Bairro Azul – há duas décadas às voltas com o que resta de um geomonumento e de um baluarte Em 1998 o Museu de História Natural assinou um protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa para criar uma rede de geomonumentos da cidade. A Câmara assumia a obrigatoriedade de os musealizar, de os preservar, de os valorizar e de os manter. O museu, ao abrigo desse mesmo protocolo, era a entidade científica com capacidade de fazer tirar deles o proveito pedagógico e cultural que eles encerram (1). No Bairro Azul foi identificado um, no final da Rua Fialho de Almeida, junto ao edifício dos Serviços de Assistência Médico Social (SAMS) do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. É o quinto de uma Lista Oficial dos 11 Geomonumentos de Lisboa, segundo o Estudo do Museu de História Natural aceite pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) e é descrito como um “manto basáltico do Cretáceo Superior, com 71 milhões de anos”(2). Este terreno confina com os jardins do Palacete Mendonça (recentemente adquirido pela Fundação Aga Khan) e permanece, há anos, abandonado, cheio de vegetação infestante e transformado em lixeira. Em 2015 Margarida Tavares da Conceição publicou na Revista da CML Rossio – Estudos de Lisboa o artigo “A fortificação moderna e a linha da circunvalação (notas sobre os limites urbanos de Lisboa)” onde identifica o muro que se encontra nesse terreno como o que resta de um baluarte filipino (3). Em 2008 a Comissão de Moradores ofereceu à CML um trabalho realizado por um gabinete de arquitectura de moradores do Bairro Azul (4) com algumas ideias para a preservação e valorização deste local, designadamente a possibilidade de se fazer por aqui uma ligação ao Corredor Verde criando um acesso pedonal directo, cómodo e rápido ao Palácio da Justiça, Penitenciária, etc., bem como a instalação de um pequeno Centro de Interpretação. Desde 1998 que os moradores do Bairro Azul solicitam à CML que dê andamento a um projecto de valorização deste terreno começando, desde logo, pela limpeza, desmatação, contenção das terras e iluminação. O geomonumento e o muro do baluarte deverão ser devidamente identificados, com uma breve explicação em português e inglês, tendo em conta a proximidade da Escola Marquesa de Alorna e as centenas de peões que passam diariamente por este local, designadamente turistas. Duas décadas passadas desde os nossos primeiros alertas é tempo de acabar com esta situação de desleixo! Este património natural e construído, “mutilado” pelo edifício e pelo parque de estacionamento dos SAMS, não pode continuar ao abandono. Musealizado, preservado, valorizado e mantido, o geomonumento/baluarte da Rua Fialho de Almeida deverá ser um ponto de interesse cultural e turístico e um factor de diferenciação e de valorização do Bairro Azul e da cidade. Comissão de Moradores do Bairro Azul (1) Entrevista a Prof. Galopim de Carvalho em: http://www.osverdes.pt/contactov.asp?edt=18&art=195 (2) http://geologia.fc.ul.pt/PosGrad/EstudosCaso0708/ManuelCabral_Apresentacao1.pdf (3) https://issuu.com/camara_municipal_lisboa/docs/rossio_5_issuu/188 (4) Trabalho oferecido pelo atelier de arquitectura Scriptorium à Comissão de Moradores do Bairro Azul. Colaboraram neste estudo:Jessica Garcia Fritz, Joao Palla Martins e Carlos Sousa Valles