CONTROLE SOCIAL E CONSELHO ESTADUAL DE

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classificada de neoliberal, a política de ajuste econômico e social, com ramificações por todo o planeta, é o pano de fundo da diminuição do ímpeto do fluxo movimentista das décadas de 1970 e 1980 e do direcionamento para os espaços institucionais de gestão da política, inclusive as conquistas eleitorais de governos municipais, estaduais e federal. No prefácio àquela obra de Sader (1995), Marilena Chauí (1995) apresenta argumentos sobre o que ocorre no Brasil, o que pode ser considerado como corroboração da tese do historiador Moses Finley, de que o sucesso das democracias modernas tem como causa a apatia política dos cidadãos. Isto pode ser entendido como fetiche democrático exercido pelo apelo (e apego) à ordem legal da “constituição cidadã” do Brasil, de 5 de Outubro de 1988. Certamente, deve-se caracterizar esse descenso dos movimentos sociais populares como um esvaziamento por dentro do fluxo movimentista, como, mais uma vez curiosamente, referenciado naquele prefácio: “o novo sujeito é social [...] embora coletivo, não se apresenta como portador da universalidade definida” (Chauí: 1995, 10), malgrado a formulação (e formalização) de um arcabouço constitucional de direitos humanos, sob inspiração e pressão dos movimentos sociais oriundos daquelas três matrizes discursivas apresentadas por Sader. Essa involução dos movimentos sociais populares é assinalada por Gabriel de Santis Feltran (2005), em seu livro “Desvelar a Política na Periferia: histórias de movimentos sociais em São Paulo”, na década de 1990, coincidentemente o mesmo período de implantação do Plano Real, apontado como a principal causa da segunda derrota eleitoral do líder popular Luís Inácio Lula da Silva, nas eleições para presidente do Brasil, em 1994. Feltran ressalta o desmanche do fluxo movimentista e nega o “pretenso progresso que se vê nas mudanças das lutas movimentista em direção a uma lógica menos conflitiva e mais ligada à gestão” (Feltran: 2005, 334). De certo modo, Feltran desvela a corrida de lideranças dos movimentos sociais populares em busca de cursos de capacitação técnica, de planejamento estratégico, elaboração de projetos, geração de emprego e renda, captação de recursos, entre outros. Seguramente pode-se conjecturar que esse direcionamento (ou guinada) dos movimentos sociais populares, principalmente a partir de suas lideranças (o que por si só pode se configurar uma capitulação ao status quo), ocorra sem o fluxo das ações reivindicatórias mais visceralmente gestadas naquela esfera da reprodução humana. Positivamente, o encolhimento dos espaços políticos pode ser entendido como uma estratégia para se antecipar a irrupção de uma crise mais radical e suas conseqüências


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