Brasileiros Mundo Afora N° 04 - DEZEMBRO 2013

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Mas a verdade é que profissionalmente eu comecei tudo do zero. Fiz uma nova universidade e atuo na área de assistência social há cinco anos. Uma das coisas que me fascina na Alemanha é a relação entre chefes e subordinados no trabalho. Aqui chefe não é um deus, portanto pode receber um não como resposta de um subordinado. Na minha primeira experiência profissional lembro-me que ficava de boca aberta ao ver a reação das funcionárias quando o chefe aparecia com mais trabalho. Elas falavam "im Moment geht nicht " (no momento não tenho tempo). O chefe então dava meia volta sem questionar e retornava mais tarde. Eu trabalhei em outras três empresas, e o relacionamento entre chefes e subordinados não era diferente. A pausa dos funcionários, seja para tomar um café ou para fumar um cigarro, é sagrada. Eu costumo brincar que mesmo se a Chanceler alemã Angela Merkel aparecesse e solicitasse ajuda de algum deles, a resposta seria clara: "depois, agora estou na pausa". No Brasil, ouvi várias vezes pessoas que ocupavam cargos de gerência dizerem que não frequentavam os happy hours para manter distância dos subordinados. Outra diferença notável é que no trabalho não existe a expressão "deixa pra lá ou para amanhã". Tudo é anotado, conversado, planejado e apurado. Eu trabalho diretamente com diversas repartições públicas e seria um sonho se algum dia tivéssemos no Brasil tanta eficiência e respeito ao cidadão como nos orgãos públicos daqui. Só não pode-se confundir cordialidade com simpatia. O funcionário público alemão é tudo menos simpático. Mas de uma coisa você pode ter certeza: o seu problema será solucionado. Uma das primeiras recomendações que faço quando inicio o trabalho com uma família estrangeira é que não adianta omitir fatos ou vir com aquela velha história de que não recebeu o documento ou que não sabia. É só uma questão de tempo e tudo será descoberto. Se a pessoa, por exemplo, recebeu um Euro indevidamente terá que devolvê-lo. Como trabalho diretamente com o tema educação aqui, me choca o pouco contato que os pais que trabalham fora têm com seus filhos no Brasil. Costumo dizer, que nos grandes centros do país, a educação dos filhos está terceirizada. Os pais levam os filhos dormindo para as escolinhas e os trazem para casa também dormindo. Aqui as crianças ficam no máximo até às 17 horas nas escolinhas. Muitos pais podem optar por uma carga horária de trabalho flexível. A maioria das minhas colegas, que são mães, trabalha entre 20 e 30 horas por semana. Outra diferença grande é a forma como as crianças dos dois países lidam com regras. A criança alemã aprende desde pequena que na vida existem direitos e deveres. Ela aprende a desenvolver uma rotina familiar e a reconhecer o seu papel dentro da família.


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