GTO - tomo 1

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15 Divinópolis, nas primeiras décadas do século XX, começava a se desenvolver e a receber alguns estabelecimentos comerciais e umas poucas fábricas. Em 1914, em agosto, inaugurou-se o primeiro cinema e teatro local.14 Em 1916, um periódico local anunciava a construção de uma importante serraria que seria impulsionada pela força de 25 cavalos a vapor.15 Isto porque, somente em 1920, a cidade obteve o fornecimento de luz elétrica, que possibilitaria o funcionamento de indústrias.16 Em 1923, Divinópolis dava seus primeiros passos no seu desenvolvimento comercial e um consequente investimento em pequenas indústrias. Um periódico local registra, sobre a economia local, que é relativamente pequena a sua produção; infelizmente seu comércio ainda importa cereais e artigos que podia exportar. (...) tem, infelizmente, a sua industria ainda em estado muito rudimentar; na sede, possue uma bôa serraria, uma excellente fábrica de banha; uma regular fábrica de sabão, trez fábricas de bebidas pouco desenvolvidas; uma regular fábrica de doces, cinco olarias de tijolos e uma de telha, varias sapatarias e alfaiatarias, algumas carpintarias pequenas; uma torrefação de café.”17

Martins Filho demonstra que a indústria mineira também era marcada pelas pequenas unidades fabris dedicadas, em sua maioria, à produção de bebidas e alimentos. Tão pequenas que mais da metade destas, em 1928, necessitavam de um único trabalhador para funcionar.18 Diante deste quadro, pode-se compreender a dificuldade enfrentada pelo jovem Geraldo Teles de Oliveira em encontrar emprego na cidade de Divinópolis, onde havia que eles falavam, sabe. Nesta época, o pai ficou conhecendo minha mãe. Depois firmou com ela, minha mãe estava com 14 anos, meu pai com 17 ou 18 anos.” 14 GONTIJO, Pedro X. Op. cit. p. 32. 15 A INDÚSTRIA EM DIVINÓPOLIS. Divinópolis Jornal. Divinópolis, 03 de abril de 1916, ano I, p. 03. 16 AZEVEDO, Francisco Gontijo; AZEVEDO, Antonio Gontijo de. Da história de Divinópolis. Belo Horizonte: Graphilivros, 1988, p. 129-130. 17 MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS. A Estrella do Oeste. Divinópolis, 22 de abril de 1923, ano I, n ° 15, p. 01. 18 MARTINS FILHO, Amilcar Vianna. Op. cit. Lembra Martins Filho que as pesquisas indicam que quaisquer estabelecimentos com menos de 50 trabalhadores devem se considerados pequenas indústrias. Dados de 1928 reforçam a grande fragmentação da produção industrial em pequenas unidades quando registra que 46,6% das 8.148 fábricas mineiras empregavam apenas uma pessoa e 92,7 por cento empregavam no máximo 6 trabalhadores. De acordo com dados de 1907 e 1919, o Estado de Minas figura como a região que menos investiu em indústrias em relação a outras regiões do país, possuindo, predominantemente, a menor média de trabalhadores entre as regiões.

somente unidades fabris muito pequenas, dificuldade esta registrada na memória de seus descendentes.19 Ao mesmo tempo em que esses fatos ocorriam, mudanças importantes aconteciam no ambiente artístico da capital mineira. A pesquisadora Ivone Vieira destaca que, nas décadas de 20 e 30, Belo Horizonte começaria a viver os primeiros embates entre a arte modernista e o domínio da arte acadêmica nas artes. A emergência modernista na capital é reflexo da Semana de Arte Moderna, de 1922, ocorrida em São Paulo. Este movimento foi marcado pela busca de uma “brasilidade” na arte e na política brasileiras e pela ruptura com o academicismo do século XIX.20 A arte modernista seria responsável pela busca de elementos na cultura brasileira que pudessem contribuir para o desenvolvimento de uma arte nacional. Nesta época, destacaramse iniciativas pioneiras em divulgar a arte modernista. Uma delas foi a exposição da artista plástica Zina Aita, ocorrida em 1920. Esta exposição promoveu, pela primeira vez, um confronto significativo entre a tradição e a modernidade na cidade.21 Outro evento que se apresentou como marco do modernismo mineiro foi o chamado Salão do Bar Brasil, de 1936, que é apontado como primeiro evento coletivo de artistas modernistas, coordenado por Delpino Junior. O resultado não chamou a atenção somente do público, mas também da administração de Belo Horizonte. O prefeito Otacílio Negrão de Lima sancionou uma resolução instituindo uma exposição anual de arte na cidade. No entanto, este 19 TELES, Mário Pereira. Entrevista concedida a Faber Clayton Barbosa em 29 de julho de 2011, p. 01. Mário, filho de Geraldo Teles de Oliveira, descreve a dificuldade de encontrar trabalho enfrentada por seu pai, na década de 40, na infância de Mário, e lembra, reproduzindo palavras de seu pai: “aí o pai pegou ‘É Criola, [apelido de Maria, mãe de Mário] ta danado, porque eu nessa idade não tenho um serviço certo ainda, como é que nós vamos fazer?’ e a mãe disse ‘ não, Geraldo. Deus ajudando, mais lá na frente quem sabe aparece um serviço.’ Aí o pai tava com seus vinte e tantos anos, eu estava com cinco ou seis anos aproximadamente.” 20 VIEIRA, Ivone Luzia. Emergência do Modernismo, p. 116-165. In: RIBEIRO, Marília Andrés; SILVA, Fernando Pedro. (org.) Um século de história das artes plásticas em Belo Horizonte: C/Arte: Fundação João Pinheiro. Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1997. 21 VIEIRA, Ivone Luzia. Emergência do Modernismo, p. 116-165. In: RIBEIRO, Marília Andrés; SILVA, Fernando Pedro. (org.) Um século de história das artes plásticas em Belo Horizonte: C/Arte: Fundação João Pinheiro. Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1997.


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