Administração Financeira - tradução da 14a ed. norte-americana

Page 42

16

Parte 1 | Conceitos básicos de finanças corporativas

empréstimos hipotecários, colocá-los em um fundo e vender esse fundo à Fannie Mae. Os credores ainda podem realizar os pagamentos à S&L original, que, por sua vez, encaminha os pagamentos (após descontar uma pequena taxa de administração) à Fannie Mae. Considere o ponto de vista da S&L. Ela pode utilizar o dinheiro que recebe das vendas das hipotecas para fazer empréstimos adicionais a outros que desejam ter uma casa própria. Além disso, a S&L não ficará mais exposta ao risco de possuir hipotecas. O risco não desapareceu – apenas foi transferido da S&L (e de suas seguradoras de depósito federal) à Fannie Mae. Essa é nitidamente uma situação melhor para quem deseja adquirir uma casa própria e talvez até mesmo para os contribuintes. A Fannie Mae pode pegar as hipotecas que acabou de comprar, colocá-las em um grande fundo e vender títulos garantidos por esse fundo aos investidores. O proprietário da casa pagará à S&L, esta encaminhará o pagamento à Fannie Mae, que utilizará os fundos para pagar juros sobre os títulos emitidos, dividendos sobre suas ações, além de comprar hipotecas adicionais das S&Ls, que então poderão fazer mais empréstimos a pessoas que desejam ter sua casa própria. Observe que o risco das hipotecas foi transferido da Fannie Mae para os investidores, que agora possuem títulos garantidos por hipotecas. Qual é a situação do ponto de vista dos investidores que detêm os títulos? Em teoria, eles têm participação em um grande fundo de hipotecas oriundas do país inteiro; logo, um problema no mercado imobiliário ou no mercado de trabalho de uma região específica não vai afetar o fundo todo. Portanto, a taxa de retorno esperado deve estar bem próxima dos 8% pagos pelos credores hipotecários. (Será um pouco menos por causa das taxas de administração cobradas pela S&L e Fannie Mae e da pequena quantia de prejuízos previstos, decorrentes da inadimplência por parte dos proprietários.) Esses investidores depositariam o dinheiro na S&L e lucrariam 5% praticamente sem riscos. Em vez disso, eles preferiram aceitar mais riscos com a esperança de ter um retorno maior de 8%. Observe que os títulos garantidos por hipotecas são mais líquidos que os empréstimos individuais garantidos; assim, o processo de securitização aumenta a liquidez, o que é interessante. O ponto principal é que os riscos foram reduzidos pelo processo de fundos e alocados àqueles que desejam aceitá-los em troca de uma maior taxa de retorno. Assim, trata-se, teoricamente, de uma situação que beneficia todos: há mais dinheiro disponível para quem deseja ter sua casa própria, as S&Ls (e os contribuintes) têm menos risco e há oportunidades para os investidores que desejam assumir mais riscos para obter possíveis retornos mais altos. Embora o processo de securitização tenha começado com os empréstimos hipotecários, agora ele é utilizado com financiamentos de carros, financiamentos a estudantes, dívidas de cartão de crédito, entre outros. Os detalhes variam para os diferentes tipos de ativos, mas os processos e os benefícios são semelhantes aos da securitização de empréstimos hipotecários: (1) aumento na oferta de recursos que podem ser emprestados, (2) transferência do risco àqueles que desejam assumi-lo e (3) aumento da liquidez para os detentores da dívida. A securitização de empréstimos hipotecários era uma situação com benefícios para todos, contudo virou uma situação com prejuízos para todos quando foi colocada em prática nos últimos dez anos. Abordaremos com mais detalhes a securitização e a crise econômica mundial ainda neste capítulo, mas antes vamos analisar o custo do dinheiro.

1-6 O custo do dinheiro Em uma economia livre, o capital das pessoas que possuem fundos disponíveis é alocado pelo sistema de preços aos usuários que necessitam de fundos. A interação entre a oferta dos fornecedores e a demanda dos usuários determina o custo (ou preço) do dinheiro, que é a taxa que os usuários pagam aos fornecedores. Em se tratando de dívidas, esse preço é denominado taxa de juros. Quanto ao capital, é chamado de custo do capital próprio e é composto pelos dividendos e ganhos de capital esperados pelos acionistas. Tenha em mente que o “preço” do dinheiro é um custo do ponto de vista do usuário, mas um retorno do ponto de vista do fornecedor. Observe que, na Tabela 1-1, a taxa de retorno de um instrumento financeiro normalmente aumenta de forma proporcional ao seu vencimento e ao seu risco. Há muito mais a ser dito sobre as relações entre características, riscos e retorno dos títulos no decorrer do livro, mas há alguns fatores e condições econômicos que afetam todos os instrumentos financeiros.

1-6a Fatores básicos que afetam o custo do dinheiro Os quatro fatores básicos que afetam o custo do dinheiro são: (1) oportunidades de produção, (2) preferências de tempo para consumo, (3) risco e (4) inflação. Por oportunidades de produção, entende-se a capacidade de transformar capital em benefícios. Se uma empresa levantar capital, os benefícios serão determinados pelas taxas de retorno esperado sobre suas oportunidades de produção. Caso um estudante faça um

financeira.indb 16

01/02/2016 14:17:16


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.