

APRESENTAÇÃO
Entre os dias 20 e 24 de março de 2023 o Coletivo Emaranhado teve a sua primeira oportunidade de ficar em cartaz com o espetáculo de dança “A Menina e o Pássaro” via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Sempre foi um sonho para nossa carreira se profissionalizar em âmbito nacional, participando de uma lei federal que nos possibilita reais condições para execução do fazer artístico. Com profissionais sendo remunerados dentro de uma percepção equânime de suas particularidades profissionais. Aprendemos muito nessa temporada, foram meses de trabalho, pesquisa e envolvimento.
Em 25 de maio deste ano vamos completar 10 anos de atuação no cenário capixaba, viver essa experiência ampliou nosso horizonte, saímos dessa temporada fortes, felizes, emancipados e motivados a continuar estabelecendo relação com a nossa comunidade.
O patrocínio da Companhia de Gás do Espírito Santo foi preponderante para conseguirmos alcançar um público de 2.244 pessoas, distribuídas entre 18 organizações sociais e educacionais. Pensando em uma realidade local, contingencial, consideramos uma abrangência significativa.
Assim, para contemplar esse momento tão especial apresentamos os relatos de profissionais que fizeram parte de nosso elenco, com o propósito de registrar, fomentar e comunicar como esse projeto foi percebido por esses artistas que viveram a primeira experiência do Emaranhado em uma lei relevante para o cenário artístico nacional. Grande abraço e ótima experiência, àṣẹ!


Em minha trajetória enquanto artista, cresçi demais com os trabalhos do Coletivo Emaranhado. O espetáculo “A menina e o Pássaro” se tornou o trabalho mais desafiador e satisfatório. Me orgulho deste processo e das adaptações que foram necessárias até aqui, pensando no melhor para a obra, a equipe e o público.
O espetáculo conquistou seu objetivo inicial que era levar uma mensagem de amor, conscientização ambiental e representatividade. Realizei o sonho de trazer um elenco com artistas negros, devido à ausência de referências para o público infantil de representatividade, além de poucos espetáculos locais de dança para este público.

Coreografar e fazer a direção coreográfica/cênica deste trabalho foi muito desafiador. Para além de entender o que a obra pedia, tive que entender o que o elenco tinha a oferecer, e muitas vezes tivemos impasses no processo devido a abertura de cada um, mas aconteceu e fiquei satisfeito com o resultado.
Certamente as apresentações tiveram nuances de emoções, fui atravessado pelos olhos brilhantes de dezenas de crianças que não conheciam o teatro, afirmo que cresci e cresço com esse trabalho e desejo vida

Bailarina
Durante os dias 20 a 24 de março de 2023 tiveaoportunidade departiciparcomo bailarina da equipe que produziu e apresentou o espetáculo de dança “A Menina e o Pássaro” na Casa de Cultura Sônia Cabral. Por mais que fosse um trabalho focado para o público infantil, conseguimos atingir um público diverso que nos proporcionou uma experiência incrível e desafiadora, mas que afirmou a sensibilidade que o trabalho tem de tocar pessoas de diversas realidades.

Durante os ensaios, ponto inicial deste projeto, podemos experimentar diferentes abordagens e testar o que funcionava melhor para cada cena e também sobre a acolhida do público, desde a sua entrada até a sua saída, garantindo uma experiência ─ talvez até uma primeira experiência ─ positiva em um teatro. Esse processo nos orientou e nos ajudou a encontrar a melhor maneira de transmitir a verdadeira mensagem que queríamos passar: o cuidado com o público, apresentar Tão Belo e fazer com que cada um saísse com o entendimento da história do espetáculo.
Junto a isso, ficou evidente que a equipe em sua completude seria fundamental para o sucesso do espetáculo. Todos os membros do elenco e produção precisavam estar em sintonia para que pudéssemos criar uma apresentação verdadeira, mágica e envolvente. Para isso, era necessário respeito, diálogo e comprometimento por parte de todos. Em especial, a equipe técnica e de produção se mostrou fundamental para garantir que tudo estivesse em ordem nos bastidores.
Quando chegou a semana de apresentação, a ansiedade tomou conta de todos. Passávamos o dia inteiro dentro do teatro se organizando para que tudo saísse perfeito. A sensação de ver a plateia reagindo positivamente às nossas danças e atuações foi indescritível. Em todas as apresentações as pessoas sorriam, se emocionaram e se envolveram nahistóriamágicaqueestávamos contando.Acada risada eraum entusiasmo
que somava à cena, a cada aplauso era uma sensação de que havíamos alcançado o nosso objetivo.
Após cada apresentação havia uma roda de conversa, que discutia sobre o conteúdo do material educativo que falava sobre o espetáculo e uma despedida afetuosa com as bailarinas na saída do teatro, com direito a foto, elogios, palavras de incentivo e muitas curiosidades sobre o trabalho.
Em resumo, a experiência de participar da produção e apresentação de um espetáculo foi desafiadora, mas muito gratificante. Aprendi que trabalho em equipe, disciplina e organização são fundamentais para que tudo saia conforme o planejado e que aimaginação das crianças sejacapazdecompletar qualquerhistóriaquejáexista,eassim, aumentar a sua magia. Toda e qualquer situação vivenciada por cada integrante da equipe somará enquanto coletivo, fortalecendo o nosso reconhecimento como grupo, somando em aprendizados que serão úteis em futuros projetos.


Compreendendo a importância de levar a arte para crianças em vulnerabilidade social, estar em cena no espetáculo “A Menina e o Pássaro” me fez refletir sobre o que de fato é ser artista, principalmente em um local tão rico de arte e com uma ótima estrutura que é o teatro, espaço no qual muitas dessas crianças nunca tinham ido por falta de acesso ou oportunidade. Opúblicoinfantil foisem dúvidasum grupo especial, por serem livres de contaminações do mundo. Trazendo assim, uma mente, um coração puro e cheio de imaginação, além disso, ajudando aos autores da obra a trazerem esse sonho, o lúdico e boas lembranças que a arte transmite. Como bailarina e tendo desde sempre a vontade de viver de dança, o sentimento de dançar as 10 sessões foi gratificante. No geral, mais uma vez tive a oportunidade de levaraminhaarteacimadetudoesuperarmeuslimitescomoprofissional.Poissãonesses momentos que nos conhecemos de fato e temos a certeza que amamos o que fazemos.


Quando se fala de dança, atinge um lugar especial em mim. A dança é minha essência e, é algo de melhor em mim sendo oferecido a alguém. Dançar o espetáculo “A Menina e o Pássaro” foi muito enriquecedor para a minha trajetória.

Tenho tanto a falar desse espetáculo de forma singular, mas o plural é o mais importante. Plural no sentido de vê-lo em cada olhar sentado na plateia, sorriso estampado nos rostos e lágrima. Sendo elas de alegria, admiração, ou se não, de algo que foi tocado no interior da emoção de cada um.
Por uma semana, entre tantas sessões, o público variava muito, entre crianças e adolescentes vindo de escolas de ensino regular, idosos, e pessoas com algum tipo de vulnerabilidade social. Faixas etárias distintas, mas todos unidos pela arte. Dançar para pessoas tão distintas era receber uma visão diferente sobre o espetáculo. Pois cada final de sessão a roda de conversa me deixava impactada com a fala de cada participante. O espetáculo deixava sua mensagem em aberto ao se encerrar, cada um teria que colorir o seu final, ou seja, era o público que dava o seu sentido ao “voo do pássaro”. Ouvir o que cada aluno e idoso era encantador. Esse momento final foi a minha parte preferida
Um ponto alto no espetáculo foi saber que era a primeira vez de tantas crianças, jovens, adultos e idosos no teatro. E isso me dava a responsabilidade de dançar e interpretar cada vez melhor, pois nunca sabíamos quando seria a primeira vez de alguém.
E por se tratar de um espetáculo de dança formado por bailarinos negros, para pessoas que nunca imaginavam que teriam essa representatividade no campo artístico, era o mais incrível.
Falando de pessoas, eu não poderia deixar de ressaltar essa experiência de dançar com o Coletivo Emaranhado. Foi uma semana vivendo com diversos profissionais, desde bailarinos, coreógrafo e equipe técnica. Espaço que trocamos experiências Estar com
tantos profissionais, uns mais capacitados com suas vivências artísticas e outros ainda nesse processo, mas ambos trabalhando para que o espetáculo desse certo, era a especificação de unidade.


Bailarina
É maravilhoso saber que a temporada foi tão enriquecedora para mim como bailarina quanto para o público. A arte e a cultura são formas poderosas de expressão e têm a capacidade de inspirar, educar e transformar vidas.
A Lei Rouanet é um importante mecanismo de incentivo à cultura e tendo essa iniciativa apoiada por um grande patrocinador, como a ESGás, só valida e viabiliza cada vez mais o nosso trabalho. É com o apoio de parceiros que a arte e a cultura podem ser difundidas e chegar a um público maior.
Receber escolas nas sessões é uma maneira incrível de disseminar a arte entre as crianças e jovens e, é gratificante ver os sorrisos em seus rostos. A dança é uma forma de artemuitoexpressivaeemocionante,foiencantadorsaberquefomoscapazesdedespertar a imaginação das crianças com o espetáculo “A Menina e o Pássaro”. Continuaremos trabalhando com dedicação e comprometimento, pois a arte é uma ferramenta poderosa para mudar o mundo e inspirar pessoas.

É maravilhoso ver como a cultura pode impactar positivamente a vida de outras pessoas, especialmente crianças que estão em uma fase de formação da sua identidade. É muito importante que as mesmas possam se enxergar na arte que consomem, e que possam sentir-se representadas e valorizadas. Além disso, enquanto mulher preta, estou desafiando estereótipos e representando uma forma de resistência através da minha arte. A cultura negra é rica e diversa, e é fundamental que as crianças tenham acesso a essa diversidade e possam se orgulhar da sua herança cultural.
O trabalho que estamos realizando é um exemplo de como a arte pode ser uma forma de expressão e resistência.


EMARANHADO
O Coletivo Emaranhado, fundado em 25 de maio de 2013 na cidade de Vitória (ES), é formado por artistas que se interessam pela dança como epicentro de suas pesquisas visando, sobretudo, suas possíveis relações transversais com outras linguagens. Em nossos trabalhos refletimos sobre o que indica ou acentua os signos da arte negra pelo gesto e o que seria o descortinar do corpo a partir da dança negro-brasileira e como seria a propedêutica do corpo ação na dança negra. A filosofia do Emaranhado é difundir a interação constante entre as linguagens artísticas, em uma performance denominada emaranhado cênico. Na gestão do coletivo, se encontra Maicom Souza, como diretor geral, e Ricardo Reis, como diretor artístico.


