases. “Pesquisando um modelo de câncer de mama observamos, em diversos estu­dos, que era possível reduzir efeitos colaterais e reverter a instalação dessas metástases utilizando quimioterápicos carreados com nanopartículas. Em um deles, através de nanopartículas lipídicas sólidas carreadas com docetaxel – uma molécula semissintética ­c­linicamente utilizada em vários tipos de câncer, principalmente mama –, conseguimos boa resposta nos estudos pré-clínicos em animais, prevenindo o c­ rescimento tumoral e a metástase pulmonar em células de carcinoma mamário murino 4T1”, relata. No decorrer desse e de outros estudos do grupo, uma descoberta demonstrou o potencial das nanopartículas para produzir uma vacina contra o câncer de mama. Segundo o professor, a maior parte dos tumores consegue induzir biologicamente uma imunossupressão nos pacientes. Isso ocorre porque, em teoria, o sistema imunológico vai ­tentar destruir as células malignas assim que surgem. Entretanto, essas células tumorais crescem rápida e d ­ esordenadamen­te, suprimindo a ação do sistema imunológico. “Nas nossas pesquisas des­cobrimos que, a depender do tratamento realizado com as nanopartículas, essas células tumorais morrem e avisam o sistema

João Paulo Figueiró Longo

imunológico o que está acontecendo, criando uma oportunidade para identificar que existe uma célula atípica naquela região. Assim, quando há essa falha de proteção imunológica do tumor, o sistema imunológico recupera suas ativi­ dades e consegue atuar para combater as células tumorais que estão tentando se proliferar”, detalha o pesquisador. Com esse achado, o grupo da UnB tem trabalhado em um projeto que viabilize o processo de desenvolvimento de uma vacina antitumoral mais efetiva. O grupo já possui alguns dados preliminares que identificam a redução significativa na instalação de tumores em metástase nos animais que receberam doses da vacina antitumoral. Neste momento, os

NOVO PASSO PARA A MEDICINA INDIVIDUALIZADA Outra importante abordagem da nanotecnologia são os sistemas teranósticos, uma plataforma integrada multifuncional que utiliza a nanociência em aplicações diagnósticas e terapêuticas para formar um único agente capaz de individualizar o tratamento para doenças – especificamente o câncer –, assim como subtipos e perfis genéticos específicos de cada paciente. Segundo o professor Emerson Rodrigues de Camargo, da UFSCar, além de diagnosticar doenças e aplicar terapias em alvos específicos, tais sistemas permitem o monitoramento de respostas imunes. “Esse é um passo significativo para a Medicina personalizada já que a vigilância, em tempo real, principalmente com a distribuição de fármacos, ajudará os médicos a avaliarem tipo e dose ideais para cada paciente evitando, por exemplo, sobredosagem que poderia resultar em efeitos colate-


câncer Fotos: Arquivo pessoal

muito importante para o combate dos casos mais avançados, em que as células são mais resistentes aos fármacos.

Cátia Ornelas

esforços se concentram nas evidências para corroborar a eficácia dos achados trabalhando em três frentes de modelos animais: com a redução dos efeitos colaterais da quimioterapia, na prevenção de metástase e na vacina antitumoral exclusivamente para câncer de mama para que, posteriormente, possam ser testados em estudos clínicos. Pesquisadores do grupo da professora doutora Cátia Ornelas, do Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), têm desenvolvido vários nanomateriais para aplicações em Nanomedicina, como nanopartícu­ las de açúcar, de ouro, poliméricas, nano-hidrogéis (nanogo­tas de geleia)

Célia Machado Ronconi

e ­dendrímeros. “As nanopartículas de açúcar têm sido estudadas no grupo como carregador de vários tipos de fármacos anticâncer com resultados muito promissores em testes in vitro e in vivo”, afirma. Outro tipo de nanomaterial que tem se mostrado muito promissor para tratamento de câncer são os nano-hidrogéis: nanogotas compostas por 95% de água que podem ser injetadas na corrente sanguínea, que as conduz até aos tecidos tumorais. A formulação simples e versátil do nano-hidrogel permitiu encapsular três fármacos anticâncer simultaneamente. Para o combate a células de câncer de mama, a eficiência do coquetel se mostrou 10 vezes maior do que o fármaco usado atualmente, resultado

rais prejudiciais”, avalia. ­Atualmente, grandes grupos de pesquisa têm buscado sistemas que, por meio de uma mesma nanopartícula, possam detectar tumores de forma muito mais rápida, sem efeitos secundários e sem a toxicidade apresentada pelos atuais procedimentos rádio e quimioterápicos. Com mínima toxicidade, o uso de materiais teranósticos tem gerado grande expectativa para futuras aplicações. Recentemente, uma pesquisa liderada pelo professor Andris Bakuzis, no Instituto de Física da UFG, produziu um nanocarreador trimodal capaz de gerar e monitorar calor em tempo real durante a terapia térmica contra

NANOMÁQUINA O grupo da professora Célia Macha­ do Ronconi, da UFF, e colaboradores de instituições de ensino e pesquisa brasileiras desenvolveram uma nanomáquina composta por reservatório de fármacos com tampa capaz de combater células cancerosas. A máquina funciona respondendo a mudanças na acidez do meio no qual se encontra: quando o pH é similar ao do meio fisiológico saudável, a tampa permanece fechada impedindo a saída do fármaco; quando o pH é mais ácido, como ocorre no entorno de células cancerosas, a tampa se abre e o fármaco é liberado. “Nos testes in vitro, a nanomáquina carregada com doxorrubicina – ­conhecida droga quimioterápica – demonstrou ser mais eficaz do que o fármaco puro na eliminação de células de câncer de mama da linhagem ­MCF-7, destruindo 92% delas em um período de 48 horas”, ressalta. Com resultados promissores, a próxima etapa inclui novos testes com a nanomáquina carregada com o fármaco em outras linhagens de células de câncer de mama. O artigo foi publicado em 2020 no Journal of ­Materials Chemistry.

o câncer, através da aplicação por hipertermia magnética, terapia fototérmica e nanotermometria luminescente em uma única nanoplataforma. O artigo foi publicado em 2021 na ACS Applied Nano Materials. O pesquisador explica que o nanocarreador funcional, com tamanho de 100 nanômetros (muito menor que a espessura de um fio de cabelo), contém nanopartículas magnéticas à base de óxido de ferro dopado com zinco e manganês imersas em uma matriz de sílica, que contém íons de neodímio no seu interior. A nanoestrutura foi desenvolvida para a aplicação de hipertermia magnética (HM), um tratamento oncológico que usa o calor para destruir as células-alvo

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MATÉRIA DE CAPA

Uma revolução

NANOMATERIAIS CONTRA AS SUPERBACTÉRIAS

Depositphotos/lightsource

Estimativas indicam que, até 2050, a principal causa de morte no mundo será em decorrência de infecções por bactérias multirresistentes aos antibióticos e a nanotecnologia vem se destacando como importante ferramenta para melhorar sistemas de entrega de fármacos, aumentando a biodisponibilidade das drogas ao seu alvo e ampliando a eficácia nos tratamentos. Para auxiliar neste caminho, pesquisadores da Unicamp criaram um sistema de nanopartículas de polissacarídeos (açúcar) que pode encapsular tanto nanopartículas de prata quanto antibióticos convencionais. Essa combinação promete enganar os sistemas de defesa das bactérias e evitar o desenvolvimento de multirresistência. A professora Cátia Ornelas explica que o antibiótico desempenha seu mecanismo de atuação que, somado à ação bactericida da nanopartícula de prata – responsável por causar danos nas membranas externas das bactérias, tornando-as vulneráveis a agentes externos –, impedirá que as bactérias produzam energia necessária para a sua sobrevivência (ATP). Isso resultará na interrupção de replicação de DNA, inviabilizando a multiplicação. “O fato de o nanomaterial ser biocompatível diminui quaisquer possíveis efeitos secundários dos antibióticos”, acentua. A docente ressalta que a pesquisa é inovadora, pois o grupo fez nanotecnologia dentro de nanotecnologia. “Dentro das nanopartículas de açúcar de 100 nanômetros produzimos nanopartículas de prata de cinco nanômetros. Quando combinadas em um mesmo ‘pacote’ desencadeiam uma ação mais devastadora sobre as bactérias, não permitindo que desenvolvam resistência tão facilmente”, detalha. Ainda na fase de testes pré-clínicos, mas com resultados muito promissores, os próximos passos da pesquisa incluem a publicação do artigo com os resultados e, paralelamente, a testagem dessa tecnologia em outras combinações de antibióticos contra vários tipos de bactérias. As formulações mais promissoras in vitro deverão avançar para estudos em animais.

A aplicação da nanotecnologia em fármacos tem favorecido a produção de novos medicamentos com características terapêuticas e toxicológicas próprias. Embora boa parte dos registros seja para tratamentos oncológicos, o desenvolvimento de nanomedicamentos tem grande potencial de atuação para qualquer doença. Inúmeros trabalhos científicos descrevem os benefícios da nanotecnologia para novas formulações farmacêuticas que favorecem a otimização de produtos e permitem uma maior especificidade e/ou seletividade das interações fármacore­ceptor, com medica­mentos mais seguros, eficazes, com menores efeitos colaterais e aplicações menos invasivas. Ao fornecer sistemas inteligentes de entrega – smart drug delivery – favo­recem melhor resposta aos tratamentos. Nanomedicamentos são sistemas mui­to peque­ nos contendo a substância ativa veiculada em car­ reador nanoestru­turado para tratamento de determinada doença. A combinação de ativos mole­culares ou biológicos em nanoescala possibilita, além de terapias alvo-específicas com baixa toxicidade, melhorar técnicas de diagnóstico, imagem e biomarca­ dores. “A combinação desses sistemas pode aumentar a eficiência terapêutica se comparado ao fármaco utilizado sozinho”, avalia a professora doutora Irene Clemes Kulkamp Guerreiro, docente da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os atributos dos nanomedicamentos se diferem substancialmente dos medicamentos tradicionais devido à maior área de superfície e efei-

NOVO PASSO PARA A MEDICINA INDIVIDUALIZADA

do câncer. “O calor na HM é gerado pelas nanopartículas magnéticas quando submetidas à ação de campo magnético alternado, técnica interessante por possibilitar aplicações mais profundas no corpo do paciente”, detalha. Essa nova nanoestrutura também apresentou efeito interessante em terapia fototérmica, com calor gerado pela interação das nanopartículas com laser, assim como potencial para monitoramento da entrega de calor de forma não invasiva através de nanotermometria luminescente. “Ao desenvolver uma nova partícula com potencial para ser usada como um termômetro que monitora entrega de calor,

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certamente aumentamos a eficiência desse tratamento específico”, reforça o professor Andris Bakuzis. As pesquisas indicam, ainda, que o tratamento pode ativar o sistema imune do paciente, levando a um efeito semelhante ao da vacinação – denominado in situ vaccination. Atualmente, os estudos estão concentrados para entender como ativar a resposta imunológica por meio do controle dessa temperatura e de que forma um tratamento local pode fortalecer o sistema imunológico, permitindo o reconhecimento de células tumorais. O uso de nanomateriais capazes de diagnosticar e tratar de forma direcionada o câncer também foi a temática de dois artigos publica-


Arquivo pessoal

na área farmacêutica

Irene Clemes Kulkamp Guerreiro

tos quânticos. E a partícula com tamanho reduzido passa a ter uma maior área superficial, o que pode fazer com que fique mais reativa. O grande diferencial para ­garantir os resultados está na nanopartícula utilizada na incorporação dos ingredientes ativos, que podem ser lábeis ou biopersis­tentes. Os lábeis são compostos por moléculas orgânicas que encapsulam outras substâncias com propriedade de se degradarem e retomarem as características originais das moléculas. Já os persistentes são formados por materiais inorgânicos, geralmente puros, como metálicos (nanoprata), óxidos (nanodió­

xido de zinco ou titânio) e derivados de carbono, capazes de persistir no ambiente e no organismo sem perder as propriedades da nanoescala. “A maior tendência de uso e a que apresenta mais segurança são as nanopartículas lábeis, por exemplo, lipossomas, nanocápsulas, nanoesferas e nanoemulsões; as poliméricas e as lipídicas. O que muda é a aplicação da tecnologia para incorporar o ingrediente ativo e obter um sistema de liberação modificado”, descreve a professora. O uso de nanomedicamentos traz outros inúmeros benefícios, como liberação controlada e seletividade em relação ao alvo biológico; melhora da estabilidade e absorção, evitando degradação do fármaco; diminuição de dose e toxicidade, bem como redução de efeitos colaterais. Além disso, podem ser usados como sistemas teranósticos, possibilitando o diagnóstico e o tratamento da doença de forma concomitante. Com objetivo de contornar alguns problemas relacionados à t­ oxicidade de um fármaco ou às condições fisiológi­ cas, os sistemas de drug ­delivery podem ser associados às moléculas de inte-

dos pelo Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia do Instituto de Física da USP (GNano), liderados pelo professor Valtencir Zucolotto. O primeiro estudo, intitulado ‘Near Infrared Phoactive Theragnostic Gold Nanoflowers for Photoacoustic Imaging and Hyperthermia’, relata o desenvolvimento de uma nanoestrutura de ouro com o formato de flor. O imageamento das nanoestruturas foi feito por espectroscopia fotoacústica (para diagnóstico) e a fase terapêutica foi realizada com a absorção da luz infravermelha pela nanopartícula – uma ‘nanoflor’ –, que aquece e dissipa o calor, matando sequencialmente as

resse, ­funcionan­do como um ­veí­cu­lo que ­favore­ce a libera­ ção do fárma­ co de forma gradativa e ­ ­segu­ra, com efeitos ­adversos ­mínimos. A nanotecno­logia tam­­­­­ bém é aplicada para melhorar os efeitos de medicamentos já comercializados em grande escala. “Nosso grupo trabalha para obtenção de novas formas farmacêuticas e estabilização de medicamentos para administração pediátrica”, relata a docente. Uma das pesquisas é com Omeprazol, usado para tratar distúrbios associados à hipersecreção gástrica. O foco é desenvolver nanopartículas carreadas do medicamento visando a obtenção de uma farmacêutica líquida de uso oral para tratamento de crianças. Outro estudo mostra a possibilidade de mascaramento de sabor de fármacos para administração pediátrica com o desenvolvimento de formas farmacêuticas nanoestruturadas do antiviral Saquinavir.

células tumorais nas quais estão localizadas. Já o trabalho ‘Doped Plasmonic Zinc Oxide Nanoparticles with Near-Infrared Absorption for Antitumor Activity’ utiliza uma nanopartícula de óxido de zinco modificada com propriedades optoeletrônicas aprimoradas, i­ncluindo absorção na região do infravermelho próximo, e que pode ser utilizada como um nanocarreador de fármacos em uma plataforma teranóstica. As nanopartículas de óxido de zinco também possuem atividade antibacteriana. Assim, podem ser uma alternativa ao uso de medicamentos convencionais com produção mais barata e em larga escala.

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MEDICINA

A IMPORTÂNCIA DOS CUIDADOS

Depositphotos/nataali

ALTERAÇÕES VOCAIS, COMO ROUQUIDÃO E NÓDULOS, PODEM INDICAR PROBLEMAS DE SAÚDE E DEVEM SER INVESTIGADAS

M

Elessandra Asevedo Especial para Super Saudável

­ smo em um mundo altae mente tecnológico, o instrumento de comunicação mais antigo do mundo continua sendo a voz. Independentemente do idioma, é por meio da voz que indivíduos aprendem, ensinam, trabalham e socializam. No entanto, por ser tão natural ao ser humano, muitas vezes a saúde da voz não é valorizada e o mau uso pode acarretar transtornos na vida pessoal e profissional. Algumas das profissões mais afetadas por transtornos vocais incluem professores, teleoperadores, radialistas, atores, cantores e dubladores, entre outras carreiras que utilizam a voz como instrumento de trabalho. Alterações vocais também podem sinalizar a presença de lesões nas cordas vocais (pregas vocais), enfermidades sistêmi­ cas e neurológicas como doença de Parkinson, e até câncer de laringe. Produzida na laringe, a voz é resultado da vibração das pregas vocais pela passagem do ar vindo dos pulmões. Já o som é transformado em fala pelos órgãos de articulação como língua, dentes, palato e lábios, sendo ampliado ou modificado pelas cavidades de ressonância como faringe, cavidade oral, fossas nasais e seios paranasais. O uso inadequado da voz pode desencadear problemas variados – chamados de disfonias comportamentais. Dentre as lesões mais frequentes estão os nódulos vocais (conhecidos como calos), que consistem em um processo inflamatório das c­ ordas vocais; paralisias das cordas vocais e infecções. Já as leucoplasias são placas esbranquiça­das que se formam nas cordas vocais dificultando a ­vibração, têm ­relação com vários fatores que acometem as pregas vocais de forma

crôni­ca e podem ser, inclusive, lesões pré-­ ma­lignas. “Os fumantes podem sofrer com o edema de Reinke, doença c­ rônica da laringe caracterizada por um edema gelatinoso dentro das cordas vocais devido aos produtos químicos presentes no cigarro. Nas mulheres, a característica mais marcante deste tipo de edema é a presença de uma voz mais grave”, sinali­ za a fonoaudióloga Lívia Lima, coor­denadora do Departamento de Voz da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). Existem também as disfonias orgânicas, problemas vocais que independem do uso da voz. É o caso dos indivíduos com doença de ­Parkinson, que costumam ter a voz com baixa intensidade devido à rigidez muscular típica da doença, além de apresentarem fala imprecisa, monótona, com pouca entonação e velocidade. Já os portadores de esclerose múltipla podem apresentar problemas de fala e dificuldades para engolir, porque a doença prejudica o funcionamento de nervos no cérebro e na medula espinhal, responsáveis por essas atividades. “Alguns sinais podem indicar problemas na voz, como rouquidão, ardência, falhas e cansaço ao falar”, orienta a pesquisadora e professora ­doutora do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Maria Fabiana Bonfim de Lima Silva. Ao ampliar para os impactos na população em geral, a especialista ressalta que alterações vocais podem resultar em situações que envolvem aspectos diversos, como sentimentos negativos em relação à própria voz, estresse, ansiedade, não aceitação do novo padrão vocal, isolamento social e baixa a­ utoestima. A médica otorrinolaringologista do Hospital Universitário de Brasília, Lucia­na Miwa Nita Watanabe, diretora


da Associação Brasileira de Otorrinola­ ringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) e da Academia Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV), afirma que, muitas vezes, o próprio indivíduo não percebe a alteração da voz. “Às vezes, o paciente não tem rouquidão aparente ou outros sintomas, mas, no fim do dia, está exausto e com pigarro, sente dor para falar e engolir e, no caso dos cantores, sentem dificuldade de alcançar determinadas notas”, detalha. Se o quadro de rouquidão permanecer por mais de 14 dias ou se, antes disso, aparecer sem motivo aparente ou associado à dificuldade de engolir ou à falta de ar, é importante procurar um otorrinolaringologista. No caso dos profissionais da voz ou fumantes, a consulta deve ser antecipada. CÂNCER DE LARINGE A rouquidão pode ser o primeiro sinal de câncer de laringe, que ocorre predominantemente em homens acima de 40 anos e representa cerca de 25% de todos os tumores malignos que acometem a região de cabeça e pescoço. Para o Brasil, a estimativa do Instituto Nacional de

Fotos: Divulgação

COM A VOZ

Lívia Lima

Câncer (INCA) para cada ano do triênio 2020-2022 é de 7.650 novos casos da doença. O câncer de laringe corresponde a 2% de todas as neoplasias malignas, que já são a segunda causa de óbitos no País – a primeira são as doenças isquêmicas do coração, cerebrovasculares e outras doenças circulatórias. “Temos observado casos da doença em pessoas mais jovens, seja porque fumam muito ou por terem predisposição genética”, alerta a médica Luciana Miwa Nita Watanabe. O diagnóstico precoce é funda-

Luciana Miwa Nita Watanabe

mental, pois, além da produção da voz, a laringe é responsável pela respiração e pela proteção dos pulmões durante a deglutição, funções primordiais e que são muito prejudicadas com o avanço da doença. Quando diagnosticado e tratado em estágio inicial, as chances de cura do câncer são grandes e com menores alterações das funções. Porém, dependendo do estágio, pode ser necessária a retirada da laringe com consequente perda de suas funções, e o paciente precisará respirar por traqueostomia definitiva.

ATENÇÃO GARANTE MAIS SAÚDE VOCAL O cuidado com a voz precisa ser constante e inclui uma hidratação adequada, pois a ingestão de líquidos tem impacto direto na voz, bem como evitar o excesso de alimentos que deixam a saliva espessa e podem prejudicar o processo digestivo e causar refluxo, como cafeína, gorduras, condimentos, doces e chocolates. Também é importante falar pausadamente e não gritar para não formar lesão na garganta. Nos períodos em que a voz estiver alterada por causa de uma infecção, o melhor a fazer é não forçar o tom para evitar uma lesão ainda maior. O uso de gargantilhas e de roupas apertadas na região do abdômen também torna o processo da fala mais difícil, gerando maior esforço da voz. “O diagnóstico dos problemas com a voz é feito por meio da anamnese e do exame de videolaringoscopia realizados pelo otorrinolaringologista, enquanto o fonoaudiólogo faz avaliação multidimensional da voz por meio de análises perceptivo-au­ditiva, visual

e acústica, autoavaliação vocal e avaliação in loco nos casos de profissionais da voz”, orienta a fonoaudióloga Lívia Lima. Com base nos resultados, os profissionais determinam e realizam o tratamento, que é individualizado conforme a causa e pode envolver medicamentos, fonoterapia e indicação cirúrgica. Com o objetivo de alertar e orientar a população sobre a importância dos cuidados com a voz e, principalmente, para a detecção precoce do câncer de laringe, desde 1999 a Academia Brasileira de Laringologia e Voz desenvolve a Campanha Nacional da Voz. Em 2003, foi instituído o Dia Mundial da Voz – Voice Day – em 16 de abril, celebrado em vários países. A ação envolve atendimento à população, orientações, palestras e eventos em mídias sociais que permitem milhares de atendimentos e detecção do câncer de laringe. A SBFa também promove a Campanha Amigos da Voz com objetivo de orientar a população e favorecer o diagnóstico precoce de alterações vocais. abr/jun 2022

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MEDICINA

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Dados de 2021 indicam que o Brasil tem mais de 2,5 milhões de professores e a grande maioria está na educação básica. Devido a fatores do ambiente (ruído, poeira e outros), da organização do trabalho (estresse devido ao ritmo diário, relação entre colegas) e de aspectos individuais associados ao uso constante da voz, os docentes são os profissionais que mais apresentam problemas vocais e estão entre as categorias mais estudadas na Fonoaudiologia. Professores possuem alta incidência de sinais ou sintomas vocais quando comparados com a população em geral, desencadeando faltas ao trabalho ou incentivando a mudança de carreira. Entre os sinais mais percebidos estão rouquidão, fadiga vocal, dor ao falar, voz fraca ou falha, dificuldade de projetar a voz, pigarro e tosse persistente. A professora Maria Fabiana Bonfim de Lima Silva, que coordena um e­ studo pelo Grupo de Pesquisa e Extensão ­Asse­s­­so­­ria Vocal para Profissionais da Voz (ASSEVOX) do curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba, com professores de escolas públicas

e privadas de João Pessoa, acentua que os sintomas mostram uma intensidade extrema ou mesmo um abuso vocal que gera sobrecarga da laringe. Além disso, muitos profissionais não têm condições adequadas de trabalho, precisando competir com ruídos internos e externos para ministrar aula. “Um estudo realizado no Brasil em 2012, pela pesquisadora Mara Behlau, mostrou que 35,8% da população estudada referia problemas vocais, enquanto entre professores esse número correspondia a 63,3%”, alerta. Cíntia Flores e colaboradores do grupo da ASSEVOX realizaram e publicaram, em 2019, um estudo para identificar se existia correlação entre os sintomas vocais para o distúrbio de voz e as condições de trabalho, e compará-los entre as redes de ensino. Os resultados evidenciaram que os sintomas de maior ocorrência foram rouquidão, falha na voz, voz grossa, falta de ar e perda de voz. A maioria dos professores das escolas públicas relatou queixa vocal e sintomas vocais. “A presença de um distúrbio de voz pode ocasionar inúmeros prejuízos ao professor, como

Arquivo pessoal

Bem-estar vocal de professores

Maria Fabiana Bonfim de Lima Silva

impactos na qualidade vocal, no desempenho da atividade em sala de aula, no processo de ensino-aprendizagem, na autoestima, qualidade de vida, saúde mental e no uso social da voz”, ressalta a pesquisadora Maria Fabiana Bonfim de Lima Silva. A estrutura física do ambiente também contribui para a piora na saúde da voz, uma vez que muitos professores precisam intensificar a fala para concorrer com ventiladores ligados, pátios e quadras próximos às salas de aula, poeira, quadros de giz e ar condicionado.

PANDEMIA PIOROU A VOZ A fonoaudióloga Lívia Lima lembra que o uso de máscara para proteção contra o coronavírus leva a um esforço maior para projetar a voz, pois os materiais utilizados abafam o som e dificultam a articulação. O isolamento social também ampliou o uso de computadores, celulares e outros equipamentos eletrônicos para as aulas, palestras e reuniões, o que exigiu uma reorganização da integração voz e corpo. Indivíduos infectados que evoluíram com entubação ou sequelas neurológicas, muitas vezes, também necessitam de reabilitação vocal, porque a entubação gera uma lesão laríngea proporcional ao tempo em que o paciente precisou ficar entubado, resultando em risco de disfonia e disfagia após a extubação.

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MICROBIOTA & PROBIÓTICOS

SAÚDE INTESTINAL REFLETE NO ENVELHECIMENTO

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Adenilde Bringel

Organização das Nações Unidas (ONU) estima um aumento exponencial no número de idosos em todo o planeta nas próximas três décadas. A projeção é que a quantidade triplique, ficando acima de 2 bilhões de habitantes com mais de 60 anos em 2050 – 434 milhões acima de 80 anos. Desses, cerca de 80% viverão em países de baixo e médio desenvolvimento, como China, Rússia, Índia, Polônia e México, entre outros. No Brasil – cuja expectativa de vida média já é de 76 anos –, as projeções indicam mais de 65 milhões de pessoas nesta faixa etária em 2050. Em meio a essa população está uma quantidade cada vez maior daqueles que chegam e superam os 100 anos de idade, muitos com boa saúde, que deverão ser 3,7 milhões no mundo em 2050 – o último censo indicou 24.236 brasileiros com 100 anos ou mais. Diante desta previsão de longevidade, os cientistas querem entender o que esses indivíduos têm de diferente da população em geral e, para isso, os estudos focam principalmente as áreas fisiológicas e genéticas, incluindo a microbiota intestinal. O conceito de envelhecimento com boa saúde já variou muito na literatura e, atualmente, é considerado saudável aquele indivíduo que envelhece com autonomia e independên­cia, apesar de conviver com algumas doenças crônicas controladas. A pergunta que os cientistas querem tentar responder é por que algumas pessoas chegam à idade avançada sem as doenças características e com essa independência e autonomia, que são os chamados ‘idosos com robustez’, e outros desenvolvem Alzheimer, Parkinson, doenças cardiovasculares e outras enfermidades que diminuem a qualidade de vida e a própria longevidade? E alguns pesquisadores acreditam que essa resposta pode estar na microbiota intestinal. No estudo ‘Novel bile acid biosynthetic pathways are enriched in the microbiome of ­centenarians’, publicado na revista Nature em julho de 2021, os autores concluíram que os centenários tinham uma diminuição da suscetibilidade a doenças associadas ao

envelhecimen­to, inflamação crônica e doenças infecciosas em relação aos demais participantes. O grupo de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Keio, no Japão, do The Broad Institute of Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Harvard University, nos Estados Unidos, analisou microrganismos encontrados em amostras fecais de 160 japoneses centenários (média de 107 anos), 112 idosos (85-89 anos) e 47 jovens (21-55 anos). Os resultados mostraram que os centenários tinham um microbioma intestinal distinto e enriquecido por microrganismos capazes de gerar ácidos biliares secundários únicos no cólon, especificamente isoLCA, 3-oxoLCA, 3-oxoalloLCA e isoalloLCA, que ajudariam a proteger o intestino de patógenos e regular as respostas imunológicas. Segundo os autores, esses achados sugerem que o metabolismo de ácidos biliares específicos pode estar envolvido na redução do risco de infecção por bactérias patobiontes, contribuindo para a manutenção da homeostase intestinal.

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PESQUISAS REVELAM QUE PODE HAVER INFLUÊNCIA DAS BACTÉRIAS PRESENTES NESSE ECOSSISTEMA PARA UMA LONGEVIDADE MAIS SAUDÁVEL


MICROBIOTA & PROBIÓTICOS

Estudos envolvem idosos mineiros As pesquisas do Grupo de Estudos de Imunobiologia do Envelhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenadas pela professo­ra doutora Ana Maria Caetano Faria, docente do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Instituição, investigam a saúde dos moradores idosos de Minas Gerais desde o ano 2000. Os estudos começaram avaliando o envelhecimento e as doenças endêmicas, com especial atenção para a cidade de Governador Valadares – área endêmica para esquistossomose, leishmaniose, hanseníase e algumas viroses, em colaboração com os pesquisadores Rodrigo Corrêa Oliveira, Olindo Assis Martins Filho e Andrea Teixeira Carvalho, do Instituto de Pesquisas René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz ­(Fiocruz). Depois, os cientistas passaram a analisar o enve-

lhecimento saudável e os centenários da capital mineira para tentar entender quais fatores imunológicos determinariam a longevidade saudável no Brasil – uma vez que os estudos existentes são produzidos principalmente na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, cuja população é muito diferente em termos de genética, hábitos alimentares e de vida. Com vários projetos dentro do mesmo tema em diferentes frentes e um número muito variado de participantes – principalmente indivíduos adultos acima de 65 anos, incluindo 80, 90 e 100 ou mais (chamados de supercentenários) – os pesquisadores avaliam microbiota e padrões imunológicos, inflammaging (termo proposto no ano 2000 pelo imuno­logista italiano Claudio Franceschi), hipertensão e, mais recentemente, C ­ ovid-19. “Um dos fenômenos importantes e críticos que determinam o envelheci­men­to é o inflammaging, um estado sistêmico que sinaliza uma inflamação subclínica crônica gerada por uma série de fatores que aumentam com o envelhecimento e que, se não for controlado, agrava o aparecimento de ­doenças”, detalha o aluno de mestrado em Imunologia na UFMG, Lucas Haniel de A ­ raújo Ventura. A literatura mostra que os centenários possuem característica de anti-inflammaging e, embora produzam as moléculas inflamatórias que recrutam células e causam inflamação crônica, também recrutam moléculas anti-inflamatórias que inibem esse processo inflamatório acentuado e, assim, ficam mais balan­ceados e mais robustos. Estudos internacionais demonstram que esses centenários com fatores que controlam o inflammaging, apesar de terem uma microbiota mais inflamatória do ponto de vista da diversidade, ganham outras bactérias com o passar dos anos, como L­ actobacillus, por exem­ plo, que

ROBUSTEZ DA MICROBIOTA DEPENDE DE VÁRIOS FATORES A microbiota dos idosos tem sido descrita na literatura com uma mudança dramática. Trabalhos indicam que até os 70 anos de idade muda pouco a composição da microbiota e, até 89 anos, ainda não surgiu essa microbiota ‘especial’ presente nos centenários. Dados de um estudo da Sardenha, na Itália – com coorte de 3 mil voluntários – confirmam que os centenários e supercentenários têm uma microbiota intestinal diferenciada. Uma das características da população

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estudada naquela região é que, por terem vivido o pós-segunda guerra mundial, fazem uso de dieta pouco obesogênica – pobre em carboidratos e carnes vermelhas, rica em vegetais da estação e em fibras. A professora Ana Maria Caetano Faria enfatiza que os centenários mantêm uma rotina de vida, alimentação e de sono muito regular. “Assim como está descrito na literatura, observamos nos nossos estudos que esses fatores estão fortemente relacionados com a longevidade


são benéficas e servem de proteção contra essas alterações microbianas. A professora Ana Maria Caetano Faria acrescenta que, embora a composição da microbiota dos centenários varie, a atividade metabólica das bactérias intestinais consegue ser preservada. “Os estudos já mostraram que bactérias que degradam fibras alimentares e produzem ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como butirato, acetato e propionato, têm a função de estimu­lar a produção de componentes tróficos e anti-inflamatórios na mucosa intestinal. Essas bactérias presentes na ­microbiota dos centenários não são as mesmas encon­tradas em indivíduos menos idosos, mas realizam as mesmas funções e, assim, os centenários conseguem manter essas atividades tão importantes para a saúde”, detalha. A docente enfatiza que os cientistas não acreditam em uma ‘bactéria mágica’ que seja responsável por todos esses benefícios e, dependendo do país, dos hábitos alimentares e do estilo de vida, diferentes espécies podem ser consideradas importantes porque estarão em contextos distintos.

A professora doutora adjunta do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – campus ­avança­do de Governador Valadares –, em Minas Gerais, Gabriela Silveira Nunes Abreu, ressalta que a microbiota é como uma ‘fatia do bolo’ quando se trata de referência sistêmica do organismo. Seu grupo investiga os voluntários da cidade em busca de fatores microbianos e imunológicos que contribuam para o Gabriela Silveira Nunes Abreu entendimento do processo de envelhecimento. “Precisamos entender quais funções as bactérias estão desempenhando, se existem mais microrganismos benéficos do que deletérios, como está a abundância relativa, como a população microbiana se comporta com o endotélio intestinal e como o sistema intestinal se comporta perante aquele microrganismo e a própria dieta”, resume. Em um dos trabalhos, os pesquisadores coletaram amostras de sangue e fezes de 80 idosos independentes e autônomos atendidos na Casa Unimed do município. O estudo envolveu 21 homens e 59 mulheres, de 26 a 87 anos, e comparou a microbiota intestinal desses indivíduos. “Não identificamos diferenças importantes nas várias faixas etárias em termos de microbiota, até porque era um grupo homogêneo. Mas vimos diferenças que forneciam uma resposta biológica mais representativa em relação à hipertensão arterial”, relata. Ao comparar normotensos (controle) e hipertensos controlados com anti-hipertensivos, o grupo viu que a microbiota era diferente, mesmo em pacientes clinicamente similares. Entre os achados, os hipertensos apresentavam algumas populações associadas à disbiose intestinal e uma razão maior entre os filos Bacteroidetes e Firmicutes – o que indica fragilidade tanto pelo aumento de uma espécie quanto pela diminuição de outras. Também foram encontrados padrões relacionados a gêneros específicos, incluindo bactérias produtoras de AGCC relacionadas a uma maior saúde nos indivíduos normotensos, pois os ácidos graxos de cadeia curta são considerados importantes para a saúde do epitélio intestinal e o controle de microrganismos patobiontes. A professora acrescenta que é sabido que hipertensos têm microbiota menos diversa, e é exatamente a redundância que dá plasticidade a esse ecossistema intestinal.

e com o perfil benéfico da microbiota. É uma cadeia: estilo de vida, alimentação, tempo de sono e rotina são aliados do desenvolvimento de uma microbiota saudável que, por sua vez, vai produzir substâncias que vão interagir remodelando a inflamação, que é a grande culpada pelas doenças que impedem o envelhecimento saudável”, acentua. Para a docente, todos os estudos vão na mesma direção: uma microbiota saudável é um dos fatores fundamentais para a longevidade,

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Fotos: Arquivo pessoal

Ana Maria Caetano Faria

REFERÊNCIA SISTÊMICA

embora não seja único. Até porque, a composição dessa microbiota saudável depende de estilo de vida e de uma dieta adequada, uma vez que um dos grandes fatores de disbiose é a alimentação. “Por isso, ao fazer política de saúde pública, os governos deveriam se preocupar em melhorar o padrão dietético das populações com objetivo de atuar na microbiota, pois seria uma atitude bastante efetiva para manter a longevidade e a saúde da população que está envelhecendo”, afirma. abr/jun 2022

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Arquivo pessoal

EQUILÍBRIO DE BIOMARCADORES

Isolamento alterou Estudos realizados por pesquisadores da Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo, também têm buscado entender a relação da microbiota intestinal com o envelhecimento saudável. A maior parte das pesquisas está atrelada com exercícios físicos, probióticos e intestino, no entanto, com a pandemia de Covid-19 os cientistas passaram a avaliar de que maneira a microbiota de idosos se comportava ao permaneceram completamente isolados por vários meses. A ideia surgiu em março de 2020, a partir de três trabalhos internacionais que mostravam que o isolamento iria deixar os idosos em menor contato com fontes externas e menos expostos a bactérias, vírus e fungos, o que deveria levar a uma modificação da microbiota – embora esses cientistas não tenham sinalizado se para melhor ou pior. Para avaliar esses e outros aspectos, o grupo coordenado pela professora doutora Priscila Larcher Longo, docente do Programa de Pós-graduação em Ciências do E ­ nvelhecimento da Universidade São Judas Tadeu, usou amostras de fezes coletadas em março de 2020 de 15 idosas (idade média de 74 anos) para estudos em andamento anteriores à pandemia, e utilizou esses dados para avaliar se houve mudanças na microbiota seis meses após o isolamento físico e social. “As participantes ficaram isoladas em casa por todo esse período, apenas com as pessoas que já moravam juntas que, em geral, eram parceiros também idosos. Fizemos o sequenciamento da região V3-V4 para ver a diversidade microbiana. Colhe-

Fernanda Calvo Fortes, Lucas Haniel de ­A. Ventura e Giovanna Caliman Camatta

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EXPERIMENTO COM CEPAS PROBIÓTICAS

Depositphotos/Jezper

Durante a dissertação de mestrado, a nutricionista Fernanda Calvo Fortes avaliou 47 idosos com mais de 80 anos – incluindo nove centenários e um supercentenário de 108 anos – atendidos no Ambulatório do Instituto Jenny Faria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UFMG pelo grupo coordenado pelos doutores Rodrigo Santos e Edgar Moraes. O objetivo do estudo era avaliar autonomia, independência e perfil de citocinas e quimiocinas no plasma desses idosos residentes em Belo Horizonte, bem como os parâmetros cognitivos e funcionais que se relacionam com o grau de dependência. Os resultados sugerem que a longevidade e o envelhecimento saudável se relacionam a um equilíbrio entre a produção sistêmica de citocinas inflamatórias e reguladoras, e essas características foram particularmente relevantes no grupo dos centenários. “Para um envelhecimento mais saudável é preciso haver um balanço entre produção de citocinas inflamatórias e reguladoras. O inflammaging é uma característica do envelhecimento e, portanto, é considerado um processo natural do organismo. Os idosos robustos possuem um mecanismo de remodelamento que compensa essa inflamação crônica. Uma avaliação completa desses indivíduos mostrou que os centenários se parecem com idosos robustos em relação a esse equilíbrio entre o perfil inflamatório e anti-inflamatório e, por isso, são mesmo excepcionais! Centenários são exemplos de envelhecimento bem-sucedido”, enfatiza. A doutoranda em Imunologia Giovanna Caliman Ca­matta, que estuda a microbiota de idosos com e sem Covid-19 no grupo coordenado pela professora Ana Maria Caetano Faria (ainda sem resultados), lembra que as doenças associadas à idade têm base inflamatória e, por isso, esse processo excessivo pode impedir uma longevidade bem-sucedida. “Mais relevante e observado em mais de uma população é que existe uma tendência de modificações na microbiota ao longo da vida, e o aumento de diversidade parece ser um preditor de longevidade desses indivíduos centenários e supercentenários”, sugere. Estudos mostram que os longevos realmente têm maior diversidade de microrganismos intestinais. Ao envelhecer, esses indi­ víduos perdem alguns componentes da microbiota presente na vida adulta, enquanto outras espécies subdominantes começam a aparecer e são associadas à saúde, porque irão garantir a manutenção da integridade do trato gastrointestinal, assim como uma resposta menos inflamatória e mais regulatória. A pesquisadora diz que até mesmo espécies de bactérias periodontais que, teoricamente, deveriam permanecer apenas na mucosa oral, aumentam a frequência no intestino e, aparentemente, promovem um balanço na microbiota.


mos amostras antes e após seis meses e as amostras tiveram, em média, 380 mil leituras”, detalha. Os resultados iniciais mostraram que houve alterações diferenciadas na microbiota das idosas ao longo dos primeiros seis meses de isolamento social, embora nenhuma tenha relatado ter passado por eventos estressores. O primeiro aspecto foi que não ocorreu uma mudança padrão na microbiota – diferentemente do esperado. Embora os pesquisadores ainda estejam esmiuçando os dados e correlacionando com padrão dietético, perfil cognitivo/psicológico e marcadores inflamatórios, já é possível afirmar que quatro amostras mantiveram a mesma diversidade microbiana, cinco aumentaram e seis diminuíram. A relação dos filos F­ irmicutes e ­Bacteroidetes – mais prevalentes nos idosos em geral – foi mantida em três amostras, aumentou em sete e diminuiu em cinco. “A explicação inicial desses resultados é que a microbiota é extremamente individualizada e depende muito da genética, além de padrão alimentar,

hábitos de vida e exercícios físicos. Como todas as idosas mostravam muito medo por si e pelos familiares e companheiros, queremos entender essa relação intrínseca entre a microbiota com cognição e inflamação”, detalha. Os pesquisadores também querem identificar se nessas amostras da microbiota das voluntárias, colhidas antes da pandemia, havia mais quantidade da bactéria Akkermansia muciniphila – associada a longevos bastante saudáveis –, e se houve perda dessa espécie por causa do isolamento. “A hipótese de longo prazo seria de que a perda de Akkermansia estaria relacionada com a diminuição da qualidade de vida, por exemplo”, afirma a professora Priscila Larcher Longo. O grupo está avaliando, ainda, se houve melhora ou piora de hábitos alimentares para correlacionar esses dados com outros de cognição, memória, fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e aspectos psicológicos. O seguimento do estudo vai avaliar a microbiota das idosas depois de serem vacinadas e sem

Arquivo pessoal

perfil da microbiota

Priscila Larcher Longo

casos de Covid-19. Ao longo do tempo, algumas participantes continuaram em isolamento e perderam parentes, por isso, a expectativa é que as próximas análises tragam algumas mudanças. “Essa é uma amostra única, porque é muito rica. Embora seja um número pequeno, acompanhamos essas idosas bem de perto e queremos estudar essa amostra com muita atenção”, acentua.

MOSTRA GANHO DE FORÇA E COGNIÇÃO Outro estudo desenvolvido pelo grupo da Universidade São Judas Tadeu, também durante a pandemia, investigou o uso de probióticos em moradores de uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) com objetivo de avaliar aspectos cognitivos e de força. Para a professora Priscila Larcher Longo, é interessante analisar idosos em ILPI, pois compartilham as mesmas fontes de microrganismos, têm a mesma alimentação e vivem no mesmo ambiente controlado, além de manterem uma rotina de hora de banho, sono e atividades lúdicas. A diversidade microbiana também tende a ser alterada em um ambiente que favorece a disbiose devido ao uso de medicamentos e à presença de muitas patologias. “Esse ambiente empobrece a diversidade microbiana e favorece as espécies não benéficas. Inclusive, estudos mostram que enterobactérias são muito presentes nessa população”, relata. Durante 12 semanas, 20 idosos com média de 82 anos de idade participaram do experimento divididos em dois grupos – um controle, que recebeu placebo, e o outro

teste que recebeu a intervenção com uma cápsula composta de Bifidobacterium lactis e Lactobacillus acidophilus (comercial) logo após o almoço. Os primeiros resultados mostraram que, dos 10 idosos que receberam o probiótico, três tiveram pequena melhora cognitiva, enquanto no grupo placebo nenhum participante apresentou esse resultado. Os pesquisadores também analisaram a força de preensão e identificaram perda em três idosos do grupo controle, enquanto quatro do grupo probiótico mostraram ganho de força. “Embora não tenhamos diferença estatística por causa do pequeno número de participantes, os dados são ­indicativos para mostrar benefícios do probiótico em idosos em ILPI. Esses idosos tiveram a vida muito alterada, não puderam receber visitas e até mesmo os cuidados de profissionais externos, como fisioterapeutas, foram proibidos. Já tínhamos coletado vários dados deles antes da pandemia e, embora não tenhamos feito análise das fezes, coletamos testes funcionais, cognitivos e dados clínicos”, esclarece a professora. Nenhum idoso apresentou evento adverso ao longo deste período. abr/jun 2022

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ENTREVISTA DO MÊS

SONHOS AJUDAM A IDENTIFICAR

H

Adenilde Bringel á mais de 10 anos, um grupo de pesquisadores do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estuda estratégias em processamento de linguagem natural (algoritmos computacionais) que extraem informação de relatos de pacientes com esquizofrenia e indivíduos sem adoecimento ou sofrimento mental – e um desses relatos é sobre os sonhos. Em 2020, os pesquisadores utilizaram essa mesma metodologia para desvendar a semântica dos sonhos de voluntários saudáveis durante a pandemia de Covid-19. Principal autora do estudo ‘Dreaming during the Covid-19 pandemic: computational assessment of dream reports reveals mental suffering related to fear of contagion’, publicado na revista PLOS ONE – um dos primeiros estudos publicados na literatura internacional sobre os sonhos na pandemia de Covid-19 – a neurocientista Natália Bezerra Mota explica que os sonhos se tornaram mais emocionais em março e abril de 2020, com mais relatos de tristeza e raiva. A pesquisadora, que continua seus estudos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), representa o Brasil em um grupo de pesquisa internacional que estuda a esquizofrenia com objetivo de explorar a viabilidade desse tipo de relato para fins diagnósticos. O grupo já tem um protocolo comum e uma das perguntas é: ‘Me conta um sonho’. De que maneira os sonhos ajudam a identificar o sofrimento mental?

Existem três teorias importantes sobre a função dos sonhos, e uma delas indica o sonhar como um regulador das emoções, uma maneira de compreendermos nossas memórias traumáticas – como se fosse uma ‘digestão’ de memórias com muita carga emocional. Essa teoria é do professor Tore Nielsen e traz a ideia de que, a partir dos sonhos, conseguimos reter aprendizados e diminuir a intensidade da emoção que está associada a essa memória. Se o indivíduo passa por um assalto, por exemplo, é importante que se lembre de quais eram as circunstâncias daquela situação. Mas, se toda vez que se lembrar dessa informação sentir de novo toda a descarga adrenérgica do estresse e do trauma, isso fará com que permaneça cronicamente com esse trauma – o chamado transtorno de estresse pós-traumático. Por essa teoria, o estresse pós-traumático seria uma falha nesse sistema de regulação emocional, e um dos critérios diagnósticos para esse transtorno é justamente ter pesadelos recorrentes. Já nas teorias do professor Antti Revonsuo, que são bastante influentes, o sonho seria como um simulador. Primeiro, de ameaças prováveis, ou seja, sonharíamos para treinar ações que seriam mais rápidas em um futuro provável e esse treino seria muito focado em situações de ameaça à nossa integridade física. Outra teoria desse pesquisador é que o sonho seria um simulador de habi­

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li­dades sociais para treinarmos aquilo que é a grande fortaleza da humanidade: a capacidade social. Assim, durante os sonhos treinaríamos essas habilidades para melhorar as relações sociais.

de ter, em saúde pública, mais um recurso para diminuir a distância entre profissionais de saúde mental e essa população.

Como foi o primeiro estudo do grupo do qual a senhora participa?

Em fevereiro de 2020, atentos ao que estava acontecendo na Europa, imaginamos que a análise dos sonhos poderia ser importante em uma pandemia. Assim que houve o anúncio pela Organização Mundial da Saúde (OMS), começamos a acompanhar os sonhos dos voluntários de maneira remota. Pensando nas três teorias, a situação da Covid era imperativa de que veríamos alguma modificação nessa experiência onírica. Ao entrar em uma pandemia mundial, com ameaças para todos e regras de isolamento social necessárias, há um impacto em todas as relações sociais e de trabalho. Assim, voltamos a olhar para os relatos de voluntários saudáveis (controles) que tinham testado um aplicativo desenvolvido na UFRN, de setembro a novembro de 2019, e pedimos para irem acompanhando os seus sonhos durante o primeiro mês das medidas de isolamento social no Brasil. Colhemos mais de 200 relatos e fizemos as principais análises só com aqueles que nunca tinham experimentado qualquer tipo de sofrimento mental ou precisado de ajuda nesse sentido.

Faz 10 anos da primeira publicação de uma linha de pesquisa que desenvolvemos com uma das primeiras estratégias em processamento de linguagem n ­ atural, que são algoritmos computacionais que ­extraem informação a partir da fala ou de textos, com supervisão dos pesqui­ sa­dores Sidarta Ribeiro, da UFRN, e Mauro Copelli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que integram o ­Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (NeuroMat), sediado na Universidade de São Paulo (USP). Iniciamos coletando relatos de pacientes com esquizofrenia ou sem adoeci­mento ou sofrimen­to mental, e um ­dos relatos era sobre sonhos. Percebe­mos que, quando representamos esses relatos de determinada forma e em uma trajetória de palavras, conseguimos distinguir os grupos, porque isso está no coração da descrição da patologia. Boa parte do trabalho do psiquiatra é capturar pela escuta essa desorganização mental que se expressa pela fala dos pacientes, que também é bem desorganizada. Uma das inovações que pretendíamos para 2019 era fazer um estudo com essa aplicação de maneira remota como possibilidade

Em qual momento a pandemia virou foco dos estudos?

E qual foi o resultado mais surpreendente desse estudo?

Percebemos que, já no primeiro mês, vá-


NATÁLIA BEZERRA MOTA

R SOFRIMENTO MENTAL "...na pandemia, os sonhos se tornaram mais emocionais e o que cresceu foram as proporções de palavras ligadas a emoções negativas, principalmente raiva e tristeza..." dia a dia, que era contaminação e limpeza. Percebemos que, no primeiro mês, o que apareceu nos sonhos foi uma similaridade maior com contaminação e limpeza. Era como se as pessoas começassem a pensar mais sobre estratégias que tornassem o ambiente asséptico ou que impactasse nessas relações. Um sonho que apareceu com muita recorrência foi aquele que reflete a sensação de ansiedade social e medo de exposição social – em que geralmente o indivíduo se percebe nu no sonho. Na pandemia, ao invés de se perceber nu, esse indivíduo se via sem máscara.

Rebeca Figueiredo

A fase da pandemia foi muito rica para essas pesquisas?

rios voluntários estavam começando a sentir o impacto afetivo do que estava acontecendo. No fim do seguimento, aplicamos entrevistas para medir a intensidade e a severidade desses sintomas, verificar se algumas pessoas estavam tendo sofrimento mental e como tinha sido a experiência de olhar para os sonhos. Fizemos a análise em três níveis: fomos no relato e, por meio de análise computacional, vimos se a estrutura da narrativa tinha mudado. Esperávamos que não mudasse e verificamos que realmente não havia mudança em comparação com o período pré-Covid neste caso, mas haviam mudanças em outros dois tipos de análises. Quais foram essas mudanças?

Primeiro, na análise emocional desses relatos. Como ­prevíamos e baseado na teoria de regulação emocional, os sonhos se tornaram mais emocionais e o que cresceu foram as proporções de palavras ligadas a emoções negativas, principalmente raiva e tristeza, que aumentaram muito nos relatos durante o período de acompanhamento. Também verificamos a ligação e a similaridade desses relatos com temas ligados à pandemia. Aplicamos alguns descritores que eram relacionados aos desfechos, como vida e morte, saúde e doença, mas também aquilo que muda no

Muito! Tivemos um boom nessa literatura. Muitos pesquisado­ res replicaram esse achado de conteúdo emocional intenso, inclusive ligado a outros métodos de leitura dos relatos de sonhos, vendo bizarrices, conteúdo de agressividade ou de relações sociais. Mais de um grupo levantou esses relatos com milhares de pessoas por meio de formulários distribuídos pela internet. Os pesquisadores verificaram que houve um aumento de intensidade emocional nos sonhos, principalmente de emoções negativas e agressividade ligadas à raiva e frustração. Mais de um grupo viu que as mulheres expressaram mais esse sofrimento nos sonhos durante a pandemia. Alguns acharam, inclusive, maior conteúdo de agressividade nos sonhos especificamente de mulheres neste período. Um estudo anterior do professor Michael Schroeder, bem caracterizado, já mostrava que havia um conteúdo emocional mais intenso em relatos de sonhos femininos. Um indivíduo está adoecendo mentalmente quando começa a ter sonhos mais tristes ou violentos?

Ainda não conseguimos afirmar isso com certeza em termos de Neurociência. Em algumas outras disciplinas, como a Psicanálise, os sonhos são a matéria-prima de produção de informação sobre o indivíduo, há muitos anos, para perceber sofrimento mental. As teorias existentes na área sobre o processo onírico sugerem que pode ser importante para percebermos como se dá o processamento das memórias do cotidiano, embora ainda precise de muita pesquisa e não exista consenso da comunidade científica. Mas as evidências se acumulam. abr/jun 2022

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ENTREVISTA DO MÊS

Como é o processo do sonho?

O processo é bastante complexo em termos de mudanças eletrofisiológicas que acontecem em torno de três a quatro ciclos completos e com ampla variabilidade entre indivíduos. Essas fases bastante dinâmicas que ocorrem durante o adormecimento também têm uma relação importante com o processo onírico. A fase do sono REM – período de movimento rápido dos olhos – é quando o cérebro se parece mais com o cérebro que está acordado em termos de atividade neuronal capturada pela eletrofisiolo­gia, mas o indivíduo está em completa atonia muscular. Se despertarmos a pessoa neste período, há uma grande probabilidade de se lembrar do sonho. É recente, para a Neurociência, ter como consenso de que existem sonhos de qualidades diferentes que ocorrem em outras fases, por exemplo, no período de adormecimento, que é o primeiro estágio do sono – ­chamado de N1. Trabalhei esse tema durante o doutorado, cuja pesquisa é liderada pelo professor Sidarta R ­ ibeiro, que foi meu orientador. Ainda estamos nos debruçando sobre esses dados para estudar os sonhos que acontecem em outros períodos, mas espero que, em breve, o primeiro artigo seja publicado. Qual a diferença entre esses sonhos?

Enquanto sonhamos quase um filme de Hollywood no sono REM, adormecendo temos sonhos curtos como um GIF, um vídeo curtinho. E a função desse sonhar é o que queremos entender. Dados que já temos revelam um pouco sobre esse processo e mostram que tem muito de regulação emocional também nesse primeiro estágio, embora seja algo ainda não consensual na literatura. Uma das linhas na Neurociência é a do professor Alan Robson, que acredita que esse sonhar seria apenas um epifenômeno ou um efeito colateral do que acontece no sono REM. Seria uma atividade dessincronizada do cérebro, como se a pessoa tivesse aleatoriamente espaços de memórias que iriam se associar de maneira randômica. Mas isso não explica as experiências de sonhos repetitivos que muita gente relata, ou sonhos relacionados ao transtorno de estresse pós-traumático, em que o in-

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divíduo fi­ca continuamente revisitando aquele te­ma. Isso também não explica fenômenos que observamos, embora mais raros, de sonhos que não estão na fase do sono REM, mas nesse movimento de ondas lentas em que o cérebro, de maneira mais global, está todo sincronizado e disparando tudo que significa estado de maior aquiescência, menor cognição e menor ­consciência – mais parecido com estados comatosos. Uma das perguntas é como temos lembranças e atividade onírica durante esse estado? Esse é o jogo da Ciência: a partir das teorias vamos desenhando os experimentos e colocando um tijolinho a mais nesse conhecimento. Esse conhecimento pode ajudar a evitar ou tratar o adoecimento ­mental?

Na nossa pesquisa vemos como os relatos de sonhos são importantes para termos uma precisão nessa análise da estrutura da fala. Quando pedimos para os parti­ cipantes contarem um sonho, só com o relato e a análise da estrutura da linguagem conseguimos perceber, com mais de 90% de precisão, se veio de alguém com diagnóstico de esquizofrenia ou sem sofrimento mental; ou se é um indivíduo que tem psicose, mas não esquizofrenia – como transtorno bipolar do humor. Sigo na UFRJ pesquisando porque falar sobre um sonho parece ser tão especial. Uma das questões que pode trazer luz para isso é o teor emocional dos sonhos, por isso, em 2017 comecei a aplicar um protocolo com imagens afetivas. Ao mostrar imagens de conteúdo emocional positivo ou negativo, as histórias contadas a partir delas são informativas sobre essa cognição – embora não tanto quanto o sonho. Pessoas com esquizofrenia, quando relatam o sonho, falam como se fosse um dia normal, de maneira linear e bastante empobrecida. Já indivíduos sem adoecimento mental falam de maneira muito mais enriquecida e conectando todas essas informações de forma que conseguimos entender. Ainda não tenho como afirmar o motivo de os sonhos s­ erem tão importantes, mas já testamos a metodologia em pacientes crônicos e em primeiro episódio, crianças e adoles­centes experimentando a crise pela pri­meira vez e em colaboração com pesquisadores e labo-

ratórios pelo mundo, e percebemos que os sonhos parecem ser um tipo de relato bastante informativo. Faço parte de uma rede de pesquisadores especializados em esquizofrenia que se formou durante a pandemia, e temos nos debruçado nesse tema. Criamos um protocolo comum que pode ser explorado em diferentes culturas e idiomas, com as mesmas perguntas. Já somos cerca de 20 laborató­rios e mais de 100 pesquisadores de países como Brasil, Canadá, Holanda, Turquia, Espanha, Estados Unidos, Austrália e Chile. Qual é o principal objetivo do grupo?

Queremos explorar melhor a viabilidade desse tipo de relato com fins diagnósticos. O que entendemos é que esse tipo de relato, com diferentes estratégias computacionais que podem ser aplicadas em larga escala, dá um potencial de estudarmos porque falar sobre um sonho pode ser importante, por exemplo, para prever um diagnóstico de esquizofrenia a tempo de lidar com isso antes de estourar uma crise. Um dos grandes potenciais é pensar nas crianças e nos adolescentes que ainda estão expressando sintomas atenuados e não tiveram o rompimento da psicose, que é algo muito traumático para o paciente e a família. Será que poderíamos ter marcadores que pudessem ajudar essa família a proteger a cognição desse indivíduo de uma maneira melhor? No futuro, será que falar sobre sonhos será uma ferramenta que pode nos indicar se o paciente está piorando, se precisa mudar a medicação ou dormir melhor? O grupo pretende que o sonho seja essa ferramenta ou um marcador para identificar o sofrimento mental antes que a pessoa agrave. No protocolo comum, uma das perguntas é ‘Me conta um sonho’. O que acontece com o cérebro de um indivíduo com esquizofrenia?

Sabemos muito pouco sobre a etiologia da doença, mas o modelo mais adotado é multifatorial. Tem uma carga ­genética e herança familiar importantes, mas são heranças poligêni­cas e não um gene espe­ cífico ou uma cadeia de genes específica. E mesmo esse conjunto de genes não explica porque uma pessoa abre uma psicose e outras não. Cada vez mais, o campo


de estudos se volta para entender o que acontece durante o desenvolvimento de ­indivíduos que tenderão a desenvolver esquizofre­nia. Percebemos que muitos sintomas que trazem um apartamento das relações e estão na base de sintomas psicóticos, alucinações e delírios começam lá atrás. Esse isolamento, muitas vezes, iniciou na infância. Muitas famílias relatam isso e, quando olhamos só para os indivíduos que já romperam a psicose e fazem esse retrocesso, isso fica claro. Um estudo muito importante em Avalon, na Inglaterra, acompanhou todos os nascidos vivos da cidade fazendo essa curva de qualidade de desenvolvimento cognitivo. Quando fecharam os seguimentos de 20 anos, observaram que medidas como inteligência global e teste de QI já estavam diferenciadas nesses indivíduos aos quatro anos. Eles já tinham uma performance relativamente pior que os demais e isso vai se arrastando porque, nesta fase, essa criança não dá trabalho. A família não percebe de início?

Exatamente! É aquele indivíduo tímido, que não faz amizade, prefere ficar sozinho, fala pouco e tem dificuldade de entender certas coisas, mas não expres­ sa essa dificuldade. Pode tirar nota boa na escola e é aquele aluno que passa despercebido pelos professores, mas, quando chega na adolescência, começa a ficar esquisito. No entanto, esses sintomas atenuados se confundem muito com a própria adolescência. Quando acompanhados, percebe-se que a maioria desses indivíduos não tem sintomas psicóticos depois dessa fase, e só 30% vão romper com psicose. Participei de estudo em colaboração com um grupo de Glasgow, na Escócia, que seguiu indi­víduos por sete anos e viu aqueles que faziam transição para a psicose. Quando aplicamos essa metodologia de estrutura da linguagem, vemos que os indivíduos que desenvolveram psicose tinham uma menor conectividade desse discurso. E esse marcador se tornava mais severo quando faziam o primeiro episódio. Por isso, a comunidade científica tem muito cuidado na hora de falar sobre isso para o público. Boa parte das pesquisas foi feita em centros internacionais e a carac­

Rebeca Figueiredo

NATÁLIA BEZERRA MOTA

O grupo pretende que o sonho seja essa ferramenta ou um marcador para identificar o sofrimento mental antes que a pessoa agrave. te­­rização é muito mais precisa desses marcadores de linguagem em inglês e em popula­ções anglo-saxãs. Precisamos saber se esses marcadores se expressam do mesmo jeito em português brasileiro; no inglês australiano, com a população descendente de aborígenes, ou na África. Por isso esse esforço internacional para termos um protocolo comum e coletar o mesmo tipo de relato, em diferentes línguas e contextos culturais, levando em conta nível educacional, gênero e outros fatores. Já estamos em fase de coleta. São três centros no Brasil: eu na UFRJ, o professor Ary Gadelha, na Universidade Federal de São Paulo (­ Unifesp), e o professor Rafael Massuda, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A esquizofrenia é muito frequente em termos globais?

A esquizofrenia atinge em torno de 1% da população mundial, em diferentes locais e condições socioeconômicas. Esse número é alto do ponto de vista do problema que traz em termos ­populacionais, porque o indivíduo abre um quadro cognitivo grave que, muitas vezes, o impede de estudar e trabalhar. Ao sair da cadeia produtiva, deve ser protegido pelo Estado para manter a qualidade de vida. Se os cuidados começarem de uma maneira mais precoce, esses indivíduos conseguirão ter uma vida mais produtiva ou, ao menos, não tirarão pessoas da vida produtiva para cuidar deles. Quando se tem um paciente estável, toda a família está estável. Uma questão mais importante ainda são todos os outros diagnósticos confundidos com esquizofrenia de indivíduos que não têm a doença.

Isso ocorre por falta de conhecimento sobre a doença?

Há todo um estigma em torno desse diagnóstico. Mas é importante lembrar que a psicose pode se manifestar em diferentes situações, inclusive na condi­ção de s­ aúde. Muitas pessoas podem ter sintomas parecidos com delírios e alucinações, e não necessariamente um episódio de psicose. E isso pode ser transitório, induzido por substâncias, provocado por epilepsia ou causa o­ rgânica, por um tumor ou outras condições psiquiá­tricas que, frequentemente, têm sintomas psicóticos e podem ser confundidas com esquizofrenia. Dar esse diagnóstico errado é dar uma sentença de vida; é algo que tem de ser feito com muito cuidado. É importante que o médico fale de maneira esperançosa se tiver um paciente com quadro de esquizofrenia, explicando que pode conviver com isso se tiver determinados cuidados e tomar a medicação adequada, e que vai precisar se afastar de situações como, por exemplo, o uso de psicotrópicos como a Cannabis. Agora, o indivíduo que não tem esquizofrenia e recebe esse diagnós­ tico vai precisar de outros cuida­dos, até mesmo para se recuperar da situação traumática que é experimentar os sintomas de psicose e não ser estigmatizado por isso. O SUS tem um desenho de saúde comunitária na rede de saúde mental muito importan­te, e isso ­também precisa ser mais conhecido. E que o médico gene­ ralista que está na atenção primária entenda que a esquizofrenia não é problema só do psiquiatra, mas da comunidade, e que a comunidade precisa lidar com isso de maneira saudável e sem tabu. Quanto mais falarmos sobre isso, melhor! abr/jun 2022

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SAÚDE

FELICIDADE DIRETO DA MESA ALIMENTOS RICOS EM MICRONUTRIENTES, COMO O TRIPTOFANO, MELHORAM O HUMOR E O BEM-ESTAR

Depositphotos/Anna_Om

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Fernanda Ortiz Especial para Super Saudável

prazer da comida não se limita ao sabor. Inúmeros estudos apontam que há alimentos que fornecem nutrientes e micronutrientes importantes para a síntese e produção de neurotransmisso­ res, especialmente serotonina e dopami­ na que, junto da endorfina e o ­ citocina, são conhecidos como hormônios da feli­­ cidade. Em um dos estudos – ­‘Evolution of Well-Being and Happiness After ­Increases in Consumption of Fruit and Vegetables’ – cientistas acompanharam 12.385 adultos australianos ao longo de 2007, 2009 e 2013 e constataram que o aumento do consumo de frutas e vegetais foi preditivo de maior felicidade, satisfação com a vida e bem-es­tar. Capazes de

Eliane Fialho de Oliveira

melhorar a sensação de bem-estar, bom humor e entusiasmo, esses alimentos são ricos em nutrientes como triptofano, tiro­sina, carboidratos, proteínas, potássio, vitaminas C e do complexo B, cálcio, ácido fólico, ômega 3, magnésio, selênio e ácidos graxos, que contribuem para refeições mais saudáveis e balanceadas. Evidentemente, apenas a dieta alimentar não é o suficiente para atingir o estado de felicidade, pois, mais do que mudar a relação com a comida e compreender os benefícios nutricionais que trazem para

Maria Fernanda ­Naufel

a saúde, é preciso adotar hábitos de vida saudáveis e atitudes mais positivas. Dos alimentos relacionados ao bemes­tar, os ricos em triptofano são determinantes para melhorar o humor. Segundo a professora doutora Eliane Fialho de Oliveira, docente do Departamento de Nutrição Básica e Experimental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o triptofano é um aminoácido essencial precursor da síntese de serotonina e desempenha papel importante no sistema nervoso central, sendo responsá­

ESTUDOS EVIDENCIAM A RELAÇÃO ENTRE EMOÇÕES E ALIMENTAÇÃO Um cardápio balanceado e rico em alimentos capazes de sintetizar os neurotransmissores ligados à felicidade melhora as funções do organismo e a saúde de forma global. Entretanto, esse é apenas um dos pilares que sustentam o bem-estar, uma vez que o conceito de felicidade é um termo complexo que envolve a forma como um indivíduo vivencia suas emoções, levando em consideração aspectos como a capacidade funcional, o estado emocional, as interações sociais, o autocuidado, as atividades contemplativas, intelectuais e físicas, o suporte familiar, o estado de saúde, os valores culturais, éticos e religiosos, o estilo de vida e a satisfação com o ambiente em que está inserido. A relação entre dieta e bem-estar pode ser analisada a partir do ponto de vista subjetivo ou psicológico, consideradas as concepções científicas mais tradicionais e relevantes sobre bem-estar no campo da Psicologia. Segundo a professora Wilma Raquel Barbosa Ribeiro,

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doutora em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e docente da Faculdade Adventista da Bahia ­(FADBA), o bem-estar subjetivo abrange as avaliações que os indivíduos fazem de suas vidas, de acordo com elementos afetivos (dimensão emocional) e cognitivos (dimensão cognitiva). “A dimensão emocional se refere à frequência com que experimentamos emoções positivas e negativas, enquanto a cognitiva abrange a satisfação com a vida. Deste modo, um nível de bem-estar subjetivo adequado envolve maior frequência de emoções positivas e níveis elevados de satisfação com a vida”, analisa. Pesquisas evidenciam as relações existentes entre emoções e alimentos apontando, por exemplo, que o maior consumo de carne vermelha, doces e fast food amplia as vivências de afetos negativos. Por outro lado, o bem-estar psicológico está associado às experiências de desenvolvimento pessoal. Os estudos que relacionam bem-estar psicológico e alimentação, incipientes quando comparados


vel pela regulação do sono, porque ajuda na formação de melatonina. Além disso, aumenta os níveis do hormônio que alivia sintomas de estresse e ansiedade, prevenindo depressão; regula o apetite e as funções cognitivas e é um estimulante natural contra a fadiga. O triptofano pode ser encontrado em diversos alimentos fontes de proteínas, a exemplo de carnes magras, frango, peixe, ovo, mel, leite e derivados, que oferecem os aminoácidos essenciais que o organismo necessita. A professora ressalta que, por não ser

ta a professora doutora Maria Fernanda ­Naufel, nutricionista e pesquisadora clí­ni­ ca da Universidade Federal de São P ­ aulo (Unifesp). Entre os produtos de origem vegetal, mesmo com baixo teor proteico (3g de proteína/100g), os cogumelos podem ser uma opção de acompanhamento a outras fontes de proteínas. Os alimentos com probióticos, assim como os carboidratos de boa qualidade e baixo índice glicêmico – como aveia, arroz, macarrão, biscoitos e pães integrais –, quando inseridos em uma dieta balanceada, também estimulam a produção de serotonina. 

aos que evidenciam o papel da dieta na melhora da saúde física, têm demonstrado que alimentos influenciam diretamente esse tipo de bem-estar. “Pesquisa realizada em 2016 mostra que frutas e verduras oferecem um ganho no bem-estar­psicológico em período de dois anos, considerado mais rápido do que o ganho observado na saúde física. Uma provável explicação é a atuação de micronutrientes existentes nesses alimentos, o que significa que antioxidantes e vitaminas C e do complexo B podem aumentar os níveis de bem-estar psicológico através de uma maior síntese de neurotransmissores como dopamina, serotonina e ocitocina”, acentua a docente da UFBA. Estudos também têm confirmado a influência positiva da Dieta do Mediterrâneo – padrão ouro de alimentação – nos aspectos psicológicos, considerando bem-es­tar, afeto, bom humor, regulação emocional, ansiedade e prevenção de depressão.

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Depositphotos/Montagem: Serg64/belchonock

Fotos: Arquivo pessoal

Wilma Raquel Barbosa Ribeiro

produzido pelo organismo, sua ingestão depende exclusivamente de uma dieta balanceada constituída por alimentos fontes do aminoácido que, quando consumidos regularmente, mantêm os bons níveis de triptofano no sangue regulando os processos bioquímicos, especialmente de humor e sono. “A produção de seroto­nina através do triptofano também precisa de uma microbiota intestinal adequada, uma vez que 90% deste neurotransmissor é sintetizado no intestino”, acentua. Para isso, ter um intestino saudável é imprescindível e é preciso montar um cardápio variado que ofereça todos os nutrientes que melhorem ou estabeleçam o bom funcionamento da microbiota, fundamental para a absorção dos aminoácidos. “Para vegetarianos ou veganos, a substituição das proteínas animais pode ser por grãos como quinoa, lentilha, feijão e grão de bico; das sementes de abóbora, linhaça e girassol; e de oleaginosas como amendoim, amêndoas e castanhas em geral, que oferecem o aporte de triptofano e outros nutrientes necessários para a produção dos neurotransmissores, promovendo melhora no humor”, orien-


SAÚDE

Depositphotos/robynmac

AUXILIAR DO BEM-ESTAR Outros alimentos com potássio e ácido fólico, como vegetais e hortaliças de folhas escuras, entre os quais espinafre, brócolis, couve e rúcula, são fontes de aminoácidos e ajudam a combater depressão, insônia, fraqueza e fadiga. Neste grupo se inclui, ainda, salmão e sardinha, ricos em ômega 3 – ácido graxo que aumenta a produção dos receptores de neurotransmissores. “No grupo das frutas, a banana é uma importante fonte de triptofano e rica em vitaminas B2, B6 e C, além de minerais como potássio e magnésio, que auxiliam na qualidade do sono e amenizam sintomas de ansiedade”, destaca a professora Maria Fernanda Naufel. Associado à sensação de prazer, o chocolate na versão amarga (70% de cacau ou mais) é um importante aliado do bom-humor. Além de ser fonte de triptofano, contém teobromina – um alcaloide da família da cafeína que tem efeito estimulante –, e magnésio, eficiente para reduzir os sintomas da tensão pré-menstrual. Segundo a nutricionista Eliane Fialho de Oliveira, o consumo de alimentos contendo tirosina – aminoácido produzido pelo organismo a partir da fenilalanina e/ou proveniente da dieta –, também influencia no bem-estar emocional, pois, quando chega ao cérebro, a tirosina ­torna­-se­precursora de neurotransmissores como a dopa­mina que, além de provocar a sensação de prazer, está envolvida nas emoções, nos processos cognitivos, na função cardíaca, no aprendizado, na capacidade de atenção e nos movimentos intestinais. “Embora a dopamina seja produzida naturalmente pelo corpo, no sistema nervo­so central e nas suprarrenais, seus níveis podem ser aumentados através do consumo de alimentos ricos em tirosina como ovos, peixes, carnes, feijão, ervilha, abacate, nozes e castanhas, assim como na forma de suplemento nutricional”, complementa. A deficiência desses micronutrientes, especialmente triptofano, pode causar baixas concentrações de serotonina levando a quadros de insônia, depressão, ansiedade, irritabilidade e incapacidade de concentração. A nutricionista Maria Fernanda Naufel indica uma alimentação o mais saudável possível, evitando o consumo de alimentos que podem atrapalhar a sensação de bem-e­star,­ prazer e felicidade. “Alimentos ricos em gorduras saturadas, a exemplo de carnes gordas, queijos amarelos, margarina, chocolate ao leite e frituras, podem causar inflamações e aumentar a produção de cortisol, conhecido como hormônio do estresse. Apesar de gerar rápida sensação de prazer, carboidratos refinados, principalmente processados e ultraprocessados como bolachas, biscoitos e pães brancos, logo são substituídos por episódios de ansiedade”, acentua. Dietas radicais que limitam de forma excessiva a ingestão de carboidratos e calorias também devem ser ­evitadas, assim como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, pois podem aumentar a ansiedade e atrapalhar a absorção de vitaminas e minerais.

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PROBIÓTICO LcS ESTUDO MOSTRA EFEITOS BENÉFICOS DO LACTICASEIBACILLUS PARACASEI SHIROTA EM PACIENTES COM O TRANSTORNO Xiaomei Zhang1, Shanbin Chen1, Ming Zhang2, Fazheng Ren1, Yimei Ren3, Yixuan Li1, Ning Liu1, Yan Zhang4, Qi Zhang1, Ran Wang1 1 Department of Nutrition and Health, China Agricultural University; 2 School of Food and Chemical Engineering, Beijing Technology and Business University; 3 Key Laboratory of Functional Dairy, Co-Constructed by Ministry of Education and Beijing Government China Agricultural University; 4 Hebei Engineering Research Center of Animal Product, Beijing, China

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t­ ranstorno depressivo, também conhecido como depressão, é um tipo de transtorno caracterizado por humores baixos persistentes. Os principais sintomas são longa duração da depressão, falta de motivação, perda de prazer e disfunção física. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a incidência global de depressão é de aproximadamente 4,4%. Notavelmente, estresse, hábitos alimentares e inatividade física têm implicado na etiologia da depressão. Já foi demonstrado que existem correlações entre depressão e doenças gastrointestinais e que indivíduos com desconforto intestinal têm maior risco de desenvolver o transtorno depressivo. Em uma pesquisa envolvendo 18.571 indivíduos, aqueles com desconforto gastrointestinal apresentaram maior prevalência de depressão do que a população geral (7,5% ­versus 2,9%), e a prevalência na população com pelo menos dois problemas de desconforto gastrointestinal foi de 13,4%. Uma metanálise de 35 estudos com 7.179 pacientes com síndrome do intestino irritável com predominância de constipação (SII-C) e 69.989 pacientes com constipação idiopática crônica (CIC) relatou que a incidência de depressão em ambos os grupos foi de até 12,5-69,2% e 14,6-29,2%, respectivamente. Quase todos os casos de depressão são acompanhados por sintomas gastrointestinais, e 83,5% dos pacientes com depressão apresentam sintomas de diarreia e constipação, que são os sintomas gastrointestinais mais comuns. A patogênese da depressão envolve elementos disfuncionais em respostas neuroendócrinas, imunológicas, funções sinápticas e de plasticidade e neurogênese. Crescentes evidências sugerem que a microbiota intestinal desempenha papéis-chaves no desenvolvimento da depressão, e vários estudos sobre esse assunto estão em andamento atualmente. Kunugi e colaboradores rela-


ARTIGO CIENTÍFICO

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NOS SINTOMAS DEPRESSIVOS taram resultados sugerindo que contagens bacterianas baixas de B ­ ifidobacterium e/ou Lactobacillus são mais comuns e maiores em pacientes com transtorno depressivo do que em controles saudáveis. Estudos sobre o eixo intestino-cé­rebro também foram conduzidos para determinar os efeitos da microbiota intestinal na depressão. Estudos em animais livres de germes (GF) relataram que a microbiota intestinal exerce funções em processos neurogênicos básicos, incluindo a formação da barreira hematoencefálica, mielinização, neurogênese e maturação da micróglia que, por sua vez, afetam os comportamentos dos animais. Em outro trabalho, camundongos que sofreram privação materna exibiram comportamentos ansiosos e depressivos, anormalidades nos níveis de hormônio do estresse corticosterona e disfunção intestinal. Além disso, os camundongos GF apresentaram níveis anormais de hormônio do estresse e disfunção intestinal após a privação materna, mas nenhum comportamento semelhante à ansiedade e à depressão. Os probióticos regulam efetivamente a microbiota intestinal e aliviam doenças gastrointestinais, como diarreia e constipação. Uma metanálise recente de 1.349 indivíduos envolvidos em 10 intervenções com probióticos para a depressão revelou que estes, efetivamente, aliviaram os sinto­mas depressivos leves e moderados. A cepa ­Lacticaseibacillus paracasei Shirota (LcS) – anteriormente classificada como ­Lactobacillus casei ­Shirota – tem um históri­ co de mais de 80 anos de consumo seguro e benefícios comprovados para a saúde, e é apoiada por extensa pesquisa científica na redução de doenças intestinais funcionais e infecciosas e efeitos de modulação imunológica. A eficácia do LcS no alívio da constipação já foi demonstrada em vários estudos, que mostraram melhora na frequência de evacuações e na qualidade das fezes, aliviando a ­constipação.

O consumo de bebidas com LcS diminuiu a gravidade da constipação, melhorou a consistência das fezes e acelerou o trânsito colônico em pacientes com constipação crônica. O LcS também melhorou a consistência das fezes em indivíduos saudáveis, pacientes com doença de Parkinson, mulheres no puerpério e pacientes gastrectomizados. Assim, o LcS pode ter o potencial para melhorar a constipação em indivíduos com depressão. O LcS também melhorou as fezes duras durante a constipação, possivelmente, aumentando as bactérias produtoras de butirato e os níveis subsequentes de butirato nas fezes em 39,7%. Um estudo ­recente reve­lou que o LcS aliviou a ansiedade induzida pe­lo estresse e diminuiu os níveis de cortisol sali­var, disfunção abdominal, distúrbios do sono e o ­utros sintomas físicos, e preservou a microbiota intestinal de populações saudáveis estressadas. No entanto, permanece incerto se o LcS exerce um impacto sobre os sintomas depressivos. O objetivo principal deste estudo foi investigar os efeitos do LcS na constipação em pacientes com depressão. O LcS tem demonstrado ser eficaz para a constipação em várias populações. Portanto, este estudo buscou investigar tais efeitos em pacientes com depressão que também podem ter uma etiologia e microbiota intestinal específicas. Como objetivo secundário, foi investigado os efeitos do LcS nos sintomas depressivos.

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ARTIGO CIENTÍFICO

MATERIAIS E MÉTODOS Este foi um estudo paralelo de dois braços, randomizado, duplo-cego controlado por placebo (RCT). O tamanho da amostra necessária foi estimado com base nas pontuações do Índice de Depressão de Beck (BDI) de Akkasheh e colaboradores, considerando erro α de 0,05 e erro β de 0,20. Trinta voluntários foram necessários por grupo, mas 82 indivíduos foram recrutados para compensar a provável perda de acompanhamento. O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da China Agricultural ­University (identificação do projeto de pesquisa nº CAUHR-2019014 em 3 de setembro de 2019). Este estudo foi registrado no http://www.chict. org.en (acessado em 16 de setembro de 2019) como ChiCTR190002 972. Os voluntários que assinaram o formulário de consentimento foram selecionados para elegibilidade de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO: indivíduos com idade entre 18 e 60 anos no início do estudo; índice de massa corporal (IMC) 18,5 - 29,9; depressão diagnosticada por psiquiatras de acordo com os critérios diagnósticos para episódios depressivos do Manual Diagnóstico e Estatístico Americano de Transtornos Mentais (5ª Edição) (DSM-5); e um diagnóstico de constipação de acordo com os Critérios de Roma IV, incluindo dois ou mais sintomas seguintes: (i) esforço para mais de 25% das defecações, (ii) fezes grumosas ou duras em mais de 25% das defecações, (iii) sensação de evacuação incompleta em mais de um quarto (25%) das defecações, (iv) sensação de obstrução/ bloqueio anorretal em mais de um quarto (25%) das defecações, (v) manobras manuais para facilitar mais de um quarto (25%) das defecações e (vi) menos de três evacuações espontâneas por semana. Além disso, uma escala de classificação de depressão de Hamilton (HAMD) de 17 itens de pontuação ≥ 8 é considerado como depressão. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO: uso de antibióticos sistêmicos ou antimicóticos nos 30 dias anteriores ao estudo; uso de medicação antidiarreica ou laxante nos 30 dias anteriores ao estudo; incerteza do investigador sobre a vontade ou capacidade dos voluntários de cumprir os requisitos do protocolo; pessoas com alergia à proteína do leite, intolerância à lactose ou problemas de constipação de origem orgânica ou neurológica; mulheres grávidas ou lactantes; uso de antidepressivos nas duas semanas anteriores ao estudo; voluntários em quaisquer outros estudos dentro de dois meses antes da entrada neste estudo.

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Coleta de informações Na visita de triagem foram coletados dados demográficos, critérios de elegibilidade, histórico médico e medicamentos concomitantes. Todos os dados, exceto o histórico médico, foram obtidos a partir de questionários preenchidos pelos investigadores durante as visitas de triagem. Os voluntários foram randomizados uniformemente no grupo LcS ou placebo (1:1) estratificados pelo status da medicação. A randomização foi conduzida pela equipe do Dr. Guoshuang Feng (Centro Nacional de Saúde Infantil da China). Os indivíduos foram randomizados usando um processo de randomização em blocos gerado por computador para dois grupos em proporções iguais, usando o programa SAS versão 9.4 (SAS Institute Inc., Cary, NC, EUA). As bebidas teste foram uma bebida láctea fermentada e um placebo. Cada frasco de 100ml da bebida láctea fermentada continha pelo menos 1,0x1010 UFC de Lacticaseibacillus paracasei YIT 9029 (cepa Shirota: LcS), água, açúcar, leite em pó desnatado, glicose e aromas. A composição nutricional de um frasco era de 287kJ de energia, 1,2g de proteína, 0g de lipídio, 15,7g de carboidratos e 19mg de sódio. O placebo continha os mesmos componentes da bebida láctea fermentada, mas não continha o probiótico. O sabor do placebo foi semelhante ao da bebida láctea fermentada pela adição de ácido lático. Sabor, aroma e aparência externa do placebo eram indistinguíveis daqueles das bebidas lácteas fermentadas. A bebida láctea fermentada e o placebo foram fabricados e distribuídos pela Yakult Corporation, Xangai, China. As bebidas foram mantidas refrigeradas até a ingestão. ANÁLISE ESTATÍSTICA c Além das análises da microbiota intestinal fecal, os dados foram relatados como média ± desvio padrão (DP), a menos que indicado de outra forma. As análises estatísticas foram realizadas usando SPSS Versão 21 (IBM Corp, Armonk, NY, EUA). Foi realizado teste qui-quadrado para gênero e testes t para análise de idade, peso e IMC. O teste de classificação sinalizada de Wilcoxon foi usado para comparar os dados entre as visitas, e o teste de soma de classificação de Wilcoxon foi usado para comparar grupos para sintomas relacionados à constipação, PAC-SYM e escores de depressão e, também, parâmetros séricos. P<0,05 foi considerado um indicativo de diferenças estatisticamente significativas. PARÂMETROS DO SORO c O sangue foi coletado por uma enfermeira qualificada e centrifugado a 3500rpm por 10 minutos a 4°C. O soro foi coletado e armazenado a -80°C até a avaliação. Os fatores inflamatórios séricos interleucina (IL)-1β, IL-6 e fator de necrose tumoral-α (TNF-α) foram medidos por um kit comercial de ensaio imunoenzimático (ELISA) (ExCell Bio, Xangai, China), de acordo com as recomendações do fabricante.


O estudo consistiu em um período inicial de 14 dias, um período de ingestão de nove semanas e quatro visitas (V1-V4, com 21 dias de intervalo cada). Durante o período basal, os voluntários continuaram sua dieta normal, mas excluíram produtos lácteos fermentados. Em V1, V2 e V3, os participantes receberam 21 frascos de bebida láctea fermentada ou placebo. Os voluntários foram instruídos a beber um frasco após cada almoço e preencher um diário. Este compreendia perguntas sobre a ingestão do produto do estudo (somente para o período de ingestão de nove semanas), outras ingestões de alimentos, frequência de defecação, consistência das fezes, gravidade da constipação, escores de sintomas relacionados à constipação, medicação recebida e quaisquer outros sintomas de desconforto (diarreia, vômito, doença, entre outros). Em V1 e V4 foram coletadas amostras de f­ezes e sangue. Os índices BDI e HAMD foram utilizados p ­ a­ra avaliar o grau de depressão. Grau de d ­ epressão de acordo com as pontuações do BDI: 0 - 4= não, 5 - 7= leve, 8 - 15= moderado e >15= ­grave, e

grau de depressão de acordo com as pontuações de 17 itens do HAMD: 0 - 7= não, 8 - 17= leve; 18 - 24= moderado e >24= grave. As pontuações do ­PAC-SYM foram usadas para avaliar a gravidade da constipação. O PAC-SYM de 12 itens foi dividido em três subescalas de sintomas: abdominal (itens 1 - 4), retal (itens 5 - 7) e fezes (itens 8 - 12). Os itens foram pontuados na escala Likert de 5 pontos, variando de 0 a 4 (0= sintoma ausente, 1= leve, 2= moderado, 3= grave e 4= muito grave). Os desfechos primários foram alterações nas pontuações do PAC-SYM. Os desfechos secundários incluíram mudanças na pontuação do BDI e HAMD, microbiota intestinal e parâmetros séricos.

ALTERAÇÕES NA COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL c As análises de composição da microbiota foram realizadas na região V3-V4 do gene 16S rRNA utilizando o sequenciamento Illumina (Majorbio Bio Pharm Technology Co., Ltd., Xangai, China). Resumidamente, o DNA foi extraído de amostras de fezes de acordo com os protocolos do fabricante usando o E.Z.N.A. kit de DNA do solo (Omega Bio-Tek, Norcross, GA, EUA). A região V3-V4 do gene 16S rRNA bacteriano foi amplificada pela reação em cadeia da polimerase (PCR). Os primers 338F (5’-barcode ACTCCTACGG AG-GCAGCAG 3’) e 806R (5’-GGACTACHVGGGTWTCTAAT-3’) foram usados. Os PCRs foram conduzidos usando o seguinte programa: inicial 95°C por 3 minutos, seguido por 27 ciclos a 95°C por 30 segundos. 55°C por 30 segundos, 72°C por 45 segundos e uma extensão final a 72°C por 10 minutos. Os amplicons foram extraídos de géis de agarose a 2%, purificados (usando o AxyPrep DNA Gel Extraction Kit – Axygen Biosciences, Inc, Union City, CA, EUA), agrupados em concentrações equimolares e sequenciados em pares (2x250) na plataforma Illumina MiSeq (Illumina, Inc, San Diego, CA, EUA), de acordo com os protocolos padrão. As leituras brutas foram depositadas no banco de dados do National Center for Biotechnology Information Sequence Read Archive. Os arquivos raw fastq foram desmultiplexados e a qualidade filtrada usando o software Quantitative Insights Into Microbial Ecology (QIIME). Unidades Taxonômicas Operacionais (OTUs) foram agrupadas com um corte de similaridade de 97% usando UPARSE e sequências quiméricas identificadas e removidas usando análises UCHIME.

Sequências alinhadas usando ClustalW2 foram usadas para construir uma árvore de junção vizinha do R com pacote ape. A árvore e a abundância de OTU foram então usadas para calcular as distâncias ponderadas do UniFrac do R com pacote R GUniFrac. OTUs com abundâncias proporcionais de pelo menos 0,1% em pelo menos três amostras foram retidas para a análise a jusante. A taxonomia de cada sequência do gene 16S rRNA foi analisada pelo classificador RDP contra o banco de dados Silva (SSU132) 16S rRNA usando um limite de confiança de 70%. c A abundância relativa de diferentes gêneros em cada amostra foi calculada e comparada entre visitas e grupos usando medições repetidas de ANOVA, usando estatísticas do pacote R (3.3.1). Os índices de Chao e Shannon foram calculados para avaliar a diversidade alfa. A análise de coordenadas principais (PCoA) com base nas distâncias de Bray Curtis de OTUs forneceu uma visão geral das diferenças microbianas intestinais entre os grupos. A análise de similaridade (ANOSIM) foi usada para comparar as distâncias ponderadas do UniFrac entre e dentro das visitas. O UniFrac ponderado é uma medida quantitativa de diversidade que detecta mudanças em quantas sequências de cada linhagem estão presentes, bem como detecta mudanças em quais táxons estão presentes. A detecção de táxons diferencialmente abundantes entre os dois grupos foi feita usando análise discriminante linear (LDA) Effect Size (LEfSe), e os valores de LDA ≥ 2 com um valor de P<0,05 foram considerados significativamente enriquecidos.

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e cronograma


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Resultados mostram benefícios Um total de 82 indivíduos foi recrutado seguindo os critérios de inclusão – 69 completaram o estudo, com adesão de 84%. Não foram observados eventos adversos e diferenças significativas entre os grupos em relação à idade, peso, IMC, HAMD ou gênero. Após nove semanas de ingestão do produto foi observada uma redução significativa (P<0,05) nas pontuações totais do PAC-SYM: de 14,39 ± 9,67 para 5,87 ± 6,05 no grupo LcS, e de 15,00 ± 10,39 para 8,97 ± 7,87 no grupo placebo. Não foram observadas diferenças significativas, mas pontuações totais do PAC-SYM entre os grupos (P=0,055). Após a ingestão do LcS por nove semanas, os sintomas nos itens 1 -12 do PAC-SYM foram significativamente aliviados, mas, no grupo placebo, apenas os sintomas nos itens 1, 6, 7 e 9 - 12 foram significativamente aliviados (P<0,05). Além disso, os sintomas no item 7 e a subescala de sintomas nas fezes (itens 8 - 12) foram mais significativamente aliviados no grupo LcS, quando comparados ao placebo (P<0,05). Esses resultados indicaram que os sintomas de constipação melhoraram após a ingestão do LcS quando comparados com o placebo ao longo de nove semanas. Em relação aos sintomas relacionados à depressão na linha de base, os voluntários tiveram pontuações do BDI e HAMD significativamente mais altas do que no final do período de ingestão. No final do período de ingestão, as pontuações do BDI e HAMD foram todas dimi-

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nuídas significativamente, e o grau de depressão melhorou significativamente em ambos os grupos (P<0,05). Esses resultados mostraram que o LcS e o placebo ajudaram a aliviar a depressão. Em relação às alterações na composição da microbiota intestinal, a diversidade-α da microbiota no nível de OTU foi identificada e o índice de Chao ou índice de Shannon não foi significativa­mente diferente entre os dois grupos. A diversidade-β da microbiota intestinal no nível da OTU foi identificada usando PCoA com base nas distâncias de Bray-Curtis. A composição microbiana global foi observada entre os dois grupos. No entanto, a diferença entre V1 e V4 do grupo LcS e V4 do grupo LcS e placebo foram menores, indicando que o LcS não alterou a diversidade-β da microbiota intestinal. Os filos mais abundantes foram ­Firmicutes, B ­ acteroidetes, Proteobacteria e Actinobacteria. Não hou­ve diferenças significativas entre os grupos em V4. A composição da microbiota intestinal em nível de gênero também foi analisada. Bactérias com uma abundância relativa de mais de 1% foram demonstradas em nível de gênero. Testes de ­Wilcoxon rank sum foram realizados para comparar diferenças nas comunidades bacterianas fecais entre os dois grupos em nível de gênero. Quando comparada com a linha de base, a abundância relativa de Adlercreutzia e ­Megasphaera aumentou significativamente após a intervenção com LcS por nove semanas,

e a abundância relativa de ­Klebsiella, ­Tyzzerella_4 e Eggerthella diminuiu significativamente após a intervenção com placebo no mesmo período. Quando comparado ao placebo, a abundância relativa de Veillonella aumentou significativamente, e Rikenellaceae_C9_gut_group, Sutterella e Oscillibacter diminuíram significativamente após a intervenção com LcS por nove semanas. LEfSe foi usado para determinar, ainda, se táxons bacterianos específicos foram enriquecidos diferencialmente em V4 do grupo LcS e do grupo placebo. Usando um ponto de corte de pontuação LDA logarítmico de 2, 17 gêneros discriminatórios foram identificados como discriminantes-­ chave. Veillonella, Neisseria, Ralstonia e Eggerthella foram significativamente super-representadas nas fezes do grupo LcS, enquanto Rikenellaceae_C9_gut_ group, Sutterella, Oscillibacter e Rothia foram enriquecidas no grupo placebo. CITOCINAS INFLAMATÓRIAS DO SORO As concentrações séricas de IL-1β, IL-6 e TNF-α foram investigadas para avaliar a inflamação. Os níveis de IL-1β, IL-6 e TNF-α não apresentaram diferenças significativas entre os grupos placebo e LcS na linha de base. Após nove semanas da intervenção com LcS, os níveis de IL-1β, IL-6 e TNF-α diminuíram significativamente. Além disso, os níveis de IL-6 foram significativamente mais baixos no grupo LcS do que no placebo no final do período de ingestão.


ARTIGO CIENTÍFICO

Depositphotos/IgorVetushko

PRIMEIRO ESTUDO DO GÊNERO COM PACIENTES DEPRESSIVOS Até onde se sabe, este é o primeiro estudo probiótico duplo­ cego, randomizado, placebo controlado para avaliar os sintomas de constipação em pacientes com depressão. Neste estudo foi confirmado que os sintomas de constipação, especialmente de fezes avaliados com PAC-SYM, foram aliviados pelo LcS. Além disso, o LcS diminuiu significativamente as pontuações de BDI e HAMD, embora as mudanças nos sintomas depressivos não tenham sido significativas entre os grupos. O LcS também diminuiu significativamente os níveis de IL-6 e regulou a microbiota intestinal associada à doença mental. O LcS é um probiótico amplamente utilizado e esta descoberta de que a constipação foi aliviada pelo uso da cepa foi consistente com estudos anteriores. A função de alívio da depressão do LcS também foi confirmada, embora as mudanças nas pontuações de BDI e HAMD não tenham sido significativamente diferentes entre os grupos. Da mesma forma, evidências anteriores indicaram que os benefícios dos antidepressivos para o tratamento da depressão eram devidos à resposta ao placebo. Em um estudo randomizado controlado de 423 mulheres no período pós-parto foi relatado que pontuações de depressão acima do ponto de corte não foram significativamente diferentes entre os grupos de tratamento probiótico e placebo. Outra razão para seus estados depressivos (pontuações BDI e HAMD) melhorarem significativamente no grupo placebo foi que o mesmo continha leite, e já está relatado que mudanças positivas de saúde e humor foram associadas ao consumo de leite cru em um questionário para os consumidores. A microbiota intestinal é essencial para a saúde e, recentemente, se tornou um alvo para bioterapias com células bacterianas vivas para várias doenças crônicas, incluindo constipação funcional e depressão. Neste estudo, muitos táxons foram encontrados diferencialmente abundantes entre os grupos LcS e placebo, conforme identificado pela soma de classificação de Wilcoxon e LEfSe. Quando comparada com a linha de base, a abundância relativa de Adlercreutzia e Megasphaera aumentou significativamente após a intervenção com LcS por nove semanas. Adlercreutzia é uma bactéria de produção igual, exibe efeitos benéficos e possui propriedades imunorreguladoras. ­Megasphaera produz ácido butírico. Veillonella usa lactato e o metaboliza em ácidos mais fracos como acetato e propionato. Em estudo clínico recente para investigar os efeitos de uma bebida contendo o probiótico LcS na microbiota da placa dentária, a abundân­cia relativa de Veillonella aumentou ­significativamente após a intervenção de 28 dias com LcS. ­Rikenellaceae está associada à esquizofrenia e a ­Sutterella é uma comen­sal amplamente prevalente, com capacidade pró-inflamatória leve no trato gastrointestinal humano e está associada a várias condições, como diabetes tipo 1 e doença inflamatória intestinal. Além disso, é um componente

importante da microbiota em crianças com autismo e distúrbios gastrointestinais. A cepa padrão do ­Oscillibacter produz ácido valérico como seu principal produto final metabólico, um homólogo do neurotransmissor ácido gama aminobu­tírico (GABA), e apresenta associação significativa com depressão. Assim, a intervenção com LcS por nove semanas aumentou os microrganismos benéficos Adlercreutzia, Megasphaera e Veillonella e diminuiu as bactérias relacionadas à doença mental, como Rikenellaceae_ C9_gut_group, ­Sutterella e Oscillibacter. As citocinas pró-inflamatórias IL-1β, IL-6 e TNF-α foram previamente relatadas como elevadas em pacientes com depressão e parecem desempenhar papéis significativos na patogênese de uma depressão maior. Além disso, essas citocinas influenciaram a integridade da barreira intestinal e a atividade do eixo hipotalâmico-hipofisário-­ a­drenal e o metabolismo do triptofano na via das quinureninas. IL-6 liberada na periferia e/ou no sistema nervoso central exerceu efeitos na resposta comportamental ao lipopolissacarídeo (LPS) e IL-1 que se desenvolveu em resposta à inflamação sistêmica. Neste estudo, as reduções nas citocinas pró-in­flama­tórias podem ser consistentes com as reduções da bactéria pró-inflamatória S­ utterella. Este estudo teve várias limitações. Primeiro, não foram observadas diferenças significativas nas pontuações de BDI e HAMD entre os grupos. Os efeitos benéficos do LcS na depressão não foram claramente demonstrados, embora tenham sido observadas reduções nas pontuações de BDI e HAMD no grupo LcS, quando comparado ao grupo placebo. Em segundo lugar, este estudo careceu de uma análise de metabólitos da microbiota intestinal. Portanto, o mecanismo preciso do LcS permanece desconhecido e mais estudos de metabólitos da microbiota intestinal são necessários para esclarecer esses mecanismos. O estudo ‘Effects of Fermented Milk ­Containing L­ acticaseibacillus ­paracasei strain Shirota on Constipation in ­Patients with ­Depression: A ­R andomized, Double­- Blind, Placebo-­­­­­­ Con­trolled Trial' foi publi­cado no ­periódico Nutrients 2021, 13, 2238: https://doi. org/10.3390/nu13072238.

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VIDA SAUDÁVEL

Leitura para melhorar a PESQUISAS MOSTRAM QUE LER UM BOM LIVRO TRAZ RELAXAMENTO, AJUDA NA MEMÓRIA E ENVOLVE REDES NEURAIS

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Elessandra Asevedo Especial para Super Saudável

s benefícios do hábito da leitura vão muito além de aprender, aumentar o vocabulário, melhorar a escrita, conhecer a história e se informar. Quando se trata de um livro com narrativa que permite ao leitor a transferência do pensamento para o mundo literário, distraindo dos estresso­res diários e desligando de problemas, angústias e solidão, a leitura é capaz de proporcionar alívio das tensões emocionais e melhorar o bem-estar psicológico e a saúde mental. Testada em relação a outros momentos favoritos de relaxamento em pesquisa conduzida por cientistas da M ­ indlab International, com sede na Universidade de ­ Sussex, na Inglaterra, a leitura provou ser 68% melhor na redução dos níveis de estresse do que ouvir música, 100% mais eficaz do que beber uma xícara de chá, 300% melhor do que dar um passeio e 700% mais calmante do que jogar videogame. As palavras na página impressa estimulam a criatividade e fazem com que leitor entre no que é essencialmente um estado alterado de consciência. Quanto maior o domínio que o autor exerce sobre os pensamentos do leitor, mais poderosas são as imagens mentais que permitem a criação da cena e dos personagens, levando à ausência temporária do mundo real. Como resultado, há uma redução rápida e profunda nas tensões

­

mentais e físicas na medida em que a frequência cardíaca diminui, os músculos ­relaxam e as preocupações são esquecidas. “Perder­-se­em um livro é uma grande maneira de relaxar”, enfatiza o neuropsicólogo David Lewis, um dos principais especialistas em estresse do Reino Unido e autor do livro One Minute Stress Management. O estudo da Rush University Medical Center de Chicago, nos Estados Unidos, publicado na revista Neurology, mostra que, quando vivenciada da infância até a velhice, a leitura – juntamente com outras atividades mentalmente estimulantes – pode ajudar a manter intactas as habilidades de memória e pensamento. A estimulação mental está associada com o declínio cognitivo 14% mais lento no final da vida. A pesquisa apoia a chamada ‘hipótese de reserva cognitiva da função mental’, que sugere que as tarefas mentalmente desafiadoras ajudam a manter e construir células cerebrais e conexões entre as mesmas. Essas conexões seriam auxiliares para compensar os danos ao cérebro e preservar a memória e as habilidades de pensamento. A leitura pode estimular de habilidades e conhecimentos fundamentais até aprendizagens que extrapolam para outros domínios, como o desenvolvimento de raciocínio e pensamento científico. O professor doutor associado de Psicologia na University of C ­ onnecticut, nos Estados Unidos, Augusto Buchweitz, pesquisador do Laboratório Haskins Global Literacy Hub e

MENOS DOR E ESTRESSE PARA CRIANÇAS HOSPITALIZADAS O estudo ‘Contar histórias aumenta ocitocina e emoções positivas e diminui cortisol e dor em crianças hospitalizadas’, de autoria do professor doutor Guilherme Brockington, do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (UFABC) – em parceria com o médico Jorge Moll, neurocientista e diretor presidente do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino IDOR –, fornece evidências das alterações de biomarcadores e efeitos benéficos do ato de contar histórias para crianças hospitalizadas em unidades de terapias intensivas, com redução

de dor e estresse. A pesquisa desenvolvida por nove meses, entre 2018 e 2019, envolveu 81 crianças de 4 a 11 anos internadas em um hospital na capital paulista, divididas em dois grupos: um recebia 30 minutos de contação de histórias e outro (controle) tinha 30 minutos de interação com jogos de adivinhação. Imediatamente antes e depois das intervenções, as crianças colocavam um pedacinho de algodão na boca para coletar saliva para análise de cortisona e ocitocina, e respondiam a uma escala de dor para combinar fatores biológicos e psicológicos.


Fotos: Divulgação

saúde mental

do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, ressalta que o desenvolvimento de habilidades escritas não tem uma rede natural de áreas cerebrais próprias, porque a leitura é uma invenção cultural do ser humano e depende de aprendizagem e integração entre redes neurais da linguagem oral, visual e motora. “Quando se aprende a ler e escrever, essas redes neurais da leitura e da escrita ‘pegam carona’ nos circuitos neurais da lingua­gem oral. Na medida em que a leitura é mais complexa, mais o cérebro fica envolvido. A leitura de narrativas com personagens que estão sentindo emoções, como raiva e alegria, ativa essas mesmas regiões

“Nos dois grupos houve aumento de ocito­ cina e redução do cortisol e da percepção subjetiva da dor. Mas, no da contação, o nível de ocitocina aumentou duas vezes mais, e o estresse e a escala da dor tiveram queda duas vezes maior”, destaca o professor. Ao final das inter­venções, todas as crianças realizaram uma tarefa de associação livre de palavras ao verem sete cartas com ilustrações de elementos do contexto hospitalar – enfermeira, médica, hospital, remédio, doente, dor e livro – e as partici-

Carla Souza

Augusto Buchweitz

no cérebro do leitor, que passa a ter os mesmos sentimentos”, detalha. Segundo a Teoria da Mente, a leitura ativa diferentes regiões do cérebro que têm relação com a atenção e cognição social. BIBLIOTERAPIA De origem grega, a palavra bibliotera­ pia foi cunhada em 1916 e consiste em um recurso de cuidado com o ser humano e a promoção de bem-estar, saúde e qualidade de vida por meio da literatura. Segundo Carla S ­ ouza, professora do curso de especialização em ­Biblioterapia e Mediação de Leitura Literária da Univer­ si­dade Comunitária da Região de Chape­

có­(Unochapecó), em Santa Catarina, e autora do livro Biblioterapia & ­Mediação Afetuosa da Literatura, a leitura tem poder transformador e, por meio das his­tó­­ rias, é possível cuidar das pessoas. “Os benefícios são muitos. A literatura e a interação com outros indi­víduos, na prática da biblioterapia em grupo, gera sensação de leveza e é importante a conexão que se dá por meio dos participantes e o texto literário. Além disso, proporciona equilíbrio que leva ao bem-estar, à saúde e qualidade de vida”, pontua. Textos com linguagem metafóri­ca e simbólica, como contos, crônicas, poesias e romances, são os que mais se encaixam na prática.

pantes do grupo da contação reportaram mais emoções positivas para os elementos centrais desse ambiente. A pesquisa recebeu apoio de contadores especializados da Associação Viva e Deixe Viver, mas os autores afirmam que a atividade pode ser praticada de forma igualmente benéfica por pais e educadores, dando espaço para as crianças participarem da escolha e da interação com a história. A atividade possibilita, ainda, estreitar laços entre a criança, o narrador e as pessoas presentes na prática.

Guilherme Brockington

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Depositphotos/Joingate

David Lewis


DESTAQUE

TONYU MUDA FORMULAÇÃO E ALIMENTO À BASE DE EXTRATO DE SOJA DA YAKULT FOI UM DOS PRIMEIROS DO GÊNERO NO BRASIL

O

Adenilde Bringel

Tonyu é um produto alimentício que combina as riquezas nutritivas da soja com suco de frutas. O alimento, totalmente desenvolvido pela Yakult no Brasil e um dos primeiros sucos à base de extrato de soja a ser lançado no País, em 1985, passou por mudanças na formulação e agora está enriquecido de vitaminas B6, B9, B12, D e zinco, que auxiliam no bom funcionamento do sistema imunológico. O Tonyu também ganhou uma nova embalagem mais moderna, colorida e com muitas informações sobre as propriedades nutricionais – que deverá se destacar visualmente nas gôndolas de autosserviço – e dois novos sabores: uva e laranja. O objetivo da Yakult com as mudanças é reforçar que o Tonyu é saudável e ajuda a manter a qualidade de vida, o bem-estar e a saúde dos consumidores. Produzido com a mais alta

tecnologia, o Tonyu é um produto de origem vegetal e, portanto, não contém colesterol. Por isso, colabora para a prevenção de doenças cardiovasculares e é indicado para indivíduos com intolerância à lactose e alergia à proteína do leite. O produto é adoçado com sucralose e tem apenas 37 calorias na embalagem de 200ml, o que também contribui para a manutenção do peso. Sem conservantes ou ingredientes artificiais, o Tonyu é indicado como complemento da alimentação de pessoas de todas as idades. A Yakult utiliza extrato de soja retirado do próprio grão para a fabricação do produto, que é fervido juntamente com água e prensado. Além de uva e laranja, o alimento está disponível nos sabores maçã e morango. O Tonyu pode ser consumido diretamente da caixinha ou utilizado em diferentes preparações, como picolés e bolos.

Campanha publicitária destaca os benefícios do Para lembrar os consumidores sobre a importância de ingerir o Leite Fermentado Yakult com o exclusivo probiótico Lactobacillus casei Shirota, a multinacional Yakult lançou em março uma nova campanha publicitária que destaca as três versões do produto disponíveis no Brasil. No filme ‘Portal’, personagens de várias idades ingerem leite fermentado e são transportados a um ambiente de lazer ou trabalho com muito mais disposição. A campanha, que seguirá até o fim de abril, destaca que um intestino saudável colabora para a saúde de todo o organismo e, consequentemente, para o bem-estar e a vitalidade. O filme começa com pai e filho vendo televisão e tomando Leite Fermentado Yakult (dirigido a toda a família). De repente, um portal com o formato do frasco do produto aparece e os leva a um parque, onde se divertem juntos. Uma jovem na

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cozinha tomando Yakult 40 light (dirigido a pessoas que optam por uma dieta com menos calorias) também passa pelo portal e ganha mais energia ao ser transportada a uma pista de skate. Outros três personagens passam pelo portal depois de ingerir o Yakult 40 (dirigido a adultos de vida agitada e idosos): uma executiva, que se percebe mais produtiva e motivada para o trabalho; e um casal idoso que ganha mais vitalidade ao ser levado a uma pista de dança. “A principal mensagem é mostrar que, quando

o intestino está bem, nos sentimos bem e temos mais disposição e energia para as tarefas diárias e para o lazer”, afirma o diretor presidente da Yakult do Brasil, Atsushi Nemoto. Centenas de estudos científicos desenvolvidos com o probiótico Lactobacillus casei Shirota, ao longo de mais de 80 anos, comprovam os benefícios dessa cepa probiótica para manter a microbiota intestinal mais saudável. Ao chegar vivo e em grande quantidade ao intestino, o Lactobacillus


GANHA NOVOS SABORES

A SOJA A soja contém grande quantidade de isoflavonas, substâncias que possuem importantes atividades antioxidante e

anticancerígena. ­Diversos estudos comprovam que o consumo de soja contribui para a diminuição das incidências de câncer de mama, útero e próstata, no

controle dos sintomas da menopausa, para melhorar os níveis de colesterol e, consequentemente, diminuir os riscos de doenças cardiovasculares.

NOVAS COMERCIANTES A campanha publicitária também tem um filme veiculado exclusivamente nas redes sociais para convidar interessados em atuar como comerciantes autônomos da Yakult. Desde que criou o Leite F­ ermenta­do Yakult, em 1935, o médico sanitarista ­Minoru Shirota (fundador da empresa) tinha a preocupação de levar o produto aos locais mais distantes do Japão e, assim, foi criado o sistema de vendas porta a porta. Nos 40 países e regiões em que está presente, a

Yakult possui aproximada­mente 80 mil comerciantes autônomos (as mulheres são conhecidas como Yakult Ladies) – 32,7 mil no Japão, onde está a sede da empresa, e 47,5 mil em 12 outros países, incluindo o Brasil. Esses comerciantes são considerados importantes porque levam os produtos diretamente a milhões de consumidores e conseguem explicar sobre o valor científico e os benefícios do probiótico Lactobacillus casei Shirota para a saúde de crianças, adultos e idosos.

probiótico LcS

­casei Shirota produz vários metabólitos, entre os quais o ácido lático – responsável por melhorar a atividade intestinal, facilitar a digestão e ajudar na absorção dos nutrientes. Além disso, contribui para a diminuição das bactérias nocivas na microbiota e para a consequente diminuição de substâncias tóxicas no intestino. Desta forma, o probiótico auxilia, também, na prevenção de infecções. A campanha ‘Portal’, que foi criada pelo Grupo Rái, está sendo veiculada na TV e nas redes sociais da Yakult.

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ENTRETENIMENTO

TURISMO SUSTENTÁVEL

Aos 65 anos de existência, o Planetário localizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, é um importante ponto de divulgação científica e astronômica da cidade. Com uma cúpula de 18 metros de diâmetro e um projetor Starmaster, o espaço reproduz com fidelidade os astros do céu noturno em qualquer período ou lugar da história. Além disso, simula as constelações das Três Marias e de Órion no teto da entrada principal, por meio de fibras ópticas delicadamente posicionadas, e o Cruzeiro do Sul – também chamado de Crux. Ao redor do Planetário existem instrumentos disponibilizados ao público para auxiliar na aprendizagem e no contato com a ciência, como a Rosa dos Ventos, a Esfera Armilar, o Relógio de Sol e a Escola Municipal de Astrofísica (EMA).

Divulgação/Vivalá

CATARATAS O Parque Nacional do Iguaçu foi criado em 1939 e, em 1986, recebeu o título de Patrimônio Mundial Natural da Unesco. Já as Cataratas do Iguaçu, localizadas no interior da unidade de conservação, receberam o título de Maravilha Mundial da Natureza em 2011. O Parque Nacional, que é um dos mais visitados do Brasil, protege uma área de 186 mil hectares de Mata Atlântica e uma rica biodiversidade, com fauna constituída por mais de 12 espécies de anfíbios, 48 tipos de répteis, 158 espécies de mamíferos, 175 de peixes, 390 espécies de aves e mais de 800 invertebrados já identificados. Ao longo desses 83 anos, o espaço se consolidou como referência mundial na conservação da natureza e no turismo sustentável.

Christian Rizzi

PLANETÁRIO IBIRAPUERA

Durante as fases mais restritivas da pandemia de Covid-19 as atrações poderão estar fechadas

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Super Saudável • abr/jun2022

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Acervo Planetário Ibirapuera

O Geoparque Seridó tem 2,8 mil km2 e está localizado no coração do semiárido nordestino, no município de Currais Novos, Rio Grande do Norte. Com vistas de tirar o fôlego, uma rica biodiversidade, açudes e trilhas, Seridó oferece uma experiência única aos visitantes, por meio de expedições de turismo sustentável. Os geoparques mundiais são reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) pela importância científica, cultural, paisagística, geológica, arqueológica, paleontológica e histórica. Nessas regiões, todo o ambiente é preservado por meio do turismo sustentável, gerando desenvolvimento para as comunidades locais. Outras informações no site http://geoparqueserido.com.br/.




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