160 anos de história biblioteca pública do espírito santo

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desde que sua professora esteja de acordo. E dirigindo um rápido olhar à professora, concluí por ela: – E ela está de acordo. A impressão que tive foi a de que ela não esperava que eu agisse daquela forma. Mas então, parecia ela pensar, minha vontade será respeitada? Eu lhe mostrava que sim, que eu respeitaria a vontade dela. – Eu não gosto de ler – insistiu ela. – Ninguém é obrigado a permanecer aqui muito menos a ler. Ela, parece que um pouco contrariada, resignou-se: – Mas eu vou ficar. A tarefa se cumpriu como sempre. E ela permaneceu em seu lugar até o fim. Quando tudo se acabou, essa criatura extraordinária – e tanto mais extraordinária quanto teve a coragem de se posicionar numa situação desfavorável a ela – levantou-se de seu lugar, veio em minha direção e antes que eu pudesse prever qualquer atitude, abraçou-me como se abraçasse uma tábua em alto-mar. Eu percebi imediatamente que essa criança começava a salvar-se do naufrágio. Não pensem que acabou. Ainda abraçada a mim, ela perguntou: – Sabe o que vou fazer quando chegar à escola? A primeira coisa que vou fazer? E antes que eu dissesse qualquer coisa: – Vou pegar um livro para ler. Eu sei que esta história poderia ser inventada por mim. Para um escritor, há um limite muito sutil entre a ficção e a realidade. Nem sei, confesso, em qual delas vivo. Mas de uma coisa estou absolutamente certo: a vida tem sido uma grande ventura.

1 Os dados a que me referi podem ser lidos aqui: http://cultura.estadao.com.br/blogs/ babel/44-da-populacao-brasileira-nao-le-e-30-nunca-comprou-um-livro-apontapesquisa-retratos-da-leitura/ . Acesso em: 19 out. 2016.

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