3 minute read

MODA AMIGA DA NATUREZA

Mudanças nas indústrias confeccionistas e têxteis para minimizar os impactos ambientais na região do Rio Pará

A preocupação ambiental, sobretudo no que diz respeito ao alto consumo de água e geração de resíduos, impõe grandes desafios ao setor de produção de tecidos e roupas. Diante desse cenário, as empresas buscam ferramentas e tecnologias para aperfeiçoar o trabalho, minimizando os impactos para a natureza. A “moda consciente” está mudando a forma como clientes e fornecedores enxergam esse mercado.

Durante um bom tempo a indústria da moda foi vista com bastante preocupação pelos órgãos ambientais. Para se ter uma ideia, um relatório da Fundação Ellen MacArthur estimou que o setor têxtil fosse responsável pelo consumo anual de cerca de 93 bilhões de m³ de água ao redor do planeta, representando 4% do total captado no mundo. E a perspectiva era de que o número poderia dobrar até 2030. Uma única camisa de algodão representava o gasto de 2,5 mil litros d’água, segundo a Water Footprint Network.

Divinópolis, na região do Médio Pará, é sede de um dos maiores polos confeccionista de Minas, responsável por quase 10% de toda produção e faturamento do setor no estado. Na cidade, e em municípios vizinhos, também há muitas indústrias têxteis que trabalham com fabricação e tingimento de tecidos. E, por ser uma das principais fontes de captação de água para o abastecimento da região, o Rio Pará já foi bastante afetado por essas atividades.

O Sinvesd, Sindicato das Indústrias do Vestuário de Divinópolis e a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) afirmam que, ao longo dos anos, foram desenvolvidos vários projetos com as empresas do polo têxtil e confeccionista, reduzindo os impactos ambientais. Hoje, a situação ainda é vista como desafiadora, mas em uma realidade bem melhor.

Em Carmo do Cajuru, bem às margens do Rio Pará, há mais de 20 anos funciona uma empresa de tecelagem e tinturaria de tecidos, com um alto consumo de água. Em 2012, a indústria investiu em mudanças. “Optamos por um processo de reutilização. Após o tingimento, toda a água utilizada é misturada a polímeros, coagulantes e descolorantes. Em seguida, passa por três etapas de filtragem e fica pronta para reutilização. Sem isso, hoje eu não conseguiria a captação suficiente para manter a empresa funcionando”, explica Marko Túlio Rodrigues, sócio administrador da empresa.

Em Itaúna, município vizinho, também existem muitas indústrias têxteis. Há anos, a prefeitura reforçou a fiscalização para exigir que as empresas cumpram a legislação ambiental, evitando a poluição do Rio São João, que corta a cidade e deságua no Rio Pará. De acordo com a prefeitura, o gerenciamento de resíduos é feito seguindo as legislações estabelecidas pelos governos federal, estadual e municipal. “Houve grande evolução e, hoje, principalmente num cenário globalizado, nenhuma empresa quer ter seu nome ou sua marca associados à degradação ambiental”, destaca Marcelo Augusto Nogueira, responsável pela gerência superior de Meio Ambiente da Prefeitura de Itaúna.

Praga Aqu Tica Usada Para Reduzir Polui O Do Rio Par

A Abit, Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, afirma que a cadeia produtiva do setor movimenta quase R$ 200 bilhões por ano no país, sendo responsável por cerca de 9 milhões de empregos diretos e indiretos. Um setor extremamente importante para a economia e que, diante dos impactos ambientais provocados pelas empresas, teve que investir em tecnologia e inovação. Na Bacia Hidrográfica do Rio Pará há inúmeros bons exemplos.

Em Divinópolis, pesquisadores do campus da Universidade Federal de São João de del-Rei (UFSJ) se dividem em várias linhas de trabalho. Uma delas está sendo desenvolvida pelo professor Rafael Chagas, no departamento de Química. Ele coordena um estudo que utiliza plantas consideradas pragas aquáticas para despoluir os rios. “A ideia da nossa pesquisa é utilizar aguapés e alface d’água, espécies ricas em lignina e hemicelulose, para criar um bioadsorvente capaz de remover esses corantes da água”, explica o pesquisador.

As próprias empresas têxteis e confeccionistas buscam soluções de sustentabilidade. Em 2016, foi criada em Divinópolis uma marca de moda masculina focada na moda ecologicamente responsável, produzindo peças a partir de matérias-primas como fibra de banana, cânhamo, garrafas pet e até borra de café. “Somos uma marca ecológica e amiga da natureza, tratando cada processo com o mínimo de desperdício e o máximo de sustentabilidade”, explica Matheus Menezes, fundador da empresa.

Lixo X Res Duos

Diante da grande quantidade de resíduos sólidos produzidos pela indústria confeccionista e têxtil, professores do CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica) em Divinópolis criaram vários projetos envolvendo o reaproveitamento de retalhos e outros materiais. “Pretende-se, ainda, propor alternativas que contribuam para a minimização dos resíduos têxteis e para o desenvolvimento sustentável do setor”, detalha Maria de Lourdes Couto Nogueira, professora do CEFET.

PLANTIO (4.247 L)

PROCESSO DE CULTIVO À COLHEITA DE ALGODÃO 50% PEGADA VERDE

PEGADA AZUL

PEGADA CINZA

TECELAGEM (127 L)

TRANSFORMAÇÃO DO ALGODÃO EM FIO POR PROCESSOS INDUSTRIAIS

4% PEGADA AZUL

PEGADA CINZA

CONFECÇÃO LAVANDERIA (362 L)

CORTE E COSTURA DE PEÇA E TAMBÉM BENEFICIAMENTO, AMACIAMENTO E ACABAMENTOS 3% PEGADA AZUL

PEGADA CINZA

CHEGADA DA PEÇA JEANS AOS PONTOS DE VENDA

NÃO HÁ CONSUMO SIGNIFICATIVO DE ÁGUA

CONSUMIDOR (460 L)

USO E MANUTENÇÃO DO JEANS

ATÉ O FINAL DA SUA VIDA ÚTIL

100% PEGADA AZUL

PÓS-CONSUMO

TÉRMINO DA VIDA ÚTIL E DESCARTE DO JEANS

NÃO HÁ CONSUMO SIGNIFICATIVO DE ÁGUA

VAREJO 1 4 2 5 3 6