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ENTREVISTA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A BACIA DO RIO PARÁ

Tiago Perez integra consultoria contratada para formular as diretrizes de Educação Ambiental no território, em processo aberto e participativo

Encabeçado pelo CBH do Rio Pará, está em fase final de elaboração o Plano Continuado de Mobilização e Educação Ambiental de toda a bacia. Com recursos da cobrança pelo uso da água e a assessoria técnica da Agência Peixe Vivo, foi contratada a empresa Envex Engenharia e Consultoria para desenvolver o plano, que deve ser finalizado no próximo mês de abril, para ser então submetido à plenária do Comitê.

Tiago Perez é engenheiro ambiental da Envex e conta a seguir qual foi o caminho percorrido até aqui e quais são as expectativas com o projeto em elaboração, iniciado em agosto do ano passado.

1.Qual o papel e a força da Educação Ambiental nos processos de recuperação e conservação ambiental e dos recursos hídricos?

A educação ambiental vem no viés de fornecer à população e aos atores em geral a compreensão de onde estão inseridos, o que é alcançado por meio do compartilhamento de conhecimento, fazendo com que toda a temática seja apreendida. A força emerge naturalmente dessa maior consciência de cada um, uma força canalizada de forma intencional pensando em preservar, em não poluir o meio ambiente e os recursos hídricos. Tornar esse assunto acessível a todos, para que possam ter a ciência e fazer disso uma força coletiva. Trabalhamos com o médio e o longo prazos, pois a pretensão é uma transformação permanente e consistente.

2.Que balanço das ações de Educação Ambiental emergiu o diagnóstico realizado em novembro pelo Comitê – isto é, qual o panorama atual da Educação Ambiental na bacia?

O diagnóstico mapeou 99 práticas de Educação Ambiental na bacia, inseridas em praticamente 100% dos municípios – só em dois dos 35 [municípios] não conseguimos mapear essas práticas. Instituições públicas e privadas estão desenvolvendo atividades e empregando recursos físicos, humanos e financeiros. A partir desse mapeamento, elencamos desafios e potencialidades da Educação Ambiental, tanto a educação formal, em escolas e universidades, quanto informal, de empresas, prefeituras etc. Muitas atividades são pontuais, de curta duração, mas algumas se repetem ao longo do ano. Como almejamos a transformação de longo prazo, e embora as atividades existentes sejam importantes, é fundamental que tenham periodicidade, para a população se acostumar e ter chance muito maior de mudar hábitos. Por outro lado, temos muitas potencialidades. Já existem parcerias entre universidades, instituições, prefeituras e empresas somando esforços para obter melhores resultados. É uma sinergia em construção. A exigência, por parte do órgão ambiental, de medidas concretas por parte das empresas com atividades de médio e alto risco ambiental, é um desses pontos, uma oportunidade para lincar problemas e ações para superá-los.

3.Como tem sido a participação dos setores que compõem o Comitê nesse esforço: sociedade civil organizada, usuários dos recursos hídricos e poderes públicos estadual e municipal?

Uma participação muito valiosa. Convidamos para os dois momentos, de diagnóstico e prognóstico, a Secretaria de Estado da Educação, técnicos das prefeituras, usuários de recursos hídricos, universidades, escolas do ensino básico, a sociedade civil organizada, sindicatos, dentre outros. Cada um pôde passar sua percepção, uma opinião especializada de quem vive e conhece o território. Isso enriqueceu muito o processo.

4.Você declarou que as oficinas promovidas “são apenas um dos itens do nosso diagnóstico, que é composto por diversas outras ferramentas”. Quais são elas?

Na época do diagnóstico, foram feitos diversos contatos, via telefone, mensagem de aplicativos, formulários online cadastrando atividades de Educação Ambiental, diagnóstico do tema com o próprio CBH, nas prefeituras, nas escolas, com grande apoio da Secretaria Estadual. Fizemos entrevistas com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) para entender o trabalho com seus associados, como executora de atividades de Educação Ambiental.

Além disso, investigamos diversas base de dados online, como o índice IDE-Sisema (Infraestrutura de Dados Espaciais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD), análise da base curricular mineiro e da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) em educação ambiental e diversos outros documentos. Foram listadas, nesse estudo, 60 boas práticas que ocorrem no estado, no Brasil e no exterior com foco em recursos hídricos, o que será muito útil também para consultas a quem queira se inspirar e se espelhar.

5.O cruzamento das propostas colhidas nas oficinas de Prognóstico com as ideias agregadas pela consultoria já nos dá um Plano de Educação de curto, médio e longo prazos? Você já pode adiantar as linhas mestras que devem nortear esse Plano?

O Plano propriamente ainda precisa passar pela aprovação do CBH do Rio Pará, mas posso adiantar que a principal percepção, a estratégia, é de ações contínuas ao longo dos próximos 15 anos. E também focar em poucas ações, porque assim envolve a sociedade sem surpresas, concentra recursos e atenções, não pulveriza. Os resultados são muito mais consistentes.

Foram escolhidos quatro públicos-alvo a serem trabalhados: usuários de recursos hídricos; Ensino Básico; prefeituras e público em geral. Teremos metas específicas, quantitativas, de alcance dos públicos, e ações também específicas para cada um dos setores, como envolver diretamente 50 usuários por ano com atividades teórico-práticas, atingir 100 escolas por ano, garantir capacitação anual de técnicos da área ambiental dos 35 municípios e diversas ações para a sociedade em geral, como biomonitoramento, ônibus itinerante de Educação Ambiental, aplicativo Rio Pará e outras.