Uma exposição artística ocorrida no Salão Negro do Palácio do Congresso Nacional
De 24 de abril a 06 de junho de 2025
Visitação: 9h às 17h.
An artistic exhibition held at the Black Room of the National Congress Palace
From April 24th to June 6th
Visiting hours: 9 a.m. to 5 p.m.
J. Borges Poesia e Arte (2025 : Brasília, DF)
J. Borges [recurso eletrônico] : Poesia e Arte / J. Borges ; curadoria :
Romildo Gastão = J. Borges : poetry and art / J. Borges ; curator: Romildo
Gastão. – Brasília : Câmara dos Deputados, Centro Cultural, 2025.
Título aparece no item como: O Centro Cultural Câmara dos Deputados
apresenta a exposição J. Borges: Poesia e Arte.
Catálogo da exposição realizada no Salão Negro do Palácio do Congresso
Nacional, de 24 de abril a 6 de junho de 2025.
Versão e-book
Modo de acesso: bd.camara.leg.br
Disponível, também, em formato impresso.
ISBN 978-85-402-1151-3
1. Arte popular, exposição, Brasil, catálogo. 2. Literatura de cordel, Brasil. 3. Xilogravura, Brasil. I. Borges, José Francisco, 1935-2024. II. Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Centro Cultural. III. Título. IV. Título: J. Borges : Poetry and Art.
CDU 7.067.26(81)
Bibliotecária: Fabyola Lima Madeira – CRB1: 2109
O Centro Cultural Câmara dos Deputados é responsável pela preservação do acervo museológico da Câmara dos Deputados e pela realização das ações culturais que ocorrem na instituição, como exposições artísticas e históricas e eventos literários.
Além de promover as culturas regionais e a produção artística contemporânea nacional, o Centro Cultural atua na preservação da memória da instituição e na história do Poder Legislativo. Idealizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o Palácio do Congresso Nacional abriga obras de artistas brasileiros renomados da segunda metade do século xx, como Di Cavalcanti, Athos Bulcão e Marianne Peretti.
Com o intuito de viabilizar a diversidade e a qualidade das exposições realizadas pelo Centro Cultural, todos os anos promovemos um edital público para a seleção das mostras artísticas e históricas que ocuparão, no ano subsequente, os espaços destinados aos eventos culturais. As propostas apresentadas são avaliadas por uma Comissão Curadora e, desta forma, o Centro Cultural proporciona a artistas e curadores de todo o Brasil a oportunidade de apresentar seus trabalhos em áreas da Câmara dos Deputados onde há grande circulação de visitantes de diversas partes do país, propiciando o exercício e a promoção da cultura e da cidadania.
The Cultural Center of the Chamber of Deputies is responsible for preserving the Chamber’s museological collection and organizing the cultural activities that take place within the institution, such as artistic and historical exhibitions and literary events.
In addition to promoting regional cultures and contemporary national artistic production, the Cultural Center plays a key role in preserving the institution’s memory and the history of the Legislative Branch. Designed by architect Oscar Niemeyer, the National Congress Palace houses works by renowned Brazilian artists from the second half of the 20th century, such as Di Cavalcanti, Athos Bulcão, and Marianne Peretti.
To ensure the diversity and quality of the exhibitions held by the Cultural Center, we launch an annual public call for proposals to select the artistic and historical exhibitions that will occupy the cultural event spaces in the following year. All submissions are evaluated by a Curatorial Committee, giving artists and curators from across Brazil the opportunity to showcase their work in high-traffic areas of the Chamber of Deputies visited by people from all over the country—fostering the promotion of culture and citizenship.
Foto: Acervo do Memorial J. Borges
Photo from the J. Borges Memorial archive
*Natural de Pernambuco e radicado em Brasília-DF, Romildo Gastão atua como curador e produtor artístico desde 2015, tendo realizado exposições como “Acercamientos”, mostra colateral da 12ª Bienal de Havana (2015, Cuba); “Viva a arte cubana viva” (Brasil, 2015); a participação de Cuba na Bienal do Sesc-DF (2016, Brasil) e na mostra “Horizontes da arte na América Latina e Caribe”, no CCBB-DF (2016, Brasil); além de “Sobras – panos, lixo, que inundam os quatro cantos do mundo”, do artista Marcelino Cruz (Cuba, 2023). Atualmente, é curador do Projeto J. Borges, com exposições no Salão Negro do Congresso Nacional e na mostra comemorativa da participação de Brasília na colateral da 12ª Bienal de Havana, “Cuba +10”, realizada no Instituto Cervantes de Brasília.
*Originally from Pernambuco and based in Brasília-DF, Romildo Gastão has worked as a curator and artistic producer since 2015. He has organized exhibitions such as Acercamientos, a collateral show of the 12ª Bienal de Havana (2015, Cuba); Viva a arte cubana viva (Brazil, 2015); Cuba’s participation in the Bienal do Sesc-DF (2016, Brazil); and Horizontes da arte na América Latina e Caribe at CCBB-DF (2016, Brazil). He also curated Sobras – panos, lixo, que inundam os quatro cantos do mundo by artist Marcelino Cruz (Cuba, 2023). Currently, he serves as curator of the Projeto J. Borges, with exhibitions at the Salão Negro do Congresso Nacional and the commemorative show of Brasília’s participation in the collateral program of the 12ª Bienal de Havana, Cuba +10, held at the Instituto Cervantes de Brasília.
J. Borges: Poesia e Arte J. Borges: Poetry and Art
Romildo Gastão*
A ideia de uma exposição individual de J. Borges em Brasília surgiu no começo de 2024, como uma modesta homenagem ao artista, que sempre nutriu uma relação afetiva com a cidade. Nas entrevistas, ele costumava falar de Brasília com emoção, lembrando de uma das cidades que mais vendia seus cordéis e xilogravuras. Sempre disse que vendia bem em Brasília.
O projeto das exposições começou a ser discutido com o artista. A ideia inicial era a de realizar a exposição no pequeno Espaço do Servidor da Câmara dos Deputados, por um período de 30 dias. Por sugestão da direção do Centro Cultural da Câmara dos Deputados, considerando a relevância artística e cultural da obra de J. Borges, a exposição foi realocada para o importante Salão Negro do Congresso Nacional, com duração de 2 meses. O evento ganha ainda mais importância por ser a primeira mostra individual em um espaço público desde o falecimento do artista, ocorrido em julho de 2024, aos 88 anos de idade.
In early 2024, there had already been some discussion about the possibility of a solo exhibition of J. Borges in Brasília, as a tribute to the artist who had always maintained a deep emotional connection with the city. In interviews, he would speak of Brasília with great fondness, remembering it as one of the places where his cordel literature and woodcuts sold well.
The exhibition project began to be discussed with the artist. The first idea was to hold the exhibition in the small Servidor Space at the Chamber of Deputies for a period of 30 days. However, at the suggestion of the Cultural Center management at the Chamber of Deputies – recognizing the artistic and cultural
significance of J. Borges’s work – the exhibition was moved to the prestigious Black Hall of the National Congress, with a duration of two months. The event gained additional significance as the first solo exhibition in a public space since the artist’s passing in July 2024 at the age of 88.
But why the title J. Borges: Poesia e Arte [J. Borges: Poetry and Art]? J. Borges began his artistic journey with cordel literature. Poetry was always the essence of his work. The woodblock prints came later, specifically to illustrate the covers of his cordel booklets. Later still, encouraged by fellow artists, he ventured into the world of standalone woodcuts and began to sell them.
Mas por que o título “J. Borges: Poesia e Arte”? J. Borges iniciou sua carreira artística com literatura de cordel. A essência de sua obra sempre foi a poesia. As matrizes surgiram depois, justamente para ilustrar as capas dos seus livrinhos de cordel. Mais tarde, por sugestão de artistas, ele ingressou no universo das xilogravuras e passou a comercializá-las.
A primeira ideia seria a de uma exposição mais discreta, composta a partir do meu acervo pessoal de 22 peças de matrizes, algumas xilogravuras e 22 cordéis. Mas, devido à sua ampliação, fez-se necessário buscar trabalhos de J. Borges com colecionadores e com o próprio Memorial J. Borges. Após a morte do artista, a exposição adquiriu outra dimensão, por várias razões, principalmente pela dificuldade de se encontrar as obras que satisfizessem as ideias curatoriais, posto que estão cada vez mais escassas no mercado. Nosso desafio foi construir os núcleos temáticos que contemplam o imaginário artístico de sua obra, como religião, família, fábulas, crendices e tradições do povo nordestino, bem como a fauna e a flora.
É difícil, senão impossível, realizar uma exposição de J. Borges com homogeneidade conceitual. Como artista autodidata, Borges não seguia um método específico em seu processo criativo. Sua produção, que também explora os sentimentos do ser humano e seu dia a dia, foi aperfeiçoada ao longo de 60 anos de intensa atividade laboral, resultando em mais de 1.600 obras. A exposição, dessa forma, é composta por aproximadamente 65 obras, incluindo folhetos de cordel, xilogravuras em preto e branco e coloridas, além de matrizes, abrangendo temas variados, como a condição humana, os costumes do povo, os animais e o meio ambiente. Sendo assim, nosso objetivo não é apenas apresentar um panorama da sua produção artística ao longo das diversas fases de sua carreira, proporcionando uma imersão no mundo imagético “jotaborgeano”, mas também enfatizar a importância de um artista de renome internacional, mas genuinamente popular brasileiro, cujas obras espelham o que há de mais legítimo na tradição social, econômica e cultural nordestina. As obras expostas evocam um olhar íntimo, de vivência pessoal e amorosa, que se transfigura em universalidade.
Sobre J. Borges
J. Borges, ou José Francisco Borges, foi um renomado artista popular brasileiro, famoso por seu trabalho como cordelista e xilogravador. Nascido em 20 de dezembro de 1935, em Bezerros, Pernambuco, ele é considerado um dos grandes mestres da
The initial exhibition concept was modest, drawing from my personal collection of 22 woodblock pieces, some prints, and 22 cordel booklets. As the exhibition grew in scope, however, we needed to source additional works from collectors and the J. Borges Memorial itself. After the artist’s death, the exhibition took on new dimensions for several reasons, primarily due to the challenge of finding pieces that would fulfill our curatorial vision, as works are becoming increasingly rare in the market. It was a challenge for us to construct thematic sections that would convey the artistic imagination within his work, encompassing themes such as religion, family, fables, beliefs and traditions of the northeastern people, as well as the region’s flora and fauna.
It is difficult, if not impossible, to create an exhibition of J. Borges’s work with complete conceptual coherence. As a self-taught artist, Borges didn’t follow a specific method in his creative process. His work, which also explores human emotions and daily life, was perfected throughout the course of more than 60 years of intense activity, resulting in more than 1,600 works. The exhibition features approximately 65 works, including cordel booklets, black-and-white and colored woodcut prints, and woodblocks, covering various themes such as the human condition, the customs of the people, animals, and the environment. Thus, our goal is not merely to present an overview of his artistic production throughout the various phases of his career, immersing viewers in the “J. Borgean” visual world, but also to emphasize the importance of an internationally renowned artist who remained
genuinely Brazilian and popular, whose works reflect what is most authentic in the social, economic, and cultural tradition of the Brazilian Northeast. The works featured in this show evoke an intimate perspective, one of personal and loving experience, which is transfigured into universality.
About J. Borges
J. Borges, or José Francisco Borges, was a renowned Brazilian folk artist, celebrated for his work as a writer of cordel literature and a woodcut artist. Born on December 20, 1935, in Bezerros, Pernambuco, he is considered one of the great masters of woodcut art in Brazil. According to collector, researcher, and cordel writer Jeová Franklin, J. Borges is the most important popular graphic artist in Brazilian culture and the most well-known internationally.
Born into a large family of modest means, he spent his entire life in Bezerros, which is now home to the J. Borges Memorial. In his creations, J. Borges drew inspiration from events he saw or heard about, as well as fables and legends that are part of the northeastern popular culture and imagination. Borges initially began to work in woodcut as a means of illustrating his cordel stories, whose intriguing titles became a common topic of conversation in homes, on streets, and at workplaces.
Some notable examples include Exemplo do filho que matou os pais para ficar com a aposentadoria [The Example of the Son Who Killed His Parents to Keep Their Pension], O homem que vendeu a
“A chegada da prostituta no céu”, sem data
Matriz
55 x 37 cm
“A chegada da prostituta no céu” [“The Arrival of the Prostitute in Heaven”], undated
Woodblock
55 × 37 cm
Impressão em xilogravura
68 x 50 cm
“A chegada da prostituta no céu”, 2019.
“A chegada da prostituta no céu” [“The Arrival of the Prostitute in Heaven”], 2019
Woodcut print
68 × 50 cm
xilogravura no Brasil. Para o colecionador, pesquisador e cordelista Jeová Franklin, J. Borges é o mais importante artista gráfico popular da cultura brasileira e o mais conhecido internacionalmente.
Nascido em uma numerosa e humilde família, passou toda a sua vida em Bezerros, cidade onde atualmente está localizado o Memorial J. Borges. Para suas criações, J. Borges inspirava-se não apenas nos fatos ocorridos, vistos e contados, mas também em fábulas e lendas que fazem parte do imaginário e da cultura popular do Nordeste. No começo, Borges trabalhava como xilogravador para ilustrar suas histórias de cordel, que chamavam a atenção do público com títulos curiosos, frequentemente mencionados nas conversas em casa, na rua e no trabalho, como: Exemplo do filho que matou os pais para ficar com a aposentadoria, O homem que vendeu a mulher para jogar na Mega-Sena, Uma festa em casa de corno, A vida secreta da mulher feia, História do contador de mentiras, A moça que dançou depois de morta, A filosofia do peido, A chegada da prostituta no céu, entre outros. Também produziu cordéis educativos, como os intitulados Como evitar a Aids e Conselhos de Frei Damião em favor da humanidade.
Algumas das xilogravuras que fazem parte da exposição têm grande relevância na carreira de J. Borges. D’A chegada da prostituta no céu , a obra mais vendida até hoje, a mostra apresenta a matriz, a xilogravura e o cordel, além d’O monstro do sertão, considerada a obra de maior valor poético, inclusive sendo elogiada e aplaudida pela crítica e classificada pelo mestre Ariano Suassuna como a melhor obra de J. Borges.
Além de influenciar diversas gerações de gravadores no Brasil e no mundo, J. Borges ilustrou obras de importantes escritores internacionais, como O lagarto, de José Saramago, Palavras andantes, de Eduardo Galeano, clássicos infantis dos Irmãos Grimm, com o título Contos maravilhosos infantis e domésticos. Em 2017, também ilustrou o livro de Ariano Suassuna, Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores. Suas xilos ilustram o volume 1, intitulado “O Jumento Sedutor”.
Apreciar as xilogravuras do mestre J. Borges é, antes de tudo, descobrir/redescobrir um Brasil autêntico, profundo e encantador.
mulher para jogar na Mega-Sena [The Man Who Sold His Wife to Buy Lottery Tickets], Uma festa em casa de corno [A Party at a Cuckold’s House], A vida secreta da mulher feia [The Secret Life of the Ugly Woman], História do contador de mentiras [Story of the Lying Accountant], A moça que dançou depois de morta [The Girl Who Danced After Death], A filosofia do peido [The Philosophy of Farting], and A chegada da prostituta no céu [The Prostitute’s Arrival in Heaven], among others. He also produced educational cordel literature, such as Como evitar a Aids [How to Avoid AIDS] and Conselhos de Frei Damião em favor da humanidade [Friar Damião’s Advice for Humanity].
Some of the woodcuts featured in the exhibition are highly significant in J. Borges’s career. For A chegada da prostituta no céu, his best-selling work to date, the exhibition presents the woodblock, the woodcut, and the cordel booklet. The exhibition also features his critically acclaimed masterpiece O monstro do sertão [The Monster of the Sertão], widely considered his most poetic work and hailed by master Ariano Suassuna as J. Borges’s finest work.
Beyond influencing several generations of printmakers in Brazil and worldwide, J. Borges illustrated works by important international writers. These included O lagarto [The Lizard] by José Saramago, Palavras andantes [Walking Words] by Eduardo Galeano, and classic children’s tales by the Brothers Grimm, published under the title Contos maravilhosos infantis e domésticos [Wonderful Children’s and Household Tales]. In 2017, he also illustrated Ariano
Suassuna’s book Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores [Novel about Dom Pantero on the Stage of Sinners]. His woodcuts illustrate Volume 1, titled “O jumento sedutor” [The Seducing Donkey].
To appreciate the woodcuts of master printmaker and cordel novelist J. Borges is, above all, to discover – or rediscover – an authentic, profound, and enchanting Brazil.
“A chegada da prostituta no céu”
Cordel
“A chegada da prostituta no céu”
[The Prostitute’s Arrival in Heaven]
Cordel booklet
Consagrados
Acclaimed
Works
J. Borges ficou conhecido não só pela sua habilidade em traduzir a essência e o imaginário do povo nordestino em uma linguagem simples, acessível e envolvente, como também pela sua capacidade de síntese, pois conseguia dar vida à narrativas complexas em uma única lâmina de xilogravura. Essas histórias, algumas inventadas e outras reinventadas por ele, ganharam versões tanto em formato de poesia de cordel, quanto em xilogravura. Alguns desses trabalhos ganharam destaque, sobretudo entre os críticos e os apreciadores da arte popular, sendo amplamente reproduzidos e comercializados pelo artista.
J. Borges became known not only for his ability to convey the essence and imagination of the Northeastern Brazilian people in a simple, accessible, and captivating language, but also for his remarkable knack for bringing complex narratives to life in a single woodcut print. Many of these stories – some of which he invented, and others he
reworked from tradition – were given form by Borges as both cordel poetry and woodcuts. Various pieces became iconic among critics and admirers of popular art, and were widely reproduced and sold by the artist.
“O monstro do sertão”, sem data
Matriz
55 x 35 x 2 cm
“O monstro do sertão” [The Monster of the Sertão]
Woodblock
55 × 35 × 2 cm
“O monstro do sertão”, 2014.
Impressão em xilogravura 68 x 50 cm
“O monstro do sertão” [The Monster of the Sertão], 2014
Woodcut print 68 × 50 cm
“Coração na mão”, sem data
Matriz
57 x 37 x 2,8 cm
“Coração na mão” [Heart in Hand]
Woodblock
57 × 37 × 2.8 cm
“Brasília 60 anos”, 2020
Matriz 34 x 55 cm
“Brasília 60 anos” [Brasília 60 Years], 2020
Woodblock
34 x 55 cm
Impressão colorida em xilogravura
64 x 46 cm
“A mulher que botou o diabo na garrafa”, sem data
“A mulher que botou o diabo na garrafa” [The Woman Who Put the Devil in the Bottle], undated
Color woodcut print 64 x 46 cm
“A mulher que botou o diabo na garrafa” Cordel
“A mulher que botou o diabo na garrafa” [The Woman Who Put the Devil in the Bottle]
*Bené Fonteles é artista plástico, escritor, curador de arte, poeta, xamã e compositor brasileiro.
*Bené Fonteles is a Brazilian visual artist, writer, art curator, poet, shaman, and composer.
Do ordinário ao extraordinário em J. Borges
From the Ordinary to the Extraordinary in J. Borges
Bené Fonteles*
A xilogravura no Nordeste nasce da mão calejada do homem do campo que com a enxada vai cavando a terra e com a goiva improvisada vai sulcando o taco de madeira, com inspiração e maestria, pois muitos dos artesãos são também lavradores e poetas, produzindo ao mesmo tempo frutos e matrizes de poesia.
Os xilógrafos nordestinos, também autores de versos de cordel de remota origem provençal e ibérica, foram os primeiros artistas a alimentar o imaginário visual do sertanejo, com representações de sua própria cultura ou recriadas a partir das raras publicações vindas da Europa, que chegavam ao Nordeste desde o final do século xIx.
As imagens que ilustravam os folhetos de cordel –com origem nos romances medievais, nos contos d’As Mil e Uma Noites e nos Lunários Perpétuos (almanaques de trato geral vindos de Portugal) –eram feitas por meio da xilogravura, uma técnica de gravar sobre tacos de madeira mole, como a imburana ou o cedro, com instrumentos cortantes. O
Woodcut printing in the Northeast springs from the calloused hands of rural workers who, wielding their hoes in the fields and improvised gouges in their workshops, carve wooden blocks with both mastery and inspiration. Many of these artisans are simultaneously farmers and poets, producing harvests from the land and woodblocks engraved with poetry.
The woodcut artists of Brazil’s Northeast, who also write the poetic lines of cordel literature (with its distant Provençal and Iberian roots), were the first artists to nourish the sertanejo [backland] people’s visual imagination. They did this through depictions of the local culture, and through
imaginative reinterpretations of the rare European publications that arrived in the Northeast from the late 19th century onward.
The images that illustrated cordel booklets – whose initial themes were derived from medieval tales, from the stories of One Thousand and One Nights, and from the Lunários Perpétuos (general-purpose almanacs imported from Portugal) – were created through woodcut printing. To create a woodcut, artists would carve soft woods like imburana or cedar using cutting tools to follow penciled lines drawn directly onto the woodblock. The carved block was then given a thin layer of ink and then, in a
artista percorria as linhas dos desenhos passados a lápis diretamente para a matriz, que recebia uma fina camada de tinta, e na prensa marcava o alvo papel para uma cópia da tiragem desejada.
Presume-se que a arte de gravar em madeira seja uma contribuição milenar da cultura indiana, que usava essa técnica para estamparias decorativas e de cunho religioso. Depois ela se espalhou pela China e no Japão foi aprimorada com a mais perfeita e refinada forma de gravar de artistas japoneses, como Hokusai e Hiroshige – ainda nos séculos xVIII e xIx –, que iriam inspirar pintores impressionistas como Claude Monet, Van Gogh e Paul Gauguin, este também um bom xilogravurista.
Os primeiros relatos sobre a produção de gravuras em madeira em nosso país surgiram a partir da chegada da Corte Portuguesa ao Brasil em 1808, quando foram criadas as primeiras instituições gráficas. A Impressão Régia, no Rio de Janeiro, consolidou a técnica da xilogravura para uso comercial e cultural, entre outras coisas. No Nordeste, a primeira notícia de sua utilização veio de Pernambuco, no fim do século xIx, quando o poeta e editor paraibano Leandro Gomes de Barros lançou os primeiros folhetos de cordel, todos de sua autoria.
No início do século xx, os xilógrafos nordestinos ilustraram os novenários, os almanaques, os cordéis, passando por temáticas religiosas, políticas e eróticas. Colaboraram também para a publicidade, por meio da execução de rótulos de bebidas, de folhetos comerciais e da criação e reprodução de marcas e logomarcas.
Durante quase um século, as xilogravuras estamparam principalmente as capas dos folhetos de cordel, com grande e criativa sabedoria popular. Os autores dos versos e das imagens, declamadores ambulantes e cronistas de seu tempo, transmitiam os acontecimentos imediatos em feiras em que vendiam seus cordéis. Os cordelistas também foram beber nas fontes místicas e míticas do mundo sertanejo, herança das epopeias heroicas e românticas orientais e medievais. Quando não, misturaram todas essas influências para compor uma fantástica recriação da realidade dura do Nordeste.
Nesse universo do improvável, que só a imagem poética textual e visual pode revelar, surgiu o notável santeiro Mestre Noza em Juazeiro do Norte, CE Artífice também da xilogravura, foi o primeiro a ser
press, the image was transferred to the white paper to produce copies in the desired quantity.
Woodblock carving is believed to be a millenary contribution of Indian culture, where it was used for decorative and religious textile printing. The technique later spread to China and reached its most sophisticated and refined form in Japan through artists like Hokusai and Hiroshige in the 18th and 19th centuries. These masters would go on to inspire impressionist painters like Claude Monet, Van Gogh, and Paul Gauguin – who was himself an accomplished woodcut artist.
The first accounts of woodcut production in Brazil emerged following the arrival of the Portuguese court here in 1808, when the country’s first printing institutions were established. Among its other functions, the Impressão Régia [Royal Press] helped consolidate woodcut technique for both commercial and cultural purposes in Rio de Janeiro. In the Northeast, the first documented instance of the technique appeared in the state of Pernambuco at the end of the 19th century, when Paraiban poet and editor Leandro Gomes de Barros published the first cordel pamphlets – all of his own authorship.
In the early 20th century, northeastern woodcut artists illustrated prayer booklets, almanacs, and cordel literature, featuring religious, political, and erotic themes. They also ventured into advertising, creating commercial leaflets and beverage labels, while also designing and reproducing trademarks and logos.
For nearly a century, woodcuts featuring wonderfully creative folk wisdom adorned the covers of cordel booklets. The authors documented their times through their poetic narratives that often concerned current events, which they would recite themselves at the marketplaces and fairs where they sold their works. As true artist-poets, they typically created both the verses and the woodcut illustrations for their booklets. These cordel writers also drew from the mystical and mythical wellsprings of the sertanejo world as well as elements from heroic epics and romantic tales of both Eastern and medieval origin. When not drawing directly from these sources, they blended all these influences to create a fantastic reimagining of the harsh reality of the Northeast.
It was within this improbable realm, which could only be revealed by poetic imagery – both textual and visual – that the remarkable saint-maker Mestre Noza emerged in Juazeiro do Norte, in the state of Ceará. Also a master of woodcuts, he was the first to gain national and international recognition in the 1960s, having been discovered by artist Sérvulo Esmeraldo, who published his album Via Sacra in Paris in 1962. Noza pioneered the popularization of the technique through his commissioned work for Tipografia São Francisco, at the time the leading publisher and printer in Ceará’s Cariri region – a position it had held since the 1930s. The printing house was later renamed Lira Nordestina by poet Patativa do Assaré, the country’s oldest and most traditional publisher of cordel literature.
Many brilliant woodcut artists emerged in Juazeiro do Norte and Crato, Ceará, from
esq.
“O fotógrafo”, sem data
Matriz dir. xilogravura
“O fotógrafo” [The Photographer], undated
Left: Woodblock Right: Woodcut print
conhecido nacional e internacionalmente nos anos 1960, descoberto pelo artista Sérvulo Esmeraldo, que em 1962 editou seu álbum Via Sacra, em Paris. Noza foi o pioneiro na popularização da técnica, ao trabalhar por encomenda para a Tipografia São Francisco, que, desde a década de 1930, era a mais importante editora e impressora do Cariri cearense. A gráfica foi depois rebatizada pelo poeta Patativa do Assaré com o nome de “Lira Nordestina”, a mais antiga e tradicional editora de cordel do país.
Muitos foram os geniais artistas no ofício de gravar que surgiram em Juazeiro do Norte e Crato, no Ceará, a partir dos anos 1940: João Pereira da Silva, Walderêdo Gonçalves, Manoel Lopes da Silva –o “Manoel Santeiro” –, Damásio Paulo, Antônio Batista da Silva, Abraão Batista e Antônio Lino da Silva. Esses mestres gravadores, que ilustravam anúncios e capas dos cordéis, viram suas obras ganharem autonomia e status artístico com a criação de álbuns temáticos, a exemplo da Via Sacra de Mestre Noza. Foram eles que ensinaram também a lida ou que inspiraram a obra da geração seguinte na região do Cariri, composta por Stênio Diniz, José Lourenço, João Pedro do Juazeiro, Francorli, Cícero Lourenço, Nilo, Gilberto Pereira, Naldo, Hamurabi Batista, Elosman, M. Inácio e muitos outros, quase todos vindos da oficina gráfica Lira Nordestina, que continua em atividade artística até os dias de hoje, na cidade de Juazeiro do Norte.
Pernambuco também foi origem de grandes mestres xilógrafos, que são igualmente poetas de cordel, como Dila, Costa Leite, Marcelo Soares, Amaro Borges, Jerônimo Soares e o extraordinário J. Borges, que criou uma escola estética seguida por seus parentes. J. Borges, com sua obra gráfica de intensa originalidade e produtividade criativa, uniu sua maestria artesanal a sua narrativa imaginosa de cronista do sertão nordestino, trazendo o mais importante legado visual ao nosso imaginário sertanejo e universal. Foi descoberto pelo marchand e humanista Giuseppe Baccaro, que primeiro adquiriu suas gravuras para sua exemplar coleção de arte, e pelo escritor Ariano Suassuna, que o incorporou ao seu Movimento Armorial. Foi reverenciado também pelo grande gravador Gilvan Samico, um dos mais importantes artistas gravadores do Brasil.
J. Borges tornou-se extremamente popular ao ter sua obra nas capas de cordéis que ele próprio versava, com tiragem de milhares de cópias. Depois vieram as impressões sobre papel, até chegar, nas
the 1940s onward: João Pereira da Silva, Walderêdo Gonçalves, Manoel Lopes da Silva (known as “Manoel Santeiro”), Damásio Paulo, Antônio Batista da Silva, Abraão Batista, and Antônio Lino da Silva. These master printmakers, who began by illustrating advertisements and cordel covers, saw their work achieve artistic autonomy and recognition through the creation of thematic albums, following Mestre Noza’s example of Via Sacra. They became both teachers and sources of inspiration for the next generation of artists from the Cariri region: Stênio Diniz, José Lourenço, João Pedro do Juazeiro, Francorli, Cícero Lourenço, Nilo, Gilberto Pereira, Naldo, Hamurabi Batista, Elosman, M. Inácio, and many others. Almost all of these artists emerged from the Lira Nordestina printing workshop, which continues its artistic activity to this day in Juazeiro do Norte.
Many such woodcut masters who doubled as cordel poets also hailed from the state of Pernambuco: Dila, Costa Leite, Marcelo Soares, Amaro Borges, Jerônimo Soares, and the extraordinary J. Borges, who established an artistic school which would be carried on by his relatives. J. Borges, through his highly original and prolific graphic work, combined masterful craftsmanship with his imaginative narrative as a chronicler of the sertão [arid backlands] region of the Brazilian Northeast. His multiple talents created the most important visual legacy in sertanejo culture, and its greatest gift to universal imagination. He was discovered by art dealer and humanist Giuseppe Baccaro, who first acquired his prints for his distinguished art collection, and by writer Ariano Suassuna, who
included him in his Armorial Movement. He was also revered by the great engraver Gilvan Samico, one of Brazil’s most important printmaking artists.
J. Borges achieved immense popularity through his work on cordel covers, which were printed in the thousands and often featured verses of his own authorship. Later came his works on paper, and in recent decades, the introduction of colors characteristic of the northeastern cultural context. His decision not to number his woodcuts and to keep prices highly affordable reflected his wish for widespread ownership of his works, in keeping with the democratic aim shared by many so-called refined artists since the 1960s, who wanted their precious, striking, and original images to be widely accessible, especially during the most oppressive years of the military dictatorship.
Throughout his life, J. Borges remained faithful to his origins as a farmer’s son who had worked in various humble professions before becoming a worker in art. He made his imaginative repertoire and sertanejo storytelling accessible to all, recreating northeastern life in all its aspects: rural activities, household tasks, and the religious and secular festivals of small towns. He thus became perhaps the best-known of all folk artists working in his craft, with his matchless artistic language.
He began to paint his woodblocks and sell them at his studio at the cultural center in Bezerros, Pernambuco, and they were eventually featured in a large panel with dozens of works at the Cais do Sertão museum in Recife.
últimas décadas, à presença de cores essenciais e perfeitas para o contexto cultural nordestino. Não ter numerado as xilogravuras e fixar um preço muito acessível para suas obras são fatos que demonstram o seu desejo de que muitos pudessem tê-las em casa. Queria honrar, de forma democrática, o que já era também a vontade dos artistas ditos eruditos desde os anos de 1960: que muitos tivessem acesso às suas preciosas, contundentes e originais imagens, principalmente nos momentos desafiantes de sobrevivência na ditadura militar.
J. Borges até o fim de sua vida foi leal à sua vontade de – como filho de lavrador que fora e por suas outras profissões humildes, até se tornar um operário da arte – dar acesso ao seu inventário imaginoso ou fabulário sertanejo, recriando a vida nordestina em suas muitas atividades do campo, das lidas domésticas, das festas religiosas e profanas das pequenas cidades. Tornou-se assim, talvez, o mais conhecido dos artistas populares, com sua técnica artesanal e sua linguagem ímpar.
Although J. Borges achieved many artistic feats through national and international exhibitions, his most enduring legacy remains his vast body of work centered on his loyalty to the northeastern people, who have bravely endured the region’s harsh climate and its many sociocultural, religious, and political pressures and oppressions.
His illustrated poetry will also persist, as already seen in his many cordel works, where the nature of the Northeast maintains a deeply symbolic presence, thoroughly infused with human aspects of work and leisure. His animals – who play instruments, dance, and sing like humans at sertanejo gatherings – are original, beautiful, and fantastic visual creations that complement the cordel stories he crafted as a masterful narrator.
Each of J. Borges’s woodcuts, signed on the engraved woodblock itself, stands as one of the most powerful visual testimonies of Brazilian art, ranking alongside the work of great printmakers like Oswaldo Goeldi, Lívio Abramo, and Gilvan Samico. These artists, while carving their poetic visions of Brazilian life and imagination into wood, left an aesthetic legacy of immeasurable beauty and expressiveness that helps shape the true face of our brave and resilient people.
The extraordinary visual folklore of his work constitutes a vast and complex treatise on cultural sociology. Covering nearly every aspect of life in the Brazilian Northeast, it reveals our origins –our ancestral roots – the meaning of who we are, and where we are headed as a people: once wandering, now more firmly
grounded and much more aware of our identity as citizens of the Northeast.
J. Borges helped us to take pride in our cultural and artistic heritage. His immense influence inspired artists of his time and generations to follow. Many creators have since embraced woodcut engraving, drawing upon the rich traditions and popular imagination of a vast region.
I dare say that J. Borges, immortalized through his masterful iconographic work, stands alongside Luiz Gonzaga as a creator of vital visual and conceptual symbols that shape and give meaning to Brazilian culture.
Through painstaking dedication, he carved northeastern woods –imburana, cedar, and others – to create images that soared to universal heights. From his village of Bezerros in rural Pernambuco, he raised his voice in the song of his art, reaching the world’s imagination. With immense responsibility and sensitivity, through his powerful and inexhaustible creative force, he left his eternal mark on the mindset of the Brazilian people.
I have no doubt that he is continuing to carve his art into the clouds of Eternity, enlightening and inspiring us with his keen wit and enduring art.
“São Francisco no jardim”, sem data
50 x 30,5 cm
“São Francisco no jardim” [Saint Francis in the Garden], undated
50 × 30,5 cm
Matriz
Woodblock
Religiosidade
Religiosity
A religiosidade e o misticismo têm forte presença na obra de J. Borges. O poder de síntese do artista dá conta do imaginário popular, principalmente nordestino, incorporando o sincretismo religioso, mas reservando um destaque especial aos elementos e figuras da igreja católica.
As xilogravuras que retratam os santos foram sempre as mais vendidas. J. Borges produziu, por exemplo, dezenas de versões de São Francisco. Já um de seus cordéis mais importantes, O Verdadeiro Aviso de Frei Damião, traz na capa a ilustração da igreja matriz de Juazeiro do Norte.
Religiosity and mysticism have a strong presence in the work of J. Borges. His extraordinary ability to distill complex cultural themes into compelling images enables him to capture and convey the popular mindset – especially that of the Northeast – blending religious syncretism with a special emphasis on Catholic imagery and figures.
His woodcuts of saints have long been among his best sellers. Borges produced dozens of variations on Saint Francis, for instance. One of his most important cordel booklets, O Verdadeiro Aviso de Frei Damião [The True Warning of Friar Damião], features on its cover an illustration of the parish church in Juazeiro do Norte.
“N. S. da Conceição”, 2015
Impressão colorida em xilogravura 98 x 68.5 cm
“N. S. da Conceição” [Our Lady of Conception], 2015
Color woodcut print 98 x 68.5 cm
Impressão colorida em
“São Francisco de Assis”, 2013
xilogravura
57 x 42 cm
“São Francisco de Assis” [Saint Francis of Assisi], 2013
Color woodcut print
57 x 42 cm
“Santo Expedito”, 2016
Impressão colorida em xilogravura 57 x 40 cm
“Santo Expedito”[Saint Expeditus], 2016
Color woodcut print 57 x 40 cm
“Santos Cosmo e Damião”, 2016
Impressão colorida em xilogravura 57 x 40 cm
“Santos Cosmo e Damião” [Saints Cosmas and Damian], 2016
Color woodcut print 57 x 40 cm
“Nossa Senhora Aparecida”, sem data
Matriz
53 x 33 x 2,3 cm
“Nossa Senhora Aparecida” [Our Lady of Aparecida] , undated
Woodblock
53 x 33 x 2,3 cm
“Nossa Senhora Aparecida”, 2019
Impressão em xilogravura
98 x 68.5 cm
“Nossa Senhora Aparecida” [Our Lady of Aparecida], 2019
Woodcut print 98 x 68.5 cm
Impressão colorida em
“Jesus Maria e José. A Sagrada Família”, sem data
xilogravura 98 x 68 cm
“Jesus Maria e José. A Sagrada Família” [Jesus, Mary, and Joseph. The Holy Family], undated
Color woodcut print 98 x 68 cm
“Jesus Maria e José. A Sagrada Família”, sem data
Matriz
54 x 35 x 2,4 cm
“Jesus Maria e José. A Sagrada Família” [Jesus, Mary, and Joseph. The Holy Family], undated
Woodblock
54 x 35 x 2,4 cm
Impressão em xilogravura
50 x 68 cm
“Iemanjá”, sem data
“Iemanjá” [Yemanjá], undated
Woodcut print
50 x 68 cm
“Iemajá”, sem data
Matriz
29 x 52 x 2,5 cm
“Iemajá” [Yemanjá], undated
29 x 52 x 2,5 cm
“Sto Antônio Casamenteiro”, 2023
Impressão colorida em xilogravura
68 x 50 cm
“Sto Antônio Casamenteiro” [Saint Anthony the Matchmaker], 2023
Color woodcut print
68 x 50 cm
Woodblock
Impressão
Impressão colorida sem xilogravura 47 x 26 cm
“Nossa Senhora de Guadalupe ”, 2011
“Nossa Senhora de Guadalupe” [ Our Lady of Guadalupe], 2011
Color woodcut print 47 x 26 cm
“O padre namorador ”, 2023
colorida em xilogravura 48 x 29 cm
“O padre namorador” [The Womanizing Priest], 2023
Color woodcut print 48 × 29 cm
“N. S. de Guadalupe”, 2024
Impressão colorida em xilogravura 58 x 50 cm
“N. S. de Guadalupe” [ Our Lady of Guadalupe], 2024
Color woodcut print 58 x 50 cm
Impressão colorida em xilogravura
68
“São Jorge”, 2024
x 50 cm
“São Jorge” [Saint George], 2024
Color woodcut print
68 x 50 cm
Sertão Sertão
O Sertão, que naturalmente apresenta uma forte tradição oral, expressada nos cordéis, cantorias e lendas, é um tema altamente explorado pela literatura e arte nordestinas, não apenas pelo seu aspecto geográfico, mas, sobretudo, pelas suas peculiaridades sociais, econômicas e culturais. As labutas e a resiliência do povo nordestino, especialmente a dureza do período de estiagem, são retratadas na obra de J. Borges. Ótimos exemplos são as xilogravuras Mudança de sertanejo, O monstro do sertão e Os retirantes. Bezerros, cidade onde J. Borges nasceu, viveu e morreu, fica no Agreste pernambucano, uma microrregião de transição entre a Zona da Mata e o Sertão, cuja Caatinga reina com seu clima semiárido, quente e seco.
The sertão – the arid backlands of Brazil’s Northeast, known for their deeply rooted oral traditions expressed through cordel literature, folk songs, and legends – is a recurring theme in Northeastern literature and art. More than just a geographic reference, it represents a world of distinctive social, economic, and cultural realities. The toil and resilience of its people, especially during drought, are powerfully evoked in Borges’s work. Emblematic examples
include the woodcuts Mudança de sertanejo [Migration of a Sertão Denizen], O monstro do sertão [The Monster of the Sertão], and Os retirantes [The Migrants]. Bezerros, the town where Borges was born, lived, and died, lies in the state of Pernambuco’s agreste zone – a transitional microregion between the forested Zona da Mata and the arid sertão – in a hot, semi-arid landscape where the thorny scrubland known as caatinga predominates.
“A matuta velha”, dec. 1970
Impressão em xilogravura
37.5 x 47 cm
“A matuta velha” [The Old Country Woman], c. 1970
Woodcut print
37.5 x 47 cm
Impressão em
54
“Mudança de sertanejo”, 2000
xilogravura
x 69 cm
“Mudança de sertanejo” [The Move of a Sertanejo], 2000
Woodcut print 54 x 69 cm
“O sertão antigo”, sem data
Matriz
51 x 36 x 2 cm
“O sertão antigo” [The Old Sertão], sem data
Woodblock
51 x 36 x 2 cm
Impressão colorida em xilogravura
50 x 65 cm
50
“A vida na floresta”, 2001
“A vida na floresta” [Life in the Forest], 2001
Color woodcut print
x 65 cm
“Lampião e Maria Bonita”, 2002
Impressão colorida em xilogravura
68 x 50 cm
“Lampião e Maria Bonita” [Lampião and Maria Bonita], 2002
Color woodcut print 68 x 50 cm
“Lampião e Maria Bonita”, sem data
Matriz
54 x 32 x 2,2 cm
“Lampião e Maria Bonita” [Lampião and Maria Bonita], undated
Woodblock
54 x 32 x 2,2 cm
“Briga da onça com a serpente”, 2016
Impressão colorida em xilogravura 69 x 54 cm
“Briga da onça com a serpente” [The Fight Between the Jaguar and the Snake], 2016
69 x 54 cm
“A vida no sertão”, 2014
Impressão colorida em xilogravura
50 x 68 cm
“A vida no sertão” [Life in the Sertão], 2014
Color woodcut print
50 x 68 cm
Color woodcut print
“Pastoril”, sem data
Matriz
29 x 50 cm
“Pastoril” [Pastoral], undated
Woodblock
29 x 50 cm
“O sol do bom viver”, 2022
Impressão colorida em xilogravura
68 x 50 cm
“O sol do bom viver” [The Sun of Good Living], 2022
Color woodcut print 68 x 50 cm
Impressão colorida em xilogravura
68 x 50 cm
68 x 50 cm
“Sertão em noite de lua”, 2023
“Sertão em noite de lua” [Sertão on a Moonlit Night], 2023
Color woodcut print
“Fim de semana em casa de pobre”, sem data
Matriz
32 x 57 x 2.4 cm
“Fim de semana em casa de pobre” [Weekend at a Poor Family’s House], undated
Woodblock
32 x 57 x 2.4 cm
“Forró dos Bichos”, sem data
Impressão em xilogravura
50 x 68 cm
dos Bichos” [Animal Forró], undated
50 x 68 cm
“Forró
Woodcut print
“Pássaros da mata”, 2014
Impressão colorida em xilogravura
68 x 50 cm
“Pássaros da mata” [Forest Birds], 2014
Color woodcut print
68 x 50 cm
“Pássaros da mata”, sem data
Matriz 50 x 32 cm
“Pássaros da mata” [Forest Birds], undated
Woodblock 50 x 32 cm
50
“A passarda”, sem data
Matriz
50 x 31 x 2,3 cm
“A passarda” [The Flock of Birds], undated
Woodblock
x 31 x 2,3 cm
“O Papagaio”, sem data
Impressão colorida em xilogravura
35 x 25 cm
“O Papagaio” [The Parrot], undated
Color woodcut print
35 x 25 cm
Impressão colorida em xilogravura
50 x 29 cm
50
51 x 30 cm
“Frutas do nordeste” [Fruits of the Northeast], 2024
51 x 30 cm
“Frutas do nordeste”, 2024
“Frutas do nordeste” [Fruits of the Northeast], 2024
Color woodcut print
x 29 cm
“Frutas do nordeste”, 2024
Matriz
Woodblock
“Os cajueiros”, sem data
Matriz
37 x 56 cm
“Os cajueiros” [The Cashew Trees], undated
Woodblock
37 x 56 cm
Impressão em xilogravura
49 x 32 cm
“Pastor de ovelhas”, sem data
“Pastor de ovelhas” [Shepherd of Sheep], undated
Woodcut print
49 x 32 cm
“Bichos do sertão”, sem data
Impressão em xilogravura
50 x 30 cm
“Bichos do sertão” [Animals of the Sertão], undated
Woodcut print
50 x 30 cm
12
“Fulozinha”, sem data
Matriz
12 x 17 cm
“Fulozinha” [Little Flower], undated
Woodblock
x 17 cm
Costumes e tradições do povo nordestino
Customs and traditions of northeastern people
Os costumes, a cultura, as tradições e o meio ambiente do Nordeste brasileiro sempre tiveram grande representatividade na obra de J. Borges. Desde o início de sua trajetória artística, o artista traduzia para seus folhetos de cordel e xilogravuras aquilo que ele mesmo vivia no seu dia a dia. Assuntos variados, como o folclore, as lendas, os assuntos de família e do coração, as profissões, os animais, as plantas e as frutas da região, compõem o leque iconográfico de J. Borges. É importante ressaltar que todos os assuntos se inter relacionam, como uma grande contação de história da vida do povo nordestino.
The culture, customs, traditions, and environment of Brazil’s Northeast are central to the work of J. Borges. From the outset of his artistic career, Borges translated his daily life into cordel booklets and woodcuts, building a rich visual vocabulary from his lived experience. Folklore, legends, family ties, affairs of the heart, professions, animals, native plants, and local fruits all populate
his iconographic world. These elements are deeply interconnected – woven into a vast, continuous storytelling of Northeastern life.
“A serpente e a mulher” [The Snake and the Woman], 2023
Color woodcut print
50 x 35 cm
“O romeiro e a serpente”, 2023
Impressão colorida em xilogravura
47 x 28 cm
“O romeiro e a serpente” [The Pilgrim and the Snake], 2023
Color woodcut print
47 x 28 cm
“Lubisomem”, déc. 1970
Impressão em xilogravura
20 x 30 cm
“Lubisomem” [Werewolf], c. 1970
Woodcut print
20 x 30 cm
“O monstro de ponta”, 2021
Impressão em xilogravura
34 x 23 cm
“O monstro de ponta” [The Pointed Monster], 2021
Woodcut print
34 x 23 cm
“O bicho de 7 cabeças”, 2023
Impressão colorida em xilogravura
50 x 31 cm
“O bicho de 7 cabeças” [The Seven-Headed Beast], 2023
Color woodcut print
50 x 31 cm
“A professora”, sem data
Impressão colorida em xilogravura
50 x 30 cm
“A professora” [The Teacher] undated
50 x 30 cm
Impressão colorida em xilogravura
50 x 31 cm
Color woodcut print
50 x 31 cm
“Pau de sebo”, 2014
“Pau de sebo” [Greased Pole], 2014
Color woodcut print
plantio de girassois”, 2014
Impressão colorida em xilogravura
38 x 56 cm
“O plantio de girassois” [The Planting of Sunflowers], 2014
Color woodcut print
38 x 56 cm
“Colheitadora de rosas”, 2024
Impressão colorida em xilogravura
49 x 30 cm
“Colheitadora de rosas” [Rose Harvest], 2024
Color woodcut print
49 x 30 cm
“O
“Fulozinha e os pássaros”, 2023
Impressão colorida em xilogravura
52 x 31 cm
“Fulozinha e os pássaros” [Little Flower and the Birds], 2023
woodcut print
52 x 31 cm
Color
Joaquim de Arruda Falcão Neto é advogado e escritor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). Doutor em Educação pela Université de Genève (1981), LL.M. pela Harvard Law School (1968), bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1966). Fundador e ex-Diretor da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas - RJ (FGV Direito Rio).
Joaquim de Arruda Falcão Neto is a Brazilian lawyer and writer, member of the Brazilian Academy of Letters (ABL) and the Brazilian Historical and Geographical Institute (IHGB). He serves as a board member of the Brazilian Center for International Relations (CEBRI). He holds a Ph.D. in Education from the University of Geneva (1981), an LL.M . from Harvard Law School (1968), and a Law degree from the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro (1966). He is the founder and former director of the Rio de Janeiro Law School at Fundação Getulio Vargas (FGV Direito Rio).
J. Borges ou o que é patrimônio cultural
J. Borges or
What Constitutes Cultural
Heritage
Joaquim de Arruda Falcão Neto
O cordel tem de ser escrito de um modo que toque o sentimento do povo que vai ler ou ouvir o canto.
J. Borges
Será que podemos considerar a obra de J. Borges — poesia e grafia, literatura e gravura, imagem e texto, palavra e figura — um patrimônio cultural do Brasil? Será que podemos destacá-la, valorizá-la e elegê-la como referência fundamental de nossa trajetória cultural? Para responder a essa pergunta, precisamos antes definir “patrimônio cultural”. Precisamos responder a outra pergunta: O que é patrimônio cultural?
Segundo nossa Constituição, constituem patrimônio cultural “os bens de natureza material e imaterial [...] portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Essa definição nos informa que inexiste patrimônio cultural fora dos grupos formadores da sociedade, mas não nos esclarece por que a sociedade elege um determinado bem, e não outro, como patrimônio. Em princípio, todo
Cordel must be written in a way that touches the feelings of those who will read it or listen to its song.
J. Borges
Can we consider J. Borges’s work – his poetry and graphic art, literature and woodcuts, image and text, word and figure – as part of Brazil’s cultural heritage? Can we recognize, value, and designate it as a fundamental reference in our cultural trajectory? The answer to this question depends on how cultural heritage is defined. So we must first answer the question: What is cultural heritage?
According to the Brazilian Constitution, cultural heritage consists of “material and immaterial assets [...] that bear references to the identity, action,
and memory of the various groups that form Brazilian society.” This definition tells us that cultural heritage cannot exist outside the groups that form society. It does not, however, explain why society chooses to recognize certain assets, and not others, as heritage. In principle, every cultural asset necessarily references the identity, action, and memory of the groups that form Brazilian society. Why then choose only some? Moreover, what are the criteria for this selection?
1. Texto originalmente publicado no livro: BORGES, J.; COIMBRA, S. R. Poesia e gravura de J. Borges. Recife: Edição do Autor, 1993.
1. Text originally published in the book: BORGES, J.; COIMBRA, S. R. Poesia e gravura de J. Borges. Recife: Published by the author, 1993.
e qualquer bem cultural tem necessariamente referência à identidade, à ação e à memória dos grupos que formam a sociedade brasileira. Por que então eleger apenas uns poucos? Aliás, quais os critérios dessa eleição?
Em nosso entender, existem basicamente três critérios, embora nem exclusivos, nem concomitantes:
1. A qualidade intrínseca do bem como excepcional manifestação artística ou cultural. A escultura — anjos, santos e profetas — de Aleijadinho e o traçado arquitetônico urbanístico de Brasília, por exemplo, valem pela invenção, pela criatividade em si. São excepcionais manifestações individuais de nossas artes plásticas, de nossa arquitetura e de nosso urbanismo. Detêm valor de per se.
2. Já Porto Seguro e o Paço Imperial, por exemplo, são bens dotados de uma referência histórica fundamental. Não detêm esse valor de per se. Porto Seguro é uma região belíssima, mas igual a muitas outras em nossa costa. O Paço é um edifício importante, mas sem nada que o torne arquitetonicamente excepcional. Ambos, porém, são patrimônio cultural. Sem eles não se compreende, nem se visualiza, a história do Brasil. O segundo critério é pois a referência histórica fundamental. O valor será menos no bem em si, e mais no fundamental momento histórico que o simboliza e situa.
3. Finalmente, no terceiro critério estariam aqueles bens que nem são a expressão excepcional da criação individual, como os profetas de Aleijadinho e a Brasília de Oscar Niemeyer e Lucio Costa, nem símbolos de momentos históricos fundamentais, como o descobrimento do Brasil e o Império. Mesmo assim são patrimônios, porque expressam um indispensável traço cultural coletivo. Captam valores partilhados, praticados e legitimados pela comunidade e pelo povo, sem os quais não se compreende nossa cultura e sua qualidade, diria Camões. Refletem valores indispensáveis da alma coletiva. Embora possam ser excepcionais manifestações da criação individual, são, antes, o reflexo da alma, do saber e do fazer, do ser de um povo. E, por assim serem, são dotados de uma aceitação, de um apoio popular que os legitima, mantém e valoriza.
As we understand it, there are essentially three criteria which are not, however, mutually exclusive or necessarily concurrent:
1. The intrinsic quality of the asset as an outstanding artistic or cultural expression. The sculptures of angels, saints, and prophets by Aleijadinho and the architectural and urban design of Brasília, for example, are valued for their invention and creativity in and of themselves. They are outstanding individual expressions of our visual arts, architecture, and urbanism. They hold value in their own right.
2. For their part, the city of Porto Seguro and the Paço Imperial are examples of assets that bear fundamental historical significance. They do not possess value in their own right. The Porto Seguro region is beautiful, but similar to many others along the Brazilian coast. The Paço Imperial is an important building, but without any exceptional architectural qualities. Both, however, are cultural heritage. Without them, one cannot understand or visualize Brazil’s history. The second criterion therefore involves a fundamental historical reference. The value resides less in the asset itself, and more in the crucial historical moment it symbolizes and represents.
3. Finally, the third criterion applies to assets that are neither outstanding expressions of individual creation – like the prophets sculpted by Aleijadinho, or the city of Brasília designed by Niemeyer and Lucio Costa – nor symbols of fundamental
historical moments, like the discovery of Brazil and the Empire. They are nevertheless heritage because they express quintessential collective cultural trait. They capture values shared, practiced, and legitimized by the community and the people. Without them, our culture and its essence cannot be understood, as Camões would say. They embody quintessential values of the collective soul. Although they may be exceptional expressions of individual creation, they are, first and foremost, reflections of the soul, know-how, and craftsmanship of a people – of its very being. And being so, they are endowed with an acceptance, with popular support that legitimizes, sustains, and values them.
In the first case, the criterion for defining what constitutes heritage rests on exceptional individual innovation; in the second, on fundamental historical significance; in the third, on the authentic expression of a collective mode of existence.
Let us return, now equipped with a definition of cultural heritage, to J. Borges’s work, through Borges’s own words2:
Cordel isn’t written by chance –rather, when the poet seeks to express his imagination and make the story resonate, he looks for a way to capture that story and share it with the world. That’s why cordel must be written in a way that touches the feelings of those who will read it or listen to its song.
O critério para definir o que é ou não patrimônio, no primeiro caso, é a excepcional invenção individual; no segundo, é a referência histórica fundamental; no terceiro, é a legítima expressão de um modo de ser coletivo.
Voltemos, agora já de posse de uma definição de “patrimônio cultural”, à obra de J. Borges. E voltemos pelo depoimento do próprio Borges2:
O cordel não é escrito por acaso, e sim porque o poeta, ao querer exprimir sua imaginação no sentido de fazer sucesso com a história, procura um meio de gravar essa história e distribuí-la mundo afora. Por isso, o cordel tem de ser escrito de uma maneira que toque o sentimento do povo que vai ler ou ouvir o canto.
Mais adiante, ele acrescenta:
Cada tema exige uma maneira de se ler para desdobrar o sentimento das pessoas que estão ao redor do folheteiro [...]. O público que mais cerca o folheteiro é de pessoas inteligentes, que ao ouvir a cantoria se aproximam, procurando aglomerar-se, e descobrem que a história bate com seus sentimentos. E ali, escutando a leitura daquele cordel, vão acalentando seus desejos de amor, de vingança e de luta. [...] Vão lembrando e imaginando obrigações, brincadeiras, mágoas, ódios e sofrimentos.
He goes on to say:
Each theme requires its own way of being read, one that reveals the feelings of those gathered around the cordel seller [...] The crowd that gathers around the seller is made up of discerning people who, upon hearing his chanting, draw near to join together and discover that the story speaks to their own emotions. And there, listening to the cordel being read, they give life to their longings for love, vengeance, and struggle [...] They recall and imagine duties, joys, griefs, resentments, and sufferings.
And he concludes: “When the cordel seller knows how to tell the story just right and connect with the audience’s heart, the success is certain.”
The importance of cordel literature as an unwavering search for the people’s sentiment becomes even more evident when we consider some concrete facts. While first editions by Carlos Drummond, Jorge Amado, and Machado de Assis took time to sell, a work by J. Borges sold 5,000 copies in under 60 days! Borges stands as arguably the most – or at least among the most – published authors in Brazil. He has probably authored more than 200,000 published works. We need only consider that even today, in Recife alone, about 20,000 pamphlets are published monthly! Cordel literature has existed since the 16th century, and Borges has been publishing it since 1964.
2. Ibidem.
2. Ibid.
3. A apropriação pelo
Estado do conceito de patrimônio foi tão forte que até hoje muitas pessoas referem-se ao Sphan simplesmente como “O Patrimônio”. Não desassociamos o conceito do órgão burocrático.
3. The State’s appropriation of the concept of heritage was so profound that even today many people refer to SPHAN simply as “The Heritage.” The concept is conflated with the bureaucratic institution.
E finaliza: “Sabendo o folheteiro exprimir bem a história contada e batendo o assunto no sentimento do público, não há dúvida que a venda é certa”.
A importância da literatura de cordel, como busca incessante do sentimento do povo, é mais bem reconhecida quando acrescentamos alguns dados objetivos. Diferente de Carlos Drummond, Jorge Amado e Machado de Assis, a primeira edição de uma obra de Jota Borges vendeu logo 5 mil exemplares em menos de 60 dias! Borges é, provavelmente, se não “o” autor, pelo menos “um dos” autores mais editados no Brasil. É provavelmente autor para mais de 200 mil obras editadas. Basta estimarmos que ainda hoje, no Recife, são publicados cerca de 20 mil folhetos por mês! A literatura de cordel existe desde o século xVI – e Borges a edita desde 1964.
Donde a conclusão só pode ser uma. Inexiste outra. A literatura de Borges sintetiza e reflete o sentimento popular. Daí sua permanência e seu sucesso. Bate o assunto no sentimento do público, diria o próprio Borges. Que outros autores terão assim expressado o sentimento popular com tanto sucesso e permanência? Onde encontrar tamanha sintonia entre autor, público e obra?
This leads us inevitably to just one conclusion: Borges’s literature both distills and mirrors the people’s sentiment. This is the key to its lasting power and triumph. It resonates with the public’s emotions, as Borges himself would say. What other writers have captured the popular spirit with such lasting impact and reach? Where else can we find such a rare and perfect alignment between creator, audience, and creation?
Can we grasp the workings of popular commerce without understanding the phenomenon of the feira [traditional Brazilian street market]? Can we comprehend the feira without understanding its cordel literature? Can we fathom cordel without understanding those who embrace it? Can we understand these people without
knowing what stirs their hearts? And what is culture if not the expression of a people’s feelings? Even for this one reason alone, it is overwhelmingly so: J. Borges’s work is a Brazilian cultural heritage.
Impressão em xilogravura
20 x 30 cm
20
c. 1970
“Cavalo marinho” déc. 1970
“Cavalo marinho” [Cavalo Marinho]
Woodcut print
x 30 cm
Pode-se compreender a economia popular sem entender o fenômeno da feira? Pode-se compreender a feira sem entender a sua literatura de cordel? Podese compreender o cordel sem entender o seu público? Pode-se compreender esse público sem entender seus sentimentos? E o que é a cultura, se não a expressão dos sentimentos de um povo? Por isso, e apenas demasiadamente por isso, a obra de Jota Borges é patrimônio da cultura brasileira.
O desafio fundamental da obra de Borges não foi, como no Aleijadinho, esculpir a dramaticidade dos profetas. Nem como, em Oscar Niemeyer, concretizar uma estética arquitetônica ideal, ou como em Lucio Costa, ordenar pela razão a cidade. Seu desafio fundamental não foi o drama religioso, o ideal arquitetônico ou a racionalidade urbana. Seu desabafo foi apenas “tocar no sentimento do povo”, “desdobrar o sentimento das pessoas”, “bater no sentimento do público”. Por isso, e apenas demasiadamente por isso, a obra de Borges é patrimônio cultural do Brasil. Muito mais por isso, aliás, do que pela invenção excepcional, que também representa. Que outro autor foi tão bom artista? Que poeta, gravador? Quem ousou sintetizar grafia e poesia, imagem e texto a serviço do sentimento popular, fato gerador de uma cultura? Essa síntese já evidencia por si só uma excepcional criação individual.
Agora, considerar um bem patrimônio cultural é tomar uma decisão. É fazer uma escolha. Dentre um universo infinito de bens culturais, é identificar, pinçar, separar, eleger e privilegiar este, e não aquele bem. É hierarquizar um universo infindável. Toda escolha é uma aceitação, mas também uma recusa. É uma seleção responsável.
No Brasil, essa seleção, essa escolha, foi apropriada pelo Estado.3 Erroneamente, por muitos anos se acreditou que só seria patrimônio o bem tombado oficial e formalmente pelo Estado, inscrito não no livro das preferências reais da sociedade, mas no das preferências solenes do poder legal. Com isso, estatizou-se o conceito de patrimônio. Reduziu-se, e muito, a valorização de nossas expressões culturais. Discriminou-se, independentemente da intenção de tombados e tombadores. Reduziu-se o Brasil.
Pouco a pouco, porém, esse processo de seleção vai mudando. Ao lado do patrimônio estatizado, o Brasil começa a descobrir seu patrimônio social também. Aquele, fruto de uma decisão do Estado, este, do reconhecimento pela sociedade. Nem por
The essential challenge in Borges’s work was not that of Aleijadinho, to sculpt the dramatic power of the prophets. Nor was it that of Oscar Niemeyer, to realize an ideal architectural aesthetic, or that of Lucio Costa, to design the city in a rational structure. His essential challenge was not religious drama, architectural idealism, or urban rationality. His outpouring was simply to “touch the people’s feelings,” “unfold people’s emotions,” “strike at the public’s heart.” Even for this one reason alone, it is overwhelmingly so: Borges’s work is Brazilian cultural heritage. It is heritage much more for this reason, in fact, than for its outstanding character of invention, which it also bears. What other creator was such an accomplished artist? What poet was such a printmaker? Who dared to distill graphic art and poetry, image and text in the service of the popular sentiment, the very thing that gives rise to culture? This distillation, in and of itself, constitutes an outstanding individual creation.
Now, to consider something as cultural heritage is to make a decision. It is to make a choice. Among an infinite universe of cultural assets, it means identifying, selecting, separating, choosing and privileging this particular asset, and not another one. It means placing an endless universe into a hierarchy. Every choice is an acceptance, but also a refusal. It is a responsible selection.
In Brazil, this selection, this choice, was appropriated by the State3. Mistakenly, for many years it was believed that only assets formally and officially designated by the State could be considered heritage, inscribed not in the book of society’s real preferences, but in the solemn preferences of legal authority. In this way, the concept of heritage became state-controlled. Our cultural expressions were severely reduced in value. There was discrimination, regardless of the intentions of both the designators of heritage and the designated. Brazil itself was diminished.
Little by little, however, this selection process is changing. Alongside state-defined heritage, Brazil is beginning to discover its social heritage. The former stems from a decision by the State; the latter from society’s recognition. Neither is better than the other, nor more important for our cultural trajectory. And although heritage decisions were once exclusively controlled by the state through SPHAN4, which unilaterally held a monopoly over heritage decisions, today this is not the case. Or at least not so much.
Little by little, society – especially the communities – is selecting certain assets as heritage and then preserving them, protecting them, bringing them to life, and engaging with them. Today, heritage designation is different from what it was. In
4. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), uma autarquia federal, foi criado em 1937, sob essa denominação, para responder pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. De 1970 a 1979; e a partir de 1994 até hoje, passou a se denominar Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
4. The National Historical and Artistic Heritage Service (SPHAN), a Brazilian federal agency, was created in 1937 under this name as the agency in charge of ensuring the preservation of Brazilian cultural heritage. From 1970 to 1979, and from 1994 to the present, it became known as the National Historical and Artistic Heritage Institute (IPHAN).
isso aquele é melhor do que este, ou mais importante para a nossa trajetória cultural. E se antes era o Estado, por meio do Sphan4, que detinha o monopólio do patrimônio, que revelava à sociedade o patrimônio da própria sociedade, hoje não é mais. Ou, pelo menos, é menos.
Pouco a pouco, a sociedade, as comunidades, sobretudo, vão elegendo determinados bens como patrimônio e então os preservam, protegem, vivificam e consomem. Hoje temos, diferentemente do passado, a prática do tombamento. Nesse novo processo, caberia ao Sphan e aos demais órgãos — federais, estaduais ou municipais — aceitar e reforçar a decisão tomada informalmente pela sociedade. Não caberia mais ao Sphan revelar, mas apenas reconhecer o patrimônio eleito pelo povo, para evitar que o patrimônio cultural brasileiro cristalize-se em dois: o estatal e o social; o formal e o real; o da elite burocrática e o das comunidades anônimas. Para que uma eventual dicotomia não concretize valores etno e egocêntricos. Que não seja a solidão do Brasil real.
Por tudo isso, e apenas demasiadamente por isso, a obra de Borges — poesia e grafia, literatura e gravura, imagem e texto, palavra e figura — é patrimônio da cultura brasileira.
this new process, SPHAN and other bodies – federal, state, or municipal – should accept and reinforce society’s informal decisions. SPHAN’s role would no longer be to reveal, but simply to recognize the heritage chosen by the people. This prevents Brazilian cultural heritage from crystallizing into two forms: the state-controlled and the social; the formal and the real; that of the bureaucratic elite and that of anonymous communities. This will prevent an eventual dichotomy from concretizing ethnocentric and egocentric values. So that the real Brazil is not left isolated and alone.
For all these reasons, it is even more overwhelmingly so: J. Borges’s work – poetry and graphic art, literature and engraving, image and text, word and figure –is a Brazilian cultural heritage.
By Joaquim
de Arruda
Falcão Neto,
1993
Por Joaquim de Arruda
Falcão Neto, 1993
Sem título, sem data
Matriz 17 x 11 cm
Untitled, undated
Woodblock
17 x 11 cm
Impressão colorida em xilogravura
36 x 34 cm
“Astros e signos”, 2024
“Astros e signos” [Stars and Signs], 2024
Color woodcut print
36 x 34 cm
Linha do tempo Mestre J. Borges
Mestre J. Borges’ Timeline
Pesquisa realizada por Memorial J. BorgesMonique Gabrielle e Pablo Borges - a partir de entrevistas com o Mestre J. Borges.
Archival research by Monique Gabrielle and Pablo Borges, drawing from interviews with Mestre J. Borges.
Edição final de Final editing by Tatiana Gonçales
1935
José Francisco Borges nasceu no dia 20 de dezembro de 1935, no sítio Piroca, em Bezerros (PE), filho de José Francisco Borges e Maria Francisca da Conceição.
José Francisco Borges, born on December 20, 1935, at Sítio Piroca, Bezerros (PE), son of José Francisco Borges and Maria Francisca da Conceição.
1936
Com um ano de idade, passou a morar com sua avó materna, Maria Francisca da Conceição.
At the age of one, moved in with his paternal grandmother, Maria Francisca da Conceição.
1942
Aos sete anos já ajudava seu pai no plantio do feijão, fava e milho.
At seven years old, helped his father cultivate beans, fava beans, and corn.
1945
Aprendeu a fazer cestas de cipó e brinquedos de madeira para vender, com apenas 10 anos de idade. Nessa época, já tinha seus cordéis preferidos: As perguntas do rei e as respostas de Camões, Proezas de João Grilo e Pavão Misterioso
As a 10-year-old, learned how to make vine baskets and wooden toys to sell. Around this time, his favorite cordel literature included As Perguntas do rei e as respostas de Camões [“The King’s Questions and Camões’ Answers”], Proezas de João Grilo [“The Feats of João Grilo”], and Pavão misterioso [“Mysterious Peacock”].
1947
“A maior alegria que eu tive em 1947 foi quando meu pai me disse: José, amanhã você vai para a escolha de David Milanez e eu que estava com dinheiro no bolso fui logo para a feira de Mandacaru distrito de Gravatá e comprei uma carta de ABC, um lápis com borracha, uma tabuada e um caderno colegial com 16 folhas; que essas foram aproveitadas de um lado e de outro e mais a capa e contra capa, em todo lugar que estava limpo eu escrevia algo para aprender mais depressa. E assim, em dez meses, eu aprendi a ler, escrever e contar as peças de conta mais necessárias para se desenvolver no dia a dia”.
(J. Borges)
“The greatest joy I had in 1947 was when my father said to me: José, tomorrow you will go to David Milanez’s school. And since I had some money in my pocket, I immediately went to the market in Mandacaru, a district of Gravatá, and bought an ABC primer, a pencil with an eraser, a multiplication table, and a school notebook with 16 sheets; I made use of both sides of each sheet, as well as the cover and back cover — everywhere there was a clean space, I would write something to learn faster. And so, in ten months, I learned to read, write, and do the basic arithmetic needed to get by in daily life.” (J. Borges)
1950 - 1952
Aos 15 anos, aprendeu a fazer tijolo e foi trabalhar na construção civil. Em 1952, mudou-se para Recife, onde passou a trabalhar como pedreiro, carpinteiro e pintor.
Having reached the age of 15, learned to make bricks and began working in construction. In 1952, moved to Recife, where he worked as a bricklayer, carpenter, and painter.
1955
Voltou a morar com os pais, que a essa altura estavam em Ribeirão, cidade do interior de Pernambuco, na antiga usina de álcool e açúcar, Aripibú. Lá, trabalhou no corte de cana e começou a vender os livros de literatura de cordel nas feiras.
Moved back in with his parents, who were then living in Ribeirão, a town in the interior of Pernambuco, at the former Aripibú sugar and alcohol mill. There, he worked cutting sugarcane and began selling cordel literature booklets at local fairs.
1959
Mudou-se para a pequena cidade de Escada, com seu irmão Amaro Borges. Nos dias em que não estava nas feiras de cordéis, trabalhava como carpinteiro, produzindo mobiliários. Nesse período, conheceu sua primeira esposa, Marinete, com quem viveu por sete anos. Tinha 24 anos de idade.
Moved to the small town of Escada with his brother, Amaro Borges. On days when he wasn’t at the cordel literature fairs, he worked as a carpenter, making furniture. During this period, he met his first wife, Marinete, with whom he lived for seven years. He was 24 years old by then.
1960 - 1963
Nasceu sua primeira filha, Marluce Borges, que faleceu aos 16 anos de idade, vítima do sarampo. Nessa época, J. Borges tirava o sustento da produção e venda de colheres de pau. Com 26 anos de idade, teve seu segundo filho, Jerônimo Borges, batizado em homenagem ao personagem da novela Jerônimo, o herói do Sertão. Com 14 anos, em 1961, Jeronimo contraiu meningite e não resistiu. Em 1963, nasceu o terceiro filho, Anacreonte Borges, cujo nome foi uma homenagem ao cordel Anacreonte e a Rainha de Castelo, de Severino Milanês. Anacreonte morreu aos 13 anos, depois de uma complicação cirúrgica.
His first daughter, Marluce Borges, was born but passed away at just 16 years old due to measles. During this time, J. Borges made a living by producing and selling wooden spoons. At the age of 26, had his second son, Jerônimo Borges, named after the character from the telenovela Jerônimo, o Herói do Sertão [“Jerônimo, the Hero of the Backlands”]. By the time he was 14, Jerônimo contracted meningitis and passed away. In 1963, his third son, Anacreonte Borges, was born, named in tribute to the cordel literature book Anacreonte e a Rainha de Castelo [“Anacreonte and the Queen of the Castle”] by Severino Milanês. Anacreonte passed away having reached the age of 13 due to surgical complications.
1964
Aos 29 anos de idade, J. Borges teve seu quarto filho. Juvenal Borges, de nome inspirado no cordel Juvenal e o Dragão, do poeta Leandro Gomes de Barros, morreu com 15 dias de vida. Em 1964, publicou seu primeiro cordel, O encontro de dois vaqueiros no Sertão de Petrolina . Para a capa, usou uma ilustração assinada pelo mestre Dila de Caruaru.
At the age of 29, had his fourth son, Juvenal Borges, named after the cordel book Juvenal e o Dragão [“Juvenal and the Dragon”] by poet Leandro Gomes de Barros. Juvenal passed away at just 15 days old. That same year, encouraged by his friend Antônio Ferreira da Silva, J. Borges published his first cordel book, O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina [“The Meeting of Two Cowboys in the Backlands of Petrolina”]. For the cover, he used an illustration created by Mestre Dila de Caruaru.
1965
Aos 30 anos de idade, escreveu seu segundo cordel, O verdadeiro aviso de Frei Damião. E foi para essa história que J. Borges criou sua primeira xilogravura, que retratava uma igreja representando a de Juazeiro do Norte, com duas torres, mas que lembra a matriz de São José dos Bezerros, em Bezerros. Para isso, esculpiu a matriz na madeira de jenipapo, material que utilizava para produzir as colheres que vendia nas feiras. Na tentativa de assinar seu nome completo, entendeu que precisava abreviar para J. Borges, por uma simples questão de espaço. E assim ficou.
By the time he was 30, wrote his second cordel book, O Verdadeiro Aviso de Frei Damião [“The True Warning of Friar Damião”]. It was for this story that he created his first woodcut print, carving a matrix in wood that depicted a church— intended to represent the one in Juazeiro do Norte, with two towers, while also resembling the São José Matriz Church in Bezerros. He carved it on jenipapo wood, the same material he used to make the wooden spoons he sold at fairs. When attempting to sign his full name, he realized he had to abbreviate it to J. Borges due to a lack of space.
1967 - 1970
Foi pai do seu quinto filho, Ivanildo Borges. Separou-se de Marinete e voltou a morar em Bezerros. Logo conheceu sua segunda esposa, Rita, durante uma noite de São João. O cordel Manassés e Marilí, entre a luta e o amor, de Manoel Cândido da Silva, inspirou o nome do seu sexto filho, Manassés Borges. Nesse período também nasceu seu sétimo filho, George Borges.
Became the father of his fifth son, Ivanildo Borges. Divorced from Marinete and moved back in with his parents, now in Bezerros, where he met his second wife, Rita, at a Brazilian Saint John’s festivities. The cordel book Manassés e Marilí, entre a Luta e o Amor [“Manassés and Marilí, Between Struggle and Love”] by Manoel Cândido da Silva, inspired the name of his sixth son, Manassés Borges. In 1970, his seventh son, George Borges, was born.
1971
E com 36 anos de idade, J. Borges conheceu os artistas cariocas José Maria de Souza e Ivan Marquetti. Encantado com seu trabalho, Marquetti apresentou um conjunto de xilogravuras sobre o folclore nordestino a Ariano Suassuna. J. Borges e Suassuna cultivaram uma forte amizade e admiração mútua. Tanto, que o escritor fazia questão de divulgar o trabalho de J. Borges por onde quer que fosse.
Upon reaching the age of 36, the artist met the Rio de Janeiro-based artists José Maria de Souza and Ivan Marquetti. Enthralled by his work, Marquetti presented a collection of woodcut prints depicting Brazilian Northeastern folklore to Ariano Suassuna. One of them, O Caçador de Onça [“The Jaguar Hunter”], deeply impressed the writer, as it reminded him of an artwork created by his wife, Zélia de Andrade, for the novel A Pedra do Reino [“The Stone of the Kingdom”]. J. Borges and Suassuna developed a strong friendship and mutual admiration, so much so that Suassuna made a point of promoting J. Borges’ work wherever he went.
1972
Ivan Marquetti e José Maria de Souza apresentaram J. Borges ao marchand Carlos Ranulpho, que foi até Bezerros para conhecer o ateliê do artista. Nesse ano aconteceu a primeira exposição de J. Borges, em Bezerros (PE), tendo como tema o período junino. O cordel Manassés e Marilí, entre a luta e o amor, também inspirou o nome da filha Marilí Borges.
Ivan Marquetti and José Maria introduced J. Borges to art dealer Carlos Ranulpho, who traveled to Bezerros to visit his studio and invited him to exhibit in Recife. However, J. Borges’ first exhibition took place in Bezerros (PE), themed around the June Brazilian festivals. The cordel book Manassés e Marilí, entre a Luta e o Amor [“Manassés and Marilí, Between Struggle and Love”], also inspired the name of his daughter, Marilí Borges.
1973 - 1974
Conheceu o italiano Giuseppe Baccaro, que vendia as gravuras de J. Borges em sua galeria em Olinda (PE). Em 1974, J. Borges ilustrou a capa do folheto de cordel de divulgação do documentário Nordeste: Cordel, Repente e Canção, de Tânia Quaresma, e do álbum da trilha sonora original (Tapecar), que reuniu vários repentistas. Tanto J. Borges, quanto seu filho Jerônimo, tiveram uma participação no filme. Com 39 anos de idade, J. Borges dá as boas-vindas a mais um filho, Cícero Borges.
Met the Italian Giuseppe Baccaro, who sold J. Borges’ woodcut prints in his gallery in Olinda (PE). In 1974, he illustrated the cover of the cordel booklet promoting the documentary Nordeste: Cordel, Repente e Canção [“Northeast: Cordel Literature, Repente Music, and Song”] by Tânia Quaresma, as well as the album of the original soundtrack (Tapecar), which featured several repente performers. Both J. Borges and his son Jerônimo appeared in the film. In that same year, at 39, J. Borges had his tenth child, Cícero Borges.
1975
Carlos Ranulpho mostrou a obra de J. Borges ao então assessor de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), da Rede Globo, Edwaldo Pacote, que teve a ideia de usá-la para ilustrar a abertura da primeira novela colorida da história: A fabulosa estória de Roque Santeiro e de sua fogosa viúva, a que era sem nunca ter sido ou, simplesmente, Roque Santeiro, de Dias Gomes. A novela, infelizmente, foi censurada pela Ditadura Militar, sendo veiculada, de fato, 10 anos mais tarde. Ainda em 1975, a xilogravura O caçador da onça (1973) foi capa da publicação do Movimento Armorial, idealizado por Ariano Suassuna. J. Borges também ilustrou a capa do álbum Chamada (1975), da Orquestra Armorial.
Carlos Ranulpho introduced J. Borges’ work to Edwaldo Pacote, then an advisor to José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) at Rede Globo. Pacote immediately embraced the idea of using J. Borges’ woodcut prints to illustrate the opening sequence of the first color television soap opera in Brazil: A Fabulosa Estória de Roque Santeiro e de Sua Fogosa Viúva, a Que Era Sem Nunca Ter Sido [“The Fabulous Story of Roque Santeiro and His Fiery Widow, Who Was Without Ever Having Been”], or simply Roque Santeiro, by Dias Gomes. The pre-launch of the soap opera took place in Recife, at Ranulpho’s gallery, before traveling to Belo Horizonte (MG). Unfortunately, the production was censored by the Military Dictatorship and was only officially broadcast a decade later. Still in 1975, the woodcut print O Caçador de Onça [“The Jaguar Hunter”] (1973) was featured on the cover of a publication by Movimento Armorial, founded by Ariano Suassuna to celebrate Brazilian Northeastern popular culture. J. Borges also illustrated the cover of Chamada [“Call”] (1975), an album by Orquestra Armorial.
1976 - 1980
Produziu a xilogravura A chegada da prostituta no céu , uma das suas obras mais vendidas. Em 1976, veio ao mundo Ariano Borges, 12o filho, que recebeu o nome inspirado em Ariano Suassuna. Dois anos depois, J. Borges foi pai do seu 13o filho, Ivan Borges. Um reconhecimento à amizade de Ivan Marquetti. Com 45 anos de idade, em 1980, J. Borges comemorou o nascimento de mais um filho, Rafael Borges.
Created the woodcut print A Chegada da Prostituta no Céu [The Arrival of the Prostitute in Heaven], one of his best-selling works. That same year, his 12th child, Ariano Borges, was born, named in honor of Ariano Suassuna. Two years later, having reached the age of 43, became the father of his 13th child, Ivan Borges, named in tribute to his friendship with Ivan Marquetti. In 1980, he celebrated the birth of another son, Rafael Borges.
1982
Deu vida à xilogravura A chegada da prostituta no céu (1976) , escrevendo a história que seria um dos maiores clássicos da literatura de cordel brasileiro.
Brought A Chegada da Prostituta no Céu [“The Arrival of the Prostitute in Heaven”] (1976) to life, writing the story that would become one of the greatest classics of Brazilian cordel literature.
1990
Conheceu o escritor uruguaio Eduardo Galeano, iniciando uma grande parceria, possibilitando a participação de J. Borges no livro “Palavras Andantes” (1993 ).
Met Uruguayan writer Eduardo Galeano, beginning a great partnership that led to his contributions to the book Palavras Andantes [“Wandering Words”] (1993).
1992
O suíço Pablo Stähli convidou J. Borges para fazer parte do festival cultural Suíça-Brasil. A xilogravura apresentada por J. Borges inspirou o título da exposição O voo da asa branca, que compos o evento. Segundo o mestre, a “asa branca” estaria levando a cultura nordestina para a Suíça.
The Swiss curator Pablo Stähli commissioned a piece from J. Borges for the Switzerland-Brazil Cultural Festival. The woodcut print presented by J. Borges inspired the exhibition’s title, O Voo da Asa Branca [“The Flight of the Whitewinged Dove”], which became part of the event. According to the artist, the “asa branca” [“white wing”] symbolized the journey of Brazilian Northeastern culture to Switzerland.
1993 - 1994
Casou-se, pela terceira e última vez, com Dona Nena, e escreveu o livro Memórias e Contos de J. Borges , que retrata os costumes e a história do povo nordestino. Com 59 anos de idade, foi pai de mais um filho, Pablo Borges. Seu nome foi uma homenagem ao seu amigo suíço Pablo Stähli.
Married for the third time, to Dona Nena, and wrote the book Memórias e Contos de J. Borges [“Memoirs and Tales of J. Borges”], which portrays the customs and history of the Brazilian Northeastern people. Upon reaching the age of 59, in 1994, became the father of his 15th child, Pablo Borges, named in honor of his Swiss friend Pablo Stähli.
1996
J. Borges participou da emblemática Feira do Livro de Frankfurt (Alemanha), a maior do mundo nessa área. Nesse ano, escreveu, ainda, Poesia e gravura de J. Borges , com ajuda da amiga escritora Silvia Rodrigues Coimbra, sobre sua vida e obra.
Took part in the iconic Frankfurt Book Fair in Germany, the world’s largest literary fair. That same year, with the help of his friend, writer Silvia Rodrigues Coimbra, he co-wrote Poesia e Gravura de J. Borges [“Poetry and Engravings by J. Borges”], a book about his life and work.
1999 - 2000
Aos 64 anos de idade, foi condecorado com a comenda da Ordem ao Mérito, pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso. No ano 2000, realizou a exposição J. Borges – O Mestre da Xilogravura, no Museu do Louvre, em Paris (França). O artista recebeu também o Prêmio UNESCO, na categoria Ação Educativa/Cultural, como reconhecimento por sua contribuição para a cultura popular brasileira. Nesse ano nasceu também seu filho Bacaro Borges, batizado em homenagem ao seu amigo italiano Giuseppe Baccaro.
At the age of 64, was awarded the Order of Merit by then-President Fernando Henrique Cardoso. In 2000, held the exhibition J. Borges – O Mestre da Xilogravura [“J. Borges – The Master of Woodcut”] at the Louvre Museum in Paris, France. That same year, he received the UNESCO Prize for Educational and Cultural Action, recognizing his contribution to Brazilian popular culture. His 18th child, Bacaro Borges, was born, named in honor of his Italian friend Giuseppe Baccaro.
2002
Por indicação de Pablo Stähli, a xilogravura
A Vida na Floresta abriu o calendário de 2002 da Organização das Nações Unidas. J. Borges foi comparado a Pablo Picasso na reportagem ARTSABROAD: From Brazil’s Backlands, a Master of a Folk Tradition, por Larry Rohter, do Jornal The New York Times (publicado em março de 2002), que também o considerou um “gênio da cultura popular”.
On the recommendation of Pablo Stähli, the woodcut print A Vida na Floresta [“Life in the Forest”] was featured on the opening page of the 2002 United Nations calendar. That year, J. Borges turned 67. “That same year, J. Borges was compared to Pablo Picasso in the article ARTS ABROAD: From Brazil’s Backlands, a Master of a Folk Tradition, by Larry Rohter of The New York Times (published March 27, 2002), who also described him as a ‘genius of popular culture.’”
2003
Foi inaugurado o Memorial J. Borges , em Bezerros (PE), espaço que até hoje reúne todo o acervo do artista.
The J. Borges Memorial was inaugurated in Bezerros (PE), which still houses the artist’s entire collection.
2005 - 2006
Recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. O artista também foi o grande homenageado na exposição itinerante O Universo da Literatura de Cordel, na França, em decorrência do Ano do Brasil na França.
O cordel A chegada da prostituta no céu foi adaptado para o teatro, com peça de Manoel Constantino, itinerando por todo Brasil.
J. Borges adaptou para a linguagem do cordel a famosa obra de Miguel de Cervantes no Brasil, Dom Quixote em Cordel. A obra-prima é um dos romances mais icônicos da literatura mundial, publicado pela primeira vez em 1605.
Awarded the title of Patrimônio Vivo de Pernambuco (Living Heritage of Pernambuco). J. Borges was also the guest of honor at the traveling exhibition O Universo da Literatura de Cordel [“The Universe of Cordel Literature”] in France, as part of the Year of Brazil in France celebrations. Additionally, his cordel book A Chegada da Prostituta no Céu [“The Arrival of the Prostitute in Heaven”] was adapted for theater in a play by Manoel Constantino, which toured across Brazil.
His cordel literature imagery inspired the Brazilian adaptation of Miguel de Cervantes’ classic, Dom Quixote em Cordel [“Don Quixote in Cordel”]. Originally published in 1605, Don Quixote remains one of the most iconic novels in world literature.
2012 - 2014
Gravuras de J. Borges ilustraram Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos, dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm , com tradução em português do escritor Röhrig C. Em 2014, J. Borges participou da exposição Grimm Agreste, realizada no Sesc Interlagos, em São Paulo.
J. Borges’ woodcuts prints illustrated the Portuguese edition of Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos [“The Complete Fairy Tales of the Brothers Grimm”] by Jacob and Wilhelm Grimm, translated by Röhrig C. In 2014, he took part in the exhibition Grimm Agreste [“Grimm’s Semiarid”], held at Sesc Interlagos in São Paulo.
2016 - 2017
Em 2016, a versão brasileira do conto “O Lagarto” (Porto Editora, 2016), do escritor português José Saramago , ganhou ilustração do mestre J. Borges. No ano seguinte, a Caixa Cultural São Paulo apresentou a exposição J. Borges 80 anos, uma coletânea com 30 xilogravuras e suas matrizes.
The Brazilian edition of the short story “O Lagarto” (Porto Editora, 2016) [“The Lizard”] by Portuguese writer José Saramago was illustrated by J. Borges. The next year, the exhibition J. Borges 80 Anos [“J. Borges: 80 Years”] was held at Caixa Cultural São Paulo, showcasing a collection of 30 woodcut prints alongside their original matrices.
2018
A escola de samba Acadêmicos da Rocinha, do Rio de Janeiro, prestou uma homenagem à arte da xilogravura e à literatura de cordel, por meio da obra de J. Borges, com o enredo Madeira Matriz.
The samba school Acadêmicos da Rocinha paid tribute to J. Borges, celebrating 110 years of woodcut printmaking in Brazil with the carnival theme Madeira Matriz [Matrix Wood].
2019
Lançamento da biografia J. Borges: Entre Fábulas e Astúcias, da jornalista e pesquisadora Maria Alice Amorim.
The biography J. Borges: Entre Fábulas e Astúcias [“J. Borges: Between Fables and Cunning”], written by journalist and researcher Maria Alice Amorim, was released.
2021
J. Borges recebeu a medalha de “Honra ao Mérito Juiz Aluiz Tenório de Brito” da Escola Judicial de Pernambuco – ESMAPE. Também foi contemplado com o “Título de Notório Saber em Cultura Popular”, na categoria Poesia Popular, área de atuação Literatura de Cordel/Xilogravura, da Universidade de Pernambuco – UPE, em reconhecimento à sua contribuição artística e cultural.
J. Borges received the “Honra ao Mérito Juiz Aluiz Tenório de Brito” medal from the Judicial School of Pernambuco – ESMAPE. He was also awarded the “Title of Notorious Knowledge in Popular Culture,” in the category of Popular Poetry, in the field of Cordel Literature/Woodcut Printmaking, by the University of Pernambuco – UPE, in recognition of his artistic and cultural contribution.
2022
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo realizou a exposição J. Borges – O Mestre da Xilogravura, que teve itinerância em outras capitais, incluindo o Rio de Janeiro, no MAR - Museu de Arte. Ainda em 2022, a Christal Galeria de Artes, em Recife, realizou a mostra Pernambuco por J. Borges.
The Federation of Industries of the State of São Paulo (FIESP) organized the exhibition J. Borges – O Mestre da Xilogravura [“J. Borges – The Master of Woodcut”], which later traveled to other capitals, including Rio de Janeiro, where it was displayed at MAR – Museu de Arte do Rio. Also in 2022, the Christal Galeria de Artes in Recife presented the exhibition Pernambuco por J. Borges [“Pernambuco by J. Borges”].
2023
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva presenteou o Papa Francisco com a obra A Sagrada Família, de J. Borges, durante sua visita no Vaticano, em junho.
President Luiz Inácio Lula da Silva gifted Pope Francis the work A Sagrada Família [“The Holy Family”] by J. Borges during a visit to the Vatican in June.
2024
Obras do mestre foram adquiridas pelo Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri (Espanha). Também foi realizada a mostra retrospectiva no Museu do Pontal do Rio de Janeiro - J. Borges – O Sol do Sertão. Na ocasião, recebeu o título de cidadão carioca pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.
O xilogravurista, poeta e cordelista pernambucano faleceu na manhã de sexta-feira, 26 de julho de 2024, em sua residência em Bezerros (PE), ao lado de sua esposa, D. Nena. Ao longo dos seus 88 anos, J. Borges criou 24 filhos, sendo seis adotivos. Principalmente os filhos Pablo, Bacaro e Ivan, o enteado José Miguel da Silva e o sobrinho Givanildo, dão continuidade ao legado de J. Borges na produção artística.
Works by J. Borges were exhibited at the Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía in Madrid, Spain. Also, a retrospective exhibition, J. Borges – O Sol do Sertão [“J. Borges –The Sun of the Backlands”], was held at the Museu do Pontal in Rio de Janeiro. On this occasion, J. Borges was honored with the title of Citizen of Rio de Janeiro by the City Council of Rio de Janeiro.
The renowned woodcut artist, poet, and cordel literature author from Pernambuco passed away on the morning of Friday, July 26, 2024, at his home in Bezerros (PE), beside his wife, Dona Nena. Over his 88 years, J. Borges raised 24 children, including six adopted ones. His legacy in artistic production is carried on mainly by his sons Pablo, Bacaro and Ivan, his stepson José Miguel da Silva, and his nephew Givanildo.
Foto: Acervo do Memorial J. Borges
Photo from the J. Borges Memorial archive
Fotos da exposição por Clauder Diniz
Exhibition photographs by Clauder Diniz
Foto: Acervo do Memorial J. Borges
Photo from the J. Borges Memorial archive
Ficha técnica
Centro Cultural apresenta
J.Borges: Poesia e Arte
Curadoria: Romildo Gastão
Palácio do Congresso Nacional, Salão Negro
24 de abril a 06 de junho de 2025
Visitação: 9h às 17h
Secretaria de Comunicação
Social, Centro Cultural Câmara dos Deputados
SECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Marx Beltrão (PP/AL)
SECRETÁRIO DE PARTICIPAÇÃO, INTERAÇÃO e MÍDIAS DIGITAIS
Guilherme Uchoa (PSB/PE)
DIRETORIA EXECUTIVA DE COMUNICAÇÃO e MÍDIAS DIGITAIS
Cleber Queiroz Machado
COORDENAÇÃO DE CERIMONIAL, EVENTOS e CULTURA
Frederico Fonseca de Almeida
REALIZAÇÃO
Centro Cultural Câmara dos Deputados
SUPERVISÃO
Clauder Diniz
COORDENAÇÃO DO PROJETO
Maíra Brito
PRODUÇÃO
Claudia Brisolla e Gisele Lima
REVISÃO EM PORTUGUêS
Maria Amélia Elói
EXPOGRAFIA e DIAGRAMAÇÃO
Mima Carfer, Rafael Botelho
PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO DO CATÁLOGO
Ney Gabriel Garcez
ESTAGIÁRIA DE DESIGN
Lauane da Silva Sousa
MONTAGEM e MANUTENÇÃO
DA EXPOSIÇÃO
André Ventorim, Maurilio Magno, Paulo Titula, Wendel Fontenele
MATERIAL EDUCATIVO Plenarinho
MATERIAL GRÁFICO
Coordenação de Serviços Gráficos CGRAF/DEAPA
PINTURA
Serviço de Obras
SEROB / DETEC
ELÉTRICA
Serviço de Instalações Elétricas
SIELE/DETEC
ILUMINAÇÃO
Landim Produções
TRADUÇÃO PARA INGLÊS
José Eduardo Souza da Silva
APOIO
Governo Estado de Pernambuco e Galeria Index Galeria Index
PRODUÇÃO ExECUTIVA e ORGANIZAÇÃO
EDITORIAL Tatiana Gonçales
DIREÇÃO ARTÍSTICA Marcos Mendes
IDENTIDADE VISUAL e PROJETO GRÁFICO Made By Index
DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA Glenio Lima
REVISÃO
Lia Ana Trzmielina
AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial ao Memorial J. Borges, Bezerros (PE), e à família de J. Borges
Adenilson Feitosa, Adilson Valverde, Adriana Janaína, Alvino dos Reis, Ana Paula Jardim, Ângelo Maurício, Banco Bradesco, Betty e Luiz Carlos Bettiol, Cacau de Paula, Carlos Veras, Cícero Francisco, Cosmo Airton, Cristian Costa, Cristiano Magalhães, Daniel Theodoro, Davi Miranda, Domingos Pereira, Dulci Tine, Edson Gês, Eduardo José Guaragna, Edvaldo Nunes, Eric Lisboa, Francisco Alexandre, Francisco Portela, Glênio Lima, Gova, Graciene Farias, Guilherme Soares Rodrigues da Silva, Gustavo Moreira, Humberto Queiroz,
Jamilton Barreto, Joaquim de Arruda Falcão, Jonathan Morais, André Cerino, José Antônio, José Valdi, José Wiliton, Júlia Macedo, Letícia Gobbi, Letícia Ono, Luciana Barboza, Maciel dos Santos, Márcio Rodrigues, Mário Sérgio, Pablo Borges, Pedro Henrique Rocha, Pedro Ycaro, Raquel Lyra, Raquel Monti, Reno dos Santos, Roberta Arcoverde, Romero César Guerra Dominoni, Romero Rafael, Roselia Rocha, Rosimar de Jesus, Sayid Marco Tenório, Simplicio Nascimento, Dep. Túlio Gadelha, Uébio Salazar, Valderio Costa, Vasco Azevedo, Wilson Aparecido, Yasmim Dyndara.
Febraban, Livraria Sebinho, Museu do Senado, Pape – Programa do Artesanato de Pernambuco,
Palácio do Congresso Nacional –Câmara dos Deputados – Anexo 1 – Sala 1601 – CEP 70160-900 –Brasília/DF
Brasília, abril de 2025
Chamber of Deputies
Cultural Center presents
J. Borges: Poetry and Art
Curator: Romildo Gastão
National Congress Palace –
Black Room
From April 24 to June 6
Visiting hours: 9 a.m. to 5 p.m
SECRETARY OF SOCIAL COMMUNICATION
Marx Beltrão (PP/AL)
SECRETARY OF PARTICIPATION, ENGAGEMENT and GITIAL MEDIA
Guilherme Uchoa (PSB/PE)
EXECUTIVE DIRECTORATE OF COMMUNICATION AND DIGITAL MEDIA
Cleber Queiroz Machado
CEREMONIAL, EVENTS AND CULTURE COORDINATION
Frederico Fonseca de Almeida
ORGANIZED BY
Centro Cultural Câmara dos Deputados
SUPERVISION
Clauder Diniz
PROJECT COORDINATION
Maíra Brito
PRODUCTION
Claudia Brisolla e Gisele Lima
PROOFREADING (portuguese)
Maria Amélia Elói
EXHIBITION DESIGN AND LAYOUT
Mima Carfer, Rafael Botelho
CATHALOGUE DESIGN AND LAYOUT
Ney Gabriel Garcez
ENGLISH TRANSLATION
José Eduardo Souza da Silva
SUPPORT
Governo Estado de Pernambuco and Galeria Index
Câmara dos Deputados 0800 0 619 619 –cultural@camara.leg.br
Access our public notice
Brasília – Brazil, 2025
COLECIONADORES QUE
EMPRESTARAM OBRAS PARA EXPOSIÇÃO
Collectors who loaned works for the exhibition
ACERVO DE J BORGES
MATRIZES: “O monstro do sertão”; “Coração na mão”; “Brasília 60 anos”; “Lampião e Maria Bonita”; “O sertão antigo”; “Fim de semana em casa de pobre”; “Frutas do Nordeste”; “Os cajueiros”; “A passarada”; “São Francisco no jardim”; “Jesus, Maria e José. A Sagrada Família”; “Nossa Senhora Aparecida”; “Iemanjá”; “Cavalo-marinho”.
ADRIANA JANAÍNA SANTOS xILOGRAVURA “Colhedora de rosas”.
ANDRÉ CERINO MATRIZ “Os retirantes”.
ÂNGELO DE QUEIROZ MAURÍCIO MATRIZ “Agricultura Brasil-Índia”.
BETTY e LUIZ CARLOS BETTIOL xILOGRAVURAS “Forró dos Bichos”, “Bichos do Sertão”; “Iemanjá”; “O pagode”; 2 CONJUNTOS DE xILOGRAVURAS EM MINIATURAS**
DULCE TINÉ
xILOGRAVURAS “São Francisco de Assis”; “N.S. da Conceição”; “Santos Cosmo e Damião”; “Nossa Senhora Aparecida”; “Santo Expedito”.
EDSON GêS MATRIZ e xILOGRAVURA “O fotógrafo”.
ERIC LISBOA CODA DIAS xILOGRAVURAS “Céu estrelado”; “O papagaio”.
GLêNIO LIMA
xILOGRAVURA “O Monstro de Ponta”.
JOSÉ VALDI
xILOGRAVURA “A ceia larga”.
LIVRARIA SEBINHO
xILOGRAVURA “A mulher que botou o diabo na garrafa”.
xILOGRAVURAS “A vida no sertão”; “Pássaros da mata”; “Cavalo Marinho”; “O frevo”; “Pau de sebo”; “O peixe voador”; “O zabumbeiro”; “Arca das letras”; “O plantio de girassol”; “A professora”.
ROMILDO GASTÃO
MATRIZES: “A chegada da prostituta no céu”; “Pastoril”; “Pássaros da Mata”; “A ceia larga”.
xILOGRAVURAS: “A chegada da prostituta no céu”; “O monstro do sertão”; “Briga da onça com a serpente”; “Casamento do cachorro”; “O discurso da onça”; “A mulher e o dragão”; “O bicho de 7 cabeças”; “Mudança de sertanejo”; “A vida na floresta”; “O sol do bom viver”; “Sertão em noite de lua”; “Lampião e Maria Bonita”; “Frutas do Nordeste”; “São Jorge”; “Jesus, Maria e Jose. A Sagrada Família”; “N. S. de Guadalupe”; “Sto. Antônio Casamenteiro”; “O padre namorador”; “Cavalo marinho completo”; “A serpente e a mulher”; “O romeiro e a serpente”; “Fulozinha e os pássaros”; “A cavalgada e a pedra do reino”; “Astros e signos”; “Agricultura Brasil-Índia”; “O gato e a flor”; “O xaxado de Lampião”; A moça que virou cobra”; “Fugindo da seca”; “A festa na casa de Noca”; “O conquistador de zona”; “O forró do amor”; “Festa no arraial”.
PUBLICAÇÕES: “Historinhas de cordel para crianças”; ilustração de “As palavras andantes”; “Memórias e Contos de J.Borges”; “J.Borges: entre fábulas e astúcias”; “Poesia e Gravura de J.Borges”; ilustração de “O lagarto”, de José Saramago; “Dom Quixote em cordel”; “J. Borges: Cordel e Xilogravura”; ilustração de “J. Borges por J.Borges”, por Clodo Ferreira; ilustração de “A peleja de um gênio para escapar da cana”, de Jeová Franklin; ilustração de “Setenta anos de vida do compadre J. Borges”, de Zé da Madalena; “Quase todos”, de Joaquim Falcão; “A vida de Lampião em lendas, versos e gravuras” e “Como se faz uma xilogravura e como se escreve um cordel”.
O catálogo da exposição J. Borges: Poesia e Arte é uma produção e realização do Centro Cultural da Câmara dos Deputados.
Este catálogo foi impresso em papel LINHO FOSCO 180 g/m2 e composto com TIMES EIGHTEEN e BELY
Brasília, september 2025
The catalogue for J. Borges: Poetry and Art is a Centro Cultural da Câmara dos Deputados production. This catalogue was printed on LINHO FOSCO 180 g/m2 paper, and composed with TIMES EIGHTEEN and BELY
Reconhecido como o maior xilogravador popular do Brasil, aclamado tanto pelo público quanto pela crítica internacional, J. Borges afirmava que a força da arte reside na criação, e que as raízes de sua obra estão no pensar, no sentir e no gostar do povo.
No ano de 2025, Brasília e a Câmara dos Deputados prestam a primeira homenagem póstuma ao artista, por meio de uma exposição individual no Salão Negro do Congresso Nacional. Cabe também à Câmara dos Deputados a publicação do primeiro catálogo dedicado a uma mostra individual de J. Borges, ao longo de mais de seis décadas de sua trajetória artística.
Recognized as the most popular woodcut artist in Brazil and acclaimed by both the public and international critics, J. Borges affirmed that the power of art lies in creation, and that the roots of his work are in the thinking, feeling, and tastes of the people.
In 2025, Brasília and the Chamber of Deputies pay the artist’s first posthumous tribute through a solo exhibition in the Black Hall of the National Congress. The Chamber of Deputies is also responsible for publishing the first catalog dedicated to a solo exhibition of J. Borges, spanning more than six decades of his artistic trajectory.