aRS LIBER - nº 2 - Dezembro 2013

Page 1

MAGAZINE Nยบ 2

ARTE CRIATIVA



S

5

Nota do Editor

DEZEMBRO 2013 EDIÇÃO Nº 2

6

Cannonball Adderley

8

O Jazz calou-se nas Catacumbas 8

Sumário

10 Leitura no Digital

12 Música 14 Zoë Heller - Os idealistas 16 Entrevista a R.J. Xavier 18 Aprender a escrever

21 Lançamento Zak Zacarias Mataram um Amigo meu

Pág. 3 - DEZEMBRO 2013


Juan MartĂ­n Uranga's


E Nota do Editor

As luzes da música É do conhecimento geral que a música tem um grande poder sobre as emoções e a psique humana. Quantos artistas, pintores, escritores e outros não criaram as suas obras ao som de música e sons? Há quem diga que a música cura e para o comprovar cientificamente existem os musicoterapeutas cujo espantoso trabalho junto de crianças e doentes com deficiências mentais são de tal forma eficazes que nos deixam rendidos ao poder que a música pode ter no ser humano. Por outro lado, a música é fundamental para o funcionamento de uma sociedade. Desde os tempos antigos que sempre que uma nova sociedade nasce, com ela aparece um novo estilo de música. Pois é, as práticas musicais não podem ser dissociadas do contexto cultural. Cada cultura possui os seus próprios tipos de música totalmente diferentes em estilo, abordagens e concepções do que é a música e do papel que ela deve exercer na sociedade. Entre as diferenças estão: a maior propensão ao humano ou ao sagrado; a música funcional em oposição à música como arte; a concepção teatral do Concerto contra a participação festiva da música folclórica e muitas outras. Falar da música de um ou outro grupo social, de uma região do globo ou de uma época, faz referência a um tipo específico de música que pode agrupar elementos totalmente diferentes (música tradicional, erudita, música popular ou experimental).

É do conhecimento geral que a música tem um grande poder sobre as emoções e a psique humana.

Esta diversidade estabelece um compromisso entre o músico (compositor ou intérprete) e o público que deve adaptar sua escuta a uma cultura que ele descobre ao mesmo tempo que percebe a obra musical. As pistas estão lançadas, a capa desta edição, a nota editorial são alusivas à música e, portanto, acreditem que mais música vai surgindo ao longo desta segunda edição da aRS LIBER … para vosso prazer. Pág. 5 - DEZEMBRO 2013


a | Música| Jazz

Cannonball Adderley Somethin' Else (1958 ) Label: Blue Note Records

Fantástico

disco de Cannonball

Adderley, considerado por muitos um dos 10 melhores discos de Jazz de sempre. Esta reedição contêm uma sexta faixa misteriosamente esquecida no tempo e que foi mais tarde descoberta pela Blue Note Records. Recebeu o nome de " Allison's Uncle ", porque a filha de Nat Adderley nasceu no dia em que foi gravado. As pesquisas revelaram também que a melodia foi uma composição de Hank Jones e que o pianista havia registado anteriormente como " Rangoon ", tocado com o quinteto Gigi Gryce / Donald Byrd Jazz Lab para uma etiqueta Jubilee , em agosto de 1957. Se apreciam Miles e Cannonball no pico das suas carreiras então ouçam este disco onde a abertura com “Autumn Leaves “ está belíssimamente bem

Pág. 6 - DEZEMBRO 2013

interpretada, estando os dois gigantes apoiados por Hank Jones no teclado, Sam Jones no baixo, e o grande Art Blakey na bateria. Músicos: • Miles Davis (trumpet) • Cannonball Adderley (alto saxophone) • Hank Jones (piano) • Sam Jones (bass) • Art Blakey (drums)

Cannonball Adderley Somethin' Else (Faixas): 01 02 03 04 05 06

Autumn Leaves Love For Sale Somthin' Else One For Daddy-O Dancing In The Dark Bangoon * (Allison's Uncle)

*Não faz parte do álbum original

-



a | Notícias| semibreves

O Jazz calou-se nas Catacumbas Fechou mais uma sala intimista dedicada ao Jazz e aos Blues em Lisboa, Bairro Alto

Mais

um

ícone

da

cultura

desapareceu em Portugal. Cada vez mais nos chegam aos ouvidos notícias tristes sobre o encerramento de cinemas, bibliotecas, escolas, grémios associativos para encontros literários e por aí adiante. Desta vez foi o pequeno paraíso onde muito boa gente passou também muitos bons momentos e inesquecíveis. Desta vez foi o Catacumbas Jazz Bar, no Bairro Alto, que encerrou. Sempre foi um espaço divertido para estar e, apesar do Jazz e do Blues, foi sempre um sítio muito aberto a todo o tipo de músicos, mesmo os menos experientes. Sim, o Catacumbas foi para alguns a escola de Jazz que nos tempos idos não existiam com facilidade. Perguntamos: porquê? A resposta é inequívoca e, infelizmente, sempre a mesma: A crise, o afastamento do público, a falta de interesse e o desânimo generalizado de todos. E assim vai o nosso País.

Pág. 8 - DEZEMBRO 2013



a | estudo| tecnologia

Leitura no Digital Serão os ebooks e a internet o flagelo da leitura em formato de papel?

Mesmo numa altura em que o Facebook e demais redes sociais fazem parte do quotidiano de milhões de utilizadores da Internet, incluindo em Portugal, os aspetos mais valorizados pelos leitores de produtos digitais estão relacionados com a possibilidade de obter informação adicional e não de comentar ou partilhar informação. O que quer isto dizer? Que a leitura ainda é uma prática individual. A característica mais destacada na leitura digital, referida por 48% dos inquiridos, foi a possibilidade de, através de um motor de busca, saber de imediato mais sobre o autor ou o tema do texto. Seguem-se 44% de inquiridos que referiram como positivo o acesso a outros textos e os links associados. Autor Catarina Afonso

Pág. 10 - DEZEMBRO 2013

É indicado ainda que a maioria dos inquiridos já leu livros eletrónicos: 58% dos inquiridos disseram já o ter feito embora em Portugal esse valor é significativamente mais baixo. Foi facilmente notado que os mais novos e aqueles com maior nível de escolaridade são os que tendem a ler mais em formato digital. O inquérito apurou ainda que quem é um leitor assíduo nos suportes digitais é, tipicamente, um leitor frequente de formatos impressos. Já o inverso não é verdade: quem lê muito em papel não é necessariamente um grande leitor digital. O documento ressalva ainda que, "ao contrário de um receio várias vezes expresso na opinião pública, os dados indicam que a leitura de livros em formato digital não substituiu a leitura de livros em formato papel".

Deste estudo, foi possível concluir que a leitura digital é feita num suporte de "conceito vago e multidimensional", normalmente refletido em pequenos textos curtos. Referese assim a frases escritas e partilhadas nas redes sociais, de mensagens no Twitter, que têm, no máximo, 140 caracteres, de emails e outros conteúdos textuais que são constantemente publicados numa Internet onde os utilizadores são simultaneamente consumidores e produtores. Quanto a Portugal , os indicadores de leitura de obras completas apresenta valores abaixo da média europeia embora muitos dos inquiridos (44%) afirmam que, de futuro, vão passa a ler mais com a oferta do formato digital.



Não podes deixar de ouvir

A obsessão de Curtis pelo lado negro da vida aliado ao seu talento para escrever sobre desespero e separações renderam letras com um lirismo que fizeram a crítica especializada colocá-lo entre os idolatrados poetas pop. No contexto social e histórico em que viveu, Curtis alimentou-se do negativismo da filosofia punk e junto com seus companheiros do Joy Division estabeleceu algumas das tendências do pós-punk na cultura jovem. O disco que apresentamos não é para venda, É SÓ PARA FÃS. Composto por atuações ao vivo e demo sessions absolutamente deliciosas, este bootleg é para ouvir, recordar e recordar e recordar.

Pág. 12 - DEZEMBRO 2013

!

Ludovico Einaudi é um dos melhores compositores e pianistas da música clássica contemporânea. Este é um live album realizado no «The Royal Albert Hall Concert» e é uma excelente porta de entrada para todos os que querem conhecer a genialidade deste compositor italiano, servindo igualmente de resumo de carreira e de consagração para os seus fieis apreciadores de sempre numa edição especial composta por 2CD. .

a | Música| discos

Azazel: Book of Angels Volume 2 é a exploração do Trio de Cordas Masada ao limite máximo, protagonizado pelo improvável compositor John Zorn. Este album constitui um forte argumento para aqueles que resistem ao som contemporâneo da improvisação, desafiadora e multifacetada.



a | Opinião| livro

Zoë Heller Os idealistas Divertido, comovente e absolutamente genuíno.

Mas que grande livro que Zoë Heller escreveu! Estejam certos de que não se está a indicar algo que se restringe a um público específico — a aRS LIBER detesta qualquer tipo de segmentação, especialmente as baseadas num estereótipo de género. O que estamos a tentar exprimir é que não julguem o livro por pertencer a uma autora da elite literária mas sim pela irresistível história da autodescoberta de uma familia. A linguagem de Zoë Heller é simples, dinâmica e enganosamente superficial. Embora a leitura seja extremamente fácil, há mais do que se supõe nas entrelinhas. O interessante a respeito do livro é justamente isso: compreender o que está oculto por trás de cada ação ou impulso (algo que, se se quiser ir ainda mais a fundo, pode remeter à psicanálise). Para concluir: as páginas finais são tão bonitas que exigem uma caixinha de lenços de papel à mão. Pág. 14 - DEZEMBRO 2013



a | Entrevista| autor

R.J. Xavier Escritor desconhecido

AL: Como surgiu a escrita assim, tão de repente, aos 46 anos? RJX: A escrita surgiu em mim com a maior naturalidade num momento complicado da vida. Surgiu como uma forma, talvez inconsciente, de me ajudar a resolver alguma coisa que estava aqui para dentro atravancada. AL: Não sentiu alguma apreensão em estar a estrear-se na escrita logo como concorrente a um dos prémios mais mediáticos como dos “Novos talentos da literatura em Portugal”, da FNAC? RJX: Não, confesso que sou assim mesmo. Não tenho assim tanto receio de empreender, de me lançar no espaço desconhecido. Por vezes bato com a cabeça e sofro um bocado com o impacto mas não posso deixar de referir que retiro um enorme prazer destas minhas atitudes de descoberta. Pág. 16 - DEZEMBRO 2013

AL: Percebemos que escreveu “O homem que queria ser enterrado num balão” em três dias. Como foi criar uma obra em tão pouco tempo? RJX: Na verdade, escrevi em menos de 48 horas o que bem vistas as coisas foram menos de dois dias. Escrever este conto foi muito fácil. De certa forma, passava por uma fase em que não dormia, não senti necessidade de comer. Escrevi a toque de cafés, muito som e alucinação. Foi muito bom e de certa forma, não querendo afirmar que o personagem é um reflexo autobiográfico, escrever o conto acabou por se confundir com a minha própria vida.

AL: Depois seguiu-se uma outra obra, com o “Banana Bondage”. Desta vez, quase que triplicou o número de páginas e colocou algumas inovações. Fale-nos sobre a génese do Conto.


RJX: Não sei o que chamar ao “Banana Bondage”, se um conto, se um romance. Na indefinição opto por chamar-lhe livro, simplesmente. O que posso dizer é que a minha cabeça está repleta de histórias para contar. De tal maneira que o enlace criado com o primeiro conto e o empolgamento que me trouxe, levaram-me fácil e rapidamente para a segunda história. Mais uma vez, não a personagem mas os locais, são imagens vividas na minha memória. Posso dizer que foi outro gozo total a escrita deste segundo livro. AL: Quando nos referimos a inovações estamos a falar da playlist de músicas que ao longo do livro aparecem referenciadas. Como surgiu a ideia?

RJX: A ideia surgiu porque já no livro anterior, como referi, ouvi muita música. Descobri que o meu processo criativo funciona ao sabor de algumas coisas, entre elas, muita das vezes, a música. Sabia que não era fácil publicar as obras mas iria publicá-las de qualquer maneira. Depois de conhecer o Círculo dos Autores Desconhecidos, vi que era possível utilizar as potencialidades da plataforma de edição online deles e foi assim que permiti aos leitores essa possibilidade: lerem a história e ouvirem os sons que o autor ouviu enquanto a escrevia. AL: Qual o sabor que guarda quando tem conhecimento que dois clips com textos seus que publicámos na Página Facebook do Círculo, tenham atingido o TOP CINCO? RXC: O sabor é delicioso. É muito agradável saber que no meio de mais de uma centena de publicações, esses dois Clips tiveram um alcance médio de 5.000 visualizações cada. A sensação é como se tivesse conseguido produzir um néctar saboroso que trouxe alegria e paz às pessoas … é para isso que escrevo. AL: Sabemos que a escrita não é a sua única paixão. Fale-nos sobre as suas paixões. RXC: Para além da minha Família, a escrita é, de facto, a minha mais recente paixão mas não nego que gosto de pintar, a minha sala só tem quadros meus. Música, guitarra é a minha outra paixão. Montei um estúdio caseiro e já tive um projeto com um alter-ego. Design foi outra descoberta deliciosa e que cheguei a desenvolver num sentido mais “Pro” pois recebi dinheiro por esses trabalhos. Enfim … AL: Projetos para o futuro, tem? RJX: Claro que sim. Viver! Viver intensamente, rodeado de tudo o que mais gosto e todos aqueles que amo. Pretendo criar e escrever todas as histórias que tenho dentro da minha cabeça e nos próximos 3 meses quero terminar 2 projetos de livro que tenho em curso, um deles num estado bem avançado. Por outro lado, pretendo colaborar no máximo das minhas possibilidades com o Círculo dos Autores Desconhecidos no sentido de divulgar a cultura, promover os muitos e bons autores que temos em Portugal, seja na literatura, seja na música, na pintura, fotografia, design … enfim … não vale a pena inventar: Cultura. Pág. 17 - DEZEMBRO 2013


a

Aprender

Aprender a escrever SĂŠrie 1


s Aprender a escrever artigo

Esta é a primeira série de um conjunto de artigos com o objetivo de ajudar os nossos leitores que querem começar a escrever. Vamos assim percorrer ao longo dos próximos números um roteiro variado e metodológico que permita a pratica de formas simples de criar essa vontade incontrolável de explorar o que está por trás das portas que abre com os seus textos. No final, poderemos assim responder às seguintes questões: • Por onde começar a explorar o universo de criação literária? • Onde encontrar ideias para escrever uma história? • Como criar personagens complexos e acreditáveis? • Como desenvolver uma cena? • Como escrever diálogos? • Como escrever um final que satisfaça os leitores? • Como transformar suas histórias pessoais em narrativas de impacto? O que você vai encontrar aqui são respostas possíveis para essas e outras perguntas relacionadas com o assunto, além de dicas práticas e recursos para desenvolver e exercitar sua criatividade.

Começo Por onde começar a escrever e como transformar ideias em histórias? É pouco provável que se possa escrever uma história original simplesmente seguindo fórmulas ou receitas passo a passo, mas existem algumas técnicas que certamente podem ajudar no desenvolvimento de uma ideia em um primeiro rascunho. Conheça algumas dessas técnicas que certamente são bastante úteis quando não se tem uma idéia clara de por onde começar a escrever.

Desenvolvendo ideias Muitas vezes, quando tentamos dar os primeiros passos na escrita, ficamos intimidados pelos nossos autores favoritos. Reconhecemos na leitura dos seus textos qualidades técnicas e estéticas, e esforçamo-nos por reproduzi-los nas nossas próprias histórias.

É neste preciso momento que ficamos frustrados porque, mesmo usando recursos literários semelhantes, não atingimos os resultados que esperavamos. Se tentarmos absorver a genialidade por trás daqueles textos lendo vários deles em sequência, analisando minuciosamente as construções das frases e dos parágrafos, se procurarmos decodificar a lógica por trás das expressões e metáforas de impacto, se nos esforçarmos por entender como é possível criar imagens nítidas na mente do leitor com uma única frase, então, após esse exercício, ficará claro o porquê da nossa admiração por esses autores. Mesmo entendendo as técnicas e recursos literários que eles utilizam, toda a teoria desaparece entre as linhas na leitura de novos textos. A nossa atenção volta totalmente para a história que está a ser contada. Um escritor habilidoso consegue tornar a estrutura das suas histórias invisível. Ele desperta o nosso interesse apresentando uma ideia intrigante nas primeiras linhas da narrativa, e desenvolvendo-a numa sequência de acontecimentos tão envolvente que nos faz esquecer que estamos a ler tinta preta impressa em papel.

Pág. 19 - DEZEMBRO 2013



a | Lançamento| Livro

Zak Zacarias Mataram um Amigo meu Uma história profunda e comovente de uma amizade eterna. Um sinal que nos mostra que é possível esbater a divisão entre os homens.

A

a

leitura

atenta

deste

assombroso conto escrito por Zak Zacarias ajuda a compreender que só escreve uma história destas quem já a viveu ou então é detentor de uma imaginação prodigiosa. Por isso, qualquer um destes dois atributos são motivo mais que suficiente para poder augurar futuro ao jovem Zak. Quando começamos a ler o enredo, vemo-nos atrelados ao comportamento revoltado da personagem principal em contraste com a doçura e meiguice do seu melhor amigo, encontrado morto na rua. Num ambiente e num contexto de bairro violento, Zak consegue descrever de forma perturbadora flashes das experiências traumatizantes de todos aqueles que vivem neste mundo marginalizado que todos sabemos existir a nossa volta mas que tendemos a querer ignorar. O problema da formação da identidade de todas as crianças que um dia serão adultas e dos adultos que um dia foram crianças, são narradas como um exemplo para entendermos como e porquê surge a

violência. O livro vai seguindo sem grandes guinadas e Zak, de forma simples, procura centrar-se nos dilemas morais voltados, em primeiro lugar, para questões de culpa própria e perdão.

Só depois nos chegam as constatações que cada um tira, no final desta genial história composta de cenas simples mas ao mesmo tempo profundas. Pág. 21 - DEZEMBRO 2013


So Bare, I Can't Hide By Josephine Cardin


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.