Comércio do Bairro Azul – Que Futuro?
Caro Comerciante, Desde o final dos anos 30 do século XX até à década de 60, o comércio o Bairro Azul foi intenso e variado e muitas lojas ostentavam orgulhosamente o nome do Bairro, mantendo-o, em alguns casos, até aos nossos dias: Drogaria “A Pérola do Bairro Azul”; Mercearia “A Ideal do Bairro Azul”; “Café Bairro Azul”; “Café Ponto Azul”; “Farmácia do Bairro Azul”; “Talho do Bairro Azul”;etc. Havia “lugares” de fruta e de legumes, talho, mercearia, leitaria, carvoaria, peixaria, drogaria, capelista, carpintaria, sapateiro, barbeiro, cabeleireiro, farmácia, padaria, café, retrosaria, papelaria, quiosque, etc. etc. etc. Era um bairro “auto-suficiente”. Quem aqui morava não precisava de “ir à Baixa”: tudo podia ser comprado no Bairro! A década de 70 foi o auge da era das boutiques: algumas das lojas mais prestigiadas de Lisboa estavam neste Bairro e a Avenida Ressano Garcia era uma das ruas mais chics de Lisboa. Era conhecida em Portugal inteiro como “A Rua das Boutiques”. Nos anos 80/90 os escritórios invadiram o Bairro. Começou o processo de desertificação, os moradores passaram a ser maioritariamente pessoas idosas, a insegurança aumentou e as lojas “esconderam-se” atrás de pesadas grades. Os moradores deixaram de passear à noite pelo Bairro. Todos se sentiam inseguros. Iniciou-se o “círculo vicioso” que ainda se vive na actualidade: o comércio fecha cada vez mais cedo e aos fins-desemana por falta de clientes, as pessoas vão para fora do Bairro por falta de oferta. Nesses anos as boutiques começaram também a perder terreno face à concorrência dos Centros Comerciais e das lojas de grandes marcas internacionais. Em Novembro de 2001 a abertura do El Corte Inglés, com uma área de 47.000 m2, foi mais um rude golpe nas lojas do comércio tradicional do Bairro Azul. Hoje existem em todo o Bairro Azul (Rua Ramalho Ortigão, Av. Ressano Garcia, Rua Fialho de Almeida, Rua Júlio Dantas, frentes do Bairro na Rua Marquês de Fronteira e Av. António Augusto de Aguiar), cerca de 80 estabelecimentos de porta aberta. Muitas lojas têm ainda rendas antigas mas há também já muitas que têm rendas actualizadas e custos elevados de funcionamento. Como as lojas do Bairro têm geralmente áreas pequenas torna-se, por vezes, difícil rentabilizar os negócios e torná-los competitivos. Há também muitas lojas encerradas, algumas há vários anos. São cerca de 25% do total das lojas do Bairro. Na sua maioria essas lojas têm as montras sujas, tapadas com cartões e papéis, as grades corridas, e fazem “má vizinhança” aos estabelecimentos vizinhos que estão em funcionamento. Apesar das melhorias, e dos estabelecimentos que abriram recentemente as suas portas no Bairro, o Bairro Azul mantém um aspecto um pouco “abandonado”: muitos edifícios estão decadentes, o espaço público está degradado, sujo e permanentemente em obras, a oferta é pouca e pouco variada, há ainda estabelecimentos que encerram à hora do almoço e a maioria encerra cedo e aos fins-de-semana, mesmo na época do Natal.