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CONSTRUÇÃO DO PERFIL DE SOLO PARA ALTAS PRODUTIVIDADES
Oavanço das pesquisas e tecnologias disponíveis no mercado possibilitaram aumento expressivo do potencial produtivo de grãos nos últimos anos. Hoje é possível alcançar elevadas médias de produtividade de soja, milho e sorgo, até mesmo em solos anteriormente considerados impróprios para cultivo, desde que o manejo adequado esteja associado ao clima favorável.
Esse cenário atual exige adaptações das práticas de manejo que são dinâmicas e interdependentes. A fertilidade do solo é a base fundamental e impacta diretamente nos incrementos em produtividade, sendo necessários ajustes nas recomendações de calagem e adubação para suprir a demanda nutricional atual das culturas e possibilitar alta eficiência na adubação do sistema.
Nesse contexto, a construção de perfil de solo através do uso de corretivos e fertilizantes, além de suprir as exigências nutricionais da cultura, cria um ambiente favorável ao crescimento de raízes, que se apresentam em maior volume e alcançam camadas mais profundas do solo, aumentando a absorção de água e nutrientes e, consequentemente, resulta em plantas mais resilientes à veranicos.
Atualmente, a produção de grãos em solos arenosos tem crescido exponencialmente frente ao seguinte cenário: a maior parte das áreas de textura média e argilosa já foram ocupadas, restando áreas de textura leve (arenosa) para a expansão do cultivo.
Esses solos estão presentes em 8% do território nacional e ocupam 20% da fronteira agrícola do Brasil. Dois principais desafios podem representar maior risco potencial para produção nesses ambientes: baixa fertilidade natural e capacidade de retenção de água e nutrientes limitada, evidenciando novamente a importância do fator solo para os diferentes ambientes de produção.
A aplicação de corretivos de acidez como o calcário que é o mais comum, através da prática conhecida como “calagem”, vai ser o primeiro passo para a construção de perfil dos nossos solos que são naturalmente ácidos e de baixa fertilidade. O uso desse corretivo é indispensável para adequar as propriedades químicas em solos de cerrado, contribuindo com a diminuição da acidez potencial do solo, fornecimento de Ca e Mg e elevação do pH, bases trocáveis (SB), capacidade de troca catiônica (CTC) e a saturação por bases (V%) para níveis adequados.
Recentemente, inúmeros estudos sobre calagem têm indicado que os métodos “tradicionais” de cálculo para recomendação da dose de calcário têm subestimado a correção necessária e não permitem atingir o grau de correção desejável. Em geral, observa-se que doses superiores às calculadas pelos métodos convencionais resultam em melhores respostas agronômicas e evitam novas aplicações de calcário em intervalos de dois a três anos para que os solos atinjam valores desejáveis de saturação por bases e teores adequados de Ca e Mg.

Temos observado que ajustar as doses é estratégico tanto para áreas de abertura quanto para áreas consolidadas, melhorando a correção do solo e as respostas agronômicas a curto, médio e longo prazo.
Alguns fatores contribuem para isso, como exemplo, o tempo para a completa reação do calcário (nem sempre acontece entre 2 a 3 meses devido a ampla variação de umidade do solo, principalmente em solos arenosos que secam rapidamente), umidade do corretivo (normalmente não é corrigida, podendo resultar em subdoses devido à porcentagem de água no insumo que fica armazenamento à campo), densidade do solo, profundidade de incorporação e maior exigência das variedades atuais. Além disso, normalmente a aplicação antecipada de calcário nem sempre é possível devido às limitações operacionais e logísticas, sendo frequentemente realizada próximo a data de semeadura.
Resultados de pesquisa do CTC têm demonstrado que, em solos com baixo percentual de argila, pode ocorrer maior movimentação do calcário em profundidade no solo, o que também deve ser observado na definição da dose. A escolha do calcário é outro ponto importante, visto que temos diferentes calcários na região, com porcentagens distintas de CaO, MgO e PRNT.
Após a aplicação do calcário para corrigir a acidez e fornecer Ca e Mg, seguimos com a adubação, ou seja, a aplicação de fertilizantes para suprir a demanda dos outros macronutrientes, aqueles exigidos pelas plantas em maiores quantidades: N, P, K, Ca, Mg e S, e micronutrientes, aqueles que as plantas absorvem menores quantidades: B, Mn, Zn, Cu, Mo, Fe, Ni e Cl.
O avanço nas recomendações de adubação também tem contribuído com os incrementos significativos em produtividade. Hoje contamos com diversas tecnologias para fertilizantes e estratégia de fornecimento de nutrientes para as plantas. Isso possibilita aumentar a eficiência da adubação e, através dessas ferramentas, suprir todos os nutrientes necessários para as culturas.
Além das fontes e doses de fertilizantes a serem escolhidas, a forma de aplicação (sulco ou lanço) e o momento de aplicação devem ser bem planejados.
Dentre os desafios e peculiaridades da dinâmica de cada nutriente no solo, que reduzem a eficiência dos fertilizantes, podemos destacar:
• Adubação fosfatada: facilmente lembrada pelas reações indesejáveis do fósforo com a fase sólida do solo, que indisponibiliza o nutriente devido à adsorção aos coloides, tornando baixa a sua concentração na solução solo. A aplicação de maiores doses para “compensar” essas perdas acaba elevando o custo para produtor. No contexto de solos arenosos, a fração argila muitas vezes não ultrapassa 10%, sendo um ponto a ser observado para a definição das doses, uma vez que os sítios de adsorção estão presentes em menores proporções quando comparados à solos argilosos.
• Adubação potássica: a principal perda de potássio é por lixiviação, sendo mais intensa em solos arenosos. O parcelamento da adubação potássica em solos de textura mais leve e uso de plantas de cobertura são opções interessantes que contribuem com o aumento da eficiência de uso de potássio pelas culturas.
• Adubação nitrogenada: a aplicação de fertilizantes nitrogenados no milho e no sorgo também está sujeito a perdas que reduzem a eficiência da adubação, sendo a volatilização de amônia (NH3) e lixiviação de nitrato (NO3-) as principais delas. Ou seja, grande parte do nitrogênio aplicado pode ser perdido para a atmosfera na forma de gás NH3. A ureia estabilizada com NBPT, conhecida no mercado como “ureia protegida”, possui um aditivo que inibe a atividade da urease no solo e, consequentemente, retarda a hidrólise da uréia, sendo uma ferramenta interessante para redução desta perda e aumento da retenção de N no solo.

• Enxofre e micronutrientes: por vezes têm sido negligenciados e faltado em nossos sistemas, limitando maiores produtividades. Hoje temos diversas opções para fornecimento desses nutrientes via solo e as respostas em produtividade normalmente são surpreendentes.
Outro aspecto interessante a ser considerado na produção de grãos é o uso de plantas de cobertura que têm sido utilizadas para diversificação de sistemas de cultivos anuais. Essas plantas são multifuncionais e diversos benefícios podem ser atribuídos ao uso dessas espécies no sistema de produção, como proteção e manutenção da água/temperatura do solo, ciclagem de nutrientes, aporte de carbono e melhoria da qualidade física e biológica do solo. Assim, as plantas de cobertura podem aumentar a produtividade, sendo estratégicas para a sustentabilidade e competitividade da atividade, principalmente em solos arenosos, áreas com alta incidência de nematoides e com problemas de fitotoxidez na soja devido ao residual de picloram (as plantas de cobertura ajudam a “remediar” esse problema, mas o ideal é evitar plantar soja em locais com alto nível residual dessa molécula).
Por fim, a construção do perfil de solo é fundamental para alcançarmos altas produtividades de grãos. Essa prática é pautada na visão sistêmica para planejamento e gestão dos nutrientes exigidos pelo sistema, possibilitando aumentar a eficiência no uso de corretivos e fertilizantes e adequar as estratégias de manejo para os diferentes tipos de solo e microclimas. O CTC dispõe de diversos ensaios e resultados de pesquisas que visam gerar informações e ferramentas seguras para os nossos técnicos e cooperados, trazendo soluções frente aos desafios que surgem a cada safra.
