Super Saudável - Ed. 96 - A Vitamina do Sol

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A VITAMINA DO SOL

de bactérias

em indivíduos

Cientistas lançam livro sobre a sobrevivência da consciência após a morte

Shirota

Estudos sugerem alteração
intestinais
com depressão Pesquisa científica mostra que L. casei
beneficia crianças com obesidade

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Planetas, asteroides, cometas e satélites giram ao redor do sol, que é a estrela central do sistema solar. O astro rei que inspira a vida também é a principal fonte de vitamina D para o ser humano, fundamental ao metabolismo ósseo e que está envolvida em vários processos celulares. E por falar em natureza e saúde, vale a pena experimentar as folhas de ora-pro-nóbis, uma planta com várias propriedades benéficas ao organismo que pode ser cultivada em vasos e hortas para ser usada em diferentes preparações. Reiteradamente, os especialistas reforçam que mexer o corpo também é fundamental para ter uma vida mais saudável e longeva, e agora se descobriu que mesmo que a atividade seja apenas nos fins de semana já vale a pena. Como o conceito de saúde envolve corpo, mente e espírito, é importante conhecer os resultados de estudos que mostram a importância do eixo cérebro-intestino-microbiota nas doenças neuropsiquiátricas e do neurodesenvolvimento – como depressão e ansiedade –, entender os sintomas do TDAH para ajudar em um diagnóstico precoce e ampliar o conhecimento sobre os estudos que sugerem que a consciência humana pode sobreviver à morte. Boa leitura!

EXPEDIENTE

A revista Super Saudável é uma publicação da Yakult SA Indústria e Comércio dirigida a médicos, nutricionistas, técnicos e funcionários.

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Manter os níveis séricos adequados de vitamina D é fundamental para a preservação da saúde, e a sua deficiência está associada, principalmente, a anormalidades no balanço de cálcio, fósforo e metabolismo ósseo

10 SAÚDE

Com folhas que chegam a 12 centímetros de comprimento, a ora-pro-nóbis possui proteínas digestíveis e facilmente aproveitadas pelo organismo

ENTREVISTA18

MICROBIOTA & PROBIÓTICOS

Evidências crescentes indicam que microrganismos intestinais podem estar associados a transtornos depressivos e ansiedade

PESQUISA

Estudos sugerem que o canabidiol ultrapuro tem ação antibacteriana e pode auxiliar no déficit de memória na pós-menopausa

O pesquisador Alexander Moreira-Almeida é um dos autores de livro que mostra evidências científicas da existência da sobrevivência da consciência após a morte, tema estudado por centenas de cientistas ao redor do mundo

MEDICINA

TDAH altera as funções responsáveis pela regulação de comportamentos e habilidades, e pode causar impactos na vida adulta se não for diagnosticado

DESTAQUE32

Linha de sucos da Yakult ganha novas embalagens Slim Leaf, mais modernas, fáceis de segurar e com canudos de papel recicláveis muito práticos para utilização por consumidores de todas as idades

ARTIGO CIENTÍFICO

L. casei Shirota contribuiu para a perda de peso, ao mesmo tempo em que melhorou o metabolismo lipídico de crianças obesas

ENTRETENIMENTO

As sugestões de passeio incluem a cidade de Ouro Preto, Patrimônio da Humanidade localizado em Minas Gerais, um teleférico na cidade de Pedreira, interior de São Paulo, e uma viagem inclusiva pela vida e obra do pintor impressionista

Claude Monet

Pesquisa revela que os atletas de fim de semana também têm proteção contra mortalidade por todas as causas

SUMÁRIO out/dez 2022 • Super Saudável 3
CARTA DO EDITOR 4matéria de CAPA Depositphotos/lussoadv
28
2230 VIDA SAUDÁVEL
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25
Patrick de Araújo DICOM/Prefeitura de Pedreira Maurício Mazzei
34

A FORÇA QUE VEM DOS RAIOS

Avitamina D (colecalciferol) é considerada um pré-hormônio esteroide inativo que, após duas hidroxilações, uma no fígado e uma nos rins, torna-se ativo. Suas principais funções são a regulação da homeostase do cálcio e do fósforo e a formação e reabsorção óssea através da interação com as glândulas para tireoides – cuja função é controlar os níveis de cálcio no sangue por meio da produção do hormônio paratireoidiano ou paratormônio –, com o fígado, os rins e intestinos. Além da importância para o metabolismo ósseo, estudos sugerem associações com a modulação do risco de doenças cardiovasculares, autoimu nes, síndrome metabólica, obesidade e desenvolvimento muscular. A vitamina D está envolvida, ainda, na homeostase de vários outros processos celulares, tais como a modulação da autoimunidade, a síntese de interleucinas inflamatórias e o controle da pressão arterial.

Ao desempenhar papel fundamental em diversos processos fisiológicos, den tre os quais está o aumento da resposta inata e a regulação do ciclo celular e da apoptose, essa vitamina tem sido alvo de inúmeras investigações demonstrando sua função na interação reguladora do sistema imunológico inato e adaptativo através da presença do receptor VDR

em quase todas as células, a exemplo de neutrófilos, macrófagos, células dendrí ticas e linfócitos ativados T e B, podendo atuar em uma ampla variedade de te cidos corporais. Com inúmeros genesalvos potenciais, especialistas acreditam que muitas ações biológicas relaciona das à vitamina D ainda não foram sequer descobertas.

A ação no sistema imunológico se traduz em aumento da imunidade inata associada a uma regulação complexa da imunidade adquirida, uma vez que a res posta imune é dependente de replicação celular e da síntese de compostos protei cos ativos – sendo afetada pelo estado nutricional do indivíduo –, o que deter mina a habilidade metabólica celular e a eficiência com que reage aos estímulos, iniciando e multiplicando o sistema de proteção e autorreparação orgânico.

Ao estabelecer esse papel no sistema imunitário, algumas linhas de pesqui sa sugerem que a vitamina D pode ter uma função importante na regulação do sistema imunológico e, provavelmente, na prevenção e no controle de câncer de mama, próstata e colorretal, assim como nas doenças autoimunes, a exemplo de artrite reumatoide e esclerose múltipla,

e nas doenças metabólicas, como o diabetes mellitus tipo 1 e a hipertensão. “Estudos antigos já associavam a falta de vitamina D aos surtos sazonais de gripe que ocorrem durante os meses de inverno, em que o clima é mais tempe rado, indicando que quanto menores os níveis séricos mais suscetível o indivíduo estará a infecções virais, especialmente do aparelho respiratório”, afirma a mé dica endocrinologista Marise Lazaretti Castro, docente e coordenadora do Pro grama de Pós-graduação em Endocrino logia e Metabolismo da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp).

A exposição à radiação ultravioleta B (UVB) é a principal fonte desse nu triente para a formação endógena nos tecidos cutâneos. Já a dieta é considera da uma fonte alternativa e menos eficaz, responsável por apenas 10% a 20% das necessidades corporais, mas que assu me um papel de maior importância quando associada à suplementação, por exemplo, em idosos, pessoas insti tucionalizadas e habitantes de climas mais temperados. O organismo sinte tiza vitamina D por meio de dois pre cursores: o colecalciferol (D3), através

Fernanda Ortiz Especial para Super Saudável
ESSENCIAL PARA O BOM FUNCIONAMENTO DO ORGANISMO, VITAMINA D TAMBÉM PODE AUXILIAR O SISTEMA IMUNOLÓGICO
MATÉRIA DE CAPA
Marise Lazaretti Castro
Fotos: Arquivo pessoal
eLine de aLMeida soriano
Depositphotos/lussoadv Super Saudável • out/dez 20224

DO SOL

da exposição ao sol, e o ergocalciferol (D2), a partir da irradiação por raios UV da levedura ergosterol em fungos e co gumelos expostos à luz – forma utilizada em suplementos de alta dose. “Ambos são inativos no organismo, portanto, precisam ser metabolizados pelo fígado e pelos rins em uma forma chamada vitamina D ativa ou calcitriol (1,25(OH)2D3) que promove, em conjunto com o paratormônio – hor mônio responsável por regular os níveis de alguns nutrientes circulantes no sangue –, a absorção de cálcio e fósforo a partir do intestino delgado, sendo incorporados aos ossos no processo de mineralização. Des sa forma, o calcitriol é necessário para a formação, o crescimento e a reparação dos ossos”, explica a professora doutora Eline de Almeida Soriano, diretora da Associa ção Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e médica nutróloga do Hospital Universitá rio Professor Alberto Antunes da Universi dade Federal de Alagoas (HUPAA-UFAL).

De 80% a 90% da fonte de vitami na D é produzida pelo corpo através da sintetização dos raios UVB. “Para gerar a quantidade ideal, nosso corpo precisa de pelo menos 15 a 20 minutos de exposição ao sol, no mínimo três vezes por semana. Entretanto, alguns fatores podem diminuir a absorção natural, a exemplo do peso (especificamente para indivíduos com sobrepeso ou obesos), pois, como a vita mina D3 é lipossolúvel, o corpo precisa de mais tempo para garantir que o processo de produção se complete”, descreve a nu tróloga Eline de Almeida Soriano. Outros fatores são os elementos climáticos e geo gráficos, como locais com menor incidên cia de luz solar ao longo do ano, poluição atmosférica, hábitos culturais que proíbem exposição do corpo, uso de filtro solar e pigmentação da pele, uma vez que a me lanina atua como uma barreira mecânica para os raios UV.

A biodisponibilidade e o consumo ali mentar de vitamina D são extremamente baixos, respondendo por cerca de 5% a 20% da necessidade mínima diária para a população adulta (em torno de 100 UI dia). Segundo a nutróloga, os alimentos que oferecem aporte de vitamina D são bife de fígado, óleo de fígado de bacalhau, gema de ovo, atum, sardinha, salmão, co gumelos, queijo e leite – neste caso, desde que sejam enriquecidos com essa vitami na como ocorre em vários países, entre os quais a Finlândia.

AUXILIAR

Manter os níveis séricos adequados de vitamina D é fundamental para a manu tenção da saúde, e a sua deficiência está associada, principalmente, a anormalida des no balanço de cálcio, fósforo e meta bolismo ósseo. A endocrinologista Marise Lazaretti Castro ressalta que, para quanti ficar os índices, deve ser dosada a concen tração de 25(OH)D, que representa sua forma circulante em maior quantidade.

A Sociedade Brasileira de Endocrino logia e Metabologia (SBEM) indica, como valores de referência dese jáveis, índices maiores do que 30 ng/ml para população geral saudável; e entre 30 e 60 ng/ml para grupos de risco como ido sos, gestantes e doentes crônicos. “Índice menor do que 10 ng/ml é considerado muito baixo e acima de 100 ng/ml é considerado tóxico”, acentua. Entretanto, mais estudos são necessários para determinar os riscos e benefícios da reposição des sa vitamina, quando e em quais in divíduos, valores de referência para considerar a deficiência/insuficiên cia, ações clínicas a serem tomadas e o real impacto dessa associação na prática clínica.

S uplementação na medida certa

Segundo os consensos norte americano e brasileiro, não se indica suplementação de vitamina D de forma generalizada. A indicação deve ser ape nas para indivíduos de maior risco, com insuficiência ou deficiência comprovada.

O Posicionamento Atual sobre Vitamina

D na Prática Clínica da ABRAN indica ido sos, principalmente institucionalizados (leia mais na página 7); pacientes com osteomalácia, raquitismo, osteoporose ou hiperparatireoidismo secundário; pessoas de pele escura; obesos; doentes renais, hepáticos e autoimunes; atletas de alto desempenho; gestantes e lactan tes; mulheres com endometriose, ovário policístico ou no período pós-menopau sa; pessoas que fazem uso de vestimen tas que expõem pouco a pele; pacientes bariátricos e aqueles que fazem uso contínuo de corticoides, antifúngicos e anticonvulsivantes como os mais predis postos a apresentarem deficiência de vi tamina D (hipovitaminose D).

A suplementação deve ser feita com

orientação médica. “As recomendações de necessidades diárias variam de acor do com a população. Em recém-nascidos e menores de 1 ano é de 400 a 1.000 UI; crianças e adolescentes de 1 a 18 anos, de 600 a 1.000 UI; homens/mulheres de 19-70 anos, de 1.500 a 2.000 UI; idosos acima de 70 anos, gestantes e lactantes entre 1.500 e 2.000 UI”, ensina a médica nutróloga Eline de Almeida Soriano. As dosagens determinadas no tratamento podem ser alteradas de acordo com o diagnóstico estabelecido e a severidade da deficiência. Obesos, pré-bariátricos e pacientes em uso de anticonvulsivantes orais e com síndromes de má absorção, por exemplo, podem necessitar de doses duas a três vezes maiores – chamadas de ‘dose-ataque’ –, em período deter minado pelo médico. Paralelamente, a complementação pela dieta em conjunto com a exposição solar deve ser estimu lada pelo profissional de saúde.

Especialistas são unânimes ao enfa tizar que, se a deficiência de vitamina D está associada a uma série de problemas no organismo, as superdosagens também podem ocasionar sérios riscos. A médi

ca Marise Lazaretti Castro lembra que os suplementos são considerados seguros e a toxicidade é incomum, mas, quando a dosagem é acima de 100 ng/ml, pode le var à hipervitaminose (elevada concen tração de vitamina D). “Doses acima do necessário aumentam o risco de toxicida de e, principalmente, de hipercalcemia. O problema, causado pela intoxicação por vitamina D, pode levar a insuficiência renal aguda, paralisação dos rins, coma e morte. A apresentação da toxicidade varia de assintomática a manifestações como hipercalciúria (perda de cálcio pela urina), polidipsia (sede excessiva), anorexia, letargia, náuseas, vômitos, do res articulares, desorientação, perda de peso e dor abdominal”, alerta. A super dosagem ou intoxicação por vitamina D era pouco frequente no Brasil até seu crescente uso na última década, em es pecial com o advento da Covid-19 – em que a suplementação foi apontada como fator preventivo. Para a médica, a inges tão de suplementos é importante para a manutenção da saúde, desde que sejam recomendados por um especialista e na dosagem adequada.

Ao longo dos últimos anos, inúmeras pesquisas têm associado níveis séricos inadequados de vitamina D com outras enfermidades, a exemplo das doenças cardiovasculares, com uma influência direta sobre o prognóstico. Ainda que faltem dados consistentes para indicar a reposição da vitamina D no contexto dessas enfermidades, pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) publicaram o artigo de revisão ‘Deficiência da vitamina D e doenças cardiovasculares’, que apresenta um panorama a respeito da deficiência vitamínica buscan do prevenir doenças e melhorar o prognóstico das já estabelecidas. Entre as enfermidades analisadas, a relação da deficiência de vitamina D com a hipertensão arterial tem sua base no sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). “A renina é sintetizada pelas células jus taglomerulares renais e estimula a produção de angiotensina II e aldosterona, que aumentam a pressão arterial diretamente por vasoconstrição e indiretamente por retenção hidrossalina. Ao que tudo indica, a vitamina D atua inibindo a expressão gênica da renina, diminuindo sua síntese e, com isso, impedindo a hiperestimulação desse sistema”, descreve o médico cardiologista Antonio José Lagoeiro Jorge, professor do curso de Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares da Faculdade de Medicina da UFF e um dos autores da pesquisa.

No diabetes mellitus, a vitamina D pode aumentar a sensibilidade à insulina através da regulação do metabolismo de ácidos graxos nos músculos esqueléticos e no tecido adiposo.

Super Saudável • out/dez 20226
antonio José Lagoeiro Jorge
Arquivo pessoal PESQUISAS SUGEREM INFLUÊNCIA DA VITAMINA D COM A SAÚDE CARDIOVASCULAR Depositphotos/FotoHelin MATÉRIA DE CAPA

RISCOS ASSOCIADOS AO ENVELHECIMENTO

Por afetar a saúde esquelética durante todas as fases da vida, em decorrência de suas funções fisiológicas relacionadas à manutenção da homeostase do cálcio e da estrutura óssea, a deficiência da vita mina D na vida adulta – especificamente nos idosos – é responsável por reduzir a mineralização e/ou a densidade mineral óssea. Como consequência, pode causar de fraqueza muscular e desequilíbrio postu ral e dinâmico até quadros mais severos de osteomalácia, osteopenia e osteoporose. Além disso, aumenta consideravelmente o risco de quedas e fraturas comumente observado nesse grupo, com prevalência superior a 40% nos indivíduos acima de 80 anos, reduzindo a capacidade funcional e sendo causa importante de mortalidade. Com papel fundamental na via metabólica do cálcio, a suplementação com vitamina D é importante aliada na prevenção e ma nutenção da saúde óssea, especialmente nessa população.

O déficit de vitamina D entre idosos é maior nos institucionalizados por uma série de fatores. “Há uma diminuição da produ ção cutânea de vitamina D após exposição à radiação UVB devido a alterações atrófi cas da pele próprias do envelhecimento, e evidências de que a capacidade de síntese cutânea de vitamina D reduz ao redor de duas vezes entre idosos em comparação com adultos. Outro fator é a baixa exposi

ção solar e, ainda, utilização de vestuário que cobre mais a pele. Doenças que pro vocam má absorção de alimentos e dieta menos variada nutricionalmente, com baixa ingestão de produtos fonte de vitamina D e cálcio, apesar de menor impacto, também exercem influência para a deficiência”, avalia a médica Regina Maria Innocencio Ruscalleda, docente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (FCM-Unicamp).

Entre as doenças mais associadas à hipovitaminose D entre os idosos estão osteopenia, osteoporose e, com menor fre quência, osteomalácia. A professora explica que quando os níveis de 25(OH)D são infe riores a 10 ng/ml e se mantêm abaixo do recomendado por longos períodos, podem ocorrer três condições que comprometem a capacidade funcional, especificamente de locomoção: osteopenia, caracterizada pela diminuição gradual da massa óssea; osteoporose, prevalente em especial em uma percentagem de mulheres na peri e pós-menopausa, em que a reabsorção ós sea é exacerbada e há predomínio de perda óssea trabecular na coluna vertebral – por ser multifatorial, pode ocorrer também entre idosos –; e osteomalácia, caracterizada por ossos frágeis e quebradiços e fraqueza muscular. “Nos três casos, a fragilidade dos ossos aumenta o risco de fraturas”, alerta.

Clinicamente, a deficiência de 25(OH)D associa-se a dor muscular difusa, fraqueza muscular e redução da rapidez dos movi mentos decorrentes de sarcopenia, e há evidências de que níveis séricos de 25(OH) D igual ou acima de 30 ng/ml se associam a menores riscos de fratura. Por se tratar de grupo de risco, a suplementação protege a saúde óssea e muscular dos idosos e tam bém o sistema imunológico, a energia para o cotidiano e a performance cognitiva. Dosa gem e periodicidade da suplementação são definidas por um profissional de saúde, que deve levar em consideração fatores como peso corporal, estado de saúde, dieta, local de residência e hábitos de vida.

Além disso, pode atuar por vias indiretas na secreção e na sensibilidade da insulina por meio da regulação da concentração e do fluxo de cálcio nas membranas das células beta e nos tecidos periféricos. “Estudos observa cionais evidenciaram que a incidência e a prevalência de diabetes tipo 1 são mais elevadas nos países temperados. Outros avaliaram o papel protetor da suplementação na infância precoce contra o desenvolvimento de diabetes tipo 1, atribuindo menor incidência nas crianças que fizeram suplementação da vitamina D”, relata o pesquisador. Na insuficiência cardíaca, apesar de evidências demonstrando associação com a vitamina D, o mecanismo exato pelo qual a deficiência leva a piores desfechos clínicos ainda não está claramente estabelecido. No entanto, um mecanismo potencial poderia ser através da síndrome cardiorrenal. Evidências apontam, ainda, que a deficiência de vitami na D está associada a outros componentes da síndrome

metabólica, como obesidade, e do tabagismo que, aliados ao sedentarismo e à alimentação inadequada, levam à maior deficiência dessa vitamina quando comparados a indivíduos saudáveis. “Os níveis séricos adequados de vitamina D são importan tes para o funcionamento do organismo. Entretanto, isso não significa que a suplementação prevenirá ou reduzirá os riscos de desenvolver doenças cardiovas culares, assim como a morbimortalidade a elas associadas”, alerta o pesquisador. Por mais que a função benéfica dessa vitamina já seja conhecida pela comunidade científica, ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas acerca de sua utilização, demandando novos estudos para, assim, ter uma correlação direta entre a suplementação vitamínica e o desfecho cardiovascular.

regina Maria innoCenCio rusCaLLeda Audiovisual/FCM-Unicamp Depositphotos/belchonock

Síndrome metabólica póS-menopauSa

A síndrome metabólica inclui obesi dade abdominal, dislipidemia, ateroscle rose, hipertensão arterial e alterações na glicemia. Impulsionada principalmente por alimentação pouco equilibrada, es tresse e sedentarismo, acomete cerca de 30% das mulheres no mundo com mais de 50 anos e no período pós-menopausa, com risco três vezes maior de morbimor talidade por doença cardiovascular. Evi dências da literatura, como o estudo ‘As sociação entre a deficiência de vitamina

D e os marcadores da síndrome meta bólica em mulheres na pós-menopausa’, realizado na Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Pau lista (FMB-UNESP), sugerem que a defi ciência de vitamina D seja fator de risco no desenvolvimento do problema.

Comum após a menopausa, a hipovi taminose D ocorre pelo próprio proces so de envelhecimento, levando a uma menor capacidade de síntese através da pele – seja devido a diminuição da fun ção renal, menor absorção pelo trato gas trointestinal, menor exposição solar, uso de medicamentos ou metabolização da vitamina e de fatores que diminuem sua produção pela pele, como o uso frequen te de filtro solar. “Além disso, a queda hormonal da menopausa acelera a perda de massa óssea, levando as mulheres a sofrerem grande morbidade relaciona da a osteoporose e fraturas, que podem ser diminuídas por intervenções como a suplementação da vitamina em casos de deficiência”, descreve a ginecologista e obstetra Eneida Boteon Schmitt, docente do Departamento de Ginecologia e Obs tetrícia da FMB-UNESP e autora do estu do. Com a menopausa, aumenta também a incidência de doença cardiovascular

em decorrência dos riscos associados à síndrome metabólica, uma vez que nesta fase as mulheres tendem a ter aumento no índice de massa corpórea, circunfe rência abdominal e gordura visceral. A pesquisa investigou a associação entre síndrome metabólica e seus fato res de risco para entender o impacto da hipovitaminose D nas mulheres pós-me nopausadas. Para isso, foram analisadas 466 mulheres saudáveis atendidas no Ambulatório de Climatério & Menopau sa da Instituição, com mais de 45 anos –excluindo pacientes com doenças cardio vasculares, renais, hepáticas, diabéticas em uso de insulina ou que já estivessem usando suplementos com vitamina D. Ini cialmente, foi feita avaliação antropomé trica, seguida da coleta do sangue para dosagem de colesterol total e frações, tri glicerídeos, glicemia de jejum e vitamina D. O estudo considerou como adequados os níveis de vitamina D maiores de 30 ng/ ml, descritos pela SBEM como valores de referência ideal para esse grupo.

“Os resultados apontaram que mu lheres na pós-menopausa com hipovi taminose D – 318 delas – apresentaram maiores valores de colesterol total, tri glicerídeos, resistência à insulina e, con sequentemente, maior risco para ocor rência de síndrome metabólica quando comparadas às de níveis adequados de vitamina D”, descreve a autora. Além dis so, as concentrações da vitamina foram diminuindo linearmente de acordo com o aumento dos componentes da síndro me metabólica. Para corroborar os acha dos, um ensaio clínico randomizado pos terior avaliou dois grupos de mulheres na pós-menopausa – o controle recebeu vitamina D diariamente por nove meses

e o outro recebeu placebo pelo mesmo período. Os resultados confirmaram que mulheres na pós-menopausa submetidas à suplementação apresentaram menor risco de síndrome metabólica, hiper trigliceridemia e hiperglicemia quando comparadas ao grupo placebo, reiteran do a importância de manter adequados os índices da vitamina D no organismo.

CÂNCER DE MAMA

Em 2018, o grupo da professora Enei da Boteon Schmitt publicou um estudo de coorte transversal que comparou 209 mulheres de 45 a 75 anos com a neoplasia frente a 418 no grupo controle, atendidas no Hospital das Clínicas da FMB-UNESP. “As mulheres na pós-menopausa com diagnóstico recente de câncer de mama apresentavam maior risco para hipovita minose D, associado à maior ocorrência de obesidade, quando comparadas a ou tras na mesma faixa etária sem câncer”, resume. A avaliação sérica de 25(OH) D foi realizada logo após o diagnóstico do câncer, antes do tratamento indicado pela equipe médica responsável.

Arquivo pessoal
Depositphotos/DesignPicsInc MATÉRIA DE CAPA Super Saudável • out/dez 20228

DESENVOLVIMENTO MUSCULAR DE BEBÊS PODE SER PREJUDICADO

O metabolismo do cálcio aumenta con sideravelmente no período da gestação, especificamente no terceiro trimestre devi do ao desenvolvimento dos ossos fetais. E estudos sugerem que a deficiência de vita mina D nas gestantes está relacionada ao surgimento de complicações, como risco de aborto espontâneo, pré-eclâmpsia, dia betes gestacional, baixo peso do bebê ao nascer e baixo ganho de peso do recém nascido. Além disso, essa carência parece influenciar o desenvolvimento de uma série de doenças na vida adulta, incluindo diabetes e obesidade. Recentemente, uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universi dade de São Paulo (FMRP-USP) mostrou que a vitamina D também é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento dos músculos ao longo da vida.

Tendo como ponto de partida o concei to de que doenças em pacientes adultos podem ter origem no período fetal, dada a influência do estado nutricional da mãe para o filho, a tese de doutorado ‘Maternal vitamin D deficiency affects the morphology and function of glycolytic muscle in adult offspring rats’, da biomédica Natany Garcia Reis, publicada no periódico Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle, analisou dois grupos de ratas fêmeas – um controle e outro alimentado com uma dieta sem vitamina D durante seis semanas – e, sequencialmente, durante todo o período de gestação e lactação.

“Para o estudo, utilizamos um modelo de programação fetal, ou seja, uma alte ração induzida na vida intrauterina que resulta em uma resposta permanente no feto, associando processos adaptativos às condições ambientais e conduzindo a um aumento da sensibilidade a doenças na vida adulta”, descreve o médico fisio logista Luiz Carlos Carvalho Navegantes, professor associado do Departamento de Fisiologia e coordenador adjunto do Programa de Pós-graduação em Fisiologia da FMRP-USP, que orientou o estudo. A teoria da programação fetal tem auxiliado pesquisadores a entenderem a origem de determinadas doenças, como síndrome metabólica e hipertensão, entre outras.

Durante o estudo, a prole de ratas que recebeu dieta sem vitamina D foi analisada em dois períodos: o primeiro logo após a lactação, com 21 dias, e outro com 180 dias, já adultas. “Observamos que, ao final da lactação, esses animais apresentaram uma importante atrofia muscular muito mais significativa nas fibras musculares do tipo 2 (músculo branco) do que nas fibras verme lhas”, descreve o médico. Entretanto, o que chamou mais atenção é que as fêmeas – por razões ainda desconhecidas – não apresentavam alterações morfológicas e bioquímicas no tecido musculoesquelético, afetando seletivamente apenas os machos.

Por se tratar de um animal ainda no período infantil, o professor descarta que a proteção esteja ligada ao hormônio estrogênio, e o mais provável é que seja algo que, nas fê meas, já venha direcionado desde a placen ta. De acordo com a literatura, há proteínas e expressões gênicas distintas para fetos femininos e masculinos, possivelmente com maior sensibilidade à insulina.

Após o desmame, os filhotes machos e fêmeas foram separados e receberam dieta padrão contendo concentrações normais de vitamina D até os 180 dias de idade. Neste período, o músculo branco que estava atro fiado na vida infantil do macho ficou hipertro fiado e com uma função muito melhor do que a prole observada na dieta controle, que não apresentou alterações musculoesqueléticas em nenhuma fase. “Isso foi impressionante, pois mostra uma característica fundamental da capacidade plástica do músculo de se adaptar frente às mudanças e alterações da sua forma, ou seja, o músculo branco ativou seu sistema de proteção endógena de vitamina D aumentando sua produção interna”, avalia o professor. Em contrapar tida, nessa fase os músculos vermelhos dos machos apresentaram grande prejuízo da força muscular, mas sem alterações morfológicas aparentes e, ao que parece, não conseguindo se recuperar dos insultos da vida intrauterina. Nas fêmeas não foram observadas tais alterações.

Com os achados do modelo de progra mação fetal, os pesquisadores do grupo liderado pelo docente e pela fisiologista Isis do Carmo Kettelhut, professora titular

do Departamento de Bioquímica e Imu nologia da FMRP-USP, têm avançado nas pesquisas em outras frentes de trabalho. “Atualmente, temos estudos voltados para desvendar os motivos de a prole fêmea ter sido protegida das alterações induzidas pela deficiência materna, o que parece estar relacionado à placenta ou a uma maior sensibilidade à insulina”, comenta o professor Luiz Carlos Carvalho Navegantes.

Paralelamente, outras frentes avaliam os efeitos da deficiência de vitamina D no coração, pâncreas e tecido adiposo dos fetos. Em 2022, outro estudo do grupo intitulado ‘Urocortin 2 promotes hypertrophy and enhances skeletal muscle function through cAMP and insulin/ IGF-1 signaling pathways’, publicado no Molecular Metabolism, demonstrou pela primeira vez que estimular a expressão de uma proteína naturalmente produzida no músculo pode ser uma estratégia para aumentar a massa muscular. A atrofia muscular é uma consequência natural do processo de envelhecimento e pode ser intensificada em casos de doenças neurodegenerativas, inflamatórias ou em pacientes internados por longos períodos em unidades de terapia intensiva. No entanto, ainda não há medicamentos efi cientes capazes de combatê-la e, assim, evitar as complicações associadas.

Luiz CarLos CarvaLho navegantes
Documentação científica/FMRP
out/dez 2022 • Super Saudável 9

DO QUINTAL PARA O PRATO

A ORA-PRO-NÓBIS DEVE FAZER PARTE DA ALIMENTAÇÃO E PODE ATÉ SUBSTITUIR A PROTEÍNA DE ORIGEM ANIMAL

Plantas Alimentícias Não Con vencionais (PANCs) são semen tes, frutas, folhas e hortaliças que fazem parte da biodiver sidade e têm valor nutricional importante. No entanto, muitas vezes são chamadas de ‘mato’, geralmente não estão disponibilizadas no comércio tradicional e, com isso, não podem ser utilizadas como alimento pela maioria da população por falta de conhecimento. Entre essas plantas está a ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.), também chama da de pereskia e lobrobó, uma hortaliça da família Cactaceae nativa da América

Tropical que tem alto teor de ferro, além de conter fibras e compostos bioativos. As folhas, que podem atingir até 12 cen tímetros de comprimento, possuem cerca de 25% de proteínas, das quais 85% são de forma digestível e facilmente aprovei tadas pelo organismo, sendo muito indi cadas em dietas vegetarianas e veganas.

O nome em latim significa ‘rogai por nós’ e há uma lenda de que, no Brasil Colônia, como a planta era usada para cercar as igrejas, era utilizada como ali

mento pelos fiéis que passavam longas horas na missa enquanto o padre rezava a Ave Maria (Sancta Maria, ora-pro-nobis pecatoribus...), além de servir de alimen to pelos escravos que aproveitavam a missa para comer sem ser perturbados. Por causa dos ramos longos que podem chegar a 10 metros de altura, além dos espinhos presentes no caule, a planta ain da é usada como cerca-viva em quintais e hortas, além de ser consumida como alimento. Diversos estudos científicos

A folha da ora-pro-nóbis pode ser usada na alimentação como fonte de proteína e é uma alternativa à agricultura familiar para po pulações rurais e para as pessoas que moram nas áreas urbanas de baixa renda. Encontrada em muitos quintais brasileiros, a planta pode ser utilizada na forma crua como salada ou em diferentes preparações, ganhando destaque principalmente refogada e servida como acompanhamento de carne, frango e costelinha suína, ou como recheio de pães e tortas. A vida útil das folhas de ora-pro-nóbis é relativamente longa em comparação com outras folhosas. Se colo cadas em embalagens plásticas e armazenadas em refrigeração a 5°C, permanecem em boas condições por até 15 dias. Já a farinha

feita com a planta pode ser utilizada para enriquecer pães, bolos e massas, tornando as receitas fontes não apenas de carboidrato, mas também de proteína.

“Como as folhas contêm bastante fibra, a farinha é comumente utilizada na indústria alimentícia para dar textura aos alimentos processados. Já se sabe também que o extrato seco aumenta a vida do alimento de forma natural, reforçando a versatilidade da orapro-nóbis”, acentua a nutricionista Fabiane Fabris, ao ressaltar que é importante aprender a comer elementos da biodiversidade brasileira porque isso aumenta a oferta de alimentos e contribui com a susten tabilidade, diminuindo a distância entre a planta e o consumidor, e

Maria regina de Miranda souza FaBiane FaBris Fotos: Arquivo pessoal
Super Saudável • out/dez 202210 VERSATILIDADE NA COZINHA SAÚDE Istockphoto/Rodrigo Moreira

confirmam o alto valor nutricional da planta e a possibilidade de ser utilizada de diferentes formas na alimentação.

Encontrada da Bahia até o Rio Grande do Sul, a ora-pro-nóbis é bem conhecida e tem o uso difundido em Minas Gerais, sendo tema de festival anual na cidade de Sabará. Segundo a doutora em fitotecnia Maria Regina de Miranda Souza, pesquisadora da Em presa de Pesquisa Agropecuária de Mi nas Gerais (EPAMIG), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo mineiro, a ora-pro-nóbis também se des taca por ser boa fonte de cálcio, cobre, zinco, magnésio e vitaminas A, B1, B2, B3 e C, assim como compostos bioativos. “Existem pesquisas que mostram que a planta tem ação antioxidante, antimicro biana e anti-inflamatória. São muitas as substâncias disponíveis na ora-pro-nóbis consideradas raras nas plantas e, muitas vezes, esses componentes tornam-se me dicinais. Na sabedoria popular as folhas são usadas para a cicatrização de feri das”, pontua.

A folha possui aminoácidos não es senciais e essenciais em teores elevados, com destaque para a lisina, que é muito importante para o organismo pela ação

no com bate a infec ções causadas por vírus e na ab sorção do cálcio. O teor de ferro é muito maior que o da beterraba, o que confirma a sabedoria popular de inserir a planta na refeição para o combate à anemia. As folhas da ora-pro-nóbis apre sentam, ainda, alto conteúdo de fibras e o consumo de apenas 100 gramas pode fornecer em torno de 50% do total de fibras recomendado por dia. “Trata-se de uma alta qualidade nutricional com aminoácidos essenciais que precisam ser obtidos por meio da alimentação. Das 2 mil calorias diárias indicadas na dieta de um homem adulto, 15% da energia deve vir de uma proteína de alta qualidade, como a encontrada na ora-pro-nóbis. Na realidade, a planta é uma alternati va barata para consumir proteína, pois a maior parte dos alimentos de origem animal é cara e de difícil acesso”, acentua a nutricionista Fabiane Fabris, professo ra mestre e coordenadora do curso de Nutrição da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) e membro do Conselho Municipal de Segurança Ali mentar e Nutricional de Criciúma, em Santa Catarina.

PANCS

As plantas alimentícias não conven cionais possuem propriedades medici nais e compostos bioativos que contri buem com a saúde e a alimentação ba lanceada. No entanto, não fazem parte da cadeia produtiva em grande escala e é difícil encontrar em grandes redes de supermercados, porque o comércio de plantas é dominado por poucas espécies que nem sempre possuem os nutrientes necessários para o organismo. Embora ainda desconhecidas, estão surgindo cada vez mais estudos que confirmam os benefícios de intensificar o consumo dessas plantas, proporcionando uma dieta completa e com grande parte dos componentes que o corpo precisa sem a necessidade de fazer uma complementa ção alimentar. As especialistas afirmam que, não fosse pela falta de conhecimen to, as PANCs seriam uma forma eficien te de diversificar a dieta, ofertar maior quantidade de alimento para a popula ção em geral e contribuir com a saúde.

reduzindo o uso de transporte, consumo de combustível e as grandes perdas que ocorrem ao longo dessa logística.

Como as demais PANCs, a ora-pro-nóbis tem cultivo simples, alta produtividade e fácil propagação, se adapta em diferentes solos e climas, dificilmente tem pragas e doenças, e precisa de pouca água e fertilização, sendo indicada até em hortas caseiras e vasos com manejo e poda adequados. Assim, é considerada um alimento im portante para a segurança alimentar por todas as qualidades físicas e nutricionais associadas com a alta produtividade. “Na produção em grande área com o uso da tecnologia apropriada pode-se obter até oito colheitas anuais, com cerca de 150 toneladas de folhas por

ano. Mas é importante verificar a procedência para saber se as folhas estão aptas para o consumo e se não tiveram contato com poluição ou fertilizantes. Embora o consumo possa ser diário, precisa ser adicionado aos poucos na alimentação para ver como o organismo reage. Como todos os alimentos, esse também precisa ser consumido com moderação”, orienta a pesquisadora Maria Regina de Miranda Souza. A indústria de fármacos e cosméticos também começou a usar essa PANC por apresentar ação cicatrizante, anti-inflamatória e antioxidante, com estudos voltados para a formulação de cremes, géis e sabonetes com foco em acne, oleosidade facial, inflamações cutâneas e antienvelhecimento.

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out/dez 2022 • Super Saudável Istockphoto/Samuel Maciel

O EIXO CÉREBRO-INTESTINO NA

NÚMEROS DA DOENÇA AUMENTARAM NO MUNDO E ESTUDOS TENTAM IDENTIFICAR O PAPEL DA MICROBIOTA PARA

DESENCADEAMENTO

AGRAVAMENTO DESSE PROBLEMA

AOrganização Mundial da Saúde (OMS) divulgou estimativas indicando que, nos próximos 20 anos, a depressão deverá se tornar a doença mais comum do mundo, afetando mais indivíduos do que qualquer outro problema de saúde e gerando elevados custos econômicos e sociais com tratamento e perdas de pro dutividade. De acordo com a entidade, quase 1 bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental em 2019 –sendo 14% adolescentes – com destaque para depressão e ansiedade. No Brasil, o percentual de indivíduos com a doença também é alto e aumentou mais de 40% durante a crise sanitária da Covid-19. Independentemente de pandemia, os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade no mundo e indivíduos com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral. Desde que começa ram os estudos sobre a conexão intestinocérebro, na dé cada de 1990, os cientistas passaram a investigar

se havia relação no desenvolvimento de transtornos neuropsiquiátricos e disbiose intestinal, fator que também poderia justi ficar o aumento no número de casos des sas doenças em nível global. E evidências crescentes indicam que a comunidade de microrganismos que habita o trato gas trointestinal pode mesmo estar associa da a transtornos depressivos e ansiedade. Já está demonstrado que existem vias indiretas de circulação sistêmica por meio das quais o microbioma intestinal modula o eixo cérebro-intestino, como as vias endócrinas (cortisol), imunes (citoci nas) e neurais, através do sistema nervoso entérico – que é exclusivo do intestino –, de nervos espinhais e do nervo vago. No estudo ‘The microbiota-gut-brain axis: from motility to mood’, desenvolvido por pesquisadores da Columbia University Irving Medical Center of New York, David Geffen School of Medicine at University of California, nos Estados Unidos, e University College Cork, na Irlanda, publicado no periódico Gastroenterology em 2021, os autores afirmam que o eixo intestino-cérebro desempenha papel im portante na manutenção da homeostase, e muitos fatores influenciam a sinalização ao longo desse eixo modulando a função dos sistemas nervosos entérico e central.

“Os autores descrevem de forma pri

SEGUNDO CÉREBRO É EXTREMAMENTE

O intestino é chamado de ‘segundo cérebro’ porque os cientistas identificaram um eixo de neurotransmissão e viram que o órgão é extremamente rico em neurônios, onde se produz serotonina e outros neurotransmissores fundamentais na comu nicação entre o cérebro, o sistema nervoso central e o sistema nervoso entérico. “Embora essas vias de neurotransmissão ainda não estejam completamente definidas ou reconhecidas, a acetilcolina e a serotonina passaram a ser alvo de pesquisas da indústria farmacêutica em busca de medicamentos capazes de atuar nessa transmissão. Hoje, alguns antidepressivos são

Depositphotos/ryanking999
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E
MICROBIOTA & PROBIÓTICOS

morosa como as alterações ao longo desse eixo podem ser determinantes na fisiopatologia de diversas doenças, como na síndrome do intestino irritável e nos transtornos do humor e afetivos, e enfatizam a importante função dos neu rotransmissores, de forma especial a se rotonina, tanto no trato gastrointestinal como no cérebro”, afirma a médica gas troenterologista Maria do Carmo Friche Passos, professora associada-doutora de Gastroenterologia da Faculdade de Me dicina da Universidade Federal de Mi nas Gerais (UFMG). Outras pesquisas realizadas nos últimos anos confirmam o papel vital do eixo intestino-cérebro na manutenção da homeostase humana. Mais recentemente, foi demonstrado que o microbioma intestinal tem uma participação fundamental na sinali zação e modulação adequada entre os dois órgãos, estabelecendo-se um novo conceito, amplamente aceito, do eixo microbiota-intestino-cérebro.

Os estudos sugerem, por exemplo, que inúmeros compostos neuroativos são gerados pelas bactérias intestinais, como catecolaminas, norepinefrina, dopami na, histamina, serotonina e ácido gamaaminobutírico (GABA), que podem in teragir diretamente com receptores do sistema nervoso entérico. Também está

RICO EM NEURÔNIOS

descrito que alguns microrganismos intestinais são capazes de sintetizar neurotransmissores localmente e que metabólitos microbianos neuroativos podem modular o cérebro e o comporta mento humano por meio de diversos me canismos – que ainda estão sendo eluci dados. Os cientistas acreditam que esses metabólitos atuam sobre as células epi teliais impactando a função da barreira intestinal e as células enteroendócrinas para liberar hormônios gastrointestinais, bem como células dendríticas para mo dular a função imunológica. “Todo tema relacionado à microbiota é extremamen te palpitante, embora ainda sem todas

as confirmações necessárias que virão, seguramente, nos próximos anos. Mas as evidências são muito fortes de que várias doenças, mesmo extradigestivas e extraintestinais, são determinadas ou auxiliadas na sua eclosão por uma alte ração na microbiota intestinal”, ressalta a professora da UFMG.

Diante das comprovações da relação entre depressão/ansiedade e alterações na microbiota – embora os mecanismos biológicos não estejam bem compreendi dos – a bióloga e bioinformata Fernanda Luiza Ferrari desenvolveu um estudo no Centro de Ciências Biológicas da Univer sidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

serotoninérgicos, assim como alguns medicamentos para controle de diarreia e constipação intestinal, o que indica a estreita relação entre cérebro e intestino”, detalha a docente da UFMG.

No início, os cientistas estudaram o eixo cérebro-intestino por acreditar que muitas das doenças digestivas, como síndrome do intestino irritável e doenças funcionais, tinham relação com uma neu rotransmissão errada ou com aberrações nessa neurotransmissão. E os conhecimentos que vieram a partir dos últimos anos evidenciaram o papel da microbiota e dos trilhões de microrganismos que vivem no ser humano, sem os quais não haveria condições de sobrevivência.

“Isso já tinha sido afirmado há mais de um século por Pasteur, mas os conhecimentos só vieram à tona a partir de 2005-2006 quando, de fato, a ciência reconheceu o papel desse imenso número de microrganismos que nos habita, especialmente da importância da microbiota nas funções vitais, no sistema imunológico, nas doenças metabólicas e digestivas, e também nas doenças neuropsiquiátricas, entre tantas outras”, acentua a professora Maria do Carmo Friche Passos. O eixo cérebro-intestino na doença de Parkinson e no au tismo são os temas mais estudados desde o início das evidências da participação da microbiota nas enfermidades neuropsiquiátricas.

Maria do CarMo FriChe Passos Fotos: Arquivo pessoal
DEPRESSÃO out/dez 2022 • Super Saudável 13
Fernanda Luiza Ferrari

com objetivo de identificar quais bac térias estariam mais presentes na mi crobiota de pessoas com depressão. A pesquisadora avaliou o microbioma in testinal de 29 pessoas saudáveis (contro le) e 29 com depressão e depressão/an siedade por meio de amostras de DNA de fezes sequenciadas com a metodologia Shotgun.

“Selecionamos os pacientes que ti nham mapeado o DNA da microbiota na empresa de biotecnologia Biogenetika, de Florianópolis, e escolhemos 58 amos tras daqueles que sofriam com depres são ou depressão/ansiedade. Selecionei pessoas que não tinham nenhuma outra doença diagnosticada, porque sabemos que a microbiota é alterada por diferen tes enfermidades”, detalha. Durante o desenvolvimento do estudo, a pesqui sadora separou as 29 amostras de indi víduos depressivos em dois grupos: só depressão e depressão/ansiedade, com 16 e 13 pacientes, respectivamente, para analisar se a microbiota desses grupos teria alguma diferença. O estudo con sistiu em análise do mapeamento e das respostas de um questionário que incluía rotina, peso, doenças e uso de medica ções, entre outros dados.

A pesquisadora utilizou o valor de P com confiança de 0,05 e verificou gêne ros, espécies e filos bacterianos, assim como vias e genes que estavam abundan temente diferentes entre os grupos, para verificar se havia alguma informação que chamasse a atenção ou estivesse de acordo com a literatura existente sobre o tema. “A primeira parte da pesquisa consistiu em uma ampla busca na lite ratura sobre estudos com microbiota, depressão e ansiedade, e o interessante é que não encontramos muitos estudos que abordassem a população brasileira. Com isso, nosso estudo dá uma primeira visão da microbiota de brasileiros com esses transtornos, embora seja uma amostragem por conveniência”, ressalta.

PERFIL MICROBIANO

Os resultados mostraram que o perfil da microbiota dos indivíduos con troles era composta majoritariamente por Bacteroidetes e Firmicutes em nível de filo; Bacteroides, Prevotella, Alistipes, Faecalibacterium, Roseburia, Parabacteroides e Eubacterium em nível de gênero. Já o perfil da microbiota de indivíduos acometidos por depressão e ansiedade era composta majoritaria

mente por Bacteroidetes e Firmicutes em nível de filo; Bacteroides, Prevotella, Alistipes, Eubacterium, Faecalibacterium, Parabacteroides e Akkermansia em nível de gênero. Também foram encontrados 95 táxons em abundância diferencial en tre amostras de pacientes controle versus depressão, e controle versus depressão e ansiedade.

“O filo Bacteroidetes mostrou abun dância reduzida em indivíduos depres sivos, e sabemos que Bacteroides spp. estão envolvidos na produção de me tabólitos relevantes para a depressão, tais como GABA. Diferentes estudos apontam para uma associação entre depressão e deficiência GABAérgica”, enfatiza. A autora lembra que cientistas já demonstraram que indivíduos com transtorno depressivo grave têm uma composição de microbiota diferente em comparação aos controles, apresentando alterações em filos como Bacteroidetes, Proteobacteria e Firmicutes, o que sugere que a prevalência desses filos pode ser importante para a saúde mental devido à produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), fundamentais para man ter a integridade da barreira intestinal e a resposta imunológica.

O primeiro a chamar o intestino de ‘segundo cérebro’ foi o professor doutor Michael D. Gershon, da Columbia University, que lançou o livro The Second Brain ( O Segundo Cérebro), em 1999. O pesquisador, que dedicou sua carreira à compreensão do intestino humano, concluiu que as células nervosas no intestino agem como um verdadeiro cérebro. A partir daí, as evi dências avançaram muito e, hoje, inúmeras pesquisas comprovam a estreita relação do eixo cérebro-intestino-microbiota para várias enfermidades, incluindo as doenças neuropsiquiátricas e neurodegenerativas. O sistema nervoso entérico exclusivo do intes tino possui aproximadamente 100 milhões de neurônios (número próximo à quantidade de neurônios da medula espinhal) e é capaz de controlar o trato gastrointestinal mesmo

se as conexões com o sistema nervoso central forem interrompidas.

A professora Maria do Carmo Friche Passos lembra que o ser humano adquire a microbiota ao nascer de acordo com o tipo de parto e, nos primeiros 1.000 dias de vida, vários fatores determinarão como será essa comunidade microbiana ao longo da vida – que muda devido a determinadas alterações, mas, no geral, acompanha cada indivíduo saudável com um padrão relativamente estável. Essa microbiota vai se tornando cada vez mais diversificada na juventude; na segunda e terceira décadas de vida adquire o máximo da saúde micro biana em termos de quantidade de bons microrganismos (sempre considerando as pessoas saudáveis) e, com o passar dos anos, diminui novamente a diversidade.

Portanto, o envelhecimento faz com que a microbiota naturalmente se altere e fique menos diversificada, o que pode levar à disbiose, e a influência do eixo cérebro-intestino acaba por determinar o aparecimento de determinadas doenças extradigestivas como as psiquiátricas e neurológicas, a obesidade e tantas outras.

“Inúmeros estudos, não só com animais de experimentação com doenças neuropsiquiá tricas induzidas, mas também com huma nos, têm mostrado que, possivelmente, com o passar dos anos ocorre uma alteração na neurotransmissão cérebro-intestino em razão dessa disbiose intestinal ou de uma alteração do padrão da microbiota.

Isso pode levar a uma inflamação em nível cerebral, justificando algumas dessas doen ças neurológicas, incluindo a depressão

EM BUSCA DE NOVAS RESPOSTAS SOBRE O EIXO CÉREBRO-INTESTINO Depositphotos/Rost9 MICROBIOTA & PROBIÓTICOS

RESULTADOS SUGEREM ALTERAÇÕES NO METABOLISMO

Os resultados do estudo da UFSC também mostraram que indi víduos com depressão apresentavam alterações em diferentes vias relacionadas com o metabolismo de carboidratos/aminoácidos. A bioinformata Fernanda Luiza Ferrari explica que o equilíbrio energético desempenha um papel essencial no funcionamento biológico normal e o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal participa na regulação de diferentes sistemas, incluindo o sistema metabólico. Assim, alterações no metabolismo do açúcar e no metabolismo energético podem ser resultado de distúrbios nesse eixo. “Essas alterações que encontramos no metabolismo de carboidratos, que é uma fonte primária de energia, poderiam ser indicativas de que pessoas com depressão e ansiedade têm algum problema nesse eixo, que não está trabalhando de maneira eficiente. É como se esses indivíduos com depressão e ansiedade tivessem um gasto energético maior”, reforça. Isso também já foi demonstrado em estudos desenvolvidos com camundongos, mas, neste caso, os cientistas testaram o gasto energético quando os animais estavam sendo submetidos a situações de estresse social.

Os achados do estudo indicaram, ainda, que vários táxons associados à produção de AGCC estavam com abundância redu zida nos indivíduos depressivos, o que impacta na integridade da barreira intestinal e em todo o equilíbrio do eixo hipotálamo-adrenal – lembrando que a maior redução da permeabilidade intestinal pode ocasionar indução ao estresse e à inflamação. A pesquisa dora observou também reduções relacionadas ao metabolismo de aspartato (um neurotransmissor importante para o cérebro e para a progressão da depressão e de outras doenças), o que vai ao encontro de achados de alguns estudos que demonstram uma redução de níveis de aspartato no sangue de pacientes com depres são. “Dessa forma, é possível concluir que indivíduos acometidos por depressão e ansiedade podem apresentar diversas alterações

no microbioma intestinal que tendem a impactar o sistema imu nológico, afetando essas pessoas psíquica e fisicamente. Nossas descobertas corroboram pesquisas anteriores e podem servir de base para uma maior compreensão do desenvolvimento desses problemas, especialmente na população brasileira”, ressalta a pesquisadora, que recebeu orientação dos professores doutores Guilherme Toledo e Lia Kubelka Back durante o estudo.

CONSTIPAÇÃO E DEPRESSÃO

No artigo ‘Effects of fermented milk containing Lacticaseibacillus paracasei strain Shirota on constipation in patients with depression: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial’, pesquisadores chineses confirmaram os benefícios da cepa da Yakult para contro lar a constipação em pacientes com depressão e, como objetivo secundário, analisaram os efeitos do microrganismo nos sintomas depressivos. O estudo teve dois braços paralelos, duplo-cego randomizado, placebo-controlado e envolveu indivíduos de 18 a 60 anos de idade com constipação e depressão diagnosticada por psiquiatras. Os participantes consumiram 100 ml de uma bebida contendo 108 unidades formadoras de colônias (UFC) de Lacticaseibacillus paracasei Shirota (LcS) ou placebo durante nove semanas e os resultados mostraram que, após o período de inges tão, sintomas de fezes e lacrimação ou sangramento retal após evacuação foram aliviados significativamente no grupo LcS em comparação ao grupo placebo (P<0,05). Também houve melhora nos níveis de depressão nos grupos LcS e placebo (P<0,05), e os níveis de interleucina 6 (IL-6) foram significativamente menores no grupo LcS. Além disso, a intervenção com o probiótico aumentou os níveis das bactérias benéficas Adlercreutzia, Megasphaera e Veillonella e diminuiu aquelas relacionadas à depressão, como Rikenellaceae_RC9_gut_group, Sutterella e Oscillibacter

endógena, que ocorrem principalmente nos idosos”, esclarece a docente.

Um dos primeiros estudos mostrando essa conexão foi desenvolvido na Univer sidade da Califórnia com camundongos nascidos em condições normais e germ-free (sem microrganismo). Ao analisar o compor tamento dos camundongos, os cientistas perceberam que aqueles sem microbiota se comportavam como autistas: não se comunicavam, não se mexiam e só comiam quando era oferecido. O mais interessante é que, quando os cientistas pegavam o material fecal desses camundongos colo nizados naturalmente e transplantavam para o germ-free , o animal começava a socializar. "Foi a partir daí que começaram os estudos sobre o transtorno do espectro autista e a microbiota. Hoje, se entrarmos

no PUB-MED não daremos conta de acom panhar a evolução acerca da microbiota em relação a depressão, autismo e muitas outras doenças neurodegenerativas”, de talha. Apesar do resultado, a professora lembra que não há evidências seguras para indicar transplante de microbiota no trata mento da depressão, mas as evidências teóricas reforçam e fortalecem muito essas possibilidades que, no futuro, poderão ser avaliadas como opção de tratamento.

PROBIÓTICOS

Para a docente da UFMG, a ciência deverá reconhecer cada vez mais a im portância da microbiota, embora ainda não exista um padrão microbiano ideal definido ou mesmo probióticos para cada condição de saúde e doença. Inclusive, já

estão começando a chegar ao mercado cepas probióticas específicas que poderão auxiliar nos transtornos depressivos, e em alguns experimentos em que os cientistas induziram humor depressivo ou ansioso em animais de experimentação e deram probió ticos com uma combinação específica, os animais melhoravam muito. Ao repetirem os estudos em humanos, também houve me lhora dos níveis de ansiedade e depressão. Entretanto, não são todos os probióticos que poderão levar a esse resultado. “Essa área ainda é um universo aberto e, se tudo que está sendo investigado for confirmado de fato e encontrarmos meios de modular a microbiota, seja com probióticos, prebió ticos, posbióticos ou com transplante de fezes ou de material genético, teremos uma nova medicina”, acredita.

CANABIDIOL APRESENTA ATIVIDADES

TEM SIDO ASSOCIADA A MÚLTIPLAS E POTENCIAIS PROPRIEDADES BIOLÓGICAS TERAPÊUTICAS

NEUROPROTETORAS

Elessandra Asevedo Especial para Super Saudável

Há algumas décadas, as proprie dades biológicas da Cannabis sativa começaram a ser inves tigadas como coadjuvante no tratamento de doenças, no entanto, as pesquisas tinham como matéria-prima apenas o extrato da planta obtido dire tamente do vegetal e que continha cen tenas de substâncias que poderiam até ser nocivas, como o tetrahidrocanabinol ( THC), que possui propriedades alucinó genas prejudiciais à saúde humana. Com o avanço da tecnologia nos últimos anos, as investigações ficaram mais detalhadas e com material mais apurado, o que favo receu a aceleração nas pesquisas relacio

NEUROPROTEÇÃO

nadas às diferentes atividades biológicas da substância. Principal componente não psicoativo e um dos mais abundantes da Cannabis sativa, o canabidiol tem sido associado a múltiplas e potenciais ativi dades biológicas terapêuticas, especial mente ansiolítica, antipsicótica, anti inflamatória, analgésica, antioxidante e neuroprotetora. Além dos benefícios já comprovados nas doenças psiquiátricas e nos distúrbios mentais, hoje os cientistas também observam a eficácia do canabi

diol ultrapuro com ação antibacteriana e como auxiliar contra o déficit de me mória associado à menopausa.

As preparações com base na planta têm sido investigadas pela atividade anti bacteriana desde a década de 1950, mas poucos estudos descreveram a eficácia do canabidiol ultrapuro. Com foco nesta la cuna, equipe formada por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), Faculdade de Me

CONTRA A PERDA DE MEMÓRIA NA MENOPAUSA

Caracterizada pelo fim definitivo da menstruação, a menopausa pode desencadear diversos sintomas que afetam a qualidade de vida e a saúde da mulher porque os ovários param de produzir hor mônios, como o estrogênio, que têm papel protetor. Essa mudança hormonal contribui para a perda de memória e aumenta o risco de desenvolvimento de danos neurais. O estudo ‘Cannabidiol reverses memory impairments and activates components of the AKT/GSK3β pathway in an experimental model of estrogen depletion’, desenvol vido no Departamento de Fisiologia do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostrou que o canabidiol pode auxiliar na reversão do prejuízo de memória associado à menopausa.

Segundo a professora doutora Nadja Schröder, pesquisadora responsável pelo estudo, esse componente isolado da Cannabis sativa vem sendo testado há cerca de 10 anos por um grupo de pesquisadores brasileiros por meio do Instituto Nacional de Ciên

cia e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Testamos o canabidiol em um modelo experimental de disfunção cognitiva associada ao acúmulo de ferro, que é uma característica de doenças neurodegenerativas. Como resposta, percebemos a melhora na memória dos animais. Então, resolvemos investir nessa linha para identificar o mecanismo de ação da substância”, detalha.

De 2014 até 2018 foram realizados diferentes estudos que comprovaram a eficácia do canabidiol como neuroprotetor, prote gendo contra a morte dos neurônios até mesmo nos modelos com sobrecarga de ferro. Nos anos seguintes, os cientistas começaram a testar em ratas que passaram por ovariectomia e estavam em menopausa cirúrgica devido à retirada dos ovários. As respostas foram consideradas excelentes, pois o canabidiol recuperou a me mória dessas ratas – quando comparado com a memória das que passaram pela ovariectomia e que não receberam o canabidiol.

Fotos: Arquivo pessoal
SUBSTÂNCIA
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PESQUISA
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PROMISSORAS

dicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (FCF UNESP), em Araraquara, e do Hospital Universitário Ramón y Cajal do Instituto Ramón y Cajal de Investigación Sanitaria (IRYCIS) de Madri, na Espanha, desen volveram o estudo ‘Potential cannabidiol (CBD) repurposing as antibacterial and promising therapy of CBD plus polymyxin B (PB) against PB-resistant gram-negative bacilli’, que investigou a atividade antibacteriana do canabidiol ultrapuro e a atividade antibacteriana da combinação da substância com o an tibiótico polimixina B contra bactérias gram-negativas, incluindo bacilos gram negativos resistentes à medicação que é utilizada nos hospitais para o tratamento de infecções graves.

O canabidiol sozinho mostrou ação contra bactérias gram-positivas como Staphylococcus, Enterococcus e Streptococcus, que podem causar de fa ringite a endocardite, afetar o aparelho digestório e urinário e provocar escarla tina, febre reumática, pneumonia e me ningite, entre outras doenças. Os achados

também demonstra ram que a combinação do canabidiol ultrapuro com o antibiótico polimixina B teve atividade antibacteriana contra super bactérias como a Klebsiella pneumoniae, extremamente resistente a antibióticos e que pode causar infecções graves em indivíduos hospitalizados, como pneu monia, infecções no sangue e meningite. “De modo surpreendente, os resultados foram promissores contra bactérias que também eram resistentes à polimixina B, ou seja, para aquelas em que o antibiótico sozinho não tem atividade”, enfatiza o biomédico Leonardo Neves de Andrade, professor doutor da Faculdade de Ciên cias Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e coordena dor do estudo, que é uma dissertação de mestrado da farmacêutica Nathália Abichabki.

O trabalho de reposicionamento

desse fármaco visa expandir sua funcionalidade e baratear o processo para produzir o canabidiol puro e em grande quantidade, ou até mesmo sintetizar totalmente em laboratório. “Para chegar ao componente utilizado nos estudos, que é extremamente puro, é necessário dispor de alta tecnologia. O uso da Cannabis sativa in natura e de forma ilegal não é indicado e não tem propriedades funcionais, ao contrário, há substâncias que são prejudiciais à saúde”, orienta o professor Leonardo Neves de Andrade. O alerta é reforçado por todos os pesquisadores que utilizam o canabidiol nos estudos, porque a falta de conhecimento e a confusão entre o nome da planta e do componente podem gerar preconceito em relação às investigações científicas ou levar as pessoas a utiliza rem algo ilícito que pode comprometer ainda mais a saúde.

Para a pesquisadora, os resultados são animadores porque não existe tratamento para melhorar a memória em doenças dege nerativas e na menopausa, o que vai atender às necessidades de parte das mulheres nes se período que, atualmente, contam apenas com a reposição hormonal para melhorar esses efeitos – método ainda considerado controverso porque existem indícios de que pode aumentar o risco de câncer de mama ou ginecológico.

A prevalência do Alzheimer, doença degenerativa que tem como característica a perda da memória, também é maior em mulheres. “Somente antes da menopausa as chances de desenvolvimento da doença

em homens e mulheres são iguais, indicando que os hormônios ovarianos, principalmente estrogênios, são neuroprotetores. Mas a menopausa torna a mulher mais suscetível à doença de Alzheimer”, acentua a professora Nadja Schröder. Ainda são necessárias mais pesquisas com a substância para avançar nos estudos na área para que, futuramente, o canabidiol possa ser uma alternativa para doenças neurodegenerativas. Os pesquisa dores da UFRGS também procuram entender os efeitos da substância em outros testes relacionados à memória. Uma tese de douto rado, com orientação do grupo, vai investigar a interação do canabidiol com o estrogênio no organismo feminino.

nadJa sChröder
out/dez 2022 • Super Saudável 17 Depositphotos/IRA_EVVA

ciência investiga consciência

Pesquisadores do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES) da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) lançaram, em julho, o livro Science of Life After Death pela editora alemã-britânica Springer Nature, uma das maiores do mundo no ramo científico. Principal autor do livro, o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, professor doutor titular de Psiquiatria, diretor do NUPES-UFJF e coordenador da seção de espiritualidade da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL), afirma que o conteúdo é baseado em uma ampla investigação científica sobre a possibilidade da sobrevivência da consciência humana após a morte, com relatos de casos analisados por inúmeros cientistas – inclusive agnósticos. Escrito em colaboração com a psiquiatra Marianna Costa e o filósofo Humberto Schubert Coelho, ambos pesquisadores do NUPES-UFJF, o livro traz uma revisão abrangente da história das religiões e da filosofia, derrubando preconceitos culturais e psicológicos que são, frequentemente, os maiores obstáculos para a aceitação da sobrevivência pós-morte como um fato da natureza.

Por que o senhor resolveu escrever sobre esse tema?

Faz 30 anos que entrei na Faculdade de Medicina como aluno e 16 que sou professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. As três ideias que existiam no ambiente acadêmico eram que a religiosidade estaria desaparecendo da humanidade; que re ligiosidade e espiritualidade eram incompatíveis com a racio nalidade e a ciência; e que religiosidade e espiritualidade eram vestígios do primitivismo do passado e causa, ou sintoma, de doenças mentais, neuroses e outros transtornos. Tudo isso se desfez com os estudos das últimas décadas, e o Brasil colabora de modo significativo com isso. Hoje, sabemos que a espiritualida de continua extremamente importante. Para ter ideia, 84% da humanidade possui uma filiação religiosa e, dos 16% que não possuem, a maioria tem alguma espiritualidade, uma relação com Deus, com os espíritos, com os ancestrais. Espiritualidade e religiosidade são importantes até mesmo para as pessoas lida rem com problemas e dificuldades pois, de modo geral – embora nem sempre –, estão relacionadas com melhores níveis de saúde física e mental. Isso já está bem estabelecido. Já sabemos também que o eterno conflito entre ciência e religião é um mito histórico.

Qual é o objetivo do livro?

Trazer um panorama do que a ciência tem a dizer sobre a cons ciência após a morte. É um livro introdutório que traz centenas de referências bibliográficas para quem quiser se aprofundar. O livro foi publicado pela Springer Nature, principal editora científica do mundo hoje, e é a primeira vez que temos notícia de que uma editora científica deste porte publica um livro espe cificamente com evidências de sobrevivência da consciência, o que é bastante relevante.

Qual é a definição de espiritualidade?

Definimos a espiritualidade como a relação com o transcenden te, com a dimensão da vida e do universo que está além desse mundo material que vivemos. E, dentro desse transcendente, a imensa maioria das tradições religiosas espirituais acredita que existe alguma forma de vida após a morte, que não acabamos

com o corpo físico. Essa é basicamente a ideia das tradições espi rituais. Comecei a me interessar pela ideia de certa continuidade após a morte desde que era residente de Psiquiatria, há 20 anos, e me surpreendi com as evidências que encontrei. Já reconhece mos a espiritualidade, mas uma das questões ainda é se a crença nuclear da espiritualidade, que é a ideia da sobrevivência, de algo transcendente, se é apenas uma criação cultural ou existem evi dências e relatos científicos sobre isso. E esse foi o objetivo do livro, porque a imensa maioria das pessoas, no ambiente acadêmico e fora dele, não sabe que há mais de 150 anos de pesquisas por algumas das melhores mentes científicas e filosóficas do mundo sobre o tema sobrevivência da consciência após a morte.

Como classificar a consciência após a morte?

Do ponto de vista científico, todos temos uma consciência, no sentido do ‘eu’. O que pensamos, sentimos, nossas vontades, o que planejamos, tudo isso chamamos de mente e consciência. A pergunta básica, do ponto de vista científico, é se há evidência de que esse ‘eu’ possa existir quando o cérebro não está mais funcionando. Outra questão é o que caracteriza cada indivíduo, cuja resposta é o que chamamos de continuidade do caráter e da memória. Cada um de nós tem um caráter, um modo de li dar com a vida e com o mundo e uma memória, e toda vez que encontramos um amigo, por exemplo, esperamos encontrar aquelas memórias, aquela personalidade e aquele caráter que conhecemos, assim como as habilidades e o modo de lidar com a memória. Essa é a ideia básica. Outra questão é a relação da mente com o cérebro. Existem duas grandes visões nesse sentido. Uma bastante predominante nas últimas décadas é a ideia de que o cérebro produz a mente, ou seja, as atividades químicas e elétricas do cérebro geram a consciência. Essa visão é chamada de fisicalista e a ideia é que, se morrer o cérebro, a consciência desaparece. Mas existe outra perspectiva não fisicalista de que o cérebro é um instrumento para a manifestação da consciência, e que a consciência não é produto do cérebro, mas sim que o cérebro permite que se manifeste. Essas são as duas grandes dúvidas e o que procuramos avançar no livro com evidências sobre o tema.

ENTREVISTA DO MÊS Super Saudável • out/dez 202218

Quais argumentos contrariam a ideia do fisicalismo?

O fisicalismo acredita que tudo que existe no universo são forças ou partículas físicas, e os adeptos acham que a ciência provou o fisicalismo ou que a ciência depende do fisicalismo – equívoco chamado de cientificismo materialista. No entanto, é fundamen tal lembrar que não existe comprovação científica sobre tudo no universo, a ciência não consegue abordar tudo e temos de ter certa humildade intelectual para entender que não sabemos tudo. Também é falso afirmar que a ciência tenha nascido ou necessite da ideia do fisicalismo, até porque os fundadores da ciência moderna – Galileu, Képler, Isaac Newton, Francis Ba con – não eram fisicalistas. Portanto, o fisicalismo nada mais é que uma visão de mundo e não um requisito para fazer ciência. Inúmeros cientistas de altíssimo padrão na atualidade não são fisicalistas, como Francis Collins, que liderou o Projeto Genoma Humano e, por 12 anos, presidiu o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH). Ele é cristão evangélico e trabalha com o diálogo ciência e religião o tempo todo. A ideia de que propor uma visão, algum aspecto não físico do universo seria necessariamente sobrenaturalismo e superstição também é falsa. Muitos autores defendem – e estou nesta linha – que a consciência pode ser outro componente irredutível do universo, um com ponente básico. Chamamos isso de naturalismo expandido, ou seja, defendemos o naturalismo para além da matéria – o que inclui a consciência que, neste caso, poderia existir independen temente do corpo. Outro aspecto é que muitas pessoas pensam que a ciência teria provado que o cérebro gera a mente e produz a consciência, o que também é falso.

Como se busca provar essas teorias? As pessoas costumam apresentar três evidências que seriam provas de que o cérebro gera a mente. Existem estudos de neuroimagem mostrando uma relação de áreas de ativação do cérebro e vivências mentais. Por exemplo, quando estou pensando para falar com alguém estou ativando uma área do meu cérebro; quando me lembro do amor que tenho pelos meus filhos ativo outra área do cérebro. Segundo argumento: se um indivíduo tiver lesões no cérebro lesará a consciência, por exemplo, uma pessoa com Alzheimer perde a memória e a personalidade pode alterar, e isso seria uma prova de que é o cérebro que gera a mente. Por fim, ao estimular certas áreas do cérebro ou usar determinadas medicações posso ter alterações mentais. De acordo com esses argumentos, a lesão e a estimu lação são vistas como provas de que o cérebro está gerando a consciência. Porém, na realidade isso também pode ser expli cado se o cérebro for apenas o instrumento da consciência. Todas as evidências só mostram que o cérebro é importante para a consciência se manifestar em determinada situação, mas não que ele gere a consciência. Portanto, outra barreira

a ser vencida é mostrar que a ideia de que o cérebro gera cons ciência não é um fato científico consumado.

Muitos afirmam que acreditar em uma dimensão transcen dente é coisa de gente supersticiosa e sem instrução... Exatamente, e esse é outro ponto importante a desmistificar. Há estudos na França, na Rússia e no Brasil sugerindo que, quanto menor a instrução, menos o indivíduo acreditará na vida após a morte. Em Juiz de Fora, fizemos um estudo com 600 partici pantes e encontramos uma relação nesse sentindo: quanto maior o nível de escolaridade, maior a crença em vida após a morte. Assim, a parte inicial do livro teve como meta limpar preconceitos e opiniões pré-formadas, para que os leitores possam avaliar as evidências em si e não baseados em opiniões pré-concebidas e distorcidas.

ALEXANDER MOREIRA-ALMEIDA out/dez 2022 • Super Saudável 19
“... 84% da humanidade possui uma filiação religiosa e, dos 16% que não possuem, a maioria tem alguma espiritualidade, uma relação com Deus, com os espíritos, com os ancestrais.”
consciência pós-morte
Aline Carvalho

As pessoas que creem e os cientistas que estudam a vida após a morte são sempre religiosos ou espiritualistas?

Não necessariamente. Há pessoas de vá rias tradições e vertentes trabalhando nessa área. No nosso grupo de pesquisa temos católicos, evangélicos, umbandis tas, judeus, espíritas e até agnósticos, e no mundo é a mesma coisa. Há cientistas que estudam esse fenômeno e não acreditam que exista a sobrevivência da consciência; e há pesquisadores que acreditam. Des ses que aceitam a sobrevivência como a melhor hipótese explicativa do conjunto de fenômenos envolvidos há cientistas de todos os tipos, e a maior parte, segundo meu conhecimento, nem está vinculada a uma religião específica.

Quais foram os primeiros sinais de que haveria consciência pós-morte?

A ideia da sobrevivência após a morte sempre foi abordada na filosofia. Pitágo ras, Sócrates e Platão na Grécia antiga, 2.500 anos atrás, discutiam racional mente sobre o tema e isso continuou ao longo da história da civilização ocidental na filosofia e nas religiões, mas não era considerado científico. A virada inicia na metade do século 19, quando intelectuais e cientistas começaram a estudar fenôme nos espirituais – aparição de pessoas fale cidas, transes mediúnicos, comunicações telepáticas. Nessa época, a ciência estava avançando e investigando a evolução das espécies com Darwin, e a Sociologia e a Psicologia científicas estavam surgindo.

Na Inglaterra, os estudos começaram com William Crookes, que foi um importan te físico-químico, e depois foi criada a Society Psychical Research (SPR), na qual vários pesquisadores e professores da Universidade de Cambridge se reuniam para usar o instrumental da ciência e da racionalidade para estudar esses fenôme nos. A SPR reuniu dezenas dos principais cientistas e filósofos do mundo à época, incluindo vários ganhadores de prêmio Nobel, como Pierre e Marie Curie, Char les Richet e Henri Bergson. Na França, Allan Kardec foi um dos que liderou essa proposta de investigação racional com base científica. Portanto, foi um movi mento mundial que começou na tentati va de usar o ferramental da ciência para

estudar outros aspectos que vão além da física e da química.

O que comprova que não se está falan do apenas de religião, mas de ciência?

Por se basear na análise racional rigoro sa de evidências científicas observáveis. Há dois tipos de evidência: uma de que a consciência pode estar ativa quando o cérebro não está funcionando, e isso tem muito a ver com as experiências de quase morte (EQM), e outra é essa continuidade da memória e do caráter depois da morte. Nessa última linha, vamos ter três tipos principais de fenômeno: as aparições, que são indivíduos que veem pessoas que já faleceram; os fenômenos mediúnicos, que são pessoas que alegam se comunicar com indivíduos falecidos; e os chamados fenômenos sugestivos de reencarnação.

Como se explica cientificamente a experiência de quase morte?

O caso clássico mais relevante de EQM é a parada cardíaca, quando o coração para de funcionar e de jogar sangue para o cé rebro – que consome muita glicose e oxigê nio e precisa de suprimento contínuo. Em uma parada cardíaca, o cérebro fica sem atividade elétrica (isoelétrico) em menos de um minuto. Pela visão fisicalista, nes te caso não poderia haver consciência ou lembranças. No entanto, muitas pessoas referem que estavam acordadas e lúcidas (até mais do que o habitual) no momento da parada cardíaca, e esse é o primeiro ponto que chama muito a atenção. Há re latos de indivíduos conscientes, perceben do o que estava acontecendo e com uma sensação de compreensão transcendente da vida, inclusive com contato com seres espirituais. Os céticos podem afirmar que é fantasia por medo da morte ou que, de vido à hipóxia no cérebro, a pessoa come ça a fantasiar. Mas os estudos mostram que esses fenômenos não dependem da crença do indivíduo ou do medo da mor te. Há casos bem documentados em que o paciente é capaz de rememorar com deta lhes situações que realmente aconteceram durante a parada cardíaca.Um deles foi publicado na TheLancet, principal revis ta médica do mundo, pelo cardiologista Pim van Lommel – que estudou centenas de paradas cardíacas e investigou a expe

riência de quase morte. Um homem na Holanda chegou no hospital clinicamente morto: estava cianótico, não respondia a nenhum estímulo e a pupila estava fixa, sinal que nem o tronco cerebral, que é a parte mais profunda do cérebro, funcio nava. Começaram a reanimar o pacien te, quase desistiram e, depois de meia hora, o ritmo cardíaco voltou, mas ele continuava inconsciente. Foi para a UTI e, uma semana depois, acordou e falou para uma enfermeira que ela sabia onde estava a dentadura dele, pois, quando fo ram entubá-lo, ela havia retirado a den tadura e colocado em uma gaveta em um carrinho cheio de potes – o carrinho de ressuscitação. Isso realmente aconteceu, e o homem garante que viu tudo porque estava 'flutuando' acima da maca e, in clusive, gritou desesperadamente para não pararem o processo de reanimação. Isso é um exemplo, mas tem dezenas de casos documentados de que o indivíduo é capaz de ter consciência quando o cérebro não está funcionando. E esse é um nível de evidência alto, tanto é que pessoas que passam pela parada cardíaca e EQM ten dem a acreditar muito mais em vida após a morte depois dessa situação.

Isso também acontece no coma?

Pode acontecer, sem dúvida nenhuma. Tem um caso famoso de Eben Alexander, professor de Neurocirurgia da Universi dade Harvard, que teve uma meningite gravíssima, ficou em coma e teve expe riência de quase morte. Ele escreveu o livro Uma Prova do Céu contando a his tória, que virou best-seller. A diferença é que, na parada cardíaca, temos certeza de que o cérebro está parado; no coma, não temos como garantir 100%. Mas es se é um tipo de evidência que questiona muito a visão fisicalista da consciência.

Também há estudos com aparições?

Sim. Temos relatos no livro e há vários estudos sobre o tema. Tem um caso nos Estados Unidos muito interessante: o pai tinha três filhos e fez um testamento deserdando um deles. Quando morreu em um acidente, foi feita a distribuição como estava no testamento. Depois de um tempo, o filho deserdado começou a ter visões do pai e, em uma delas, o pai disse

Super Saudável • out/dez 202220 ENTREVISTA DO MÊS

que ele deveria olhar no bolso de um certo casaco, porque ali havia algo importante. Quando encontraram o casaco havia um bolso costurado com um bilhete pedindo para olharem na bíblia do pai, em deter minado capítulo, versículo e livro. A fa mília pegou a bíblia e exatamente onde o pai indicou na visão havia outro testa mento em que a herança era distribuída igualmente entre os filhos. O documento foi levado à justiça e o tribunal aceitou como verídico o novo testamento, cuja ca ligrafia foi reconhecida por uma série de pessoas. Esse é um exemplo de aparição que traz uma informação que ninguém sabia e é compatível com a memória e o caráter daquele pai.

Chico Xavier é um dos casos mais em blemáticos de mediunidade?

É um caso que tem sido estudado. Há um mestrado e um doutorado em lite ratura na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) investigando obras psicografadas do Chico Xavier. O primeiro livro que ele publicou, Parnaso deAlém-Túmulo, aos 22 anos – lembran do que tinha estudado até a quarta série primária e trabalhava o dia inteiro –, tem dezenas de poemas atribuídos a dezenas de poetas brasileiros, alguns famosos co mo Castro Alves e Casemiro de Abreu, e outros não. Um estudo investigou o estilo literário, a característica do poeta em vi da e do poema que, supostamente, ‘veio’ através do Chico Xavier. A similaridade é muito significativa. Esse é um exemplo de manutenção do caráter, porque cada poeta psicografado manteve seu caráter e estilo. No doutorado, Alexandre Rocha comparou a escrita de Humberto de Campos em vida e alegadamente ditada para o Chico Xavier e há uma semelhan ça muito grande de conteúdo de conhe cimento e interesse de análise. Outra questão interessante é que as obras psi cografadas fazem referências indiretas veladas (intertextualidade) aos textos do poeta vivo, alguns deles que não eram de domínio público – o chamado Diário Secreto que estava no cofre da Academia Brasileira de Letras e só veio a público anos depois da obra psicografada. Os poemas manifestam uma série de carac terísticas de personalidade, memória e

estilo que seria esperado para cada um dos poetas.

Cartas psicografadas também são es tudadas cientificamente? Sim. Orientamos dois pós-doutorados em parceria com a Universidade de São Paulo e publicamos em revistas científi cas internacionais algumas cartas que Chico Xavier psicografou alegadamente de pessoas falecidas. O que procuramos investigar nessas cartas é se as informa ções eram verificáveis e verdadeiras, e qual o meio pelo qual o médium poderia ter tido acesso às informações. Encon tramos muitas informações verificáveis e quase sempre verídicas. Há também es tudos controlados nos Estados Unidos e na Inglaterra em que médiuns produzem comunicações sobre uma pessoa falecida, mas quem está falando com eles não é al guém que conheça o falecido, de forma que não possa ficar dando informações indiretas – o que chamamos de leitura fria. Depois, os familiares escolhem, entre várias, a comunicação que acreditam ser do parente falecido. Os estudos publica dos recentemente mostram que o familiar tem a probabilidade bem acima do acaso de escolher a comunicação correta, o que é mais uma evidência consistente.

Casos sugestivos de reencarnação também são relatados no livro?

Sim. Há mais de 2 mil casos estudados nesse sentido no mundo. O principal cen tro de pesquisas na área é no Departa mento de Psiquiatria da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Os estudos

envolvem basicamente crianças que, as sim que começam a falar, passam a rela tar que teriam vivido outra vida, morado em outra casa, em outra cidade, com ou tra família. Um exemplo é uma menina no Sri Lanka que, ao ver o Templo de Kelaniya na TV, disse que havia morado perto dali e que fazia incenso das marcas Ambika e Geta Picha até morrer atrope lada. A investigação encontrou uma fa mília que faz incenso daquelas marcas morando perto daquele templo. Quando a menina chegou na casa e viu a caixa do incenso, comentou que haviam mudado a capa e que não era aquele o envelope que usavam – e era verdade. A menina descre veu como fazer incenso e, de fato, um dos familiares tinha morrido atropelado por um caminhão. A criança tinha manchas brancas de nascença na região abaixo da costela, e o laudo de necrópsia mostrou que o indivíduo morreu por costelas per furando o pulmão e o fígado, justamente na região onde a criança tinha as marcas. Há centenas de casos assim, em que me mórias, estilo de personalidade, gosto por certos alimentos e até fobias são muito semelhantes às das alegadas personali dades anteriores. E existem dezenas de casos bem documentados de marcas de nascença compatíveis com a lesão trau mática que gerou o falecimento.

Esse conhecimento pode ajudar a sociedade a repensar comportamentos? Acho que sim, embora o livro não toque nesse aspecto. Alguns estudos apontam que indivíduos que creem na vida após a morte têm menos sintomas psiquiátricos como depressão e ansiedade, maior rejei ção à ideia do suicídio, maior satisfação com a vida e menos desespero no final da vida. Há um estudo muito interessante mostrando que essas pessoas também têm menos crença na visão cínica de mundo, ou seja, de que o mundo não tem senti do, de que o homem é apenas o lobo do homem, e isso está ligado, segundo as pesquisas, com menos transtornos psi quiátricos. Como tudo em ciência, não existem provas definitivas. Entretanto, as evidências são muito robustas apontando que somos também seres transcendentes e o que é fundamental em nós vai além da matéria e sobrevive a ela.

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Desses que aceitam a sobrevivência como a melhor hipótese explicativa do conjunto de fenômenos envolvidos há cientistas de todos os tipos...

OS MUITOS DESAFIOS DE VIVER

TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO SE MANIFESTA NA INFÂNCIA, MAS PODE ACOMPANHAR O INDIVÍDUO

DURANTE TODA A VIDA

Fernanda Ortiz Especial para Super Saudável

Impulsividade, desatenção e hiper atividade são sintomas que, isola dos ou associados, caracterizam o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), um distúr bio do neurodesenvolvimento que afeta as funções executivas responsáveis pela regulação de comportamentos sociais e habilidades cognitivas. Normalmente associado às crianças na fase de apren dizado com desempenho escolar comprometido, o transtorno pode se estender para a vida adulta –como ocorre em cerca de metade dos casos – ou ser diagnosticado apenas na fase adulta, tra zendo prejuízos funcio nais significativos na autoestima, na organização e nas relações de trabalho e in terpessoais. Estimativas recentes da

Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que aproximadamente 2,5% da população adulta no mundo é afe tada pelo TDAH. No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que apro ximadamente 6% de crianças e adoles centes com idade entre 6 e 17 anos, e 2,5% dos adultos sofrem com o transtorno. Apesar de crônico, ao identifi car os sintomas, buscar auxílio médico, fechar diagnóstico e receber o tra tamento adequado é pos sível reduzir os riscos associados e ter uma vida mais organiza da e funcional. Do ponto de vista neurocog nitivo, o TDAH é um distúrbio nas funções executivas decorrente de alterações do cérebro e das suas conexões, principalmente na

produção e distribuição dos neurotrans missores dopamina, que promove a sen sação de bem-estar, e noradrenalina, que está relacionada com humor, concentra ção, atenção e memória. “Nas pessoas com o transtorno, esses neurotransmisso res não desempenham adequadamente sua função no lobo frontal, que fica im possibilitado de enviar comandos para o resto do corpo afetando principalmente a atenção, a concentração e o controle do comportamento”, explica o professor doutor Eugênio Horácio Grevet, docente do Departamento de Psiquiatria e Medi cina Legal da Faculdade de Medicina (FAMED) e coordenador do Ambula tório de Déficit de Atenção em Adultos (ProDAH) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Dados da literatura médica apontam que o fator genético é a causa predomi nante para o desenvolvimento do trans torno, atribuindo cerca de 70% dos diag nósticos à hereditariedade. Outras causas que podem estar associadas ao seu sur gimento envolvem fatores ambientais e sociais, a exemplo do consumo de álcool ou tabaco pela mãe durante a gestação, estresse fetal, partos prematuros e até

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Fotos: Arquivo pessoal
eugênio horáCio grevet CaMyLa azevedo

COM TDAH

mesmo lares problemáticos que despertam inquietação, medo e irritabilidade na criança.

Os primeiros sintomas de TDAH aparecem na infância, no início da fase escolar. Para o professor doutor Mario Rodrigues Louzã Neto, médico assistente e coordenador do Programa de Déficit de Atenção e Hiperatividade no Adulto (PRODATH) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPqHC-FMUSP), ao observar comportamentos na criança é possível estabelecer limites entre a desatenção e a inquietude, próprios da idade, para o comportamen to com características patológicas. “A partir de 7-8 anos, quando inicia a fase de aprendizado escolar, a criança já tem a capacidade de se autocontrolar, automonitorar seu comportamento e assistir uma aula inteira com atenção. Quando o comportamento foge muito do padrão das de mais crianças, ou seja, quando a criança não consegue ter a atenção voltada exclusivamente para o professor, se movi menta demais, atrapalha os amigos, é impaciente, se distrai facilmente, esquece materiais, lições e de estudar para pro vas, apresentando menor rendimento escolar mesmo que sua capacidade intelectual seja normal, é preciso investigar os motivos que levam a esse comportamento”, descreve. Se não houver um diagnóstico e tratamento adequados, os prejuízos serão cada vez maiores, comprometendo seu desenvolvimento e se estendendo para a vida adulta.

Com apresentações de acordo com os sintomas, o indivíduo com TDAH pode ser predominantemente de satento, caracterizado pela falta de atenção e concentra ção; predominantemente hiperativo e impulsivo, descrito pelo imediatismo, pela impulsividade (‘agir sem pensar’ nas consequências) por ações e pensamentos acelerados e pela realização de muitas atividades ao mesmo tempo; ou combinado, em que ambos os grupos de sintomas são observados. “Essas apresentações são válidas para crian ças e adultos e podem, a depender de cada indivíduo, vir acompanhadas de sintomas secundários como, por exem plo, baixa autoestima, irritabilidade, solidão, frustração, exaustão emocional e angústia”, enumera o psiquiatra Eugênio Horácio Grevet. Na infância, o TDAH predomi nantemente hiperativo/impulsivo é três vezes mais comum em meninos, enquanto o predominantemente desatento ocorre com igual frequência em ambos os gêneros. Na fase adulta, os índices de diagnóstico entre homens e mulhe res, independentemente da manifestação, são similares.

IMPACTOS PODEM PREJUDICAR OS ADULTOS

A existência do TDAH no adulto foi oficialmente reconhecida em 1980 pela Associação Psiquiátrica Americana. Desde então, pesquisadores têm estudado a evolução do transtorno nas diferentes etapas da vida, assim como as características dos sintomas que, além de inconstantes, parecem depender de fatores externos como ambiente, contexto social, educação e inserção no trabalho; e internos, relacionados a outras doen ças, personalidades e estratégias para lidar com dificuldades individuais. “Acredita-se que em torno de 60% das crianças com TDAH (diagnosticadas ou não) ingressarão na vida adulta com alguns dos sintomas, seja de desatenção ou hiperatividade/impulsividade, entretanto, em geral, em menor intensidade que os sintomas observados quando crianças ou adolescentes”, observa o psiquiatra Mario Rodrigues Louzã Neto. Ainda que menos acentuados, os sintomas podem ser muito prejudiciais no adulto, provocando problemas no desenvolvimento social, acadêmico, profissional e interpessoal.

Enquanto na infância e adolescência o prejuízo do indivíduo com TDAH ocorre principalmente no desempenho escolar, na vida adulta se estende para todos os outros setores. “A dificuldade de armazenamento da informação – característica do transtorno – causa uma sobrecarga na memória operacional, ou seja, impossibilita sustentar a informação por um curto espaço de tempo em prol de manipulá-la. Com isso, o adulto que carrega uma série de responsabilidades tem dificuldade, por exemplo, de seguir instruções longas, cumprir prazos, gerenciar tempo, se concentrar, lembrar de datas e compromissos, entre outros, o que provoca alterações do funcionamento executivo”, descreve a neuropsicóloga Camyla Azevedo, coordenadora do Ambulatório de Cognição Social Marcos Mercadante (TEAMM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em algumas manifestações na vida adulta, não é incomum que o indivíduo faça abuso de álcool e de substâncias ilícitas para controlar um nível alto de agitação e impulsividade que, embora sejam próprios do TDAH, não foram diag nosticados. O psiquiatra Mario Rodrigues Louzã Neto acrescenta que, muitas vezes, a própria impulsividade e a característica de personalidade de ‘busca de novidades’ (novelty seeking) leva ao abuso de drogas.

Dessa forma, estar atento aos sintomas é fundamental para diminuir riscos e prejuízos ocasionados pelo distúrbio. Para a neuropsicóloga Camyla Azevedo, a necessidade de o indivíduo buscar ajuda médica e tratamento, principalmente quando não foi diagnosticado na infância, depende do quanto os sintomas causam de prejuízos na sua vida. “As queixas mais frequentes são baixa produtividade no trabalho, mudanças de emprego frequentes, falta de organização, dificuldade de esforço continuado frente a tarefas repetidas, problemas em relacionamentos pessoais, comportamento antissocial, memória de curto prazo prejudi cada, resistência a mudança de rotina, dificuldade de tomar decisões imediatas e problemas financeiros. Enfim, uma série de situações que trazem inúmeros prejuízos para a vida”, aponta. Entretanto, é importante ressaltar que ter o transtorno não significa que o indivíduo tenha sua ca pacidade intelectual comprometida, pois, com o devido acompanhamento e tratamento, qualquer pessoa com TDAH tem a inteligência normal e, muitas vezes, até acima da média e com desempenhos surpreendentes. A especialista acentua que adultos hiperativos, por exemplo, são muito criativos, espontâneos e proativos, destacando-se em áreas de artes, arquitetura e construção, entre outras em que sua inquietude e energia são vistas como qualidades.

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a valiação clínica criterio S a

Os sintomas utilizados para definir o TDAH são descritos no Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtor nos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disease 5ª Edição –DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria, baseados em estudos de campo com crianças e adolescentes –com ajustes específicos para cada faixa etária. “Para o diagnóstico em adultos, utilizamos a Escala ASRS-18 (Adult ADHD Self-Report Scale), um instrumen to de rastreio desenvolvido para adaptar os sintomas listados para o contexto da vida adulta. Trata-se de um questioná rio com 18 perguntas relacionando a frequência de atenção, distração e im pulsividade em atividades rotineiras. Para indicar o transtorno, tais sintomas

devem estar presentes o tempo todo, em diversos ambientes, e precisam causar algum tipo de prejuízo funcional à pes soa”, orienta o médico psiquiatra Ma rio Rodrigues Louzã Neto. Importante destacar que este é apenas o ponto de partida para o levantamento de possí veis sintomas primários do TDAH, uma vez que o diagnóstico preciso só pode ser feito por meio de uma longa anamnese, que inclui a história do paciente desde a infância, e com profissional médico especializado, seja psiquiatra, neurolo gista, pediatra ou neuropediatra.

As intervenções voltadas para o tra tamento do TDAH consistem no uso de medicamentos, na terapia cognitivo comportamental ou na combinação de ambos. O psiquiatra Eugênio Horácio Grevet explica que o tratamento far macológico promove uma diminuição da impulsividade, desatenção e dos sintomas de hiperatividade, facilitando melhor interação social e desempenho, seja na escola ou no trabalho. “O tipo de fármaco, as doses e o tempo de uso são determinados pelo profissional médico de acordo com a necessi dade individual, podendo incluir psicoestimulantes, a exemplo do metilfenidato – linha de frente para o tratamento; antidepressi vos, já que em 30% dos pacientes há uma associação entre o TDAH com outras comorbidades, como depres são e ansiedade; e, em casos mais extremos, pode ser indicado uso de estabilizadores de humor para con trole do comportamento”, detalha. Paralelamente, a terapia cognitivo comportamental oferece um conjunto de intervenções relevantes para a re gulação emocional, com orientação e técnicas que colaborem na modificação de comportamento, na estruturação do ambiente, no planejamento de ativida

des e no manejo de sintomas. Traba lhar habilidades sociais e estratégias específicas que reforcem o comporta mento adaptativo social também ajuda a administrar os sintomas, tornando o comportamento típico do transtorno menos frequente e, portando, menos estressante.

A neuropsicóloga Camyla Azevedo afirma que adotar atitudes simples no dia a dia pode ser uma saída para melho rar as relações pessoais e, principalmen te, o desempenho profissional. “Quando for difícil se concentrar, pare um pouco; conheça-se bem para potencializar pon tos fortes e compensar os mais fracos; gerencie o tempo com a ajuda da agenda do celular; liste tarefas; identifique em que momento do dia a capacidade de foco é melhor; use horas livres para re laxar; não traga problemas de casa para o trabalho ou vice-versa; crie um am biente de trabalho agradável; tenha uma vida mais saudável, com boa alimenta ção, atividade física e boas noites de sono”, sugere. Ao mudar a visão sobre o transtorno, aprendendo a conviver com os sintomas e identificando maneiras de contorná-los, é possível que o indivíduo tenha uma vida mais saudável, funcional e organizada.

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Mario rodrigues Louzã neto
MEDICINA Arquivo pessoal

LcS BENEFICIA CRIANÇAS COM EXCESSO DE PESO

PESQUISADORES DE DUAS UNIVERSIDADES JAPONESAS AVALIARAM OS EFEITOS DA CEPA PROBIÓTICA COM RESULTADOS POSITIVOS

Aobesidade infantil pode levar a doenças do estilo de vida como hipertensão, diabetes, hiperlipidemia, gota, distúrbios cerebrovasculares, arterioscle rose e doença cardíaca isquêmica na ida de adulta, e deve ser controlada ainda na infância para garantir uma vida adulta saudável. Atualmente, é aceito que a mi crobiota intestinal desempenha um pa pel na fisiopatologia da obesidade como um importante fator ambiental para ge ração de energia e regulação da inflama ção. Estudos recentes em animais indica ram que a proporção de Bacteroidetes foi 50% menor em ratos magros em relação a camundongos geneticamente obesos, com um aumento inverso na proporção de Firmicutes. Achados semelhantes fo ram relatados em humanos, pois estudos observaram um declínio na proporção de Firmicutes e aumento na proporção de Bacteroidetes na microbiota intestinal de adultos obesos submetidos a tratamento com dieta restrita em carboidratos e gor duras. No entanto, todos esses estudos sobre a relação entre a obesidade e a mi crobiota intestinal foram realizados em adultos, com uma pequena quantidade de dados incertos disponíveis para crian ças. Como as bifidobactérias são mais dominantes do que os Bacteroidetes na

microbiota intestinal de crianças e com relatos em modelos animais citando o efeito das bifidobac térias na supressão da endoto xemia e, consequentemente, na prevenção do diabetes tipo 1 – ao mesmo tempo em que melhora a hipercolesterolemia – foi proposto que a proliferação de bifidobacté rias no intestino de crianças poderia melhorar tais complicações.

Para comprovar a proposta acima, levantou-se a hipótese de que a prolife ração de bifidobactéria no intestino de crianças poderia melhorar a obesidade e as complicações associadas. Primeiro, foi comparada a microbiota intestinal basal entre crianças obesas e não obesas, e os resultados mostraram que as proporções de bifidobactéria em crianças obesas foram menores do que em crianças não obesas. Em seguida, dado que é improvável que a administração externa da bifidobactéria atinja o intestino grosso viva, foi solicita da a ingestão de uma bebida contendo Lactobacillus casei Shirota (LcS) – que é o único probiótico comprovado que au menta a quantidade de bifidobactérias no intestino – para as crianças obesas. Depois, foram examinados quaisquer efeitos potenciais dessa bebida na per

da de peso, hiperlipidemia e redução de açúcar no sangue como desfecho primá rio, e melhora da disbiose intestinal e do ambiente microbiano como desfechos secundários.

Foram realizados dois estudos pros pectivos: 1) estudo comparativo da mi crobiota intestinal entre crianças obesas e não obesas; 2) investigação dos efeitos

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S. Nagata1,2, Y. Chiba1,2, C. Wang2 e Y. Yamashiro2 1Department of Paediatrics, School of Medicine, Tokyo Women’s Medical University 2Probiotics Research Laboratory, Juntendo University Postgraduate School, Japan
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do consumo da bebida contendo LcS na melhora da obesidade, hiperlipidemia e tolerância à glicose. Os participantes foram crianças obesas com índice de massa corporal (IMC) escala Z igual ou superior a 2,0 e crianças saudáveis não obesas que consultaram o Ambulatório de Pediatria do Hospital Univer sitário afiliado da Universidade Juntendo, no Japão, de 1 de abril de 2012 a 31 de março de 2013. O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Estudos Humanos da Universidade Juntendo. De acordo com a versão revisada da Declaração de Helsinque (revisão final: outubro de 2000, com notas no rodapé adicionadas em 2002 e 2004), os participan tes foram satisfatoriamente informados sobre o conteúdo e os métodos da pesquisa, e o consentimento informado foi obtido por escrito. Este projeto de pesquisa foi realizado após ser re gistrado no Registro de Ensaios Clínicos da UMIN (número: UMIN00000698).

O produto teste foi o leite fermentado contendo LcS (YIT 9029) (Yakult 400, Yakult Honsha Co., Ltd., Tóquio, Japão), com posto de leite desnatado, xarope e aromatizante. A composição de cada frasco de 80 ml era de energia: 62 kcal; proteínas: 1,0 g; lipídeos: 0,1 g; carboidratos: 14,4 g; e sódio: 15 mg. O número de LcS era ≥4×1010 no momento da ingestão. As duas investigações foram realizadas por meio de 1) Análise de amostras de fezes de todos os indivíduos no exame médico inicial – a microbiota intestinal e a concentração de ácidos graxos nas fezes dos par ticipantes de ambos os grupos no exame médico inicial foram avaliadas pelo método descrito a seguir, que foi realizado após um exame comparativo entre os dois grupos. 2) Investigação do efeito do probiótico no grupo obeso – o grupo obeso foi sub metido apenas à terapia de dieta e exercícios nos primeiros seis meses do período de observação e, em seguida, consumiu um frasco da bebida contendo LcS diariamente durante os últimos

seis meses. O peso corporal, os níveis de triglicerídeos no sangue periférico e no soro, o nível de colesterol de lipopro teína de alta densidade (HDL) e o nível de glicemia em jejum antes da ingestão do produto teste foram avaliados três e seis meses após o início da ingestão da bebida.

A meta de energia total foi calculada por um método simples ([idade×100]+1.000 kcal), e a proporção de calorias foi con trolada em uma proporção de carboidratos:proteína:gordura de 50-55%:15-20%:30%. Os participantes foram instruídos a realizar exercícios que consumissem aproximadamente 10% de sua ingestão calórica diária total, pelo menos uma vez em dias alternados. Os participantes e seus pais foram orientados sobre a dieta e os exercícios, e instruídos a manterem um diário de gerenciamento para confirmar que conduziram apropriadamente, conforme o protocolo do estudo. O des fecho primário foram os efeitos potenciais da bebida na perda

No Ambulatório de Pediatria, afiliado da Universidade, crianças obesas (n=12; idade média = 10 anos e nove meses; proporção masculino/feminino = 8:4; IMC escala Z = 2,7±1,7) e crianças sau dáveis não obesas (n=22; idade média = oito anos e seis meses; proporção masculino/feminino = 13:9; IMC escala Z = 0,1±0,7) foram registradas no estudo. Na análise da microbiota intestinal no exame médico inicial, o número de bifidobactérias nas fezes do grupo obeso foi significativamente menor em relação ao grupo não obeso (grupo obeso, 7,9±1,5 vs grupo não obeso, 9,8±0,5 Log10células/g; P<0,01), juntamente com um declínio significativo no número total de bactérias: o grupo Bacteroides fragilis e o grupo Atopobium, e o subgrupo Lactobacillus gasseri. As Enterobacteriaceae fecais não foram notadamente dominantes no grupo obeso em comparação com o grupo não obeso. No entanto, a proporção entre o número de Enterobacteriaceae fecais e bactérias fecais totais tendeu a ser maior no grupo obeso (grupo obeso, 0,73±0,1 vs grupo não obeso, 0,68±0,1; P<0,1). Na análise da concentração de ácido orgânico

nas fezes, os níveis de ácido acético foram menores no grupo obeso do que no grupo não obeso (grupo obeso, 45,1±16,9 vs grupo não obeso, 57,9±17,6 μmol/g; P<0,05).

O grupo obeso foi submetido a terapia de dieta e exercícios nos primeiros seis meses do período de observação e, em seguida, consumiu um frasco de uma bebida contendo LcS (40 bilhões de LcS por frasco) diariamente, durante os últimos seis meses. Foi con firmado que os participantes tiveram grande sucesso com sua dieta e terapia de exercícios e consumiram estritamente o produto teste todos os dias, com base em uma análise do diário de gerenciamento e entrevista na clínica. O peso corporal, os níveis de triglicerídeos no sangue periférico e no soro, o nível de colesterol HDL e a glicemia em jejum foram monitorados. Os resultados mostraram que o peso corporal médio no grupo obeso seis meses após o início da ingestão da bebida contendo LcS foi significativamente menor do que na linha basal (-2,9±4,6%; P<0,05), embora a terapia de dieta e exercícios sozinhos não tenham contribuído para a redução do peso corporal.

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RESULTADOS MOSTRAM EFEITOS DO PROBIÓTICO ARTIGO CIENTÍFICO Super Saudável • out/dez 202226 

de peso, hiperlipidemia e redução da glicemia. O peso corporal dos participantes e os resultados dos marcadores bioquímicos foram registrados em um prontuário mé dico na clínica durante o período do estudo.

Para a análise estatística dos itens do prontuário foram con siderados os achados gerais an teriores ao início da ingestão da bebida teste e os três e seis meses após o início da ingestão. Amos tras de sangue em jejum (3 ml) foram obtidas e as análises bio químicas feitas usando métodos padrão da clínica. Os valores de triglicerídeos, colesterol HDL e glicemia em jejum foram regis trados e avaliados de acordo com a definição de síndrome metabó lica em pacientes pediátricos. O desfecho secundário foi a melho ra da disbiose intestinal e do am biente microbiano. A microbiota intestinal e as concentrações de ácidos graxos nas fezes foram analisadas antes da ingestão do produto teste (no início e seis me ses após dieta e terapia de exercí cios apenas) e seis meses após o início de tal ingestão.

A análise livre de distribuição t de Student (peso corporal, nível de triglicerídeos, coles terol HDL, glicemia e pH das fezes) e um teste de classificação sinalizada de pares pareados de Wilcoxon livre de distribuição (microbiota intestinal e concentração de ácido orgânico nas fezes) foram usados para comparar os resultados da análise entre os dois grupos. Um teste t pareado paramétrico foi usado para comparar os valores antes e depois do consumo (peso corporal, triglicerídeos, colesterol HDL, glicemia e pH nas fezes) juntamente com um teste não paramétrico de postos sina lizados de Wilcoxon (microbiota intestinal e concentração de ácido orgânico nas fezes).

O SPSS Ver. 11 software (SPSS, Chicago, IL, EUA) foi utilizado para a análise, com nível de significância estabelecido em 5% em ambos os testes.

Amostras de fezes recém-excretadas foram coletadas dos participantes antes de consu mir produto teste na linha basal e após seis meses de consumo. Na clínica, aproximada mente 0,5 g de fezes foi coletada e colocada em um tubo contendo 2 ml de RNAlater (Ambion Inc., Austin, TX, EUA) e um tubo va zio (para análise de ácidos orgânicos). Após incubação em temperatura ambiente por 10 min a fim de permitir a penetração suficiente de RNAlater nos microrganismos, as amostras fecais foram resfriadas a -20°C e, depois, enviadas para o Instituto Central Yakult onde a contagem bacteriana foi determinada por RT-PCR. A análise quantitativa de RT-PCR foi realizada pelos métodos de Matsuda et al. (2007, 2009). A especificidade dos ensaios quantitativos de RT-PCR usou iniciadores es pecíficos de gênero-, espécie-, Staphylococcus spa- e Staphylococcus

CONCENTRAÇÃO FECAL DE ÁCIDOS ORGÂNICOS E PH

Uma porção de fezes homogeneizada foi pesada, misturada com ácido perclórico 0,15 M em um volume de 4 vezes e incubada a 48°C por 12h. Em seguida, a mistura foi centrifugada a 20.000× g por 10 min a 48°C e o sobrenadante filtrado com um filtro de membrana de 0,45 μm (Millipore Japan, Tóquio, Japão) e esterilizado no Instituto Central Yakult. As concentrações de ácidos orgânicos nesta amostra foram medidas usando o sistema Waters HPLC (Waters 432 Conductive Detector, Waters Corporation, Milford, MA, EUA) e a coluna Shodex Rspack KC-811 (Showa Denko, Tóquio, Japão). O pH fecal foi medido diretamente nas fezes homogeneizadas usando um pHmetro D-51 com um eletrodo de vidro (Horiba Seisakusho Co., Ltd., Tóquio, Japão).

Além disso, o nível de colesterol HDL foi significativamente maior seis meses após o início da ingestão da bebida em relação à linha basal (+11,1±17,6%; P<0,05).

Uma tendência de declínio também foi observada nos níveis de triglicerídeos e glicose no sangue seis meses após o início da ingestão da bebida em comparação com os níveis basais, entre tanto, a diferença não foi significativa (-6,0±13,9% e -3,0±8,1%, respectivamente). Na análise da microbiota intestinal foi observado um aumento significativo no número de bifidobactérias seis meses após o início da ingestão da bebida em comparação com os valo res basais (7,0±1,2 antes da ingestão após seis meses de dieta e exercícios isolados vs 9,1±1,2 Log10células/g após ingestão; P<0,01). O número de subgrupos do L. casei também aumentou significativamente seis meses após o início da ingestão da bebida em comparação com os valores basais.

Em relação ao número de grupo B. fragilis, Atopobium e subgrupo L. gasseri nas fezes não foram observadas diferenças significativas

entre antes e depois do consumo da bebida contendo LcS. Embora não tenha sido observada redução estatisticamente significativa no número absoluto de Enterobacteriaceae fecais depois que os par ticipantes iniciaram a ingestão da bebida, a proporção do número de Enterobacteriaceae fecais das bactérias fecais totais mostrou uma tendência decrescente após o início da ingestão da bebida em comparação com os valores basais (0,73 ± 0,1 antes da ingestão e após seis meses de dieta e exercícios apenas vs 0,68 ± 0,2 após a ingestão; P<0,1). Na análise das concentrações de ácido orgânico nas fezes, a concentração de ácido acético foi maior após o início da ingestão da bebida do que antes (42,0 ± 15,5 antes da ingestão e após seis meses de dieta e terapia apenas com exercícios vs 66,8 ± 4,96 μmol /g após ingestão; P<0,01). O pH fecal mostrou uma tendência decrescente após o início da ingestão da bebida em com paração com os valores basais. Não houve diferenças significativas em nenhum dos marcadores sorológicos ou componentes fecais entre pré e pós-dieta + exercícios.

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dificuldadeS para tratar a obeSidade

O grande problema no tratamento de pa cientes obesos é que, mesmo que haja melhora com dieta e exercícios, o efeito acaba sendo tem porário devido aos rebotes subsequentes, que também foram observados no presente estudo. A falta de exercícios/mudanças suficientes na dieta pode ter impedido a observação de uma perda de peso substancial. No entanto, se a mi crobiota intestinal constituída principalmente de bifidobactérias puder ser mantida pela in gestão regular de leite fermentado com LcS, estabilizando assim o ambiente intestinal, a re versão à obesidade pode ser evitada mesmo após exercícios estressantes e terapia dietética. Além disso, essa terapia pode ser capaz de prevenir o desenvolvimento futuro de doenças do estilo de vida, tornando os achados do presente estudo notáveis. A interação entre o metabolismo lipí dico ou da glicose e a microbiota intestinal tem sido gradualmente elucidada. Os triglicerídeos no sangue são decompostos em ácidos graxos livres e glicerol pela lipoproteína lipase, com áci dos graxos livres posteriormente incorporados nas células. Fator adiposo induzido pelo jejum (FAIPJ) inibe a lipoproteína lipase dentro do epi télio intestinal suprimindo, assim, a proliferação excessiva de adipócitos.

Algumas bactérias intestinais podem supri mir a atividade do FAIPJ, e a proliferação dessas bactérias acelera o acúmulo de triglicerídeos, promovendo a obesidade por meio da inibição da oxidação de ácidos graxos nos músculos es queléticos. Além disso, os lipopolissacarídeos, que são componentes das paredes celulares dessas bactérias, têm sido compreendidos como causa de inflamação crônica, levando a doen ças do estilo de vida como as anormalidades na tolerância à glicose. A obesidade induzida por microrganismos também demonstrou mediar o sistema imunológico inato. Níveis aumentados de ácidos graxos livres podem induzir a sina lização do receptor Toll-like 4 em adipócitos e macrófagos, levando à inflamação metabólica em indivíduos obesos. Acredita-se que os áci dos graxos de cadeia curta produzidos pelos probióticos contribuam para a redistribuição

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na infância

do colesterol do plasma para o fígado, o que pode explicar o aumento dos níveis séricos de colesterol HDL com a adminis tração de probióticos. No entanto, não há evidências de que o colesterol HDL responda mais sensivelmente à terapia probiótica. A não observação de uma di ferença significativa no nível sérico de triglicerídeos, mesmo seis meses após o consumo de uma bebida contendo LcS, pode ser devido ao pequeno tamanho da amostra no presente estudo.

Espera-se que as bifidobactérias pro movam a fermentação intestinal e a re dução da ingestão de alimentos, massa gorda e esteatose hepática. As bifido bactérias também são conhecidas por reduzirem a permeabilidade intestinal e aliviarem a endotoxemia. Além disso, diz-se que as bifidobactérias promovem a secreção de insulina induzida pela gli

cose, ajudando a reduzir o ganho de peso corporal e a produção de mediadores in flamatórios. Consistente com os achados de estudos anteriores, o presente estudo mostrou que o número de bifidobacté rias fecais aumentou após o consumo de leite fermentado com LcS. O ácido acéti co, que é o principal produto metabólico das bifidobactérias, tem uma forte ação bactericida contra Enterobacteriaceae e Staphylococcus in vitro.

Além disso, entre os pacientes no período intraoperatório, uma única ad ministração de LcS ou a administração combinada com Bifidobacterium breve Yakult ou prebióticos (simbióticos) causou um aumento no número de bifidobactérias intestinais endógenas, suprimiu a proliferação de bactérias intestinais destrutivas e melhorou o ambiente entérico. Esses achados ante

riores sugerem que a melhora no am biente entérico, tais como o aumento da concentração de ácido acético e/ou diminuição do pH que acompanham o aumento do número de bifidobactérias intestinais devido ao consumo de leite fermentado com LcS, são importantes para inibir a proliferação intestinal de bactérias nocivas. A carga bacteriana total foi significativamente menor nas crianças obesas do que nas crianças con trole, e diferenças semelhantes foram observadas nos resultados antes e após a ingestão do produto teste. O número reduzido de bactérias totais pode refletir uma redução no número de anaeróbios em geral, no entanto, houve uma dimi nuição estatisticamente significativa no número de bifidobactéria. Portanto, ne cessita-se demonstrar a reprodutibilida de desses achados em estudos futuros.

MOTIVOS DA EFICÁCIA DOS MICRORGANISMOS

Uma razão para a eficácia do Lactobacillus casei Shirota contra a obesidade pode ser que o ácido acético produzido pelas bifidobactérias intestinais endógenas, cuja proliferação é estimu lada pelo LcS, suprime a proliferação de grupos de bactérias que causam obesidade. Em outro estudo realizado por este grupo, crianças não obesas apresentaram números significativamente reduzidos de Enterobacteriaceae fecais e números significativa mente aumentados de bifidobactéria e lactobacilos totais após consumirem o leite fermentado contendo LcS.

Bifidobactérias proliferadas pelo lactobacilo probiótico podem ter efeito homeostático, promovendo ganho de peso em hospedeiros desnutridos, pois as crianças daquela revisão sofriam de doenças graves subjacentes. O mecanismo pelo qual o LcS estimula a proliferação de bifidobactérias ainda não foi esclarecido, entretanto, como as bifidobactérias são bactérias intestinais vulneráveis aos ácidos gástrico e biliar, e muito difí ceis de usar como probióticos, o consumo de leite fermentado contendo LcS pode representar uma nova estratégia para o tratamento da obesidade.

Por outro lado, o tamanho da amostra foi pequeno, portanto, não foi possível observar uma diferença significativa nos níveis de triglicerídeos no sangue e de glicemia em crianças obesas,

mesmo quando foi feita uma comparação entre o período de ingestão de leite fermentado com LcS e o período sem ingestão. Além disso, durante a ingestão de leite fermentado com LcS as crianças obesas foram submetidas a exercícios e dietas por um período maior do que o período sem consumo, e sua composição corporal pode ter mudado com as flutuações sazonais. Essas questões podem ter tido um grande efeito sobre os resultados do presente estudo. Para resolver esses problemas, é necessário aumentar o tamanho da amostra e classificar as crianças obe sas em grupo exercício e dieta e grupo dieta + leite fermentado com LcS, e realizar um acompanhamento pelo mesmo período.

CONCLUSÕES

Reduções significativas nas concentrações fecais de bifido bactérias e ácido acético foram observadas em crianças obesas.

O Lactobacillus casei Shirota contribuiu para a perda de peso, ao mesmo tempo em que melhorou o metabolismo lipídico em crianças obesas por meio de um aumento significativo nos nú meros de bifidobactérias e na concentração de ácido acético.

O artigo 'The effects of the Lactobacillus casei strain on obesity in children: a pilot study' foi publicado no periódico Beneficial Microbes, 2017; 8(4): 535-543.

DISCUSSÃO INDICA
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BENEFÍCIOS PARA ATLETAS DE

PESQUISA MOSTRA QUE MESMO A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA CONCENTRADA EM POUCOS DIAS PODE COLABORAR COM A SAÚDE

té cinco milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população em todo o mundo fosse mais ativa, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso porque a atividade física regular é fundamental para preve nir e controlar doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer, bem como para reduzir sintomas de de pressão e ansiedade, diminuir o declínio cognitivo, melhorar a memória e exer citar até mesmo o cérebro. Mesmo com tantos benefícios, o ato de exercitar-se perde a luta contra o sedentarismo, por que milhares de indivíduos alegam falta de tempo dentro da rotina do dia a dia para a prática de uma atividade física. No entanto, estudo recente comprova que os 150 minutos de qualquer atividade físi ca semanal, preconizados para melhorar a saúde e o bem-estar, também podem beneficiar os ‘atletas de fim de semana’.

AElessandra Asevedo Especial para Super Saudável de por todas as causas quanto somente por câncer ou doenças cardiovasculares”, afirma o doutorando em Epidemiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Mauricio dos Santos, um dos autores do artigo em colaboração com o professor doutor Leandro Rezende, do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Insti tuição (EPM-Unifesp).

O artigo ‘Association of the ‘weekend warrior’ and other leisure-time physical activity patterns with all-cause and cause-specific mortality – A Nationwide Cohort Study’ revelou que os ‘guerreiros de fim de semana’ têm proteção contra mortalidade por todas as causas após analisar informações de 350 mil pessoas nos Estados Unidos por meio do banco de dados epidemiológico US National Health Interview Survey. Os indivíduos ativos que relataram fazer 150 minutos semanais de atividade física moderada a vigorosa, tanto concentrados em um ou dois dias como distribuídos pela se mana, apresentaram taxas de mortalida de mais baixas do que os inativos. “Não foram observadas diferenças significa tivas entre os atletas de fim de semana e aqueles que gastam esses minutos ao longo da semana, tanto para mortalida

A publicação reforça que não se pode culpar a falta de tempo pela ausência de atividade física, comprovando que é muito melhor fazer alguma atividade do que ser sedentário. Estudos mostram que fazer 150 minutos de atividade modera da a vigorosa ou 75 minutos vigorosos por semana diminui o risco de doenças crônicas ou metabólicas. Quando o in divíduo possui alguma enfermidade, os exercícios auxiliam no tratamento, melhoram a qualidade de vida e o esta do psicológico. “Pacientes oncológicos que são ativos antes do diagnóstico têm mais chances de sobrevida. Pessoas com hipertensão que realizam 150 minutos de atividade física semanal diminuem o tratamento medicamentoso, porque os exercícios reduzem a pressão arterial por 24 horas, chegando a até 48 horas após a atividade. Trata-se de um instrumento rico e menosprezado, e é preciso quebrar o tabu e mudar o comportamento das pessoas que ainda acreditam que os be nefícios só existem para quem consegue ser ativo diariamente”, enfatiza o pesqui sador Mauricio dos Santos.

A população começou a ficar mais sedentária no século passado e as pri meiras recomendações de exercícios físicos foram baseadas em atletas que tinham quantidade e qualidade intensa de treinos. O médico ortopedista Vic tor Keihan Rodrigues Matsudo, dire tor científico do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São

VIDA SAUDÁVEL
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FIM DE SEMANA

Caetano do Sul (Celafiscs), coordena dor geral do Programa Agita São Paulo, consultor da OMS para atividade física e vice-presidente do International Council of Sport Science and Physical Education (ICSSPE), lembra que o primeiro Guia de Avaliação e Prescrição de Exercícios do American College of Sports Medicine (ACSM), em 1975, preconizava a alta intensidade para a melhora da aptidão física e do desempenho.

Entretanto, novos estudos foram surgindo com evidência de que, para a saúde, não era preciso a performance de atleta, e uma recomendação sobre atividade física publicada em 1995 pelo pesquisador Russell Pate, da University of South Carolina – em nome do ACSM e do Center for Diseases Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos –orientava que todas as pessoas, a partir de 18 anos, deveriam realizar pelo menos 30 minutos de atividade física por dia, de in tensidade moderada, de forma contínua ou acumulada. “Não se tratava apenas do tempo, mas, principalmente, de dois con

ceitos que ajudaram muito a aumentar o número de adeptos. Primeiro, sobre a in tensidade moderada e, segundo, sobre a forma acumulada, eliminando a desculpa daqueles que se diziam sedentários por falta de tempo”, pontua o médico Victor Keihan Rodrigues Matsudo.

FRACIONADA

Em 2007, a recomendação foi revi sada e, sob o ponto de vista epidemio

lógico, indicou que os benefícios da ati vidade física para a saúde poderiam ser alcançados quando a pessoa realizasse 150 minutos de atividade moderada mente vigorosa por semana, fracionan do o tempo da maneira que fosse me lhor. Assim, até mesmo aqueles que só conseguem praticar atividades nos dias de descanso, mas que cumprem os 150 minutos semanais recomendados, são beneficiados e têm ganhos na saúde.

Por muitos anos e até recentemente, os efeitos que a ativida de física leve ou minimamente intensa teria sobre a saúde não eram estudados e esse tipo de ação era muito desmerecida. No entanto, na última década diversos artigos passaram a identificar um potencial benefício dessa prática para a saúde, principalmente quando estatísticas mostraram que um em cada quatro adultos e quatro em cada cinco adolescentes não praticam atividade física suficiente no mundo. Dados da OMS estimam que, globalmente, esse cenário custe US$ 54 bilhões em assistência médica direta e outros US$ 14 bilhões em perda de produtividade. O estudo ‘Sitting time and mortality from all causes, cardiovascular disease and cancer’, do pesquisador Peter Katzmarzyk do Pennington Biomedical Research Center, nos Estados Unidos, publicado em 2009 e baseado em uma amostra de 7.278 homens e 9.735 mulheres acompanhados por 14 anos, indica que a sobrevida de pessoas que passavam a maior parte do tempo sentadas era significativamente menor do que aquelas que passavam pouco

tempo sentadas, reforçando que atividade física e sedentarismo são fenômenos interdependentes no impacto da morbimortalidade. Idosos, gestantes e pessoas com deficiência também precisam praticar 150 minutos semanais de atividade física e quanto mais exercício, melhor. O médico Victor Keihan Rodrigues Matsudo en fatiza que não é necessário investir em equipamentos caros e em grandes academias, ou ter habilidades especiais, pois o mexer-se envolve esportes ou atividades de lazer ou locomoção, como ca minhada e bicicleta. Por meio da dança, de brincadeiras e tarefas domésticas cotidianas, como jardinagem e limpeza, também já existe o movimento corporal que é importante para a saúde. “O sedentarismo é o segundo maior fator de morte no mundo, perdendo apenas para a hipertensão. Mata mais que obesidade, diabetes e tabagismo. Foi considerado fator de risco pela OMS apenas em 1992 e, infelizmente, parte dos livros de clínica médica das faculda des não está atualizada. Talvez por isso a atividade física não tenha o devido valor entre alguns profissionais”, lamenta.

MauriCio dos santos viCtor keihan rodrigues Matsudo Fotos: Arquivo pessoal
O IMPORTANTE É MOVIMENTAR O CORPO
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NOVAS EMBALAGENS PARA OS

MODERNIZAÇÃO

TAMBÉM INCLUI CANUDOS DE PAPEL PARA A LINHA COMPOSTA POR TONYU, YODEL

E SUCO DE MAÇÃ YAKULT

Alinha de sucos da Yakult acaba de ga nhar novas embalagens mais moder nas e fáceis de segurar e com canudos de papel recicláveis muito práticos, para utilização pelo consumidor de todas as idades. As embalagens Slim Leaf da bebida com extrato de soja Tonyu, do Suco de Maçã Yakult e da bebida láctea fermentada Yodel são produzidas com papelão adequa do para reciclagem, procedente de florestas que possuem o certificado FSC – que garante o manejo responsável da matéria-prima. As embalagens cartonadas também permitem economia de espaço, redução do peso e me lhora da eficiência do transporte.

Para adequar a linha de produção no Com plexo Industrial localizado em Lorena à nova tecnologia, a Yakult adquiriu uma máquina modelo A3/Speed Line, com canudo e caixa de embarque que substitui o plástico por papel, além de maior variedade de caixas de embar que – o que vai facilitar o armazenamento e o transporte dos produtos. “A modernização das embalagens dos sucos é uma medida im portante para adequarmos a linha e oferecer mos uma embalagem mais prática e atual aos consumidores desses produtos”, afirma o pre sidente da Yakult do Brasil, Atsushi Nemoto.

As embalagens Slim Leaf desenvolvidas pela Tetra Pak – responsável pela produção – ganharam esse nome por causa do formato de vinco na frente, que lembra uma folha es treita. Segundo a empresa, o formato serve para comunicar benefícios centrais do produ to e para trazer diferencial com o que existe atualmente no mercado. Entre os principais benefícios estão melhor manuseio, abertura e consumo.

RECICLAGEM

As embalagens são formadas por seis ca madas de proteção compostas por papel, plás tico e alumínio. Responsáveis por preservar o alimento, impedem a entrada de oxigênio, luz e umidade, e conservam o sabor, a qua lidade e os nutrientes dos produtos, sem a necessidade do uso de conservantes – o que atende às especificidades dos sucos da marca Yakult, todos sem conservantes. O processo de envase das embalagens é 100% asséptico e elimina qualquer contato com o ambiente externo, garantindo a proteção do alimento. No pós-consumo, as embalagens podem ser direcionadas para reciclagem, dando origem a novos produtos como telhas, pisos, móveis, jogos americanos, bolsas e cadernos, entre outros.

CAMPANHA

Um dos probióticos mais estudados do mundo, o Lactobacillus casei Shirota é a base dos leites fermentados da Yakult. A cepa, exclusiva da multinacional japone sa, foi descoberta em 1935 pelo médico sanitarista e pesquisador Minoru Shirota – considerado um dos pioneiros da micro biologia – e, desde então, já passou por milhares de estudos que mostraram sua viabilidade para chegar viva ao intestino em quantidade adequada para contribuir com o equilíbrio da microbiota intestinal humana.

Para lembrar aos consumidores sobre

a importância de ingerir o alimento com probiótico para manter a saúde intestinal e, consequentemente, a imunidade e o bem estar, a Yakult relançou, dia 1º de setembro, a campanha publicitária que destaca as três versões de leite fermentado da marca disponíveis no Brasil. Na peça ‘Portal’, personagens de várias idades ingerem leite fermentado e são transportados a um am biente de lazer ou trabalho com muito mais disposição e vitalidade.

O filme mostra pai e filho vendo televi são e tomando Leite Fermentado Yakult (di

rigido a toda a família) quando, de repente, um portal com o formato do frasco se abre e os leva a um parque. Uma jovem toman do Yakult 40 light (dirigido a pessoas que optam por uma dieta com menos calorias) passa pelo portal e ganha mais energia ao ser transportada a uma pista de skate. De pois de ingerir o Yakult 40 (dirigido a adultos de vida agitada e idosos), uma executiva se sente mais produtiva e motivada para o trabalho, enquanto um casal idoso ganha mais vitalidade ao ser transportado a uma pista de dança.

DESTAQUE
PUBLICITÁRIA
‘PORTAL’ ESTÁ DE VOLTA
Super Saudável • out/dez 202232

SUCOS

SUCO DE MAÇÃ YAKULT

Extraído de maçãs cuidadosamen te selecionadas provenientes da região de São Joaquim e proces sadas com tecnologia avançada na unidade fabril de Lages, ambas em Santa Catarina, o Suco de Maçã Yakult é 100% suco, sem adição de açúcares, conservantes ou aditivos artificiais. O produto é comercializado em embalagens de 200 ml e possui 80 kcal.

YODEL

Bebida láctea fermentada com adição de suco da fruta, pronta para beber e que pode ser consumida por pessoas de todas as idades. Elaborado com rigorosos critérios de qualidade e avançada tecnologia, o alimento é leve, refrescante, saudável e tem um delicioso gosto azedinho-doce. O Yodel não contém conservantes e é comercializado nos sabores abacaxi, uva verde e morango.

TONYU

Alimento produzido com a mais alta tecnologia a partir de grãos de soja com suco de frutas. Por ser de origem vegetal, é ideal para pessoas que apresentam intolerância à lactose (por falta total ou parcial da enzima lactase ou alergia à proteína do leite de vaca). O Tonyu não contém conservantes e é encontrado nos sabores laran ja, maçã, morango e uva.

HISTÓRIA DE SUCESSO

O Leite Fermentado Yakult foi lançado há 87 anos e continua sendo o carro-chefe da multi nacional sediada em Tóquio, no Japão. Nos 40 países e regiões em que está presente, a Yakult possui aproximadamente 80 mil comerciantes autônomas (conhecidas como Yakult Ladies), incluindo o Brasil, que levam os produtos de porta a porta para milhões de consumidores, mesmo nos locais mais distantes. No mundo, mais de 40 milhões de pessoas consomem Leite Fermentado Yakult com Lactobacillus casei Shirota diariamente.

out/dez 2022 • Super Saudável 33

Giverny é um pequeno vilarejo localizado no norte da França onde Claude Monet viveu e pintou de 1883 até sua morte, em 1926. Repleta de jardins e de histórias desse que foi o mais importante pintor impressionista do mundo – o termo impressionismo surgiu a partir de sua pintura ‘Impressão: Nascer do Sol’– a própria casa é uma obra de arte. No entanto, quem não puder conhecer a casa original poderá visitar uma exposição imersiva instalada em São Paulo. A exposição Monet à beira d’água mostra projeções 360º de mais de 280 obras do pintor, com efeitos visuais, animações artísticas, som imersivo e trilha sonora original. Mais informações pelo https://monetbeiradagua.com.br/sao-paulo/.

OURO PRETO – MG.

MORRO DO CRISTO – PEDREIRA – SP.

O teleférico do Complexo Turístico do Morro do Cristo permite que os visitantes tenham uma ampla vista da cidade de Pe dreira, localizada a 140km da capital paulista e que é cercada pelas belezas da Serra da Mantiqueira e pelas águas do rio Jaguari. O passeio ao local fica ainda mais especial no fim da tarde, com o pôr do sol. O turista que visitar o município também poderá aproveitar um circuito de compras constituído por cerca de 300 lojas especializadas em artesanato, artigos de decoração, utensílios domésticos e peças fabricadas em porcelana, cerâmica, faiança, gesso, resina, madeira (MDF), ferro, alumínio, plástico e cristais, além de tapetes, flores artificiais, vidros e muito mais. Saiba mais em http://www. visitepedreira.com.br/.

A cidade possui o maior conjunto homogêneo de arquitetura barroca do Brasil e um dos conjuntos mais completos de arte barroca do mundo e é considerada uma verdadeira joia encravada nas montanhas de Minas Gerais. Construída por artistas e escravos inspirados nos modelos euro peus no auge do Ciclo do Ouro, Ouro Preto foi tombada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 1937 e, em 1980, foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. O visitante poderá conhecer inúmeras igrejas e ver esculturas de santos e anjos, cenas bíblicas, pinturas e entalhes de pedra-sabão. Outra opção de lazer é percorrer os caminhos da antiga Estrada Real e encontrar paisagens com cachoeiras, montanhas e trilhas. A cidade também possui 15 distritos com opções de lazer, como ecoturismo e restaurantes. Saiba mais em https://turismo.ouropreto.mg.gov.br/.

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ENTRETENIMENTO Super Saudável • out/dez 202234
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