Expedição Sidarta na quarentena

1ยบ semestre 2020

UMA JORNADA COM MUITAS APRENDIZAGENS

Tudo parou de repente e ninguém nos perguntou se estávamos prontos. Nós fomos simplesmente tirados de nossas vidas! Será? Será mesmo?

Talvez tenha sido uma grande oportunidade para repensarmos como vivemos. Depois de alguns dias de quarentena, começamos a compreender que precisamos de menos e, também, que podemos aprender (e reaprender) muito e de diferentes formas!

Ao logo desse período, também começamos a notar gestos e valorizar presenças que, antes, nos passavam distraídos. Pouco a pouco, tudo mudou. Pequenos momentos, pensamentos e conquistas foram mexendo no nosso jeito de ver aquela vida de antes.

Passamos a compreender e a experienciar muitos sentimentos de um modo que jamais havíamos imaginado, dando lugar a muitos deles: saudade, solidariedade, medo, empatia, solidão, gratidão, negação, paz, frustração, resiliência. Afinal, estávamos sendo desafiados a deixar de coexistir para conviver, compreendendo o que é interdependência na prática!

E está sendo fácil? Lógico que não! Ainda mais para nós, que somos uma escola! Como tal, era esperado que déssemos conta das aprendizagens intelectuais - uma das partes essenciais do nosso trabalho. Mas, sabíamos que outras aprendizagens singulares estavam em cena. Identificamos, portanto, esta oportunidade única que emergiu e decidimos que não poderíamos perdê-la de vista!

Convidamos alunos, familiares, professores e funcionários a pensar em suas aprendizagens desse período.

Para incentivar a reflexão, perguntamos: “Quais foram as suas aventuras nesta quarentena? O que você se permitiu a fazer?”. E muitas foram as respostas que iam além dos desafios do ensino e da aprendizagem!

Ler cada relato nos despertou sensibilidade e emoção. Muitas vezes, pudemos sentir a intensidade das reflexões já que o convite foi para não normatizar o distanciamento e sim refletir sobre o que ele provocava em cada um, nos fazendo repensar as diferentes dimensões de nossas escolhas diárias.

Todo esse processo revelou uma verdadeira jornada coletiva. E, ao ler e relacionar os relatos, enxergamos a força do grupo. Isso porque, apesar de não estarmos fisicamente nos ambientes da escola, o Colégio Sidarta está sempre em nós! E nunca fomos tão SIDARTA! As aprendizagens relatadas também se mostraram únicas e para a vida, pois não foram quaisquer aprendizagens, mas sim aquelas que nunca ocupam as páginas dos livros escolares ou mesmo as trilhas propostas pela modalidade EaD. Elas são aprendizagens que estão para além do óbvio. Elas falam diretamente ao nosso interior e nos ajudam a ter empatia com o outro, nos tornarmos pessoas melhores.

Para compartilhamos e celebrarmos juntos, apresentamos uma compilação desses relatos. O título da publicação é Expedição Sidarta na quarentena, pois resgata todos os significados possíveis dos muitos caminhos que o ato de se aventurar pode ter.

Ao nos unir e reunir nossas aprendizagens nesta coletânea, percebemos que, entre elas, havia semelhanças e diferenças que emergiam naturalmente. Alguns desses relatos eram mais filosóficos e, outros, mais afetuosos.

Pensando nisso - e inspirados pela Jornada do bem-estar, jogo elaborado pelas equipes do Projeto Presença, Artes e Educação Física - , criamos quatro ilhas, que, certamente, em algum momento, visitamos durante esta quarentena: • Iha filosófica, com aprendizagens que nos fizeram refletir junto; • Ilha mão na massa, com relatos cheios de verbos, que desafiam as diferentes habilidades, como cozinhar, tocar, pintar, dançar...; • Ilha do afeto, para aquelas aprendizagens que são puro sentimento; • Ilha digit@l, com aprendizagens que vão além do mero uso técnico das tecnologias digitais.

Esperamos que todos se permitam a uma leitura não-linear e curiosa. E que, durante a leitura, possam revisitar as aprendizagens e, também, se enxergar no coletivo ao se reconhecerem nas experiências dos outros. Afinal, como diz Arnaldo Antunes, “o seu olhar melhora o meu”!

Boa expedição!

A muitas mãos

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ILHA

FILOSÓFICA

Aprendi a ressignificar os sentimentos, as mensagens, as palavras, as oportunidades, as convivĂŞncias, os momentos, os pequenos gestos e o tempo.

Percebi que, mesmo em tempos difĂ­ceis, muitas sĂŁo as ocasiĂľes com as quais podemos aprender para mudar certas posturas e cultivar novos sentimentos.

Descobri que a vida pode estar difĂ­cil, mas hĂĄ pessoas boas e encantadoras, dispostas a dar o melhor de si e que, por isso, devemos reconhecĂŞ-las.

Entendi que nĂŁo devemos julgar um livro pela capa. Pois quando achamos que conhecemos alguĂŠm, acontece algo e percebemos que nĂŁo estamos nem perto de realmente conhecer esta pessoa!

Compreendi o quanto a coletividade ĂŠ importante porque precisamos contar uns com os outros para tomar as decisĂľes certas, sem que ninguĂŠm seja prejudicado.

Refleti sobre a importância de agradecer e valorizar as coisas simples, como o amanhecer e o entardecer.

Dei mais valor aos momentos simples e de convivĂŞncia. Aproveitei para passar mais tempo com a minha famĂ­lia. Agora, conversamos e brincamos mais.

Deixei as coisas fluírem aqui em casa.

Desta forma, consegui respeitar os meus limites e os dos outros. Afinal, não temos o controle de tudo e, por isso, precisamos refletir sobre os nossos pensamentos e sentimentos, analisando criticamente sobre as informações que chegam até nós.

Conheci diferentes formas de lidar com os meus filhos e de me relacionar com eles, incentivando-os a falar e escudando-os mais. Nestas situaçþes, descobri que tenho coragem para admitir que, muitas vezes, não sei se estou certa ou errada em muitos momentos.

Aprendi a valorizar o erro como uma importante etapa para a construção do aprendizado. Agora, sei que está tudo bem se eu errar, pois é mais um passo para acertar.

Relembrei tempos da minha infância, retomando a escrita no meu diårio.

Voltei a registrar meus sentimentos, a descobrir mais sobre mim e encarar os meus medos.

Tirei livros da estante, que nunca tinha lido e consegui ler com mais frequência. Conheci lugares e personagens diferentes, mas, também, aprendi mais sobre outros assuntos, como movimentos sísmicos, enigmas, economia e computação.

ILHA

MÃO NA MASSA

Investiguei os påssaros para saber como eles voam. Agora, presto atenção nos passarinhos a toda hora!

Descobri que consigo cuidar e brincar com o meu animal de estimação.

Aprendi que meus filhos podem ajudar nas tarefas de casa e que ter ajuda ĂŠ muito bom porque fica leve para todo mundo! Agora, fazemos uma excelente limpeza e deixamos a cozinha arrumadinha todas as noites!

Aventurei-me na cozinha e aprendi a fazer: bolachinhas com a família, massa de macarrão, pão três vezes na semana, cookies, cuscuz igual ao da minha mãe, receitas antigas, como ambrosia e torta de maçã, receitas novas, como berinjela, e muitas outras delícias, que deixaram a cozinha com cheiro de aconchego e o coração cheio de memórias, inclusive, de infância.

Andei de skate e fiquei em pĂŠ na bicicleta.

Aprendi que é muito importante movimentar o corpo e fazer exercícios físicos. Por isso, fiz yoga, dancei com a minha mãe, resgatei o treino de artes marciais pelo boxe, aluguei uma bike de sppining para treinar em casa, comprei elásticos de treinamento.Tudo isso para deixar o meu corpo ativo e manter a saúde mental!

Comprei uma mĂĄquina de costura para fazer artesanatos e patchwork, que sempre foi minha vontade e nunca tive tempo.TambĂŠm aprendi a fazer molde de um vestido.

Aprendi a fazer um monte de coisas: giz comestível, brinquedos de madeira, cestas de crochê, pulseiras e lâmpadas coloridas.

Toquei algumas mĂşsicas no ukulele, violĂŁo, teclado, violino.

Consegui dormir sozinho no meu quarto.

Voltei a cuidar do jardim: limpo, podo e rego diariamente, de manhã quando acordo e antes de dormir. Começo a perceber o resultado deste cuidado.

Curti a minha horta e, agora, ela está tomando forma! Temos novos integrantes e estamos muito felizes com a primeira colheita de tomates. Com este contato, as percepções em relação à natureza ficam ainda mais aguçadas e podemos recordar de quem nos ensinou a gostar tanto dos animais e das plantas.

ILHA

do afeto

Aprendi que ĂŠ importante valorizar o que temos e gostar mais de mim.

Hoje, me sinto mais conectado comigo mesmo.

Desenvolvi laรงos mais profundos comigo mesma e, durante este tempo, me permiti brincar, sentir, rir, chorar e experimentar.

Descobri que nossos limites são elásticos, mas que é importante respeitar o ritmo do nosso corpo.

Aproveitei para descansar e compreendi que as pausas sĂŁo importantes.

Valorizei mais os meus sentimentos e as pessoas que sĂŁo realmente importantes para mim. NĂŁo me recordo de ter passado tanto tempo com meus filhos em casa, dividindo a cozinha, assistindo a uma sĂŠrie ou simplesmente nos divertindo juntos.

Compreendi que é gostoso ficar em casa e que é importante ter mais tempo para brincar com os meus filhos.

Descobrimos que é bom fazer coisas novas em família.

Acompanhei o processo de alfabetização do meu filho e entendi um pouco mais sobre o ritmo da criança.

Criei diferentes atividades para meus filhos. Agora, por exemplo, eles estĂŁo ensaiando uma mĂşsica para tocar juntos.

Aprendi a tratar melhor a minha irmĂŁ e a cuidar dela.

Descobri o significado de sentimentos como preocupação e saudade na prática, principalmente, ao cuidar, mesmo de longe, dos meus avós.

Percebi que temos que amar com mais forรงa, porque o tempo passa muito rรกpido!

Senti saudade da escola e aprendi a valorizå-la nesse período por estarmos em aulas a distância.

@

ILHA

digit@l

Descobri que consigo aprender sozinho!

No começo, não sabia mexer em quase nenhum programa e, aos poucos, comecei a entrar nas aulas sem precisar da ajuda dos meus pais. Agora, navego na Internet como um ninja!

Resolvi baixar o Tik Tok e aprender a usá-lo. O meu primeiro vídeo ficou demais! Meu filho achou que ficou muito engraçado.

Explorei vários cursos on-line... E a minha mãe também! Ela fez os mesmos cursos que fiz. Aprendemos juntas!

Experimentei as muitas possibilidades de cursos da internet: fiz yoga e meditação, aprendi como costurar máscaras para a família, fiz curso de marketing e tinha até curso de medicina!

Voltei a me aproximar das Artes: declamei poemas, desenhei e toquei flauta doce. E postei algumas dessas criaçþes nas minhas redes sociais.

Explorei diferentes possibilidades de comunicação digital: participei de uma festa via videoconferência, assisti a uma apresentação de teatro via WhatsApp, recebi foto dos avós por mensagem, fiz muitas chamadas de vídeo com familiares e amigos para desabafar e, também, para rir.

Conversei com meus avĂłs por chamadas de vĂ­deo! Eles aprenderam a usar a tecnologia sĂł para falar comigo...

Aprendi que as verdadeiras amizades conseguem se manter, mesmo com a distância. E que podemos usar a Internet para manter o círculo de amizade. Quem diria que seria divertido conversar com os amigos por videochamada?!

Descobri que o abraço é muito importante para o ser humano. Mas, por enquanto, só podemos nos abraçar virtualmente.

Contribui com campanhas on-line para ajudar famílias em situação de vulnerabilidade.

Explorei diferentes lugares: conheci alguns museus e viajei para vĂĄrios lugares do Brasil! Adorei fazer saĂ­das virtuais!

Nunca aprendi tanto, me atualizei tanto e em tĂŁo pouco tempo! Aprendi a dar aulas on-line e, com isso, me sinto imensamente perto de todos! E tendo as tecnologias digitais um catalisador para a aprendizagem com afeto.

Expedição Sidarta na quarentena 1ª edição / 2020 Idealização: Claudia Siqueira Registros: Alunos, famílias, professores e funcionários do Colégio Sidarta Curadoria: Clau, Pri e Cami C. Edição: Camila Castro Revisão: Laura Leonardo da Silva Projeto gráfico: Cami C., Clau, Pato e Pri. Ilustração e Diagramação: André Monteiro (Pato) Instituto Sidarta Presidente: Ya Jen Chang Diretora: Claudia Siqueira Diretora Administrativa: Maria Aparecida Schleier

Estrada Fernando Nobre, 1332 – Cotia – SP Tel.: (11) 4612 2711 – http://www.sidarta.org.br/colegio/pt Instagram.com/colegiosidarta Facebook.com/colegiosidarta