360 ed89 _jun13

Page 15

15 • ponto

de vista

Idos TEMPOS recorrentes

*José Mário rocha de Andrade

*Fernanda Lira

Na memória os idos tempos recorriam noitadas, uma apresentação de Clementina de Jesus, 90 anos, cantando seus sambas no Piu Piu com Jackson do Pandeiro. A negritude, a longevidade, a música virtuosa, a malemolência eram, unidas, um espírito elevado de humanidade e prazer. Na memória voltavam palavras trazendo ação: virtude, disposição firme e constante pa-

* Tom Coelho

arte: Franco Catalano Nardo | 360

Meu filho pediu para conhecer o Bixiga. Em São Paulo, guia turístico melhor que meu irmão, o Dito, eu não conheço. Era domingo e estávamos a caminho da tradicional Cantina do Roperto ouvindo suas histórias: “Muitos negros vieram morar no Bixiga após a promulgação da lei Áurea pela princesa Izabel em 1.888. Aqui também vieram morar muitos imigrantes italianos. Talvez não seja coincidência: Adoniran Barbosa, um dos maiores sambistas de São Paulo, é do Bixiga. Aqui há poucos prédios, as pessoas ainda têm o hábito de colocar cadeiras nas calçadas e conversar, o bairro respira música, boa comida e camaradagem.”

ra a prática do bem. Clemência, disposição para o perdão. Clementina de Jesus estava ali, no Bixiga, na virtude e na clemência. Senti meus pecados perdoados, que ali poderia pecar perdoado, como pecam as crianças. Não havia outra coisa a fazer: saborear o fettuccine, o cabrito, a conversa boa em família, ciente

que esse dia, um dia, voltará à memória, talvez de meu filho, nos ventos de idos tempos recorrentes.

*médico santa-cruzense radicado em Campinas | zemario@caderno360.com.br

Os jovens de hoje são muito mais arrojados em relação ao corpo. Homens e mulheres, ou garotos e garotas, não têm pudor em rebolar, dançar até o chão, jogar a bunda pra todo o lado ao ritmo de funk, pagode, sertanejo e outros ritmos populares desta época. Mas tirar a bunda pra ir à luta e se fazer gente. Tá difícil hein?! Os pais são ludibriados com as mais ridículas justificativas. E como pertencem a uma geração mal preparada para educar (com exceções, quando deveria ser regra educar bem), que acha que basta bancar isso e aquilo para o filho ser alguém na vida, esses novos pais de família sustentam o “dolce far niente” da nova geração. O fato é que assim como dizem que o dinheiro não aceita desaforos, a vida também não. É o trabalho, o aprendizado prático, que vai fazer do jovem um verdadeiro advogado, empresário, engenheiro, designer, pedreiro. Seja qual for a profissão que se escolher. Vejo que muita gente se aproveita dos cursos de pós-graduação para manter a arrogância de quem não faz nada da vida. Uma lástima. Uma vez

Cliente, este intruso

A economia brasileira anda de lado. O pífio crescimento do PIB aliado a uma inflação inercial persistente é motivo de preocupação. Dentro deste cenário, seria de se esperar uma postura mais propositiva por parte do empresariado no tratamento ao consumidor. Mas não é o que vemos. Produtos estão comoditizados e disponíveis a um clic. É pouco provável que você encontre em uma loja física condições mais vantajosas ou equivalentes às oferecidas no mercado eletrônico. Portanto, se não houver urgência na aquisição, melhor comprar pela internet, deixando shoppings e centros comerciais para passear,

olhar vitrines e tomar um sorvete no final. Já com o setor de serviços é diferente, porque conhecimento, talento e expertise não se medem à distância. Daí a importância de depoimentos e referências sobre o nível do trabalho e a qualidade do atendimento prestado ao cliente. Pois é justamente aqui que as empresas pecam vergonhosamente. Vamos pegar como exemplo serviços especializados, tais como marcenaria, paisagismo, instalações elétricas, manutenção, entre outros. Considerando-se a baixa qualificação da mão de obra no mercado de trabalho atual,

Mexa essa sua Bunda! graduado, o indivíduo deve é meter as caras no trabalho, sem pressa de ir embora e sem demora pra chegar. Aí sim, tendo vivenciado o ofício ao qual se graduou, deve poderar sobre cursos de aperfeiçoamento. Inclusive porque pode acontecer da pessoa não gostar daquele ofício, vale lembrar. O fato é que temos uma torrente de jovens que deveriam estar pondo em prática o que aprenderam nas escolas de graduação, técnica ou superior, e lidando com os desafios que o trabalho impõe: responsabilidade, tolerância, jogo de cintura, persistência… entre outros que só fazem bem ao caráter. E permitem que cada um seja dono do seu nariz. Essa juventude que não sabe lidar com frustrações e vive escondida sob a tutela das escolas de pós-graduação acaba não sabendo de nada achando que sabe de tudo por causa dos canudos que vão colecionando. E não há empregador que aguente conviver com essa “pseudo sapiência”. * jornalista paulistana que adora o interior | felira@caderno360.com.br

“O trabalho seria ótimo se não fosse por esses malditos clientes.” JJeff Anderson, em "O balconista")

seria possível a qualquer empresa estabelecer com facilidade uma autêntica reserva de mercado em âmbito local, bastando oferecer um bom serviço, com preço justo e atendimento impecável.

surda: "Qual o seu endereço?". Ou seja, o dono, aquele que esteve presencialmente em minha casa, não passou a informação adiante. E o referido técnico comparece dias depois, com jaleco de outra empresa, pois é terceirizado.

Dia destes necessitei de uma assistência técnica autorizada – apenas uma empresa estava credenciada para atender em meu município, que contabiliza mais de 200 mil habitantes. O primeiro contato por telefone foi um fiasco: imagine uma atendente relapsa, com voz desinteressada e que finaliza prometendo retornar em "cinco minutinhos". No dia seguinte, procuro pelo proprietário do estabelecimento que agenda visita a minha residência. Ele comparece, é solícito, deixa seu cartão de visitas, compromete-se a enviar um orçamento com brevidade e... desaparece!

Esta comédia de erros se prolonga por mais alguns dias até que eu consiga resolver meu problema com uma empresa localizada a quase 100 km de minha residência.

Uma semana depois, faço contato por e-mail, cobrando a proposta comercial e a visita de outro técnico que viria para avaliar um segundo serviço. A resposta é uma pergunta ab-

Não é por acaso que um estudo divulgado em 2012 pelo Procon-FGV apontou que as empresas perdem seus clientes pelo fator preço em 9% dos casos, devido à qualidade dos produtos ou serviços em 14% das ocasiões, e por indiferença ou mau atendimento em 68% das vezes! Eu teria uma dezena de histórias similares para relatar. Infelizmente, elas não seriam apenas minhas, mas retrato de experiências vividas por cada um de nós que, na qualidade de clientes, somos tratados não como pessoas bem-vindas, mas como incômodos intrusos.

* Empresário, consultor, professor universitário, escritor e palestrante formado em Economia pela USP, Publicidade pela ESPM, com especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela USP. diretor da Infinity Consulting e diretor Estadual do NJE/Ciesp. Contatos: tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.