Geodialética

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Centro Cultural Câmara dos Deputados apresenta a exposição

Brasília, outubro de 2025

O Centro Cultural Câmara dos Deputados é responsável pela preservação do acervo museológico da Câmara dos Deputados e pela realização das ações culturais que ocorrem na instituição, como exposições artísticas e históricas e eventos literários.

Além de promover as culturas regionais e a produção artística contemporânea nacional, o Centro Cultural atua na preservação da memória da instituição e na história do Poder Legislativo. Idealizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o Palácio do Congresso Nacional abriga obras de artistas brasileiros renomados da segunda metade do século XX, como Di Cavalcanti, Athos Bulcão e Marianne Peretti.

Com o intuito de viabilizar a diversidade e a qualidade das exposições realizadas pelo Centro Cultural, todos os anos promovemos um edital público para a seleção das mostras artísticas e históricas que ocuparão, no ano subsequente, os espaços destinados aos eventos culturais. As propostas apresentadas são avaliadas por uma Comissão Curadora e, desta forma, o Centro Cultural proporciona a artistas e curadores de todo o Brasil a oportunidade de apresentar seus trabalhos em áreas da Câmara dos Deputados onde há grande circulação de visitantes de diversas partes do país, propiciando o exercício e a promoção da cultura e da cidadania.

8 26 34 12 48 11

GEODIALÉTICA: A ARTE COMO LENTE DA GEOPOLÍTICA

O PESO DAS CORES, A FORMA DO PODER IAGO GOUVÊA

SOBREPOSIÇÃO

JUSTAPOSIÇÃO

CONTRAPOSIÇÃO

UNCOUNTRIES

48 64 65

ARTHUR WAS HERE E O NEOCONCEITUALISMO NA ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

ADRIANO GOMIDE

61 60

ARTHUR WAS HERE, THERE AND EVERYWHERE

FERNANDO PACHECO

ARTHUR WAS HERE?

FIXADO NO VERSO TRAJETÓRIA

GEODIALÉTICA:

A ARTE COMO LENTE DA GEOPOLÍTICA

Geopolítica é uma área do conhecimento que se concentra na interseção entre fatores do espaço geográfico (localização, recursos naturais e características de fronteiras), das relações internacionais e da dinâmica de poder entre os países no mundo.

Geodialética é um conjunto de obras de arte que discutem e manifestam expressões e fenômenos da geopolítica e buscam revelar visualmente algumas das diversas interações1 dos elementos que a compõem e que lhe conferem seu caráter.

Como um todo, a obra reflete sobre os princípios geradores das determinações do homem sobre o espaço e sua relação com a sociedade, a cultura, o estado, o poder e com sua própria natureza — tanto do ponto de vista do homem como gênero que constrói a civilização e cria seus limites quanto como indivíduo que tem necessidades e desejos.

A obra é dividida em quatro séries. Três delas consistem na conjugação de bandeiras nas três formas possíveis de conjugar formas num plano bidimensional, em paralelo com o processo geopolítico, que também acontece, em essência, sobre um plano bidimensional, que é possível ser descrito em mapas bidimensionais compostos por latitudes e longitudes: a superfície terrestre. A quarta série aborda o conceito de autodeterminação dos povos, um dos temas centrais da geopolítica.

Cada qual à sua maneira, as obras revelam processos que ajudam a entender esse fenômeno que chamamos de “nação” — tanto os processos que os compõem e geram quanto os processos que eles compõem na dimensão global e os elementos universais que se expressam através deles.

O trabalho inteiro foi produzido através de um rigoroso processo de pesquisa e reflexão, que permite esclarecer com segurança suas razões. Muitas vezes, porém, as obras expressam, por razão de seus princípios e sua forma, atributos e interpretações que não foram previamente estabelecidos, o que, na opinião do autor, torna a obra ainda mais rica. Ela, portanto, manifesta uma dimensão conceitual concreta que direciona a interpretação e uma dimensão que se expressa espontaneamente e permite outras formas interpretativas.

Por mais que a maioria das obras possuam limites bem definidos e claros, todas elas contêm elementos que refletem opiniões pessoais do autor, pois assim ele o quis. O artista não buscou, até por não acreditar ser possível, filtrar da obra nem a sua própria opinião nem as “opiniões coletivas”2 relativas ao fenômeno geopolítico.

1. Daí o conceito de Geodialética: as interações (dialética) que ocorrem sobre a terra (geo).

2. A seleção de países que tiveram suas bandeiras utilizadas na confecção das obras que reúnem bandeiras de países do mundo (séries Justaposição e Sobreposição) poderia ter sido feita com base num consenso coletivo sobre o que constitui uma nação, que seria a “opinião coletiva” (Exemplo: o critério que define os 195 estados reconhecidos pela ONU). Porém, o autor preferiu utilizar sua própria seleção, que se constitui de 208 países, pois entende que nenhuma definição, inclusive a que constitui os consensos, é determinante. Mesmo dentre instituições como a ONU existem discordâncias entre os membros sobre o status de nação entre países membros e entre projetos de nação e organizações separatistas, para não mencionar a discordância entre as diversas organizações e blocos geopolíticos (como a presença do Saara ocidental na União Africana como país efetivo apesar do reconhecimento limitado por outras organizações). Entende também que o jogo geopolítico e as circunstâncias geopolíticas escondem nuances que afetam a noção de soberania, que são de tal natureza e de tal número, que é impossível uma definição que contemple a soberania de forma definitiva (pois ela seria uma combinação de diversos elementos de uma nação que são mutáveis e relativos, por exemplo, a capacidade de defender-se, a presença de inimigos, seu território, sua integridade política e social, etc.). O artista, portanto, se arroga o direito de escolher, não sem qualquer critério, uma seleção que o contemple também como parte desse processo. Afinal, as opiniões de cada pessoa sobre o que é uma nação também são parte da força geradora do fenômeno da nação e do fenômeno geopolítico como um todo, e o autor, que tem as suas próprias opiniões, também está inserido nisso.

Desta forma, em todas as obras está inserida a opinião do artista, não apenas como marca da própria autoria, mas também como matéria de sua participação nos processos que ele busca discutir. Apesar disto, também contemplou a opinião coletiva e tentou privar-se de suas opiniões mais apaixonadas.

Ainda em relação à presença da opinião, o autor não acredita ser possível filtrá-la da obra e refazê-la a partir de uma filosofia que se proponha a definir de forma perfeita o fenômeno da nação e da identidade em uma categoria ou conceito que jamais entre em contradição. O autor é cético em relação a essa possibilidade, por acreditar também que o fenômeno da geopolítica é algo que apenas se completa em totalidade em seu próprio movimento e atividade. Por estar em constante transformação, não pode ser reduzido a um conceito fixo e imutável. Na visão do autor, esse fenômeno só é total nele mesmo, e a mente humana só consegue apreendê-lo de forma parcial, por meio de seus fragmentos e manifestações. Por isso, qualquer conceito será sempre limitado à quantidade de aspectos que conseguimos perceber e incorporar. Apenas o próprio fenômeno abrange tudo. Portanto, o autor não espera que sua obra esteja livre dessas limitações ou da própria subjetividade — e nem pretende isso.

A ideia de a conceitualização ter um caráter imperfeito também serviu como freio e crítica à busca da perfeição e constituiu um desafio pessoal ao perfeccionismo do autor, que a ela tende. Embora acredite que o ideal deva ser sempre buscado, ele teve em mente que isso deve ser feito com cuidado e sensibilidade ao tentar equilibrar essa busca com os limites que a realidade impõe à arte, ao artista e à mente, por mais que por vezes ao longo do processo tenha disso se esquecido.

Apesar de compartilharem entre si a propriedade de serem referência a partes do processo que constitui o fenômeno da geopolítica, as obras diferem bastante entre si em conteúdo e forma. As técnicas utilizadas variam do analógico ao digital, da pintura tradicional ao desenho abstrato, do uso das teclas, mouses e HDs ao lápis e ao aerógrafo. O conteúdo transita desde jogos visuais baseados na contraposição de formas e em princípios matemáticos complexos até reflexões sobre autodeterminação, liberdade e críticas à forma como esses conceitos se manifestam no mundo real. É um trabalho extremamente diverso, difícil de ser discutido como um todo, sendo necessário analisá-lo também por suas partes, como é com a própria geopolítica.

As bandeiras, como expressões materiais e símbolos visuais representativos das entidades geopolíticas, são um objeto central na maioria das séries que constituem o projeto. Isso pois, como marca de identidade e objeto de pura representação, elas manifestam visualmente os principais conteúdos de suas respectivas nações na visão daqueles que a criaram, tornando-se um objeto de grande significado e uma ferramenta excepcional para a criação artística.

INFLUÊNCIAS

Muitos artistas atuaram como influência para a criação da Geodialética. O primeiro e mais importante, que influenciou os primeiros esboços do projeto e conferiu confiança ao autor para prosseguir, foi o artista brasileiro Ivan Serpa. Após uma visita à exposição Ivan Serpa: a expressão do concreto, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, nasceram os primeiros esboços do projeto, que se tornaram as obras a nanquim da série 3 (Contraposição). Elas foram inspiradas principalmente pela estética dos trabalhos da série Op-erótica, de Serpa. A paleta de cores também foi em parte inspirada em obras de Serpa.

A obra como um todo bebeu muito do modernismo, da arte geométrica abstrata e da Op-Art. Hercules Barsotti, Vera Pawelzik, Daniel J. Mullen, Piet Mondrian, Bridget Riley e são alguns exemplos de artistas que inspiraram esteticamente o trabalho.

A obra também foi extremamente influenciada pela arte conceitual. Emma Kay, Michael Craig-Martin, Robert Ryman, Marcone Moreira, Sol Lewitt, Hans Haacke e muitos outros serviram como exemplo pela simplicidade e elegância de suas obras. Maurizio Catellan e Sol Lewitt foram muito importantes, fornecendo soluções práticas para a série 2 (Sobreposição).

Outra influência importante foi Pablo Picasso, que deu ao artista confiança em relação à multidisciplinaridade da obra. Picasso é um artista que prova que não há problema na multidisciplinaridade e que ela pode tornar uma obra mais rica e profunda.

Muitos outros artistas serviram, através de seus exemplos como artistas e da beleza de suas obras, como injetores de força e como objetivo a ser alcançado.

Arthur was here

O PESO DAS CORES, A FORMA DO PODER

A obra de Arthur Mascarenhas não se contenta em representar a geopolítica. Ela a desmonta, sobrepõe, justapõe e, finalmente, a questiona. Em Geodialética, o artista trabalha com bandeiras não como símbolos fixos, mas como imagens em transição, onde cores, formas e proporções revelam tanto as realidades quanto as ficções que sustentam as nações. Seu método é quase arqueológico: escava os signos do poder para expor suas camadas de contradição.

Na série Sobreposição, as bandeiras fundem-se em composições que são tanto mapas cromáticos quanto alegorias da identidade. O que emerge não é uma síntese, mas uma nova perspectiva sobre soberanias em conflito.

Justaposição é onde a geopolítica se torna corpo. As silhuetas das bandeiras, dispostas como peças de um quebra-cabeça impossível, lembram tanto janelas quebradas de uma divisão espacial em ruínas quanto bandeiras de uma união utópica. Arthur comprime a política em formas brutas.

Já em Contraposição, a violência da dialética se materializa. Bandeiras são cortadas, duplicadas, rearranjadas em composições de desordem controlada. Aqui, o trabalho dialoga com o construtivismo, mas de outra maneira: em vez de ordem, há caos. Em vez de estrutura, tensões geradas pela quebra de sistemas e o nascimento de novas fronteiras. As pinturas a óleo e os desenhos em nanquim funcionam como registros de um conflito permanente, não entre nações, mas dentro delas.

Por fim, Uncountries é onde Arthur escapa do mapa. Ao retratar micronações, ele não apenas questiona o que é um país, mas também o que é um desejo de país. Se a arte contemporânea muitas vezes se apropria de narrativas marginais para criticar o centro, Arthur propõe inverter esta lógica, olhando para a autodeterminação e perguntando: e se fosse assim? Esses são lugares que existem apenas porque alguém insistiu em acreditar neles. E não é isso, no fim, o que todas as nações fazem?

Geodialética não oferece respostas. Ela é um espelho embaçado para um mundo que se fragmenta e se reconstrói sem parar. E talvez seja essa a sua maior potência: lembrar que a geopolítica, antes de ser um sistema, é um sonho coletivo: às vezes belo, às vezes grotesco, mas sempre humano.

Iago Gouvêa Artista plástico Belo Horizonte, MG.

POSIÇÃOSOBRE

All countries

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos 32,5 x 42,5 cm 2022

Continents: Africa

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm

2022

Continents: Asia

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm

2022

Continents: Oceania

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

Continents: Europe

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

Continents: North and Central Americas

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

Continents: South America

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

All countries center

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm

2022

A verdadeira Bandeira do Brasil

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

UK Real Flag

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

Population Index Visual Experiment

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

Territory Index Visual Experiment

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

PIB 2010 Visual Experiment

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm 2022

Population Index 50%

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm

2022

Territory Index 50%

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm

2022

Population Index 10%

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm

2022

Population Index 10%

Regras escritas, montagem digital, objeto/moldura, print fine art, arquivos

32,5 x 42,5 cm

2022

A série Sobreposição conjuga as bandeiras sobrepostas. Seu objetivo é obter um resultado que visualmente expresse algo da identidade geral de diversos conjuntos geopolíticos através das bandeiras, que são uma forma pela qual as nações expressam sua identidade.

Ao sobrepor as bandeiras, de forma que cada uma apareça na imagem resultante com a mesma proporção, obtemos um resultado no qual é possível observar diversas relações. As cores, os formatos, os símbolos e outros elementos presentes revelam características geográficas, culturais, sociais e históricas de cada set. A obra convida o espectador a interagir, pois o induz a buscar e identificar essas relações e a projetar na obra sua interpretação particular sobre o set representado.

O artista reconhece que esta obra carrega, inevitavelmente, os mesmos limites representativos das bandeiras que a compõem. Ao serem criadas, os encabeçadores dos projetos nacionais selecionam elementos considerados por eles essenciais para representar a nação, que nunca dão conta de sua totalidade. Da mesma forma, este trabalho não busca representar a totalidade das nações, mas sim os aspectos que as definem como agentes no cenário geopolítico. A sobreposição das bandeiras sintetiza essas dinâmicas, oferecendo uma imagem que torna visível e concreta a complexidade das interações entre os conjuntos que ela representa.

Como as obras desta série têm como mídia nativa o digital, e arquivos digitais têm escassez ilimitada, o artista decidiu por determinar que a obra se constitui de sua propriedade intelectual. Desta forma, ele criou um certificado que garante a propriedade intelectual da obra ao listar seus componentes, fazendo com que a obra em si se constitua do certificado. Sua principal inspiração para essa solução foram os artistas Maurizio Cattelan e Sol Lewitt.

A obra já foi apresentada de duas formas: como bandeira e como moldura especial projetada pelo artista, que contém uma gaveta lateral onde se guarda o certificado.

JUSTA POSIÇÃO

27 JUSTA POSIÇÃO

FLOWER

Tinta acrílica ultra absorvente sobre compensado naval

80 x 110 cm

2023

CRACK

Tinta acrílica ultra absorvente sobre compensado naval 80 x 110 cm 2023

Tinta acrílica ultra absorvente sobre compensado naval 80 x 110 cm 2023

BLOCK

A série Justaposição consiste em três trabalhos esteticamente simples, mas com uma dimensão conceitual profunda. Através da simplicidade e da eliminação de todo ruído, excesso e elementos não necessários, as obras buscam manifestar a geopolítica visualmente, utilizando elementos que lhe são próprios.

O artista percebeu que, assim como a escolha das cores, formas, ícones e modelos das bandeiras, as nações também fazem uma escolha em relação às suas dimensões — que são, provavelmente, a forma mais simples na qual a diferença entre as nações se expressa. Isso porque ela se resume a dois dados variáveis: altura e largura.

O artista julgou correto que a forma irregular resultante da justaposição de todas essas proporções nada mais seria que uma expressão visual daquilo que, ao mesmo tempo, dá origem e constitui a geopolítica: a irreconciliável diferença entre seus diversos elementos e a inescapável incompletude que os condiciona ao eterno movimento.

As proporções agem, neste caso, assim como as nações que, por mais que sejam agrupadas sob o conceito de “nação” devido à sua natureza semelhante, quando justapostas no mundo, estabelecem, por conta de suas diferentes aspirações, desejos e necessidades, essa cadeia caótica de relações que recebe o nome de geopolítica. Assim como a forma resultante da justaposição das bandeiras, elas são incapazes de expressar qualquer regularidade, simetria ou perfeição.

Porém, ao mesmo tempo, a justaposição das silhuetas forma um potente sólido, estabelecendo como coisa definida e real essa natureza imperfeita e em eterna busca de si, que é própria da geopolítica — um fenômeno que subsiste em seu próprio movimento. Da mesma forma que podemos dar a este fenômeno um nome que o define em sua unidade (geopolítica), podemos também extrair dele uma forma que o represente visualmente da maneira mais pura e simples concebível.

As três obras desta série consistem em pinturas feitas com tinta acrílica preta ultra-absorvente de luz, sobre uma chapa de compensado naval. A materialidade do trabalho foi pensada para se harmonizar com seu conceito: a tinta, sem reflexo e sem textura, representa a pureza da representação; e a chapa, forte e pesada, simboliza a solidez do conceito. Todas as obras têm o mesmo tamanho: 110 cm x 80 cm.

POSIÇÃOCONTRA

BRASIL SUJEITO Óleo sobre tela 70 x 50 cm 2024
BRASIL PRÉLIO
Óleo sobre tela
70 x 50 cm
BRASIL PLANO
Óleo sobre tela
70 x 50 cm
BRASIL CASTELO
Óleo sobre tela
70 x 50 cm

Óleo sobre tela

70 x 50 cm

2024

Óleo sobre tela

70 x 50 cm

2024

BRASIL CORTE
BRASIL FLORA

BRASIL DANÇA

Nanquim sobre papel Leonardo Hahnemuller

90 x 110 cm

2022

BRASIL GRAVIDADE

Nanquim sobre papel Leonardo Hahnemuller 90 x 110 cm

2022

BRASIL LOGOS

Nanquim sobre papel Leonardo Hahnemuller

90 x 110 cm

2022

2022

BRASIL PONTE
Nanquim sobre papel
Leonardo Hahnemuller
90 x 110 cm

EUA EAGLE

Nanquim e grafite

sobre papel Leonardo Hahnemuller

55 x 78 cm

2022

EUA FALL

Nanquim e grafite

sobre papel Leonardo Hahnemuller

55 x 78 cm

2022

EUA STACKS

Nanquim e grafite

sobre papel Leonardo Hahnemuller

55 x 78 cm

2022

A série Contraposição disseca bandeiras e conjuga suas partes. Ela se constitui de uma metáfora do autor sobre o processo dialético que gera as nações. Para fazer analogia a esse processo, o artista simplificou uma bandeira geometricamente (removendo pequenos detalhes, letras, estrelas, etc.), a duplicou, cortou suas formas internas e fez composições geométricas abstratas com esses pedaços. Cada pedaço, na metáfora do artista, representa alguma partícula interna das várias que juntas compõem a nação: indivíduos, grupos, ideias, ideologias, crenças, culturas, visões de mundo, etc. A duplicação da bandeira representa a presença das diferenças que geram o movimento interno das nações, fruto do confronto entre as distintas ideias, visões, vontades, desejos e necessidades das partículas que as compõem. A escolha pela duplicação foi para representar a dialética em princípio, pois esses confrontos, que na realidade podem acontecer entre mais de duas partículas, precisam necessariamente de no mínimo dois elementos contrários ou diferentes para acontecer. O artista, portanto, utilizando esse racional, brinca com essas formas e pedaços para compor os desenhos e pinturas da série.

A forma estética da série também é controlada e dirigida. Nela, o resultado é completamente controlado com objetivos estéticos e de forma que crie novas metáforas. Foram feitos buscando o equilíbrio, o alinhamento e buscando incorporar os principais fundamentos do design. As metáforas adicionais são personalíssimas do autor e ele nem sempre as revela, deixando também aberta a interpretação para o espectador. Este deve tentar imaginar o que as cores, principalmente as das intercessões, podem significar, assim como deve buscar encaixar a forma em uma interpretação pessoal sobre como ele mesmo encara o processo de formação e as características da nação retratada.

UN COUNTRIES

Sealand Óleo sobre tela 30x40cm (cada) 2022

Não Países é composta por obras que se propõem a discutir e apresentar o princípio da autodeterminação dos povos, que, para o artista, é um direito extremamente necessário, complexo e carregado de contradições internas quase insolúveis.

A série nasceu durante a seleção dos países para a série Sobreposição, quando o artista se deparou com o complexo território da discussão sobre o que, de fato, constitui uma nação. Em meio às suas pesquisas, percebeu que o conceito de nação é relativo, depende de quem conta essa história.

O artista também descobriu, nesse processo, a existência de estados e projetos cujo status é ainda mais complexo e duvidoso, o que deu origem à série. A partir daí surgiram perguntas ainda mais profundas sobre o princípio da autodeterminação: quais os limites da soberania e da integridade de um território? Quando um povo está realmente justificado em sua busca por se autodeterminar? E qual a relação desse princípio com o desejo humano natural pela liberdade?

No desenvolvimento da obra, o artista realizou uma extensa pesquisa sobre esse princípio e se deparou com diversos movimentos de luta pela autodeterminação. Decidiu então retratá-los, por entender que eles levantam questões fundamentais sobre a relação entre pessoas, estados e entre os estados e os indivíduos que vivem sob seu domínio.

Esses movimentos variam desde povos que não se veem representados dentro de suas nações e lutam por autodeterminação em movimentos reais de secessão até indivíduos que, insatisfeitos com as regras ou a política de seus países, se declaram independentes como forma de protesto e busca por liberdade — fenômeno que dá origem às chamadas “micronações”.

Após uma longa análise e reflexão sobre os diversos movimentos de autodeterminação ao redor do mundo, o artista fez uma seleção daqueles que, em sua visão, mereciam ser representados na série.

ARTHUR WAS HERE E O NEOCONCEITUALISMO NA ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

Arthur é um estrangeiro de si mesmo. Sempre na busca de uma terra firme onde aportar, comporta-se como um viajante sempre em movimento, sempre à procura. E seu trabalho em arte espelha essa busca.

A começar pelo seu nome artístico – Arthur was here – nomefrase em inglês que, traduzido, quer dizer Arthur esteve aqui. Esteve? Sim, não está mais, pois partiu para sua próxima viagem, seu próximo destino.

Desde criança, Arthur demonstrou muito talento para o desenho e a pintura, tendo muita facilidade para desenhar retratos, quadrinhos e o que mais quisesse. Mas esse talento em certo momento tornou-se um fardo, pois o artista queria ir além, queria trazer suas ideias para seu trabalho.

Em seus primeiros estudos ligados à arte1 na Escola Britânica de Artes Criativas, em São Paulo, Arthur teve a oportunidade de conhecer a Arte Conceitual de Sol Lewitt, o que foi para ele, em certo sentido, libertador.

Para Lucy Lippard, em seu livro seminal Six Years: The dematerialization of the art object from 1966 to 1972, “arte conceitual [...] significa trabalho em que a ideia é primordial e a forma material é secundária, leve, efêmera, barata, despretensiosa e/ou ‘desmaterializada’”. (1973/1997, p. vii) A autora ainda vai além, nos trazendo a definição de Sol Lewitt, que

distinguiu entre arte conceitual “com c minúsculo” (por exemplo, seu próprio trabalho, em que as formas materiais eram frequentemente convencionais, embora geradas por uma ideia primordial) e arte conceitual “com C maiúsculo” (mais ou menos o que descrevi acima, mas também, suponho, qualquer coisa feita por alguém que quisesse pertencer a um movimento). (LIPPARD, 1973/1997)

Ali ele encontrara um tipo de arte que o interessava. Ali estava a ideia como arte e onde sua materialização era mais contingente do que uma exigência.

Desde então, Arthur começa a trabalhar nas séries que ele apresenta na exposição Geodialética

Em Geodialética, o artista define seu trabalho:

1. Antes de estudar em São Paulo, Arthur já havia cursado Caligrafia Artística do Senac BH, em 2016, e Design de Produto na Escola de Design – UEMG (incompleto), em 2017. Informações fornecidas pelo artista.

[um]a obra reflete sobre os princípios geradores das determinações do homem sobre o espaço, explorando como esses princípios se conectam com a sociedade, a cultura, o estado, o poder e com a própria natureza do ser

humano, tanto do ponto de vista do homem como gênero que constrói a civilização e cria seus limites quanto como indivíduo que possui necessidades e desejos.

Esse trabalho divide-se em quatro séries: Sobreposição, Justaposição, Contraposição e Uncountries.

Nas três primeiras o artista trabalha com bandeiras, utilizandose das operações disponíveis no repertório de técnicas e procedimentos das artes plásticas para criar visualidades que vão além do mero reconhecimento dos símbolos desses países.

Sobreposição é uma série de imagens criadas, como o título sugere, a partir da sobreposição de imagens de bandeiras de países com o uso de recursos digitais para processamento de imagens. O artista coloca certas regras para si e a partir daí escolhe um set de países, utilizando suas bandeiras para gerar um compósito.

A tela do computador passa a operar como uma tela na frente do pintor – ofício que Arthur não só conhece como domina bem –, onde o artista vai adicionando camadas, regulando suas transparências (para quem não é familiarizado com a técnica da pintura, as tintas são produzidas com pigmentos que possuem características físico-químicas que lhes conferem transparência ou opacidade e suas gradações intermediárias).

O programa de computador, para Arthur, é um instrumento utilizado que permite ao artista colocar em prática sua teoria matemática de mistura de cores. Novamente, tal qual artistas conceituais contemporâneos, uns optam por produzir seus próprios instrumentos, outros optam por usar instrumentos já disponíveis no mercado.

Essa sobreposição nos remete à artista norte-americana

Nancy Burson (1948), pioneira nos anos 70 na área da manipulação de retratos através do uso da nascente fotografia digitalizada. Sua obra Warhead I, de 1982, é uma composição criada usando imagens de cinco líderes mundiais, cada um representado proporcionalmente pelo número de ogivas nucleares disponíveis pela nação que lideravam: Ronald Reagan (55%), Leonid Brezhnev (45%), Margaret Thatcher (menos de 1%), François Mitterrand (menos de 1%) e Deng Xiaoping (menos de 1%).

Arthur não se utiliza de rostos, mas de bandeiras. Mas, para além do processo, falando do resultado, o que temos são imagens sutis, que nos remetem a algo conhecido e familiar:

essas diferentes composições que as nações utilizam para representar-se e com as quais convivemos em múltiplas ocasiões, das aulas de geografia aos anos de Copa do Mundo.

O trabalho não para na imagem: trata-se na verdade de um conjunto finamente acondicionado em uma moldura com uma parte retrátil, que guarda em seu interior um certificado da obra, nos moldes dos certificados das obras de Sol Lewitt, e uma mídia onde a imagem está gravada, o que permite que ela seja reproduzida pelo comprador em qualquer novo formato. A obra opera em várias camadas, tanto da nossa percepção quanto da nossa imaginação. E até mesmo da nossa capacidade de acreditar naquilo que não vemos, pois não podemos “ver” a imagem gravada na mídia de memória. Isso requer de nós um voto de confiança no artista, o que os americanos e ingleses chamam de leap of faith

E dentro desse mesmo princípio de reprodutibilidade permitida pelo artista, ele mesmo manda fazer as bandeiras presentes na exposição, expandindo as possibilidades de materialização e visualização da obra.

Já nas séries Justaposição e Contraposição, Arthur joga com as possibilidades de análises combinatórias dos elementos gráficos das bandeiras, que são fragmentados e rearranjados, dando origem a composições diferentes das originais.

Outra referência para nos auxiliar na contextualização do trabalho de Arthur são as obras do artista conceitual Italiano Alighiero Fabrizio Boetti, conhecido como Alighiero e Boetti (1940–1994).

Boetti tinha fascínio por sistemas, mapas e pela representação de identidades nacionais. Suas obras com bandeiras muitas vezes refletem a complexidade das fronteiras políticas e culturais, além de questionar a ideia de autoria e globalização. Ele usava bandeiras nacionais como elementos visuais para criar composições que transcendiam o simbolismo político, transformando-as em reflexões sobre diversidade e interconexão.

E finalmente uma menção especial ao políptico Sealand, da série Uncountries, os “Não Países”.

Trata-se de quatro pinturas a óleo, de pequenos formatos, onde está representada a saga da transformação de uma plataforma de guerra abandonada no Canal da Mancha em uma nação, com bandeira e tudo.

Todas as pinturas têm uma paleta rebaixada em tons de cinza, onde podemos ver em uma delas a bandeira do país oscilando ao sabor dos ventos. Em outra um navio, não se sabe se indo na direção do país ou indo embora. Em uma terceira, parte de um canhão ou cano de espingarda, no exato milissegundo após um tiro ser disparado, com os gases quentes ainda saindo: o país estava sendo atacado? E finalmente uma visão desoladora, solitária da “base abandonada”, agora um país, perdida/o no meio do oceano. Aqui uma digressão – a arte conceitual joga com a própria definição do que é arte: até onde se pode desmaterializar sua forma de apresentação para que ela ou o objeto possa ser reconhecido como arte. A nação Sealand explora esse limite de até quando o “território” de uma nação pode ser reduzido para que ela ainda seja reconhecida como uma nação.

Esse é o trabalho de Arthur, um jovem artista que começa a marcar seu território nesse vasto espaço conhecido como arte contemporânea.

Adriano Gomide

Belo Horizonte professor da Escola Guignard/UEMG, artista, curador.

ARTHUR WAS HERE, THERE AND EVERYWHERE

Art-e são olhos, que tudo veem. Art-hur é olho inquieto, que procura por todos os cantos desse mundo o seu próprio canto. Difícil tarefa, pois os cantos são muitos. Arthur conhece os ventos do deserto, os sopros das ondas dos oceanos, o barulho dos continentes se reagrupando, o estrondo das bombas, o descascar do branco a desvelar todas as cores e na sequência realizar a mágica de todas as cores, misturando no negro profundo, que no seu fundo guarda o segredo das cores inexistentes, cores de um outro mundo, cujo passaporte é feito de matéria rara. Fantasia!

Arthur é artista inquieto, andarilho das trilhas desse e de outros mundos. Matemática sem teorema. No meio do caminho do Arthur não tinha uma pedra como no de Drummond. No meio do caminho do Arthur tinha um poema. E nesse caminho, e em tantos outros, Arthur was here. Arthur was here, there and everywhere!

Fernando Pacheco

Artista plástico, pintor. São João del-Rei, MG

ARTHUR WAS HERE?

Quando comecei, em 2018, a cursar a Escola Britânica de Artes Criativas, em São Paulo, eu tinha certeza de qual seria meu destino: eu seria um autor de histórias em quadrinhos. Na minha cabeça, na escola de artes eu iria aprimorar minhas técnicas de desenho e partir para fazer o que eu amava. Nunca havia gostado nem nunca havia tido um interesse profundo por arte em si, e certamente, do alto de minha ignorância, odiava e desprezava a arte moderna e contemporânea.

O método do curso que fiz consistia em fazer que os alunos executassem briefings artísticos, com bastante liberdade para fazermos o que quiséssemos. Segui.

Quando o curso terminou, uma professora nos deu um briefing especial: fazer uma serigrafia para presentear cada colega e professor, com uma arte que representasse o que levávamos de toda essa experiência. Quando olhei pra trás, percebi algo de que até então não havia me dado conta. Nenhum dos meus trabalhos tinha qualquer relação com quadrinhos. Eu poderia ter feito, se quisesse, como muitos colegas fizeram. O que havia feito, então?

Havia feito arte. Arte que parecia bastante com a arte contemporânea que eu odiava. Poucos se desviavam do conceito e iam direto para a figuração, mas definitivamente nenhum tinha sequer a estética do quadrinho. Surgiu uma dúvida em mim. Será que eu tinha aprendido a gostar de arte? Será que eu não queria mais ser um quadrinista e ia virar um artista? E o que diabos é ser um artista, afinal? Eu definitivamente estava confuso. E por que, de todos os estilos, eu estava fazendo arte conceitual? Eu nem sabia dizer por que eu estava me identificando e gostando daquilo.

Mesmo com todas essas perguntas explodindo na cabeça, eu tinha uma serigrafia para fazer. Mas o que eu ia fazer? Algo contemporâneo? Um desenho de quadrinhos para negar esse sentimento estranho que crescia em mim? Eu estava confuso. E afinal, o que eu estava levando desse curso? Eu entrei lá com uma certeza – seria um autor de quadrinhos – e estava saindo apenas com dúvidas e incertezas!

A única coisa que eu sabia e da qual tinha certeza, naquele momento, era que eu tinha estado lá. Hm… sim, eu estive lá… e era isso!

Escrevi uma frase e levei para a professora, dizendo que essa seria minha estampa e que ela era simplesmente perfeita: “Arthur was here” (Arthur esteve aqui), pequena, em preto, sobre um fundo branco. Ela me olhou e disse:

– Você tá brincando comigo, né? Não enquanto eu estiver viva! Tá todo mundo fazendo desenhos lindos, com cores vibrantes, texturas diferentes... Você vai entregar uma serigrafia de uma frase preta e branca? Jamais!

Ela disse que eu deveria usar pelo menos duas cores e fazer pelo menos um desenho ou um padrão pra decorar. Mas eu não queria. Por que colocar algo que interferisse na clareza dessa minha certeza? Que diferença faria a cor ali? Era realmente necessário adicionar qualquer coisa pra transmitir aquela mensagem? Quando reclamei, ela disse que, se eu não fizesse, meu trabalho não seria incluído no presente coletivo da turma. Continuei insistindo. Quando vi que não ia adiantar, disse que ela tinha vencido e que eu faria algum padrão ou algum desenho para complementar. Mostrei alguns exemplos, pra ela achar que eu estava fazendo de verdade. Quando chegou o prazo final, fui até ela e entreguei todas as impressões… exatamente como eu tinha planejado no início: a frase preta no fundo branco. Foi uma aposta. Ela era muito gente boa, e eu sabia que no fundo ela não ia me deixar de fora. Como já não havia mais tempo, ela aceitou.

Nesse dia, quando saí da universidade, encontrei outro professor e contei pra ele essa história. Ele me disse uma frase que nunca vou esquecer:

– Nem todo mundo entende que a arte não necessariamente envolve múltiplas operações.

E foi aí que tudo fez sentido. Eu percebi o que eu gostava na arte — e também na arte moderna. Desperdiçar operações, num contexto em que a operação sequer é elemento da obra, era um sinal de desarmonia. E a arte é uma busca por harmonia. Não só uma harmonia estética, puramente visual, mas por uma beleza que se expressa na relação entre conteúdo, forma, matéria, mensagem. Naquele caso, não havia mais nada que eu precisasse pra transmitir minha mensagem. Qualquer outra coisa além daquela frase seria um ruído, um desvio. E era esse equilíbrio que eu tanto buscava — e que, pra minha surpresa, muitos não pareciam conseguir enxergar. Há algum tempo atrás nem eu enxergaria.

Fiz dessa frase a minha assinatura. Antes da escola de arte, eu tinha certeza de muitas coisas. Então percebi que elas eram de mentira. Percebi que a certeza é muitas vezes ilusão. Eu não sabia mais o que queria, não sabia se era um artista ou aonde eu iria depois de lá, mas uma coisa eu sabia, e era difícil negar: eu estive lá . Essa certeza, de que passo pelo mundo, pelo tempo e pelos lugares, vai me acompanhar pra sempre — e talvez seja a única que eu realmente vá ter na vida. Mesmo que um dia todas as ideias e conceitos que eu tenha hoje se provem errados, e que toda obra que eu tenha feito se revele sem sentido, ainda assim sempre haverá uma certeza a partir da qual será possível começar de novo a busca pela arte.

Arthur was here!

FIXADO NO VERSO

Não sei se sou são ou louco, mas tenho a certeza de que carrego comigo algumas loucuras. Tenho também consciência delas, como tinha Brás Cubas a certeza de que sua ideia fixa continha traços de insanidade. Fica com ele a prova de que certas obsessões podem ser catalisadores de arte.

No caso dele, a ideia fixa torna-se palavras, escritas pelas mãos de um grande homem ao qual não devem ter faltado dessas pequenas e estranhas fixações — do contrário, talvez não soubesse descrevê-las tão bem. No meu caso, se expressam em cadernos, chips e pistas que, assim como a ideia fixa, fixamse na matéria da arte — da minha arte.

Minha ideia fixa, minha pequena loucura (ou sanidade), é que explicações não necessariamente “desenobrecem” a arte. Explico: eu vejo a arte como simultaneidade. É um objeto que encerra em si mundos, de uma vez só, num continuum de instantes. Esses mundos lá contidos, porém, às vezes são difíceis de ver. Tal qual átomos dançando aos milhares num grão de areia, operando escondidos a maravilha da matéria, a obra de arte às vezes esconde seus motivos, que, se não forem anunciados, não te proporcionam o prazer de senti-la como o que é — maravilhosa simbiose de ideias.

As obras conceituais sujeitam-se a isso mais que quaisquer outras. O que está lá, lá está, manifesto. Mas é preciso saber para onde olhar. Minha ideia fixa é dar esta direção, quando necessário, por meio do próprio objeto, para que contenha em si não só seus conceitos, mas um caminho de acesso, uma possibilidade de conexão com o observador, sem depender de terceiros ou de externalidades. Por isso, no verso de minhas obras é comum encontrar cadernos explicativos ou chips cheios de documentos.

Não quero que quem adquira minhas obras me compre junto, para ficar ao seu lado explicando o que significam. Insiro no corpo físico da peça a possibilidade de acessar suas razões, pois não quero também que minha ausência condene a obra ao silêncio. Há quem diga que a obra que corre esse risco não é boa, e que a obra deve falar por si, sem ajuda. Discordo. Seria como dizer que hieróglifos não significam nada, pois ninguém os sabe ler; ou que A Escola de Atenas, de Rafael, não fica melhor quando alguém te conta que aquilo não é só uma reunião de velhos num belo salão. Se o conceito for de difícil acesso, que mal há em compartilhá-lo?

Um amigo, uma vez, me disse que o mercado não gosta disso. Eu disse para ele: “****-** o mercado”. Assumo meu unguento, com o coração leve.

TRAJETÓRIA

O artista visual e professor de desenho e pintura Arthur was here (Arthur Mascarenhas Trindade) nasceu em Belo Horizonte, MG, em 1997. Desde pequeno, desenvolveu o desenho de forma autodidata, com a certeza de que seguiria carreira como quadrinista. Foi em São Paulo, enquanto estudava na EBAC, que suas convicções começaram a mudar: ao explorar as propostas livres do curso, acabou mergulhando na arte contemporânea — justamente um território que antes rejeitava fortemente.

Essa transformação e um novo começo marcado por dúvidas e incertezas marcaram o nascimento de seu nome artístico: Arthur was here (Arthur esteve aqui). Mais do que uma assinatura, a frase expressa a única certeza que tinha surgido em sua jornada até então. Não sabia se era um artista, se seu trabalho era bom. Havia perdido suas convicções, mas sabia que esteve lá. Atualmente radicado em Belo Horizonte e cursando a Escola Guignard, Arthur entende que cada ideia pede sua própria forma de expressão. Em seu trabalho mais recente, Geodialética, investiga visualmente os fenômenos da geopolítica, isto é, os princípios que regem a organização humana do espaço, os embates entre culturas, estados e identidades.

EXPOSIÇÕES

XXI Mostra Interna Escola Guignard – O.C.U.P.A.Ç.Ã.O., exposição coletiva. Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte/MG, outubro de 2025.

Mostra Cultural Retalhos, coletiva com curadoria de Fernanda Andrade. Museu Mineiro, Belo Horizonte/MG, junho de 2025.

Geodialética e outros trabalhos, exposição individual. Varanda Mall, Belo Horizonte/MG, novembro de 2024.

Exposição de final de ano do curso Foundation Art & Design. Vila Madalena, São Paulo/SP, 2019.

MESA DIRETORA

DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

Presidente

Hugo Motta (Republicanos-PB)

1º Vice-Presidente

Altineu Côrtes (PL-RJ)

2º Vice-Presidente

Elmar Nascimento (União-BA)

1º Secretário

Carlos Veras (PT-PE)

2º Secretário

Lula da Fonte (PP-PE)

3ª Secretária

Delegada Katarina (PSD-SE)

4º Secretário

Sergio Souza (MDB-PR)

Suplentes

Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP)

Paulo Folletto (PSB-ES)

Dr. Victor Linhalis (PODE-ES)

Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP)

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, CENTRO CULTURAL

CÂMARA DOS

DEPUTADOS

Secretário de Comunicação

Social

Marx Beltrão (PP-AL)

Secretário de Participação, Interação e Mídias Digitais

Guilherme Uchoa (PSB-PE)

Diretoria Executiva de Comunicação e Mídias Digitais

Cláudio Araujo

Coordenação de Cerimonial, Eventos e Cultura

Frederico Fonseca de Almeida

Supervisão do Centro Cultural

Clauder Diniz

Coordenação de Produção

Maira Brito

Produção

Maria Amélia Elói

Estagiário de Produção

Ro Silva

Design Gráfico e Expografia

Clara Iwanow

Estagiária de Design Gráfico

Lauane da Silva Sousa

Secretária

Viviane Oliveira

Revisão Cláudia Porto

Montagem e Manutenção da Exposição

André Ventorim, Maurilio Magno, Paulo Titula e Wendel Fontenele

Material Gráfico

Coordenação de Serviços Gráficos - CGRAF/DEAPA

Material Expositivo e Pintura

Serviço de Obras - SEROB / DETEC

Elétrica

Serviço de Instalação

Elétricas - SIELE / DETEC

Plotagem

DColar Gráfica

ARTHUR WAS HERE

14 de julho a 28 de agosto de 2025

Segunda a Sexta, das 9h às 17h Espaço do Servidor - Anexo II Câmara dos Deputados

Informações:

0800 0 619 619 cultural@camara.leg.br

Palácio do Congresso Nacional Câmara dos Deputados - Anexo 1 Sala 1601 – CEP 70160-900 Brasília/DF www.camara.leg.br/centrocultural

Contato do artista (31) 99677-1336 arthurmtrin arthurmtrin@gmail.com arthurmascarenhastrindade.46graus.com

Geodialética (2025 : Brasília, DF)

Geodialética [recurso eletrônico] / Arthur was here. – Brasília : Câmara dos Deputados, Centro Cultural, 2025.

Título aparece no item como: O Centro Cultural Câmara dos Deputados apresenta a exposição Geodialética.

Catálogo da exposição realizada na Câmara dos Deputados, Espaço do Servidor, Anexo 2, de 14 de julho a 28 de agosto de 2025.

Versão e-book

Modo de acesso: bd.camara.leg.br

Disponível, também, em formato impresso.

ISBN 978-85-402-1148-3

1. Artes plásticas, exposição, Brasil, catálogo. I. Mascarenhas, Arthur. II. Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Centro Cultural. III. Título.

CDU 73(81)

Bibliotecária: Fabyola Lima Madeira – CRB1: 2109

Projeto Gráfico e Diagramação

Clara Iwanow

Fotografias

Clara Iwanow

Revisão de Texto

Maria Amélia Elói

Revisão Técnica e Ficha Catalográfica

Fabyola Lima Madeira

Revisão Pré-impressão

Isabel Flecha de Lima

Coordenação de Impressão

Jorge Luiz Gusmão

Este projeto foi aprovado pelo Edital de Artes da Câmara dos Deputados.

Acesse o edital em:

Este catálogo foi impresso na Gráfica da Câmara dos Deputados em papel offset 150 e 240 g/m2 nas fontes Anthony e Archivo.

Neste catálogo estão reunidas as 37 obras da exposição Geodialética, do artista mineiro Arthur Was Here (Arthur Mascarenhas). Apresentada no Espaço do Servidor da Câmara dos Deputados, em Brasília, entre 14 de julho e 28 de agosto de 2025, a mostra investiga visualmente os fenômenos da geopolítica por meio de quatro séries — Sobreposição, Justaposição, Contraposição e Uncountries.

Com rigor conceitual e experimentação estética, Arthur reflete sobre identidade nacional e autodeterminação dos povos, além de transformar e conjugar bandeiras em composições que questionam fronteiras e sonhos coletivos, convidando o público a repensar o mundo através da arte.

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