01OGaribaldi - Revista

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01OGaribaldi R EVISTA

# FEV15: BETA

SÊLO ⌖ O GOLPE

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A vida é um não caber. Por isso aqui também não cabe. Este espaço foi criado para ser um lugar de intervenção e traduções. A poesia se manifesta de diversas formas e os suportes para sua percepção são igualmente imensuráveis. Abrindo seu espaço na marginalidade virtual poética chegamos para ser o lugar do não-lugar; estar é também um devir imenso do não-estar e estar no outro. Com licença, somos a não-passagem de um outro(,) caminho.

Gratidão, OGaribaldi

Juiz de Fora, fevereiro de 2015.

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MANIFESTO

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Sítio do Pau do Oco


SUMÁRIO

ENTREVISTA O POEMA I.MARÍLIA NO MUNDO DA CASA NENHUMA CASA É SEGURA OUTRO POEMA A COISA ESTRANHA COLEÇÃO DE RUÍNA O CORRESPONDENTE DE SAÍDA QUEM ESTÁ QUEM SÃO

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ENTREVISTA com Iacyr Anderson Freitas O MILAGRE DA POESIA JUIZFORANA

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©Arquivo Pessoal Iacyr Anderson Freitas salienta “que Juiz de Fora tem uma tradição poética vigorosa”, pra logo em seguida completar dizendo como essa tradição se pautou em “um verdadeiro milagre”, já que “efetivamente esse patrimônio” nunca foi reconhecido. O poeta nasceu em Patrocínio do Muriaé (MG) em 1963. Entre seus livros publicados encontramos poesia, ensaio e contos. Já concorreu a vários prêmios literários importantes no Brasil e no exterior; sua obra também foi traduzida para diversas línguas. Seu último livro, Ar de Arestas (Escrituras; Funalfa, 2013), esteve entre os vinte e dois livros mais votados do ano passado no Portugal


Telecom, um dos maiores prêmios de literatura em língua portuguesa - repetindo o feito de 2008, quando Quaradouro (Nankin Editorial; Funalfa, 2007) ficou entre os doze títulos mais votados no mesmo prêmio - e figurou também entre as indicações na mesma categoria no maior prêmio nacional de literatura, o Jabuti. Nessa entrevista, publicada originalmente na revista literária Um Conto, Iacyr fala sobre a poesia feita em Juiz de Fora, durante os anos 80, quando publicações como o folheto Abre Alas e a revista D´Lira agitam a cena poética da cidade (poética no sentido mais amplo, pois coabitavam artistas variados). Com o mesmo carinho do poeta Iacyr Anderson Freitas, convido vocês a lerem a entrevista que segue abaixo.

⌖ Quando falamos sobre a geração de poetas dos anos 80 (principalmente no que tange ao folheto Abre Alas e à revista D´Lira), em Juiz de Fora, seu nome é constantemente lembrado. Entretanto, em outra entrevista, você alega não saber “tecer qualquer comentário equilibrado sobre o que se passou na cidade naquele período”. Portanto, mesmo que de maneira desequilibrada, gostaria de saber como você define a sua participação naquele momento marcante para a poesia local.

Resposta: Eu não consigo definir minha participação naquele momento. Aliás, creio que a vida é mesmo infensa a definições. Como sempre digo nos cursos que ministro, matamos o que definimos. Talvez felizmente. Retomando o fio da meada: participei dos conselhos editoriais da revista d’lira e do folheto abre alas, mas confesso que não tive como me dedicar muito às tarefas de edição. Perto dos

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trabalhos desenvolvidos pelo Zé Santos e pelo Mutum (o falecido José Henrique da Cruz), por exemplo, a minha contribuição efetiva era uma equação cujo resultado tendia a zero. Na época, eu cursava Engenharia Civil na UFJF, tendo aulas de segunda a sábado, as mais das vezes das sete da matina às seis da tarde. Durante um bom tempo fui Diretor de Cultura do DCE e me dediquei, ainda, à militância estudantil. A ditadura militar estava nos estertores – como o próprio país, aliás – e ninguém imaginava como a situação política brasileira poderia superar, sem sequelas, quase vinte anos de repressão e descalabro. De quebra, eu lutava muito, financeiramente falando, para me manter em Juiz de Fora, pois meus pais não tinham recursos e a carga horária da UFJF não me permitia trabalhar. Passando esse período a limpo, mais de trinta anos depois, vejo que tudo ali foi muito fértil e rico, mas também muito difícil. Por conta de todas essas dificuldades, minha participação naquele momento em Juiz de Fora, seja como poeta ou editor, foi muito modesta.

⌖ Durante o colóquio “relendo a poesia dos anos 70 aos dias atuais”, realizado pela UFJF em 2005, você declara que nos anos 80, na nossa cidade, havia uma “comunhão de interesses estéticos ou sociais”. No prefácio do Livro de sete faces – poetas em diálogo (antologia juiz-forana que reúne poetas dos anos 90), o também escritor Edimilson de Almeida Pereira diz que aqueles poetas possuíam mais afinidades pessoais do que poéticas. A “sua geração” ainda está em profícua atividade, assim como a geração subsequente, entretanto há em Juiz de Fora um

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número considerável de novos poetas, também em diálogo. Como você vê a poesia feita na cidade após os anos 2000?

Resposta: A citada comunhão de interesses estéticos ou sociais tinha por base, no início dos anos 1980, a luta contra o regime de exceção e a persistência, ainda, a despeito da tão propalada “abertura”, de determinados canais de censura. Esses temas uniram a comunidade artística da cidade. De fato, artistas de diversas áreas procuravam estabelecer diálogos e parcerias, objetivando trabalhos conjuntos. Essa foi uma marca daquele período. No que se refere à poesia atual da cidade, é importante salientar que Juiz de Fora tem uma tradição poética vigorosa, o que é um verdadeiro milagre, pois nossa cidade nunca reconheceu efetivamente esse patrimônio e nunca soube implementar políticas de incentivo à leitura ou de formação de público para o universo lírico; o que é lamentável, em todos os sentidos. Vejo muita qualidade na poesia atualmente produzida em Juiz de Fora. De certa forma, a chama da nossa tradição continua acesa, agora através de novos nomes e novos livros.

⌖ Qual e como é o público que consome poesia em Juiz de Fora atualmente? Existe alguma singularidade em relação aos anos passados?

Resposta: Eis aí uma pergunta difícil de ser respondida. Se a gente leva em conta o que o mercado livreiro considera público consumidor, a poesia não existe,

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comercialmente falando. E isso, claro, não é um problema local, infelizmente. Basta uma passada d’olhos nas maiores livrarias da América Latina. É difícil encontrar alguma que possua, entre dezenas de milhares de exemplares, mais de cinquenta títulos de poesia. Para um mercado que se encontra voltado quase que exclusivamente para a divulgação e o consumo do texto paraliterário, a poesia não tem futuro. Ora, o texto lírico exige um leitor ativo, capaz de preencher as lacunas semânticas e, mais ainda, capaz de produzir sentidos através da própria leitura. A poesia opera no (des)limite da linguagem, na extremidade dos seus horizontes cognitivos, muitas vezes com francas aberturas para o imaginário. Sua configuração refuta qualquer possibilidade de leitura que esteja voltada apenas para a confirmação de expectativas. Logo, a cisão existente entre lírica e mercado é, mantida a condição atual, insolúvel. Felizmente insolúvel. Apostar na mudança desse quadro – sem trabalhar com políticas capazes de atenuar os entraves gerados pela atual ditadura de mercado – é apostar no convívio pacífico de lobos e ovelhas. Deixando de lado as louváveis exceções, o público que consome poesia é em grande parte composto de poetas. Nos lançamentos, os autores conseguem justificar uma cota mínima das mínimas tiragens – não sem algum estorvo – amolando parentes e amigos eventuais. Foi assim antes e deverá continuar da mesma forma por um bom tempo. Sem políticas de incentivo à leitura e sem estratégias de formação de público leitor, continuará assim até que o rei D. Sebastião retorne da batalha de Alcácer-Quibir. Ou até o Armagedom, no mínimo.

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No mesmo colóquio citado acima você disse que seus dois primeiros livros, retirados de sua documentação literária pessoal, são “equívocos bibliográficos”. Ano passado você foi novamente indicado a um dos maiores prêmios literários em língua portuguesa, o Portugal Telecom. Nessa perspectiva sua poesia amadureceu. Gostaria, dessa forma, que você falasse sobre a indicação e como ela se relaciona com a maturidade adquirida pela sua poesia.

Resposta: Eu fiquei surpreso com a indicação. Em primeiro lugar, porque eu não sabia que a Escrituras havia efetuado a inscrição do meu livro no prêmio. Após a divulgação do resultado, recebi um monte de mensagens e diversos telefonemas. De início, não compreendi direito o que estava acontecendo. Em segundo lugar, porque estar entre os vinte e dois livros mais votados do ano – e de um ano tão rico em grandes títulos poéticos – foi mesmo um feito considerável para o Ar de Arestas. Afinal de contas, a comissão julgadora dessa fase do Portugal Telecom é formada por centenas de escritores, críticos e professores de literatura de diversas partes do país. Eu resido em Juiz de Fora, sou funcionário público aqui, não me desloco habitualmente para lançamentos e palestras, não me encontro inserido no meio acadêmico, não sou figurinha fácil nos segundos cadernos dos grandes jornais, não tenho “vida literária”, por assim dizer, e isso dificulta bastante o processo de divulgação de minha obra. Não faz muito tempo, creio que em 2008, meu livro Quaradouro ficou entre os doze títulos mais votados no mesmo Portugal Telecom. Essas surpresas me animam, mas não sei até que ponto a palavra maturidade se encaixa nesse contexto. Comecei a escrever e a publicar poesia em 1981. Todavia, meu conjunto de obra é um caleidoscópio. Por quê? Porque não quero ficar me repetindo. Quando acredito que certo tipo de linguagem já se

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encontra cristalizada em meus livros, procuro outros caminhos. Para qualquer escritor, as zonas de conforto são campos minados. Às vezes, cemitérios de reputações e promessas. A poesia, como a vida, precisa valer a pena. Precisa valer o risco. Assim, sinto-me sempre recomeçando, fato que tem pelo menos a vantagem de aguçar, em mim, a navalha crítica, melhor dizendo, autocrítica. Sem essa navalha, não se escreve coisa que mereça pousar em livro. É claro que as críticas sinceras são imprescindíveis. Tão imprescindíveis quanto raras, infelizmente. Mas tais críticas devem aparecer num segundo momento, depois que a nossa navalha autoral já fez todos os cortes e ajustes possíveis. Por isso acredito que a palavra maturidade não sirva muito bem para o caso. Continuo sem saber começar um livro e, quando o começo, continuo sem saber como acabá-lo. Estabelecido o ponto final, após contendas intermináveis, continuo desconfiando que o rebento não faz jus ao batismo de Gutemberg. Planejo escrever livros que, no fim das contas, sempre trilharão caminhos bem diversos do planejamento estabelecido. Quanto mais estudo, menos compreendo essa coisa transcendente a que chamamos poesia. Se a maturidade for isto, – esta redobrada incerteza, esta vontade de recomeçar a cada segundo, este “não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê” –, maravilha! Aceito de bom grado.

⌖ Entrevista concedida a Anelise de Freitas em julho de 2014 e originalmente publicada em janeiro de 2015, no site da Um Conto – Revista Literária.

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O POEMA III ANDERSON PIRES DA SILVA Do Morro do Cristo, a cidade: Juiz de Fora selvagem. Na D. Viçoso, as garotas ainda estão rebolando. Os travados subindo descendo o Mundo Novo. Em S. Mateus, os cineastas e suas planilhas de custo. No Bom Pastor, as balzaquianas e seus olhares oblíquos. Na Olavo Costa, o playboy deixa seu cordão. Sexta-feira, 19hs, no Bahamas, as três lokitas fazem barulho com suas garrafas de vodka, risadas e shorts apertados. O homem casado, ao admirá-las, encontra um lugar de prazer e ilusão. Quem anda pelo parque Halfeld, ao meio dia, encontra a mesma coisa, à meia noite: taxistas armados, senhoras caminhando rápido, e olhando para trás.

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No Cultural, as três beldades dançam como matadoras. Ao fundo, sentado nas sombras, o homem separado corpo vazio, copo cheio. Trancado no banheiro, o velho poeta marginal. O descolado frenético na pista, apesar de morarmos em um país tropical, nossos morros estão cheio de neve. Por isso, ela anda pela cidade distribuindo um manifesto, Farrapo parado na esquina paranóica nada alucinante, consumido pelo que vende. Juiz de Fora, bang! bang! bang!

©Thais Thomaz – ECO Performances Poéticas 2011

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I.MARÍLIA por Marcela Batista Marília estava agora em seu trabalho, habitualmente, ouvindo sua respiração como carimbo ressoante. Escreve, revisa, escreve, revisa, lê alguma coisa, se concentra em alguma coisa, se descentra. Marília está realmente ocupada com suas outras funções, além daquela de revisora. “Impossível o trabalho hoje”, constata Marília ao lembrar de suas respostas não emitidas.

“Finalmente em casa”, pensou ela depois de esbarrar em estranhos e estranhas pela rua, enquanto atravessava as intermináveis avenidas. Acende um cigarro e apaga e outro e apaga e outro. Senta-se ladeando a pilha de correspondências que se acumulavam em sua sala depois de alguns dias sem respondê-las. Começa a escrever auxiliada por sua máquina, querida máquina de escrever.

Marília sai de casa para, enfim, enviar suas cartas. Em meio aquele sacolejar agitado e quente, o centro da cidade soava, para a mulher, perturbador. Soava mesmo como os carimbos que andavam a persegui-la, como se a todo momento sinalizassem o amontoado de correspondências que deveria responder. Mas eles não se mostravam, apenas ficavam ressoando insistentemente em seus ouvidos, anônimos. Enquanto isso, Marília, finalmente, deixa suas respostas no correio.

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Dias depois, necessita novamente de sua máquina: “chegaram muitas cartas”, arrepiada diante delas, das correspondências, e da máquina de escrever. Muito bem, café, cigarro, papel, tinta... tinta? Certo! Caráter de quem ama o que faz. Põese a escrever intensamente, os barulhos dactilos se misturam com a brasa que queima o cigarro, com os goles quentes de café que descem a garganta, com os carimbos... Os carimbos, claro! A máquina não funciona mais, Marília!

Daí em diante sua vida resume-se em fumar um café, comer um livro, beber um cigarro, ouvir incessantemente os estalidos carimbéticos, tentar uma paródia desta situação. Como poderia pensar em outra coisa, com seus olhos e ouvidos atentos para o mundo de Marília, pifados. Estavam pifadas Marília e sua maquina de escrever. 15

De volta ao trabalho, no dia seguinte ela tem olhos marejados de alegria, embora ela mesma não perceba. “Irei à manutenção”, não podia mais esperar para responder as suas cartas que chegavam plurais em sua casa. O expediente correu va-ga-ro-sa-men-te, escorrendo quente e úmido nas laterais da orelha, esvaindo-se em gotas translúcidas pelo chão. Era um dia de verão e Marília acabara de se despedir do porteiro que lhe entregara seus pertences: sua máquina estragada, sua bengala, sua liberdade e o portão aberto. Sai despreocupada, pois sabe que logo na esquina há algum braço e par de olhos seguros para atravessar a movimentada avenida, chegar ao técnico e, finalmente, responder ansiosamente às cartas que envia constantemente.


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O BOM DIA E A BOA NOITE Paula Duarte

Da Casa


NO MUNDO FILLED WITH SUCH LONGING PEDRO CRAVEIRO nenhum comprimido me trouxe a salvação do mundo e das coisas ninguém – isto seja todos – me defendeu do tempo incerto procurei-te em todas as ruas de londres porque todas as ruas de londres adivinham os teus cabelos mas os teus cabelos são os teus cabelos e uma cidade é uma cidade querer-te no impossível dos dias ou no acaso de oxford street é adiar-me para outra geração picadilly sem ti é picadilly sem ti imagina, abbey road não te conhece portobello espera-te at least i deserve the respect of a kiss goodbye

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DA CASA com Paula Duarte

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©Autorretrato de Paula Duarte Desde 2007, salvo engano, a poeta paranaense Ana Guadalupe escreve para o seu blogue, Welcome Home Roxy. Além do nome que remete ao lar, a poeta tem alguns textos que falam sobre a intimidade da casa e suas possíveis relações com ela (como em a/c proprietário do imóvel). O também poeta Mariano Marovatto tem um livro, no prelo, chamado Casa e muitos outros artistas pensam essa temática. Recentemente essa temática tem se alastrado por alguns poetas mais jovens e é muito interessante vê-la também nas artes visuais. No caso de Paula Duarte, na fotografia. A artista diz que fotografar a própria casa surgiu muito naturalmente, a partir de seu interesse pelas coisas banais, às vezes esquecidas, outras vezes incômodas. Dar corpo ao trabalho foi o mais complicado, pois quando percebeu tinha um grande arquivo íntimo e começou a pensar como reunir esse trabalho


dentro de uma proposta a outros olhares além do seu................................................... De casa foi contemplada pelo III Prêmio Funalfa de Fotografia, o que garantiu a sua exposição na mostra anual Foto 14. As fotos ficavam em uma espécie de armário – em que o convidado precisava manipular as gavetas para visualizá-las –, atrelado ao fato da exposição estar na reinaugurada Casa Vinteum, da fotógrafa Nina Melo, (uma casa antiga e reformada no bairro São Mateus), corrobora para a concepção final de seu trabalho. Paula Duarte afirma que ao ser selecionada, esperava expor no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, como havia acontecido nos outros anos. Paulinha, como é conhecida entre os amigos, tem certeza que “a casa” agregou muito a sua proposta. A mudança foi uma surpresa e a fez muito feliz. Não foi uma escolha da artista e sim da organização, que teve bastante consciência ao propor o local. “A Nina é uma grande movimentadora da arte fotográfica em Juiz de Fora, a ideia de trazer o espaço cultural para uma residência é um fator de aproximação do público”, alega Duarte........................................................................................................ Falar da casa é mais que falar de si mesmo, mas de todos que partilham o espaço (isso se for falar da casa física, quatro paredes). Para Paula o gesto de abrir uma gaveta é algo corriqueiro e, ao mesmo tempo, uma metáfora sobre o acesso a algo interno e muitas vezes esquecido. Entre a coleção de fotografias raramente há alguma pessoa clicada, ou seja, há uma predominância dos objetos da casa. A artista escolheu mostrar a presença de forma sutil: “nunca revelo um corpo por inteiro, mas a disposição dos objetos, as marcas do tempo e os desgastes do uso mostram uma presença na ausência”. Nunca se vê uma pessoa, mas se tem a certeza que essa é uma casa habitada.

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NENHUMA CASA É SEGURA por Otávio Campos

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É fácil se apaixonar por Zambra. É fácil ler todos os romances de Zambra e se apaixonar por Zambra. É fácil ler os romances de Zambra porque: 1) a linguagem é estupidamente simples; 2) são curtos, muito curtos; 3) são de uma leveza narrativa incrível; 4) têm sido editados, aqui no Brasil, desde 2012, em belos volumes pela Cosac Naify. Formas de voltar para casa, o maior até agora (160 pp.), dá continuidade ao projeto de edição brasileira das obras do chileno, depois de Bonsai e A vida privada das árvores, e a editora já divulgou que publicará em breve o livro de contos/novelas Meus documentos. As edições não trazem nenhuma fotografia de


Zambra, mas é fácil de encontrar no Google, imprimir, emoldurar e colocar do lado da cama.

Formas de voltar para casa lida com os desafios de se voltar para casa, a construção e não somente, de todas as formas que isso vai se apresentando aos personagens do livro, de todas as formas que isso se apresenta a nós. Voltamos ao terremoto de 13 de março de 1985, mas também às tensões da ditadura no Chile, em uma narrativa ágil, como a dos primeiros livros. A questão nem é quem fica ou não do lado de Pinochet, mas a inocência e a culpa de quem ignora essas questões. Raúl, o homem solitário da vila, que se esconde por trás de uma 21

identidade que não a sua, é apenas um ponto de encontro entre o narrador e Claudia, que precisa voltar, anos depois, para que o romance funcione. “É mais fácil entender assim. É melhor pensar que tudo isso foi uma história de amor”, mas os romances de Zambra nunca são uma história de amor. Quer dizer, todos precisam de uma história de amor porque, no fim, são sempre sobre a perda. Os romances de Zambra, e Formas de voltar para casa principalmente, são construídos através do desejo.

Em dois planos o narrador-personagem desenvolve a narrativa e mostra a fratura dessa construção: “Voltei ao romance. Ensaio mudanças. Da primeira para a


terceira pessoa, da terceira para a primeira, até para a segunda”. O livro, que é sobre os pais, mas também sobre Eme, é em tudo sobre o escritor. Para escrever sobre Eme, a ex-mulher, é preciso reabitar a casa, em uma tentativa de reconciliação que nunca será possível, como a prosa não é possível e se torna ritmos, cadências:

É melhor não sair em nenhum livro As frases que não nos queiram abrigar Uma vida sem música e sem letra E um céu sem essas nuvens que agora Você não sabe se estão indo ou vindo 22

Essas nuvens quando mudam tantas vezes De forma que ainda parecemos estar Morando no lugar que abandonamos Quando ainda não sabíamos os nomes das árvores Quando ainda não sabíamos os nomes dos pássaros Quando o medo era o medo e não existia O amor pelo medo Nem o medo pelo medo E a dor era um livro interminável Que um dia folheamos só para ver Se no final apareciam nossos nomes.


É preciso, antes de tudo, sair da casa. E uma vez é por todas. É preciso retornar, depois de algum tempo, porque estamos sempre voltando pra casa, e confrontar a literatura dos pais com a literatura dos filhos. Uma hora é preciso, agora sim, saber se os pais apoiavam ou não Pinochet, mesmo que a ditadura não seja sua, mesmo que você nem tivesse nascido. Os anos 70 e 80 chilenos constantemente são recuperados na prosa dos contemporâneos e com Zambra acontece de maneira sutil e profunda. A ditadura acompanha cada movimento do livro, mesmo que disfarçada, ou discutida em voz baixa (sempre discutida em voz baixa) enquanto o pai dorme e mãe e filho fumam na sala. É preciso sermos todos personagens 23

secundários.

Visitar a casa do passado não é voltar ao passado - é bom que não nos enganemos, mas é para isso que servem os álbuns de fotografia, “para nos fazer acreditar que fomos felizes quando crianças. Para nos demonstrar que não queremos aceitar o quanto fomos felizes”. Formas de voltar para casa não é um livro sobre a casa, tampouco sobre a ditadura. Pode ser que nos engane e alguns pensem que é uma espécie de ensaio autobiográfico que culmina na construção de um romance, construção tal esmiuçada nas partes 2 e 4 do livro, mas não. Acredito que, muito mais que as revoluções e as tensões entre o voltar e o estar, mais do que as


tentativas de um corpo de habitar e ser habitado por uma casa, é um livro sobre o sossego, deste que existe quando não há mais retorno. O livro de Zambra é um ensaio contundente sobre amadurecer e não caber mais nas roupas dos pais. Pode ser que as revoluções, como diz um poema da Matilde Campilho, sejam mesmo o lugar certo para a descoberta do sossego: “talvez porque nenhuma casa é segura / talvez porque nenhum corpo é seguro / ou talvez porque depois de encarar uma arma / finalmente seja possível entender / as múltiplas possibilidades de uma arma”.  24

FORMAS DE VOLTAR PARA CASA Alejandro Zambra Cosac Naify 160 páginas


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O MEU VESTIDO ESTÁ ALI PENDURADO Paula Duarte

Da Casa


OUTRO POEMA JÁ NÃO ERA TEMPO ANA LÍDIA RESENDE PAULA olho sem enxergar o mundo: uma janela uma senhora no escuro tantos dias de fé... tantos momentos de busca... tanto saber, tanto querer um cansaço por não ser e uma esperança na vida já não era, eu já não sou porque desmonto e me monto quando encontro alguém mais frágil - forte - que eu. sou só rio só riso só esse choro que molha meu rosto sou abrigo

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pra quem me abriga e o desvio de quem desvia olhares sou a chave o achar procurar sabedoria a crônica a poesia o caos e a senhorinha que me avista acena e avisa: - já conheço a vida, minha filha!

©Arte de Isabela D’Ávila sobre foto de Augusto de Freitas Rezende - 2012

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A COISA ESTRANHA COMO TEM PASSADO ISMAR TIRELLI NETO Tratemos agora de acordos felizes. É do mundo das aparições que o seu corpo se crispe inteiro, e o cheiro da pomada empesteie, enfim, cada cômodo da casa, assim passaram-se muitos janeiros, e é preciso que ponham ordem e reparo aos desastres de um novo rosto que chega... o dia todo lagarteando ao sol sem pesar muito bem as consequências. Tratemos de acordos felizes, entre nós e o divórcio entre as coisas, sutis modulações de luz, temperatura, um latido... Embora eu não morra de amores pelo cão, ele acata comigo as tardes mortas e me desobriga de matar as baratas. Às vezes é divertido vê-lo perseguir o próprio rabo, pode ser infinitamente desesperador.

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COLEÇÃO DE RUÍNAS por Frederico Spada Silva

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©Holland House Library after an air raid, 1940. (Fotógrafo desconhecido) Atravessar a língua, esta grande fratura, exige silêncio e mapas.

Colecionar ruínas é dirigir o olhar ao limiar da memória e do esquecimento, àquele entre-lugar em que se funda e de onde se erige o palimpsesto que é o tempo presente, isto é, o que se nos apresenta; é deter-se entre a concretude do que foi (do que ruiu) e as potências interrompidas, abandonadas do vir a ser; é ter diante de si não a História, mas a sua ruptura, um seu fragmento – e, ainda assim, compreender, de-cifrar suas garatujas.


Nesse sentido, a verticalidade do verso, em vez de antecipar a queda do Todo, soergue os cacos da linguagem e os faz luzirem, guiando-nos como faróis que, sempre em silêncio, dialogam entre si e redesenham os traços que compõem os mapas com os quais nos orientamos ao atravessar a língua, tornando o salto (a leitura) possível: « l’angoisse de lire : c’est que tout texte […] est vide – il n’existe pas dans le fond ; il faut franchir un abîme, et si l’on ne saute pas, on ne comprend pas » (BLANCHOT, 1980, p. 23). Parafraseando Agamben (2012, p. 112), a fratura informulada, a ideia de fratura, só existe para o homem. Arquivo Colecionava miudezas, pequeno e íntimo museu de fragmentos coletados ao acaso – como a própria vida.

Todo arquivo é, antes de tudo, um inventário da própria vida: é sobretudo o passado que invade e preenche suas gavetas; é o passado que se olha e se investiga. A mão que abre a gaveta e tateia suas pastas, uma a uma, à procura de algo é a mesma que escava, camada a camada, para “se aproximar do próprio passado soterrado” (BENJAMIN, 2009, p. 239), atravessando língua e memória, presente e passado, e trazendo à tona miudezas, fragmentos, ruínas. Toda coleção, por sua vez, é uma museologia em constante expansão, um eterno particípio presente: colecionar é flexionar uma sintaxe imperfeita, “um trabalho utópico, já que, por definição e por sua própria lógica, não pode existir coleção completa” (SARLO, 2013, p. 46). Assim “como a própria vida”, colecionar é saciar-se do provisório.

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Dicionário de palavras esquecidas A memória se perde entre os tipos esmaecidos e esta língua que já pouco – ou nada – me diz: folheio o esquecimento, entre dois muros de meio-couro.

Se, para os gregos, a língua delimitava as fronteiras da barbárie, dominá-la era o salvo-conduto para a civilização, primeiramente calcada na oralidade e só mais tarde gravada na escrita, que passou, então, a fazer o conhecimento transitar entre a imaterialidade da memória humana e a materialidade de tabuletas e pergaminhos. Mas o registro da memória se dá dialeticamente, pois ela “só existe ao lado do esquecimento: um complementa e alimenta o outro, um é o fundo sobre o qual o outro se inscreve” (SELIGMANN-SILVA, 2013, p. 53): o livro-guia que preserva e ordena a queda de Babel como uma memória coletiva e histórica da(s) língua(s) só tem sentido em ser aberto quando os dedos que o folheiam e os olhos que o percorrem são guiados pelo olvido. Igualmente, como aponta Barthes (2004, p. 76), “a escrita literária porta ao mesmo tempo a alienação da História e o sonho da História: como Necessidade, ela atesta o dilacerar-se das linguagens […]; como Liberdade, ela é a consciência desse dilacerar-se e o esforço mesmo que quer ultrapassá-lo”. Entre a Necessidade e a Liberdade, as palavras – esquecidas – quedam encarceradas “entre dois muros/ de meio-couro”.

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©Lungenkrankenhaus by Jrej

GEOGRAFIA DO ABANDONO I Lungenkrankenhaus

Hornberg, Alemanha Paredes descamam como pele. Bolor e umidade aderem-se aos menores interstícios. Há tosses, ainda, ressoando em solidão. Hoje, o ar é pesado demais.


“A arte da memória, assim como a literatura de testemunho, é uma arte da leitura de cicatrizes” (SELIGMANN-SILVA, 2013, p. 56). Observar um espaço em ruínas é buscar em suas fendas, fraturas, cicatrizes, cortes e fissuras os rastros do passado que ainda não tenham sido apagados, é procurar nas entrelinhas do discurso e do concreto as inscrições desta “presença de uma ausência e ausência de uma presença” (GAGNEBIN, 2012, p. 27) que nos desfiam, em silêncio, suas perdas. As ruínas escrevem sua própria história numa língua particular que parece querer ensinar-nos que “uma literatura que siga incólume à destruição não merece ser praticada ou lida” (BINES, s/d).

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©Mohammed Assiri Al Fared Palace


II Palácio Al – Fared

Madain Saleh, Arábia Saudita Era uma vez um monte em meio ao deserto, entalhado pelas mãos famintas de milhares de súditos leais à espada que lhes cortaria o pescoço, caso se cansassem. O portal que se abre às dunas dá a ver miragens de outros tempos: caravanas de mercadores, dançarinas, poetas, profetas e astrólogos que nunca souberam antever, nos céus, o vazio que os habitaria.

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Só o homem consegue interromper, na palavra, a língua infinita da natureza e colocar-se por um instante diante das coisas mudas. (AGAMBEN, 2012, p. 112)

Que história conta-nos um grão de areia? Que passado traz, inscrito em sua minúscula superfície mineral? Cada uma de suas angulações revela-nos algo de sua história, as intempéries por que passou, as distâncias que percorreu, as águas que o lavaram, as mãos que o deixaram escapar por entre os dedos. “Mas o que acontece quando não se pode ser o fiador da própria história vivida?” (BINES, s/d) Para “manter o passado ativo no presente” (SELIGMANN-SILVA, 2013, p. 57), é preciso clivar experiência e voz, propor uma leitura (uma escrita) estética do passado, dar voz à fabulação em vez de ao testemunho. Que história, então, conta-nos todo um deserto?


Igreja abandonada na Rússia

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Kostroma, Rússia O que os homens já não podem contar revela-nos o que foi deixado para trás. Os retratos esquecidos nas paredes, as imagens que adornam as ruínas, tudo atesta a pressa com que fugiram. As portas e janelas abertas confirmam que nunca cogitaram retornar.

A geografia do abandono demarca-se não só no espaço, mas também no tempo, e traça suas linhas (reais e imaginárias) com a tinta do apagamento: tanto mais ampla uma ruína, mais apagados os seus contornos.


É preciso estudar seus mapas com rapidez, consultar especialistas, buscar documentos, ouvir relatos, analisar os rastros e vestígios, para ser possível redesenhar seus limites e preservar sua História entre os homens. Do contrário, só restará de Kostroma e suas ruínas alguma estampa “na superfície esmaltada de uma porcelana de Limoges, na qual sobressaem no fundo azul as ameias e as muralhas de Jerusalém” (BENJAMIN, 2009, p. 82).

Arquitetura do tempo No plano, enfim, se configura a letra de que se ergue o poema em construção, e a voz, magna mater de todas as palavras, funda outra realidade, ampla e contínua, que escava o tempo em nova direção.

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Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus… (BENJAMIN, 1996, p. 226)

Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2014.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AGAMBEN, Giorgio. Ideia do silêncio; Ideia da linguagem I. In: ______. Ideia da prosa. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. p. 110-112. BARTHES, Roland. A utopia da linguagem. In: ______. O grau zero da escrita. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 73-76. BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza; Sobre o conceito da história. In: ______. Magia e técnica, arte e política: (Obras escolhidas I). São Paulo: Brasiliense, 1996. p. 114-119; 222-232. BENJAMIN, Walter. Caçando borboletas; Esconderijos; O caráter destrutivo; O coelho da Páscoa descoberto ou pequeno guia de esconderijos; Escavando e recordando. In: ______. Rua de mão única: (Obras escolhidas II). São Paulo: Brasiliense, 2009. p. 80-82; 91; 235-240. BINES, Rosana Kohl. Longe dele, longe dela. In : VERSIANI, Daniela (Org.). O eu se escreve. O outro me escreve. Rio de Janeiro: 7Letras, no prelo. BLANCHOT, Maurice. L’écriture du désastre. Paris: Gallimard, 1980. p. 7-43. GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Apagar os rastros, recolher os restos. In: SEDLMAYER, Sabrina; GINZBURG, Jaime (Orgs.). Walter Benjamin: rastro, aura e história. Belo Horizonte: UFMG, 2012. p. 27-38. GINZBURG, Jaime. A interpretação do rastro em Walter Benjamin. In: SEDLMAYER, Sabrina; GINZBURG, Jaime (Orgs.). Op. cit. p. 107-132.

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SARLO, Beatriz. Verdade dos detalhes. In: ______. Sete ensaios sobre Walter Benjamin e um lampejo. Rio de Janeiro: UFRJ, 2013. p. 41-49. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Apresentação da questão: a literatura do trauma. In: ______ (Org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Unicamp, 2013 p. 45-58. SILVA, Frederico Spada. Coleção de ruínas. Juiz de Fora: Macondo, 2014. (Coleção Cadernos de ausências, n. 2)

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⌖ Esse ensaio foi apresentado às Professoras Rosana Kohl Bines e Sonia Kramer como parte das atividades da disciplina A escrita de história e memória, no Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio).


O CORRESPONDENTE André Capilé traduz Charles Bukowski

The bluebird

O triste-pio

Charles Bukowski

André Capilé

there's a bluebird in my heart that wants to get out but I'm too tough for him, I say, stay in there, I'm not going to let anybody see you. there's a bluebird in my heart that wants to get out but I pour whiskey on him and inhale cigarette smoke and the whores and the bartenders and the grocery clerks never know that he's in there.

há um triste-pio em meu coração que quer sair porém pego pesado com ele, eu digo: “fica aí, não vou deixar ninguém te ver.” há um triste-pio em meu coração que quer sair mas entorno uísque nele e trago fumaça de cigarro e as putas e os garçons, e os balconistas de secos & molhados, nunca souberam dele estar lá.

there's a bluebird in my heart that wants to get out but I'm too tough for him, I say, stay down, do you want to mess me up?

há um triste-pio em meu coração que quer sair porém pego pesado com ele; eu digo: “segura a onda, você quer mesmo me entregar?

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you want to screw up the works? you want to blow my book sales in Europe? there's a bluebird in my heart that wants to get out but I'm too clever, I only let him out at night sometimes when everybody's asleep. I say, I know that you're there, so don't be sad. then I put him back, but he's singing a little in there, I haven't quite let him die and we sleep together like that with our secret pact and it's nice enough to make a man weep, but I don't weep, do you?

você quer zoar com a porra toda? você quer malhar o saldo dos meus livros na Europa?” há um triste-pio em meu coração que quer sair porém tenho a sacada: só deixo ele sair de noite às vezes quando todo mundo adormece. eu digo: “eu sei que você taí, então não fica triste.” o trouxe de volta, vinha um pio miúdo de lá, e não vou deixar ele 40 morrer. e, desse modo, dormimos juntos com nosso pacto secreto. e é bom o suficiente pra fazer um homem chorar; mas eu não choro, e você?


DE SAÍDA O SAQUE EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA O museu de etnografia confere ao arcaico a certificação: o que era moeda de matrimônio (boi vermelho com chifre serrado) é o caos 41

que, fora de si, não nos ameaça. E dentro da norma, sob as etiquetas, nos convence de que a cultura é um fruto nosso, não do alheio. Sob as arcadas, o museu tira a pele do animal azul. Seus porta-vozes (que divorciaram o boi vermelho do sexo)


se distraem com o quebra-cabeças do discurso. Não houve suor, atrito não houve entre os noivos. Não houve sangue, nem dúvida, de negar o pai por um instante, e honrar a mãe dando-se em fuga. A noiva e o noivo (parece) deram-se porque foram dados, testemunha o boi fornido vermelho dessa mostra. O museu se cumpre, legado de certa leitura. Seus limpos dentes de crocodilo oferecem o país que não existe.

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CECI Paula Duarte

Da Casa


QUEM ESTÁ OTÁVIO CAMPOS cursa mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Publicou dois livros de poemas: Distância (Aquela Editora, 2013) e a plaquette Amanhã tomo um vôo a Budapeste (Edições Macondo, 2014). Atualmente integra o coletivo editorial Edições Macondo e desde 2011 edita a revista Um Conto. MARCELA BATISTA é aluna do curso de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente cursa graduação sanduíche na Universidade de Évora, em Portugal. Esse conto foi escrito para a disciplina de Criação Literária. ANDERSON PIRES DA SILVA é professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal de Juiz de Fora e um dos produtores do ECO – Performances Poéticas. Publicou seu primeiro livro, Trovadores Elétricos, pela Aquela Editora em 2013. O poema dessa edição é parte da plaquette Selvagem, a ser publicada pela Edições Macondo. ANA LIDIA RESENDE PAULA integra o grupo o BPS - Sociedade dos Poetas Brasileiros. Publicou em 2012, aos 12 anos, seu primeiro livro de poemas, "Linhas Poéticas" e em 2014 lançou o livro Poetguese - A Utopia Por um Mundo de Palavra, publicado em Nova York, pelo Lettrs, que reuniu textos de 84 jovens de todo Brasil. PAULA DUARTE é graduada em comunicação social pela Universidade Federal de Juiz de Fora e trabalha também com artes visuais, voltando sua produção e pesquisa ao fazer autoral. Em 2014, foi contemplada pelo III Prêmio Funalfa de Fotografia. ISMAR TIRELLI NETO é poeta e ficcionista. Nasceu a 1985, no Rio de Janeiro, e publicou os livros synchronoscopio e Ramerrão, ambos pela editora 7Letras. O poema dessa edição foi originalmente publicado no zine juiz-forano Os 4 Mambembes.

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ANELISE FREITAS é poeta e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Já publicou o livro de poemas Vaca contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora, 2011) e, em 2013, uma plaquette editada pela autora, chamada O tal setembro. Em 2015 edita uma publicação pela Edições Macondo. PEDRO CRAVEIRO nasceu no Porto, em Portugal, e é aluno do mestrado em literatura da Universidade do Porto. Atualmente é parceiro da OGaribaldi – Revista. FREDERICO SPADA SILVA é doutorando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Mantém o canal Juiz de Fora – História lírica, com depoimentos de poetas ligados à cidade (http://goo.gl/kkmqfE) e é autor de Arqueologias do olhar (Funalfa, 2011) e Coleção de Ruínas (Edições Macondo, 2014). IACYR ANDERSON FREITAS publicou vários livros entre poesia, ensaio e prosa. Teve sua obra traduzida para diversas línguas e foi contemplado nos principais prêmios literários do país. ANDRÉ CAPILÉ é cofundador e ex-organizador do ECO - Performances Poéticas e também é parceiro de ações do site TextoTerritório e do coletivo editorial Edições Macondo. Publicou, entre outros, rapace (Texto Território, 2012) e Balaio (7Letras, 2014). Mestre em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, onde cursa, atualmente, doutorado. EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA é poeta e professor de Literatura Portuguesa da Universidade Federal de Juiz de Fora. Sua obra já foi traduzida para inúmeros países. O poema inédito publicado nessa edição compõe o livro Relva, que será publicado em 2015 pela Sans Chapeau.

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QUEM SÃO PRODUÇÃO EDITORIAL Casa Empiria CURADORIA Anelise Freitas REVISÃO Otávio Campos CONSELHO CONSULTIVO Anderson Pires da Silva (UFJF / Brasil) André Capilé (PUC Rio / Brasil) Danilo Lovisi (Université Paris Diderot - Paris 7 / França) Laura Assis (PUC Rio / Brasil) Otávio Campos (UFJF / Brasil) Pedro Craveiro (Faculdade de Letras da Universidade do Porto / Portugal) O SÊLO ⌖ Macondo.

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O GARIBALDI é uma parceria entre a Casa Empiria e a Edições

Casa

Empiria

Editorial casaempiria.blogspot.com edicoesmacondo.wordpress.com

refer

UM CONTO

Revista de Literatura


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