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Considerando a experiência na cidade, o uso e apropriação do espaço urbano, a fruição e a produção do espaço público, vale questionarmos, quem de fato exerce o direito à cidade? Atualmente assistimos ao avanço do capital financeiro sobre o espaço público, associado à contração da cidadania e o consequente empobrecimento da experiência urbana contemporânea. De acordo com Milton Santos (2007) vivemos hoje um espaço fragmentado, desumano e alienante, onde o espaço do habitat humano está reduzido, nos condicionando a uma experiência escassa do espaço. Esse contexto, segundo alguns autores, é consequência da expansão política neoliberal para uma escala global, que por sua vez tornou o processo de urbanização também global. Segundo Harvey (2012), o capital financeiro hoje está interligado de tal modo como nunca esteve antes. Essa política privilegia, sobretudo, a propriedade privada, o consumismo e seus valores, em detrimento dos espaços e direitos coletivos, levando a proliferação de shopping centers, megaeventos e outros espaços pautados na ideologia do espetáculo (HARVEY, 2012). Como efeito, o espaço se configura como um marketing territorial, alimentando a cultura de massas, adversária da consciência, e contribuindo para um processo de desculturização do sujeito (SANTOS, 2007). Sendo a cidade um espaço de revelação, com papel preponderante na tomada de consciência, a cultura e o espaço alienante produz o que Milton Santos nomeou desterritorialização, circunstância que está intimamente ligada à cidadania, uma vez que o território de origem do sujeito é onde se aloca sua cultura e seu pertencimento, e portanto, sua consciência de realidade.