A possível fuga de ana dos arcos

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de maneira nenhuma. Estou me sentindo outro, não sentirei remorsos. Hoje foi bicarbonato, apenas ensaio, mas de amanhã esse fedorento não escapa! VI - I 30 de dezembro. A tarde escorre, inútil. Ismael não vai dar as caras, sabe que de hoje ele não passa. Vai morrer, eletrocutado, trouxe os fios no bolso, vou fazer uma extensão da tomada até o tamborete onde o bastardo se sentar. Tem que ser hoje porque amanhã ele não vem mesmo, deve passar a última noite do ano com a família. Ele tem família... Pensei também em oferecer uma ampola de formol ao mongoloide. Ele vive tomando injeções de vitaminas. Quando ele fosse na farmácia aplicar, hum! seria tiro e queda. Não, mas eu quero fazer dessa montanha de carne um churrasquinho... A vantagem do formol é que ele não iria feder, eu estou me tornando um gênio do crime. Entro firme na rodada. Espalho as sete pedras, armo um lance, não adianta: sou um derrotado. Pedras malditas: ás-duque, duque-terno, ternoquadra, quadra-quina, quina-sena, sena-ás... e a outra, o baratão. Pior do que essas, só as dos rins. Pedras do inferno, se fecham como um ciclo, uma prisão de dor. E a outra é morte lenta: bomba sem estopim... Quero ir embora mais cedo, mas para onde? Sozinho nessa noite, acho que morro. E amanhã? Bota mais uma, Ataíde: chora que o 41


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