Gestão da Inovação Tecnológica
O desenvolvimento dos países passa necessariamente pela inovação tecnológica, a qual deveria ser compreendida como um fator estratégico para as empresas e para os países. É esse o enfoque dado por este livro, que trata, entre outros tópicos, da evolução do conceito de inovação tecnológica, da importância da inovação para o crescimento dos países e da mensuração e do processo de inovação tecnológica. Esta obra, integrante da Coleção Debates em Administração, busca fornecer ao leitor informação sucinta a respeito dos assuntos mais atuais e relevantes da área de Administração. É recomendada tanto para os futuros profissionais de Administração como para docentes e pesquisadores.
GESTÃO DA
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Aplicações Livro para estudantes de graduação e pós-graduação em Administração e para pessoas que trabalham com inovação tecnológica no âmbito organizacional.
Sobre o autor
Tales Andreassi
Tales Andreassi é professor da Fundação Getulio Vargas/Escola de Administração de Empresas de São Paulo nos cursos de graduação e pósgraduação. Suas principais áreas de atuação são Gestão da Inovação Tecnológica e Empreendedorismo. Consultor, desde 1992, da Anpei – Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras.
Tales Andreassi Para suas soluções de curso e aprendizado, visite www.cengage.com.br
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Andreassi, Tales Gestão da inovação tecnológica / Tales Andreassi. – São Paulo : Cengage Learning, 2006. – (Coleção debates em administração / coordenadores Isabella F. Gouveia de Vasconcelos, Flávio Carvalho Vasconcelos; coordenador-assistente André Ofenhejm Mascarenhas)
Bibliografia. ISBN 978-85-221-0840-4
1. Administração de empresas 2. Inovações tecnológicas I. Vasconcelos, Isabella F. Gouveia de. II. Vasconcelos, Flávio Carvalho de. III. Mascarenhas, André Ofenhejm. IV. Título. V. Série.
06-6622
CDD–658.4062
Índice para catálogo sistemático: 1. Inovações tecnológicas : Administração de empresas 658.4062 2. Tecnologia e inovação : Gestão : Administração de empresas 658.4062
Aus t r á l i a Br a s i l J a pã o Cor e i a Mé x i c o Ci nga pur a E s pa nha Re i noUni do E s t a dosUni dos
Gestão da Inovação Tecnológica Tales Andreassi Gerente Editorial: Patricia La Rosa Editora de Desenvolvimento: Ligia Cosmo Cantarelli
© 2006 Cengage Learning Edições Ltda. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão, por escrito, da Editora. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106 e 107 da Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Supervisor de Produção Editorial: Fábio Gonçalves Supervisora de Produção Gráfica: Fabiana Alencar Albuquerque Copidesque: Cintia Shukusawa Kanashiro
Para informações sobre nossos produtos, entre em contato pelo telefone 0800 11 19 39 Para permissão de uso de material desta obra, envie seu pedido para direitosautorais@cengage.com
Revisão: Maria Alice da Costa Diagramação: ERJ – Composição Editorial e Artes Gráficas Ltda.
© 2006 Cengage Learning. Todos os direitos reservados.
ISBN-13: 978-85-221-0840-4
Capa: Eliana Del Bianco Alves Cengage Learning Condomínio E-Business Park Rua Werner Siemens, 111 – Prédio 20 – Espaço 04 Lapa de Baixo – CEP 05069-900 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3665-9900 – Fax: (11) 3665-9901 SAC: 0800 11 19 39 Para suas soluções de curso e aprendizado, visite www.cengage.com.br
Impresso no Brasil. Printed in Brazil. 1 2 3 4 5 10 09 08 07 06
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apresentação Debates em Administração E o fim de nosso caminho será voltarmos ao ponto de partida e percebermos o mundo à nossa volta como se fosse a primeira vez que o observássemos. T. S. Elliot (adaptação)
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conhecimento transforma. A partir da leitura, vamos em certa direção com curiosidade intelectual, buscando descobrir mais sobre dado assunto. Quando terminamos o nosso percurso, estamos diferentes. Pois, o que descobrimos em nosso caminho freqüentemente abre horizontes, destrói preconceitos, cria alternativas que antes não vislumbrávamos. As pessoas à nossa volta permanecem as mesmas, mas a nossa percepção pode se modificar a partir da descoberta de novas perspectivas. O objetivo desta coleção de caráter acadêmico é introduzir o leitor a um tema específico da área de administração, fornecendo desde as primeiras indicações para a compreensão do assunto até as fontes de pesquisa para aprofundamento. Assim, à medida que for lendo, o leitor entrará em contato com os primeiros conceitos sobre dado tema, tendo em vista diferentes abordagens teóricas, e, nos capítulos posteriores, brevemente, serão apresentadas as principais correntes sobre o tema – as mais importantes – e o leitor terá, no final de cada exemplar, acesso aos principais artigos sobre o assunto, com um breve comentário, e
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indicações bibliográficas para pesquisa, a fim de que possa continuar a sua descoberta intelectual. Esta coleção denomina-se Debates em Administração, pois serão apresentadas sucintamente as principais abordagens referentes a cada tema, permitindo ao leitor escolher em qual se aprofundar. Ou seja, o leitor descobrirá quais são as direções de pesquisa mais importantes sobre determinado assunto, em que aspectos estas se diferenciam em suas proposições e logo qual caminho percorrer, dadas suas expectativas e interesses. Debates em Administração deve-se ao fato de que os organizadores acreditam que do contraditório e do conhecimento de diferentes perspectivas nasce a possibilidade de escolha e o prazer da descoberta intelectual. A inovação em determinado assunto vem do fato de se ter acesso a perspectivas diversas. Portanto, a coleção visa suprir um espaço no mercado editorial relativo à pesquisa e à iniciação à pesquisa. Observou-se que os alunos de graduação, na realização de seus projetos de fim de curso, sentem necessidade de bibliografia específica por tema de trabalho para adquirir uma primeira referência do assunto a ser pesquisado e indicações para aprofundamento. Alunos de iniciação científica, bem como executivos que voltam a estudar em cursos lato sensu – especialização – e que devem ao fim do curso entregar um trabalho, sentem a mesma dificuldade em mapear as principais correntes que tratam de um tema importante na área de administração e encontrar indicações de livros, artigos e trabalhos relevantes na área que possam servir de base para seu trabalho e aprofundamento de idéias. Essas mesmas razões são válidas para alunos de mestrado strictu sensu, seja acadêmico ou profissional. A fim de atender a este público diverso, mas com uma necessidade comum – acesso a fontes de pesquisa confiáveis, por tema de pesquisa – surgiu a idéia desta coleção.
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A idéia que embasa Debates em Administração é a de que não existe dicotomia teoria-prática em uma boa pesquisa. As teorias, em administração, são construídas a partir de estudos qualitativos, quantitativos e mistos que analisam e observam a prática de gestão nas organizações. As práticas de gestão, seja nos estudos estatísticos ou nos estudos qualitativos ou mistos – têm como base as teorias, que buscam compreender e explicar essas práticas. Por sua vez, a compreensão das teorias permite esclarecer a prática. A pesquisa também busca destruir preconceitos e “achismos”. Muitas vezes, as pesquisas mostram que nossas opiniões preliminares ou “achismos” baseados em experiência individual estavam errados. Assim, pesquisas consistentes, fundamentadas em sólida metodologia, possibilitam uma prática mais consciente, com base em informações relevantes. Em pesquisa, outro fenômeno ocorre: a abertura de uma porta nos faz abrir outras portas – ou seja – a descoberta de um tema, com a riqueza que este revela, leva o pesquisador a desejar se aprofundar cada vez mais nos assuntos de seu interesse, em um aprofundamento contínuo e na consciência de que aprender é um processo, uma jornada, sem destino final. Pragmaticamente, no entanto, o pesquisador, por mais que deseje aprofundamento no seu tema, deve saber em que momento parar e finalizar um trabalho ou um projeto, que constituem uma etapa de seu caminho de descobertas. A coleção Debates em Administração, ao oferecer o “mapa da mina” em pesquisa sobre determinado assunto, direciona esforços e iniciativa e evita que o pesquisador iniciante perca tempo, pois, em cada livro, serão oferecidas e comentadas as principais fontes que permitirão aos pesquisadores, alunos de graduação, especialização, mestrado profissional ou acadêmico produzirem um conhecimento consistente no seu âmbito de interesse.
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Os temas serão selecionados entre os mais relevantes da área de administração. Finalmente, gostaríamos de ressaltar o ideal que inspira esta coleção: a difusão social do conhecimento acadêmico. Para tanto, acadêmicos reconhecidos em nosso meio e que mostraram excelência em certo campo do conhecimento serão convidados a difundir esse conhecimento para o grande público. Por isso, gostaríamos de ressaltar o preço acessível de cada livro, coerente com o nosso objetivo. Desejamos ao leitor uma agradável leitura e que muitas descobertas frutíferas se realizem em seu percurso intelectual. Isabella F. Gouveia de Vasconcelos Flávio Carvalho de Vasconcelos André Ofenhejm Mascarenhas
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SUMÁRIO 1. Introdução 1 2. Evolução do Conceito de Inovação Tecnológica 5 3. Inovação Tecnológica como Fator Propulsor do Crescimento 13
4. Mensuração do Processo de Inovação Tecnológica 19 5. Ações Voltadas ao Fomento da Inovação: as Empresas também Devem Fazer sua Parte 25
6. Relação Universidade-Empresa 37 7. Conclusões 51 Bibliografia Comentada 55 Referências Bibliográficas 67
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Introdução
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palavra inovação parece estar na moda no Brasil atualmente. Nunca se falou tanto sobre essa questão, seja em conferências científicas, revistas de negócios ou em jornais de grande circulação. Exemplos de empresas que adotaram a inovação como valor central e cresceram exponencialmente são recorrentes. Mas, afinal, o que essa palavrinha mágica significa? Qual a melhor definição para ela? Segundo Barbieri e Álvares (2004), o verbo inovar vem do latim (innovare) e significa renovar ou introduzir novidades de qualquer espécie. Já inovação é uma variante e quer dizer renovado ou tornado novo. Contudo, definir inovação no contexto empresarial não é algo tão simples. Em cada livro publicado sobre o tema nos deparamos com explicações distintas, mas que de certa forma não são totalmente excludentes. Para uma conceituação mais precisa do termo, recorreremos à evolução histórica do conceito, que será discutido no próximo capítulo. Por ora, é importante delimitarmos nosso objeto neste livro; para tanto é necessário especificar os tipos de inovação existentes: produto, processo, gestão e modelo de negócio.
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A inovação de produto ocorre quando a empresa introduz um novo produto ou serviço em sua linha de atuação, ou faz uma melhoria substancial em um produto ou serviço já existente. Já a inovação de processo diz respeito à introdução de novos processos produtivos ou alterações em processos já existentes. Quando as inovações de produto ou de processo são acompanhadas pela inserção de novas tecnologias – isto é, conhecimento científico e empírico empregados em qualquer ramo de atividade –, dizemos que ocorreram inovações tecnológicas. A introdução do telefone celular é um exemplo de inovação de produto; já a automação e a robotização das linhas de montagem das indústrias automobilísticas são um típico exemplo de inovação de processo. A inovação de gestão, para Barbieri e Álvares (2004), relaciona-se à introdução de novidades que modificam os processos administrativos, a maneira como as decisões são tomadas, a alocação de recursos, as atribuições de responsabilidades, os relacionamentos com pessoas e outras organizações, os sistemas de recompensas e outros elementos ligados à gestão da organização. A eliminação de uma linha de comando na empresa, por exemplo, pode ser considerada uma inovação de gestão. Finalmente, há também a inovação de modelo de negócios, que permite à empresa modificar a essência de seu negócio. A Monsanto, ao migrar de defensivos agrícolas para biotecnologia, revela um exemplo desse tipo de inovação. Este livro vai se debruçar apenas sobre a inovação tecnológica, estruturando-se em seis capítulos, além desta Introdução. No Capítulo 2, discutiremos a evolução do conceito de inovação tecnológica. No Capítulo 3, mostraremos a importância da inovação tecnológica para o crescimento dos países. E, no Capítulo 4, será a vez de abordarmos a mensuração do processo de inovação tecnológica. Já no Capítulo 5, discutiremos algumas ações que devem ser tomadas nas empresas para estimular a inovação. Por 2
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fim, no Capítulo 6, falaremos sobre a relação universidadeempresa e sua contribuição para a inovação tecnológica. Na seqüência, serão apresentadas as conclusões e recomendações, a bibliografia comentada e as referências utilizadas ao longo do texto.
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Evolução do Conceito de Inovação Tecnológica
OS PRECURSORES A questão tecnológica vem despertando a atenção de estudiosos há muito tempo. No século XVIII, Adam Smith apontava a relação entre acumulação de capital e tecnologia de manufatura, estudando conceitos ligados a mudança tecnológica, divisão de trabalho, crescimento da produção e competição. Ricardo, por sua vez, estudou as conseqüências da mecanização na composição do capital e no nível do emprego. No século XIX, List foi pioneiro ao introduzir o conceito de investimento intangível, afirmando que a situação de um país resulta da acumulação de todas as descobertas, invenções, melhorias, aperfeiçoamentos e esforços de todas as gerações antecedentes: isso forma o capital intelectual da raça humana (Freeman e Soete, 1997). No entanto, esses estudos não tinham a pretensão de entender com profundidade a dinâmica do processo de mudança tecnológica. Foi só na primeira metade do século XX, com o economista austríaco Schumpeter, que a tecnologia passou a ser analisada mais detalhadamente, com base nas teorias de desenvolvimento econômico. Schumpeter deu à inovação tecnológica papel de destaque na economia do século XX, concentrando sua
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atenção nos efeitos positivos das inovações de processo e produto no desenvolvimento econômico e analisando também o papel da empresa e dos empreendedores. Schumpeter menciona cinco tipos de inovação: • introdução de um novo bem (com o qual os consumidores ainda não estejam familiarizados) ou de uma nova qualidade de um bem. A introdução do telefone celular, por exemplo, enquadra-se nessa categoria de inovação; • introdução de um novo método de produção, ou seja, um método ainda não testado em determinada área da indústria e que tenha sido gerado a partir de uma nova descoberta científica; ou ainda um novo método de tratamento comercial de um commodity. Como exemplo, podemos citar a robotização das linhas de montagem da indústria automobilística; • abertura de um novo mercado, no qual uma área específica da indústria ainda não tenha penetrado, independentemente do fato de o mercado já existir ou não. O lançamento de uma linha de cosméticos voltada ao público masculino exemplifica esse tipo de inovação; • a conquista de uma nova fonte de matéria-prima ou de bens parcialmente manufaturados, independentemente do fato de essa fonte ou esse bem já existir ou não. Podemos citar, como exemplo, a utilização do plástico na confecção de sandálias; • o aparecimento de uma nova estrutura de organização em um setor, como a criação de uma posição de monopólio ou a quebra de um monopólio existente. O setor de supermercados constitui um exemplo disso, passando de uma estrutura fragmentada para uma estrutura oligopolizada.
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NOVOS ENFOQUES DADOS À INOVAÇÃO Alguns críticos de Schumpeter afirmam que o autor faz uma conceituação muito abrangente de inovação, uma vez que está relacionada aos aspectos técnicos, mercadológicos e organizacionais. Para Dosi (1988), a inovação está essencialmente relacionada à descoberta, à experimentação, ao desenvolvimento, à imitação e à adoção de novos produtos, novos processos de produção e novos arranjos organizacionais. Dessa definição decorrem cinco fatos ou propriedades que auxiliam a compreensão do processo contemporâneo de inovação: • a inovação pressupõe certa dose de incerteza, uma vez que os resultados do esforço de criação dificilmente podem ser conhecidos de antemão. Tal incerteza envolve não só a falta de informação sobre a ocorrência de eventos conhecidos, mas principalmente a existência de problemas técnico-econômicos de solução desconhecida. Além disso, é impossível prever as conseqüências das ações; • basicamente a partir do século XX, as novas oportunidades tecnológicas estão cada vez mais se baseando nos avanços obtidos pelo conhecimento científico (da termodinâmica à biologia, eletricidade, física quântica, mecânica etc.); • o aumento da complexidade envolvendo as atividades de inovação tem favorecido a organização formal (laboratórios de P&D em empresas, universidades, institutos governamentais etc.), em vez do “agente individual”. Como conseqüência, obtém-se maior integração entre os diversos sujeitos envolvidos no processo; • uma parte significativa de inovação tem surgido com o learning-by-doing e o learning-by-using. Pessoas e organizações, especialmente empresas, podem aprender como
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usar, melhorar ou produzir coisas realizando atividades informais, como reuniões com clientes, solução de problemas práticos, redução de obstáculos na produção etc.; • a mudança tecnológica não pode ser descrita simplesmente como uma reação às mudanças nas condições do mercado. Ela é mais um fator que surge da experiência obtida pelas empresas, organizações e até mesmo países. Em outras palavras, a inovação tecnológica é uma atividade acumulativa. Outro ponto importante é a dimensão do impacto causado pela inovação. Quando Schumpeter se refere à inovação, ele está, na verdade, falando de inovações radicais, ou seja, aquelas que produzem um grande impacto econômico ou mercadológico. O autor deixa em segundo plano as inovações de ordem incremental, isto é, os aprimoramentos técnicos de base contínua, que também são importantes para se entender o processo inovativo. Contudo, a influência de Schumpeter é tão grande que seu modelo acabou sendo utilizado para a análise de toda atividade inovativa, seja ela de ordem radical ou incremental. Para Hall (1994), a idéia de que a mudança tecnológica é incremental e gradual é amplamente aceita hoje em dia, principalmente em virtude da teoria evolucionária. Hasenclever e Mendonça (1994), argumentam que a característica principal da abordagem evolucionária é a incorporação do fenômeno da mudança tecnológica. Eles explicam como as atividades técnicocientíficas são incorporadas ao processo produtivo e quais são os efeitos disso sobre a própria estrutura industrial e sobre a concorrência. Pela teoria evolucionária, a mudança técnica e a estrutura de mercado devem ser entendidas como mutuamente interativas, afetando-se uma à outra. A inovação é uma escolha não inteiramente conhecida, podendo ou não dar certo. Nesse ambiente 8
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de incerteza e diversidade, as empresas utilizam suas rotinas ou “trajetórias naturais”. Tais rotinas são, na verdade, as técnicas de produção, os procedimentos para escolha de insumos e produtos, as regras de preço, as políticas de P&D, entre outras atividades. As firmas que possuírem as melhores rotinas em seu ambiente tenderão a prosperar e a crescer mais que as demais. Dosi contribui para a teoria evolucionária, ao introduzir o conceito de “paradigma tecnológico”. Tal conceito significa um programa de pesquisa tecnológica baseada em modelos ou padrões de soluções de determinados problemas, derivados de princípios e procedimentos técnico-científicos. O espaço tecnológico possibilita vários vetores ou trajetórias, responsáveis pelo direcionamento do progresso técnico. Assim sendo, Dosi conclui que a inovação é o resultado de uma interação entre elementos técnicos e econômicos que se realimentam para orientar que vetor ou trajetória tecnológica serão adotados, em um ambiente marcado por incerteza e riscos.
CLASSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES INOVATIVAS Apesar dos diversos enfoques teóricos relativos à inovação tecnológica, certa dificuldade acaba surgindo quando se aplicam tais conceitos à realidade cotidiana das empresas. Afinal, examinando o processo produtivo de uma empresa, o que pode ser considerado realmente uma atividade inovativa? Como padronizar procedimentos a fim de se ter mecanismos de mensuração equivalentes entre os diversos países, setores de atividade econômica e empresas? Tentando responder a essas questões, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) começou a desenvolver, no início da década de 1960, um sistema-padrão para avaliação em P&D. Isso deu origem, em 1963, ao Manual Frascati. A partir da troca de experiências entre os países-mem-
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bros da OCDE, o Manual foi sendo atualizado em diversas edições subseqüentes, abrangendo não somente os padrões para a mensuração da P&D, como também para várias atividades científicas e tecnológicas. A definição do que pode ou não ser considerado P&D, largamente utilizada hoje em dia, tem suas origens no Manual Frascati. Porém, visando à necessidade de focar mais na questão da inovação propriamente dita, a OCDE lançou em 1992 o Manual Oslo, que serviu de guia para coletar dados em inovação tecnológica. O Manual Oslo faz uma diferenciação importante entre inovação tecnológica e atividade inovativa. Ele considera como inovação tecnológica apenas os dois primeiros tipos mencionados por Schumpeter (introdução de um novo bem ou de um novo método de produção). Destaca também que a palavra “inovação” admite diferentes significados, de acordo com o contexto. Assim, a inovação tecnológica compreende novos produtos e processos, bem como significantes mudanças tecnológicas de produtos e processos. Já as atividades inovativas foram classificadas em sete grupos: • pesquisa e Desenvolvimento (P&D): entendida como o trabalho criativo desenvolvido em uma base sistemática a fim de aumentar o conhecimento existente; • engenharia Industrial: aquisição de equipamentos, ferramentas, procedimentos de controle de qualidade, métodos e padrões, ou mudanças em algum desses elementos, visando à manufatura do novo produto ou à aplicação do novo processo; • início da produção: compreende as modificações de produto e processo, treinamento de pessoal nas novas técnicas e lote experimental;
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• marketing de novos produtos: atividades relacionadas a lançamento de novo produto, adaptação do produto a diferentes mercados, comercialização pioneira; • aquisição de tecnologia intangível: na forma de patentes, licenças, know-how e serviços de conteúdo tecnológico em geral; • aquisição de tecnologia tangível: aquisição de máquinas e equipamentos tecnológicos conectados com as inovações de produto e processo introduzidas pela empresa; • design: atividades relativas à definição de procedimentos, especificações técnicas e aspectos operacionais necessários à produção do novo objeto ou introdução do novo processo. O design artístico também é considerado uma atividade inovativa quando diretamente relacionado ao novo produto ou processo (ou seja, design meramente estético não é considerado atividade inovativa). Pode-se perceber que a P&D não é a única fonte geradora de tecnologia empresarial. As empresas também avançam tecnologicamente por meio de vários outros tipos de aprendizagem, design, engenharia reversa e imitação. Além disso, licenças e contratos de colaboração permitem que as empresas inovem com base em tecnologia gerada por outras empresas. O conceito de atividade inovativa que consta do Manual Oslo é particularmente importante quando se examina o caso das empresas japonesas. Nessas empresas, a inovação tem uma característica muito mais incremental do que radical, e os departamentos de Marketing, Engenharia Industrial e Design são peças fundamentais no processo inovativo. Conforme afirmam Nonaka e Takeuchi (1997), a inovação não é uma peça de um só ato para as empresas japonesas. Uma inovação leva à outra, proporcionando aperfeiçoamentos e melhorias contínuas.
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O desenvolvimento dos países passa necessariamente pela inovação tecnológica, a qual deveria ser compreendida como um fator estratégico para as empresas e para os países. É esse o enfoque dado por este livro, que trata, entre outros tópicos, da evolução do conceito de inovação tecnológica, da importância da inovação para o crescimento dos países e da mensuração e do processo de inovação tecnológica. Esta obra, integrante da Coleção Debates em Administração, busca fornecer ao leitor informação sucinta a respeito dos assuntos mais atuais e relevantes da área de Administração. É recomendada tanto para os futuros profissionais de Administração como para docentes e pesquisadores.
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Tales Andreassi é professor da Fundação Getulio Vargas/Escola de Administração de Empresas de São Paulo nos cursos de graduação e pósgraduação. Suas principais áreas de atuação são Gestão da Inovação Tecnológica e Empreendedorismo. Consultor, desde 1992, da Anpei – Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras.
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