05OGaribaldi - Revista

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05OGaribaldi REVISTA DE POESIA

SÊLO ⌖ O GOLPE


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n Já é tempo de fazer falsas promessas, cumpri-las pela metade. A comunhão se renova e a presença se firma. Entre o espaço da arma e do alvo: uma imensidão: o infinito. O verão chegará derretendo ideias tropicais, enquanto um bando de desavisados caminhará pelas areias de alguma orla contemporânea. O fim já passou. Começamos daqui, este tratado sobre a vida da tristeza, editando como quem dirige e não vai voltar, porque o tempo entre o cano quente de uma arma e a carne atingida é breve. Entre as pernas – ou fora dela – a menina sabe o que faz – e faz melhor – I think I should

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shot you down.

Saudando, OGaribaldi. Juiz de Fora, dezembro de 2015

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MANIFESTO RENテグ

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SUMÁRIO

PROCURO AFUNDAR NO ÁLCOOL A TUA LEMBRANÇA O CORRESPONDENTE SINFONIA FROM NEW AGE NO MUNDO A COISA ESRANHA UM POEMA DE DOIS POEMAS DE VÉSPERA SAÍDA AVESTRUZ DE SOUZA, O ESCRITOR QUEM ESTÁ QUEM SÃO

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PROCURO AFUNDAR NO ÁLCOOL A TUA LEMBRANÇA ERIC MOREIRA

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diante do porre de ontem a noite prometo a mim mesmo, que não beberei outra vez o conhaque que tomei apagando a vaga lembrança das tuas coxas dando sucessivos nós na minha cintura.


como um barbante, em laço, que aperta o meu peito, a ideia dos teus braços envolvendo o meu pescoço e seus dedos enfiados na minha barba. o conhaque lava em fogo a lembrança que tenho de você. não digo o teu nome nem na minha reza mais beata. não querendo lembrar tua boca dizendo o meu aos soluços gemidos na cama. os lençóis molhados de nós dois que agora só abrigam os restos da garrafa que, derramando, lavou o teu cheiro das minhas cobertas.

Este poema foi retirado, quase que cirurgicamente, da música Peito Vazio, do músico fantástico que foi Cartola.

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O CORRESPONDENTE ROB PACKER TRADUZ OTÁVIO CAMPOS

11 DIA DOS TEUS ANOS começo hoje a festejar o dia dos teus anos dona filomena me aponta por chegar sempre tarde a casa minha mãe fala devagar o meu nome dona filomena me aponta por chegar sempre triste e subir as escadas como se derrubasse o mundo minha mãe fala baixo o meu nome eu peço: mais alto, por favor é que dona filomena às vezes grita no apartamento do lado


se eu fosse um náufrago e teu nome uma concha escutaria o que os vizinhos já conhecem é que dona filomena nunca pisou nesse prédio minha mãe esquece meu nome quando desligo o telemóvel carlos, desculpe-me há dias que sou eu mesmo em outros sou dona filomena e também minha mãe e também o tavares quando não abre a tabacaria quando eu era um náufrago e teu nome uma ilha as coisas não costumavam mudar de forma pois era eu mesmo e eu mesmo e às vezes você (eu mesmo) mas logo hoje festejo o dia dos teus anos e celebro o apartamento como uma instituição pois teu nome e dona filomena e a tabacaria e todas as coisas bonitas e tristes da cidade são o mesmo maço de papéis quando: uso óculos escuros lavo as mãos na água fria sento de costas e deito a cabeça na janela do metro mas logo hoje (o dia dos teus anos) sou dona filomena e também a paragem do autocarro e também algumas prendas e sobretudo eu mesmo e a alegria do mundo logo hoje a casa respira tempos que não são teus

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13 YOUR BIRTHDAY today I begin celebrating your birthday dona filomena points at me for always arriving home late my mother slowly says my name dona filomena points at me for always arriving home sad and climbing the stairs as if I were demolishing the world my mother quietly says my name I ask: please say it louder it’s because dona filomena sometimes shouts in the flat next door


if I were a castaway and your name were a shell I would listen to what the neighbours already know it’s because dona filomena has never stepped inside this building my mother forgets my name when I switch off my mobile carlos, forgive me for days I’ve been myself other days I am dona filomena and also my mother and also tavares when he doesn’t open the tobacconist’s when I was a castaway and your name was an island things never used to change their shapes for I was myself and I myself and sometimes you (I myself) but then today I celebrate your birthday and toast the flat like an institution for your name and dona filomena and the tobacconist’s and all the sad and beautiful things of the city are the same stack of papers when: I use dark glasses wash my hands in cold water sit in the metro and lean my head back against the window but then today (your birthday) I am dona filomena and also the bus stop and also some gifts and above all I am myself and the happiness of the world because today the house breathes with ages that are not yours

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SINFONIA FROM NEW AGE JOÃO MEIRELES

choveu o dia inteiro no último sábado e os ovos das moscas hoje explodiram em larvas sobre a pia até que aprendeu que é melhor acordar cedo pra ter tempo de ouvir a espuma escorrer pelo ralo depois do banho cabelos perdidos praia deserta parecendo violino desafinado o som das coisas gruda na memória feito chiclete no céu da boca e tudo que é um dia acaba empoeirado

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NO MUNDO ADRIANA PÍRIZ

HOMO NON SAPIEN

O Tucano come o ovo do João de Barro e fica com o lar; A abelha fecha a abertura de barro e fica com o lar. A formiga vem sugar o mel e volta pro seu lar.

Enquanto isso, o Homo Sapien, sa-pien? Articula, arquiteta a sacanagem perfeita: tiro geral, até no pé, e no barro a barbárie.

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A COISA ESTRANHA ANELISE FREITAS

O RIO CINZENTO para os soterrados

17 falávamos sobre barragens e poças de ferro e toda nojeira nociva e no mapa mental as alterosas rocham-se, transforma-se a paisagem estamos todos mortos em questão de metros³


UM POEMA DE FERNANDA VIVACQUA

para Babalu

18 do banco de trás é silencioso estática na ponte rio-niterói o trânsito imerso denso e pesado, o trânsito funda e funda a guanabara fede, e você nem sente do banco de trás cai um tempo uma parede amarela e aquela casa de bonecas onde nada muda ou envelhece só os móveis que vão e vem como os carros depois do túnel desaguam na rio-niterói depois do trânsito você grita


DOIS POEMAS DE MARI QUARENTEI

GRITO a ana mendieta

vermelhos uivos mancham muros cínicos do branco homem berram... as suas mãos profan[a] _ações tudo a céu aberto [ela] abre a terra como uma mulher se deita ou guarda entreaberta a úmida violação

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incendeia madeiras com ancas oculta silhuetas na mata inscreve corpos em águas de invisíveis vulvas cava vultos em fogo e vento afaga seios no ferro sagr[a] _ações à mulher in-temporal à vida sem anestesia

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e eu ? [ ainda!] don’t know me...? um terror de nascimento me ensina: s e sa n gu e m e u a l í v e rt e s se , se r i a v i rg e m

sem alma sem relato negro e

GRITO!


NUDEZ

pequeno cosmos que se desnuda e esquece em véu, névoa e pedra ser fulgor

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VÉSPERA RODRIGO ROCHA

(série Grupiara: subpartícula da coleção em Oníricas)

(tem uma soleira aberta no meio da moita de bambus)

Qualquer avançou passagem sem conhecer o caminho, Outros, de menos fizeram, por sua obrigação. Entre apressados e cuidadosos caçadores, avistamos passar. Daqui, essa corja inteira, da qual mediamos palavras. Um velho de palha bafora, avisando do perigo no dedo.

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Cabeça careca de corte com barba evaporado neblina. Sua voz de anunciação foi marcante naquela hora.

(tem uma soleira aberta no meio da moita de bambus)

Menino que salta revolta, Outros, jamais, sorrateiros. O velho diz pelo amor de deus. numa indiferença estranha, sinistra. Precisamos mostrar duas pernas tem rota que não acaba. Entre apressados e cuidadosos caçadores, avistamos passar. Também nos aflige seu posto agudo, sem movimentos. Sorri como fosse miragem, fosse dia de feira e chinelos. Pudesse pintar sua face estaria perdido em conta-lo.

(tem uma soleira picada no meio da moita de bambus)

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Sabendo do gosto na terra, lançamo-nos n´aposta de graça. Pela certidão do mercado atentos aos motivos da corda. Quitando legumes do solo derramados. Debaixo da escada que fique um pote cheio, lotado. As mãos suadas, grudando, seus membros foi pedido buscar. De pau bateremos as línguas, para adocicar temporais. Serrotes por dentaduras que acabem o trabalho cabido. Justificada fuzarca dos grilos à goela pelo encharco do pântano.

(tem uma soleira aberta no meio da moita de bambus)

No alto, montanhosa arranja um nascedouro de chamas De chumbo, de ferro, de águas saíras pintadas zunindo. Perene sustém o lugar

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DE SAÍDA PRISCA AGUSTONI

A PRIMEIRA VISTA A casa. Ao abrir a porta, rebobino o passado. Aquilo que me ocorreu, mas que não vivi. Ainda. Azul é a cor dessa casa. Os quartos brancos, grandes, atravessados pelo vento. A sala, imensa, com muito céu dentro. O perfume de laranjeira em flor. Essa casa é um relicário de vidro e verde. Tem ares de casa dos milagres. Ou, quem sabe, apenas dos dias que virão, dos outros que seremos. A poesia, aos poucos, brotará, romã que dobra o galho. A vida, aos poucos. A primeira visita ainda guarda retratos do que seremos e a paixão do humano que arde sem dor.

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AVESTRUZ DE SOUZA, O ESCRITOR RENテグ

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QUEM ESTÁ

RENAN DUARTE (assina Renão) nasceu em Ipatinga (MG), mas atualmente vive em Juiz de Fora (MG), onde cursa a Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Ilustrou também a O Garibaldi #03. FERNANDA VIVACQUA nasceu no Rio de Janeiro (RJ), mas enraizou-se em Juiz de Fora (MG), onde cursa a Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Atualmente, atua como bolsista de Revisão, na Editora UFJF. PRISCA AGUSTONI nasceu em Lugano (Suíça italiana) em 1975, e viveu vários anos em Genebra. Mora no Brasil, em Juiz de Fora (MG), desde 2002. Transita entre vários idiomas, traduzindo textos literários e produzindo seus próprios textos em italiano, português e francês. Publicou livros na Suíça, em Portugal, na Itália e no Brasil. Sua mais recente publicação é Poesia scelta (2000-2012), editada em Bolonha (Itália) pela Editora Ladolfi. Possui livro no prelo, a ser lançado pela Patuá. RODRIGO ROCHA é aluno do curso de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Atualmente, trabalha na conclusão de seu primeiro livro de poemas. É colunista do site desta revista. OTÁVIO CAMPOS cursa mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Publicou dois livros de poemas: Distância (Aquela Editora, 2013) e a plaquette Amanhã tomo um vôo a Budapeste (Edições Macondo, 2014). É editor na revista Um Conto e das Edições Macondo. ANELISE FREITAS é poeta e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. ADRIANA PÍRIZ nasceu no Uruguay, em 1984, onde se criou e realizou seus estudos básicos. Em 2004, empreendeu suas peripécias pelo globo. Mora no Brasil desde 2009, onde atua como artista

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plástica, professora e tradutora. Atualmente, estuda Letras na Universidade Federal de Juiz de Fora. Escreve desde que pegou uma caneta e um papel. ERIC MOREIRA nasceu em Juiz de Fora/MG, onde cursa o bacharelado interdisciplinar em Artes e Design, na Universidade Federal de Juiz de Fora e escreve para o site de poesia Neo-Beatnik. Participou das antologias Conto Converso (IF Sudeste, org.: Patrícia Botelho) e Sociedade dos Poetas Juizforanos (Editora Cacareco, 2015). JOÃO MEIRELES nasceu em Queimados (RJ) em 1993. Cursa a faculdade de História e colabora com o site de resenhas literárias Indique um Livro. Colaborou com o blog Literatortura, teve poemas publicados em sites e blogs como LiteraturaBr, Sala 29, Poema Diário, Plástico Bolha e Blog do Humberto Saad, além da coletânea de novos poetas “Flupp Pensa 2013 – Poesias” (Rio de Janeiro: Editora Aeroplano, 2013), e do livreto Primeiras Viagens (edição do autor, 2014). Participou de saraus e foi um dos poetas selecionados para integrar a exposição “Poesia Agora” (2015), com curadoria de Lucas Viriato, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. MARI QUARENTEI é uma libriana de São Paulo/SP. Terapeuta ocupacional implicou-se desde os anos 80 com a desconstrução do manicômio. Retoma a escrita poética a partir do contato com a cena artística de Curitiba, onde reside desde 2013 e participa do Coletivo Marianas [coletivomarianas.com]. Publicou Caderninho de Imagem I (Quase Editora, 2014), com Simone Ferreira, e tem poemas na revista Mallarmargens. É artista visual. ROB PACKER nasceu em Londres, na Inglaterra, e se formou em Modern European Languages. Desde a graduação tem vivido e trabalhando em alguns países da Ásia e da América Latina, e mora no Brasil desde 2011. Colaborou na Poetry School com traduções e versões da poeta polonesa Krystyna Miłobędzka. Teve poemas publicados no Lighthouse Literary Journal e no The Moth and Dear Watson. O poeta mantém o blog ropacker.wordpress.com, no qual discute sobre vários assuntos, incluindo a poesia brasileira.

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QUEM SÃO

PROJETO EDITORIAL Editora Matinta CAPA Isabela D’Avila EDIÇÃO Anelise Freitas REVISÃO Otávio Campos CONSELHO CONSULTIVO ANDERSON PIRES DA SILVA ANDRÉ CAPILÉ LAURA ASSIS OTÁVIO CAMPOS

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Primeira edição impressa e segunda tiragem desta revista de poesia. Produzida pela Matinta Editora e distribuída pela Casa Empiria. Ajude-nos a continuar publicando conteúdo sobre poesia. Consulte o site www.ogaribaldirevista.wordpress.com e envie seus textos. E-mail: casaempiria@gmail.com


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BOOKS & CO.

facebook.com/editoramatinta editoramatinta.wordpress.com editoramatinta@gmail.com


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