Canguru | BH | Maio de 2017 | Número 20

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Meu cabelo

enrolado, todos querem querem imitar imitar todos

Com muita personalidade e beleza, as crianças com fios cacheadinhos e crespos estão chegando com tudo em um movimento que, mais do que moda, é de resistência POR Daniele

Franco

DEPOIS DE MUITO tempo de puxa, alisa e prende, é hora de deixar os cabelos livres, leves e soltos. E isso vale para a criançada também. Há pelo menos dez anos, segundo especialistas – psicólogos, antropólogos e empresários do mercado da beleza – ouvidos pela reportagem, a cultura do liso está dando lugar às vistosas cabeleiras crespas e cacheadas, com os mais variados cortes e penteados, sempre carregados com muito orgulho. Ou seja, uma geração inteira de crianças, que se beneficia dos resultados do empoderamento dos cachinhos. Para a psicóloga belo-horizontina Magali Figueiredo, o crescimento do movimento de valorização dos cabelos naturais traz uma onda positiva de autovalorização para as crianças, que mudam em si mesmas uma ótica de inferioridade imposta por uma sociedade cheia de preconceito. “As características das crianças devem ser enaltecidas e cultivadas desde o seio da família, para que elas respeitem sua individualidade e se orgulhem de ser quem são”, afirma Magali, que ainda destaca a importância de as crianças terem a possibilidade de perceberem sua própria beleza, força e poder e aprenderem que seu

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Canguru

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INSPIRAÇÃO nas redes sociais: Elis, de 5 anos, incentiva outras crianças a gostarem dos cabelos crespos

valor existencial vai muito além da aparência. Doutora em antropologia social pela USP, com uma tese que abordou justamente cabelo, beleza e construção da identidade, a professora da UFMG Nilma Lino Gomes, que também é ex-ministra de Igualdade Racial do governo de Dilma Roussef, aprofunda a discussão e coloca a forma de uso dos cabelos como símbolo de resistência, principalmente no caso das crianças negras. “Corpo e cabelo são símbolos muito fortes da construção da identidade negra e, com a valorização desses símbolos, a comunidade se fortalece, se identifica e se aceita”. Foi pensando em criar referências de beleza para as crianças negras que a carioca Renata Morais, 32, criou a campanha “7 meninas crespas”, que viralizou na internet em 2015 ao trazer sete garotinhas superestilosas munidas de seus black powers enfeitados com os acessórios da marca que produziu o editorial, a Lulu & Lili. Fundadora da marca e também dona da Crespinhos S.A., uma produtora de modelos infantis negros no Rio de Janeiro, Renata acredita que o crescimento da adoção dos fios naturais é um passo enorme para que as crianças que


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