Desnudando a escola 9788522126071

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Gavaldon, Luiza Laforgia Desnudando a escola / Luiza Laforgia Gavaldon. -São Paulo : Cengage Learning, 1997.

3. reimp. da 1. ed. de 1997. ISBN 85-221-2607-1 1. Educação 2. Ensino 3. Escolas I. Título.

97-1936

CDD–370

Índice para catálogo sistemático: 1. Educação

370


DESNUDANDO A ESCOLA

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Desnudando a Escola Luiza Laforgia Gavaldon

Editoração Eletrônica: Lummi Produção Visual e Assessoria Ltda.

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Capa: Sérgio Esteves Revisão: Maria Aparecida Bessana Para informações sobre nossos produtos, entre em contato pelo telefone 0800 11 19 39 Para permissão de uso de material desta obra, envie seu pedido para direitosautorais@cengage.com

© 1999 Cengage Learning Edições Ltda. Todos os direitos reservados. ISBN-13: 978-85-221-2607-1

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Impresso no Brasil. Printed in Brazil. 1 2 3 4 5 03 02 01 00 99


Sumário Apresentação

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Educação

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Ciclo Básico

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O Momento de Aprender

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Meu Filho Maravilhoso

20

Os Valores Hoje

22

Limites

24

O Porquê dos Remanejamentos na Escola

26

Interação Professor-aluno

28

A Hierarquia na Escola: Ainda Existe?

30

A Disciplina na Escola

32

O Aluno e a Família

34

Os Vários Tipos de Professor: Qual o Melhor

36

O Aluno Desinteressado: Causas

38

Professores de Matemática do 2º Grau: Dificuldades Encontradas no Ensino-aprendizagem

40

Os Vários Tipos de Alunos: Onde Você de Enquadra?

45

Qualidade de Ensino

47 11


12

Professores, Uni-vos!!!

49

Reposição de Aulas

52

A Hipocrisia da Escola Particular

54

Avaliação

56

Aluno Fraco

58

Nossa Era: do Permissível e do Descartável

59

A Cultura do Desperdício

61

O Aluno Que Não Aprende

63

Professor: Cuidado, Controle-se!

65

Férias Para Quem?

67

O Grande Enigma da Escola ou Como Fazer o Aluno Estudar

69

Orientadores Desorientados

71

Metas e Mitos do Aluno Hoje

73

Prova: Instrumento de Pressão ou Avaliação de Aprendizagem?

76

O Self da Classe

79

Zero/E: Avaliação ou Catarse?

81

Qualidade do Ensino e Realização Pessoal

83


Apresentação Conheci Luiza Laforgia Gavaldon há muitos anos. Estudiosa, com idéias em constante ebulição, muito competente e crítica na medida certa, viu em mim um interlocutor que, ao longo dos anos, soube apreciar a força de sua ousadia profissional. Inúmeras vezes, fui brindado com escritos seus, recém-saídos do “forno”, invariavelmente acompanhados da instigante colocação “Leia e depois diga-me o que achou”. Sempre os achei interessantes, por tudo o que ficou dito acima, ainda quando, em raras ocasiões, eu não concordasse inteiramente com alguma idéia. Talvez por isso tenha ela me escolhido para prefaciar o seu novo livro que, em boa hora, vem à luz.

Desnudando a Escola consiste numa colcha de retalhos: artigos que tratam de Educação, em seus múltiplos e às vezes contraditórios aspectos. Nesses artigos, como logo perceberá o leitor, Luiza injeta a grande experiência que resulta dos seus anos de magistério (em todos os níveis, inclusive o universitário) bem como dos que dedicou, com amor e firmeza, à dura tarefa de dirigir uma escola. E não fez isso com olhos apenas de educadora ou administradora escolar; fê-lo na condição de mãe e esposa, o que lhe possibilitou compreender a força da interação entre escola e lar, avaliando, na justa medida, as dificuldades que alguns alunos demonstram em sanar sua fome intelectual por não terem podido sanar antes sua fome orgânica. Ao “desnudar a escola”, Luiza desnuda o próprio sistema: mostra a grandeza da Educação e as misérias que lhe servem de palco! Dimensiona – e valoriza – o trabalho do professor, mas não se esquece da parte complementar que cabe ao lar; reconhece as dificuldades inerentes a certas disciplinas, mas não deixa de pontuar os deveres que podem levar os alunos a superar etapas difíceis. E vai além: mostra onde o Estado peca e onde pecamos todos nós por omissão. Uma leitura atenta dos títulos deste livro mostra a preocupação de sua autora com a qualidade. Se for verdade que “qualidade é consumidor satisfeito” – e de Educação somos todos, a um só tempo, produtores, fornecedores e consumidores! – algumas colocações de Luiza sugerem que qualidade é algo que começa necessáriamente em cada um de nós, mas termina em geral no outro. Em alguns casos, pobre do outro...!

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Nesse livro não há receitas: há provocações. O tema do aluno que não estuda (ou do aluno que não aprende) obriga o sistema a baixar os olhos e procurar nas bases as razões da repetência ou do aprendizado deficiente. A autora mostra de maneira sutil a grande contribuição que resulta da aplicação adequada das várias metodologias disponíveis hoje e deixa nas entrelinhas a mensagem de que o aluno eficiente é aluno motivado e aluno motivado é aluno feliz. Espero que Desnudando a Escola leve seus leitores a refletir sobre a sua conduta pessoal no campo da Educação, adotando posturas que dignifiquem os atos de aprender ou de ensinar. Luiza Gavaldon já fez a sua parte. Falta a nossa!!

São Paulo, abril de 1997. Prof. Sérgio F. Costa.

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Educação – Esse menino não tem educação! – É isso que você vai aprender na escola? Essas são algumas expressões que por vezes ouvimos. Na escola, professores queixam-se da falta de educação das crianças. Em casa, os pais também fazem críticas. Afinal o que é educação e a quem compete esse mister? Ter educação é saber se comportar ou é aprender, se instruir? Educação é tudo isso e muito mais, é a transmissão dos usos e costumes da sociedade em que se vive, transmissão que é levada pelos mais velhos aos mais novos. Existem normas comportamentais que devem ser seguidas pelos indivíduos para que se sintam ajustados ao meio em que vivem; ao mesmo tempo há necessidade de conhecerem esse ambiente, esse tempo em que vivem e como chegaram a ele, e é exatamente aqui que entra a instrução, o aprendizado. Ao visarmos a EDUCAÇÃO, teremos em mente uma perspectiva ampla: levantaremos diversas problemáticas sobre interação família-escola, pais-filhos, escola-aluno, aluno-professor, etc. Educar é acima de tudo um processo do qual somos agentes e pacientes, pois ao mesmo tempo em que nós, adultos, exercemos uma ação sobre os jovens, também estamos num processo de transformação, de crescimento, sofrendo as mudanças dos usos e costumes da nossa sociedade. É um processo que se inicia com o nascimento e permanece durante toda a vida. Seremos pessoas mais realizadas se a nossa educação, a nossa construção e a transmissão aos outros for um processo consciente, com objetivos claros. O processo será mais consciente à medida que conhecermos melhor a nossa realidade e pudermos atuar sobre ela. E não podemos esquecer nunca que educar é essencialmente um ato de amor.

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Ciclo Básico

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Há muito tempo ouvimos falar do Ciclo Básico, mas até hoje muitos não conhecem ou não entendem o seu real significado. Para muitos pais o Ciclo Básico instituído nas escolas públicas estaduais significa a passagem automática do seu filho da 1ª para a 2ª série do 1º grau: ninguém mais é reprovado. Sabemos que sempre houve dois grandes estrangulamentos no 1º grau: na 1ª série e na 5ª série. Chamamos de estrangulamento os períodos em que o número de reprovações é excessivo. Desde a década de 1940 temos tido notícias do alto índice de repetência dos alunos na 1ª série ou 1º ano como era chamado antigamente no Brasil. Para o estado de São Paulo, tentou-se há alguns anos um esquema de passagem automática da 1ª para a 2ª série e da 3ª para a 4ª série. O resultado foi desastroso e ainda hoje sofremos as conseqüências dessa medida, nas imensas defasagens que até hoje acompanham algumas pessoas. Em 1984, a Secretaria de Estado da Educação implantou o Ciclo Básico, que não é uma passagem automática da 1ª para a 2ª série, mas sim uma oportunidade de tornar viável a alfabetização ao longo de um processo contínuo de dois anos. Antes do Ciclo Básico a alfabetização, entendida em sentido estrito, era competência exclusiva da 1ª série e durante um ano o aluno deveria ter dominado todos os mecanismos de leitura e de escrita. Se porventura terminasse o ano, mesmo que no final da “cartilha”, mas sem término, era obrigado a retomar todo o processo de alfabetização desde seu início, com o errôneo conceito de período preparatório, priorizando a coordenação motora, gerando, assim, um aluno desinteressado e conseqüentemente indisciplinado ou, o que é pior – apático. Com o Ciclo Básico resgata-se o respeito ao aluno, à sua aprendizagem. Não nos interessa mais se terminou ou não a “cartilha”, o que importa é em que ponto está a aprendizagem no final do ano para que no ano seguinte haja continuidade, após rápida retomada,


de seu processo de alfabetização. Acabamos com a competição entre alguns professores para ver quem terminava primeiro a “cartilha” e a angústia de outros que, apesar de numerosos esforços, não conseguiam chegar ao seu término, sentindo-se incapazes e frustrados. Termina aqui também o processo “adivinhatório” do professor que no primeiro mês de aula já esperava alguns alunos com a certeza de que não conseguiriam aprender. O respeito à criança ou seu ritmo de aprendizagem, a garantia do ensino a todos, “aos que vão” e “aos que não vão”, trouxe o Ciclo Básico, assim como o direito de acelerar o processo de aprendizagem da criança que tem mais facilidade. Para que o problema da retenção seja minimizado e não tenhamos mais crianças permanecendo na série inicial por muitos anos, providências foram tomadas: Grupo de Apoio Suplementar, que funciona como um reforço de aula, quando a criança permanece mais horas na escola diariamente; reuniões semanais entre os professores do Ciclo Básico para troca de experiências e discussões de problemas com alunos, tentando solucioná-los; remanejamento de alunos, procurando levar o professor a um trabalho unificado (não é obrigatório); não-obrigatoriedade da emissão de um conceito, nota do aluno, importando somente o que o aluno aprendeu e é registrado na Ficha Acumulativa.

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O Momento de Aprender

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Existem inúmeras correntes metodológicas, cada uma delas nos mostrando como ensinar aos alunos na escola de maneira mais eficaz. Algumas propõem muita liberdade, outras cerceiam essa liberdade, e ambas as formas muitas vezes são apontadas como fracasso do aluno na escola. Independentemente do critério disciplinar adotado pela escola, vêm os sérios problemas encontrados pelas crianças das séries iniciais que ali permanecem muitos anos sem conseguir aprender. Seria muito simples mostrar um método milagroso que as fizesse aprender rapidamente; é o que todos queriam, com certeza. Nessa idéia simplista, esquecemos que estamos tratando de criança, de gente, e que se fossem máquinas desajustadas, seria fácil apertar um parafuso que estivesse frouxo ou trocar uma peça quebrada, mas estamos falando de gente, de quem não se aperta um parafuso, nem se troca peça. Muitas vezes racionalizamos muito, fazemos tudo em “caixinhas” na nossa cabeça. Queremos que todos aprendam ao mesmo tempo, da mesma maneira. A criança tem de aprender o que nós ensinamos naquele momento. Deus fez o mundo e tudo que nele existe. A natureza é sábia, o equilíbrio ecológico incrível. As frutas nas árvores no seu tempo amadurecem paulatinamente, proporcionando-nos frutas maduras por muito tempo. As flores de uma roseira não abrem todas no mesmo dia e na mesma hora; vão abrindo aos poucos e quando uma rosa desfolha, um botão já está lindo. E nós estamos sempre descobrindo novos frutos maduros para nos deliciar e novas flores para nos alegrar. Quando falamos em educação, em aprendizagem, em criança, parece que o ser humano não pertence ao mundo, que não existem leis da natureza para ele. Ao percebermos que determinada criança não aprendeu “naquele momento” como as outras, ficamos angustiados, sentimo-nos fracassados. Esquecemos que não determinamos o momento em que deveria nascer o primeiro dente, que não determinamos o dia em


que a criança deveria andar; é tudo uma descoberta, uma alegria, e a única coisa que queremos determinar é o dia em que ela deve aprender! Falta amor pela criança na falta de confiança em sua capacidade, na impaciência pela espera de um momento de descoberta, mágico, lindo, maravilhoso como o amadurecer do fruto, como o abrir da rosa, o momento certo de aprender.

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Meu Filho Maravilhoso

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Como somos felizes quando podemos contar aos outros as façanhas de nossos filhos. Ficamos orgulhosos se o nosso filho andou quando bebê antes do previsto, se ele consegue com poucos anos chutar uma bola, se pega no lápis e já delineia alguma coisa. A cada fato novo, uma descoberta, uma alegria. Temos uma tendência a supervalorizar o que ele faz, demonstrar que ele é fantástico, maravilhoso. O que fazemos na realidade é criar uma competição. Quando supervalorizamos nosso filho, podemos estar mascarando uma realidade, querendo mostrar não o que ele é, mas o que gostaríamos que ele fosse, ou que o nosso ideal construiu, ou ainda o que nós gostaríamos de ser e simplesmente projetamos nosso eu. Muitos pais não aceitam os fracassos ou as defasagens de seus filhos, e por isso sofrem muito, comprometendo todo o relacionamento familiar. A criança não tem o direito de errar, de ser o vigésimo da turma na escola, de não se sair bem num determinado esporte, etc. Sentimos muito isso na escola, quando dizemos aos pais que seus filhos não estão indo bem nas matérias escolares e, ao fazermos um levantamento posteriormente com as crianças sobre as conseqüências da conversa, descobrimos inúmeros casos de espancamentos. O que leva um pai a agredir seu filho ao saber que ele “fez coisa errada” ou “não é tão inteligente”? Normalmente o que surge é um sentimento de fracasso a partir do momento em que julga ser o criador, o gerador de um indivíduo imperfeito, pois “meu filho não poderia ter feito isso, eu sou culpado, eu não soube dar educação”, etc. Se é o filho do vizinho, às vezes sente-se aliviado, outras até gosta, pois está na frente nessa competição, e ainda aproveita para fazer comparações, gerando até certa discriminação quando proíbe seu filho de se relacionar com o colega. Temos de ter em mente que realmente geramos nossos filhos e somos responsáveis por sua orientação, mas não somos donos de sua vida, não decidiremos a vida por eles, que nem todos são iguais e que cada um deve ser respeitado na sua individualidade. Não gera-


mos deuses, e só Deus é perfeito; geramos gente, seres imperfeitos, com características diferentes, com aptidões maravilhosas para determinados aspectos e sem aptidões para outros. Se assim não fosse, não teríamos artistas, fruto da sensibilidade, engenheiros, fruto da racionalidade, etc. Seríamos todos perfeitos, todos iguais, e esse mundo seria uma chatice.

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Os Valores Hoje

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Há alguns anos começou uma tremenda mudança de valores: no campo sexual apareceu a liberdade, logo confundida com libertinagem, o que gerou muitos conflitos pessoais e sociais. Hoje podemos dizer que há a tão propalada e batalhada liberdade sexual, podendo cada um decidir sobre sua vida nesse aspecto. Em termos de educação não foi muito diferente. Com a mudança dos costumes, com a vinda de novos valores, houve uma reestruturação da sociedade. Hábitos foram mudados, o que antes agredia, hoje pertence à normalidade, muita coisa que era feita escondida, hoje é feita às claras. Essa mudança não só atingiu, como fez e faz parte da nossa família e da nossa escola. A família é uma célula da sociedade, e na transformação de cada família transformou-se a sociedade. E como é que ficam os pais e educadores diante disso? Para a criança e o jovem é fácil. Eles estão numa fase de assimilação, de construção e tudo o que vier é acréscimo. Para o adulto é diferente. Passamos muito tempo assimilando, aprendendo, recebendo, pois “naquele tempo” quase não havia troca, diálogo. Aos vinte anos, aproximadamente, queimamos nossas raízes e, “peneirando” tudo, nos formamos, não como produto final, mas como indivíduos que já têm valores definidos, já decidem por si só o que é certo e o que é errado. Para os adultos a transformação significa deixar de lado o seu “eu”, reformular-se novamente. Há aí um desequilíbrio, uma desestruturação, para novamente partir para uma formação; é uma nova construção. Derrubar o que já tinha como certo e começar algo duvidoso, isso exige muita coragem, muita força, muita confiança em si mesmo. Na família a mudança dos valores gerou conflito. Enquanto o jovem assimilou e correspondeu rapidamente aos novos costumes, os pais e educadores sentiram-se praticamente perdidos. De repente não sabiam se era para reprimir ou soltar o filho. Os extremos mostraram pontos negativos. As fugas começaram. A família passou a delegar em grande parte à escola a formação da criança, e a escola tornou-se inadequada, tentando manter uma característica tradicional e sendo composta por uma clientela com uma nova visão de vida.


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