Revista Escrevendo Futebol - Ed.03

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Editorial + Sumário

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hegamos com mais uma edição da Revista Escrevendo Futebol! Nesta edição,, duas matérias exclusivas sobre dois grandes momentos do futebol atual: a ascensão de Watford e Bournermouth para a Premier League, e inédito título de campeão paranaense do Operário Ferroviário. Além disso, como matéria de capa, uma reportagem exclusiva sobre as eleições na FIFA. Traçamos um perfil dos candidatos a presidente da entidade e explicamos como funciona o pleito. Aproveito e dou um importante aviso. Em junho, não teremos a Revista EF como você já conhece. Às vésperas da Copa América, você terá um guia especialíssimo da maior competição entre seleções do nosso continente. Até lá! Yuri Casari

5 - Sonho da Premier League 9 - A invenção do pênalti 15 - Eleições na FIFA 14 - Operário: redenção centenária


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Em 2016...


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Um sonho de Premier League De um lado, o Bournermouth! O clube centenário jamais havia jogado na elite, e de 2008 pra cá, saiu da falência para a Premier League...

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Premier League já conheceu dois dos três times que passaram com garra pela Championship. E ambos tem grande história de superação durante essa espinhosa caminhada rumo à elite do futebol inglês. Milhões em dinheiro, visibilidade e a possibilidade de enfrentar as grandes equipes toda semana. É isso que conseguiram Bournermouth e Watford. Da falência a Premier League Em fevereiro de 2008, a situação do clube fundado em 1890 era a pior possível. Se é que podemos comparar, era algo similar ao que acontece com a Portuguesa, ou com o Guarani. O clube já havia quase falido nos anos 90, mas foi salvo por um fundo criado pela comunidade local. Mas dessa vez, parecia não haver luz no fim do túnel. Os Cherries foram punidos com a perda de 10 pontos, e mesmo tendo feito uma campanha razoável, acabaram rebaixados para a League Two, a quarta divisão inglesa. Com 4 milhões de libras em dívidas, e com o caos instalado na administração, o clube ainda teve de começar o campeonato com -17 pontos. A eminência de cair para a Conference, a quinta divisão, era

Do outro, o Watford! Depois de bater na trave algumas vezes, o clube de Elton John enfim volta a elite do futebol inglês após 8 anos. gigantesca. Dois treinadores já haviam sido demitidos, e a nova aposta era Eddie Howe, de 31 anos, o mais jovem técnico na história da equipe. Mas em uma grande campanha de superação, o Bournermouth conseguiu se manter na League Two, 9 pontos longe da zona de rebaixamento. Já em 2009, sob o ocmando de Jeff Mostyn, o clube recupera a estabilidade financeira, e em campo, não se contenta apenas com o papel de coadjuvante. Termina a temporada 2009/2010 em 2º lugar, e volta a League One. Em 2010/2011, mais uma vez a campanha supera expectativas, e o time só é eliminado nos playoffs de acesso para o Huddersfield. Como boa parte das equipes bem sucedidas atualmente na Inglaterra, o Bounermouth também passa a ter um investidor estrangeiro: é o russo Maxim Demin, um milionário da indústria petroquímica, que assume co-propriedade ao lado de Mostyn. Apesar disso, os Cherries perdem o técnico Eddie Howe para o Burnley. Paulo Groves assume seu lugar, e termina 2011/2012 na 11ª colocação. Na temporada seguinte, após vários maus resultados, a direção vai atrás de Howe novamente. O jovem comandante recupera a equipe e ainda consegue um heróico acesso para a Championship. Faziam incríveis 23 anos que o Bournermouth não jogaAbril 2015 | Escrevendo Futebol | 5


va a segunda divisão inglesa. A torcida vivia um sonho, e estar no segundo escalão talvez já fosse o suficiente. Em 2013/2014, ficou em 10º, apenas 8 pontos atrás da zona de playoffs. Mas o ponto maior da centenária história chegou já em 2015. Numa campanha irrepreensível, o clube não apeas conquistou o inédito acesso À elite inglesa, mas também conquistou a taça de campeão! O clube não via uma taça desde 1987 e a conquistou apenas na última rodada, após vencer o Charlton fora de casa por 3 a 0, e ver o Watford, então líder, ficar apenas no empate em 1 a 1 com o Sheffield Wednesday. Na imagem abaixo, o capitão Tommy Elphick comemorando o feito inédito nos braços da fanática torcida!

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Com brasileiro no gol, o Watford retorna! Em 2005/2006, o Watfor havia sido promovido para a Premier League. O clube, que já havia sido presidido por Elton John, estava de novo na elite. Mas o sonho durou pouco. Já no ano seguinte, foi novamente rebaixado. E pior: como lanterninha. Agora, os Hornets querem fazer uma história diferente. De 2008 pra cá a equipe bateu na tarve algumas vezes, mas nenhuma tão marcante quanto na temporada 2012/2013. Pelas semifinais dos playoffs, o Watford enfrentava em casa o Leicester, e vencia por 2 a 1. Como havia pedido a primeira partida por 1 a 0, o resultado levava o jogo para a prorrogação. Porém, o Leicester tinha um pê-


nalti a seu favor nos minutos finais . E o improvável aconteceu. Anthony Knockaert bateu e Almunia defendeu. No contra-ataque rapidamente articulado Troy Deeney marcou o terceiro gol, classificando o time para a decisão da terceira vaga para delírio da torcida que invadiu o gramado do Vicarage Road. Apesar da história épica, o clube acabou eliminado pelo Crystal Palace. Nesta temporada, o goleiro não é mais Almunia, mas é um jogador muito bem conhecido, principalmente pelos brasileiros. Heurelho da Silva Gomes, ou simplesmente Gomes, ex-Cruzeiro, Tottenham e Seleção Brasileira, é o arqueiro do Watford. A equipe segue bem a tendência da maioria dos clubes da elite. Pos-

sui apenas quatro ingleses no elenco, formado por jogadores de diversas nacionalidades. O treinador é o sérvio Slavisa Jokanovic, ex-jogador do Chelsea, e que está em sua primeira experiência dirigindo uma equipe no futebol inglês. Isso se dá pelo comando do mecenas Gino Pozzo, italiano que também investe na Udinese e no Granada, da Espanha. Além de Bournermouth e Watford, já promovidos, Norwich, Middlesbrough, Brentford e Ipswich encaram os playoffs pela última vaga. Os dois primeiros já são figurinhas carimbadas na elite. O Brentfor, não disputa desde a criação da Premier League, e o Ipswich, campeão em 62, não disputa desde a temporada 2001/2002. •••

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A invenção do pênalti P

oucos momentos no futebol são tão tensos e emocionantes quanto uma cobrança de pênalti. Quando o jogo se decide numa disputa de penalidades, então, haja coração, como diria aquele famoso narrador. Mas você sabia que o pênalti não fazia parte das primeiras regras do esporte, e que só foi inventado 27 anos depois daquela histórica reunião na Freemason’s Tavern? E que ainda por cima, o terror dos goleiros foi criado por um... goleiro? Milford, o berço da penalidade máxima

Milford é um pequeno vilarejo em solo norte-irlandês. Atualmente, o local possui cerca de 300 habitantes. No final do século XIX, a família irlandesa McCrum era uma das mais respeitadas da região, já que seu patriarca, Robert Garmany McCrum era dono da fábrica de tecidos McCrum, Watson e Merver Company, que havia alavancado a economia local. Como muitos pais em melhores condições da

época, mandou seu filho William para a renomada Trinity College, de Dublin. Ao retornar para Milford, para trabalhar nos negócios da família, William trouxe consigo a paixão pelo futebol, e passou a jogar como goleiro do Milford FC. Foi ideia dele a criação da Mid-Ulster Cup, disputada até hoje, e conquistada nas duas primeiras edições pelo Milford. Conhecido por ser um verdadeiro gentleman, William se incomodava com o aumento de infrações no futebol, principalmente em lances que o atacante, pronto para fazer o gol, era impedido por uma atitude antidesportiva. Na época, era marcada apenas uma falta, independente da posição em que a infração fosse cometida. Esse não era um problema apenas desta região. Em 1889, em uma partida da FA Cup em que o Notts County vencia o Stoke City pelo placar de 1 a 0, Hendry, jogador do Notts, salvou um gol certo com a mão nos minutos finais (ao estilo Luisito Suárez, na Copa de 2010). A falta quase em cima da linha do gol, obrigou o time inteiro do Notts a se perfilar formando uma barreira intransponível. Assim que a falta foi batida, a bola foi


recuperada pela defesa, e chutada pra longe. O jogo foi encerrado e o Notts County seguiu adiante na competição. William pensou em uma regra que punisse com maior severidade alguém capaz de tamanha falta de esportividade. Em 1890, foi enviado à International Board, entidade fundada em 1886, responsável por alterações nas regras do futebol, a sugestão do pênalti. Em tradução livre, a ideia era a seguinte: sempre que se derrubar, agarrar ou deliberadamente jogar a bola com a mão, será marcado um tiro

de pênalti, com um semicírculo na metade da linha vertical ao campo de jogo. Após a marcação da penalidade, o chute poderia ser feito de qualquer ponto dessa linha, sem nenhuma barreira, e o goleiro podia se movimentar em até 6 metros a frente (alô Rogério Ceni!). Apenas 12 anos depois, em 1902, que a grande área como conhecemos hoje foi concebida, com a devida marca da cal, a 11 metros de distância da meta. Com o tempo, a regra do pênalti foi sendo aperfeiçoada. Em entrevista por e-mail ao Escrevendo Futebol, Stephen McManus, da Milford House Museum, instituição que preserva a história da localidade, nos deu maiores detalhes sobre a preservação do local da criação da penalidade. “O campo em que foi inventado o pênalti em 1890 foi o campo de futebol do vilarejo até 1920. Depois, os jogos passaram a ser disputados num local conhecido como the Holm, um campo próximo à Milford House, a casa de William”. Em 97, após anos de abandono, uma imobiliária decidiu utilizar a área para a construção de imóveis. “Meu pai, Joe McManus, foi um dos líderes que conduziram o salvamento da área. Então, um acordo foi feito, e as casas puderam ser construídas ao redor do campo, e essa área central foi dada a população de Milford. Em 2002, foi aberto no local o The William McCrum Park, onde há um busto do inventor do pênalti”, completou Stephen. A manutenção da memória de William teve ajuda fundamental do ex-jogador Gerry Armstrong, ex-Tottenham e Watford, e que disputou duas Copas do Mundo, a de 82 e 86, pela Irlanda do Norte. Apesar das homenagens, Stephen acha livre. Se a falta ocorrer a uma distância de 12 que William McCrum merece uma atenção metros da baliza, será ordenado um pênalti. maior por seu feito. “Eu penso que deveria Durante meses, McCrum buscou apoio de di- ter, e merece, maior reconhecimento. É algo versas entidades, unto de seu amigo irlandês que atrai visitantes e mídia de todo o planeta. Jack Reid, jogador que inclusive representou a Entretanto, o governo local falha ao não comseleção da Irlanda. Até que em 2 de junho de preender a importância da criação do pênal1891, em uma reunião da International Board ti. O conselho de Armagh (cidade vizinha ao em Glasgow, o pênalti foi oficialmente institu- vilarejo) administra o parque mas não o proído. A partir daí, além da delimitação das li- move de maneira nenhuma. Muitos da equipe nhas laterais e de fundo, foi demarcada a área do conselho sequer sabem da existência do 10 | Escrevendo Futebol | Abril 2015


parque. Apenas agora, em 2015, finalmente o mapa turístico de Armagh indica a área para visitantes, depois de muita insistência de instituições de Milford”. A vida de William McCrum William nasceu em 1865, e era um esforçado goleiro. Além de seu pioneirismo já apresentado, defendeu o Milford FC na primeira temporada da liga irlandesa de futebol, sendo um de seus fundadores. A equipe foi derrotada em todas as 14 partidas disputadas, e o camisa 1 tomou 62 gols. Além de comandar a fábrica familiar, foi juiz de paz e dirigente de diversas equipes e entidades esportivas da região. “É um fenômeno global”, diz Sthephen sobre o legado deixado. “William mudou a história do esporte, porque a regra do pênalti afetou até mesmo outros esportes. E é incrí-

vel pensar em quantos jogadores tiveram suas carreiras elevadas ou destruídas pelo pênalti!”. Basta lembrar de personagens como Panenka e Roberto Baggio. William gastou muito dinheiro em viagens, mulheres e toda aquela coisa que quase todo boleiro gosta! E também era um mão aberta, aplicando seu dinheiro em diversas ações esportivas e comunitárias, e apesar de ter colocado seu nome na história do esporte, William não foi tão bem nos negócios, e a fábrica faliu em 1931. No ano seguinte, em 21 de dezembro, faleceu após ter tido uma convulsão. De acordo com Stephen, a FIFA irá destinar 7 mil libras (algo em torno de pouco mais que 30 mil reais) para a restauração do local em que William e seus familiares estão sepultados. O mínimo, para o homem que revolucionou como poucos o esporte mais popular de todos.

Milford FC em 1889. Fila de cima: Jimmitt, J. Mc Cauley, T. Sturgon, H. Mc Auley. Fila do meio: J. Cunningham, W. Mc Crum, W. Martin, H. Hyde. Fila de baixo: T. Mc Parland, W.D. Harris, J. Sleith Abril 2015 | Escrevendo Futebol | 11


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8 de junho de 1998. O suíço Joseph Blatter assumia o cargo que foi ocupado por 24 anos por João Havelange. O dirigente brasileiro revolucionou o futebol mundial, mesmo que por caminhos sinuosos, transformando a Copa do Mundo no maior evento esportivo de todos, e conduzindo a FIFA a se tornar a entidade esportiva mais rentável do planeta. Blatter consolidou as conquistas do antecessor. E só fez o poder da instituição crescer. Já são 17 anos como presidente da FIFA. E nesse período, viu recentemente sua imagem ser desgastada por inúmeras acusações de corrupção. às vésperas da eleição. Blatter é o favorito a vencer, mas nunca teve uma oposição tão representativa e atuante. Serão eles capazes de iniciar uma nova dinastia na entidade máxima do futebol? Conheça a seguir como funciona o processo eleitoral da FIFA e o perfil de cada um dos 4 candidatos. A eleição Como qualquer processo democrático, há uma série de pré-requisitos necessários para atingir o alto comando da FIFA, Para efetivar a candidatura, é necessário apresentar o apoio de pelo menos 5 federações. O ex-jogador francês David Ginola e o também francês, e ex-secretário da FIFA, Jerome Champagne, já ficaram pelo caminho por esse motivo. Também é necessário ter atuado ativamente no futebol profissional por pelo menos dois dos últimos cinco anos, como dirigente, árbitro, jogador ou técnico. Não há limite para número de candidaturas. Elas são analisadas por um 16 | Escrevendo Futebol | Abril 2015

Comitê Eleitoral (organismo criado recentemente) e pelo Comitê de Ética que aprova a elegibilidade dos candidatos. Nas eleições, este ano previstas para 29 de maio, cada uma das 209 federações filiadas tem direito a um voto. Para ser eleito ainda no primeiro turno, é preciso ser o escolhido de pelo menos 2/3 das federações. Em caso negativo, os dois melhores colocados disputam um segundo turno, em que aquele que conquistar 50%+1 dos votos, alcança o posto de dirigente máximo do futebol. O vencedor fica no cargo pelos próximos quatro anos, e não há limites para reeleições.


Joseph Blatter É óbvio que estar na situação é cômodo. Mas também está na cara de todos, que é uma posição vulnerável às críticas, e às crises que explodem junto delas. E claro, que Blatter luta para gerenciá-las da melhor maneira possível. Mas não é sua imagem frente a opinião pública que o faz se manter no poder. E sim, como já explicamos anteriormente, o apoio das federações. E o suíço sabe conquistar esse voto de confiança como poucos (tudo muito bem ensinado pelo mestre Havelange). Desde o primeiro dia de seu mandato, por exemplo, declarou abertamente apoio à realização de uma Copa no continente africano, confederação que angaria inúmeros votos, além de ter prometido uma vaga direta para a Oceania. Sabe captar tão bem seus eleitores, que sequer se dá ao trabalho de divulgar suas propostas. Foi o único dos candidatos a não publicar suas intenções para os próximos anos. Recentemente, repassou a cada uma das federações uma verba de US$ 300 mil, totalizando US$ 62 milhões. Um mimo que pode fazer a diferença para muitas pequenas entidades, e que pode garantir também um voto valioso nestas eleições. Já possui abertamente o apoio da AFC, da CAF, da CONMEBOL e da CONCACAF, entidades que regem o futebol na Ásia, na África, na América do Sul e nas Américas Central e do Norte, respectivamente. A manutenção de seu poder também passa pela divisão da oposição. São muitas vozes contrárias e pouca força em torno de uma unidade. Os três candidatos de oposição possuem programas muito similares. Só uma reviravolta surpreendente parece capaz de dar fim ao reinado de Blatter. O suíço já está em seu quinto mandato. Blatter foi jogador de futebol amador durante boa parte de sua vida, virou dirigente em 70, no Neuchatel Xamax, da Suíça. 5 anos depois entrava na FIFA como Diretor do Programa de Desenvolvimento, para nunca mais sair. Foi secretário-geral por 17 anos durante o mandato de Havelange.

“Volto a concorrer à presidência da FIFA, pois ninguém na UEFA tem coragem”

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Luis Figo O preferido da imprensa e possivelmente é o candidato que mais assuste Blatter. Talvez por seu status de ex-melhor jogador do Mundo, ou porque suas propostas parecem realmente boas. O problema não é ele. É o sistema, que impossibilita chegar ao poder sem que você tenha que vender a alma ao diabo. E o “cão” já pediu o pagamento de sua primeira parcela: o aumento no número de vagas na fase final da Copa do Mundo. É uma ação puramente eleitoreira, e que só ajudaria a tirar o brilho de um produto que atingiu a perfeição. Figo tem boas intenções. O português planeja criar métodos de incentivo para que as associações mantenham projetos de desenvolvimento para crianças, e também para treinadores. Promete a redistribuição de rendas entre os membros associados e defende uma relação mais democrática entre os níveis de poderes da entidade. Além disso, aposta em um tom conciliador, ao sinalizar que em caso de vitória, reaproximaria a FIFA de outras entidades em que o relacionamento tem andado desgastado, como a UEFA e a Associação Europeia de Clubes. Figo também promete discutir situações relativas às regras do jogo, como o uso da tecnologia, e até mesmo em uma alteração da atual regra do impedimento. O português deseja que volte a ser considerador impedido, o jogador que participe ativamente ou não da jogada em questão. O ex-jogador também sabe se sair bem com as palavras. “Cresci num bairro da classe trabalhadora de Lisboa a jogar futebol na rua, onde a minha vida mudou para sempre através do poder do futebol. Devido à minha educação, prezo o fato de ser dono do meu destino. Não estive envolvido nas políticas da FIFA. Não devo nada a ninguém. Não tenho de retribuir nenhum favor. Como tal, posso exercer o cargo de Presidente da FIFA exclusivamente em prol do futebol e do seu futuro”.

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“Está na hora de retribuir ao mundo do futebol tudo o que me deu”


Michael Van Praag Ferrenho opositor de Blatter, Van Praag é o atual presidente da Federação Holandesa de Futebol, membro do Comitê Executivo da UEFA, e dirigiu o Ajax entre os anos de 1989 e 2003, conquistando a Champions League e o Mundial Interclubes em 1995. Também foi árbitro durante 16 anos e possui muita experiência em diversos outros cargos administrativos no futebol, fato que gosta de exaltar. Afirma precisar cumprir um único mandato para realizar as mudanças que pensa ser necessárias. Suas principais propostas giram em torno do desenvolvimento do futebol para categorias de base e árbitros, o aumento no repasse de verbas às federações, o aumento na premiação para os participantes da Copa do Mundo, e a redução de custos em campanhas publicitárias, como o filme United Passions, que teria custado aos cofres da FIFA, cerca de R$ 65 milhões, e que arrecadou apenas R$ 400 mil. Um capricho para promover a imagem de Blatter. Destaca também o desejo de democratizar a entidade, e de realizar processos transparentes relativos às finanças. Porém, assim como Figo, o holandês comete o erro de querer mexer com o que mais dá certo no mandato de Blatter: a Copa do Mundo. O mundial chegou a seu formato perfeito ao atingir o número de 32 equipes, que mantém o regulamento equilibrado, e consegue atender um número ótimo de seleções de nível bom para ótimo. Qualquer aumento neste número é absurdo, e serve apenas para arrecadar votos de federações sedentas por uma vaga no Mundial.

“Pelo bem da próxima geração, é inaceitável deixar o organismo que rege o futebol mundial no seu estado atual”

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Ali Bin Al Hussein Na teoria, a FIFA é uma entidade democrática. Na prática, tem elementos muito similares a uma monarquia. Talvez tenha sido isso que tenha atraído o atual presidente da Federação de Futebol da Jordânia, o Príncipe Ali Bin Al Hussein. É o mais novo membro do comitê executivo da FIFA, com 39 anos, e promoveu com certo sucesso o avanço do futebol de seu país. Seria suficiente para provocar uma mudança na instituição máxima do futebol? Aliado público de Platini, o árabe é fundador da Federação de Futebol do Oeste Asiático. Em seu programa, apesar de não detalhar como vai fazer, propõe a democratização da entidade, o aumento na transparência, na responsabilização e uma melhor governança, além de também declarar necessária uma redistribuição nos rendimentos da FIFA. Sobre a Copa do Mundo, apesar de propor uma análise do formato adequado da competição, já deixou claro em outras declarações que esta não é uma intenção. Al Hussein acredita que manter Blatter no cargo, é um duro golpe para entidade, e possui certeza de que perderá os patrocinadores, assustados com a imagem arranhada da instituição. “Nós deveríamos ter uma situação em que os patrocinadores não apenas estão dispostos a voltar, mas deveríamos ter patrocinadores lutando para patrocinarem a Fifa. Tenho fé nas federações, e acho que há um consenso no mundo inteiro sobre a necessidade de uma mudança. Farei o que puder para alcançar isso. Esta é uma corrida à presidência e serão 209 federações votantes. No passado houve uma cultura de intimidação. O importante é visitar todas as federações, ouvi-las e perceber quais são as suas esperanças e aspirações”. 20 | Escrevendo Futebol | Abril 2015

“Pretendo inverter a pirâmide, com o presidente da FIFA a serviço da modalidade”


Por onde anda Ricardo Teixeira? Há alguns anos, ao tentar imaginar o futuro sucessor de Blatter na FIFA, um nome que certamente viria a mente era o de Ricardo Teixeira. O ex-genro de Havelange comandava o futebol brasileiro com pulso firme e transformou a CBF em uma das mais lucrativas associações esportivas do planeta. Conhecendo seu modus operandi era imaginável que um dia chegaria lá. Em 2011, já gostaria de ter sido candidato, mas segundo Havelange, em entrevista a Revista Piauí, o ex-sogro o aconselhou: “Faz uma Copa do Mundo de qualidade, trata todo mundo de maravilha.

Vão votar em você por agradecimento”. Não deu tempo. Teixeira era muito ligado ao presidente Lula, e também ao então governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Entretanto, mantinha uma conflituosa relação com Dilma Rousseff, que sucedeu Lula a frente do Palácio do Planalto em 2010. Por algum motivo, denúncias de corrupção enfim atingiam o mandatário de forma inexplicável. No dia 8 de março de 2012, pediu licença do cargo alegando problemas de saúde. Quatro dias depois, renunciou da presidência em carta lida por José Maria Marín.

Sumido da mídia, morou nos EUA até 2014, quando voltou ao Rio de Janeiro, e se tornou presença constante em festas e baladas. Após o vexame do 7 a 1, foi inclusive consultado sobre o retorno de Dunga como técnico da Seleção. Em setembro, articulou uma manobra que o permitiu receber uma bolada milionária e cortar todos os vínculos com a FIFA, da qual era membro do Comitê Executivo. Tal ação o livra de qualquer processo legal na entidade. Teixeira pode não ser mais o nome no topo da “cadeia alimentar”, mas alguém ainda duvida de sua influência?

dentro. Sua base eleitoral é composta por muitos dos di A Fifa terá eleições rigentes que, mesmo indireconcorridas como nunca an- tamente, estiveram presentes tes. Talvez não pelo peso dos nesses processos. Para que candidatos, já que o lobby Blatter não leve outros com a por mais uma reeleição de maré de sujeira e mantenha Joseph Blatter continua for- os benefícios, melhor manter tíssimo. Mas pela quantidade a situação. Até porque o suíço de pretendentes que surgem tem tentado mudar sua imapelo cargo de maior poder gem, prometendo combate às no futebol mundial. De reale- falcatruas. O que, convenhaza a ex-craque, todos querem mos, não dá para acreditar. Já a concorrência vem aproveitar o momento em que o suíço balança em seu trono. justamente com o discurso Mas até que ponto dá para de renovação. Nos nomes, confiar em uma mudança mas talvez não nos métodos. real? Pouco, muito pouco. Pri- A maioria absoluta já está enmeiro, porque Blatter segue volvida no meio, apesar de como favorito. As denúncias alguns manterem a vida púde corrupção e os escânda- blica idônea. Porém, mesmo los nas sedes das próximas quem está fora do circo tem Copas mancham sua ima- suas contestações. Como se gem. Mais fora da Fifa do que levantou sobre Figo, amigo de

Jorge Mendes, surgindo como candidato em um momento no qual os agentes sofrem com as novas legislações da Fifa. Existem segundas intenções? No mais, a não ser que o eleito proponha uma transformação que abale as estruturas da Fifa, fica difícil de acreditar em uma mudança verdadeira. De nada adianta uma cara nova se o corpo está tomado pela doença. E são esses que sustentam o absolutismo de Blatter que terão o direito de eleger o substituto. Se vier, outro nome a entrar no jogo de poderes.

Opinião

Leandro Stein é jornalista do site Trivela, e escreveu sobre o pleito a convite do EF. Abril 2015 | Escrevendo Futebol | 21


O que eles disseram? Confira o que pensam algumas personalidades do planeta-bola: Pelé - O Rei do Futebol chegou a declarar apoio a Champagne, antes de seu impedimento a concorrer. Entretanto, Pelé sempre foi um aliado de Blatter, e mostra preferência pelo suíço: "Apoiarei Blatter porque ele tem mais experiência. Claro que você precisa de mudanças na vida. Mesmo assim, acredito que ele ainda tem a oportunidade de fazer uma boa administração. As pessoas devem prestar atenção a uma coisa. Por muitos anos, dois ou três países dominaram o futebol. Agora, há crescimento... Ásia, África. Está mais difícil administrar a Fifa agora, esse é o problema " Platini - O presidente da UEFA sempre foi apontado como possível adversário de Blatter. Os dois, inclusive trocaram farpas algumas vezes. Mas o francês preferiu ser um observador deste pleito. “Vamos ver o que acontece. Vamos conhecer os programas dos quatro candidatos. Mas acho que é importante para o futebol que uma mudança ocorra na FIFA. Maradona - El Pibe não poderia ser mais autêntico: “Blatter é um corrupto. Temos grandes possibilidades de lhe dar um chute no rabo”. O argentino, porém, apoia o que possivelmente tem as menores chances. “(Ali Bin Al Hussein) não precisa roubar, tem o seu dinheiro e não tem necessidade de fazer o que faz Blatter, de se achar o todo-poderoso do futebol quando nunca deu um pontapé uma bola”. Roberto Carlos - Companheiro de Figo no Real Madrid, o ex-lateral-esquerdo da Seleção declara aberto apoio ao português: “Temos que voltar às origens do futebol. É preciso pôr a modalidade em primeiro lugar. Luis Figo tem todas as qualidades e a sensibilidade necessária para mudar a Fifa para melhor”. 22 | Escrevendo Futebol | Abril 2015

Cruyff - “Estou acompanhando do lado de fora, mas se Van Praag pedir meu apoio, eu o darei”, disse o maior craque holandês da história, que considera que Figo deveria se juntar a Van Praag. “Eu acho que Luis Figo é um excelente candidato, mas ele precisa de ajuda nesta fase de sua carreira na administração. Por isso, seria bom se Figo agora apoiasse Van Praag. Caso Michael se eleja, então Figo pode andar com ele por quatro anos antes de assumir a batuta”.


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Redenção Centenária E

nquanto o futebol em São Paulo, Rio de Janeiro, e em outras regiões já eram organizados grandes torneios e campeonatos, no Paraná, o esporte chegou apenas em 1903, por intermédio do político, médico e educador Victor Ferreira do Amaral. O primeiro clube de prática exclusiva ao futebol nasceu apenas 6 anos depois, o tradicional Coritiba. Em 1º de maio de 1912, nasceu a segunda equipe mais antiga do estado: o Operário Ferroviário Esporte Clube. Ou melhor, Football Club Operário Pontagrossense. Apenas 10 anos depois seria adotado o nome atual. De lá pra cá. o “Fantasma” teve inúmeros altos e baixos, chegando a ser 5º colocado da série B nacional, em 1990 e depois, vivendo a pior fase da equipe, entre 94 e 2004, quando o futebol profissional foi desativado.

Nesses 103 anos recém completados, o clube alcançou algumas pequenas conquistas, como o título equivalente a segunda divisão estadual de 1916 e 1969, entre outros títulos menores. O Operário conseguiu a façanha de ser vice-campeão estadual por 14 vezes. Os maldosos viviam comparando a equipe da cidade de Ponta Grossa, com a também centenária Ponte Preta, que apesar da tradição e de sempre se manter entre as elites, possui apenas taças de menor expressão, e por isso, acaba sendo constante alvo de chacota dos rivais. A partir de agora, não mais. Comandados pelo competente Itamar Schulle, o Operário não apenas conquistou o troféu de Campeão Paranaense, como humilhou o maior campeão do estado, o Coritiba, dentro do Couto Pereira. Na primeira fase, o Abril 2015 | Escrevendo Futebol | 25


time alvinegro se classificou na terceira posição, atrás apenas de Coritiba e J.Malucelli. Nas quartas-de-final, eliminou o Paraná Clube com uma contundente vitória por 3 a 0, no estádio Germano Krüger. Nas semifinais, passou pelo estreante Foz. E na decisão, tratado como azarão, aproveitou as falhas do alviverde para vencer o primeiro jogo por 2 a 0. Com a larga vantagem, o Operário dominou a partida em Curitiba, tendo a paciência que o Coritiba não teve, e a tranquilidade e qualidade para liquidar a fatura no momento certo. Placar agregado de 5 a 0, dando à campanha a alcunha de incontestável. Itamar e seus comandados, aplaudidos inclusive pela torcida coxa-branca, honraram a torcida operariana, que lotou o setor de visitantes do Alto da Glória, e abarrotou o Germano Kruger para acompanhar a final por um telão. Resumindo: fizeram história!

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DESTAQUES DO ELENCO

Jhonatan Jhonatan O jovem goleiro, reserva durante anos O jovem goleiro, reserva durante anos pelo Joinville, clube que o formou, foi um dos pelo Joinville, clube que o formou, foi um dos pilares do time do Operário. Além de segupilares do time do Operário. Além de segurar tudo e mais um pouco embaixo das traves, rar tudo e mais um pouco embaixo das traves, ainda marcou um gol antológico contra o Naainda marcou um gol antológico contra o Nacional de Rolândia, na primeira fase. cional de Rolândia, na primeira fase.


Ruy O meia formado nas categorias de base do Coritiba foi, ao lado do atacante alviverde Rafhael Lucas, o grande destaque do campeonato. Cérebro do Operário, marcou 5 gols no campeonato, inclusive um na final, e dificilmente deve ficar para a disputa da série D.

Juba Douglas Vice-artilheiro do campeonato com 8 gols, foi fundamental para que o Operário pudesse chegar a final, e mesmo apagado na final, é sem dúvidas um dos heróis da conquista.

Xodó da torcida, o atacante marcou 4 gols no campeonato, 2 deles na grande final, e acabou ovacionado pelos presentes no Couto Pereira.

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