Revista Cineclube Jece Valadão - Edição #9

A H I S T Ó R I A D O C E N T R O O P E R Á R I O E D E P R O T E Ç Ã O M Ú T UA

FOTO MÁRCIA LEAL

EM CARTAZ: 112 ANOS DE CENTRO OPERÁRIO! José Paineiras Filho

06.

Seu Luiz A memória iluminada

09.

Gratidão real

10.

É muito amor

12.

A participação feminina

13.

Centro Cultural

16.

20.

Conheça o cobrador do Centro Operário

As imagens de Ludymilla contam belas histórias

A partir do ideal do operário Athanagildo Francisco de Araújo, com a decisiva e imediata adesão de Alexandre Alves Martins, quem o instruiu. Numa simples folha de papel almaço e dezenas de assinaturas de simpatizantes, fundaram uma instituição pioneira, com o objetivo de proteger e acolher os trabalhadores mais humildes, contra qualquer forma de injustiça e violência, como também com a finalidade de proteção mútua aos associados. Foi assim que há 112 anos, no dia 13 de janeiro de 1907, foi fundado o Centro Operário e de Proteção Mútua, uma das mais respeitadas instituições de nossa cidade, ainda hoje em pleno funcionamento e vigor.

Depois da edição de oito revistas impressas em policromia e de cinco audiovisuais (sendo três em parcerias de coedição), o Cineclube Jece Valadão, por decisão unânime de seu conselho editorial, para satisfação e alegria de todos, edita revista impressa e documentário audiovisual sobre o Centro Operário e de Proteção Mútua, centenária instituição, berço da alfabetização de Rubem e Newton Braga, e que hoje, em sua sede física, abriga o Centro Cultural Nelson Sylvan, entidade que incorpora o próprio cineclube.

Por sua vez, o Centro Operário e de Proteção Mútua, envaidecido, orgulhosamente, manifesta o mais profundo agradecimento ao Cineclube Jece Valadão, nas pessoas do presidente Antonio Carlos Pinto (“Cafifa”), do diretor de programação Carlos Roberto de Souza (“Beto”) e da equipe de projetos, formada por Stéfano Fabris, Lucas Schuina, Felipe Bezerra, Márcia Leal, Gilberto Afonso, Thiers Turini, Maria Elvira Tavares Costa, Lia Marin e Carla Cansi, incansáveis e persistentes em defesa da memória de nossa cultura. Boa leitura!

Ensinamento e trabalho social

Teatro, poesia e música na sede da entidade

23.

Nossos colaboradores

24.

Nelson Sylvan

Todos por um

Wagner, Thiers e Márcia, alguns dos valorosos parceiros desta publicação

Os primeiros anos de luta

Linha do tempo Confira os principais fatos do COPM

Presidente por 40 anos

Os presidentes do COPM

27.

Quem idealizou

28.

A Era Vargas

32.

Cria de casa

36.

Na época da Ditadura

38.

Daqui pra frente

FOTO ARQUIVO COPM

26.

Do primeiro ao atual, Rogério Luiz Machado

Athanagildo viu um colega de trabalho ser maltratado por um policial; não se calou

“Os Braga tiveram uma relação ambivalente com o getulismo (...)”

De pai para filho e neta: fortes raízes com o COPM

08.

Falava-se de tudo no Centro Operário. Claro que isso incomodava

As conquistas e o legado

Tudo começou Dali pra frente, empregados e patrões na mesma entidade

TREZE ANOS DE CINECLUBE

EDIÇÃO GERAL Beto Souza FOTO MÁRCIA LEAL

TEXTOS Felipe Américo Bezerra, Lucas Schuina e Stéfano Fabris PESQUISA Lucas Schuina REVISÃO Felipe Américo Bezerra e Maria Elvira Tavares PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Stéfano Fabris PUBLICIDADE Antonio Carlos Pinto (Cafifa) CAPA Rudson Costa IMAGENS Gilberto Afonso, Márcia Leal e Thiers Turini SUPERVISÃO E CONTABILIDADE Lia Marin e Carla Cansi

14.

Cooperação e dedicação Helio Bolzan traduz o Centro Operário

IMPRESSÃO Gracal Gráfica e Editora TIRAGEM 2 mil exemplares

Seu Luiz, uma enciclopédia FOTO MÁRCIA LEAL

Listas, datas, nomes, fatos: ele é um arquivo vivo

Pupilo de Nelson Sylvan, Luiz Helvécio Peçanha aprendeu toda a história do Centro Operário e, também, a administrá-lo Felipe Américo Bezerra

Luiz Helvécio Peçanha chama a atenção de quem tem a oportunidade de prosear com ele. Do alto dos seus 80 anos, sua memória, que desafia o tempo, guarda acontecimentos e datas com exatidão.

Filho de ferroviário e professora primária, Seu Luiz – como é conhecido – nasceu em Cachoeiro de Itapemirim: morou primeiro no interior, no distrito de Soturno (onde o pai trabalhou, por 25 anos, como agente de estação), e depois na cidade, na avenida Pinheiro Junior. Estudou no Cristo Rei e na antiga Escola Técnica de Comércio.

“Em 1957, nos mudamos para

06

Vitória, que era um sonho de minha mãe. E, em 58, comecei a trabalhar na livraria Âncora. Em 65, o dono do estabelecimento resolveu abrir uma filial, mas tinha dúvida se seria em Colatina ou em Cachoeiro. Eu me identifiquei como filho de Cachoeiro e falei que, se quisesse abri-la em minha terra natal, eu viria pra cá, pra dirigi-la.

Em 28 de fevereiro de 1967, inauguramos aqui a filial da livraria, no edifício Primus, loja 4”.

Seu Luiz também conta como seu regresso o levou para o Centro Operário e de Proteção Mútua, cuja história ele passaria a propagar,

d e t a l h a d a m e n te , co m a m e s m a capacidade de rememorar os fatos de sua própria vida.

“Tive, como funcionário da livraria, o Ramon Carvalho, que é meu afilhado.

Seus pais, Adevalter Carvalho e Deuseli de Castro Carvalho, eram membros do Centro Operário. Seu Adevalter fazia parte da diretoria. Em 68, ele me convidou a participar de uma reunião e disse que, se eu gostasse, eu poderia permanecer. Fui, gostei e continuei”.

Depois, graças a Nelson Sylvan, a atuação de Seu Luiz à frente da entidade seria bem maior do que o então novo filiado poderia imaginar.

“Na eleição de 95, Seu Nelson me chamou pra ser vice-presidente dele.

Aceitei e fomos eleitos. E fui ficando, fui ficando. E Seu Nelson, já nos últimos anos de sua vida, já cansadinho, em 2007, 2008, ele sempre falava pra mim, fora das reuniões, olhando bem pra mim, ‘Luiz, senta aí. Ó, não deixa a peteca cair’, e dava aquela risadinha. Aí, eu fui mentalizando aquilo e achei que ele estava vendo em mim a pessoa que, caso um dia ele falecesse, poderia levar o Centro Operário adiante. Não que eu substituiria à altura Nelson Sylvan, que era uma pessoa fora de série, mas uma pessoa que pudesse colaborar e manter viva essa chama do Centro Operário”.

E assim se deu. Nelson faleceu em 24 de janeiro de 2009, e Seu Luiz, ao tomar as rédeas do Centro Operário, convocou uma assembleia, na quintafeira após a morte de Sylvan, na qual se decidiu que as novas eleições seriam no segundo domingo de dezembro, no mesmo ano – José Paineiras Filho foi, então, eleito presidente. “Enfim, já são

Capitão Deslandes, na rua dos bancos, onde, de um lado e de outro, tinha uns barracões dessa estrada de ferro”.

Com a sabedoria de um ancião e o entusiasmo de um menino, Seu Luiz continua a falar de Athanagildo.

“Um dia, sentado à tarde na porta dos barracões, ele assistiu, com indignação, à cena que deu origem ao Centro Operário: um operário sofrend o m a u s t r a to s d e u m p o l i c i a l .

Prontamente, levantou-se e se dirigiu à região do Guandu, antigamente chamada de Turuna, comprou uma folha de papel almaço, numa casa de s e co s e m o l h a d o s , e c r i o u u m a sociedade pra defender a classe operária, obtendo 31 assinaturas.

Depois da primeira reunião, vieram mais 70 pessoas, somando 101 membros, que são consideradas fundadoras do Centro Operário. Em outra assembleia, eles decidiram que deveria se chamar não só Centro Operário, mas Centro Operário e de Proteção Mútua, para envolver a parte social da instituição”.

10 anos que estou no cargo de primeiro vice-presidente administrativo”.

Com Seu Nelson, Seu Luiz não apenas aprendeu a administrar a instituição, mas, com igual paixão, a transmitir sua centenária trajetória.

SEU REGRESSO O LEVOU PARA O CENTRO OPERÁRIO, CUJA HISTÓRIA ELE PASSARIA A PROPAGAR, DETALHADAMENTE “Quando eu aqui entrei, fui, através dele, sabendo o que se passou lá atrás, como veio a ser fundado o Centro Operário. E ele me contou sobre Athanagildo Francisco Araújo, que era funcionário da estrada de ferro Caravelas, que foi inaugurada, aqui na porta do Centro Operário, em 16 de setembro de 1887; e que a estação era ali onde é, hoje, o palácio do prefeito, o Palácio Bernardino Monteiro; e que a estrada cortava o centro da cidade pela

CENTRO OPERÁRIO E DE PROTEÇÃO MÚTUA

DIRETORIA ATUAL DIRETORES COMISSÃO DE SINDICÂNCIA PRESIDENTE: ROGÉRIO LUIZ MACHADO 1º PRESIDENTE (ADMINISTRATIVO): LUIZ HELVÉCIO P. PEÇANHA 2º VICE PRESIDENTE: ABILIO AGOSTINHO TOZANI 1º SECRETÁRIO: JADER SILVA PEDROTTI 2º SECRETÁRIO: DEOVILNA MOZER JUNIOR 1º TESOUREIRO: LUIZ HELVÉCIO PINHEIRO PEÇANHA JUNIOR 2º TESOUREIRO: CLÓVIS DE ALMEIDA BIBLIOTECÁRIO: ELISEU PIMENTA ANSELMO DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS: JOSÉ PAINEIRAS FILHO CONSELHO FISCAL ELOÍSA SEMPRINI FERREIRA MARCELO SEMPRINI FERREIRA ARY EDUARDO T. RAMOS ÉZIO DOS SANTOS DEIJAYME TEIXEIRA VIANA

ADEMIR RODRIGUES AUSENCLEVER GAZONI ACRISIO LUIZ MONTEIRO DOMINGOS COCO HÉLIO BOLZAN COMISSÃO HOSPITALEIRA ANTONIA MARIA BALIANE JUSTO MARIA NEUSA A. ANSELMO ARLETE BRAGA NETO SELMA ALMEIDA RAMOS VERA LÚCIA MOREIRA VANTIL CELINA NOGUEIRA BOLZAN NEUZA FERREIRA LEITÃO

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O início O episódio que serviu de estopim para a criação do Centro Operário Lucas Schuina

Era um dia normal de trabalho em Cachoeiro de Itapemirim, no início do século XX: 1906. A cidade marchava com seus 22 mil habitantes. No Centro, a locomotiva da Estrada de Ferro Caravelas fazia a “roda viva” girar.

E m d a d o m o m e n to , o u v i u - s e barulho de confusão vindo de algum canto de rua. Um operário da Caravelas, de nome Paulo, havia se metido numa briga com um desafeto.

Nada de absolutamente incomum. No entanto, um soldado da polícia decidiu agir energicamente. Armado de um sabre, levou o operário a tapas e pontapés para a Cadeia Municipal, na frente de todos.

Os companheiros daquele traba-

lhador humilhado observaram a cena com silenciosa revolta. As violações cometidas contra a classe trabalhadora não eram novidade, mas a truculência do soldado parecia ter ultrapassado o limite do suportável.

Nos corações dos que assistiam, o grito de basta!

Fo i e n t ã o q u e d o i s h o m e n s , Alexandre Silva e um operário chamado Athanagildo Francisco de Araújo, tiveram a ideia de criar uma associação de proteção aos trabalhadores em Cachoeiro. Athanagildo, em especial, empregou as suas forças e saiu a campo com uma folha de papel almaço recolhendo assinaturas. Assim estava escrito no documento:

“’Associação de Proteção Mútua entre a Classe Operária’ – A classe operária do Cachoeiro de Itapemirim tem a necessidade de organisar uma Associação de Proteção Mútua entre todos aquelles que vivem de seu trabalho quotidiano e dos que por qualquer revez vivem ao desamparo da sorte”.

No dia 13 de janeiro de 1907, na casa de número 10 da rua Araújo Machado, de propriedade de Manoel Rodrigues Ribeiro, foi realizada a sessão de fundação da organização, com 31 membros. Estava criado o Centro Operário e de Proteção Mútua.

Foi mais ou menos assim que tudo começou...

FOTO ARQUIVO COPM

Membros fundadores reunidos em 1957, no Jubileu de Ouro da entidade

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Cobrador por gratidão Desde a década de 90, Jucimar faz questão de exercer a função confiada por Nelson Sylvan Felipe Américo Bezerra

FOTOS MÁRCIA LEAL

Cobrar de alguém nem sempre é tarefa das mais fáceis. Seja dinheiro, amor, a devolução daquele livro emprestado desde o mês retrasado ou, mesmo, atenção no WhatsApp...

Enquanto uns – por receio ou por qualquer outra razão que, francamente, não vem ao caso – chegam a fugir dessa responsa, outros preferem encará-la. E fazem disso, inclusive, seu ganha-pão. É o caso de Jucimar Luiz Amaro.

Morador do bairro Zumbi, em Cachoeiro de Itapemirim, ele tem 54 anos e é cobrador do Centro Operário e de Proteção Mútua há 25.

Sua incumbência é receber dos associados a taxa de anuidade (liquidada em cota única ou em duas parcelas semestrais), o que, até pouco tempo atrás, era feito a pé – só recentemente, de 2015 para cá, ele passou a contar com uma moto.

“Não é ruim, não. No início, eu não tinha muito conhecimento. Hoje, sou amigo de muitos sócios. Quando me veem na rua, eles falam ‘passa lá em casa, tal dia, pra eu te pagar’. Mas tem sócio que não gosta que eu cobro. Geralmente, são os mais velhos. Eles são mais ‘firmes’, ‘rigorosos’. Depois, fica tudo bem”.

Além dessa atividade, ele costuma ajudar o Seu Luiz, atual vice-presidente do Centro Operário, sempre que este o aciona. Em plena era de e-mails, Direct e Messenger, por exemplo, os convites formais para assembleias e solenidades festivas da instituição ainda são entregues via Jucimar.

Em algum momento dessas duas décadas e meia, ele – que, nas horas vagas, complementa sua renda com

alguns servicinhos por fora – poderia ter aberto mão de seu trabalho no Centro Operário, visto que chegou concluir dois cursos profissionalizantes: técnico em mineração e operador de empilhadeira.

“Eu sou muito grato ao saudoso Seu Nelson [Sylvan, presidente mais longevo da entidade]”. Por esse motivo especial, Jucimar preferiu permanecer em sua função de cobrador, até hoje.

Uma dívida eterna com Nelson Sylvan: pra ninguém ficar devendo na praça, o dever de Jucimar é passar recolhendo as anuidades

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FOTOS MÁRCIA LEAL

Ludymilla mostra álbum com algumas das fotos de seu acervo

Pela lente do amor A história do COPM contada nas fotos de Ludymilla Paineiras Felipe Américo Bezerra

Dos 112 anos de história do Centro Operário e de Proteção Mútua, os nove mais recentes são contados não só em palavras, mas também pelas lentes de Ludymilla Paineiras.

Aos 26 anos, já registrou a entidade em aproximadamente 10 mil fotos;

quatro mil já catalogadas. O pai dela é José Paineiras Filho, antecessor do atual presidente da instituição, Rogério Luiz Machado.

“Como diz uma música do Leoni, ‘o que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que havia’. Eu vejo esses laços

em todas essas fotos”.

Sua predileta foi feita numa das primeiras reuniões em que atuou como “fotógrafa oficial” (o grifo é dela, orgulhosa da função): retrata Seu Hélio Bolzan, um dos sócios mais antigos, abraçado à sua esposa.

“Essa expressa o amor que um sente pelo outro, mesmo depois de mais de 60 anos de casamento. Até hoje, os dois vão juntos para as reuniões”, conta.

JÁ REGISTROU A ENTIDADE EM APROXIMADAMENTE 10 MIL FOTOS Para ela, o local é, em si, a própria representação desse sentimento. “O Centro Operário conta histórias de amor, e isso o torna muito maior”.

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E ela relembra uma dessas histórias: Deusdedit Baptista, personalidade cachoeirense, foi presidente e orador do grupo. Inspirada pelo pai, é a advogada Moema Baptista, atualmente, a oradora oficial.

Ludymilla conhece bem as histórias

do Centro Operário. No início das reuniões, ocorre sempre uma breve retrospectiva, e é ela quem ilustra a explicação, apontando cada presidente nos quadros da parede.

Sobre a possibilidade de chegar à presidência do grupo, assim como o

velho Paineiras, admite que jamais cogitou, e nem é associada. “Um dia, quem sabe, eu me filio”, reflete. “Sou mesmo é a fotógrafa oficial, mas talvez eu faça parte da diretoria, no máximo”, confessa, com indisfarçável amor ao Centro Operário.

FOTOS LUDYMILLA PAINEIRAS

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Beneficência, educação e o papel das mulheres A participação feminina é preponderante nas atividades sociais da entidade FOTO ARQUIVO COPM

A professora Virginia Fermo, que deu aulas e até morou no Centro Operário, recebeu homenagem na década de 70

Lucas Schuina

O Centro Operário e de Proteção Mútua sempre se esforçou em manter um forte viés social. A oferta de educação pública teve início logo nos primeiros anos: em 1917, entrou em funcionamento na instituição a Escola Reunida Nossa Senhora da Penha, com as professoras Palmira Wanderley Ribeiro e Dona Joana Paula das Dores – os irmãos Newton e Rubem Braga estiveram entre os primeiros alunos; de 1922 a 1925, abrigou temporariamente o Colégio Pedro Palácios, que mais tarde se tornaria o Liceu Muniz Freire; e em 1967, o ensino básico oferecido no Centro Operário passou a ser de responsabilidade do Governo do Estado, e a escola ali se manteve, com denominações diversas, até 1998.

Também havia, e ainda há, a oferta de ensino profissionalizante ou voltado para habilidades específicas: o famoso curso de Corte e Costura foi iniciado em 1944 e mantido até meados dos anos 90; de 1944 a 1953, o Conservatório de Música de Cachoeiro

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de Itapemirim funcionou no prédio da instituição, ficando ali até 1953 – por volta desse período, ninguém menos que Roberto Carlos estudou no Conservatório; e desde 2013, é o Centro Cultural Nelson Sylvan, criado a partir de um comodato com a prefeitura de Cachoeiro, que oferece aulas de práticas artísticas diversas nas salas do COPM.

A COMISSÃO TEM SOMENTE MULHERES, MESMO SEM RESTRIÇÕES ESTATUTÁRIAS AOS HOMENS No que diz respeito às ações de caridade, destaca-se a criação, nos primórdios da instituição, de uma caixa beneficente, alimentada com contribuições voluntárias de sócios, para prestar auxílio financeiro aos mais necessitados. Parcerias com médicos – e, mais recentemente, com um plano de saúde – possibilitaram o acesso mais fácil a serviços de saúde

aos membros do COPM. A própria diretoria conta com uma Comissão Hospitaleira, composta por sócias responsáveis por acompanhar a situação de associados enfermos.

Em todas essas tarefas, é forte a participação feminina nas atividades do Centro Operário. A Comissão Hospitaleira é composta somente por mulheres, mesmo que não haja restrições estatutárias à participação dos homens. Entre profissionais de educação que mais atuaram no COPM, elas também se destacaram.

Entretanto, a presença feminina em cargos da diretoria é baixa: somente homens presidiram o Centro Operário em mais de um século em funcionamento.

Nas paredes do salão principal, existem apenas dois quadros com fotografias de mulheres – não por acaso, duas professoras: Maria Amélia Duarte e Virginia Fermo. Virginia, inclusive, morou nos fundos do prédio do Centro Operário por um período.

FOTO ARQUIVO MUNICIPAL DE CULTURA

As atividades do Centro Cultural Nelson Sylvan incluem oficinas, cursos e apresentações

Centro Cultural Entidade cede espaço a atividades artísticas articulista convidado Lucimar Costa

O Centro Cultural Nelson Sylvan surge em outubro de 2007, como um novo capítulo na história cultural do município de Cachoeiro de Itapemirim, por apresentar à sociedade um novo e s p a ço c u l t u r a l , d e m o c r á t i co e alternativo; um local apropriado para a cultura expor seu passado e seu presente; as formas de dispor as culturas material e imaterial, os processos de preservação e concepção do patrimônio público. Um espaço que promove, por meio de apresentações, oficinas, reuniões culturais, exposições temporárias de objetos, acervos e coleções, as relações sociais que os artistas e a sua cultura estabelecem entre si e com a memória, respeitando as diferentes culturas que influenciaram, e ainda influenciam, os cachoeirenses ao longo do tempo.

O Centro Cultural Nelson Sylvan é o espaço que abriga o Cineclube Jece Valadão, o Grupo ELA de Teatro e o Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim, através de um sonho artístico de Carlos Roberto de Souza e Lucimar Costa – responsáveis, respectivamente, pelas instituições culturais – e um grande expoente de nossa cultura, Nelson Sylvan, presidente por muitos anos do Centro Operário e de Proteção Mútua, que recebeu esta

homenagem cedendo o seu nome ao Centro Cultural. Em setembro de 2008, a Secretaria de Cultura e Turismo entra para a parceria do CCNS com o apoio na sua manutenção física e administração.

A cultura é o elemento formador de nossa identidade, e a atividade cultural é essencial para a transformação humana. Isso acarreta, consequentemente, o crescimento social e econômico de um município e de sua comunidade.

HOJE, O ESPAÇO OFERECE VÁRIAS OFICINAS CULTURAIS ATRAVÉS DO PROJETO NOVOS TALENTOS

Com o CCNS, temos um espaço de fácil acesso para realizações de projetos culturais, como aconteceu através do Ponto de Cultura “Escola de Teatro Darlene Glória”, que atendeu 1 6 0 j ove n s c a c h o e i r e n s e s , co m oficinas de teatro e dança oferecidas pela Associação Teatral de Cachoeiro (Asteca), projetos variados oferecidos pelo Grupo ELA de Teatro e pelo Cineclube Jece Valadão. Hoje, o

espaço oferece várias oficinas culturais através do Projeto Novos Talentos, da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult), além de receber projetos de vários artistas contemplados por editais da Lei Rubem Braga, de C a c h o e i r o , e d o Fu n c u l t u r a , d a Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES), fortalecendo, principalmente, a juventude e o surgimento de uma comunidade adulta e praticante da cultura de sua cidade e que esteja à espera de novos projetos de qualidade e de profissionalismo, sem precisar sair para outras cidades ou estados.

Ela, a cultura, potencializa a arte que existe nos indivíduos e nas comunidades, sendo, portanto, uma das estratégias de artistas ou do poder público para incrementar um processo de desenvolvimento fundamentado no ser humano e em suas capacidades criativas através de suas histórias e de sua vivência.

Em uma sociedade que carece de cultura, é importante que as artes que são produzidas sejam mantidas e fomentadas, de forma a promover um interesse artístico na população, como o habito de ir ao teatro, de ouvir boa música, de fazer artesanato e de apreciar obras literárias. Esse é o papel do Centro Cultural Nelson Sylvan.

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FOTOS MÁRCIA LEAL

Oficina e entidade se tornam novas famílias para Helio Bolzan

Guardião desse espírito de cooperação Trabalho, ambiente familiar e companheirismo: Helio Bolzan é a tradução do Centro Operário Stéfano Fabris

Fomos visitar o Seu Helio Bolzan no local de trabalho, no fim de seu expediente. A oficina fica no coração da Aristides Campos, e quem passa pela avenida nesse horário conhece o inevitável engarrafamento e aquele clima alaranjado de vida acontecendo,

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de ciclo pegando fôlego pro dia seguinte. Clima de por do sol.

Sem intenção, tal ambiente disse muito, tanto quanto a entrevista.

Bolzan nos recebe sereno e com um olhar que abraça. É dono e parece satisfeito em compartilhar o espaço,

que vem cheio de história, e com ela o respeito. Os funcionários memorizam as engrenagens da rotina do mestre como filhos agradecidos.

Consertar por ali é função de todos.

E é quase de tudo: pendurados feito samambaias, há roldana, motor,

bicicleta etc., no preparo para voltar ao batente, renovados.

Nas mãos dele, nada se perdia o valor com facilidade. Isso já na década de 50, quando recebeu convite para fazer parte do Centro Operário.

“Eu já trabalhava por minha conta, começando a oficina. Esse companheiro, que também trabalhava mexendo em máquina de escrever, então me convidou que eu entrasse, porque lá era irmandade. Foi por isso que eu fiquei”.

Além dos novos irmãos, Helio ganhou no COPM a companhia dos filhos, que foram participando gradativamente. A esposa é uma das mais ativas filiadas. “Está meio doentinha, mas está viva, firme e forte”, ele reafirma. A imagem dos

dois, bem juntinhos em uma das reuniões, está entre as preferidas da fotógrafa oficial da entidade.

HELIO GANHOU NA ENTIDADE A COMPANHIA DOS FILHOS, QUE FORAM PARTICIPANDO GRADATIVAMENTE. A ESPOSA É UMA DAS MAIS ATIVAS FILIADAS. No início da profissão, Bolzan consertava motores e máquinas de solda, por exemplo. Consertava também muitos geradores de força, para levar iluminação a fazendas da região. Praticamente em todo sábado tinha serviço no interior, com freguesia

fiel até hoje.

Como, em sua visão, quase tudo pode ser renovado, ele não faz segredo da profissão. “Sempre ensinei a todos o que eu faço, com muito amor. Se precisar de mim, já viu, né? É muito importante que se tenha quem queira ensinar. E tem a questão do desemprego hoje... As pessoas precisam aprender umas com as outras”.

Esse espírito de cooperação, de suporte e de passagem para a geração posterior move o Centro Operário e move Helio Bolzan. Podemos dizer até que ele é um guardião desse espírito.

“E peço a Deus que eu continue, até o fim, assim. Consegui na profissão cuidar da minha família toda. Minhas filhas todas formadas, meus filhos... e assim é a vida. Estou feliz”.

ESTA MATÉRIA É UMA HOMENAGEM AOS MAIS ANTIGOS ASSOCIADOS DO CENTRO OPERÁRIO

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Um por todos e todos por um Os primeiros anos do Centro Operário e de Proteção Mútua Lucas Schuina

As bases primordiais do Centro Operário e de Proteção podem ser lidas em um relatório de 1909: “A) Defender o associado de qualquer agressão ou perseguição injusta, intervendo a associação para sindicar dos acontecimentos. B) Intervir e agir no caso de espancamento brutal pela polícia; em tais casos, a associação agirá energicamente em defesa do

associado ou de qualquer infeliz, que sofrer tão desumana brutalidade. C) A associação tem por lema ‘um por todos e todos por um’ tendo em vista sempre a boa ordem e a boa razão”.

O Centro Operário foi criado em Cachoeiro com a mesma finalidade de outras organizações similares, surgidas no Brasil e no mundo, entre os séculos XVIII e XIX: oferecer aos associados

proteção básica em conflitos trabalhistas, auxílio financeiro e de saúde e assistência à família por morte do associado (pecúlio, caixão, velório). Ou seja, garantir seguridade social numa época em que muitos não tinham sequer dinheiro para enterrar os seus familiares.

Não foi a primeira tentativa de se fundar uma organização de trabalha-

FOTO ARQUIVO COPM

Familiares e integrantes do Centro Operário durante confraternização na década de 40

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dores em Cachoeiro. Segundo o pesquisador e escritor Evandro Moreira, o primeiro sindicato do município surgiu em 1894, e reunia tropeiros do sul do estado que demandavam melhorias nas estradas da região. Em 1905, foi criado o Centro

Operário de Mútuo Socorro, que não vingou.

O COPM, por sua vez, não só vingou como teve expansão rápida. Em 13 de janeiro de 1907, eram 31 membros. Na segunda sessão, três dias depois, o número subiu para 101. Em 31 de

FOTO ARQUIVO COPM

d e ze m b r o d e 1 9 1 0 , j á e s t av a m registrados 1.229 sócios, incluindo membros de delegações da organização criadas em Vitória e localidades interioranas.

Foi tamanha a procura, que o primeiro presidente, Orozimbo Souza, propôs uma revisão do estatuto ainda em 1907. Como o documento não impunha limites de idade, suscitava admissão de crianças e idosos em idade muito avançada no quadro de associados, tornando mais difícil manter o sistema de seguridade almejado.

O CENTRO OPERÁRIO TERIA SIDO O RESPONSÁVEL POR REALIZAR, NESSA ÉPOCA, O QUE PODE TER SIDO O PRIMEIRO DISSÍDIO TRABALHISTA EM CACHOEIRO

Primeira sede do Tiro de Guerra na cidade funcionou no prédio recém-inaugurado do Centro Operário, em 1914

O Centro Operário cresceu e ganhou prestígio social e político. Seu terceiro presidente foi o coronel Francisco de Carvalho Braga, patriarca da conhecida família Braga e primeiro prefeito eleito de Cachoeiro. Foi ele o responsável pela compra, em 1913, do terreno onde seria construída a sede da organização, na rua 25 de Março. O primeiro Cachoeirense Ausente Nº 1 da

Lei que reconhece a entidade como de utilidade pública, em 1921

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história, Heraclides Gonçalves, foi secretário e figura muito atuante do COPM. Consta também que Orozimbo Souza, que ocuparia a presidência em outros dois mandatos, era figura bem relacionada na cidade, tendo inclusive participado da diretoria do Caçadores Carnavalescos Clube.

Não por acaso, em 20 de junho de 1921, o então presidente da Câmara Municipal de Cachoeiro, Atílio Vivacqua, promulgou a Lei Nº 37, que reconheceu o Centro Operário e outras dez associações como de Utilidade Pública. O título dava a essas instituiçõ e s a l g u m a s v a n t a g e n s , co m o desconto em tarifa de água.

Como se nota, o COPM nunca se portou como um sindicato de classe.

Sempre teve, entre seus associados, tanto patrões quanto empregados.

Também nunca encampou lutas trabalhistas de forma direta: em 1908, um ano após a sua criação, estourou em Cachoeiro uma greve violenta de operários que trabalhavam na construção de um trecho de estrada de ferro, e que estavam sem receber salário há três meses - não há registros de que o COPM tenha atuado para intermediar o conflito.

Por outro lado, o Centro Operário teria sido o responsável por realizar, nessa época, o que pode ter sido o primeiro dissídio trabalhista em Cachoeiro: um trabalhador associado reclamou de salários atrasados no emprego e a organização intermediou

a negociação com o patrão, que reconheceu o débito e pagou o que devia.

O Centro Operário também sempre se pautou por ser uma instituição aberta ao debate dos assuntos de interesse da sociedade cachoeirense, algo bastante comum naqueles dias, e a acolher outras organizações. Em 1914, o primeiro Tiro de Guerra do município, que era então uma organização civil e militar, funcionou no prédio do COPM. E em 1917, começa a funcionar no COPM a Escola Reunida Nossa Senhora da Penha, com as professoras Palmira Wanderley Ribeiro e Dona Joana Paula das Dores. Entre os alunos, estavam os irmãos Newton e Rubem Braga.

DIVULGAÇÃO / MUSEU LÍNGUA PORTUGUESA

Rubem aborda questão em crônica na década de 40

Com ou sem o “e”? É Centro Operário de Proteção Mútua ou Centro Operário “e” de Proteção Mútua? Apesar de a segunda forma ter sido a que ficou, h á r e g i s t r o s d e d o c u m e n to s anteriores a 1910 em que o nome da instituição é grafado sem o “e”.

Na lei que reconhece a organização como de Utilidade Pública, o “e” também não está lá escrito, muito provavelmente por descuido. Pode parecer preciosismo, mas adicionar ou remover uma conjunção ao nome da entidade tem grande efeito sobre o seu sentido e suas atribuições. Quem melhor tratou do assunto foi Rubem Braga na crônica “Em Cachoeiro”, de 1946, que pode ser lida em uma placa na porta de entrada do COPM:

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“Abre-se uma janela do Centro Operário. Será a aula de dona Palmira em 1920 ou há reunião para discutir os estatutos? Durante toda a minha infância eles discutiram os estatutos. Eu não podia entender nada, mas havia pontos terrivelmente sérios. Era ‘Centro Operário de Proteção Mútua’ ou ‘Centro Operário e de Proteção Mútua?

Pela noite a fora, ano após ano, um mulato meio velho e magro, de óculos, o dedo em riste, a voz rascante, atacava com extraordinária ferocidade aquele E . Não conseguiu derrubá-lo; os operários talvez se sentissem fracos sozinhos, precisavam daquele E que os conjugava com outras camadas sociais. Ficou o E, meu pai foi

diretor, e quando morreu teve auxílio no enterro, tudo sem ser operário, tudo graças àquele E. Sem o E eu talvez não tivesse estudado ali, não me sentaria no comprido banco, onde o último à esquerda era o preto Bernardino e à direita o rosto lindo de Lélia, com seus cabelos doces e uma covinha quando sorria. Quando não estavam discutindo os estatutos, ou providenciando um enterro de sócio, com a bandeira do Centro em cima do caixão, os operários E todos os que queriam proteção mútua estavam dançando; sons de pistom atravessam meu sono infantil: eu achava estranho e ao mesmo tempo alegre e feliz haver baile na mesma sala onde eu tinha aulas”.

Centro Operário e de Proteção Mútua | Linha do tempo 1907 – A fundação ocorre em 13 de janeiro, no imóvel de Manoel Rodrigues Ribeiro (rua Araújo Machado, 10), tendo Athanagildo Francisco de Araújo como principal mentor. Estavam presentes na sessão 31 pessoas, mas já se contavam 101 sócios na sessão seguinte, em 16 de janeiro.

3 de fevereiro – Primeiro presidente eleito, Carlos Mendes renuncia ao cargo, dando lugar a Orozimbo Souza. Começam as discussões para a criação dos estatutos.

1º de maio – Centro Operário celebra o Dia do Trabalhador pela primeira vez.

30 de junho – O presidente Orozimbo Souza propõe deliberação sobre o que considera lacunas no estatuto, o qual, não impondo limites de idade, suscitava admissão de crianças e idosos em idade muito avançada no quadro de associados.

1910 – Ao fim do ano, o Centro contava mais de 1.229 sócios, com delegacias em Vitória e no interior do estado.

1913 – Centro Operário e de Proteção Mútua oficializa a compra, por 5 contos de réis, do terreno da rua 25 de Março onde se localiza até hoje a sua sede social. Na época, é presidida por Francisco de Carvalho Braga.

1914 – Primeiro Tiro de Guerra (TG – 389) de Cachoeiro funciona por um ano no prédio do Centro Operário.

1917 – Começa a funcionar no Centro Operário a Escola Reunida “Nossa Senhora da Penha”, com as professoras Palmira Wanderley Ribeiro e Dona Joana Paula das Dores. Os irmãos Newton e Rubem Braga estiveram entre os primeiros alunos.

1921 – O então presidente da Câmara Municipal de Cachoeiro, Atílio Vivacqua, promulga a Lei nº 37, de 20 de junho daquele ano, que reconhece o Centro Operário e de Proteção Mútua como “associação de utilidade pública”, junto a outras organizações e entidades do município.

1922 – Colégio Pedro Palácios, fundado por Augusto Estelita Lins, passa a funcionar no Centro Operário, permanecendo ali até 1925.

FOTOS ARQUIVO COPM

1942 – Heráclides Gonçalves, primeira pessoa a atuar como secretário do Centro Operário, é escolhido o primeiro Cachoeirense Ausente Nº 1 da história. Desde então, mantém-se a tradição de recepcionar, no prédio do COPM, os homenageados com o título.

1944 – Criação, em 27 de fevereiro, da biblioteca do Centro Operário, por iniciativa de Francisco Alves de Athayde, sendo inaugurada oficialmente em 29 de outubro.

1945 – Início das aulas do curso de Corte e Costura do Centro Operário, que se mantém até meados dos anos 90.

1947 – Conservatório de Música de Cachoeiro de Itapemirim passa a funcionar no prédio do Centro Operário, ficando ali até 1953. Durante esse período, Roberto Carlos estudou na instituição.

1957 – Celebrado o Jubileu de Ouro do Centro Operário e de Proteção Mútua, contando com a presença de sócios-fundadores.

1967 – Sala do Centro Operário é cedida para funcionamento de turmas do Ensino Primário da rede pública estadual.

1968 – Criado, em junho, uma escola estadual regional e auxiliar junto ao Centro Operário.

1969 – Nelson Sylvan toma posse na presidência do Centro Operário.

Tornou-se o mais longevo presidente da instituição: 40 anos.

1972 – Escola é denominada Grupo Escolar Centro Operário e de Proteção Mútua.

1975 – Em 9 de março, um grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA) passa a se reunir regularmente no Centro Operário. Os encontros são ali até hoje.

1979 – Unidade de ensino se torna Escola de 1º Grau “Centro Operário e de Proteção Mútua”

1996 – Sede do Centro Operário é tombada como Patrimônio Histórico Material, em resolução municipal de 23 de dezembro.

1998 – Encerramento das atividades da escola no Centro Operário.

2007 – Completa 100 anos de fundação.

2009 – Morre Nelson Sylvan, em 24 de janeiro.

2013 – Centro Cultural Nelson Sylvan começa a funcionar em salas do Centro Operário cedidas pela instituição, oferecendo aulas, encontros e oficinas de diversas atividades culturais.

2017 – Centro Operário e de Proteção Mútua completa 110 anos de fundação.

PARCERIAS

Márcia Leal: “Olha pra cá, isso! Sorriso lindoo!!”

Márcia é publicitária e fotógrafa. Há mais de 28 anos no mercado, destaca-se com seu carisma, sua alegria e sua paixão pela fotografia, sempre registrando com muita competência, eventos empresa-

riais e sociais, como casamentos e ensaios.

Em 2013, produziu para a prefeitura de Cachoeiro uma exposição fotográfica em homenagem ao Dia da Mulher. Em

2015, fez a exposição “Amor que m ove ” , d e n t r o d a c a m p a n h a Outubro Rosa, com a família de pacientes com câncer. E, em 2017, produziu para o Outubro Rosa daquele ano a exposição “Amor que une”, com pacientes de câncer e amigos. Também é autora das imagens do livro “Memórias de um B e n j a m i m” , s o b r e a v i d a d o empresário Benjamim Zampirolli, da Mineração Capixaba.

Atuou no mercado político, como assessora e fotógrafa, e em revistas de Cachoeiro. É de Márcia a fotografia que deu origem ao selo comemorativo dos 80 anos de Joacyr Pinto, fundador da revista Sete Dias.

“Sempre consagro meu olhar a Deus, para que, ao registrar um momento único, eu possa ver além da pessoa; que Ele veja sua essência por mim”.

Thiers Turini e Wagner Queiroz: o olhar voltado para a excelência Fotógrafo há oito anos, Thiers é especialista em casamentos e tem fotos premiadas. Começou na profissão por acaso. Em 2002, era designer e trabalhava com diagramação de álbuns. Foi a partir daí que o interesse pela fotografia foi despertado. Em 2010, resolveu seguir carreira solo – não mais como designer, mas como fotógrafo de casamento. Conta que, em 2015, após fazer “um workshop incrível”, apaixonou-se de vez pelo ofício. “Hoje, não consigo mais me ver sem a fotografia”.

Wagner é videomaker há 18 anos. Começou atuando na edição de vídeos em uma empresa do Rio de Janeiro. Após três anos, retornou para Cachoeiro e trabalhou em

Wagner (esq.) e Thiers

uma produtora, por oito anos, até sair e fazer uma parceria com Thiers no estúdio Maxmidia – que mais tarde se tornaria Studio Matri Photo Film. Por também ser músico, Wagner acredita que sua

proximidade com a arte lhe dê maior sensibilidade na produção dos vídeos.

Studio Matri Photo Film Rua Antonio Lopes, 01 Gilberto Machado | Cachoeiro 28 99915-2952 | 28 99986-6487

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FOTO ARQUIVO PAINEIRAS

Sylvan durante homenagem que recebeu da Câmara Municipal de Cachoeiro

O presidente dos presidentes Nelson Sylvan coordenou o Centro Operário por 40 anos Lucas Schuina

Nelson Sylvan costumava dizer, em tom bem-humorado, que só iriam deixá-lo sair da presidência do Centro Operário depois de morto. E assim se deu. Até 24 de janeiro de 2009, data de seu falecimento, manteve-se firme no

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cargo que ocupara por 40 anos ininterruptos. Ninguém ficou por tanto tempo à frente da instituição – e, muito provavelmente, ninguém repetirá tal feito.

Filho de Pedro Sylvan e Maria

Thereza Sylvan, nasceu em 10 de novembro de 1910. Morou quase toda a vida na rua 25 de Março, onde, na infância, costumava brincar com os rebentos da família Braga, seus vizinhos. De Newton e Rubem Braga,

foi também colega na Escola Nossa Senhora da Penha, a famosa escolinha da Professora Palmira, que funcionava no Centro Operário.

Trabalhou na Central de Força Elétrica (atual Escelsa) e foi sócio da Fermaco, uma loja de ferragens e materiais de construção. Associou-se ao Centro Operário em 1955, compondo a diretoria nos anos posteriores, até chegar à presidência em 1969. Após o término da ampliação do prédio do COPM no início da década de 70, passou a residir no apartamento construído na parte de cima. Até por esse aspecto, sua dedicação à organização era em tempo integral.

Tinha dotes artísticos. Atuou e escreveu pequenas peças teatrais junto à Troupe Galikokô, grupo teatral criado por seu sogro, Frederico Augusto Codeceira, que era bastante atuante em Cachoeiro na primeira metade do século XX. Foi também membro da Academia Cachoeirense de Letras (cadeira nº 36), reconhecido por

Estou contando os meus dias e eles vão, lentos, passando, cada minuto mais perto, o tempo se aproximando…

Em cima da minha cova quero a rosa com amor: como lembrança da trova, símbolo do trovador.

As horas passam sorrindo, no tic-tac indiferente; e os minutos consumindo a vida toda da gente…

Quando eu for lá para cima se você não for me ver, venho puxar sua perna pra você não me esquecer.”

“Despedidas”, de Nelson Sylvan

NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR, INCLUSIVE, ELE ABRIGAVA NA INSTITUIÇÃO OS “SUBVERSIVOS” DA CASA DO ESTUDANTE

FOTOS COLEÇÃO NELSON SYLVAN - CURADORIA HIGNER MANSUR

“Eu quero morrer sorrindo após a etapa vencida, sonhando o sonho mais lindo, de bem com o mundo e a vida.

Anauê!, saudação adotada pelos integralistas.

O núcleo integralista cachoeirense, que teve muitos adeptos (sobretudo na região do distrito de Burarama de colonização italiana), rivalizava com as agremiações esquerdistas. O clima era tenso. Em 1935, uma recepção a lideranças integralistas nacionais na então Estação Ferroviária resultou em tiroteio: duas pessoas morreram e outra ficou ferida. Nelson estava presente, e por aqueles dias se viu obrigado a evitar aglomerações.

escrever trovas bem-humoradas, algumas delas em homenagem a sua amada esposa Lucila, outras com temáticas que alguns classificam como “picantes”.

Em 20 de maio de 1934, Nelson realizou uma de suas maiores façanhas. Às 4h25, rumou de bicicleta para Campos dos Goytacazes com os amigos Pedro Sampaio, Darcy Marques e Murilo Freitas, onde chegaram após 19 horas de percurso. O recorde foi superado por eles próprios no dia 22, quando fizeram a viagem de volta a Cachoeiro em 16 horas.

Em se tratando de Nelson Sylvan, não é possível deixar de lado a faceta política. Filiou-se, em 1932, à Ação Integralista Brasileira, agremiação política de ideário ultranacionalista, corporativista e conservador, que tinha inspiração no nazifascismo europeu.

Ele era tão fiel ao integralismo que se casou vestindo a famosa camisa verde com o ícone da sigla, e costumava ensinar os filhos a fazer o gesto do

Numa entrevista para o jornalista Marco Antonio de Carvalho, registrada no livro “Memórias de Cachoeiro”, lançado em 2005, ele relatou as vivências daquele período e não renegou o ideário da juventude. “Fui o segundo cidadão cachoeirense a se filiar ao integralismo e permaneço integralista. Nosso programa era bonito, extraordinário. Nosso lema era ‘Deus, Pátria e Família’. Precisa dizer mais? Só daqui a 50 anos vão dar o justo valor à gente. Sou o último integralista de Cachoeiro”, disse.

Mesmo pessoas contrárias aos ideais políticos de Nelson Sylvan ressaltam que ele jamais misturou suas preferências pessoais com a atuação no Centro Operário. No período da Ditadura Militar, inclusive, ele abrigava na instituição os “subversivos” da Casa do Estudante e de outras agremiações, e a maior parte dos oradores oficiais da instituição teve perfil claramente esquerdista. O apoio à classe trabalhadora e o cuidado com os associados ficavam acima das divergências.

“Seu” Nelson, como era chamado, é, sobretudo, lembrado como um homem honesto, coerente, afável e brincalhão, que por quatro décadas fez do Centro Operário e de Proteção Mútua a sua missão de vida.

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1907 – Professor Carlos Mendes 1907-1911 – Capitão Orozimbo Souza 1912 – Carlos Pinheiro 1913-1915 – Coronel Francisco de Carvalho Braga 1916-1917 – Coronel Francisco Marques y Guardia 1918-1923 – Coronel Francisco de Carvalho Braga 1924-1926 – Tude Portugal Neves 1928 – Jerônimo de Carvalho Braga 1929-1930 – Randolfo Saturnino de Freitas 1931 – Luiz Buarque de Holanda C. Lins 1932-1934 – Capitão Orozimbo Souza 1935-1936 – Fernando Zipinotti 1937-1939 – Capitão Orozimbo Souza 1940-1941 – Randolfo Saturnino de Freitas 1942-1945 – Professor Deusdedit Baptista 1946 – Nelo Vola Borelli 1947-1948 – Aureo Valdino 1949 – Professor Deusdedit Baptista 1950 – Augusto Monteiro de Castro 1951-1960 – Lauro Viana 1961-1962 – Aureo Valdino 1963-1968 – Rubens Soares da Silva 1969-2009 – Nelson Sylvan 2010-2018 – José Paineiras Filho 2018-atualmente – Rogério Luiz Machado

Os presidentes do Centro Operário e de Proteção Mútua

O sócio número 1 A trajetória de Athanagildo Francisco de Araujo, idealizador do Centro Operário Lucas Schuina

Athanagildo Francisco de Araújo é quase sempre citado nos arquivos históricos como um simples operário que idealizou o Centro Operário e de Proteção Mútua de Cachoeiro após presenciar os maus tratos a um companheiro. Ainda hoje, seu nome consta como o de sócio número 1, e ele dá nome a uma comenda entregue de tempos em tempos aos membros mais antigos da entidade. Curiosamente, porém, jamais presidiu a organização

que ele próprio criou.

Os dados sobre a trajetória de Athanagildo não são totalmente conhecidos, mas consta que ele nasceu em 15 de maio de 1878, provavelmente e m C a c h o e i r o . Tr a b a l h o u co m o operário da estrada de ferro Caravelas, função que ocupava quando presenciou o ataque ao seu companheiro de trabalho. Tinha 29 anos quando o COPM foi fundado.

Em 1945, foi morar na cidade

FOTO ARQUIVO COPM

mineira de Conselheiro Pena, para trabalhar na Companhia Vale do Rio do Doce, fundada três anos antes, no governo Getúlio Vargas. Depois de se aposentar, mudou-se para Vitória.

Mesmo não voltando a morar em Cachoeiro, Athanagildo continuou a manter seus laços com a cidade e com o Centro Operário, participando de decisões da organização, ainda que à distância. Em uma carta datada de 26 de janeiro de 1944, dirigida ao então presidente do COPM, Professor Deusdedit Baptista, o sócio nº 1 faz um apelo para que a professora Virgínia Fermo, que dava aulas na escola do Centro, pudesse morar nos fundos do prédio, tendo em vista as dificuldades financeiras por ela enfrentadas naquele momento.

ERA OPERÁRIO DA ESTRADA DE FERRO CARAVELAS, FUNÇÃO QUE OCUPAVA QUANDO PRESENCIOU O ATAQUE AO SEU COMPANHEIRO DE TRABALHO

Athanagildo se mudou de Cachoeiro em 1945, mas manteve os laços com a entidade

“Não fiquei para propor pessoalmente por motivos de moléstia na família”, ressaltou em uma observação escrita no fim do texto.

No jubileu de ouro da organização, em 1957, ele também se fez presente junto aos demais membros fundadores, como demonstram os registros fotográficos da ocasião.

Athanagildo faleceu em 1971, aos 92 anos, no Rio de Janeiro, onde foi sepultado. Era já viúvo e não deixou descendentes. Ao contrário de outros membros históricos do COPM, ele não foi agraciado com um título honorífico que seria mais do que merecido: o de Cachoeirense Ausente Nº 1.

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A Era Vargas O Centro Operário e o reformismo autoritário da Revolução de 30 Lucas Schuina

Durante a pesquisa para a produção desta revista, foram encontrados poucos registros sobre a atuação direta do Centro Operário e de Proteção Mútua no primeiro período de Getúlio Vargas na presidência do Brasil (1930-1945). Mas, por se tratar de um período histórico de grande relevância, vale destacar alguns pontos:

- A Era Vargas deixou como legado conquistas importantes para os trabalhadores brasileiros, sobretudo com a promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943.

Entretanto, também ficou marcada pelo populismo autoritário de Getúlio.

As tropas da Revolução de 30, que depôs o então presidente Washington Luís e alçou Vargas ao poder, foram

recebidas com festa em Cachoeiro, mas diversos integrantes da elite local fugiram da cidade, por uns dias, assustados.

- A partir de 1930, os sindicatos começaram a tomar mais corpo no município, mas o Centro Operário continuava sendo a principal referência de organização de trabalhadores.

Também começaram a desembocar

FOTO ARQUIVO COPM

Entidade teve participação ativa na criação da Festa de Cachoeiro

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greves com maior frequência, mas ainda duramente reprimidas, tal como foi a famosa paralisação de ferroviários em 1908.

- Na prefeitura, celebrizou-se a

passagem de Fernando de Abreu, primeiro nomeado como interventor (1930-1933) e depois eleito para novo mandato (1937-1944), num pleito carregado de controvérsias. Abreu

FOTO ARQUIVO COPM

Um dos cursos surgidos nesse período foi o de Corte e Costura

A família Braga FOTO ACERVO FAMÍLIA BRAGA

A família Braga teve estreita relação com o Centro Operário.

Francisco de Carvalho Braga foi presidente em três ocasiões; os irmãos Newton e Rubem estudaram na primeira escola a funcionar no prédio da organização; e um o u t r o f i l h o d e C h i co B r a g a , Jerônimo Coelho Braga, também foi presidente em 1929, além de t e r a t u a d o co m o r e l a to r d a reforma nos estatutos ocorrida em 1930.

Os Braga tiveram uma relação ambivalente com o getulismo.

ficou reconhecido como um bom prefeito, mas também como uma figura autoritária e violenta, “um coronelzão”, como explicou Deusdedit Baptista, ex-presidente do COPM, em uma entrevista ao jornalista Marco Antônio de Carvalho. Deusdedit, aliás, era anti-getulista e acabou perdendo seu cargo de professor no Liceu Muniz Freire com a implantação do Estado Novo (1937-1945).

- Foi nesse período, também, que se começou a organizar a Festa Municipal de Cachoeiro, celebrada pela primeira vez em 1939, com Newton Braga como o principal idealizador. O professor Deusdedit e o primeiro presidente do Centro Operário, Orozimbo Souza, estiveram na comissão de organização.

- Em 1942, surgiu a honraria do Cachoeirense Ausente Nº 1. O primeiro escolhido, por indicação de Newton, foi Heráclides Pereira Gonçalves, que então morava no Rio de Janeiro, mas havia sido a primeira pessoa a ocupar o cargo de secretário do COPM. Desde então, os Cachoeirenses Ausentes Nº 1 do ano sempre são recepcionados no Centro Operário.

Sabe-se que Francisco Braga, que morreu em 1930, não simpatizava com Fernando de Abreu. Em um artigo no Correio do Sul, Newton, ainda morando em Belo Horizonte, c h a m o u o s r e s p o n s áve i s p e l a Revolução de 30 de “Cavaleiros do Apocalipse”. O próprio Correio do Sul, jornal fundado pela família e então considerado órgão oficial do Partido Republicano, foi fechado após a ascensão de Vargas ao poder.

Poucos anos depois, porém, o jornal foi reaberto com mudança editorial, e Armando Braga, outro dos filhos do Coronel Chico, acabou sendo nomeado para um cargo no governo estadual comandado por João Punaro Bley, o interventor de Getúlio no Espírito Santo.

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FOTO MÁRCIA LEAL

Professor aposentado, com três formações acadêmicas, atua como advogado e, ocasionalmente, como editor do jornal O Brado

Cria da casa Filiado há mais de três décadas na instituição, José Paineiras Filho, 65 anos, começou a frequentá-la na infância, levado pelo pai Felipe Américo Bezerra

O personagem entrevistado por esta edição recebeu, ao menos, três heranças definitivas de seu pai: os mesmos nome e sobrenome de batismo – José Paineiras – e, também, o laço afetivo com o Centro Operário e de Proteção Mútua.

José Paineiras Filho, de 65 anos, é filiado há 35 à instituição, a qual presidiu por oito – o mandato está com Rogério Luiz Machado desde 2018. Mas sua convivência na casa vem de antes; começou a frequentá-la na infância,

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levado pelo pai.

“Nasci no bairro Ferroviários, na rua Manoel Fonseca. Comecei a trabalhar aos oito anos de idade, como carregador de roupa, para as famílias do Dr. João de Deus Madureira e do promotor e professor Ailton Bermudes. Aos 13 anos, exatamente em janeiro de 1967, entrei na prefeitura, trabalhando como auxiliar de tipógrafo no jornal O Momento, que era, na época, do Departamento de Imprensa Oficial de Cachoeiro”.

Paineiras (o Filho) se formou em História, Ciências Sociais e Direito. É professor aposentado, mas advogado atuante e, ocasionalmente, editor do jornal O Brado. Mais do que tudo isso, vide bate-papo a seguir, ele é cria do Centro Operário, que conhece como poucos. Confira.

De pai pra filho O Centro Operário, nas décadas de 60, 70 e 80, era muito frequentado pela classe operária. Meu pai era operário

da prefeitura, e ele ia às reuniões do Centro Operário, que aconteciam no primeiro domingo do mês ou, às vezes, no último. E meu pai levava eu e meus irmãos (éramos seis filhos, ao todo), porque ele achava que era importante que nós, crianças, participássemos. Ao fim das reuniões, era servido um lanche, um café, com biscoito, pão, leite... E a gente, que era pobre, ia lá na expectativa do fim da reunião, pra participar daquele lanche gostoso.

Meu pai era sócio antigo, desde os anos 60. Em 1983, entrei como sócio do Centro Operário, onde estou até hoje.

De 2010 a 2018, fui presidente da instituição. Então, eu tenho uma vivência, uma intimidade e um amor muito grande pelo Centro Operário,

pela sua história, pelo que foi e é a instituição.

Veículo de comunicação Lembro dos embates. Quando tinha o aumento do salário-mínimo, era discutido ali, entre os trabalhadores, porque não tinha televisão na época. E rádio só tinha uma aqui, a Radio Cachoeiro. As notícias chegavam sempre atrasadas. Então, o Centro Operário era como se fosse um veículo de comunicação. Era ali que se sabia das notícias de Cachoeiro. E a cidade tinha pouco sindicato. Que eu me lembre, tinha o sindicato dos ferroviários, o sindicato dos trabalhadores da fábrica de tecidos de Cachoeiro e, se n ã o m e e n g a n o , o s i n d i c a to d a

construção civil. Eram só esses. Mas o atuante, mesmo, era o sindicato dos ferroviários, liderado por Batistinha. A classe trabalhadora, então, tinha suas decisões ali no Centro Operário. Era ali que saiam informados.

FOTO ARQUIVO PAINEIRAS

Esquerda e direita Também tinha a questão politica. O Centro Operário sempre foi um local misto, onde se reuniam pessoas com tendência mais de esquerda, socialista, e outras com tendência mais de direita, mais capitalista e, até, integralista. Eles tinham um debate franco e, ao fim, saíam todos amigos. Eu sempre dou o exemplo dos extremos: Deusdedit Baptista, Gilson Carone, Roberto Valadão e Aureo Valdino, de esquerda, e do outro lado Seu Nelson Sylvan, que foi presidente do Centro Operário por 40 anos e era assumidamente integralista. E todos eles conviviam muito bem.

Cursos gratuitos Na década de 80, funcionava no Centro Operário um curso de corte e costura. Nessa época, era comum as pessoas comprarem os cortes de pano e levarem para essas costureiras. E, ali, Dona Clemência, Dona Rute e outras costureiras desenvolviam esse trabalho. Também tinha o curso de datilografia, que era muito importante para um tempo em que não se tinha computador. Então, eram várias máquinas de escrever. Ali, era de graça.

Como os outros cursos que tinham em Cachoeiro eram pagos, as pessoas acorriam pro Centro Operário. Tinha, ainda, o curso de arte culinária. As moças iam pra ali e se formavam como cozinheiras.

Unegro e outros Sobre a questão do movimento negro, nós criamos em 1982 o Uninegro, União Cachoeirense de Negros, que existe até hoje. E foi no Centro Operário onde nós fizemos nossa primeira reunião. E, depois, várias reuniões, com participação de pessoas ilustres da sociedade capixaba. Veio o Joaquim Beato, que foi secretário de Educação e senador.

Também o Dr. Deusdedit Baptista, Seu Ubirajara Francisco, que era procura-

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FOTO MÁRCIA LEAL

a procura por essas questões no Centro Operário, embora a gente não tenha estabelecido, ainda, um departamento jurídico, acaba que os sócios atuais que são advogados dão orientação, mas, às vezes, não são especialistas. Então, há essa procura.

ALI SE REUNIAM PESSOAS COM TENDÊNCIA MAIS DE ESQUERDA, SOCIALISTA, E OUTRAS COM TENDÊNCIA MAIS DE DIREITA, MAIS CAPITALISTA E, ATÉ, INTEGRALISTA. ELES TINHAM UM DEBATE FRANCO E, AO FIM, SAÍAM TODOS AMIGOS.

Agora, com a reforma da previdência, também vai haver uma procura.

Inclusive, já tivemos um debate sobre esse tema, e faremos outros, porque é necessário que a classe trabalhadora se fortaleça. Porque, senão, a classe patronal é muito organizada, por causa do dinheiro que possui, especialmente as instituições financeiras. O peso deles, o lobby deles, junto ao Congresso, é fortíssimo. Então, o Centro Operário era um campo de debate e está voltando a ser esse campo de debate.

paineiras 3

dor do INSS de Cachoeiro. Nós chegamos trazer Benedita da Silva, que hoje é deputada federal. Ela participou conosco das primeiras reuniões. Mas não foi só o movimento negro. Na semana passada, mesmo, o Centro Operário recebeu uma reunião do PCdoB, como teve também, há poucos dias, uma reunião do partido Democratas. Todas as reuniões são realizadas no Centro Operário, que abarca uma divergência e convergência de pessoas interessadas em causas comunitárias, populares...

Campo de debate Hoje, a atuação do Centro Operário perdeu, um pouco, importância nesse sentido, porque foram criados tantos sindicatos (o Brasil, hoje, é um dos países que mais possui sindicatos) e alguns deles fazem trabalhos dignos para a classe trabalhadora, e outros servem de cabide de emprego para os chamados pelegos. Então, com essa mudança da obrigatoriedade do desconto na folha do trabalho, de um dia de trabalho, me parece que vai h ave r u m e n f r a q u e c i m e n to d o s sindicatos. Mas não é isso que deseja-

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mos. Eu, pelo menos, desejo que se fortaleçam cada vez mais os sindicatos dos trabalhadores, pra igualarem as forças com o sindicato patronal. Por exemplo: agora, no ano passado, teve uma mudança fortíssima na CLT, que passou despercebida, e os sindicatos não brigaram, não mostraram o seu poder. Quando um trabalhador entra na justiça reivindicando um direito, se por acaso o juiz entender, na sua decisão, que esse trabalhador não tem aquele direito que o advogado pediu, o trabalhador tem que pagar, hoje, os honorários de sucumbência. Mesmo que esse trabalhador entre com a assistência judiciária gratuita, que ele seja hipossuficiente, se ele perdeu a causa, se ele pediu, por exemplo, R$ 50 mil, o juiz deu R$ 10 mil. Então, ele perdeu R$ 40 mil. A parte perdedora, a parte reclamada, a parte patronal vai pagar os R$ 10 mil a esse trabalhador.

Porém, esse trabalhador terá de pagar 10% sobre os R$ 40 mil que não ganhou, com o honorário de sucumbência, ao advogado patronal. Quer dizer, isso não existia antes. Eu acho que os sindicatos pecaram em deixar isso passar. Eu quero dizer com isso que

...e de O nome ‘e de Proteção Mútua’ é porque, entre seus fundadores, havia pessoas que não eram operárias.

Então, para não ficar de fora, resolveram colocar esse nome. Durante muito tempo, o Centro Operário realiza esse trabalho de proteção mútua. Quando um dos sócios, até hoje isso, se encontra em dificuldade financeira, de alimento ou de remédio, nós temos a chamada comissão hospitaleira, que vai à casa da pessoa, vê sua necessidade e, sem fazer alarde, faz uma compra de cesta básica, dá uma pequena ajuda ou consegue angariar, com outras instituições beneficentes da cidade, alimentos ou remédios. E os familiares têm direito a um pecúlio, em caso de morte do titular.

A entidade e os Anos de Chumbo A atuação do Centro Operário em meio à tensão política durante a Ditadura Militar Lucas Schuina

No salão principal do Centro Operário, podem ser vistos ainda hoje quadros com fotos de dois dos presidentes brasileiros do período da Ditadura Militar (1964-1985): Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979). Relatos de

sócios dão conta de que os quadros foram colocados ali para tirar da entidade a pecha de organização subversiva.

Foi um período de tensão e medo.

Logo após o golpe de Estado de 1964, muitas lideranças políticas de

Cachoeiro foram presas ou chamadas a depor. O Centro Operário nunca se p o s i c i o n o u p o l i t i c a m e n te co m o i n s t i t u i ç ã o , m a s m u i to d e s e u s membros eram ligados a agremiações de esquerda, como o professor Deusdedit Baptista e o poeta Athayr

FOTOS ARQUIVO COPM

Noite de homenagens no Centro Operário, na década de 70, com a presença de militares

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Cagnin.

Por outro lado, em 1969, um ano após a promulgação do AI-5, assumiu a presidência do COPM Nelson Sylvan, que foi, até o fim da vida, um seguidor do integralismo, movimento político ultranacionalista e conser vador inspirado no nazifascismo europeu.

Mas Seu Nelson não atuou como colaborador do regime. Ao contrário, seguiu recrutando sócios para a organização, afinados com todo tipo

de vertentes políticas – ou não afinados com vertente nenhuma.

Inclusive, durante o período dos militares no poder, houve um estreitamente de laços entre o COPM e os militantes da Casa do Estudante.

Fundada em 1945, bem em frente a o Ce n t r o O p e r á r i o , a C a s a d o Estudante de Cachoeiro emulava a efervescência do movimento estudantil brasileiro iniciado nos 60. As duas entidades estabeleceram uma relação

de cooperação mútua. “Muitas vezes, nós emprestamos equipamentos de som para algum evento do Centro Operário”, relembra Roberto Valadão, ex-prefeito de Cachoeiro e militante estudantil, que assumiu a presidência da Casa do Estudante em 1968.

Valadão também se tornou sócio do Centro Operário a convite do próprio Nelson Sylvan, que foi seu patrão na empresa Fermaco. O exprefeito conta como era o clima das reuniões naquela época. “O Centro Operário, como instituição, não tinha posição política, mas, nos encontros, falava-se de tudo a respeito de direitos trabalhistas, o que contrariava a d i t a d u r a . E r a m u i to co m u m te r informante dos militares acompanhando as reuniões, mas a maioria das pessoas nem notava. Nós, estudantes, é que tínhamos olho clínico para esse tipo de coisa”, afirma.

NÃO TINHA POSIÇÃO POLÍTICA, MAS NOS ENCONTROS FALAVAM DE TUDO A RESPEITO DE DIREITOS TRABALHISTAS, O QUE CONTRARIAVA A DITADURA

Expansão do prédio Entre o fim da década de 60 e início dos anos 70, o prédio do Centro Operário recebeu uma ampliação. Nessa intervenção, foram criadas salas com divisórias (já que, até então, era tudo uma grande sala), foi construído o atual salão

principal e um apartamento na parte de cima para servir de moradia aos presidentes e vicepresidentes. Nelson Sylvan e sua esposa viveram ali até o falecimento. Ele, em 2009, e ela, dois anos depois.

Atualmente, o imóvel é ocupado por Luiz Helvécio Peçanha, vice-presidente e administrador do COPM.

José Paineiras Filho, que presidiu o Centro Operário por oito anos (logo após a morte de Nelson Sylvan), começou a participar da entidade nos 70 por influência do pai, e também relembra das reuniões durante a ditadura. Ele destaca que, apesar de tudo, a organização era aberta a todas as vertentes, inclusive militares, e as reuniões, essenciais para acompanhar os assuntos de interesse dos trabalhadores.

“Meu pai achava importante a gente acompanhar os assuntos dos trabalhadores. A gente ficava sabendo de reajustes no salário-mínimo pelo Centro Operário, porque não tinha televisão; Cachoeiro só tinha uma rádio. Então o Centro Operário fazia esse papel de ser o veículo de comunicação”, afirma Paineiras.

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Os novos tempos O papel do Centro Operário nos dias atuais Lucas Schuina

Muita coisa mudou desde 1907. O Brasil alcançou a redemocratização em 1985. Atualmente, cada classe possui seu próprio sindicato; há uma Justiça do Trabalho para zelar pelos direitos dos trabalhadores e resolver os conflitos entre patrões e empregados; e temos previdência pública e seguradoras privadas, com a função de garantir aposentadoria e benefícios sociais - conquistas importantes, ainda que sempre em disputa, com todo um sistema de proteção social que antes ficava na incumbência de organizações como o Centro Operário e de Proteção Mútua.

Com isso, naturalmente, a instituição deixou de ter a importância que teve no século XX. Há dificuldade de

atrair novos associados, mesmo que o valor a ser pago seja ínfimo: R$ 110 anuais, que podem ser pagos em duas parcelas de R$ 55 ou em mensalidades de R$ 9,90. Não à toa, cerca de 60% dos sócios atuais têm mais de 50 anos.

GUARDANDO A MEMÓRIA DAS LUTAS DOS TRABALHADORES CACHOEIRENSES

Em grande medida, porém, o fato de não haver renovação entre os sócios é motivo de comemoração. Afinal, o COPM cumpriu o seu papel. É a vez das novas formas de organização das novas

gerações encaparem a luta.

De todo modo, o ex-presidente e atual orador oficial do Centro Operário, José Paineiras Filho, lembra que o salão da instituição ainda recebe continuamente reuniões de outras agremiações, sobretudo sindicatos – e muitas das vitórias em reivindicações desses sindicatos começaram a se desenhar nesses encontros no COPM. Seja apenas simbolicamente, seja de forma mais direta, o Centro Operário e de Proteção Mútua se mantém na ativa há mais de um século, guardando a memória das lutas dos trabalhadores cachoeirenses e transmitindo seu legado às próximas gerações. Que venham os próximos 100 anos!

FOTO GILBERTO AFONSO

Os membros atuais, em 2019, em frente à sede, na rua 25 de Março

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