Cláudio Salituro - Trecho do livro "Por trás da TI"

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TRECHO DO LIVRO – POR TRÁS DA TI

AUTOR: RENATO BATISTA

CAPÍTULO - O QUE VOCÊ PROCURA TAMBÉM ESTÁ A TE PROCURAR

CLAUDIO SALITURO

CLAUDIO SALITURO É AQUELE carioca que todo mundo gostaria de ter como amigo. Nasceu em Santa Teresa, e teve uma infância tranquila, sempre frequentando os colégios do bairro. Por volta de seus catorze anos, recorda que o Brasil foi inundado pelos jogos, como o Atari, e que, na mesma onda, vieram os primeiros computadores, como o TK-85. Ali teve seu primeiro contato com a tecnologia, que despertou enorme interesse no garoto. E foi enorme mesmo, pois ele começou a estudar sobre sistemas de linguagem Basic e programação em computadores domésticos. Tudo ainda permeado por um espírito da novidade e da brincadeira.

Em pouco tempo, no entanto, sentiu vontade de trabalhar e ter seu próprio dinheiro. Uma de suas vizinhas tinha uma corretora de imóveis e, sabendo da ânsia do adolescente, convidou-o para trabalhar como um “faz-tudo” dentro da empresa. Sua mãe, no entanto, achava que o trabalho atrapalharia seus estudos, e foi contra. Seu pai, com a habilidade inata de conciliador, resolveu o problema dos dois: arranjou um trabalho mais flexível para Claudio no Banco do Brasil como Menor Aprendiz.

Após a finalização do estágio, Claudio se viu sem emprego. Comentou sua angústia com o dono do botequim que frequentava, e este disse que arranjaria uma vaga para o adolescente, que nem acreditou muito no primeiro momento. Em duas semanas, o dono do bar entregou uma carta para que Marcos fosse a um processo seletivo. Chegando lá, a recrutadora disse para ele e Raimundo, um dos candidatos que viria a ser no futuro um grande amigo, que havia apenas uma vaga dentro do Centro Eletrônico Walmap, o datacenter do Banco Nacional. Vendo que o outro havia topado, Salituro soltou um “aceito”, sem nem bem entender o terreno onde estava pisando. Há um ditado budista que diz “O que você procura também está a te procurar”, e, embora o executivo não soubesse naquele momento o que buscava, esse caminho já estava à sua procura.

Deparou-se com os mainframes, luzes piscando, cartões perfurados, paredes de aço escovado e imediatamente pensou: É isso o que eu quero para minha vida. Em seis meses dentro do Banco Nacional, um dos seus gestores contou que comprara um computador IBM, mas que ninguém acreditava no projeto, e questionou se Claudio poderia ir para essa área. Soltou, mais uma vez, um “aceito” e ali a vida dele começou a se transformar devido ao pioneirismo que encabeçava. A sincronicidade novamente brilhava na vida do executivo: quem havia vendido os computadores ao Banco fora o marido da sua vizinha e primeira chefe, que trabalhava na IBM.

Claudio entrou ligeiro em todas as portas que a vida foi lhe abrindo. Esse seu vizinho patrocinou diversos cursos para ele, o que lhe garantiu a oportunidade de participar de todas as cadeiras dentro do datacenter. Passou por vários episódios marcantes, como

ir a São Paulo para fazer uma migração de sistemas e ali acabar ficando devido ao destaque que essa tarefa lhe proporcionou.

Em 1992, o pai de Claudio estava doente e ele resolveu, então, voltar ao Rio de Janeiro para ficar ao seu lado. Foi quando iniciou sua trajetória dentro do Citibank. Conta com humor que, ao trabalhar pela madrugada, automatizou diversas operações para conseguir dormir, e isso consequentemente fez toda a operação do banco se modernizar. Categoriza a experiência lá dentro como uma grande escola para sua carreira.

No Citibank enfrentou um dos projetos mais desafiadores de sua vida: transferir todo o datacenter, já operado pela Orbitall, para São Paulo, sem transferir um colaborador sequer. Teve que implementar o projeto com bastante transparência, tanto pela ética quanto para manter os laços de amizade criados dentro da empresa. O que antes parecia um pesadelo acabou se tornando algo bem-sucedido: no último dia, todos já estavam encaminhados para novas oportunidades. E Claudio retornava, então, a São Paulo.

Quando a Orbitall foi vendida ao Itaú, Claudio participou do projeto da migração e iniciou sua trajetória dentro do Banco Ibi, então braço financeiro da C&A. Foi uma ruptura para a carreira do executivo, que mudava de patamar dentro das corporações. Ficou lá por quase seis anos, mas, como a vida não o deixa sossegar e a sua agitação inata o move sempre para a frente, o destino ainda o levaria a vivenciar desafios em outras corporações, como a Bradesco, Fidelity Processadora, Conductor Tecnologia e Cielo.

Em 25 de janeiro de 2019, Claudio recebeu uma mensagem em seu celular: “Parabéns, você foi aprovado no processo da Caixa Econômica”. Sentiu-se imensamente empoderado e resolveu transformar isso em um item: uma gravata nova. Na loja, viu umas duzentas gravatas no painel e, ao escolher uma, o vendedor disse: “Boa escolha, sabia que o novo presidente da Caixa Econômica também comprou essa gravata para a posse dele?”. Optou por comprar uma gravata diferente - afinal, não iria com a mesma do presidente - e percebeu como, mais uma vez, a sincronicidade bailava à sua frente.

Claudio tem um desafio dentro da Caixa: revisitar todos os elementos da TI – da plataforma à arquitetura – para conseguir acelerar os processos de transformação digital. Infelizmente, diz que um dos maiores aceleradores foi a COVID-19, que, em cinco dias, migrou toda a corporação para um modelo home office. Com isso, a produtividade e a confiança aumentaram e todos os antigos estereótipos de trabalho remoto estão sendo desmistificados.

Um dos cases de sucesso da carreira do executivo, inclusive, é dentro do cenário da pandemia: com 99% da TI em home office, o time criou em cinco dias um aplicativo — o do auxílio emergencial - que, em doze horas no ar, teve 18 milhões de downloads, 21 milhões de cadastros e proporcionou 12 milhões de visitas ao site da Caixa. A Caixa Econômica entregou o maior processo de bancarização do hemisfério sul.

E os números são astronômicos: com esse projeto, a Caixa conseguiu pagar aproximadamente 50 milhões de brasileiros em trinta dias. Além disso, gerou abertura de 40 milhões de Poupanças Sociais Digitais em 35 dias, sendo 11 milhões em um único dia. A palavra “impressionante” torna-se insuficiente como adjetivo para uma ação dessas.

Quando questionado sobre o futuro da TI no Brasil, Claudio afirma: “A TI vai acabar”. O que pode causar espanto, na realidade, é apenas uma análise ampla de todo o cenário. O modelo TI está invadindo o negócio, tornando-se o próprio negócio e acabando com as fronteiras rígidas que ainda se tem hoje em algumas corporações.

Durante toda a vida de Claudio, um dos objetivos além de fomentar a evolução em sua própria carreira foi alavancar a de outras pessoas. E conseguiu isso inúmeras vezes... Sincronicidade, destino ou acaso -— escolha a palavra que preferir -, a trajetória bemsucedida de Claudio é incontestável.

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